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PARTE I

HISTORIA CONSTITUCIONAL PORTUGUESA


Capítulo I
História pré-constitucional

1- Principais momentos político-constitucionais


A história constitucional formal portuguesa começa em 1820 com a revolução liberal. Esta
importa para Portugal os efeitos da revolução francesa. Porém, o Estado português já existia
antes de 1820, ou seja, já existia uma Constituição, mas informal (Constituição histórica e
institucional, pois é o produto do decurso do tempo, derivado da existência do Estado e da
interpretação de diferentes costumes e práticas), em que não havia preceitos formalistas de
aprovação ou sanção.
Sempre que há Estado, tem de haver Constituição, pois esta é a lei fundamental que regula
o poder político.

Em vários momentos verificamos diversos contributos históricos para o constitucionalismo e


consolidação democrática do Estado português:

1º momento- 1128-1179- independência e soberania em relação a Leão e Castela, bem


como reconhecimento no plano externo

Já existia uma consciência nacional isolada de Castela devido a haver uma cultura diferente,
uma língua diferente, o governo próprio e a posição geográfica própria.

Em 1179, através da Bula Manifestis Probatum, o Papa (cabeça da Respublica Christiana)


reconhece a independência de Portugal.
Daqui retiram-se duas elações: - a subordinação do Rei a Roma
- entrada de Portugal na comunidade internacional

2º momento- 1211-1223- D. Afonso II

Este é o primeiro rei que emana um pacote legislativo de Leis Gerais para o reino. Nestas ele
demonstra uma grande preocupação em centralizar o poder (enquanto em Inglaterra era
assinada a Magna Carta, símbolo da limitação do poder real), nomeando juízes que irão
aplicar o poder do rei e a Lei do rei.

Este também procura inquirir se as terras pertencem aos seus proprietários ou à coroa, o
que leva a uma grande apropriação e lucros para a coroa

O rei não podia contrariar os direitos da Igreja. Porém, isto não demonstra que o direito
canónico era superior ao Estado, simplesmente este último decidia se respeitava, ou não, o
direito canónico.
Com D. Afonso II ainda se prevê a possibilidade de o Estado responder por abusos, pois após
a guerra entre este e as suas irmãs, D. Afonso II promete indemnizações dos danos causados
durante a guerra.

3º momento- 1245- deposição de D. Sancho II

A relevância:
- Quem afasta D. Sancho II é o Papa (mediador entre o rei e Deus)- demonstra a força
jurídica da respublica christiana
- Os fundamentos passam pela acusação de que o Rei não garante a justiça (pensamento de
Santo Agostinho- “o que é o Estado se não uma quadrilha de ladrões se não garante a
justiça?”)
- O Papa determina que quem passa reger o reino é o irmão, D. Afonso III, que assume, com
o compromisso de Paris de 1245, que quando assumisse o governo iria garantir a justiça

4º momento- 1254- D. Afonso III convoca as cortes de Leiria (primeiras cortes que há
notícia da participação do povo)

Há uma inclusão democrática da participação cívica.

5º momento- 1297- celebração do tratado de Alcanizes

O tratado de Alcanizes definiu as fronteiras de Portugal continental.

6º momento- 1385- celebração das cortes de Coimbra

Com a morte de D. Fernando, as cortes entendem que a herdeira deve ser afastada da
coroa. Assim, dá-se a sucessão de João de Avis.

Isto é muito importante, pois torna o rei suscetível de referenda popular.

7º momento- 1415- conquista de Ceuta

Esta traduz a opção política e constitucional de que Portugal não poderia se expandir mais
no contexto europeu, então avança no critério ultramarino.

O modelo constitucional e de organização administrativa também sofre desta ideia, já que,


sendo Portugal um Estado plurilocalizado, pergunta-se se a mesma lei deve ser aplicada em
todas as pessoas do território português, ou se devem existir leis especiais para cada
território.

8º momento- 1438- regimento do reino que foi aprovado nas cortes de Torres Novas

Com a morte de D. Duarte, e sendo o seu filho ainda menor, houve uma primeira duvida
acerca de a quem é que se devera atribuir a regência.
No testamento do falecido rei era revelado que quem deveria assegurar a regência seria a
rainha viúva, mas os nobres preferiram que fosse o tio do novo rei.

