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Etiqueta

O que é etiqueta?
A palavra vem do francês étiquette. Consiste no conjunto de
normas cerimoniais que indicam a ordem de precedência e
de usos a serem observados pela corte em eventos, públicos
ou não, onde estiverem presentes chefes de estado e/ou alta
autoridades tais, como solenidades e datas oficiais; por
extensão, são ainda as normas a serem observadas entre
particulares, no trato entre si.
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Apresentação
Essa aula será dividida em três partes:
1. Invenção da etiqueta
2. A etiqueta chega ao Brasil
3. A etiqueta hoje

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Parte 1.
Invenção da Etiqueta
Antes de começar
Para entendermos o que é etiqueta, devemos
compreender alguns conceitos basilares dessa discussão
como civilidade e civilização.

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Encontro de autoridades indígenas

Encontro de autoridades britânicas

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Civilização
É o conjunto e frequência de certos traços num grupo
social que formam as bases de uma cultura. Se a essa
coerência cultural permanece ao longo do tempo,
podemos chama-la de civilização. Ou seja, uma tribo
indígena com sua cultura e rituais próprios constitui uma
civilização. (MOYZES, 2012, p. 10)

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Civilidade
A civilidade é um conceito que remete a polido,
contido. É a internalização das regras que visa a
formação de um bom caráter, ou bons costumes. Ou
seja, o abandono do que é selvagem ou bárbaro.

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Um mais civilizado que outro
A questão está no entendimento de que um grupo
social é mais "civilizado" que outro levando a
dominação parcial ou total dos grupos considerados
menos "civilizados" ou "selvagens", como aconteceu
quando os portugueses invadiram o Brasil, por exemplo.

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Indicação
O filme Caramuru: a invenção do
Brasil (2001) é uma obra que retrata a
chegada dos portugueses ao Brasil
trazendo o tema do choque cultural
entre esses dois grupos assim como a
questão civilizatória.

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É chic
É dessa dominação que acontece a imposição de uma
cultura sobre outra. Processo esse que ocorre até os dias
atuais sem ao menos percebermos. Por exemplo,
quando falamos que algo é chique (ou chic do francês),
queremos dizer que esse algo seria, ou poderia ser, um
componente usável apenas pela elite francesa.

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Representação da Belle Époque, 1900. 12
Outros exemplos de absorsão
cultural atualmente
⬩ O inglês é uma língua dominante onde todos devem ao
menos saber o básico assim como o francês já foi por
mais de um século.

⬩ O dólar e o euro são as moedas base atualmente.

⬩ A matemática oriental sempre foi e ainda é a mais


avançada.
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Mas e a etiqueta com isso?
A etiqueta nada mais é que uma outra ferramenta de
controle usada por séculos entre os reinos durante a
modernidade. Ou seja, para fazer parte de uma corte,
não bastava ter o sangue nobre, você deveria saber de
todos os seus protocolos caso contrário, seria
considerado um plebeu ou até um selvagem.

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Corte de Henrique VIII, 1545. 16
Algo sério
Num mundo onde o sangue nobre e a reputação da
família era mais importante do que qualquer dinheiro,
não conhecer as regras de etiqueta era sinal de não ser
civilizado, logo, toda a corte se afastava dessas pessoas
podendo até levar a sua "morte social", ou seja, passava
a ser ignorada e estigmatizada pelo resto da nobreza.

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Indicação
O filme Vatel: um banquete para o
rei (2000) mostra a tentativa de um
Príncipe falido para resolver seu
problema diplomático com o rei e
então voltar a receber ajuda
financeira do reino. Toda sua
estratégia depende do banquete
organizado por Vatel. 18
Gênese da etiqueta
A primeira documentação nos leva a Leonardo da Vince
(1452-1519) que impôs algumas regras para serem
obedecidas nos banquetes, o que podemos chamar de
uma gênese das regras de etiqueta. Uma delas é a de não
poder urinar e defecar ao lado da mesa. Acredite, era
comum até o século XV o convidado se levantar e realizar
suas necessidades ali mesmo.
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Leonardo da Vince 20
O guardanapo também
As toalhas de mesa eram na verdade tapetes colocados
sob a mesa. Cansado de ver a tapeçaria sendo jogada
fora depois dos banquetes, Leonardo separou um e o
cortou em vários pedaços para que os convidados
limpassem as mãos e a boca ali ao invés da toalha.

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Monarquias Absolutas
As regras de etiqueta passaram a ganhar força com a
ascensão das monarquias absolutas. Desde a
Antiguidade os nobres provavam seu valor nas guerras,
pois, além da ideia de proteger seu povo, eram os
únicos com condições de ter armas e armaduras além
do treinamento para batalha.

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Alexandre, o Grande, 326 a.C. 23
Diplomacia
Com o advento da pólvora, não era necessário toda
nobreza se arriscar nas guerras, pois precisava apenas
colocar armas de fogo nas mãos dos plebeus com certo
treinamento e então enviá-los para a linha de frente.
Assim, a nobreza precisava se provar de outra forma:
através da diplomacia.

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"Nessa sociedade aquele que melhor
conseguir moderar suas paixões é aquele terá
melhores vantagens, conseguirá e manterá
favores"
Norbert Elias, sociólogo alemão.

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Controles das pulsões
Ser bruto e feroz como asseguradora de honra ficou
para trás. Características estas consideradas
animalescas pela corte moderna foram substituídas pelo
bom tom e polidez. Isso vai se tornando cada vez mais
completo chegando a sua forma mais extrema na corte
de Luis XIV da França.

