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Capítulo 11

ANTIGO REGIME E SOCIEDADE DE CORTE


“O Antigo Regime era a Idade Média em ruínas.”
(Alexis de Tocqueville)
“Isto que designamos como corte do Ancien Régime não passa de uma vasta
extensão da casa e dos assuntos domésticos do rei francês e de seus
dependentes.”
(Norbert Elias)

Museu do Louvre, Paris, França

Fig. 11.1. Gravura a cores, Paris, 1789. Museu Carnavalet, Paris, França.
Caricatura do Antigo Regime.

Castelo de Versalhes, França

Fig. 11.2. Palácio de Versalhes. Escola francesa, século XVII. Castelo de


Versalhes, França.

Duas epígrafes com as respectivas imagens. A primeira é de


Alexis de Tocqueville, um dos primeiros a tentar compreender o
Antigo Regime, escrevendo no século XIX, ao invés de condená-lo
in limine. A imagem correspondente é uma caricatura revolucionária
do Antigo Regime, clero e nobreza cavalgando um velho
alquebrado, metáfora do povo. A segunda é de Norbert Elias, o
primeiro a falar, não das cortes reais, mas da sociedade de Corte,
sobretudo na França, enfatizando aqui um dos traços do Antigo
Regime: a mescla do poder público com os interesses privados, cujo
protagonista era o rei. A imagem ilustrativa é a do palácio de
Versalhes, obra magnífica mandada construir por Luís XIV, no
século XVII.
Dois conceitos interligados, o Antigo Regime mais amplo, pois
qualifica a estratificação das sociedades do Ocidente europeu –
algumas delas, ao menos –, enquanto o segundo foca no ambiente
aristocrático que gravitava em torno do rei; é menos um palácio,
como diz Elias, do que um tipo de sociedade que reproduz, em
miniatura luxuosa, as redes clientelísticas e as estruturas de poder
do Antigo Regime.

Traços gerais do Antigo Regime


Considerado não apenas como um período, mas também com
um tipo de sociedade, vale ao menos rastrear suas dimensões
demográficas. Antes de tudo, o volume da população, embora aqui
restrita à Europa ocidental. No fim do século XVII, estima-se que a
população girava em torno de 82 milhões de pessoas, que
chegaram a quase 100 milhões no fim do século XVIII. A França, no
fim do século XVIII, tinha cerca de 23 milhões de pessoas.
Gráfico 11.1. População europeia.

Em todo o período registrado no gráfico 11.1 e até o fim do século


XVIII, cerca de 80% da população vivia no campo. Uns poucos
senhores feudais ou arrendatários que produziam para mercado e a
imensa maioria de camponeses, parte em condição servil, parte
como assalariados não muito distantes dessa condição.
A crise demográfica da primeira metade do século XVII é visível e
afetou mais o campo que as cidades.147 Antes de tudo por causa
das guerras, com destaque para a Guerra dos Trinta Anos, que
mobilizou toda a Europa entre 1618 e 1648, diversas revoltas
separatistas, como as da Holanda, de Portugal e da Catalunha em
face da Espanha, e a guerra civil inglesa, de 1642 a 1645.
Além das guerras, diversas intempéries climáticas, colheitas
péssimas, desabastecimento de víveres nas cidades e, sobretudo, a
onda de pestes. Algumas de cólera, a maioria de peste bubônica,
portanto uma recidiva da peste negra em países variados. A
população camponesa sempre pagava o preço mais alto, sobretudo
nas guerras, vítima de saques e violências indizíveis. Uma sucessão
de más colheitas em anos alternados também teve peso importante
na crise, gerando fomes. Mas, voltando às pandemias, se a
presença europeia na América, por exemplo, matou milhões de
nativos, houve contrapartida no continente europeu. Em algumas
cidades houve queda de 80% da população, um desastre. Na
segunda metade do século XVII, porém, houve reversão da
tendência e em 1700 a população superou em 2 milhões o nível de
1600.

Localização Época Nome do Estimativa de mortos


evento
Peste da Itália
1629- (Lombardia- 280.000
Itália
1631 Veneza) 1/3 a 1/2 da população
Bubônica
Inglaterra 1636 — —
Grande peste de
1647- 60.000
Espanha Sevilha
1652 45% da população
Bubônica
Peste de
200 mil a 300 mil
Itália 1656 Nápoles
50% da população
Bubônica
Peste de
Países 1663-
Amsterdã 24.000 a 148.000
Baixos 1664
Bubônica
Grande praga de
1665- 100.000
Inglaterra Londres
1666 1/5 da população
Bubônica

França 1668 40.000
Bubônica
1677- — 80% da população em
Espanha
1678 Bubônica Múrcia (dudeste)
Grande peste de
Áustria 1679 Viena 76.000
Bubônica
Tabela 11.1. Mortalidade na Europa - Peste bubônica. Século XVII.

