Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROPÓSITO
Compreender a relação entre História e Direito, para o favorecimento da compreensão dos
mecanismos disciplinares e das representações simbólicas de exercício do poder, além dos
processos e a dinâmica intrínseca entre os aspectos judiciais e suas instituições.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Partimos da premissa de que o governo e a sociedade no Brasil, em situação de dominação
colonial, estruturaram-se a partir de sistemas interligados de organização: a administração
controlada e dirigida pela metrópole, comportando normas e relações impessoais, ao mesmo
tempo que reforçava uma teia de relações interpessoais primárias, baseadas em interesses
comuns e de parentesco.
Lidamos, neste material, com o debate sobre o “abrasileiramento da burocracia”, que não se
opunha à centralização do projeto de dominação colonial de Portugal, pois o ponto alto dessa
centralização se efetivava justamente no Tribunal da Relação da Bahia.
Estamos no século XV, na Europa. Após um longo período marcado por disputas políticas
locais, surgem três formulações importantes:
ESTADO
Ainda fruto de um Estado de características medievais, mas com um novo sistema burocrático.
Em vez de relações marcadas somente pela nobreza — ainda que as relações de privilégio e
nobiliárquicas continuassem fortes —, passamos a ter a constituição de uma burocracia
estatal.
MERCANTILISMO
Mais do que um movimento econômico, é a consolidação de um valor. Se o comércio sempre
esteve presente e foi visto com bons olhos pelos impostos, movimento e status, passamos a
perceber na modernidade uma ação cada vez mais direta do governo nas relações comerciais.
Não só cobrava impostos, mas agora dirimia questões, atuava para fortalecer seu corpo de
comerciantes e colocava uma parte importante de sua burocracia para controlar e fomentar as
estruturas comerciais.
TECNOLOGIAS
A mudança do papel da técnica é uma característica do século XV. Corporações de ofício
ganham peso nas cidades, criam organizações e fomentam novos inventos que permitam a
melhoria de seu trabalho. Uma dessas organizações, por exemplo, ainda é famosa: a União dos
Pedreiros da França, que ganhou notoriedade na Europa e depois no mundo — a Maçonaria.
Com o incremento do papel das guerras, novos canhões, pólvora, combustível, armas de guerra
e armaduras passaram a ser cada vez mais poderosas e necessárias. Outra tecnologia
poderosa que ganha força é a da prensa.
A tecnologia, antes vista como algo perigoso, passa a ser entendida como uma busca
necessária, como, por exemplo, navios capazes de enfrentar os oceanos com relativa
segurança. Técnicas trazidas do Oriente permitiam navegar grandes distâncias, sabendo como
sair e voltar ao mesmo local.
Imagem: Olena Ilchenko / Shutterstock.com
Chegamos finalmente à nossa história. Um grupo de novos Estados era periférico na Europa:
Portugal 1 e Espanha 2 . Esses países, ainda por cima, ficavam em um estreito peninsular
em uma cordilheira de montanhas, por terra. Por mar, sua relação era muito mais próxima dos
países do mundo árabe, como Marrocos 3 e o seu entorno. E, durante 700 anos — entre 711 e
1400 —, o mundo ibérico se relacionou muito mais com as rotas saarianas 4 do que com o
resto da Europa.
Dessa forma, os dois pequenos países foram pioneiros em construir impérios coloniais —
primeiro ocupando o litoral, fazendo postos comerciais; depois mergulhando no ideal
colonialista, no domínio e na exploração de terras entre a segunda metade do século XVI e a
primeira metade do século XIX.
ATENÇÃO
Então, que fique claro: não estamos debatendo sobre a invasão ou não dos países europeus às
Américas. Era o que o momento pedia e foi criado um sistema de violência e dominação.
Fatores diversos permitiram, facilitaram e, ao mesmo tempo, constituíram desafios para as
empresas coloniais. Portugal tinha um enorme império e optou, depois de um início focado no
comércio, pela transposição de instituições, consolidando ações que integraram os novos
territórios.
ESTRUTURA JUDICIÁRIA PORTUGUESA
Agora descreveremos como a Justiça colonial brasileira é fruto desse processo, o que nos
remete a muito antes da própria ideia de colônia. Para tratar a “Justiça portuguesa” nos
documentos e leis da Idade Média, precisamos antes de qualquer outra coisa perceber a
responsabilidade do rei.
A monarquia portuguesa foi criada pela dissidência do nobre Afonso Henriques, que era
vinculado a Castela – a principal monarquia que criaria a Espanha –, para constituir um reino
autônomo. Sua corte era ambulante, e o rei trazia consigo juízes que o auxiliavam na função
judicante. Esses juízes recebiam o nome de ouvidores do cível e ouvidores do crime, conforme
a matéria de especialização que julgavam, e passaram a compor o que se denominou de Casa
da Justiça da Corte.
Para apreciar as causas cíveis e criminais, as matrizes normativas básicas utilizadas pelos
ouvidores eram:
LEX ROMANA WISIGOTHORUM (DIREITO COMUM DOS
POVOS GERMÂNICOS)
Legislação que remete ao século VII, mas que continuou viva durante o período conhecido
como Reconquista, em que reis cristãos foram reconquistando territórios que estavam sob o
domínio muçulmano, e era sempre o primeiro corpo legislativo a ser reposicionado.
