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ESCOLA ESTADUAL DOM PEDRO II

2° ANO DO ENSINO MÉDIO


1° BIMESTRE

APOSTILA DE HISTÓRIA
Professora Wanalyse Emery
wanalyse.emery@educacao.m.gov.br

OURO PRETO
2022
INTRODUÇÃO 2° ANO ENSINO MÉDIO
No Segundo Ano do Ensino Médio vamos estudar os períodos históricos denominados Idade Moderna e Idade Contemporânea
(apenas o século XIX). A Idade Moderna se inicia no final do século XV, mais precisamente em 1453, data que marca a tomada de
Constantinopla pelos turcos otomanos. A Idade Moderna é um período de grandes transformações políticas (consolidação dos Estados
Nacionais, centralização do poder do monarca), econômicas (surgimento do mercantilismo e exploração de novas rotas comerciais),
sociais (ascensão da burguesia) e culturais (Renascimento e Reforma Protestante) na Europa. Este período é marcado pela chegada
do Europeu ao chamado Novo Mundo, quando Portugal e Espanha iniciam o processo de colonização da América. A Idade
Contemporânea se inicia no final do século XVIII, em 1789, com a Revolução Francesa, movimento que contestou a estrutura política
na França, derrubando a monarquia francesa. Após este período, observa-se a consolidação da burguesia como grupo hegemônico, o
surgimento do processo de industrialização e a expansão imperialista da Europa sobre a África e a Ásia. Em relação ao Brasil, nosso
país deixa de ser colônia portuguesa, tornando-se um Estado independente.

AULA 01 ESTADOS MODERNOS


1. ANTECEDENTES
O final da Idade Média foi marcado por inúmeros acontecimentos: Cruzadas (séc. XI – séc. XIII); Renascimento comercial (séc. XII);
Renascimento urbano (séc. XII); Peste Negra (séc. XIV) e a desorganização da produção agrícola, que levou a um surto de fome e a
fuga de camponeses dos feudos; a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a França e Inglaterra; início do processo de formação dos
Estados Nacionais Modernos por meio da unificação de alguns territórios, que passaram a ter um mesmo soberano.

2. OS ESTADOS NACIONAIS MODERNOS


A formação dos Estados Nacionais na Europa ocorre entre o final da Idade Média e o Início da Idade Moderna. A “explosão” comercial
e urbana, iniciada no século XI na Europa ocidental, deu lugar ao surgimento de um novo grupo social: a burguesia, formada
principalmente por mercadores. Entretanto, a fragmentação política e econômica dos reinos em feudos dificultava a expansão dos
negócios. Como poderiam os comerciantes calcular o preço de seus produtos se os senhores feudais dos lugares pelos quais eram
obrigados a passar com suas mercadorias utilizavam moedas, pesos e medidas diferentes? Além disso, a quem se queixar contra os
abusos praticados por esses senhores?
Reagindo a essa situação, os burgueses procuraram se aproximar dos reis, em busca de ajuda. Alguns monarcas, interessados em ter
acesso ao dinheiro da burguesia, passaram a adotar medidas em favor desse grupo social. Em algumas regiões, também os senhores
feudais recorriam ao rei em busca de apoio militar para conter rebeliões camponesas em seus feudos, ou para intermediar disputas
com outros senhores. Ao mesmo tempo, as camadas baixas da sociedade começaram a ver no soberano um defensor contra os
senhores feudais.
Dessa forma, o rei foi deixando pouco a pouco de ser mais um senhor feudal entre muitos. Na qualidade de árbitro de disputas e
protetor de certos grupos sociais, seu poder tornou-se cada vez maior. Essa mudança foi lentamente acompanhada de alterações
importantes no sistema de lealdades. As pessoas que no auge do feudalismo deviam prestar em primeiro lugar lealdade ao senhor
feudal ao qual estavam ligadas voltavam-se agora para o rei, que passava a ser o principal destinatário de sua lealdade. A partir do
século XI, de forma lenta e gradual, por meio da ação política ou da força, os monarcas submeteram à sua autoridade os poderes
locais, centralizaram o comando do exército, estabeleceram fronteiras para seus territórios e colocaram os habitantes dessas regiões
sob seu poder.

RESUMO
A centralização do poder em um Estado se iniciou com a aproximação entre a monarquia e a burguesia, que tinham interesses comuns.
Os reis começaram a estimularam a burguesia, colocando fim em alguns entraves feudais sobre a atividade comercial. O estímulo à
atividade mercantil possibilitou a arrecadação de impostos pelo rei. Por fim, tal situação levou ao aumento do poder real, já que o rei
passou a financiar um exército pago e a sustentar a nobreza, englobando a mesma dentro da administração estatal. Através deste
processo, os monarcas conseguiram ampliar seus domínios, possibilitando a continuidade dos privilégios sociais da nobreza e o
aumento do poder econômico da burguesia. Nobres e burgueses tornaram-se dependentes do poder real.

ATIVIDADES
1. A centralização do poder real na Europa foi resultado de uma longa luta política alimentada por interesses de diversos grupos
sociais. Defina quais eram esses interesses e que grupos sociais estavam envolvidos.
2. A partir de uma pesquisa na internet ou no livro didático, defina o conceito de Estado.

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AULA 02 EXPANSÃO MARÍTIMA / PORTUGAL E ESPANHA
1. UM COMÉRCIO LUCRATIVO
Durante a Idade Média, o comércio entre a Ásia e a Europa era intermediado principalmente pelos árabes. Eles adquiriam mercadorias
no Oriente e as levavam até entrepostos comerciais instalados em áreas próximas ao mar Negro ou na parte mais oriental do
Mediterrâneo. Comerciantes europeus – principalmente venezianos e genoveses – deslocavam-se até esses entrepostos, abasteciam-
se dessas mercadorias e as revendiam depois nas feiras e cidades da Europa. Entre sair da Ásia e chegar à Europa, os preços desses
produtos sofriam com grandes aumentos de preço.
Os comerciantes europeus sabiam que poderiam ter lucros maiores caso dispensassem os intermediários e adquirissem as
mercadorias diretamente de seus produtores, nas Índias (nome pelo qual chamavam todas as terras do leste da Ásia). Até o século
XIV, o conhecimento que se tinha na Europa a respeito de outros lugares do mundo era bastante restrito. O conhecimento a respeito
dos mares não era diferente. Muitos europeus acreditavam que em direção ao sul o mar seria habitado por monstros e estaria sempre
em chamas. Segundo essa crença, aqueles que arriscassem cruzar o Atlântico – conhecido como mar Tenebroso – iriam se deparar
com o fim do mundo: em algum ponto o oceano acabaria e daria lugar a um enorme abismo.
O medo de se aventurar por essas regiões começou a mudar a partir de 1453, quando os turco-otomanos tomaram Constantinopla e
dominaram parte do Mar Mediterrâneo, passando a cobrar altas taxas das caravanas que cruzavam a região. Para escapar dessas
cobranças, muitos mercadores europeus começaram a procurar rotas alternativas em direção às Índias. Isso provocou uma grande
busca por informações geográficas e marítimas. Nesse processo, quem saiu na frente foi Portugal.

2. A AVENTURA PORTUGUESA
Entre os fatores que explicam esse pioneirismo, podem ser destacados: a posição geográfica do país, extremamente favorável às
navegações, já que Portugal, banhado pelas águas do Atlântico, era o reino mais ocidental da Europa; a existência de um poder
centralizado e de um Estado unificado; e a longa experiência de pescadores e marinheiros lusitanos na costa do Atlântico. Desde
meados do século XIII, comerciantes e marinheiros portugueses faziam frequentes viagens a outras regiões da Europa: levavam para
a Inglaterra e a França, por exemplo, produtos como azeite, vinho, couro e frutas secas. Ao retornarem, traziam para Portugal móveis
de madeira, armas de ferro e tecidos, entre outros artigos.
Por essa época, o dinheiro começava a substituir gradualmente a posse da terra como símbolo de prestígio e poder. Assim, o comércio
marítimo promoveu pouco a pouco a ascensão social da burguesia mercantil. Além disso, os mercadores portugueses foram
beneficiados por alianças e acordos de interesse mútuo estabelecidos com a Coroa portuguesa. De fato, por meio de leis, decretos e
incentivos, a monarquia concedia privilégios às pessoas que atuavam no comércio. A título de exemplo, o governo de Lisboa colocou
em prática uma política protecionista, passando a fazer restrições à ação de mercadores estrangeiros em Portugal, de modo a
salvaguardar os interesses dos comerciantes nacionais em face da concorrência externa.
Essa relação entre a Coroa e a burguesia mercantil se consolidou de vez entre 1383 e 1385, quando ocorreu a Revolução de Avis, que
expulsou de Portugal as forças do Reino de Castela e colocou no trono dom João I, apoiado principalmente pela burguesia. Em 1415,
o governo de dom João I resolveu ocupar Ceuta, importante entreposto comercial e militar situado no norte da África. A decisão tinha
por objetivo tirar dos muçulmanos o controle do comércio nessa região e colocá-lo em mãos portuguesas.