A economia interna era predominantemente agrícola, com


destaque para a produção de grãos, mas acrescida de produtos
vindos do ultramar, a exemplo da batata, oriunda dos Andes, que
haveria de se tornar um alimento essencial de vários países,
aclimatando-se de modo extraordinário em solo europeu. Eis um
aparente paradoxo: no tempo do Antigo Regime a Europa se abriu
para o mundo – de fato descobriu-o – gerando um mercado mundial,
ligando-se a África, Ásia e América. Os grandes lucros provinham
do comércio marítimo e da redistribuição de mercadorias no interior
do continente, mas a produção europeia ainda era ligada a gêneros
de subsistência e a bebidas como a cerveja e o vinho. Um
capitalismo comercial combinado com uma agricultura arcaica, não
raro senhorial, salvo na Inglaterra, que, como vimos, promoveu uma
revolução agrária para produzir fios de lã.
Na política, as monarquias se mostraram impávidas, entre vitórias
e derrotas. Disputaram entre si territórios no continente e no
ultramar, fortaleceram seus exércitos, tornando obsoleta a rivalidade
medieval entre o império e o papado. Este ainda se viu
enfraquecido, politicamente, pela expansão das Igrejas protestantes
e pelas exigências das monarquias católicas de governar o próprio
clero, em prejuízo de Roma. A maioria dos autores que trabalha
com o conceito de Antigo Regime, inclui o Absolutismo monárquico
entre as suas características, mas reconhece que a religião e suas
Igrejas jogava papel importante, não raro decisivo. No mundo
católico, o clero era considerado o estamento principal, porque
próximo a Deus. No mundo protestante, a influência da religião
politicamente era menor, exceto novamente a Inglaterra, onde o rei
se tornou chefe da Igreja, no caso anglicana, em detrimento do
papa. Mas é certo que os Estados modernos, não ainda nacionais,
eram Estados confessionais, cada um com sua religião oficial, cujo
grau de tolerância era variável. Máximo na Holanda, nenhum em
Portugal e na Espanha.
Além do absolutismo monárquico e do prestígio das Igrejas,
católica e protestantes, entre os séculos XVI e XVIII, um traço
essencial do Antigo Regime era a sociedade estamental ou
sociedade de ordens, fortemente hierarquizada, alguns com
privilégios de nascimento ou de ofício, outros somente com
obrigações. No Antigo Regime, imperava o princípio “desiguais
perante a lei”, que a Revolução Francesa de 1789 iria destroçar com
declaração contrária.
Georges Duby reconstruiu a estrutura social e os valores da
Europa medieval, com foco na Baixa Idade Média, entre os séculos
XI e XIV. Resultando da união entre as monarquias romano-
germânicas e a Igreja cristã, as posições dominantes couberam ao
clero, em primeiro lugar, e aos cavaleiros, em segundo lugar. Na
base da pirâmide estavam os camponeses, a imensa maioria em
condição servil, além dos trabalhadores urbanos das vilas –
chamados de vilões – porque as cidades estavam atrofiadas. O
clero era o principal estamento porque cuidava dos assuntos de
Deus. Os cavaleiros eram os segundos porque defendiam a
cristandade contra os infiéis. Os trabalhadores eram os últimos
porque não tinham as virtudes dos primeiros estamentos e, por falta
de mais talentos e por vontade divina, deviam laborar para sustentar
a cristandade148.
Nos gráficos 11.2 e 11.3 podem ser observadas duas dessa
hierarquia medieval:

Gráfico 11.2. Sociedade feudal – hierarquia.


Gráfico 11.3. Sociedade feudal - estamentos e funções.
Imagens: Gustavo Brazil
Na figura piramidal, os nobres são os cavaleiros, divididos entre
suseranos e vassalos, pois, como vimos anteriormente, era prática
do feudalismo a fragmentação de feudos no interior da nobreza
guerreira, gerando lealdades pessoais em toda parte. Daí o adágio:
o homem do meu homem é meu homem, isto é, o vassalo de dado
suserano era também vassalo dele por extensão do contrato feudo-
vassálico, como expõe François Ganshoff. Servos e vilões estão
figurados no mesmo nível, mas os vilões, a bem dizer, eram
indivíduos livres, e não sujeitos a qualquer senhor feudal.
Na figura composta de círculos, vê-se com mais nitidez a
estratificação medieval, incluídas as funções de cada estamento. O
clero, no topo, tem por função orar e pregar a palavra de Deus; os
cavaleiros (reis e nobres), na posição média, protegem a Igreja, mas
também o povo; o povo, enfim, se compõe dos que trabalham e
obedecem, além de alimentarem, na labuta diária, os estamentos
superiores.
Mobilidade social nula. Mas esse é um modelo ideal da Época
medieval, que foi legado à Idade Moderna. A partir do século XII,
com o aumento do comércio interno e externo, surgiu um grupo
específico de mercadores e banqueiros que, embora modestos,
desafiaria a hierarquia estamental. Antes de tudo porque não
trabalhavam na terra e sua riqueza não dependia de privilégios
tradicionais, senão porque viviam do lucro numa economia de
mercado em gestação.