O regimento aprovado nas cortes de Torres Novas foi a primeira constituição formal.

9º momento- 1536- estabelecimento da inquisição em Portugal

Até ao seculo XIX, esta vem redefinir os limites da liberdade, condicionando o


desenvolvimento cultural e económico. Assim, uma grande parte da comunidade
portuguesa emigra.

10º momento- 1580- sucessão do cardeal D. Henrique e das cortes de Tomar

Há um compromisso de D. Filipe II de Espanha de que existe uma União Pessoal e não uma
União Real, auto vinculando-se a escolher apenas portugueses para a administração do
reino; garantir a independência do pais; não envolver portugueses nas guerras espanholas;
preservar a identidade da nação portuguesa.

11º momento- 1640- o povo pode afastar o monarca se este for tirano

Os reis espanhóis não cumprem as suas promessas, logo a corte de lisboa expulsa Filipe IV
de Espanha, demonstrando que o povo tem legitimidade, dentro das cortes, para escolher
um novo rei.

12º momento- 1667- D. Afonso VI é deposto

Há um golpe de Estado praticado pelo seu irmão.

Nas cortes é aprovado o facto de que, no caso de incapacidade do rei, crie-se uma regência
que recaia nos irmãos. É uma lei materialmente constitucional.

13º momento- 1778- novo código

Existem duas visões em relação a se deveria existir um código constitucional, uma visão
mais absolutista (Pascoal de Melo Pereira) e uma mais transacionista.

14º momento- 1807- invasão francesa em Portugal

A família real desloca-se de Portugal para o Brasil.


O rei fixa a corte no Brasil, passando Portugal a ser um reino unido.

Estando Portugal a ser invadido por franceses e ingleses, justifica-se a revolução liberal.

15º momento- 1808- suplica da Constituição


Um grupo de portugueses envia uma carta a Napoleão pedindo que este conceda uma
Constituição.

16º momento- 1820- revolução liberal

Com a revolução liberal, expulsam-se os invasores e recupera-se a identidade constitucional,


que se constrói a partir das fontes de Direito Constitucional.

2- Ordenamento jurídico

Fontes de direito constitucional:


- Leis fundamentais do reino (duas vontades): rei e cortes
- Normas costumeiras e consuetudinárias
- Assentos das cortes – deliberações das cortes
- Atos unilaterais do rei (testamentos, forais)
- Atos de natureza contratual

Princípios e ideias gerais:


- origem divina do poder real
- primado hierárquico-normativo do Direito Português interno (ex.: D. Afonso II dispõe que
não serão validas as normas contrarias ao Direito Canónico)
- prevalência do Direito do Estado sobre o Direito dos senhores feudais e dos municípios
- prevalência da vontade do rei sore a lei positiva
- principio da descriminação pessoal na aplicação da lei

3- Instituições jurídico-constitucionais
Duas instituições constitucionais existentes à época:
- Monarca
Questiona-se qual o fundamento; quais os limites; quais as formas de exercício

- Cortes
Questiona-se quem nelas deve estar representado; qual a natureza dos seus poderes
(carater deliberativo ou consultivo); quais as matérias em que podem intervir

Capítulo II
História constitucional

4- Perspetiva geral
Motivação da Revolução Liberal
Existem duas teorias acerca da motivação da Revolução Liberal:
- A revolução teve uma base ideológica baseada nos princípios da Revolução Francesa de
1789
- a revolução tem origem nas circunstancias políticas particulares da época:
- a permanência do Rei e da Corte no Brasil, mesmo depois da derrota
de Napoleão, podendo resultar numa inversão da relação metrópole-
colónia
- ocupação inglesa após a expulsão das tropas francesas, estando
Portugal numa situação de quase colónia do Reino Unido

Periodificação
Existem dois métodos sobre a periodificação da História Constitucional:
- Baseado no tipo de regime:
- Monárquicas (Constituição de 1822; Carta Constitucional de 1826; Constituição de
1838)
- Republicanas (Constituição de 1911; Constituição de 1933; Constituição de 1976)