2.1 A ESCOLA DE SAGRES


Algum tempo depois da conquista de Ceuta, a Coroa Portuguesa reuniu diversos estudiosos nas proximidades de Sagres, a vila mais
ocidental da Europa. Isto é, cartógrafos, astrônomos, matemáticos e navegadores, que passaram a estudar o legado náutico deixado
por grandes povos do passado – fenícios, egípcios, gregos, árabes, etc. Os estudos desse grupo de especialistas não chegaram a tomar
a forma de uma instituição educacional permanente, mas ficaram conhecidos como Escola de Sagres. Como resultado de suas
atividades, foram desenvolvidas cartas marítimas, diversos instrumentos de navegação. Além disso, foi inventado um novo tipo de
embarcação, a caravela, navio veloz e relativamente pequeno, com cerca de 20 a 30 metros de comprimento. Tripulada por 40 a 50
homens, era ideal para a navegação costeira, podendo entrar em rios e estuários e realizar manobras em regiões de águas rasas.
As expedições marítimas portuguesas rumo ao sul começaram em 1418. Entre 1420 e 1427, ocorreu a conquista das ilhas da Madeira
e dos Açores, nas quais os portugueses introduziram o plantio de trigo, uvas e cana-de-açúcar. A partir de então, as expedições
começaram a se deter no temido cabo Bojador, onde diversas embarcações afundavam. Vencido o Bojador, Portugal pôde dar
continuidade às expedições marítimas em direção ao sul da costa africana. O último passo nesse avanço pela costa africana ocorreu
em 1487, quando Bartolomeu Dias dobrou a extremidade sul do continente africano. Chamou o acidente geográfico ali encontrado
de cabo das Tormentas. Mais tarde, o rei dom João II (1481-1495) mudou esse nome para cabo da Boa Esperança. A essa altura, os
portugueses já haviam definido seu mais ambicioso projeto: encontrar o caminho marítimo para as Índias.

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3. OS ESPANHÓIS CHEGAM A AMÉRICA
Os feitos portugueses estimularam o interesse de navegantes de outras regiões da Europa em descobrir um caminho alternativo para
as Índias. Um deles era o genovês Cristóvão Colombo. Acreditando na esfericidade da Terra, Colombo argumentava que a forma mais
rápida de se chegar às Índias a partir da Europa seria pelo oceano Atlântico. Segundo sua tese, para se chegar ao Oriente seria preciso
navegar para o Ocidente. Diante da recusa do rei de Portugal dom João II em financiar seu projeto, o genovês se dirigiu aos reis
espanhóis Fernando e Isabel e deles conseguiu apoio. Em agosto de 1492, acompanhado por cerca de noventa homens, Colombo
deixou o porto de Palos, na Andaluzia, no comando das caravelas Santa María, Pinta e Niña. Navegando sempre em direção a oeste,
no dia 12 de outubro do mesmo ano, Colombo avistou terra firme. Acreditou ter chegado às Índias, mas suas embarcações haviam
aportado em um continente desconhecido dos europeus e que posteriormente passou a ser conhecido como América. Entre 1493 e
1502, Colombo realizou mais três viagens ao novo continente sob o patrocínio da Espanha, mas as riquezas tão desejadas não foram
encontradas. Em 1506, Colombo morreu em Valladolid, na Espanha, abandonado, sem prestígio e certo de que encontrara o caminho
para as Índias.

4. A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA


Ao final da Idade Média, o mundo conhecido
era composto por três continentes: Europa,
África e Ásia (em conjunto, estes três
continentes são chamados de Velho Mundo).
Apesar de conhecido, este território não tinha
sido completamente explorado. Era mundo de
possibilidades comerciais ainda a se conhecer,
já que a única rota marítima explorada, via
Mar Mediterrâneo, estava sob monopólio
Veneza e Gênova, cidades na Península Itálica,
e mercadores árabes. Foi então, que no século
XV, inovações científicas possibilitaram a
exploração de novas rotas pelo Oceano
Atlântico, gerando o processo de Expansão
Marítima Europeia. Este processo se iniciou
em Portugal, em 1415, seguido pela Espanha,
espalhando, posteriormente, por outros
Figura 1 - Rotas Marítimas Portuguesas
Estados europeus.
Após a Revolução Avis, em 1385 (que levou a formação do Estado em Portugal), a monarquia portuguesa passou a financiar
navegadores, cartógrafos, cosmógrafos, que tornaram viável um projeto de expansão marítima pelo Oceano Atlântico. Assim, ao
longo do século XV, Portugal passou a empreender uma série de viagens pelo litoral da África. A cada viagem as expedições
portuguesas avançavam algumas milhas em direção ao sul, atingindo pontos cada vez mais distantes. Em 1488, Bartolomeu Dias chega
ao Cabo da Boa Esperança (antes conhecido como Cabo das Tormentas), demonstrando que havia passagem para o Oceano Índico.
Em 1498, Vasco da Gama chega a Calicute nas Índias. Pouco antes das navegações portuguesas atingirem seu objetivo, a Espanha
resolveu, em 1492, arcar com a expedição do navegador genovês Cristóvão Colombo. Com o objetivo de atingir as Índias, Colombo
seguiu em direção ao ocidente, chegando assim ao continente americano. Colombo acreditou ter alcançado as Índias, mas, em 1504,
Américo Vespúcio descobriu que se tratava de um novo continente.

5. O TRATADO DE TORDESILHAS
Ao final do século XV, Portugal e Espanha dominavam a rota do Atlântico. Os feitos de Colombo levaram os governos de Portugal e da
Espanha a se envolverem em uma disputa a respeito de qual dos dois países teria primazia sobre as “novas” terras. Como não
chegavam a um acordo, os reis de Portugal e Espanha pediram ao papa Alexandre VI que servisse de juiz na disputa. Com a ajuda da
Igreja Católica, os reinos dividiram suas posses, em 1493, através da chamada Bula Intercoetera, que dava todas as terras até 100
milhas de Cabo Verde para Portugal. Porém, essa bula foi editada no ano seguinte, em 1494, sendo, assim, substituída pelo Tratado
de Tordesilhas. O acordo dividia as novas terras em dois blocos, a partir de uma linha imaginária que ficava a 370 léguas a oeste das
ilhas de Cabo Verde. As terras já encontradas, ou que viessem a sê-lo, a oeste desse marco pertenceriam à Espanha. As terras situadas
a leste seriam de Portugal. Os reinos ibéricos fizeram a partilha do território encontrado. Obviamente, os demais reinos europeus
rejeitaram tal tratado, começando uma disputa pelos territórios encontrados no ocidente do Oceano Atlântico.

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Figura 2 - Bula Intercoetera / Tratado de Tordesilhas

6. A CHEGADA DE PORTUGAL NA AMÉRICA


O sucesso da empreitada de Vasco da Gama estimulou novas viagens. Em 1500, após afastar-se da costa africana, o navegador Pedro
Álvares Cabral alcançou terras a oeste do Atlântico Sul, que mais tarde passariam a ser chamadas de Brasil. No ano seguinte, o
florentino Américo Vespúcio, a serviço do rei de Portugal, mapeou essas terras, chegando à conclusão de que não faziam parte das
Índias, mas sim de um novo continente que, em sua homenagem, passou a ser chamado de América.
ATIVIDADES
1. O comércio entre o Oriente e o Ocidente durante a Idade Média era realizado através do mar Mediterrâneo. Descreva, em linhas
gerais, como estava organizada essa atividade mercantil.
2. Quais foram os fatores políticos e econômicos que garantiram a Portugal vantagens marítimas em relação aos demais países
europeus? E qual foi o papel da Escola de Sagres no pioneirismo marítimo português?
3. Quais os países que mais se destacaram no período dos Descobrimentos Marítimos dos séculos XV e XVI? Qual foi a estratégia
usada por estes países?
4. O que foi o Tratado de Tordesilhas?

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AULA 03 MERCANTILISMO
O Antigo Regime pode ser definido como um sistema político, econômico e social, que vigorou na Europa nos séculos XVI e XVIII. Isto
é, o sistema que vigorou na Europa durante a chamada idade Moderna. O Antigo Regime foi caracterizado pelo Mercantilismo no
campo econômico; pelo Absolutismo no campo político; e pela Sociedade Estamental, com uma nobreza cooptada para integrar o
corpo aristocrático dos Estados Nacionais, no campo social.