A monarquia medieval trabalhava com a ideia de cessão de direitos, para ser nobre ou senhor
de uma terra. Esses privilégios constituíam uma casta que tinha mais poder e direitos que os
demais.
Direitos locais, mas que precisavam ser validados e autorizados por El Rei. Então, se a terra era
cedida, isso tinha de ser cumprido; se impostos eram previstos, precisavam ser executados em
nome do rei.
Com a expansão do Reino pela reconquista do território da Península Ibérica aos muçulmanos,
e a uniformização das normas legais, consolidadas nas Ordenações do Reino (Afonsinas de
1480, Manoelinas de 1520 e Filipinas de 1603), foram surgindo outras figuras para exercer a
função judicante e aplicar as diversas formas normativas. Veremos a seguir os cargos
existentes:
Imagem: Filipe I de Portugal/Rafazmr/Domínio Público
Página de rosto da edição princeps do Código Filipino
ou Ordenações Filipinas, de 1603.
ORDENAÇÕES DO REINO
Eleitos pela comunidade, não sendo letrados, apreciavam as causas em que se aplicavam os
forais, isto é, o direito local, e cuja jurisdição era simbolizada pelo bastão vermelho que
empunhavam (dois por cidade).
JUÍZES DE FORA (CRIADO EM 1352)
Nomeados pelo rei entre bacharéis letrados, com a finalidade de ser suporte do rei nas
localidades, garantindo a aplicação das ordenações gerais do Reino. Juízes de órfãos – com a
função de ser guardiões dos órfãos e das heranças, solucionando as questões sucessórias a
eles ligadas.
PROVEDORES
Considerados acima dos juízes de órfãos para cuidar das instituições de caridade (hospitais e
irmandades) e legitimar testamentos – na maioria das vezes feitos verbalmente, gerando
conflitos.
CORREGEDORES
Nomeados pelo rei, com função investigatória e recursal, inspecionavam como se dava a
administração da justiça nas cidades e vilas, julgando as causas em que os próprios juízes
estivessem implicados.
DESEMBARGADORES
Segundo Martins Filho (1999), a partir de 1521, o Desembargo do Paço tornou-se corte
independente e especial, e, em 1532, foi criada a Mesa de Consciência e Ordens para a
resolução dos casos jurídicos e administrativos referentes às ordens militares e religiosas, que
tinham foro privilegiado (Ordens de Cristo, de Avis e de Santiago). Acabou exorbitando sua
função, para julgar as causas eclesiásticas envolvendo os clérigos do Reino.
A Casa da Suplicação tornou-se a Corte Suprema para Portugal e para as colônias, com a
instituição dos tribunais de Relação como cortes de segunda instância. Foram criadas as
relações do Porto, para Portugal; da Bahia, para o Brasil; e de Goa, para a Índia. Assim, a Casa
da Suplicação passou a ser o intérprete máximo do direito português, constituindo suas
decisões assentos que deveriam ser acolhidos pelas instâncias inferiores como jurisprudência
vinculante.
TRIBUNAIS DE RELAÇÃO
ESTRUTURA EM TRANSPOSIÇÃO
A unidade básica do Sistema Judiciário no Brasil Colonial era o conselho que abrigava, entre
outros, o meirinho e o tabelião. O funcionário mais importante era o juiz ordinário ou juiz da
terra (SCHWARTZ, 1979, p. 4-5), e era preciso ser um “homem bom” da localidade para ser
eleito para essa função, que misturava atribuições judiciais e administrativas (WEHLING, A.;
WEHLING, J. M., 2004, p. 18).
Geralmente eram designados dois juízes ordinários para o conselho de cada cidade. Com o
passar do tempo, a Coroa notou que esses juízes sofriam ameaças ou acabavam se utilizando
da função para favorecimentos e abusos, o que a levou a criar, em 1352, um novo cargo: o de
juiz de fora (SCHWARTZ, 1979, p. 5).
Imagem: Schwartz (1979), adaptado por Allan Gadelha.
Sistema básico do Judiciário da Colônia.
Os juízes de fora eram escolhidos pelo rei, o que os tornava menos sujeitos às pressões locais.
Em 1580, já estavam presentes em mais de cinquenta cidades. No Brasil, os juízes de fora
somente foram estabelecidos a partir de fins do século XVII (WEHLING, A.; WEHLING, J. M.,
2004, p. 31). Os juízes dos órfãos, por sua vez, eram funcionários de nível municipal que
atuavam em cidades com mais de 400 habitantes.
Quando as cidades possuíam uma população inferior a 400 habitantes, cabia ao juiz ordinário
fazer a função de juiz dos órfãos: cadastrar os órfãos em sua jurisdição, arrolar bens móveis e
imóveis, fazer inventários sempre que os herdeiros fossem menores de 25 anos, autorizar
casamentos, velar pelos bens e educação, entre outras atribuições (WEHLING, A.; WEHLING, J.
M., 2004, p. 21).
Em nível superior, em comarca, havia o provedor, que, além dos órfãos, era responsável
também por hospitais e irmandades leigas, legitimações de testamento e a coleta de alguns
aluguéis e impostos (SCHWARTZ, 1979, p. 6).
As relações eram tribunais de segunda instância para os quais eram remetidas as apelações e
os agravos de sentenças e despachos dos juízes ordinários e dos juízes de fora. Na segunda
metade do século XVIII, a organização judiciária do império português incluía a Relação do
Porto, três tribunais da Relação em além-mar – Goa, Bahia e Rio de Janeiro – e a Casa da
Suplicação, que, além de funcionar como Relação de Lisboa, era o tribunal de última instância,
cuja organização interna e procedimentos foram usados como modelos para os outros
tribunais.