- Baseado no intervencionismo económico:


- liberais (Constituição de 1822; Carta Constitucional de 1826; Constituição de 1838;
Constituição de 1911)
- intervencionistas (Constituição de 1933; Constituição de 1976)

Segundo o Professor Jorge Miranda:


- Época liberal: há separação dos poderes e direitos individuais
- Constituição de 1933: quase aniquilação do Estado constitucional, representativo e de
Direito, substituído por um Estado com um constitucionalismo corporativo e autoritário
- Constituição de 1976: regime democrático pluralista, com tendências de
descentralizadoras e de Estado Social; só se pode falar de constitucionalismo democrático
nesta altura, pois só a partir de 1975 foi determinado o sufrágio universal

Periodificação
- 1821/1822: Bases Constitucionais aprovadas pelas Cortes Constituintes
- 1822/1823: Constituição de 1822 (1ª vigência)
- 1823/1826: interregnum constitucional
- 1826/1828: Carta Constitucional de 1826 (1ª vigência)
- 1828/1834: interregnum constitucional
- 1833/1836: Carta Constitucional de 1826 (2ª vigência)
- 1836/1838: Constituição de 1822 (2ª vigência)
- 1838/1842: Constituição de 1838
- 1842/1910: Carta Constitucional de 1826 (3ª vigência)
- 1910/1911: interregnum constitucional
- 1911/1933: Constituição de 1911
- vários interregnuns
- 1933/1974: Constituição de 1933
- 1974/1976: interregnum constitucional
- 1976- atualidade: Constituição de 1976

5- Constituições liberais
Constituição de 1822
Em 1820 acontece uma revolução liberal, com 3 propósitos:
- impedir que Portugal continuasse ocupado por ingleses
- impedir que Portugal continuasse como colónia, ou seja, que a família real regressasse
- instauração de uma Ordem Constitucional Liberal:
- existência de um texto formal constitucional
- garantir a separação de poderes (segundo o
pensamento de Montesquieu, Rosseau e Locke)
- garantir direitos fundamentais (direitos, liberdades e
garantias)

Assim, formam-se as cortes constituintes, que escrevem, em 1821 as “bases da


Constituição”, fixando os grandes princípios a que iria estar sujeita a Constituição de 1822.

Direitos fundamentais:
- igualdade de todos perante a lei
- garantia dos direitos fundamentais (liberdade, segurança e propriedade)
- formam-se os embriões dos direitos sociais (direito à educação e direito à assistência aos
necessitados)

Organização do poder político:


- afirmação da separação de poderes (30º)
- as Cortes não podiam ser dissolvidas pelo rei
- o governo era apenas responsável perante as Cortes
- afirmação da dinastia de Bragança como titular da coroa, ou seja, que o rei passa a ter
legitimidade conferida pelas cortes
- o rei não pode interferir na lei, se este a sancionar é publicada na mesma (110º), se o rei
não sancionar ou aprovar a lei nos prazos estabelecidos, ou se este se recusar a assinar o
diploma, esta é publicada em seu nome de qualquer das maneiras (114º); há primazia da lei

Não havia fiscalização da lei, ou seja, se uma lei violasse o direito à vida ou à
propriedade, não acontecia nada.

- o sistema de governo aproximava-se a um parlamentarismo de assembleia

A constituição de 1822 tem as seguintes particularidades:


- pré-determinada pelas bases de 1821
- a Constituição assenta num sistema de governo de um sistema parlamentar de assembleia,
mas que não foi efetivado
- a Constituição criou um conflito jurídico, pois os constituintes queriam que a rainha jurasse
a Constituição

Isto faz com que a coroa se oponha à Constituição, surgindo, em 1823, a Vila
Francada, em que D. Miguel lidera a oposição à Constituição, fazendo esta cessar a
vigência.

Havia uma democracia censitária, em que só alguns eram representados.


Carta Constitucional de 1826
Entre 1823 e 1826 não há Constituição (interregno constitucional).