1. O MERCANTILISMO
A expansão do comércio provocou o surgimento no século XVI de um conjunto de
princípios conhecido como Mercantilismo. Basicamente, podemos definir o Mercantilismo
como um conjunto de práticas econômicas protecionistas, que visavam o fortalecimento
dos Estados Nacionais por meio do desenvolvimento da atividade mercantil. Mesmo não
tendo se constituído como doutrina sistemática, o mercantilismo foi seguido por boa parte
dos governantes, desejosos de ver a prosperidade de seus reinos. O mercantilismo estava
baseado em algumas práticas intervencionistas do Estado sobre a economia, tais como:
 Metalismo: ideia de que a riqueza de um Estado estava relacionada a sua
obtenção/acumulação de metais preciosos. Neste período, a Europa passava por uma
grande escassez de ouro e prata, fato que dificultava transações comerciais.
 Industrialização: o governo estimulava o desenvolvimento de manufaturas em
seus territórios. Como o produto manufaturado era mais caro do que matérias-primas ou
gêneros agrícolas, exportar manufaturados era certeza de lucro.
 Balança comercial favorável: ideia de que um Estado deveria manter sua riqueza
Figura 3 - Balança Comercial exportando mais produtos, que importando. A balança comercial favorável só era possível
se um Estado estimulasse a produção de manufaturas impondo, ao mesmo tempo,
barreiras tarifárias para importações de produtos estrangeiros.
 Exploração de colônias: busca por novos territórios que fornecessem matérias-primas, comprassem produtos manufaturados ou
que possibilitassem a extração de metais preciosos. Para que a exploração de colônias funcionasse, os reinos europeus criaram o
Pacto Colonial, impondo monopólio comercial das colônias com sua respectiva metrópole, ou seja, com o reino colonizador
daquele território.

Cabe ressaltar que Portugal e Espanha, por serem os pioneiros na expansão marítima, usufruíram de meios significativos de
enriquecimento. Portugal pode explorar o mercado de especiarias ao criar uma nova rota marítima para o Oriente. A Espanha
apoderou uma enorme riqueza ao explorar minas de prata existentes no continente descoberto. Já a França, a Holanda e,
principalmente, a Inglaterra, apostaram no processo de produção de manufaturas. Apesar de Portugal e Espanha conseguirem uma
riqueza significativa na exploração colonial, os Estados que obtiveram, de fato, uma verdadeira balança comercial favorável foram
aqueles que iniciaram processos manufatureiros.
 Portugal: Primeiro adotaram o mercantilismo comercial, comprando e revendendo especiarias orientais, mas com a concorrência
passaram a comercializar produtos tropicais. Depois ao descobrir ouro em Minas Gerais, adotaram o mercantilismo metalista.
 Espanha: Adotou o mercantilismo metalista onde buscavam ouro e prata, principalmente das suas colônias na América. Teve como
consequência a desestimulação da produção nacional.
 França: Adotou o mercantilismo industrial onde eles procuraram desenvolver a construção naval, expandir suas companhias de
comércio e manufaturas de luxo para vender aos espanhóis. Jean-Baptiste Colbert foi o grande responsável do mercantilismo
francês. Os seus objetivos foram o desenvolvimento da economia de França pela produção de manufaturas.
 Inglaterra: Adotou o mercantilismo comercial, onde compravam barato e vendiam caro, ganhavam a partir de fretes e juros, e
expandir companhias marítimas e construções navais. As medidas mercantilistas foram aplicadas ainda na primeira metade do
século XVII, com finalidade de proteger a economia britânica da expansão da Holanda. Em 1651, é decretado os Atos de
Navegação, proibindo o transporte e o comércio de produtos para Inglaterra por barcos e comerciantes que não fossem ingleses
e de mercadorias que não fossem produzidas nos seus respectivos países de origem.
 Holanda: Adotou o mercantilismo comercial e industrial, ampliaram a indústria naval e companhias marítimas que no século XVII
praticamente dominaram o comércio marítimo internacional.
ATIVIDADES
1. A expansão do comércio alterou significativamente as concepções econômicas na Europa, durante o século XVI, dando ao
mercantilismo. Defina e descreva os princípios fundamentais do mercantilismo.
2. Especifique a diferença do mercantilismo praticado por Portugal e Espanha com Inglaterra, Holanda e França.

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AULA 04 ABSOLUTISMO
1. O ABSOLUTISMO
Do ponto de vista político, a humanidade se organizou de diferentes maneiras ao longo do tempo.
Durante a Idade Média na Europa ocidental, por exemplo, o poder fragmentou-se entre os
senhores feudais, cabendo a eles a administração da justiça em suas propriedades. Embora nessa
época existissem reis, sua autoridade era praticamente simbólica. Nos últimos séculos desse
período, porém, alguns reis começaram a criar mecanismos para centralizar o poder,
enfraquecendo a autoridade dos senhores feudais e da Igreja. Surgiram assim as chamadas
monarquias nacionais.
Assim, a partir do século XVI, os reis criaram novos mecanismos para fortalecer ainda mais sua
autoridade e restringir as esferas de influência da Igreja e da nobreza feudal. Essas mudanças
desencadearam um processo de transformações políticas que se estenderam até o século XVIII e
levaram à formação dos chamados Estados Nacionais Modernos.

Figura 4 - Luis XIV, o Rei Sol 1.1 DEFINIÇÃO


Absolutismo é o nome dado ao sistema político e administrativo que predominou nos países da
Europa durante o Antigo Regime, ou seja, entre os séculos XVI e XVIII. O absolutismo é fruto do fortalecimento do poder real, sendo
a expressão máxima desse poder. Para concluir tal processo, o rei precisou apoiar-se em uma burocracia racional, capaz de orientar-
se segundo os interesses gerais do Estado nacional e não segundo as preferências dos senhores feudais.
Para constituir essa burocracia, os reis recrutaram profissionais especializados nos diversos setores da administração: financeiro,
jurídico, fiscal (cobrança de impostos), etc. Com o absolutismo o monarca concentrava todos os poderes, criando leis sem aprovação
da sociedade, além de impostos e demais tributos de acordo com a situação ou um novo projeto ou guerra que surgisse. Além disso,
o rei interferia em assuntos religiosos, em alguns casos controlando o clero de seu país. A França foi o país onde o Absolutismo chegou
ao seu máximo, com o Rei Luís XIV, também chamado de Rei Sol.
A extrema centralização do poder originou uma nova forma de organização do Estado conhecida como absolutismo monárquico.
Assim, alguns reinos, como os da França, Inglaterra e Espanha, que adotaram esse sistema de governo, passaram a ser conhecidos
como monarquias absolutistas. Nessas monarquias, o rei detinha o poder de legislar, isto é, de fazer e revogar as leis. Sua autorida- 3
de era quase absoluta, pois não estava limitada por nenhum outro poder, exceto pelas leis de Deus e pelos costumes e tradições da
época. A seguir, estudaremos como o absolutismo se manifestou em dois países europeus: França e Inglaterra.

2.1 O ABSOLUTISMO NA FRANÇA


A transformação da monarquia francesa em Estado absolutista teve início com Francisco I (1515-1547) e acentuou-se com Henrique
IV (1589-1610), primeiro rei da dinastia Bourbon. Além de não convocar os Estados Gerais (assembleia de representantes na nobreza,
do clero e da burguesia), este último passou a vigiar os governadores das províncias e deixou de lado os grandes senhores feudais,
nomeando ministros saídos da burguesia. Ao mesmo tempo, estimulou o mercantilismo, iniciou a colonização do Canadá e incentivou
a agricultura e as manufaturas. Porém, foi com Luís XIV (1643-1715) que o absolutismo francês assumiu sua forma máxima de
expressão.
Luís XIV acumulou as funções de rei e primeiro-ministro da França. Em seu governo, esvaziou o Conselho Real, órgão que tomava
decisões juntamente com o monarca; consolidou o exército permanente; proibiu as comunas de escolherem seus governantes;
manteve e ampliou o mercantilismo; incentivou a criação de manufaturas e de companhias comerciais; e envolveu a França em vários
conflitos externos visando garantir as fronteiras já conquistadas e assegurar a supremacia no comércio marítimo. E para que não
restassem dúvidas sobre seu poder, cunhou a expressão “o Estado sou eu”. Considerando-se representante de Deus na Terra, criou
um verdadeiro culto à sua imagem, escolhendo o Sol como símbolo de seu governo. Por isso, era chamado de Rei Sol.