Traços gerais da sociedade de Corte


Norbert Elias, em livro clássico, explica que a Corte não é
somente o palácio onde mora o rei. É a sede do poder e da
administração do reino, função que acumula com a gestão dos
negócios do rei, de sua família e de seus serviçais. As despesas
com a família real e seus acólitos aparecem na documentação
francesa de tipo orçamentário com a rubrica Maysons Royales que,
pelo visto, incluía gastos com a nobreza cortesã, e superava as
despesas com o reino da França como um todo. Nesse sentido,
pode-se dizer que a Corte abrigava a máquina estatal em seu
interior, de modo que uma infinidade de problemas estatais como as
guerras, a formação de exércitos, a gestão de armazéns públicos
para épocas de carestia rivalizavam, na agenda real, com as
particularidades mais miúdas deste ou daquele nobre, dentre os
grands, é claro – os duques e os condes. Elias cita, a propósito, Max
Weber que, no já citado Economia e sociedade, afirmou que a corte
do Antigo Regime é uma derivação, para o alto da hierarquia social,
“daquela forma de dominação cujo germe deve ser procurado na
autoridade do senhor da casa, dentro de uma coletividade
doméstica”.149 Vem daí o ditado popular em várias línguas: em cada
casa, cada um é rei.
O palácio real não é, pois, uma casa qualquer e a autoridade
palaciana pode governar o reino inteiro, embora muitos condes e
duques se irritem com essa preeminência real. O palácio é a Maison
du Roi, já o era quando situado no Louvre, em Paris, e agigantou-se
quando saiu de Paris e se transferiu para Versalhes, nas cercanias
da capital, em 1682. Os cortesãos possuíam por mercê real um
quarto luxuoso no palácio e/ou ainda um apartamento em um
palácio urbano, via de regra em Paris, tudo custeado com verbas da
Coroa. Esses prédios eram os hôtels ou palais, variando o nome
conforme o status do nobre morador ou moradora. Não raro uma só
família recebia o privilégio de ter um hôtel só para si.
Era um edifício cujas partes são agrupadas em torno de um pátio retangular.
Em direção à rua, um dos lados estreitos do pátio é formado por um par de
colunas, uma colunata, fechado para o interior, no meio do qual o amplo
porche ou pórtico, constituía uma entrada e uma paras carruagens
passagem. Esta construção central possuía do lado e atrás grandes jardins,
abrigava um salão de recepção e, na parte contígua, duas alas com os
apartamentos privados.150

Os beneficiários desse luxo podiam entrar e sair de casa, quando


na cidade, sem olharem ou serem vistos pelas pessoas comuns,
exceto a criadagem, que, paga pelo Erário, morava em pequenas
acomodações nos bastidores, sem vista para jardins.

Fig. 11.3. Hotel de Soubise. Bertrand Gardel/Alamy/Fotoarena. Fachada do Hotel


de Soubise, Paris, França.

A Corte não era, portanto, apenas o Palácio do Louvre, e depois


o de Versalhes. Esses palácios reais se ramificavam em pequenos
palácios para beneficiar uma parte da nobreza cortesã, segundo a
vontade do rei e conforme os lobbies de pressão aristocrática na
luta por mais privilégios. Essa rede de acomodações luxuosas
espelhava as hierarquias que havia na sociedade de corte. Elias
afirma:
Nas sociedades de corte, havia centenas, muitas vezes milhares de
indivíduos reunidos e associados num mesmo local para servir, aconselhar
ou acompanhar reis que acreditavam governar seus países sem restrição
alguma. Devido a obrigações peculiares de parte a parte [...] o destino destes
homens, sua posição na escala social, sua ascensão ou decadência, seu
divertimento, dependiam, dentro de certos limites, da vontade do rei.151

A sociedade de Corte se compunha, portanto, de várias frações


de nobreza, além de abades e mais autoridades eclesiásticas, que
formavam círculos mais ou menos fechados, por vezes rivais, na
luta por privilégios. A historiografia francesa costuma dividir a
nobreza em quatro frações: a agrária, a de espada, a cortesã e a
togada. Sim, é possível adotar esta tipologia que distingue nobres
ainda feudais; nobres militares; nobres cortesãos; e nobres
burocratas (juristas, contadores, financistas) – que talvez
predominassem, considerado o gigantismo da monarquia francesa.
O marxista Albert Soboul, apesar de, como tal, qualificar a nobreza
como uma classe social em decadência, faz distinções importantes
no interior da nobreza: 1) a nobreza palaciana, cerca de 4 mil
pessoas que gravitavam em torno do rei, geralmente nobres
arruinados nos negócios agrários que buscavam abrigo na Corte; 2)
a nobreza provincial, agrária, em franco declínio, mas que ainda
vivia de rendas feudais ou alugava seus domínios a camponeses
prósperos; 3) a nobreza judiciária, que corresponde à burocracia
togada da administração.
Há, porém, certa rigidez nessas tipologias, como é próprio delas,
sem com isso desmerecê-las como instrumento classificatório. Mas
a dita nobreza palaciana ou cortesã nem sempre vivia no
famigerado ócio, saboreando a dolce vita proporcionada pelo rei.
Muitos cortesãos eram também militares condecorados ou juristas
prestimosos; alguns viviam na Corte, mas ainda usufruíam taxas do
campesinato servil; outros eram aparentemente ociosos, mas
prestavam serviços no que hoje chamaríamos de setor de
inteligência do governo. Sim, porque as conspiratas corriam soltas,
e nobres insatisfeitos não raro bajulavam possíveis herdeiros do
trono para mudar sua sorte.
A fragmentação de cortes e o fracionamento da nobreza – 350 mil
pessoas ou 1,5% da população geral – não eclipsaram, porém, a
centralidade, simbólica e efetiva, de Versalhes. As grandes decisões
da Coroa eram concebidas ali, no Conselho de Ministros, por vezes
sem a presença do rei, que delegava aos conselheiros o poder de
decisão. Segundo Norbert Elias, o palácio de Versalhes simboliza
[...] o cume de uma sociedade hierarquizada mesmo nas suas mais
insignificantes manifestações. Neste amplo espaço, era possível viver sem
nunca atravessar as suas paredes para o exterior. Este palácio representava
muito mais que uma casa. A ele afluíam todos os nobres e clérigos de
prestígio, alguns com residência permanente. Neste local, tratavam todos os
problemas da administração do reino, lá se decidia a guerra e a paz. Na casa
do monarca, também eram recebidas as maiores e mais importantes
companhias de teatro, bailado e ópera. As suas imensas salas, quartos,
corredores e recantos permitiam a privacidade dos que nele habitavam, os
saraus davam ânimo às noites e os seus luxuosos jardins permitiam o
contato com o ar livre e passeios intermináveis. Era o local perfeito para se
viver luxuosa e ricamente, onde um exército de empregados servia
aristocratas, clérigos, o rei e a sua família.152