Existiam também o Desembargo do Paço, que não era um tribunal, mas sim um conselho
governamental cuja principal função era a de assessoria para assuntos de justiça e
administração; e a Mesa de Consciência e Ordens, análoga ao Desembargo do Paço, sendo um
conselho para assuntos relacionados à Igreja, consciência real e o Santo Ofício (SCHWARTZ,
1979, p. 10).
SANTO OFÍCIO
Em 1549 foi criado o posto de governador-geral, com Tomé de Sousa assumindo a função de
trazer para o Brasil um governo centralizado. Sua vinda marcou a chegada de homens
incumbidos de ocupar diversas funções administrativas na colônia. Apesar do processo de
colonização ainda estar nos primeiros passos, a situação na colônia já dava os sinais do que
estava para vir:
Durante essas primeiras décadas da colonização do Brasil, a Justiça parecia ser algo muito
distante da realidade. A ação judiciária, por força das Ordenações, com a sua formalística e
intrincada minúcia processual, era morosa. A atuação revisionista da Ouvidoria-Geral quase se
anulara; os recursos interpostos para o Reino eram intermináveis e caros.
As causas se eternizavam, muita vez liquidadas violentamente com sangue ou com acordos,
por vezes, desonestos. Eram contínuas as reclamações que não tinham resposta da Casa da
Suplicação, tampouco mereciam o conhecimento do Conselho Ultramarino. Ao coro dos
litigantes não tardaram se juntar os rogos da Mesa de Vereança e as solicitações dos
governadores que, de perto, sentiam o drama daqueles que clamavam por justiça (RUY, 1957, p.
9).
No final do século XVI, com o aumento do comércio do açúcar, a população da colônia cresceu,
o que provocou a ampliação do número de litígios. Ruy (1957, p. 9) chama atenção para o
desequilíbrio vivido no quadro social confuso da Bahia. Lá, as paixões, as disputas, a falta de
vigilância, os abusos de autoridade e a dificuldade de punir crimes precisavam urgentemente
de um grupo capaz de exercer fiscalização.
Em Portugal, 1580 marca o início da União Ibérica, o que fortaleceu a necessidade de reformas
no sistema judicial, incluindo os problemas com a Justiça colonial. Quando o governo
português pensou em rever a política colonial do Brasil, um dos problemas cuja solução
exigiam precedência era o que dizia respeito à Justiça, cuja reforma se impunha como
necessária à administração do governador-geral, mas que deveria ser processada sem
provocar conflito com os donatários protegido pelos Forais (RUY, 1957, p. 9).
FORAIS
Nos anos seguintes, o assunto da criação do tribunal ficou parado, mas, como as reclamações
sobre as condutas dos funcionários de Justiça da colônia só faziam crescer e chegavam à
metrópole, em pouco tempo os debates sobre um tribunal no Brasil recomeçaram, culminando,
em 1609, com a instalação da Relação da Bahia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
I. JUIZ DE FORA
A) I apenas.
B) II apenas.
C) III apenas.
D) I e II.
E) I e III.
A) I apenas.
B) II apenas.
C) III apenas.
D) I e II.
E) II e III.
GABARITO
I. Juiz de Fora
O Tribunal da Relação é uma estrutura colonial presente em todo o Império Português, desde
Índia, Salvador, Porto, por exemplo. Os juízes de fora eram escolhidos para ir até regiões e, em
nome da coroa, resolver demandas locais. Já o desembargo do paço faz parte da estrutura,
mas é do centro do poder, uma estrutura metropolitana, não colonial. Nas colônias, o que
temos são os desembargadores que constituíam os tribunais da Relação.
Nesse processo, algumas fases importantes devem ser destacadas, como as dispostas a
seguir:
III. A União Ibérica destituiu todo o ordenamento jurídico brasileiro, gerando um período de
mais de sessenta anos de retrocesso, só sendo retomado no século XVIII.
São diversos os processos que marcam a organização da justiça no Brasil, sempre sensível a
eventos políticos, mas sem gerar, por isso, uma parada. Todos os momentos citados são
importantes, mas a terceira alternativa está incorreta, pois as Nomeações Filipinas foram
importantes para o ordenamento jurídico, tendo sido mantidas, inclusive, após Portugal ter
retomado sua autonomia.
MÓDULO 2
O primeiro período da Relação da Bahia durou de 1609 até a sua supressão pelo alvará de 5 de
abril de 1626. O caos instalado pela invasão holandesa em Salvador, em 1624, afetou a vida
dos magistrados: os que não conseguiram fugir foram feitos prisioneiros. O chanceler Antão de
Mesquita de Oliveira acabou eleito líder da resistência apenas para ser afastado pelo bispo
Marcos Teixeira dias depois (SCHWARTZ, 1979, p. 174). A relação entre o tribunal e o clero na
década de 1620 foi marcada por disputas de poder, e, entre as razões apontadas por Schwartz
para a extinção da Relação da Bahia, está a existência de inimizades na colônia, sendo o bispo
um desses inimigos.