2.2 O ABSOLUTISMO NA INGLATERRA


O caminho do absolutismo na Inglaterra foi aberto logo após a Guerra das Duas Rosas (1455-1485), conflito entre as duas mais
poderosas famílias da nobreza, os York e os Lancaster, em disputa pelo trono inglês. Com o fim do conflito, subiu ao trono Henrique
VII (1485-1509), pertencente à família Tudor, ligado por laços familiares tanto aos York, quanto aos Lancaster. Aproveitando-se do
enfraquecimento da nobreza feudal decorrente da Guerra das Duas Rosas, Henrique VII concentrou poderes, submetendo os nobres
ao seu controle. Seria, porém, com seu filho Henrique VIII (1509-1547) que a monarquia inglesa se tornaria plenamente absolutista.
Henrique VIII rompeu com o papa para fundar a Igreja anglicana, subordinada diretamente a ele, e confiscou as terras e outros bens
da Igreja católica. Após sua morte, a Inglaterra entrou em um período de instabilidade, que só terminou com a ascensão ao trono de
sua filha Elizabeth I (1558-1603). Com ela, o absolutismo inglês chegaria ao apogeu. Para coibir a ação de seus opositores, Elizabeth I

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criou uma rede de espionagem e decidiu só convocar o Parlamento em casos excepcionais. Também priorizou o mercantilismo,
modernizou a frota marítima, incentivou a criação de companhias de comércio, promoveu o povoamento da colônia de Virgínia, na
América do Norte, e não teve escrúpulos em adotar a pirataria como forma de acumular riquezas.
Elizabeth morreu em 1603 sem deixar herdeiros. Para ocupar o trono, foi chamado Jaime I (1603-1625), da dinastia Stuart, rei da
Escócia e primo de Elizabeth. Defensor da teoria do direito divino dos reis, Jaime I governou de forma despótica, promovendo intensa
perseguição aos puritanos (calvinistas), muitos dos quais tiveram de se refugiar na América do Norte, onde fundaram novas colônias,
como vimos no capítulo anterior. Quando o Parlamento recusou-se a conceder seu pedido de pensão vitalícia, o monarca o dissolveu.
Somente dez anos depois o Parlamento seria novamente convocado. Após a morte de Jaime, assumiu o trono seu filho Carlos I (1625-
1649), que acentuou o caráter absolutista do Estado. À revelia do Parlamento, o novo rei criou taxas alfandegárias para garantir o
sustento da família real, impôs aos proprietários um empréstimo forçado à Coroa e perseguiu de forma sistemática seus opositores.
Os constantes embates entre Carlos I e o Parlamento resultaram, em 1640, em uma longa guerra civil. Pequenos proprietários e
representantes da pequena nobreza rural, aliados a setores da burguesia, organizaram um exército. Comandados por um líder
puritano, Oliver Cromwell, os rebeldes venceram o exército real e, em 1649, depuseram Carlos I, que acabou julgado e decapitado.
Com a deposição de Carlos I, a Inglaterra se transformou em República governada por Cromwell. Em 1651, o Parlamento aprovou o
Ato de Navegação, pelo qual somente navios ingleses poderiam desembarcar mercadorias em portos da Inglaterra ou das colônias
inglesas. Como resultado, a Inglaterra se tornou a maior potência naval da Europa. Em 1655, Cromwell dissolveu o Parlamento e
implantou uma ditadura que durou até sua morte, em 1658. Seu filho, Richard, assumiu o governo, mas renunciou menos de um ano
depois. Assim, em 1660, a monarquia na Inglaterra foi restaurada, com a ascensão ao trono de Carlos II (1660-1685), filho de Carlos I
que se encontrava no exílio.

4. TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO
Diante dessa situação, pensadores políticos, publicaram livros argumentando que somente um governo fortemente centralizado seria
capaz de pôr fim à desordem reinante. Dentre estes pensadores, podemos citar:
Nicolau Maquiavel: foi um filósofo que viveu e produziu entre os séculos XV e XVI, e escreveu o livro “O príncipe”, em 1532. Em seu
livro, Maquiavel falou sobre como os governantes deveriam governar a partir da virtú, que seria a capacidade estratégica que levaria
à permanência no poder e, a fortuna, representa a sorte e os acontecimentos do acaso. Para Maquiavel, os governantes deveriam
manter um exército pago, capaz de seguir suas ordens.
Thomas Hobbes: primeiro filósofo a articular uma teoria detalhada sobre o Estado, com sua obra “Leviatã”, escrita em 1651. Hobbes
falava que o caos e a violência, situações identificadas como um estado de natureza, só poderiam ser evitados por um governo central
forte. “O homem é o lobo do homem”.
Jacques Bossuet: viveu entre os séculos XVII e XVIII, sendo o teórico responsável por envolver política e religião em sua tese. Escreveu
a obra “Política retirada da sagrada escritura”, em 1708, partindo do pressuposto que o poder real era também o poder divino, pois
os monarcas eram representantes de Deus na Terra. Assim, o monarca possuía o direito divino de governar e o súdito que se voltasse
contra ele estaria questionando as verdades eternas de Deus.

Figura 5 - Nicolau Maquiavel Figura 6 - Thomas Hobbes Figura 7 - Jacques Bossuet

ATIVIDADES
1. Para consolidar o poder, os novos soberanos precisavam enfraquecer o poder dos senhores feudais. Quais foram as
transformações que deram sustentação à luta do rei contra os senhores feudais?
2. Escreva uma definição de absolutismo.
3. Narre, em linhas gerais, como se constituiu o absolutismo monárquico na França e na Inglaterra.

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AULA 05 BRASIL COLÔNIA: ECONOMIA EXTRATIVISTA
1. A CHEGADA DE CABRAL E A INVASÃO DO BRASIL
O capitão-mor Pedro Álvares Cabral zarpou de Lisboa, em março de 1500,
com dez naus e três caravelas para alcançar as terras ainda desconhecidas
pelos europeus a oeste do Oceano Atlântico. Intencional ou não, o fato é
que, no dia 22 de abril de 1500, Cabral e seus homens avistaram pela
primeira vez o território que a população nativa chamava de Pindorama
– Terra das Palmeiras. Durante dez dias, a frota portuguesa permaneceu
ancorada na atual baía Cabrália, nas proximidades de Porto Seguro, na
Bahia. Ali, os portugueses travaram contatos amistosos com os
Tupiniquins, um povo Tupi. Trocaram presentes com os nativos,
celebraram duas missas e ergueram uma cruz de madeira de quase sete
metros de altura para assegurar a posse daquelas terras pelo reino
português. Em maio, as caravelas de Cabral partiram em direção às Índias.
Figura 8 - Índios extraindo Pau Brasil
Uma delas, contudo, retornou a Portugal com cerca de vinte cartas que
comunicavam as novidades ao rei dom Manuel.
Apesar da “descoberta”, a instauração de uma colônia portuguesa no território americano não ocorreu logo após a chegada de Cabral.
Possuindo maior interesse no comércio oriental, Portugal manteve a colônia americana em uma posição secundária, já que não havia
encontrado nenhum metal precioso ou produto de alto valor no mercado internacional (especiarias, marfim, seda, temperos, algodão,
porcelana, etc). A única preocupação portuguesa era manter a posse de suas terras para além-mar, evitando invasões de outros países
europeus.
A coroa portuguesa mandou contínuas expedições para sua colônia na América. A primeira, em 1501, nomeou regiões litorâneas
(como a Baía de Todos-os-Santos e o lugarejo de São Sebastião do Rio de Janeiro) e confirmou a existência do pau-brasil, árvore
utilizada na fabricação de corante para tingimento de tecidos. A segunda, em 1503, fundou feitorias no litoral fluminense para
armazenagem de madeira e carregamento de navios. As feitorias, além de entrepostos de armazenamento, funcionavam como ponto
de defesa colonial. O pau-brasil passou a ser o principal produto comercial da colônia, cujo monopólio ficou a cargo de Portugal
(lembre-se do Pacto Colonial).
Indígenas passaram a extrair o pau-brasil para os portugueses, que ofereciam produtos vistosos (espelhos, miçangas, instrumentos
de ferro), de baixo valor em troca, configurando a prática do escambo. Com o tempo, indígenas passaram a receber armas de fogo,
pólvora, cavalos, espadas, em troca de farinha, etc. A extração do pau-brasil passou a atrair contrabandistas estrangeiros, fato que
levou a cora portuguesa a mandar expedições militares, entre 1516 e 1526.
A colonização do território só se efetivou em 1531, quando o comércio com o Oriente entrou em crise e a ameaça de invasão por
outros reinos se tornou eminente. Nomeado capitão-mor das esquadras e das terras coloniais pelo rei de Portugal, Martinho Afonso
iniciou o processo de ocupação do território americano trazendo consigo homens, sementes, plantas, ferramentas e animais. Sua
política colonizadora consistiu na distribuição de sesmarias (lotes de terra) aos novos habitantes que se dispuseram a cultivá-las.
Inicia-se assim o cultivo da cana-de-açúcar e a construção dos primeiros engenhos na colônia. Em 1532, são fundadas as vilas de São
Vicente e Santo André da Borda do Campo, na região que hoje constitui o litoral e interior de São Paulo.

Figura 9 - Representação da chegada de Martim Afonso de Sousa, onde fundou a vila de São Vicente (1532). Óleo sobre tela. Benedito Calixto
(1852-1927).

