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Conceitos Importantes
Estado: É formado pelos elementos “povo”, “território” e “governo”.
Governo: Trata-se de um dos elementos do Estado. Classicamente era considerado
sinônimo de Estado, sendo o somatório dos 3 poderes. Porém, atualmente, é visto como a
cúpula diretiva do Estado (em seu sentido subjetivo), formada por agentes políticos que
desempenham função política, responsáveis pela condução dos interesses estatais e pelo
poder político. No sentido objetivo/material, é a atividade diretiva do Estado, atos
provenientes de autoridades do alto escalão (com a atual concepção do Direito
Administrativo e do controle de legalidade/juridicidade, admite-se o controle judicial
dos atos políticos/de governo).
Administração Pública: Não coincide com Poder Executivo (que é o complexo de
órgãos estatais verticalmente estruturados sob direção do “chefe do executivo”).
Designa o conjunto de órgãos e agentes estatais no exercício da função administrativa,
podendo se situar nos 3 poderes.
Administração Pública Governo
Compreende os agentes, órgãos e entidades que
Compreende os agentes, órgãos e entidades que integram a estrutura constitucional do Estado
integram a estrutura administrativa (Poder Executivo, preponderantemente, e o
Poder Legislativo)
Exercício de poderes administrativos (polícia, Investido de Poder Político (diretrizes para
hierárquico, disciplinar, normativo) atuação estatal)
Estada pelo Direito Administrativo É matéria do Direito Constitucional
Todos os “Poderes” exercem função
Titularidade preponderantemente do Executivo,
administrativa (função típica do Executivo e
mas também do Legislativo
atípica do Legislativo e Judiciário)
Sobre o Princípio Federativo, cabe destacar que o Brasil adota a forma Federativa
de Estado, na qual ao lado do poder político central e soberano, vicejam entidades políticas
internas componentes do sistema, às quais são conferidas competências específicas pela CRFB.
Existe, portanto, descentralização política do poder entre os diferentes níveis de governo. O
Estado Federal brasileiro reconhece a existência de 3 níveis de poder político: federal, estadual e
municipal (art. 18, CRFB).
Descentralização Política
Poder de Autoconstituição das entidades integrantes
Participação das vontades dos entes integrantes na formação da vontade nacional
Note-se que deste sistema federativo decorre o princípio da autonomia dos entes
integrantes (autonomia dentro dos parâmetros constitucionais – art. 18), com poder de
autodeterminação (autogoverno, autoconstituição, autolegislação e autodeterminação),
inexistindo hierarquia entre os mesmos. Portanto, a autonomia dos Entes Federados pressupõe a
concentração de 3 características:
b) Unitário: O Estado será unitário (ou simples) se existir um único centro de poder
político no respectivo território, ou seja, há uma centralização político em uma só
unidade de poder (Ex: Uruguai).
Em relação à forma de exercer suas atribuições o Estado unitário pode
assumir 2 feições, sendo que cabe ao poder central promover a descentralização
ou regredir para a centralização absoluta na forma e no momento em que
entender conveniente:
b.1) Estado unitário puro: Competências estatais são exercidas de
maneira centralizada pela unidade que concentra o poder político –
centraliza o exercício do poder;
b.2) Estado unitário descentralizado administrativamente: Também
conhecido como regional, nele as decisões políticos estão concentradas
no poder central, mas a execução das políticas adotadas é delegada a
pessoas e órgãos criados para esse fim administrativo. Apesar de
modernamente, neste modelo, já se admitir a outorga de certa
autonomia política para as entidades e órgãos de execução, para que
tenha alguma discricionariedade no momento da execução, para avaliar
a melhor solução, essa descentralização, por mais ampla que seja, não
confere aos entes de execução autonomia política, como se dá numa
federação.
Federação Confederação
Constituição Tratado
Autonomia Soberania
Indissolubilidade (vedada a secessão) Dissolubilidade (direito de secessão)
2) Formas de Governo
Este conceito refere-se à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade, e
como se dá a relação entre governantes e governados.
República Monarquia
Eletividade Hereditariedade
Temporalidade Vitaliciedade
Representatividade Popular Não-representatividade Popular
Responsabilidade (Dever de prestar contas) Irresponsabilidade (não presta contas)
3) Sistemas de Governo
Está ligado ao modo como se relacionam os Poderes Legislativo e Executivo no
exercício das funções governamentais.