Obra atribuída a Ambrósio Fernandes Brandão. Publicada pela primeira vez na década de
1930 com notas de Rodolfo Garcia. Foi reeditada pelo Senado Federal e está disponível
na íntegra no site da Biblioteca do Senado.
Foi, portanto, um clima de desagrado geral com o sistema judicial (SCHWARTZ, 1979, p. 174) e
a guerra contra os holandeses que selaram o destino da Relação da Bahia: a Coroa optou por
encerrar o tribunal (Alvará de 5 de abril de 1626) e alocar os vencimentos dos
desembargadores para o sustento do Presídio da Gente de Guerra da Bahia de Todos os Santos
(SILVA, 1854).
ATENÇÃO
Sem a Relação, foi necessário mexer na estrutura judicial da colônia, e a solução encontrada
pela metrópole foi a de voltar ao esquema pré-Relação, com o ouvidor-geral. A Relação da
Bahia se reergueu apenas em 1652, reflexo de um momento marcado novamente por
mudanças em Portugal, que vivenciava o período da restauração da independência.
OUVIDOR-GERAL
RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA
A Restauração de Portugal, que marca o fim da União Ibérica, foi iniciada em 1640 com a
ascensão de D. João IV, primeiro monarca da dinastia de Bragança.
CONSELHO ULTRAMARINO
A criação do Conselho Ultramarino, em 1642, marcou uma nova etapa de reformas
administrativas e uma possibilidade: um ano após sua instauração, seus conselheiros
receberam a petição para o restabelecimento da Relação na Bahia. Curiosamente, a Câmara de
Salvador, que, em 1626, tivera um dos papéis principais na extinção da Relação, agora passou a
ser uma das principais agitadoras para o seu renascimento (SCHWARTZ, 1979, p. 193): o
preâmbulo da lei de 12 de setembro de 1652, que o restaurou, deixa claro que havia um pedido
da Câmara e dos moradores para que a Relação fosse reinstalada.
Uma das mudanças no regimento de 1652 foi em relação ao número de desembargadores, que
de dez, em 1609, foi reduzido para oito:
3 desembargadores de agravos
1 ouvidor-geral
2 desembargadores extravagantes
COMPOSIÇÃO DA RELAÇÃO REGIMENTO DE 1652
1 chanceler – juiz da chancelaria
2 desembargadores de agravos
1 ouvidor-geral dos feitos e das causas crimes, também auditor da gente de guerra
1 ouvidor-geral dos feitos e causas cíveis, que também atuava como auditor das causas cíveis
entre os privilegiados e soldados
A redução das vagas pelo regimento de 1652 eliminou dos quadros do Tribunal da Relação da
Bahia um cargo de desembargador dos agravos e um de desembargador extravagante. Outra
mudança foi o desmembramento do posto de ouvidor-geral para a criação de um ouvidor-geral
do crime e um ouvidor-geral do cível. A função de cada um dos desembargadores é descrita
nos regimentos.
Segundo Schwartz (1979, p. 199, 205), o regimento de 1652 elencou as atribuições de cada
cargo entre os títulos II e VII da seguinte maneira:
CHANCELER
Ver as cartas e sentenças que forem dadas pelos desembargadores da Relação, seguindo
a maneira feita pelo chanceler da Casa de Suplicação;
Fazer audiências;
DESEMBARGADORES DE AGRAVOS
Conhecer dos agravos e apelações das sentenças definitivas que o ouvidor-geral do cível
e o provedor derem aos defuntos e resíduos dos casos cíveis que não couberem em suas
alçadas;
Conhecer as apelações de casos crimes que saírem do ouvidor geral e dos juízes
ordinários e dos órfãos e de quaisquer outros julgadores da cidade de Salvador, dos
ouvidores das capitanias e de todas as sentenças de casos cíveis dadas por qualquer
julgador de todo o Estado do Brasil, que excederem a alçada deles;
OUVIDOR-GERAL DO CRIME
Conhecer por ação nova os delitos que forem cometidos na cidade de Salvador e em
cada um dos lugares que forem da jurisdição da capitania;
Conhecer por petição todos os agravos crimes que as partes tirarem diante dos juízes e
do ouvidor da cidade do Salvador, e de todos os lugares que forem da jurisdição, aos
quais mandará por si só, responder, e os tais agravos despachará em Relação, se as
partes quiserem agravar diretamente para a Relação;
OUVIDOR-GERAL DO CÍVEL
Conhecer por ação nova todos os feitos cíveis da cidade de Salvador e dos lugares que
forem da jurisdição;
Ter particular cuidado de mandar todos os anos por letras nas naus e navios do Reino
todo o dinheiro que houver em seu juízo proveniente dos defuntos, para ser entregue as
pessoas a quem pertencer.
Essa região foi ganhando importância econômica e política desde as primeiras décadas do
século XVIII. A população crescia e, com isso, o volume de recursos enviados ao Tribunal da
Relação da Bahia também aumentava exponencialmente. Tudo isso demandou que a Coroa
estabelecesse um novo tribunal que contemplasse as capitanias do sul, o que se concretizou
em 1751, quando foi instituída a Relação do Rio de Janeiro.
Imagem: Jean-Baptiste Debret/Memória da Administração Pública Brasileira/Domínio Público
Desembargadores da Casa de Suplicação, em litografia do livro
Viagem pitoresca, publicado em 1839, de Jean-Baptiste Debret.