Há um problema de sucessão à coroa, pois fica a dúvida se pode D. Pedro ascender a rei
depois de ter um cometido um crime contra a pátria ao ter reconhecido a independência do
Brasil.
Por um lado temos os liberais, adeptos de D. Pedro, defensores da Constituição de 1822, e
por outro lado temos os apoiantes de D. Miguel.

Na base da Carta Constitucional está um compromisso, D. Pedro abdica do trono a favor da


sua filha mais velha que casa com o seu tio, D. Miguel. Porém, antes, D. Pedro redige a Carta
Constitucional.
Aqui vê-se o entendimento de Benjamin Constant, grande defensor da Monarquia Limitada.

Direitos fundamentais:
- presente a trilogia liberal (propriedade, segurança e liberdade)
- liberdade religiosa (145 nº4)
- pela primeira vez consagrados os seguintes direitos, entre outros: não retroatividade da
lei, liberdade de deslocação e emigração, instrução primária e gratuita, criação de
estabelecimentos de ensino

Estes correspondiam à última parte da Constituição.

Organização do poder político:


- o sistema de governo era o de monarquia limitada, tendendo para o parlamentarismo
- o poder do Estado repartia-se em poder legislativo, executivo, judicial e moderador
- o sistema era bipartidário e caracteriza-se pelo rotativismo
- o governo podia legislar quando tivesse autorização ou quando as Cortes estavam
dissolvidas

Esta Constituição consagra quatro poderes:


- executivo: rei e ministros
- legislativo: cortes, com estrutura bicamaral:
- camara alta: composta pelos Pares hereditários, vitalícios, sem numero fixo
e de nomeação regia
- camara baixa: composta pelos deputados eleitos por voto censitário e
indireto

- judicial: aplica as leis em nome do rei; os atos em que o rei intervém não podem ser objeto
de fiscalização por parte dos tribunais
- moderador: cabia ao rei, enquanto Chefe de Estado

Os ministros do Governo podem ser demitidos ou demitirem-se a eles próprios. Porém, o rei
nunca era responsabilizado (artigo 72º).

Quando D. Miguel é proclamado rei, este derruba a Carta Constitucional, iniciando uma
monarquia absoluta.
De 1826 a 1834 há outro período de interregno.

Em 1832 começa uma guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel. Quem vence esta guerra, em
1834, é D. Pedro.
Assim, começa a segunda vigência da Carta Constitucional de 1826.

Constituição de 1838
Em 1836 há uma revolução que derruba a Carta Constitucional de 1826, retomando a
vigência da Constituição de 1822.

Em resposta a esta revolução, no mesmo ano, decorre o movimento belenzada, em que é


imposta a elaboração de uma nova Constituição e a convocação de cortes constituintes.

Surge, então, a Constituição de 1838, que procurou ser uma síntese entre a Constituição de
1822 e a Carta Constitucional de 1826.

Direitos fundamentais:
- presente a trilogia liberal (liberdade, segurança e propriedade)
- consagradas, pela primeira vez, as liberdades de expressão e de reunião e o direito de
resistência

Organização do poder político:


- mantém-se o veto absoluto do rei, poder de dissolução das Cortes do Rei, entre outros
- o sistema de governo aproximava-se ao sistema orleanista

A Constituição de 1837 é derrogada após um golpe de Estado, em 1842, retomando a


vigência da Carta Constitucional de 1826.
Esta sofre algumas alterações, procurando-se diminuir o peso monárquico.

Constituição de 1911
Entre 1910 e 1911 acontece um interregno.

Direitos fundamentais:
- presente a trilogia liberal (propriedade, segurança e liberdade)
- abolida a pena de morte
- clausula aberta de direitos fundamentais
- habeas corpus (permite a libertação dos indivíduos, quando não há suficiente sustentação
dos factos para que estes estejam presos, evitando, assim, abusos judiciários)

Organização do poder político:


- o poder político divide-se em legislativo, judicial e executivo
- o Congresso da República era bicamaral, com membros eleitos por sufrágio direto e
indissolúvel
- o Presidente da República era eleito por sufrágio indireto (eleito pelo Congresso), sendo
uma figura meramente decorativa
- o sistema de governo era parlamentar de assembleia
- sistema caracterizado por um bipartidarismo desorganizado, segundo o Professor Paulo
Otero
- o sufrágio é limitado, pelo sexo e idade
- há uma instabilidade governativa
- pela primeira vez, na Europa, é consagrado o regime da fiscalização da constitucionalidade
pelos tribunais (63º)

