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MODERNA
Introdução
Antigo Regime foi uma expressão que se tornou conceito utilizado em re-
ferência ao conjunto de características de um período que corresponderia
à Idade Moderna na Europa Ocidental: o Estado absolutista, a economia
mercantilista e a sociedade do Antigo Regime. Cada uma dessas esferas,
que correspondem, respectivamente, aos âmbitos político, econômico e
social, é resultado das transformações pelas quais a sociedade europeia
passou durante os séculos XV, XVI e XVII, ainda que mantenham traços
indeléveis das estruturas feudais.
Neste capítulo, você vai aprender a relação existente entre a formação
dos Estados Modernos e o comércio mercantil, vendo os fatores culturais
que propiciaram a expansão comercial e as políticas mercantilistas do
Estado Moderno e conhecendo as principais características da sociedade
do Antigo Regime.
2 A formação dos Estados Modernos e o Antigo Regime
[...] a definição mais aceita de mercantilismo informa que esse termo compreende
um conjunto de ideias e práticas econômicas dos Estados da Europa ocidental entre
os séculos XV, XVI e XVII voltadas para o comércio, principalmente, e baseadas
no controle da economia pelo Estado. Mercantilismo dá nome, nesse sentido, às
diferentes práticas e teorias econômicas do período do Absolutismo europeu.
Cabe lembrar que esse conceito não é contemporâneo aos fatos que nomeia;
foi empregado por liberais no final do século XVIII, com tom depreciativo,
para se referir às práticas de intervenção do Estado na economia.
A formação dos Estados Modernos e o Antigo Regime 5
Falcon (1996, p. 8), afirma que “[...] foram seus adversários, os fisiocratas do
século XVII e os economistas da escola clássica, dos séculos XVII/XIX, que de
certa forma o construíram, denominando-o, à época, ‘sistema mercantil’ ou ‘do
comercio’. Foram ainda seus admiradores os membros da chamada ‘escola histórica
alemã’, já no final do século XIX, que deram o nome que se fixou: Mercantilismus”.
A política mercantil, segundo essas teorias, entendia a riqueza e o desenvolvi-
mento como dependentes de um Estado, que deveria unificar a tributação, controlar
a atividade produtiva e estabelecer um sistema alfandegário para proteger os
produtores do seu país. O Estado deveria manter uma balança comercial favorável,
ou seja, exportar mais do que importar. Devido à necessidade de manutenção
dessa balança favorável, associada ao metalismo, os governos mercantilistas
foram levados a argumentar em favor da autossuficiência interna e a prática do
monopólio, ainda que, em inúmeras ocasiões, esse monopólio não tenha sido
respeitado, porque, para os comerciantes, era muito mais interessante comerciar
com o maior número de clientes possíveis. Assim, podemos afirmar que, para
além de nomenclaturas como “mercantilismo”, a economia da Europa Ocidental
durante a Idade Moderna foi marcada por práticas tais como o metalismo (quan-
tidade de metais preciosos por ele acumulado, convertido ou não em moedas e
títulos), a balança comercial favorável (regulação das exportações e importações)
e o protecionismo estatal (intervenção do Estado na economia) (FALCON, 1996).
Foram subvencionadas indústrias para garantir o abastecimento do mercado
interno, mas, como a riqueza só podia ser medida a partir do comercio exterior e do
fluxo de metais em seu território, a sustentação do sistema mercantil vai depender
das colônias. O governo vai licenciar companhias para o comércio ultramarino e
promover a organização dos territórios ocupados. Além disso, é preciso relativizar,
a partir de estudos historiográficos mais recentes, o alcance dessa industrialização
(Portugal, por exemplo, seguirá como um país majoritariamente agrário) e a
ideia do “pacto colonial”, ou seja, relações comerciais restritas entre metrópole e
colônia, em que a primeira extraia matéria-prima e metais preciosos enquanto a
segunda comprava os produtos manufaturados das metrópoles (FALCON, 1996).
Segundo as teorias econômicas, existiram diferentes formas de mercanti-
lismo de acordo com cada um dos países. Lembremos que, como assinalado
por Silva e Silva (2009, p. 283):
dos costumes, a quebra das hierarquias, os vícios , aqueles exaltam o fato de que
é a produção do luxo que assegura emprego e sustento a milhares de pessoas
que, de outro modo, ficariam ociosas e famintas” (FALCON, 1996, p. 76).
O Antigo Regime
A expressão “Antigo Regime” é facilmente encontrada na história da his-
toriografia, em livros didáticos e outros materiais encontrados na internet.
Costumeiramente, é utilizada para se referir à organização econômica (mer-
cantilismo), política (Estado absolutista) e social (sociedade estamental ou de
ordens) surgida na Europa ao final da Baixa Idade Média, consolidando-se no
século XVII. Mas você sabe como surgiu o termo Antigo Regime e a partir
de quando ele se consolidou na historiografia?
Para Florenzano (1996), foi Alexis de Tocqueville, na conjuntura posterior
à Revolução Francesa (1789), que converteu a expressão “Antigo Regime” em
um conceito, atribuindo a ele o caráter de anterioridade à Revolução, que não
significou uma ruptura na realidade, mas, sim, nas “consciências”:
É sabido que uma vez iniciada a Revolução francesa, isto é, pelo menos desde o
mês de julho de 1789, os revolucionários logo batizaram de "Antigo" o "Regime"
que eles estavam pondo à baixo. Em suma, desde a Revolução francesa, todos
falam em Antigo Regime para designar o período imediatamente a ela anterior.
Mas ninguém antes de Tocqueville havia dado ao termo o estatuto de um conceito,
de uma categoria histórica definida. Já foi notado que o Antigo Regime tem um
momento preciso de falecimento, isto é, julho-agosto de 1789, mas não tem um
momento preciso de nascimento. (FLORENZANO, 1996, documento on-line).
Leituras recomendadas
ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. 2 v.
KOSELLECK, R. Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1999.
RÉMOND, R. A organização social do antigo regime. In: RÉMOND, R. O antigo regime e
a revolução (1750-1815). São Paulo: Cultrix, 1986.
TORRES, J. C. B. Figuras do estado moderno: elementos para um estudo histórico-con-
ceitual das formas fundamentais de representação política no Ocidente. São Paulo:
Brasiliense, 1989.
14 A formação dos Estados Modernos e o Antigo Regime
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