O fracionamento da nobreza, correlato à variedade de espaços


cortesãos para além do Louvre ou de Versalhes, indica que, na
tipificação da nobreza dos séculos XVI e XVII, o que mais valia era o
desempenho pessoal diante das expectativas do rei: tentar decifrar
sua vontade em determinado assunto; procurar informá-lo de que
certa tarefa foi cumprida à risca, antes que um rival azedasse a
narrativa; voluntariar-se para espionar ou fazer contatos discretos
com outrem; ganhar a confiança do rei ou, quando menos, de seus
ministros mais poderosos.
Elias afirma que tal conduta era humilhante, sobretudo para quem
vinha de casas grandiosas pela linhagem, porém economicamente
decadentes. No entanto, era assim que funcionava o sistema à
medida que os recursos da nobreza definhavam e suas dívidas
cresciam. Isso porque, para frequentar Versalhes, ou as festas das
cortes-satélite, era preciso trajar-se e adornar-se à altura, não
esquecer de variar as perucas, de preferência usar as mais caras.
No dia a dia da sociedade de Corte francesa havia os nobres que
tinham alojamento em Versalhes e apartamento em um dos hôtels,
além de casa de campo; os que não tinham alojamento em
Versalhes, mas possuíam espaço em algum palais secundário; os
que podiam participar de certas cerimônias privadas com o rei e os
que estavam impedidos; enfim, um emaranhado de situações cuja
combinatória podia favorecer ou prejudicar a expectativa de
ascensão de um nobre cortesão. Mas ao menos dois privilégios
graúdos todos tinham: isenção de impostos; moradia e alimentação
pagas pelo rei; títulos de nobreza, ainda que fosse o modesto título
de barão.
O arquiteto político ou símbolo de todo esse sistema foi Luís XIV,
o Rei Sol – porque assumia esse papel em um dos bailes
promovidos em Versalhes, e também porque investiu freneticamente
na construção da própria imagem, rodeado de uma pequena corte
de artistas. Um processo que Apostolidès chamou de mídia barroca,
como já disse antes.

Controvérsias sobre periodização


Quando começou e terminou o Antigo Regime e a sociedade de
Corte? Durante décadas os autores discutiram esse tópico tendendo
a alargar o período de existência de ambos. William Doyle afirma
que, para os marxistas, o Antigo Regime foi, antes de mais nada, o
tempo de modo de produção feudal, de sorte que foi gerado na
Idade Média e encerrado com as revoluções burguesas.153 Tal
consideração me parece frágil, como se pode perceber nas
polêmicas que vimos no interior do marxismo sobre a transição do
feudalismo ao capitalismo. É certo que alguns, como Perry
Anderson, consideram que as monarquias absolutistas eram
feudais, um abrigo para a aristocracia decadente, e com isso frisam
as continuidades entre a Idade Média e a Idade Moderna.154
Anderson sustenta que as origens do feudalismo, e de tudo o mais
que lhe corresponde, surgiram plenamente por volta do século IX,
após o império carolíngio.155
Quanto ao fim, muitos desmerecem a ruptura da Revolução
Francesa em favor das revoltas liberais de 1848. Outros vão além,
como Arno Mayer,156 para quem até 1914 (início da Primeira Guerra
Mundial) as sociedades europeias ainda eram sobretudo agrícolas,
a maioria da população era rural e os regimes políticos eram
monárquicos, embora constitucionais, com forte presença
aristocrática nos governos.
Impossível aprofundar essa polêmica aqui; uma face dela foi
explorada no capítulo sobre a transição feudal-capitalista. Mas é-me
dificílimo aceitar que algo próximo ao Antigo Regime ainda existia
no tempo da Primeira Guerra Mundial e também considero um
exagero estabelecer a quase sinonímia que alguns estabelecem
entre feudalismo, Antigo Regime e sociedade de Corte. Pelo que até
aqui se escreveu, o Antigo Regime guarda enormes diferenças em
relação à Idade Média: a) fragilidade versus fortalecimento das
monarquias ; b) unicidade da cristandade medieval com Roma à
cabeça versus fragmentação da Igreja cristã com as Reformas
protestantes; c) economia mercantil acanhada nos últimos séculos
medievais versus economia intercontinental após os descobrimentos
oceânicos.
O principal argumento a favor da continuidade reside, porém, na
estrutura estamental do Antigo Regime, sem dúvida inspirado nas
três ordens medievais, mas muito alterado desde o século XV. O
gráfico 11.4 ilustra bem as mudanças citadas a partir do caso
francês:
Gustavo Brazil

Gráfico 11.4. Ascensão social na Época Moderna.

