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Já existia uma consciência nacional isolada de Castela devido a haver uma cultura diferente,
uma língua diferente, o governo próprio e a posição geográfica própria.
Este é o primeiro rei que emana um pacote legislativo de Leis Gerais para o reino. Nestas ele
demonstra uma grande preocupação em centralizar o poder (enquanto em Inglaterra era
assinada a Magna Carta, símbolo da limitação do poder real), nomeando juízes que irão
aplicar o poder do rei e a Lei do rei.
Este também procura inquirir se as terras pertencem aos seus proprietários ou à coroa, o
que leva a uma grande apropriação e lucros para a coroa
O rei não podia contrariar os direitos da Igreja. Porém, isto não demonstra que o direito
canónico era superior ao Estado, simplesmente este último decidia se respeitava, ou não, o
direito canónico.
Com D. Afonso II ainda se prevê a possibilidade de o Estado responder por abusos, pois após
a guerra entre este e as suas irmãs, D. Afonso II promete indemnizações dos danos causados
durante a guerra.
A relevância:
- Quem afasta D. Sancho II é o Papa (mediador entre o rei e Deus)- demonstra a força
jurídica da respublica christiana
- Os fundamentos passam pela acusação de que o Rei não garante a justiça (pensamento de
Santo Agostinho- “o que é o Estado se não uma quadrilha de ladrões se não garante a
justiça?”)
- O Papa determina que quem passa reger o reino é o irmão, D. Afonso III, que assume, com
o compromisso de Paris de 1245, que quando assumisse o governo iria garantir a justiça
4º momento- 1254- D. Afonso III convoca as cortes de Leiria (primeiras cortes que há
notícia da participação do povo)
Com a morte de D. Fernando, as cortes entendem que a herdeira deve ser afastada da
coroa. Assim, dá-se a sucessão de João de Avis.
Esta traduz a opção política e constitucional de que Portugal não poderia se expandir mais
no contexto europeu, então avança no critério ultramarino.
8º momento- 1438- regimento do reino que foi aprovado nas cortes de Torres Novas
Com a morte de D. Duarte, e sendo o seu filho ainda menor, houve uma primeira duvida
acerca de a quem é que se devera atribuir a regência.
No testamento do falecido rei era revelado que quem deveria assegurar a regência seria a
rainha viúva, mas os nobres preferiram que fosse o tio do novo rei.
O regimento aprovado nas cortes de Torres Novas foi a primeira constituição formal.
Há um compromisso de D. Filipe II de Espanha de que existe uma União Pessoal e não uma
União Real, auto vinculando-se a escolher apenas portugueses para a administração do
reino; garantir a independência do pais; não envolver portugueses nas guerras espanholas;
preservar a identidade da nação portuguesa.
11º momento- 1640- o povo pode afastar o monarca se este for tirano
Os reis espanhóis não cumprem as suas promessas, logo a corte de lisboa expulsa Filipe IV
de Espanha, demonstrando que o povo tem legitimidade, dentro das cortes, para escolher
um novo rei.
Nas cortes é aprovado o facto de que, no caso de incapacidade do rei, crie-se uma regência
que recaia nos irmãos. É uma lei materialmente constitucional.
Existem duas visões em relação a se deveria existir um código constitucional, uma visão
mais absolutista (Pascoal de Melo Pereira) e uma mais transacionista.
Estando Portugal a ser invadido por franceses e ingleses, justifica-se a revolução liberal.