RESUMINDO
Ou seja, a capitalidade é uma condição que só podia ser adquirida se um centro conseguisse
aliar a capacidade de repercutir a sua influência em determinado espaço com a aptidão de
estruturar e estabelecer hierarquias no interior de um território e sustentar essas ligações.
Dessa forma, na segunda metade do século XVIII, o Rio de Janeiro conseguiu atingir esses
critérios de capitalidade.
Entretanto, o fato de o Rio de Janeiro possuir capitalidade a partir de meados do século XVIII
não significou um esgotamento da capitalidade da Bahia. A Bahia compartilhava capitalidade
com o Rio de Janeiro (NEVES, 1988) e, entre as razões para isso, estavam o crescimento da
economia da capitania e a influência política de d. Fernando José de Portugal e Castro, que
governou a Bahia entre 1788 e 1801 e foi vice-rei do Brasil entre 1801 e 1806. A economia de
exportação baiana teve um crescimento real no período entre 1780 a 1860 (aumento no volume
das exportações e nas receitas em termos reais) (BARICKMAN, 2003).
No âmbito do exercício da Justiça na colônia, pode parecer, à primeira vista, que a criação de
um novo tribunal no Rio de Janeiro tenha diminuído a importância da Relação da Bahia, mas
não foi o que aconteceu. Os efeitos imediatos da instalação da Relação do Rio de Janeiro
realmente afetaram a Relação da Bahia em dois aspectos: a jurisdição e a quantidade de
desembargadores.
Embora o tribunal do Rio de Janeiro tenha recebido a jurisdição das capitanias ao sul do
Espírito Santo, a Relação da Bahia continuou com as capitanias do norte-nordeste e, em 1753,
recebeu a jurisdição sobre as ilhas do golfo da Guiné (VALIM, 2012 p. 90-91). A jurisdição da
Relação da Bahia nas ilhas de São Tomé e Príncipe gerou um episódio controverso no tribunal
no final do século XVIII, como observaremos no final do módulo.
Quanto à quantidade de desembargadores que compunham a Relação da Bahia, vimos que dos
dez previstos no regimento de 1609 houve uma diminuição para oito no regimento de 1652. Em
1752, dois foram deslocados do Tribunal da Bahia para o do Rio de Janeiro, para ajudar no
início das atividades do novo tribunal (nova Relação no Rio de Janeiro): Agostinho Felix dos
Santos Capello e Manuel da Fonseca Brandão. Com a partida deles e o afastamento de outro
desembargador (por doença), a Relação da Bahia ficou desfalcada e operando com apenas
quatro ministros, o que fez com que o vice-rei, conde de Athouguia, informasse ao secretário de
Estado da Marinha e dos Negócios Ultramarinos, Diogo de Mendonça Corte Real, que a falta de
desembargadores na Relação da Bahia comprometia a boa administração da Justiça:
Assim sendo, com o aumento no número dos desembargadores e com a inclusão dos
territórios do golfo da Guiné na jurisdição do tribunal, a Coroa conseguiu preservar a relevância
da Relação da Bahia na América Portuguesa.
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
A) I e II.
B) II e III.
C) I e III.
D) II apenas.
E) I apenas.
GABARITO
I. A Câmara e a Relação mantinham uma estrutura de cooperação, uma vez que eram braços
da administração pública metropolitana da colônia, partindo do princípio de se ajudarem para
manter o controle local.
III. Durante o período sem o Tribunal da Relação, tal estrutura foi mantida pelo ouvidor-mor,
em algo parecido com a estrutura pré-relação, ainda que os desembargadores tenham sido
mantidos, só tendo a fonte pagadora sido realocada.
Agora assinale a alternativa correta:
As duas primeiras opções estão incorretas, uma vez que o tribunal tem uma desestruturação,
mas não por causa da União Ibérica. Ainda que a Câmara e a Relação pudessem ter momentos
de cooperação, também nutriam forte desconfiança entre si. Durante o período de sua
destituição, os ouvidores passaram a ter função primordial, e os desembargadores ficaram
vinculados à cadeia pública.
II. A criação de um Tribunal da Relação no Rio de Janeiro, que substituiu o Tribunal da Relação
de Salvador.
III. A criação do conselho laico de Justiça como forma de combate à influência do direito
canônico.
MÓDULO 3
Reconhecer, a partir dos eventos da conjuração em Salvador, a dinâmica da justiça colonial
JUSTIÇA EM AÇÃO
Como vocês já notaram, a Justiça colonial é estruturada e complexa. A ideia de que a colônia
não tinha uma estrutura judiciária é algo absolutamente frágil. De fato, temos na Justiça um
corpo aristocrático e a implementação de uma ordem que visava estabelecer uma burocracia
comum.
Mas aqui chegamos a um desafio: manter a estrutura discricionária geraria uma falta de
profundidade. Preferimos, portanto, inseri-los em um caso da Justiça em funcionamento, e
assim optamos por um evento: a Conjuração Baiana. Faremos um trabalho de investigação,
buscando depoimento, ações e documentações. O foco é que você, pelo microcosmo, possa
perceber a dinâmica judicial brasileira.