No topo, o primeiro e o segundo estamentos unidos – também


chamados de estados – pois abrigam a grande nobreza de linhagem
e o alto clero (cardeais, bispos, abades), em primeiríssimo lugar e,
logo abaixo, ainda no topo, inclui o baixo clero e a média ou
pequena nobreza (militares e burocratas). O terceiro estado, ao
qual, como veremos, muitos atribuem o deslanchar da Revolução de
1789, inclui a imensa maioria da sociedade (cerca de 85% da
população do reino) desde a burguesia mercantil ou letrada, no
topo, até mendigos e vagabundos, na base. Entre os dois polos,
vemos: camponeses ricos, artesãos e lojistas, camponeses servis,
assalariados agrícolas e criados domésticos. O mais notável dessa
imagem reside nos registros das setas em azul, indicativa de
possibilidades de ascensão social resultantes da economia de
mercado: um mendigo, conforme as circunstâncias, poderia ser
recrutado para trabalhar na casa de um burguês, por exemplo; um
lojista modesto poderia enriquecer a ponto de se tornar um burguês
rico; um camponês poderia se livrar da servidão mediante alguma
quantia paga ao senhor e tornar-se um camponês próspero. E,
sobretudo, um membro da burocracia comercial ou letrada poderia,
em certas circunstâncias, tornar-se nobre de pequeno ou médio
grau. A linha pontilhada em branco e vermelho indica o último
bastião dos privilégios de origem medieval. A Revolução de 1789
destroçou essa barreira, ação consolidada por Napoleão em toda a
Europa. O que restou do Antigo Regime não passou de resíduos.
Isso posto, é razoável considerar que o Antigo Regime se
esboçou, quanto à estrutura social, no fim da Baixa Idade Média,
amadurecendo na Idade Moderna, quando combinou aspectos do
passado medieval com a mobilidade social típica do capitalismo em
sua fase mercantil, e terminou com as revoluções liberais, entre
1789 e 1848. Quanto às cortes, também é certo que surgiram na
Idade Média e a corte carolíngia do século IX talvez seja o melhor
exemplo disso. Mas falar em Corte não significa, como vimos, falar
de sociedade de Corte. As Cortes medievais eram rústicas,
exclusivamente baseadas nos contratos de suserania e vassalagem
feudais, descentralizadas ao máximo. Em contraste, as cortes das
monarquias modernas constituíam um sistema complexo e
inseparável de um poder real forte – absolutista, para os que
admitem o conceito.
Para fechar este tópico inspirado em Elias, diria que a sociedade
de Corte era um centro de decisões políticas. Era a sede do poder
simbólico do rei. Exprimia o modelo, em microescala, da sociedade
estamental do Antigo Regime, com a superposição de estamentos
informais ou formais uns sobre os outros. Um lugar onde os nobres
serviam e eram servidos ao mesmo tempo. Todos beneficiados por
vasta criadagem e observantes de vários protocolos. A centralidade
do rei estruturava o teatro da Corte, que, por isso mesmo,
representava o poder monárquico sobre a nobreza, o clero e o povo.
A Corte foi uma espécie de pedra de toque do Absolutismo e
alicerce dos Estados modernos em formação.

As Cortes europeias e o Antigo Regime:


diversidades
Esse modelo de Antigo Regime entrelaçado com o de sociedade
de Corte, muito calcado no caso francês, é válido para outras
sociedades do Ocidente europeu? Eis uma questão cuja resposta
depende da experiência histórica concreta. A generalização é
temerária.
Na Itália, por exemplo, houve Antigo Regime e sociedade de
Corte? Muito difícil afirmá-lo, apesar de ter havido cortes, nobreza,
clero e burgueses enriquecidos. Mas “sociedade de Corte” à moda
de Elias, é difícil constatar pelo fato de que, na península Itálica
medieval sempre houve comércio, inclusive marítimo, e muitas
vezes torna-se difícil distinguir indivíduos e famílias da nobreza
daqueles dedicados ao comércio e às finanças no atacado. Houve
aburguesamento de famílias nobres tradicionais, herdeiras da
Venécia ou da Toscana, por exemplo, assim como houve nobilitação
de mercadores em ritmo apreciável.
Exemplo clássico é o da família dos Médicis, em Florença.157
Começaram como comerciantes de tecidos, na Idade Média,
membros da guilda Arte della Lanna, tornaram-se banqueiros e, no
século XVI, já eram nobres titulares do Ducado da Toscana e
governantes da Florença de Maquiavel. Exerceram grande
mecenato no Renascimento em sua magna versão florentina, a de
Leonardo da Vinci. Os Médicis emplacaram três papas na Idade
Moderna, a começar por Leão X, pontífice que enfrentou a Reforma
Luterana. Como enquadrar os Médicis na estrutura estamental do
Antigo Regime? Pertenciam ao primeiro estado, uma vez que alguns
foram cardeais e papas? Ao segundo estado, enquanto duques de
Florença? Ao terceiro estado, como mercadores e financistas? A
trajetória dos Médicis põe em causa o modelo das três ordens
medievais. Mas é um caso muito específico, pois a península Itálica
foi a região do Ocidente europeu que menos se isolou na Alta Idade
Média, apesar do controle muçulmano do Mediterrâneo. Veneza
comerciava com a dinastia muçulmana do Egito, no mar Vermelho.
Gênova com a dinastia bizantina de Constantinopla, no mar Negro.
Por isso mesmo, como se sabe, foram as cidades italianas as
protagonistas no processo de renascimento comercial e urbano
europeu.
Também se deve a uma especificidade italiana a ausência do que
Elias qualificou como sociedade de Corte. Não que inexistissem
cortes, repito, havia-as em demasia, no Reino de Nápoles, no
Ducado de Milão, no de Florença, na República de Veneza ou de
Gênova, enfim, no mosaico de pequenos Estados da região. Mas na
Itália nunca houve monarquia absolutista, exceto por um poder
avantajado de algum presidente de Signoria158 ou de um Doge159 de
Veneza, algo modesto diante de outras monarquias ocidentais. Na
Itália não houve sequer monarquia composta, para citar a
justaposição de reinos que John Elliot viu em várias monarquias
europeias da época, como a espanhola ou a inglesa.160
Em terras germânicas o quadro era similar ao da península
Itálica, exceto por ali predominar uma economia rural. No mais,
descentralização máxima, apesar das tentativas de Carlos V de
reforçar sua autoridade sobre duques e príncipes da região. A
Reforma Luterana arruinou esse projeto, e o Santo Império se voltou
para campanhas na Itália, na fronteira franco-germânica da Alsácia
e em parte da Europa oriental. Havia, como na Itália, multiplicidade
de cortes, a maioria restrita ao poder regional, com raras exceções.
Algo parecido ao que Elias designou como sociedade de Corte
ocorreu na Baviera, sul alemão, com a dinastia Wittesbach, centrada
em Munique, cuja inclusão como ducado dependente do Santo
Império era mera formalidade. Ao longo da Idade Moderna, o
ducado bávaro se consolidou e, no início do XIX, tornou-se reino
independente. O mesmo se aplica ao ducado da Prússia, ao norte,
fundido com a Marca do Brandemburgo, sob a dinastia dos
Hohenzollern, berço da futura Alemanha.161 A principal corte da
região germânica era, porém, a de Viena, sede da Casa austríaca
dos Habsburgo, potência militar decisiva nas guerras e na
diplomacia da época. Mas a jurisdição de fato do imperador não ia
muito além dos domínios austríacos dos Habsburgos.
Na Germânia católica é possível, como mencionado, vislumbrar
traços do Antigo Regime clássico, em especial na Baviera e na
Áustria, nem tanto na Prússia, onde prosperou a Reforma Luterana.
Também o conjunto da região, em parte graças ao luteranismo, viu
crescer o que Engels chamou de segunda servidão. A resiliência
senhorial e o feudalismo inibiram o surgimento de uma burguesia
mercantil forte, de sorte que as sociedades germânicas
apresentavam um perfil estamental mais medieval do que moderno.
A Inglaterra também foi um reino ao qual não se pode aplicar o
conceito de Antigo Regime à risca, a começar pelo fato de que, com
a Reforma Anglicana , todo o clero inglês passou a subordinar-se à
Coroa, desde o padre mais modesto até os poderosos arcebispos.
Os graúdos ocuparam cargos ministeriais, tornaram-se conselheiros
do rei, desde que abandonassem o catolicismo. A maioria aderiu ao
anglicanismo, considerando inclusive que a nova Igreja não fez
alterações substantivas na doutrina ou nos rituais católicos,
limitando-se a riscar o papa da hierarquia em favor do rei. Pode-se
afirmar, assim, que o primeiro e o segundo estados se fundiram na
sociedade estamental inglesa. Mas a nobreza incluída nessa elite
era a dos landords, senhores rurais antigos, muitos ainda vivendo
de taxas servis, alguns com assento na Câmara dos Lordes do
Parlamento inglês.
O restante da população, que não era menor que 80% do total,
englobava tipos sociais os mais diversos. Não se usava, porém, o
conceito de “terceiro estado” para classificá-los. Incluía artesãos
protegidos por corporações de ofício urbanas; camponeses de todo
tipo; criadores de ovelhas que muitas vezes também mercadejavam
com a lã; donos das nascentes manufaturas urbanas; e os
chamados vagabundos ou vadios – em geral camponeses
expropriados que não encontravam trabalho nas cidades. As leis
contra a vagabundagem no reino levariam muitos deles a sobreviver
prestando trabalho forçado à monarquia ou imigrando para o Novo
Mundo.
Havia uma burguesa na Inglaterra nos séculos XVI e XVII? Tratei
do assunto no capítulo dedicado às Revoluções inglesas do século
XVII, mas vale retomar o tema em alguns pontos. A única burguesia
digna desse nome no reino era a Gentry, que congregava
empresários rurais. Homens que haviam arrendado ou comprado
terras para criar ovelhas e investir na fiação doméstica de lã, cujos
trabalhadores eram sobretudo mulheres. É verdade que alguns
também eram donos de manufaturas, outros vendiam os fios para
os manufatureiros. O campesinato mais abastado, em geral
envolvido na produção de grãos, legumes e verduras para mercados
locais ou regionais, eram chamados de yeomen. Muitos eram ricos,
criavam porcos e aves e possuíam cavalos – o que os
potencializava como militares. Estavam logo abaixo da Gentry, que
muitos qualificam como burguesia, outros como pequena nobreza –
e nisso se percebe claramente a volubilidade da condição social
desses homens saídos das mudanças inglesas no mundo rural.
Também vale lembrar que a Câmara dos Comuns, no Parlamento,
abrigava muitos membros da Gentry, sobretudo os que tinham
propriedade, mas também arrendatários e até camponeses
endinheirados da yeomanry. A sociedade inglesa estava em plena
mutação na Idade Moderna, a ponto de a estratificação estamental
fazer pouco sentido na vida cotidiana e no status dos indivíduos.
Por outro lado, pode-se admitir a existência de uma sociedade de
corte na Inglaterra, embora fosse ela inconstante. No tempo de
Henrique VIII, a Corte se instalava no Palácio de Whitehall, em
Londres, mas poucos nobres residiam no lugar, com exceção do
cardinalato e dos aristocratas que assessoravam o rei, todos
anglicanos.