2- Ordenamento jurídico
3- Instituições jurídico-constitucionais
Duas instituições constitucionais existentes à época:
- Monarca
Questiona-se qual o fundamento; quais os limites; quais as formas de exercício
- Cortes
Questiona-se quem nelas deve estar representado; qual a natureza dos seus poderes
(carater deliberativo ou consultivo); quais as matérias em que podem intervir
Capítulo II
História constitucional
4- Perspetiva geral
Motivação da Revolução Liberal
Existem duas teorias acerca da motivação da Revolução Liberal:
- A revolução teve uma base ideológica baseada nos princípios da Revolução Francesa de
1789
- a revolução tem origem nas circunstancias políticas particulares da época:
- a permanência do Rei e da Corte no Brasil, mesmo depois da derrota
de Napoleão, podendo resultar numa inversão da relação metrópole-
colónia
- ocupação inglesa após a expulsão das tropas francesas, estando
Portugal numa situação de quase colónia do Reino Unido
Periodificação
Existem dois métodos sobre a periodificação da História Constitucional:
- Baseado no tipo de regime:
- Monárquicas (Constituição de 1822; Carta Constitucional de 1826; Constituição de
1838)
- Republicanas (Constituição de 1911; Constituição de 1933; Constituição de 1976)
Periodificação
- 1821/1822: Bases Constitucionais aprovadas pelas Cortes Constituintes
- 1822/1823: Constituição de 1822 (1ª vigência)
- 1823/1826: interregnum constitucional
- 1826/1828: Carta Constitucional de 1826 (1ª vigência)
- 1828/1834: interregnum constitucional
- 1833/1836: Carta Constitucional de 1826 (2ª vigência)
- 1836/1838: Constituição de 1822 (2ª vigência)
- 1838/1842: Constituição de 1838
- 1842/1910: Carta Constitucional de 1826 (3ª vigência)
- 1910/1911: interregnum constitucional
- 1911/1933: Constituição de 1911
- vários interregnuns
- 1933/1974: Constituição de 1933
- 1974/1976: interregnum constitucional
- 1976- atualidade: Constituição de 1976
5- Constituições liberais
Constituição de 1822
Em 1820 acontece uma revolução liberal, com 3 propósitos:
- impedir que Portugal continuasse ocupado por ingleses
- impedir que Portugal continuasse como colónia, ou seja, que a família real regressasse
- instauração de uma Ordem Constitucional Liberal:
- existência de um texto formal constitucional
- garantir a separação de poderes (segundo o
pensamento de Montesquieu, Rosseau e Locke)
- garantir direitos fundamentais (direitos, liberdades e
garantias)
Direitos fundamentais:
- igualdade de todos perante a lei
- garantia dos direitos fundamentais (liberdade, segurança e propriedade)
- formam-se os embriões dos direitos sociais (direito à educação e direito à assistência aos
necessitados)
Não havia fiscalização da lei, ou seja, se uma lei violasse o direito à vida ou à
propriedade, não acontecia nada.
Isto faz com que a coroa se oponha à Constituição, surgindo, em 1823, a Vila
Francada, em que D. Miguel lidera a oposição à Constituição, fazendo esta cessar a
vigência.
Há um problema de sucessão à coroa, pois fica a dúvida se pode D. Pedro ascender a rei
depois de ter um cometido um crime contra a pátria ao ter reconhecido a independência do
Brasil.
Por um lado temos os liberais, adeptos de D. Pedro, defensores da Constituição de 1822, e
por outro lado temos os apoiantes de D. Miguel.
Direitos fundamentais:
- presente a trilogia liberal (propriedade, segurança e liberdade)
- liberdade religiosa (145 nº4)
- pela primeira vez consagrados os seguintes direitos, entre outros: não retroatividade da
lei, liberdade de deslocação e emigração, instrução primária e gratuita, criação de
estabelecimentos de ensino
- judicial: aplica as leis em nome do rei; os atos em que o rei intervém não podem ser objeto
de fiscalização por parte dos tribunais
- moderador: cabia ao rei, enquanto Chefe de Estado
Os ministros do Governo podem ser demitidos ou demitirem-se a eles próprios. Porém, o rei
nunca era responsabilizado (artigo 72º).
Quando D. Miguel é proclamado rei, este derruba a Carta Constitucional, iniciando uma
monarquia absoluta.
De 1826 a 1834 há outro período de interregno.
Em 1832 começa uma guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel. Quem vence esta guerra, em
1834, é D. Pedro.
Assim, começa a segunda vigência da Carta Constitucional de 1826.
Constituição de 1838
Em 1836 há uma revolução que derruba a Carta Constitucional de 1826, retomando a
vigência da Constituição de 1822.
Surge, então, a Constituição de 1838, que procurou ser uma síntese entre a Constituição de
1822 e a Carta Constitucional de 1826.
Direitos fundamentais:
- presente a trilogia liberal (liberdade, segurança e propriedade)
- consagradas, pela primeira vez, as liberdades de expressão e de reunião e o direito de
resistência
Constituição de 1911
Entre 1910 e 1911 acontece um interregno.