Presidencialismo Parlamentarismo
Independência entre os Poderes Interdependência entre os Poderes
Chefia Monocrática Chefia Dual
Mandatos por prazo certo Mandatos por prazo indeterminado
Responsabilidade de governo perante Responsabilidade de governo perante
o povo o parlamento
4)Regimes de Governo
Este se baseia na existência, ou não, da participação do povo – destinatário das ações
governamentais – na escolha dos governantes, na elaboração e controle da execução das
políticas públicas e na elaboração das normas a que o Estado e próprio povo estarão sujeitos.
Há, assim, uma redefinição das atividades administrativas que devem ser
prestadas diretamente pelo Estado e das demais atividades que podem ser prestadas
por particulares (privatizações – Programa Nacional de Desestatização – Lei
8.031/90 e Lei 9.491/97), notadamente por não envolverem a necessidade do
exercício do poder de autoridade, com a valorização da sociedade civil no
desempenho de atividades socialmente relevantes.
1
A EC 19/98 incluiu o princípio da eficiência no art. 37, CRFB, com a ideia de trazer a necessidade de
efetivação célere das finalidades públicas elencadas no ordenamento jurídico.
CPI – Aula 3 9
pela definição das leis e das políticas públicas, e seu respectivo cumprimento, tomando as
decisões estratégicas para gestão do Estado (Poder Legislativo, Judiciário e Executivo).
Este, por ser inerente ao Estado, é vedada sua delegação aos particulares, ainda que seja
possível e recomendável a participação dos cidadãos na elaboração das políticas públicas.
2) Atividades Exclusivas: Abarca as atividades que só o Estado pode prestar, diante da
imposição constitucional ou da necessidade do exercício de seu poder de autoridade
(Previdência social básica, serviço de trânsito, controle do meio ambiente, emissão de
passaporte, etc.). Alguns autores defendem que, em relação a essas, quando não houver a
necessidade de exercício do poder de polícia, devem ser delegadas aos particulares, por
meio de concessão e permissão de serviço público (art. 175, CRFB).
3) Serviços Não Exclusivos: Setor em que o Estado atua simultaneamente com outras
organizações públicas não-estatais e privadas. Essas organizações públicas não possuem
o poder de Estado, embora este exerça um papel de parceria, em função dos interesses
fundamentais envolvidas pela prestação desses serviços (educação, saúde). Quanto a
estes, a titularidade não é apenas do Estado, e devem ser prestados, prioritariamente, por
particulares, cabendo ao Estado o exercício da atividade de fomento (Lei 9.637/98 –
contrato de gestão; e Lei 9.790/99 – termo de parceria).
4) Atividade de Produção de Bens e Serviços ao Mercado: Envolve as atividades
econômicas lucrativas. Por ser de natureza privada, em sua essência, deve ser prestada,
via de regra, por particulares (princípios da livre-iniciativa e da subsidiariedade), sendo
possível a sua prestação pelo Estado, por meio das empresas estatais, quando houver
interesse coletivo relevante ou imperativo de segurança nacional (art. 173, CRFB).
Três artigos da CRFB mostram toda a reformulação que o Estado vem sofrendo desde
1988 - art. 170, 173 e 174.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
IV - livre concorrência;
O art. 170 mostra que o Estado preza a livre iniciativa, livre concorrência e o livre
exercício. Isso quer dizer que a atividade econômica deve ser exercida pelo particular, já
que o exercício é livre. E na época da CRFB, o que o Estado mais fazia era atividade
econômica. Então iniciou-se um processo de desestatização, passando o exercício da atividade
econômica para o particular. Mas nem todas as atividades econômicas foram passadas ao
particular. Algumas, por serem imperativos de segurança nacional ou relevantes ao interesse
coletivo, continuaram a ser exercidas pelo Estado. É o que prevê o art. 173.
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica
pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante
interesse coletivo, conforme definidos em lei. (…)
Questão: O Estado poderia criar empresa pública para exercer atividade de restaurante de
comida típica regional? → Não. Seria absolutamente fora das exceções do art. 173 da CRFB,
que permitiria o exercício de atividade econômicas pelo Estado.