Government Art Collection, Londres, Reino Unido

Fig. 11.4. Hendrick Danckerts. O antigo palácio de Whitehall, 1676-1680.


Government Art Collection, Londres, Reino Unido.

Entre a morte de Henrique VIII, em 1547, e a ascensão de


Elizabeth I, em 1558, os personagens da Corte inglesa mudaram
muito. Alguns foram para o exílio no reinado de Maria Tudor,
católica, outros foram executados; e houve quem retornasse ao
catolicismo para não perder o posto ou a cabeça. Elizabeth
restaurou o prestígio do anglicanismo, em 1559, mas não perseguiu
nenhuma outra religião cristã. A era elisabetana foi um tempo em
que de fato funcionou uma sociedade de Corte parecida com a
francesa. Quando da ascensão da dinastia Stuart, porém, em 1603,
novamente a Corte foi remexida, muitos católicos ficaram por cima
e, no Parlamento, cresceu a representação dos puritanos, que
atuavam no palácio de Westminster. Um prelúdio da revolução de
1640. Em resumo, pode-se reconhecer uma sociedade de Corte na
Inglaterra nos reinados de Henrique VIII e de sua secundogênita,
Elizabeth I, pois ambos eram figuras carismáticas que garantiram a
centralidade da Coroa. No século XVII, a dinastia Stuart, por sinal
estrangeira (escocesa), não conseguiu façanha similar e acabou
destronada.
Filme Elizabeth, a era de ouro, Reino Unido/França, 2007.
Continuação do filme de 1998, reconstrói a consolidação da
dinastia Tudor na Inglaterra, a restauração da Igreja Anglicana
e o papel da rainha Elizabeth I no enfrentamento da esquadra
espanhola enviada por Filipe II.

Na península Ibérica, sim, formaram-se sociedades de Corte


típicas do Antigo Regime, conforme expus acima, com os três
estamentos tradicionais, porém irrigados por notável mobilidade
social em razão da Reconquista e do adensamento da burguesia
mercantil causada pela conversão forçada dos judeus sefarditas ao
catolicismo. A Reconquista estimulou o surgimento de uma nobreza
de serviços militares que se juntou à nobreza de linhagens
tradicionais, em geral de origem francesa, que forneceu os quadros
da burocracia moderna em formação. Tanto em Portugal como na
Espanha, o clero desfrutou ao máximo da condição de primeiro
estamento, abarrotando-se de privilégios e governando instituições-
chave, como as universidades, com destaque para as ordens
religiosas, sobretudo os franciscanos, os dominicanos e os jesuítas.
Madri foi o exemplo de sociedade de Corte na península Ibérica
moderna, mas só alcançou esse posto em 1561 com Filipe II,
substituindo Sevilha. Em 1567 foi concluída a construção de El
Escorial, nas cercanias de Madri, abrangendo, além do palácio real,
um monastério, uma basílica e outros prédios hoje considerados
Patrimônio da Humanidade. A escolha de El Escorial tendeu a fixar
a corte em Madri, abandonando-se a circulação da capital até então
adotada. El Escorial confirma em traços claros e belos o perfil do
palácio real: o entrelaçamento com o catolicismo.
Fig. 11.5. Mosteiro de São Lourenço de El Escorial, Madri, Espanha.