José Barbosa de Oliveira nasceu em 1749, na cidade de Salvador. Era filho do sargento-mor
Antônio Barbosa de Oliveira, homem de cabedal, que arrematara um ofício de tabelião público
do judicial e notas da Bahia pelo valor de 10:400$000 (OLIVEIRA, 1943, p. 11-15). Seu pai era
próximo do grupo da corporação dos enteados envolvidos na Conjuração Baiana de 1798, do
qual José Pires de Carvalho e Albuquerque era a figura mais proeminente, e com os
funcionários régios da capitania da Bahia, fornecendo-lhes atestações de “ausência de limpeza
de mãos” em várias residências, como a do desembargador Jozé Theotônio Sedron Zuzarte,
por exemplo (AHU_CU_CA, 1794).
10:400$000
Expressão usada para informar que não são descendentes ou que já tenham trabalhado
com ofícios mecânicos.
Desses quase todos ocuparam cargos da administração local, três eram proprietários dos
escravos, um deles foi o advogado de defesa dos réus e dois formularam as principais
denúncias sobre os quatro réus enforcados (APEB, 1998). Talvez tenha sido pela proximidade
de seu pai com a corporação dos enteados que José Barbosa de Oliveira foi designado a ser o
advogado de defesa dos indiciados no crime de lesa-majestade, conspiração contra a Coroa de
Portugal, deflagrada em 1798.
Na manhã de 12 de agosto de 1798, a população de Salvador foi surpreendida pelo teor dos
boletins manuscritos afixados em prédios públicos, alguns dos quais com uma mensagem que
convocava o povo baiano, favorável à República; era uma ordem, uma conclamação para uma
necessária revolução. A informação foi acrescida pela convocação da população a participar
do levante projetado pelo Partido da Liberdade: um grupo que se intitulava Anônimos
Republicanos (MATTOSO, 1969). As autoridades dos dois lados do Atlântico não
desconsideraram o peso dos termos veiculados nos boletins, liberdade, república e revolução,
que naquela conjuntura compunham a cadência da Revolução Americana (1776), da Revolução
Francesa (1789) e da revolução escrava em São Domingo (1791).
COMENTÁRIO
O ano da publicação dos pasquins sediciosos é 1798, e não 1799, como consta na
documentação da devassa.
INVESTIGAÇÃO DOS EVENTOS
De acordo com a documentação, para dar início às investigações, o secretário de Estado e
Governo do Brasil, José Pires de Carvalho e Albuquerque lembrou ao governador o “modo livre
e atrevido de falar” do requerente do Tribunal da Relação da Bahia, o pardo Domingos da Silva
Lisboa, sugerindo-lhe que confirmasse a suspeita e comparasse a letra dos boletins com
algumas petições que porventura o desembargador pudesse encontrar na casa do dito
requerente.
Dias depois, outros dois boletins em formas de cartas foram encontrados na Igreja do Carmo,
colocando em xeque a autoria e o modo pelo qual as autoridades chegaram ao então culpado
que, àquela altura, encontrava-se preso no Segredo (Cadeia) do Tribunal da Relação. Na
primeira carta, o prior dos Carmelitas Descalços era informado que tinha sido escolhido por
plebiscito para no futuro ser o “Chefe em Geral da Igreja Bahinense”. A segunda carta foi para o
governador, d. Fernando José de Portugal e Castro:
ILLUSTRISSIMO E EXCELLENTISSIMO SENHOR, O POVO
BAHINENSE, E REPUBLICANO NA SECÇÃO DE 19 DO
PREZENTE MEZ HOUVE POR BEM ELEGER; E COM EFEITO
ORDENAR QUE SEJA VOSSA EXCELLENCIA INVOCADO
COMPATIVELMENTE COMO CIDADÃO PREZIDENTE DO
SUPREMO [TRIBU]NAL DA DEMOCRACIA B[AHINENSE]
PARA AS FUNCOENS, DA FUTURA REVOLUÇÃO, QUE
SEGUNDO O PLEBISCITO SE DARÁ NO PREZENTE PELAS
DUAS HORAS DA MANHÃ, CONFORME O PRESCRIPTO DO
POVO. ESPERA O POVO QUE VOSSA EXCELLENCIA HAJA
POR BEM O EXPOSTO. VIVE ET VALE.
Não obstante ao modo pouco ortodoxo de descobrir o autor dos pasquins, d. Fernando José de
Portugal e Castro ordenou que o desembargador Avellar de Barbedo fizesse outro exame de
comparação das letras dos bilhetes. Feito isso, foram descobertas três petições na Secretaria
de Estado que provaram que o autor dos boletins manuscritos e dos bilhetes era Luiz Gonzaga
das Virgens e Veiga, homem igualmente pardo e soldado do Primeiro Regimento de Linha de
Salvador e Quarta Companhia de Granadeiros.
Imagem: Autor desconhecido/Domínio público
D. Fernando José de Portugal e Castro
Ocorre que dessa vez pesou sobre o réu um “requerimento atrevido” enviado pelo acusado para
que d. Fernando:
[...] O NOMEASSE AJUDANTE DO QUARTO REGIMENTO DE
MILÍCIAS DESTA CIDADE, COMPOSTO DE HOMENS
PARDOS, ALEGANDO QUE ESTES DEVIÃO SER
IGUALMENTE ATTENDIDOS QUE OS BRANCOS, A QUE
NÃO DEFERI, E QUE CONSERVAVA EM MEU PODER PELA
SUA EXTRAVAGÂNCIA [...].