Esta Constituição consagra três poderes:


- legislativo: cabe ao Congresso da República:
- camara alta: Senado
- camara baixa: Camara dos Deputados

- judicial
- executivo: Presidente da República e Ministros

Há uma grande instabilidade, tendo existido inúmeros governos. isto conduz a que, em
1926, haja um movimento militar, que põe termo à primeira república.

Há mais um interregno entre 1926 e 1933.

6- Constituição de 1933
Faz-se a Constituição de 1933, que tem como preocupações a família, a intervenção do
Estado e trabalho.

Características:
- o cargo da presidência é ocupado por militares
- o Presidente era eleito diretamente, mas, a partir de 1958, passa a ser indireto
- Salazar, como Ministro das Finanças, tinha direito de veto de todas as despesas do
governo.
- não existia responsabilidade política do governo
- as eleições eram diretas, mas com apenas um partido

Direitos fundamentais:
- pela primeira vez são consagrados os seguintes direitos, entre outros: direito à vida e à
integridade social; direito ao bom nome e à reputação
- clausula aberta quanto aos direitos individuais dos cidadãos
- quanto aos direitos das Corporações, há proteção da família, associação do trabalho à
empresa, direito à educação e cultura, e a liberdade criação de escolas particulares

Organização social e económica:


- há um corporativismo do Estado
- o Estado assume a direção da economia, pondo entraves à livre concorrência

Características do sistema político:


- estabilidade governativa e Estado forte
- o poder político está centrado no Presidente da República (poder de dissolução da
Assembleia Nacional; nomear e demitir o Presidente do Conselho de Ministros)
- o Presidente da República delega este poder do Conselho de Ministros (Chanceler)
- a competência legislativa é da Assembleia, podendo o Governo legislar, até 1945 (depois
passa a ser uma competência normal), com autorização, situações de urgência

Entre 1974 e 1976 há um novo interregno. Porém, vigorava a Constituição de 1933 nos
aspetos que não afetassem os pressupostos da revolução.

7- Constituição de 1976
Os principais objetivos, condensados na política dos três D´s, eram:
- democratizar o país
- descolonizar os territórios ultramarinos
- desenvolver a economia

Características:
- afirma o princípio socialista, com a construção de sociedade sem classes e de transição
para o socialismo
- havia um conflito entre a legitimidade revolucionária e a legitimidade democrática
- amplo elenco de direitos fundamentais
- poder político está dividido entre os militares e a sociedade civil
- permanência do Conselho da Revolução
- há uma clausula militar que exige que, para que o
Presidente da República fosse eleito por sufrágio
direto, o primeiro Presidente tinha de ser um militar

- havia uma partilha da soberania entre o Povo (representado pela Assembleia da República)
e o Movimento das Forças Armadas (representado pelo Conselho da Revolução)

Num primeiro momento, os órgãos do Poder Político eram:


- Presidente da República: escolhido entre os membros da Junta de Salvação Nacional
- Junta de Salvação Nacional: tinha poder constituinte, legislativo e administrativo
- Conselho de Estado: tinha poder constituinte até à eleição da nova Assembleia
Constituinte; aprovava os decretos-lei do Governo; órgão de consulta do Presidente da
República
- Governo Provisório: competência legislativas e administrativas; responsável politicamente
perante o Presidente da República
- Tribunais

Em 1975, foram aprovadas algumas alterações:


- extinta a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado
- criado o Conselho da Revolução, que recebo os poderes constituintes e legislativos dos
órgãos que foram extintos; competência exclusiva em matéria militar
- criada a Assembleia do Movimento das Forças Armadas

Órgãos de Soberania:
- Presidente da República: eleito por sufrágio universal e direto, por maioria absoluta,
tendo, então, legitimidade para dissolver a Assembleia da República e vetar
suspensivamente os diplomas da Assembleia da República; pode nomear o Primeiro-
Ministro, tendo em conta os resultados eleitorais