A construção de impérios ultramarinos só fez reforçar o prestígio


e as benemerências do clero e da nobreza. Nos reinados
portugueses da dinastia de Avis, ao menos até d. João III (morto em
1557), a corte de Lisboa sustentou o que Elias chamou de
sociedade de Corte, com um detalhe específico: era integrada por
prelados nobres e intelectuais envolvidos na expansão marítima,
como cartógrafos, cosmógrafos e almirantes, nem sempre de
origem nobre. O mesmo ocorreu na Espanha até pelo menos o
reinado de Filipe II (morto em 1598). Os dois reinos eram
eminentemente católicos, o que favoreceu a adoção do modelo
medieval da sociedade de ordens.
O fato complicador residia em que parte considerável dos
homens de negócio ibéricos eram de origem judaica, e muitos
penetraram na Igreja e na aristocracia através de casamentos
mistos ou da geração de filhos naturais. Em Portugal, por exemplo,
houve mesmo um postulante à sucessão real, em 1578, de origem
meio cristã-nova, d. Antônio, prior do Crato, filho natural de d. Luís,
irmão do rei d. João III.162
Para deter essa avalanche de cristãos-novos de origem judaica
nas posições tradicionais da monarquia (clero e nobreza), foram
instituídos, nos dois reinos, estatutos de limpeza de sangue,
impedindo tais indivíduos de alcançar postos doravante reservados
aos cristãos-velhos, além de instituírem Inquisições, como vimos no
capítulo 7, verdadeira espada de Dâmocles163 sobre a cabeça dos
conversos. Moveram-se perseguições que, como vimos, mutilaram a
comunidade sefardita e debilitaram a pujança econômica de ambos
os reinos.
Espanha e Portugal construíram, em resumo, sociedades de
Antigo Regime com adensamento das barreiras entre os
estamentos. Fator decisivo: o estigma das origens religiosas ou
raciais (o termo já era usado) de algumas minorias. Houve, porém,
nobilitação de vários burgueses, mesmo cristãos-novos, bem como
o aburguesamento de nobres de linhagem – o que foi estimulado,
sem dúvida, pelos negócios coloniais ibéricos em todos os
continentes. A economia de mercado, apesar dos monopólios
mercantilistas, enfrentou, e por vezes venceu, a intolerância racial e
religiosa da Ibéria moderna.

CRONOLOGIA
1469 União de Castela e Aragão na Espanha.
1480 Início da Inquisição espanhola.
1492 Colombo chega ao Novo Mundo navegando pelos reis católicos – Judeus
expulsos da Espanha – Conquista espanhola de Granada muçulmana e fim
da Reconquista.
1497 Conversão forçada dos judeus portugueses ao catolicismo.
1515 Francisco I de Valois assume o trono francês e avança contra o Santo
Império de Carlos V.
1517 Lutero inicia a Reforma Protestante.
1530 Henrique VIII transfere a Corte inglesa para o Palácio de White Hall.
1534 Henrique VIII da dinastia Tudor funda a Igreja Anglicana rompendo com
Roma.
1536 Início da Inquisição portuguesa.
1555 Paz de Augsburgo põe fim a guerra dos príncipes alemães contra o Santo
Império.
1559 Confissão de La Rochelle funda Igreja calvinista na França.
1567 Filipe II transfere a corte para El Escorial, nas cercanias de Madri, capital de
Castela desde 1561.
1568 Províncias calvinistas dos Países Baixos declaram guerra à Espanha de
Filipe II.
1580 Filipe II de Castela anexa Portugal.
1588 Derrota da Invencível Armada espanhola na tentativa de invadir a Inglaterra.
1589 Henrique de Navarra se converte ao catolicismo e assume o trono francês
como Henrique IV de Bourbon.
1601 Elizabeth I da dinastia Tudor morre sem deixar herdeiros diretos e a Coroa
inglesa passa para os reis escoceses da Casa de Stuart.
1610 Henrique IV é assassinado por um católico fanático em Paris.
1618 Início da Guerra dos Trinta Anos.
1640 Restauração portuguesa sob o comando de dom João IV.
1642 Início da Revolução Puritana ou Guerra Civil na Inglaterra para derrubar o
rei.
1643 Luís XIV assume coroa do rei francês.
1645 Exército parlamentar derrota o Exército real na Inglaterra.
1648 Tratado da Wesfalia põe fim à Guerra dos Trinta Anos.
1649 Carlos I de Stuart é decapitado na Inglaterra e proclama-se a República.
1682 Corte francesa muda do palácio do Louvre para Versalhes.

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147 TREVOR-ROPER, Hugh. A crise do século XVII. Rio de Janeiro: Topbooks, 2018.
148 DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982.
149 Apud ELIAS, Norbert. A sociedade de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 66.
150 Idem, p. 68-69.
151 Idem, p. 61.
152 Idem, p. 67-69.
153 DOYLE, William. O Antigo Regime. São Paulo: Ática, 1991, p. 65.
154 ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1989, p.
17.
155 ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. São Paulo: Ed. da
Unesp, 2016.
156 MAYER, Arno. La Persistance de l’Ancien Régime. Paris: Flammarion, 1983.
157 TENENTI, Alberto. Florença na época dos Médici. São Paulo: Perspectiva, 1973.
158 Signoria era órgão governativo máximo de Florença, funcionando de forma colegiada.
159 Doge, derivado do latim Dux, era a máxima autoridade na República de Veneza.
160 ELLIOT, John. Una Europa de monarquias compuestas. In: ELLIOT, John. España,
Europa y el mundo de Ultramar. Madrid: Taurus, 2009.
161 DROZ, Jacques. Os alemães da Idade Média ao final do século XVIII. In: História da
Alemanha. Lisboa: Europa-América, 1989, p. 7-16.
162 HERMANN, Jacqueline. Um rei indesejado: notas sobre a carreira política de D.
Antônio, Prior do Crato. Revista Brasileira de História, vol. 30, n. 59, p. 141-166, 2010.
163 Dâmocles é personagem de uma lenda grega, cuja história é citada por muitos na
Antiguidade. Era um bajulador do rei de Siracusa, Dionísio, que, para acabar com isso,
propôs trocar de lugar com ele, à mesa, para que utilizasse os talheres de ouro e prata do
rei. Mas havia um senão: uma espada teria que ficar pendurada por um fio sobre o pescoço
de Dâmocles, que, diante disso, desistiu.

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