Pelo teor da carta, o desembargador chegou ao conteúdo dos tais pasquins sediciosos, uma
vez que os papéis também “inculcavão aquela mesma igualdade entre os pardos, pretos e
brancos” (APEB, 1998, p. 224-226):
PROCESSO
A representação vocal a que se referia o governador era a denúncia de uma reunião na
madrugada do dia 25 de agosto de 1798, no Campo do Dique do Desterro, atual Dique do
Tororó, na qual os partícipes do movimento verificariam a quantidade de homens e armas para
dar início ao levante e libertar Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga, que se encontrava preso. A
partir desse momento, as autoridades dos dois lados do Atlântico estavam às voltas com dois
problemas: descobrir os autores dos pasquins sediciosos e os partícipes do levante que
instituiria no futuro a “República Bahinense”.
Imagem: Shutterstock.com
Assim como outras pessoas “principais” da sociedade da época mencionadas nos Autos das
Devassas (VILLALTA, 2002, p. 319-342), Francisco Agostinho Gomes teve seu nome
constantemente citado pelas testemunhas e por diversas vezes fora denunciado por cartas
enviadas da Bahia para a Corte entre 1797 e 1798, por ser simpatizante das “ideias de
francezia” (AHU_CU_BAÍA, 1800, docs. 19.117-19.178).
Ele não devia ser muito benquisto por algumas pessoas de Salvador, pois as denúncias a
respeito de suas atividades ilícitas e comportamentos pouco ortodoxos não paravam de chegar
a Lisboa. A denúncia que irritou profundamente d. Rodrigo de Souza Coutinho relatava que o
padre tinha por hábito dar jantares de carne em dias santos, Sexta-Feira da Paixão, durante
alguns anos: 1796, 1797 e 1798.
O ministro mandou que d. Fernando instaurasse uma nova devassa para verificar a procedência
de tão “pernicioso” fato. A denúncia sobre o referido jantar é datada de 4 de outubro de 1798, e
a devassa foi instaurada somente no dia 15 de janeiro de 1799, “Devaça a que se procedeu em
conseqüência da acussação feita ao padre Francisco de Agostinho Gomes de ter dado um
jantar de carne em sexta-feira da Paixão” (SILVA, 1919, p. 140-150).
Chama atenção o depoimento do bacharel Tomaz da Costa Ferreira, advogado nos Auditórios
da Cidade da Bahia:
Parece que era do conhecimento de d. Fernando que os jantares ocorriam com a participação
do padre Francisco Agostinho Gomes, de pescadores, de escravos e de alguns franceses, como
também parece ter sido do conhecimento do governador o teor das conversas nesses
encontros, nomeadamente a situação que ocorria em França. Seguindo o padrão de limpar
algumas informações obtidas nos depoimentos, o desembargador Barbedo encerrou a devassa
após três dias. E, não obstante, o “ouvir dizer” ter sido mais do que suficiente para a acusação
dos quatro milicianos pardos, por participarem de reuniões de conteúdo sedicioso e serem os
autores dos boletins manuscritos, convocando a população para a revolta, com Francisco
Agostinho Gomes, ao contrário, o “ouvir dizer” livrou-o das acusações, posto que se “averiguara
serem falsos os fatos” (SILVA, 1919, p. 133). Francisco Agostinho Gomes foi inocentado das
acusações que lhe imputaram.
Após a devassa, o padre viajou para Lisboa para solicitar a concessão do monopólio de
exploração de uma mina de ferro e cobre na serra da Borracha (AHU_ACL_CU_005, 1800, Cx.
105\Doc. 20459). Foi agraciado com a mercê régia referente à concessão de sesmarias, com o
monopólio da exploração das terras em que se descobrissem minérios de ferro e cobre e onde
existissem florestas que garantissem suprimento de carvão vegetal. Foi concedido então a ele
o monopólio e os benefícios acordados.
Ainda que a composição social dos réus tenha sido circunscrita desde o início das
investigações aos milicianos, os processos foram formalizados e os ritos preservados: em 12
de março de 1799, sete meses depois de deflagrada a revolta, o advogado da Santa Casa da
Misericórdia, o bacharel “formado” José Barbosa de Oliveira, foi nomeado defensor e curador
dos réus, permitindo também que outros advogados pudessem fazer outras alegações em
defesa dos réus (APEB, 1998, p. 947-949).
DEFESA
Os presos tiveram o direito de defesa por cinco dias, e, apesar de a nomeação do advogado ter
ocorrido em 12 de março, a defesa começou em 12 de junho de 1799.
José Barbosa de Oliveira iniciou sua defesa valendo-se das formalidades do moderno direito
natural:
PORQUE LOGO, QUE PELA ORDENAÇÃO DO LIVRO 5
TÍTULO 6 SE ACHA ESTABELECIDA A PENA DE MORTE
NATURALMENTE CRUELMENTE, CONTRA AQUELE QUE
FOR CONVENCIDO DE HAVER COMETIDO O HORROROZO
CRIME DE LEZA MAGESTADE, E QUE PELO SOBREDITO
ACORDÃO RESPEITÁVEL SE MANDA, QUE OS
EMBARGANTES DIGÃO DE FACTO, E DE DIREITO OS
FUNDAMENTOS DAS SUAS DEFEZAS, HÊ CERTO, QUE NA
EXPOZIÇÃO DELAS, OS EMBARGANTES SÓ PROCURÃO
MOSTRAR A SUA INOCÊNCIA, E EXCLUSIVA DO DELICTO
DE QUE SÃO ACUSADOS, SEM QUE NESTA ACÇÃO SE
AGGRAVEM MAIS AS SUAS CULPAS, DEPOIS DE SER
DIREITO NATURAL, DIVINO E POZITIVO A DEFESA DE
QUALQUER REO.