- Conselho da Revolução: garantia e regulava o funcionamento das instituições


democráticas, aconselhando o Chefe de Estado; garantia o cumprimento da Constituição,
fiscalizando a constitucionalidade dos atos normativos; tinha competência exclusiva para
efeitos legislativos, políticos e administrativos em matéria militar; pronunciava-se sobre a
nomeação e exoneração do Primeiro-Ministro e sobre o exercício do direito de veto
suspensivo do Presidente da República

- Assembleia da República

- Governo: duplamente responsável politicamente (perante o Presidente da República e


Assembleia da República)

Realça-se a responsabilidade perante o Presidente da República, pois:


- o Governo só começa as suas funções depois de ser nomeado pelo Presidente da
República
- o programa de Governo tem de ser apresentado à Assembleia da República, mas
não tem de ser votado; para que caia o Governo, tem de ser rejeitado por maioria
absoluta
- a Assembleia da república só pode demitir o Governo depois da aprovação, por
maioria absoluta, de duas moções de censura

- Tribunais

PARTE II CONSTITUIÇÃO DE 1976

Capítulo I
Identidade Constitucional

Secção 1ª
Identidade axiológica da Constituição

1- A identidade axiológica da Constituição: introdução


Há ideia de que todas as Constituições traduzem uma ordem de valores. Isto gera dois
deveres:
- um dever positivo de agir em conformidade com a ordem axiológica
- um dever negativo de não agir contra a ordem de valores

Também tem de se por em causa o princípio de interpretação do direito ordinário


em conformação com a Constituição
A identidade da CRP pode resumir-se a:
- ideia de Direito: a Constituição retrata um Estado de Direitos Humanos
- a Constituição tem um projeto político: este tem determinados fins, resumindo-se na
expressão “Estado de Direito Democrático”
- inserção externa do Estado: como se relaciona Portugal com os outros Estados
- organização interna do poder: Portugal é um estado unitário descentralizado parcialmente
regional

As Constituições têm natureza compromissória, pois a sua feitura tem por ase vários
partidos políticos e interesses valorativos.
Com isto, a ordem axiológica não é linear, podendo ser contraditória as vezes. Para resolver
estas contradições existem dois critérios:
- hierarquização de valores, considerando que existem valores de 1º grau (19º nº6 CRP) e de
2º grau
- ponderação dos valores perante o caso concreto, quando não há uma relação hierárquica;
tem de se garantir a ambos um espaço mínimo de operacionalidade

Quem utiliza estes critérios são:


- legislador, enquanto elaborador da lei ordinária
- administração publica, enquanto aplicador da lei
- particulares, enquanto aplicadores da lei
- tribunais, utilizadores principais destes critérios nos casos concretos

Também tem de se perceber com é que a ordem axiológica é afetada pelas alterações da
Constituição, fazendo com que a identidade axiológica vá evoluindo. As alterações podem
ser:
- revisões constitucionais
- mutações constitucionais: levada a cabo pela jurisprudência constitucional, através de uma
interpretação evolutiva ou atualista
- normas consuetudinárias criadas pelos agentes políticos e pela sociedade civil

Esta evolução pode levar a uma mudança da identidade axiológica de uma Constituição.
Na Constituição de 1976 é possível identificar algumas mudanças:
- no texto original estava presente o principio socialista e a transição para uma sociedade
sem classes, mas a prática e as revisões constitucionais contrariam este princípio
- na Constituição é referido que Portugal é uma república soberana, mas este conceito é
esvaziado com a internacionalização e pela integração europeia

Assim, o professor Paulo Otero acredita que, formalmente, ainda nos encontramos sob a
vigência da mesma Constituição aprovada em 1976, mas, materialmente, apenas o
conteúdo relativo a direitos, liberdades e garantias se mantém.

2- Estado de direitos humanos


A Constituição proclama todas ideias ligadas ao Estado de Direitos Humanos. Porém, o
direito ordinário, por vezes, fica contra o direito à vida.
Assim, falamos em um Estado de Direitos Humanos imperfeito.

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