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Indicação
A série Versalhes (2015) remonta a
empreitada de Luís XIV na
construção do Palácio de mesmo
nome. O programa representa muito
bem a imposição da etiqueta, a
política diplomática e o cotidiano da
corte francesa.

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Versailles
O rei francês Luís XIV, levou as regras de convívio a outro
nível. Construiu um castelo e lá hospedou toda a sua
corte. Versalhes se tornou o centro de poder da França
de 1682 até 1789 onde se tornou o berço da Revolução
Francesa. A estratégia era simples: controlar toda a
corte.

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Versailles
Privacidade é algo que não existia no período. Tudo era
feito as vistas de todos. Os quartos possuíam esconderijos
para que o rei pudesse ver todos os hóspedes e cada
ação feita devia ser totalmente calculada, pois dela
dependia sua permanência no palácio assim como seus
privilégios como nobre.

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Versailles
Aqui é nasce a venda de fofocas. Pessoas trocavam
informações sobre a corte para outras como forma de
saber o que estava acontecendo e então traçar suas
estratégias. Se aliar a pessoas queridas do rei e se
distancias de pessoas mal faladas. Um simples desvio de
olhar de Luis XIV era o suficiente para se destruir uma
família. 32
Estar próximo do rei
Estar no mesmo castelo não era o mesmo que estar
próximo do rei. Há pessoas que passaram a vida toda
em Versalhes e mesmo assim viram o rei a muitos metros
de distância. Quanto mais próximo do rei, mais
importante a pessoa era. Havia briga para ver quem ia
limpar o penico do rei, por exemplo.

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Corte de Luís XIV. 34
Se parecer com o rei
O rei era o poder máximo de uma nação. Possuir os
mesmos adereços, roupas e objetos que ele, era mostrar
que possuía o mesmo poder que o rei para adquiri-los.
Uma vez, Luis XIV apareceu de peruca preta e no dia
seguinte todos os cavalos amanheceram com os rabos
cortados, pois todos os nobres queriam urgentemente a
mesma peruca que o rei. 35
Se parecer com o rei
Outro caso curioso documentado foi a cirurgia de
hemorroidas do rei. Mesmo feita em sigilo, o médico
deixou escapar que o rei faria tal procedimento. Toda a
corte então correu atrás de médicos para fazer a
mesma cirurgia mesmo não tendo o problema tamanha
a necessidade de ter as mesmas características reais.

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Rei Sol
O modelo de Luis XIV é considerado o mais bem
sucedido e por isso, o mais estudado quando o assunto
é etiqueta. Pois com esses protocolos ele conseguiu
dominar toda a corte e ao mesmo tempo, fazer com
que seu poder chegasse ao nível máximo de
representação sendo considerado o Rei Sol, pois tudo
girava ao seu entorno. 37
Rei Sol
Ele foi copiado por todos os reis da época e é copiado
até hoje. Versalhes ainda é a representação de poder
máximo do Antigo Regime, assim como, a etiqueta
francesa ainda pauta nosso convívio social mesmo com
o fim das monarquias. Luis XIV conseguiu o que queria:
ser imortal.

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Parte 2.
A Etiqueta chega ao Brasil
Família Real Portuguesa
Com as Guerras Napoleônicas (1803-1815), D. João VI
transferiu a sede da corte portuguesa para o Brasil.
Vieram, inicialmente, 15 mil pessoas e seus pertences
(obras de arte, tapeçaria, jóias, prataria e etc). Só a
Biblioteca Real transferiu 60 mil livros.

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Embarque da Família Real em Belém, 1807. 41
Rio de Janeiro se torna a capital do
reino
Ao se fixarem no Rio de Janeiro, a corte começou a
moldar o ambiente a sua volta para se tornar o mais
próximo possível da Europa. A população teve que se
adaptar com a chegada da corte, assim como,
aprender a incorporar os costumes que acabava de
chegar.

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Indicação
O filme Carlota Joaquina (1995),
procura tratar de forma cômica a
vida da família real portuguesa no
Brasil através do olhar da esposa do
rei João VI.

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Manuais de etiqueta
Os manuais de etiqueta foram os principais veículos de
difusão dos bons costumes e civilidade condizentes com as
novas formas de relacionamento que se instaurava na
sociedade carioca de corte no Rio de Janeiro.

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Mundo Pós Revolução Francesa
Com o fim do Antigo Regime, a burguesia passou a
ganhar relevância e se impôs cada vez mais frente ao
governo. Agora, bastava ter dinheiro para comer os
mesmos pratos e ser servido pelos chefes dos reis. Surge
nesse período os restaurantes e hotéis de luxo.

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Revolução Industrial
A Revolução Industrial reforça o fim do poder da
monarquia. Ser dono dos meios de produção é que
ditava onde estava o poder.

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E a etiqueta com isso?
Agora, a etiqueta não era mais um sistema de controle
dos monarcas sobre os demais, mas uma ferramenta de
distinção daqueles que possuem ou não informação. Ser
polido, ter bons costumes e conhecimento das letras e
belas artes era o componente que diferenciava se uma
pessoa era ou não civilizada.

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Indicação
O filme Kate & Leopold (2005), conta
a história de um nobre do século XIX
que é transportado para o século XXI
onde acaba conhecendo uma
mulher moderna. O choque de
cultura entre os dois elucida muito
bem o encontro da cultura
monárquica com a contemporânea. 49

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