Direitos fundamentais:
- presente a trilogia liberal (propriedade, segurança e liberdade)
- abolida a pena de morte
- clausula aberta de direitos fundamentais
- habeas corpus (permite a libertação dos indivíduos, quando não há suficiente sustentação
dos factos para que estes estejam presos, evitando, assim, abusos judiciários)
- judicial
- executivo: Presidente da República e Ministros
Há uma grande instabilidade, tendo existido inúmeros governos. isto conduz a que, em
1926, haja um movimento militar, que põe termo à primeira república.
6- Constituição de 1933
Faz-se a Constituição de 1933, que tem como preocupações a família, a intervenção do
Estado e trabalho.
Características:
- o cargo da presidência é ocupado por militares
- o Presidente era eleito diretamente, mas, a partir de 1958, passa a ser indireto
- Salazar, como Ministro das Finanças, tinha direito de veto de todas as despesas do
governo.
- não existia responsabilidade política do governo
- as eleições eram diretas, mas com apenas um partido
Direitos fundamentais:
- pela primeira vez são consagrados os seguintes direitos, entre outros: direito à vida e à
integridade social; direito ao bom nome e à reputação
- clausula aberta quanto aos direitos individuais dos cidadãos
- quanto aos direitos das Corporações, há proteção da família, associação do trabalho à
empresa, direito à educação e cultura, e a liberdade criação de escolas particulares
Entre 1974 e 1976 há um novo interregno. Porém, vigorava a Constituição de 1933 nos
aspetos que não afetassem os pressupostos da revolução.
7- Constituição de 1976
Os principais objetivos, condensados na política dos três D´s, eram:
- democratizar o país
- descolonizar os territórios ultramarinos
- desenvolver a economia
Características:
- afirma o princípio socialista, com a construção de sociedade sem classes e de transição
para o socialismo
- havia um conflito entre a legitimidade revolucionária e a legitimidade democrática
- amplo elenco de direitos fundamentais
- poder político está dividido entre os militares e a sociedade civil
- permanência do Conselho da Revolução
- há uma clausula militar que exige que, para que o
Presidente da República fosse eleito por sufrágio
direto, o primeiro Presidente tinha de ser um militar
- havia uma partilha da soberania entre o Povo (representado pela Assembleia da República)
e o Movimento das Forças Armadas (representado pelo Conselho da Revolução)
Órgãos de Soberania:
- Presidente da República: eleito por sufrágio universal e direto, por maioria absoluta,
tendo, então, legitimidade para dissolver a Assembleia da República e vetar
suspensivamente os diplomas da Assembleia da República; pode nomear o Primeiro-
Ministro, tendo em conta os resultados eleitorais
- Assembleia da República
- Tribunais
Capítulo I
Identidade Constitucional
Secção 1ª
Identidade axiológica da Constituição
As Constituições têm natureza compromissória, pois a sua feitura tem por ase vários
partidos políticos e interesses valorativos.
Com isto, a ordem axiológica não é linear, podendo ser contraditória as vezes. Para resolver
estas contradições existem dois critérios:
- hierarquização de valores, considerando que existem valores de 1º grau (19º nº6 CRP) e de
2º grau
- ponderação dos valores perante o caso concreto, quando não há uma relação hierárquica;
tem de se garantir a ambos um espaço mínimo de operacionalidade
Também tem de se perceber com é que a ordem axiológica é afetada pelas alterações da
Constituição, fazendo com que a identidade axiológica vá evoluindo. As alterações podem
ser:
- revisões constitucionais
- mutações constitucionais: levada a cabo pela jurisprudência constitucional, através de uma
interpretação evolutiva ou atualista
- normas consuetudinárias criadas pelos agentes políticos e pela sociedade civil
Esta evolução pode levar a uma mudança da identidade axiológica de uma Constituição.
Na Constituição de 1976 é possível identificar algumas mudanças:
- no texto original estava presente o principio socialista e a transição para uma sociedade
sem classes, mas a prática e as revisões constitucionais contrariam este princípio
- na Constituição é referido que Portugal é uma república soberana, mas este conceito é
esvaziado com a internacionalização e pela integração europeia
Assim, o professor Paulo Otero acredita que, formalmente, ainda nos encontramos sob a
vigência da mesma Constituição aprovada em 1976, mas, materialmente, apenas o
conteúdo relativo a direitos, liberdades e garantias se mantém.