REFLEXÃO
Neste ponto, alguns aspectos centrais são fundamentais: a justiça é madura e reconhecida
institucionalmente. Sistemas de acordo, contraditório, eram possibilidades. A interferência
política atuava e fazia parte das disputas judiciais em questão. Reveja os documentos, analise-
os e relacione-os com o que foi visto nos dois primeiros módulos, e crie, dessa forma, uma
conexão entre teoria e prática fundamentais para compreensão do sistema.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Fazer cumprir os mandos da coroa, devendo ser considerada função primordial da justiça no
Brasil.
E) Estabelecer modelos de justiça para membros sociais diferentes, fazendo existir várias
justiças concomitantes no Brasil.
D) Suas funções investigativas eram menores que seu papel em dar ordenamento judicial,
garantir dinâmicas de contraditório e permitir que os envolvidos — ainda que comprometidos
com seu próprio status — tivessem uma roupagem de normalidade.
GABARITO
1. Os códigos penais têm funções diversas, dependendo do seu contexto. Pensando em uma
sociedade escravocrata como a brasileira, podemos notar que uma de suas funções da justiça
colonial era:
A Relação e os meios jurídicos são independentes, mas têm imenso compromisso com a
ordem e a manutenção política, social e administrativa na colônia.
Ainda que tivessem de lidar com as pressões políticas, e muitas vezes cedessem e
negociassem com essa pressão, chama atenção a preocupação em manter a estrutura
funcional da justiça. Por conta disso, às vezes tinham que enfrentar resistências e ceder a
pressões.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A legislação colonial do Brasil é vasta e rica no que se refere à organização administrativa
desse sistema político, até então inédito nas Américas. Estudar essa legislação é entender as
peculiaridades do momento em que ela foi feita, os interesses envolvidos e a dinâmica do
processo histórico. Ao mesmo tempo, a justiça colonial do Brasil, ainda que fosse herdeira de
tradições portuguesas, foi influenciada pelo contexto local, com suas dinâmicas singulares.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AHU_ACL_CU_005, Cx. 105\Doc. 20459. 1800. Arquivo Histórico Ultramarino.
AHU_ACL_CU_005, Cx. 193, doc. 14104. CERTIDÃO do 1º oficial da Vedoria Geral da Bahia.
Bahia, 18 de julho de 1791.
AHU_CU_CA, Baía, Cx. 81, doc: 15698. Autos da Devassa de Residência do Desembargador da
Relação da Bahia Jozé Theotônio Sedron Zuzarte. Bahia, 18 de julho de 1794.
AHU_CU_CA, Baía, DOC. 7622: Certidão passada pelo Escrivão da Junta da administração da
Fazenda José Gularte da Silveira. Bahia, 1º de junho de 1767. Copia: (Annexa ao n. 7620).
AHU_CU_CA, Baía, doc. 935. Declaração de Domingos da Rocha Barros. Bahia, 24 de novembro
de 1778. (Annexa ao n. 9819).
APEB. Correspondência recebida pelo Governador da Bahia pelo Chanceller da Relação (1782-
1799), Maço 201-28, Cx. 80, doc. 10. In: Relação dos Advogados que apresentaram
Requerimentos, Cartas e Provisões e Documentos com que nos Auditórios desta Cidade
exercitão o Ministério da Advocacia.
APEB. Autos de Devassa da Conspiração dos Alfaiates. Salvador: APEB, 2. v, p. 967 et seq.
Doravante ADCA. 1998.
OLIVEIRA FILHO, R. F. de. Crimes e perdões na ordem jurídica colonial: Bahia (1750-1808).
2009. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Bahia, 2009.
RELAÇÃO feita pelo P. Fr. Joze D´Monte Carmelo, IHGB, Notícia da Bahia, t. IV, L. 402, M 69.
Arquivo Histórico Ultramarino, inventário Castro e Almeida, Bahia, documentos avulsos, c.: 41-
82. 1798. In: TAVARES, Luís Henrique Dias. O desconhecido Francisco Agostinho Gomes. In: Da
sedição de 1798 à Revolta de 1824 na Bahia. São Paulo/Bahia: Editora da Unesp/EDFBA, 2003.
RUY, A. Casa da Relação da Bahia. Salvador: Associação dos Magistrados Brasileiros, 1957.
SILVA, Jose Justino de Andrade e (ed.). Collecção chronológica da legislação portugueza. [s.l.]:
Impr FX de Souza, 1854.
VILLALTA, L. C. Liberdades imaginárias. In: NOVAES, Adauto (org.). O avesso da liberdade. Vol.
1. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
WEHLING, A.; WEHLING, J. M. Direito e justiça no Brasil colonial: o Tribunal da Relação do Rio
de Janeiro, 1751 -1808. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
EXPLORE+
Filmes para pensar sobre o Brasil colônia:
Tiradentes, o filme – ajuda a pensar o processo da Inconfidência Mineira.
Teatro:
Juiz de paz na roça, de Martins Pena ‒ ajuda a entender os meandros da justiça luso-
brasileira.
CONTEUDISTA
Patricia Valim
CURRÍCULO LATTES
Rafaela Cecconi Pantaleão Amorim
CURRÍCULO LATTES