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2. O TERRITÓRIO AMEAÇADO
Outras potências se mostravam interessadas em participar do lucrativo comércio de pau-brasil. Uma delas era a França. Rejeitando o
Tratado de Tordesilhas, a partir de 1504 os franceses começaram a organizar expedições para as terras da América que Portugal
considerava suas. Preocupado com esse assédio, a princípio Portugal enviou expedições guarda-costas para evitar a ação dos
concorrentes. Os resultados, porém, nem sempre foram eficazes, uma vez que o litoral era muito grande e difícil de ser vigiado. Diante
disso, em 1530 o governo português decidiu iniciar a colonização do território.
Navios franceses, contudo, continuavam a assediar o litoral da colônia portuguesa. Diante dessa situação, o rei português dom João
III percebeu que para colonizar as novas seria necessário adotar um regime de colonização. O modelo escolhido foi o das capitanias
hereditárias. Esse sistema de colonização já havia sido utilizado pelo governo português nas ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde.
Consistia em dividir um território em grandes extensões de terras e conceder a particulares – os capitães donatários – o direito de
explorá-las.

3. AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
Para viabilizar a colonização da América Portuguesa, adotou-se o sistema de
Capitanias Hereditárias, que já era usado por Portugal em suas colônias africanas.
Este sistema consistia em dividir o território brasileiro em grandes faixas e entregar
a administração para particulares. Ganharam o nome de Capitanias Hereditárias,
pois eram transmitidas de pai para filho (de forma hereditária). Estas pessoas que
recebiam a concessão de uma capitania eram conhecidas como donatários. Tinham
como missão colonizar, proteger e administrar o território. Por outro lado, tinham
o direito de explorar os recursos naturais (madeira, animais, minérios, etc).
Assim, entre 1534 e 1536, o governo de Portugal dividiu sua colônia na América em
quinze faixas de terra lineares e paralelas, que se estendiam, no sentido norte-sul,
e no sentido leste-oeste, do litoral até a linha estabelecida pelo Tratado de
Tordesilhas. Para financiar a colonização dos enormes lotes, a Coroa portuguesa
decidiu buscar o apoio da iniciativa privada. Como os nobres não manifestaram
interesse em desbravar as novas terras, dom João III concedeu as capitanias a
militares envolvidos na conquista das Índias e a altos burocratas da Corte em
condições financeiras de colonizar os lotes. Ao todo, doze pessoas foram
contempladas.
Os donatários não eram proprietários das capitanias. Por isso, não poderiam vendê-
Figura 10 - Capitanias Hereditárias las, mas somente explorá-las. Em compensação, podiam transmiti-las a seus filhos.
Entre seus direitos e atribuições, estavam os de fundar vilas, doar lotes de terras (as
sesmarias, origem dos primeiros latifúndios), nomear ouvidores, tabeliães, escrivães e juízes. Podiam também cobrar impostos sobre
tudo o que fosse produzido na capitania.
O sistema não funcionou muito bem. Apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco deram certo. Podemos citar como motivos
do fracasso: a grande extensão territorial para administrar (e suas obrigações), falta de recursos econômicos e os constantes ataques
indígenas. O sistema de Capitanias Hereditárias vigorou até o ano de 1759, quando foi totalmente extinto pelo Marquês de Pombal.

4. PERNAMBUCO E SÃO VICENTE


Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, fundou as vilas e procurou fixar os colonos à terra. Além de incentivar a criação
de gado e o cultivo de algodão, estimulou o plantio de cana-de-açúcar, lançando assim as bases da economia açucareira nordestina.
Foi também um dos primeiros colonizadores a recorrer à mão de obra africana escravizada em suas terras. Depois de Pernambuco,
a capitania que melhor se desenvolveu foi a de São Vicente. Em 1548, funcionavam nessa capitania seis engenhos de açúcar.
Entretanto, a atividade mais lucrativa era o tráfico de nativos escravizados. Apesar do êxito das capitanias de Pernambuco e São
Vicente, o sistema não funcionou como um todo. A ligação entre as capitanias hereditárias era precária, o poder encontrava-se
disperso entre os donatários e os conflitos com os indígenas se intensificavam. Além disso, os navios franceses continuavam
assediando o litoral. No final de 1548, o governo português concluiu que estava na hora de assumir o controle da colônia e implantou
uma forma de administração centralizada: o Governo-Geral.

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5. OS GOVERNOS GERAIS
Respondendo ao fracasso do sistema das capitanias hereditárias, o governo português realizou a centralização da administração
colonial com a criação do governo-geral, em 1548. Em vias gerais, o governador-geral deveria viabilizar a criação de novos engenhos,
a integração dos indígenas com os centros de colonização, o combate do comércio ilegal, construir embarcações, defender os colonos
e realizar a busca por metais preciosos. Apesar de centralizadora, essa experiência não determinou que o governador cumprisse todas
essas tarefas por si só. De tal modo, o governo-geral trouxe a criação de novos cargos administrativos.
Nesse período começaram a surgir as câmaras municipais – órgãos políticos compostos pelos “homens-bons”, que eram homens ricos,
proprietários de terras que definiam os rumos políticos dos povoados e cidades. A presidência da câmara cabia a um juiz, que podia
ser nomeado pelo rei (juiz de fora) ou eleito pelos membros da câmara (juiz ordinário). O recolhimento de impostos ficava a cargo de
particulares que eram nomeados para tal.

ATIVIDADES
1. Apesar de tomar posse de terras a oeste do Atlântico Sul, por que a Coroa portuguesa não se interessou imediatamente em
colonizar a região?
2. Em 1530, a Coroa portuguesa mudou sua política em relação às terras sul-americanas e deu início às primeiras atividades de
colonização. Que fatores justificaram a mudança?
3. As capitanias hereditárias representaram um novo sistema de colonização do território português na América do Sul. Quais eram
as características fundamentais desse modelo de colonização?

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AULA 06 COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA: ECONOMIA AÇUCAREIRA
1. O PROJETO AGRÍCOLA DA EXPLORAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA
Após os trinta anos iniciais, o projeto de colonização portuguesa na América adotou a agricultura como elemento chave de seu
processo, tendo o cultivo da cana-de-açúcar como a base econômica desta empreitada civilizatória. O cultivo da cana-de-açúcar foi
extremamente importante, uma vez que estimulou o povoamento da colônia e a ocupação de seu vasto litoral, além de se tornar um
importante produto mercantil. Originário da Ilha da Madeira, território português, o cultivo da cana era praticado por Portugal antes
de ser trazido ao Brasil, sendo trazido para colônia americana por várias razões favoráveis. O solo do litoral, formado por uma
composição denominada “massapê” – argiloso e rico em calcário –, revelou-se propício para o cultivo da cana de açúcar. O clima do
Brasil também favorecia a planta, permitindo que se desenvolvesse o cultivo em larga escala. Com o sucesso do cultivo, a boa
adaptação da planta ao ambiente brasileiro e o modelo de exploração da cana de açúcar se espalhou pelo litoral brasileiro.
O primeiro engenho em terras portuguesas da América do Sul foi instalado em 1532 por Martim Afonso de Sousa na capitania de São
Vicente. Foi no Nordeste que a economia do açúcar obteria maior êxito. Em 1542, começou a operar o primeiro engenho em
Pernambuco; quatro décadas depois, já havia aí 66 engenhos. Em 1580, eram 115 os engenhos distribuídos por todo o litoral brasileiro.
Juntos, eles colocavam no mercado uma produção anual de 300 mil arrobas de açúcar (4,5 mil toneladas), além de aguardente
(cachaça). Produto igualmente derivado da cana, a cachaça se tornou importante item nas transações comerciais da colônia. Os
traficantes de escravos a utilizavam como “moeda de troca” para a compra de cativos africanos. No Nordeste, alguns dos principais
centros produtores de açúcar eram as capitanias da Bahia, Pernambuco e Paraíba. Inicialmente, o termo engenho designava apenas
a edificação na qual se fabricava o açúcar. Mais tarde, passou a indicar todo o complexo que envolvia a produção açucareira: os
canaviais, as matas de onde se extraía lenha para as fornalhas, a casa-grande – residência do proprietário –, a senzala – alojamento
dos escravos –, a moenda e demais instrumentos de produção, etc
Os engenhos de açúcar precisavam de grande quantidade de mão-de-obra. A escravidão, há tempos praticada por europeus e árabes,
tornou-se basilar para produção açucareira. Além de fornecer mão-de-obra para os engenhos, a escravidão africana tornou-se
extremamente lucrativa, gerando um outro empreendimento: o tráfico negreiro, que enriqueceu a Coroa e mercadores portugueses.
O trabalho indígena também foi usado. Muitos senhores de engenho recorreram a escravização de índios. Organizavam expedições
que invadiam as tribos de forma violenta para sequestrarem indígenas, que serviriam como mão-de-obra escrava. Contudo, a
legitimidade destas ações era contestada, já que o uso dos nativos como escravos teve forte oposição dos jesuítas.

Figura 11 - Representação de um engenho colonial

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2. O ENGENHO DE CANA-DE-AÇÚCAR
Os engenhos se multiplicaram rapidamente pela costa da colônia portuguesa, chegando a 400 unidades em 1610. O açúcar tornou-se
a principal riqueza colonial, sendo sua produção voltada para o comercio internacional. A colonização do Brasil, nos séculos XVI e XVII,
foi assentada sobre o latifúndio monocultor, escravista e exportador, denominado pelos estudiosos de plantation. O Nordeste,
principalmente Pernambuco e Bahia, se destacaram neste processo, concentrando a maior parte de produção de açúcar da colônia.
Um grande engenho chegava a marca de 5 mil moradores, sendo constituído de reservas florestais, plantações de cana, lavoura de
subsistência, capela, casa grande e senzala.
Os engenhos eram instalados em propriedades de terra obtidas por doação (as sesmarias). Estas propriedades tinham como
fundamento básico a produção de açúcar, fato que refletiu na falta de outros produtos para abastecimento da população. Por se ligar
à exportação, a chamada cultura do açúcar acabou movimentando um mercado interno, que gerou hábitos, produtos e costumes que
marcam nossa cultura até hoje. O desenvolvimento do tropeirismo possibilitou o aumento da circulação de gêneros alimentícios e
outras mercadorias, advindos de pequenas lavouras que se desenvolveram como suporte para manutenção dos engenhos.

3. A SOCIEDADE AÇUCAREIRA
A sociedade açucareira era patriarcal, extremamente hierarquizada, sendo a posse de escravos e de terras o fator determinante nesta
estrutura. No topo desta sociedade estava os senhores de engenhos (proprietários destas unidades exportadoras). Logo abaixo deles
estavam os senhores obrigados, fazendeiros que plantavam cana, mas não possuíam sistema de fabricação do açúcar. Tanto os
senhores de engenho, quanto os senhores obrigados, eram homens brancos de origem portuguesa, que receberam sesmarias. Por
sua vez, esta aristocracia rural tinha domínio na vida pública, nas câmaras municipais e, na esfera privada, devido ao sistema patriarcal,
e desfrutavam de status social semelhante ao da nobreza em Portugal.
Os senhores de engenho e senhores obrigados controlavam a vida política da região, ocupavam cargos nas câmaras municipais e seus
filhos e parentes detinham importantes postos públicos. Além disso, mantinham sob controle uma ampla rede de dependentes. De
modo geral, as mulheres dos senhores de engenho também deviam obedecer às suas ordens, cabendo a elas a tarefa de cuidar da
educação das crianças, costurar e supervisionar os escravos domésticos. Suas filhas deviam se preparar para um casamento de
encomenda. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus
domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes distantes,
de status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas terras, expandindo-
se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar
implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da época.
Por fim, a base da pirâmide social era formada por escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum. E por um
pequeno grupo intermediário de pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores,
mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio).

Figura 12 - Engenho, detalhe, de Franz Post, 1648.

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AULA 07 COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA: ECONOMIA AÇUCAREIRA
1. POVOS AFRICANOS NA ÉPOCA
MODERNA
A África é o berço da humanidade, local
onde surgiu os primeiros seres
humanos. A África é reconhecida pela
sua grande diversidade, desde as suas
características naturais, sociais e
históricas, sendo a região da qual saiu as
primeiras migrações destinadas a
povoar o mundo em que vivemos.
Quando começou a ser realizada em
grande escala pelos europeus, a
escravidão não era novidade na África,
pois esta era praticada com prisioneiros
de guerra, para pagamento de dívidas
ou como punição para crimes graves.
Contudo, na dimensão que os europeus
lhe deram, a escravidão representou um
imenso desequilíbrio na cultura,
sociedade e na economia dos povos
Figura 13 - Principais rotas do tráfico de escravos para o Brasil africanos.
Pode-se dizer que os portugueses foram
os primeiros europeus a explorar a costa da África. Quando ali chegaram, no decorrer do século XV, a população do continente
africano encontrava-se dividida em diversas etnias, também chamadas de nações, com estruturas políticas, econômicas e sociais
específicas. Na época, alguns desses povos já contavam com um artesanato têxtil importante e com uma significativa produção de
ferro, além de outros trabalhos em metalurgia. Os portugueses vinham em busca de riquezas – principalmente ouro – e descobriram
que o tráfico de pessoas escravizadas poderia também render altos lucros. A escravidão já existia na África antes da chegada dos
portugueses. Entretanto, as características da escravidão africana eram diferentes das impostas aos africanos pelas sociedades
europeias.
Em muitas comunidades da África, o escravo, seu amo e parentes cumpriam as mesmas tarefas no dia a dia. Os cativos podiam até
ser incorporados à família, ainda que com status diferente em relação às demais pessoas. Nas sociedades constituídas em Estados, os
escravizados prestavam serviços na corte real e nas moradias dos nobres. Trabalhavam também como mineradores, artesãos,
agricultores. Em outras sociedades, porém, eles se encontravam à mercê de seus senhores, que podiam castigá-los fisicamente e até
matá-los. A obtenção de um escravo podia ocorrer de diferentes maneiras. A mais comum era a guerra. Após ganhar uma batalha, o
povo vencedor escravizava os inimigos derrotados. Outro expediente era o sequestro de crianças para serem vendidas como escravas.
Em algumas regiões, pessoas que tivessem cometido assassinato, furto, adultério ou atos de feitiçaria poderiam, como punição, se
tornar cativas. Em muitos lugares, era comum a escravização por dívidas. Havia ainda casos de pessoas que, para fugir da fome e da
miséria, pediam para ser escravizadas. Apesar dessas diversas modalidades de escravidão, a venda de pessoas escravizadas na África
antes da chegada dos europeus ocorria em pequenas proporções. Raramente os “lotes” à venda excediam dez pessoas.
Com a chegada dos portugueses, em meados do século XV, as pessoas escravizadas na África começaram a ser vendidas e
transportadas, cada vez em maior número, para outras regiões do planeta. Segundo o historiador Fernando Novais, o tráfico negreiro,
com o comércio de especiarias, a produção de açúcar e a mineração, foi uma das atividades comerciais mais lucrativas da Idade
Moderna. O primeiro grupo de cativos chegou a Lisboa em 1441. Eram dez pessoas levadas pelos marinheiros como prova de que
haviam explorado a costa africana. Três anos mais tarde, Portugal realizou a primeira venda pública de pessoas escravizadas: duzentos
africanos foram comercializados na ocasião. De acordo com o historiador Luiz Felipe de Alencastro, 10 milhões de escravos africanos
desembarcaram no continente americano entre os séculos XVI e XIX. Desse total, cerca de 3,8 milhões vieram para o Brasil

2. DIÁSPORA AFRICANA
A diáspora africana é o nome dado a um fenômeno histórico e social caracterizado pela imigração forçada de homens e mulheres do
continente africano para outras regiões do mundo. Esse processo foi marcado pelo fluxo de pessoas e culturas através do Oceano
Atlântico e pelo encontro e pelas trocas de diversas sociedades e culturas, seja nos navios negreiros ou nos novos contextos que os
sujeitos escravizados encontraram fora da África. O principal polo de exportação de mão-de-obra escrava era a África Ocidental, região
que englobava todo o território compreendido entre os atuais Senegal e Camarões.

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Os africanos que aqui chegaram vieram de diversos locais do continente. A transformação desses homens e mulheres em escravos
começava já na África, nas feitorias, ou no porto logo ao chegar na nova terra. Nesse processo foram modificados e suas referências
culturais redefinidas. Dessa forma, diversos povos – benguelas, cabindas, angolas, minas, entre tantos outros – embarcaram nos
navios e aqui chegaram. Para obter maior quantidade de cativos, portugueses e outros europeus estimulavam as guerras entre povos
africanos. O objetivo era comprar os vencidos a baixo preço e revendê-los a alto preço nas colônias. Outra forma de captura consistia
em contratar os chamados pombeiros – mercadores que percorriam o interior do continente africano para comprar pessoas
capturadas aos chefes locais. Os mercados de cativos chamavam-se pombos. Um dos mais importantes ficava no Congo.
A maior parte dos navios negreiros era de pequeno porte. Para fazer com que coubesse neles o maior número de pessoas, os
traficantes construíam um segundo compartimento no porão, cujo teto, excessivamente baixo, impedia que as pessoas ficassem de
pé. Uma viagem de Luanda ao Recife levava cerca de 35 dias. De Luanda ao Rio de Janeiro, dois meses. Amontoados nos porões,
durante o percurso os cativos tinham de permanecer sentados, acorrentados uns aos outros e com a cabeça inclinada. Doenças como
tifo, sarampo, febre amarela e varíola se propagavam com rapidez e provocavam inúmeras mortes. As estimativas indicam que de
15% a 20% dos africanos embarcados morreram nessas viagens durante o período em que durou o tráfico negreiro.
A vitalidade dos engenhos brasileiros fez com que a coroa lusitana voltasse sua atenção paulatinamente para a colônia americana,
em detrimento do comércio com o Oriente. O “boom” das grandes fazendas aumentou extraordinariamente a demanda por escravos,
o que fez com que, ao longo do século XVII, os europeus importassem quase sete vezes mais africanos do que no século anterior.

3. A CRISE AÇUCAREIRA
A produção e exportação de açúcar para o mercado europeu foi a principal atividade econômica brasileira no século XVI e começo do
XVII. Os engenhos de açúcar, instalados principalmente no Nordeste, fabricavam este produto que gerava muita riqueza para os
senhores de engenho, para a coroa portuguesa (que recebia impostos) e também para os comerciantes holandeses (responsáveis
pelo transporte, refino e comercialização de açúcar).
O rei de Portugal, dom Sebastião, tinha apenas 24 anos quando, em 1578, morreu na batalha que travava contra os mouros em
Alcácer-Quibir, no Marrocos atual. E, por razões dinásticas, entre 1580 e 1640, o monarca espanhol Filipe II assumiu o trono português.
Este período de união entre Portugal e Espanha ficou conhecido como União Ibérica. Neste período, a administração do Brasil
permaneceu praticamente intacta, mas a independência da Holanda em 1581, que pertencia aos domínios espanhóis, trouxe sérias
consequências para o país. Em represália, Filipe II decretou o Embargo Espanhol proibindo todas as suas colônias de negociar com os
holandeses em 1621. Essa decisão afetou diretamente a produção açucareira, já que brasileiros e holandeses eram parceiros, os
primeiros responsáveis pela produção, os últimos controlando o transporte, o refino e o comércio.
A decisão desagradou os comerciantes
holandeses, que, por isso, passaram a estimular a
ocupação do Nordeste da colônia portuguesa,
principal centro açucareiro da América. O
instrumento para isso seria a Companhia das
Índias Ocidentais, fundada naquele mesmo ano.
Inicialmente, os holandeses invadiram o nordeste
brasileiro, primeiro na Bahia, em 1624, sendo
expulsos no ano seguinte. E depois em
Pernambuco, onde ficaram entre 1630 a 1654,
quando foram expulsos.
Durante os 24 anos em que estiveram no
Nordeste, os holandeses aprenderam os segredos
da produção açucareira e passaram a aplicá-los na
região do Caribe, onde tinham uma colônia. Em
Figura 14 - Charge sobre a produção holandesa de açúcar nas Antilhas
pouco tempo, o açúcar produzido nessa região
tornou-se forte concorrente do produto
nordestino no mercado externo, levando a economia açucareira da colônia a entrar em crise. Como consequência desta situação, o
preço do açúcar caiu, entre 1650 e 1688, para um terço de seu valor. Portugal perdeu a supremacia do cultivo açucareiro, situação
que desorganizou sua balança comercial. Para reverter a situação, a coroa portuguesa passou a investir na produção de tabaco e no
desbravamento territorial do interior colonial. Também proibiu o uso de produtos estrangeiros, a fim de diminuir as importações.
Contudo, esta política foi abandona por conta da pressão inglesa e a assinatura do Tratado de Methuen, em 1703, que estabelecia a
importação de manufaturados ingleses e a exportação de vinho para Inglaterra.

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TÓPICO ESPECIAL
OS JESUÍTAS
Os primeiros jesuítas chegaram à colônia portuguesa em 1549. No começo, estabeleceram- se na capitania da Bahia de Todos-os-
Santos, onde construíram uma igreja e a sede da Companhia de Jesus, da qual eram integrantes. Instalados inicialmente nas aldeias
do litoral, com o tempo adentraram pelo interior do território (conhecido como sertão), desbravando muitas regiões que ainda
não haviam sido alcançadas pelos colonos portugueses e travando contato com os indígenas que ali viviam.
Para pregar o evangelho aos nativos, os jesuítas procuraram aprender algumas de suas línguas, como o tupi-guarani e o tupinambá,
faladas por povos indígenas de diferentes etnias. Com base nelas, os religiosos procuraram desenvolver línguas gerais para facilitar
a comunicação entre a população nativa e os colonizadores.

AS MISSÕES
Os resultados dessa pregação itinerante, contudo, não corresponderam às expectativas. Diante disso, Manoel da Nóbrega concluiu
que a catequização poderia surtir melhores efeitos se os missionários parassem de se deslocar de uma aldeia para outra e
reunissem os indígenas em um mesmo lugar. Nóbrega acreditava que, reunidos em uma única aldeia por região, sob o governo dos
jesuítas, eles estariam mais bem protegidos dos colonos que procuravam escravizá-los. Nessas aldeias, os indígenas seriam
preparados para uma vida produtiva baseada na agricultura e no artesanato. Começavam a surgir assim as primeiras missões
jesuíticas da colônia portuguesa, também chamadas de aldeamentos ou reduções.
Apesar do discurso protetor dos religiosos, o fato é que os aldeamentos contribuiriam amplamente para a desintegração da
sociedade indígena. Embora relativamente protegidos da escravidão, os nativos passaram a levar ali uma vida bem diferente
daquela a que estavam acostumados. Se antes eles eram seminômades, agora tornaram- se agricultores e artesãos sedentarizados
e submetidos a uma rígida disciplina de horários. A organização das missões era também inteiramente nova para eles. Para viver
nesses lugares, tinham de renunciar à sua liberdade de movimento e a antigos hábitos, como a poligamia e a antropofagia.

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ATIVIDADES
1. A sociedade formada ao redor das lavouras de cana-de-açúcar gravitava em torno do senhor de engenho. Explique como isso
ocorria.
2. Quais eram as características da escravidão no continente africano antes da chegada dos europeus?
3. O que é a diáspora africana?
4. Qual a relação entre a formação da União Ibérica e as invasões holandesas na região nordeste da América portuguesa?
5. O que as missões geraram em relação aos povos originários?

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AULA 08 AMÉRICA INGLESA: AS 13 COLÔNIAS
1. A INGLATERRA
O caminho do absolutismo na Inglaterra foi aberto logo após a Guerra das Duas Rosas (1455- -1485), conflito entre as duas mais
poderosas famílias da nobreza, os York e os Lancaster, em disputa pelo trono inglês. Com o fim do conflito, subiu ao trono Henrique
VII (1485-1509), pertencente à família Tudor. Aproveitando-se do enfraquecimento da nobreza feudal decorrente da Guerra das Duas
Rosas, Henrique VII concentrou poderes, submetendo os nobres ao seu controle. Porém, com seu filho Henrique VIII (1509-1547) que
a monarquia inglesa se tornaria plenamente absolutista. Henrique VIII rompeu com o papa para fundar a Igreja anglicana, subordinada
diretamente a ele, e confiscou as terras e outros bens da Igreja católica.
Após sua morte, a Inglaterra entrou em um período de instabilidade, que só terminou com a ascensão ao trono de sua filha Elizabeth
I (1558-1603). Com ela, o absolutismo inglês chegaria ao apogeu. Para coibir a ação de seus opositores, Elizabeth I criou uma rede de
espionagem e decidiu só convocar o Parlamento em casos excepcionais. Também priorizou o mercantilismo, modernizou a frota
marítima, incentivou a criação de companhias de comércio, promoveu o povoamento da colônia de Virgínia, na América do Norte, e
não teve escrúpulos em adotar a pirataria como forma de acumular riquezas.
Elizabeth morreu em 1603 sem deixar herdeiros. Para ocupar o trono, foi chamado Jaime I (1603-1625), da dinastia Stuart, rei da
Escócia e primo de Elizabeth. Defensor da teoria do direito divino dos reis, Jaime I governou de forma despótica, promovendo intensa
perseguição aos puritanos (calvinistas), muitos dos quais tiveram de se refugiar na América do Norte, onde fundaram novas colônias.
Após a morte de Jaime, assumiu o trono seu filho Carlos I (1625-1649), acentuou o caráter absolutista do Estado, criando uma série
de conflitos com o Parlamento Inglês, gerando a Revolução Puritana.

2. INGLESES NA AMÉRICA DO NORTE


A efetiva colonização inglesa na América do Norte começou em 1607, com a fundação de Jamestown, na região logo chamada de
Virgínia, em homenagem à rainha britânica Elizabeth I, a “Rainha Virgem”. Nos anos subsequentes, novas colônias seriam criadas na
região, como Maryland, New Hampshire e Massachusetts. Formaram-se assim as treze colônias que, mais tarde, dariam origem aos
Estados Unidos. Desde o começo, o processo de colonização da América do Norte pelos ingleses assumiu três formas diferentes:
• O governo inglês concedia a companhias de comércio interessadas em explorar a América do Norte cartas régias autorizando-as a
implantar colônias em certas regiões.
• O rei doava certa extensão de terra a famílias da nobreza ou a pessoas com dinheiro, concedendo-lhes amplos poderes para
governar.
• A partir de 1620, grupos formados geralmente por puritanos (calvinistas), que fugiam de perseguições religiosas na Inglaterra,
criavam na América do Norte núcleos de colonização semi-independentes da Inglaterra.

2. AS TREZE COLÔNIAS
Com a criação da colônia de Virgínia, novos colonos
começaram a se instalar na América do Norte,
apoderando- se das terras que até então eram
ocupadas pelos indígenas. Em 1680, a população total
das colônias inglesas somava 250 mil habitantes; um
século mais tarde, chegaria a 1,5 milhão. Em meados
do século XVIII, havia na América do Norte treze
colônias sob o domínio da Inglaterra. Apesar de terem
características em comum – como o idioma –, essas
colônias distinguiam- se em vários aspectos.
As colônias do Sul, em geral, foram colonizadas
inicialmente por pessoas pobres, artesãos, agricultores
e aventureiros em busca de enriquecimento rápido.
Com a deposição do rei da Inglaterra, Carlos I, em
1649, durante a Revolução Puritana, muitos senhores
ricos, defensores do monarca absolutista, seguiram
para essa região da América do Norte, onde se
tornaram grandes proprietários de terras e de
escravos. Isso contribuiu para que a sociedade das
colônias sulistas fosse marcada por uma forte
aristocracia rural conservadora, escravista, que
Figura 15 - As Treze Colônias

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ostentava sua riqueza construindo enormes residências.
Já a região norte, chamada de Nova Inglaterra, em contrapartida, tornou-se abrigo de puritanos e pessoas pobres que fugiam das
perseguições religiosas e da miséria. Uma das principais fontes de renda da região norte era o comércio triangular, que, de forma
simplificada, funcionava da seguinte maneira: os mercadores da região compravam açúcar e melaço das Antilhas e os transformavam
em rum; a bebida era levada à África e trocada por escravos, que eram revendidos às colônias do Sul e às Antilhas. Constituída por
pequenos proprietários rurais, a maioria das famílias que viviam na “Nova Inglaterra” era autossuficiente: seus integrantes teciam
suas próprias roupas, cultivavam seus alimentos, fabricavam seus móveis, etc.

ATIVIDADES
1. A colonização inglesa na América do Norte assumiu três formas diferentes, envolvendo os interesses da Coroa inglesa, das
companhias de comércio e exploração e de pessoas que queriam migrar para o novo território. Descreva essas três formas de
colonização.
2. O chamado comércio triangular era uma das principais fontes de renda da região Norte, a Nova Inglaterra. Explique como
funcionava essa atividade mercantil.

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AULA 09 AMÉRICA ESPANHOLA
1. O INÍCIO
A notícia de que os índios de Hispaniola (Ilha de São
Domingos) – onde Cristóvão Colombo desembarcara
em 1492 – usavam adereços de ouro provocou
alvoroço entre os espanhóis. Motivados pelo desejo
de enriquecimento fácil, muitos deles se deslocaram
para lá já em 1493 – tinha início a exploração aurífera
na região. Ao chegar a Hispaniola, os espanhóis não
pouparam seus habitantes. Os que não foram
exterminados passaram à condição de escravos,
sendo obrigados a trabalhar na extração de ouro.
Parte da população indígena morreu ao entrar em
contato com doenças levadas pelos europeus e
contra as quais não tinha anticorpos.

2. OS INDÍGENAS
Os colonizadores levaram doenças desconhecidas
para os indígenas como a varíola, tifo, sarampo e
gripes que faziam grande número de mortos. Os
espanhóis apresentavam infinita vantagem bélica na
comparação com os povos nativos e souberam fazer
alianças que jogaram as tribos indígenas umas contra
as outras. Além de espadas mais robustas e da pólvora, levaram cavalos para o novo continente e passaram a deter intensa vantagem
no campo de batalha. Desta maneira, os indígenas sucumbiram aos colonizadores. Impérios inteiros foram destruídos, como os Maias,
Astecas e Incas. Segundo alguns pesquisadores, essas doenças foram um dos principais responsáveis pela mortandade da população
asteca, que diminuiu de cerca de 25 milhões de pessoas em 1518 para 700 mil em 1623.

3. ESCRAVIDÃO INDÍGENA E AFRICANA


Com o esgotamento do ouro, as atenções dos espanhóis se voltaram para outras ilhas próximas. A partir de 1502, Hispaniola tornou-
se prioritariamente um centro administrativo e ponto de abastecimento dos exploradores que partiam para outras regiões em busca
de ouro. Os espanhóis implantaram um sistema de colonização conhecido como encomienda. Esse modelo de exploração consistia
em conceder a um colono o direito de escravizar certo número de indígenas para fazê-los trabalhar na exploração de ouro, na
agricultura ou em serviços domésticos. Em troca, o colono deveria pagar um tributo à metrópole e cristianizar os nativos sob seu
controle.
O espírito evangelizador da religião católica também levava os exploradores a querer conseguir novas almas para a Igreja. Os indígenas
eram catequizados e grande parte abandonou seus costumes e outra parte, mesclou suas religiões com o cristianismo. Em teoria, era
proibido escravizar os indígenas. No entanto, na prática, os nativos eram capturados de suas comunidades e distribuídos entre os
colonizadores para trabalhar nas minas. Esta prática existia entre os povos andinos e dava-se o nome de mita.
Já a escravidão africana na América Espanhola não ocorreu de forma homogênea. No Caribe, populações inteiras foram dizimadas e
substituídas pelos negros africanos. Entretanto, na América Andina, se registra o uso dos indígenas e dos negros africanos, de acordo
com tarefa que deveriam desempenhar e o local onde deveriam trabalhar.

4. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL
A sociedade colonial foi moldada através da violência e da mestiçagem. Como eram poucas as mulheres nascidas na Espanha morando
nas colônias, os homens uniram-se com indígenas. Alguns casamentos entre a nobreza indígena e oficiais foram realizados com o
intuito de fortalecer alianças locais.
Por este motivo, houve a mistura do europeu ao índio e, posteriormente, ao negro. Essa última em menor proporção do que houve
no Brasil. A sociedade da América Espanhola estava dividida basicamente em:
 Chapetones: eram a elite colonial, controlavam a colônia e ocupavam os altos cargos administrativos.
 Criollos: vinham logo abaixo. Eram os filhos dos espanhóis nascidos na colônia e integravam a nobreza, sendo, ainda, grandes
latifundiários.
 No topo da pirâmide social estavam os peninsulares ou chapetones. Eram originários da Espanha e dominavam toda a alta
administração pública, religiosa e militar da América espanhola. Abaixo dos peninsulares vinham os criollos, brancos nascidos
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na colônia. Embora nem todos fossem ricos, eles faziam parte de uma aristocracia composta de proprietários de terras, de
minas e de escravos. Possuíam grandes fazendas – as haciendas – e seus filhos podiam estudar na Europa. Por fim, negros e
indígenas permaneciam na base da pirâmide social.

5. A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
Durante o período colonial, o governo da Espanha dividiu suas terras na América em vice-reinos e capitanias. Cada vice-reino era
governado por um vice-rei, que respondia diretamente à Coroa espanhola. Na metrópole, as decisões políticas e administrativas
relativas às colônias ficavam a cargo do Conselho das Índias, órgão criado em 1524 e encarregado de nomear os vice-reis,
governadores, autoridades militares, judiciais, etc.
A relação estabelecida entre as colônias e a Espanha tinha por base o pacto colonial. Assim, as primeiras deviam produzir e exportar
para a metrópole matérias-primas ou metais preciosos, e comprar dela os produtos manufaturados de que necessitavam. A
administração desse comércio estava a cargo da Casa de Contratação, órgão criado em 1503 e sediado em Sevilha, na Espanha. Para
manter a unidade desse império, o governo espanhol contava com um enorme aparato burocrático e também com a força da Igreja
católica cumpria “importante papel de coerção e geração de consenso entre a população”.
Da mesma forma, haviam os cabildos, também chamados de conselhos municipais. Esses conselhos representavam a metrópole e
controlavam o policiamento, o recolhimento de impostos e a Justiça. Os chefes dos cabildos eram escolhidos pela própria coroa e,
muitas vezes, eram vitalícios. O povo não participava dos cabildos, mas eram chamados quando havia decisões importantes a tomar.

ATIVIDADES
1. Explique sucintamente os motivos que levaram os espanhóis a subjugarem as civilizações pré-colombianas, mesmo sendo
numericamente inferiores.

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