Isso vale também para o serviço público. A CRFB também quer que o Estado passe a
deixar de ser o executor dos serviços públicos, passando à atividade privada. Isso em
decorrência do princípio da eficiência e do art. 175 da CRFB: “Incumbe ao Poder Público, na
forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de
licitação, a prestação de serviços públicos”.
Obs.: de acordo com o próprio texto constitucional (art. 18) e conceito de federalismo (junção
de entidades autônomas) todas as entidades políticas têm autonomia política, financeira e
organizacional.
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Obs.: O Estado do RJ já tem legislação estadual para concessão comum (Lei estadual nº
2.831/97) e concessão especial (lei estadual nº 5.068/2007). As leis de licitações e contratos
não são nacionais. Existem leis federais prevendo normas para a União e algumas normas
gerais (Lei 8.666). Já existe um projeto de lei de licitações para o Estado do RJ, e a previsão é
quer saia em 2011 (VER)
No município do RJ também tem lei sobre concessão especial – PPP - LC 105/09 e foi
realizada a maior PPP do Brasil, em relação a valores a serem pagos – RIO PORTO
MARAVILHA – para revitalização do Porto.
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a. Sistema S (art. 149 da CRFB) (não possui lei geral) – Sistema Social
Autônomo – Compete exclusivamente à União criar Contribuição social
que alimente o Sistema S. O estado pode criar o Sistema S, mas não pode
instituir contribuição social para custeá-lo, tendo que arcar com seus
custos. Este é o motivo que, portanto, o estado não crie o Sistema S.
Assim sendo, a referência a esse sistema interesse somente ao
âmbito federal. Todos os entes da federação podem trabalhar com o
sistema S, mas na prática, somente a União o faz, porque o dinheiro para
bancar sai da União, que cria contribuições para tal fim (Art. 149 CRFB),
e para o Estado trabalhar com este sistema, não poderá criar contribuição,
e deverá colocar a mão no bolso.
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação
nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no
art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
Essa é a atual estrutura da Administração, que vale tanto para União como para Estados e
Municípios, porque decorre de imposição constitucional. Mas passaremos a abordar melhor
cada setor...
Obs.1: A nível estadual, foi criada, pela lei 5.164/2007 do estado do Rio de Janeiro, a previsão
de modo que os Hospitais estaduais passem a ser fundações públicas de direito privado. Assim
sendo, no estado do RJ, tal lei estadual é expressa em reconhecer a existência de fundação
pública de direito privado. No mesmo sentido, a nível federal, existe o projeto de Lei
Complementar 92/2007 (que regulamenta o art. 37, XIX).
Projeto de LC 92/2007: Irá delimitar as áreas em que o Poder Público pode instituir a
fundação pública de direito privado (áreas não exclusivas de Estado; e em atividade que não
sejam de domínio do poder econômico), além de atualizar sua legislação regulamentadora, de
forma a restaurar e a disciplinar o uso desta figura jurídica na administração pública, ao lado
das autarquias (e fundações autárquicas), das empresas públicas e das sociedades de
economia mista:
CPI – Aula 3 14
Art. 1o Poderá, mediante lei específica, ser instituída ou autorizada a instituição de fundação sem fins
lucrativos, integrante da administração pública indireta, com personalidade jurídica de direito
público ou privado, nesse último caso, para o desempenho de atividade estatal que não seja exclusiva
de Estado, nas seguintes áreas:
I - saúde;
II - assistência social;
III - cultura;
IV - desporto;
V - ciência e tecnologia;
VI - meio ambiente;
VII - previdência complementar do servidor público, de que trata o art. 40, §§ 14 e 15, da
Constituição;
VIII - comunicação social; e
IX - promoção do turismo nacional.
§ 1o Para os efeitos desta Lei Complementar, compreendem-se na área da saúde também os hospitais
universitários federais.
§ 2o O encaminhamento de projeto de lei para autorizar a instituição de hospital universitário federal
sob a forma de fundação de direito privado será precedido de manifestação pelo respectivo conselho
universitário.
Obs.: (Posição Minoritária) Celso Antônio Bandeira de Mello afirma que após a CRFB/88
apenas existe a fundação pública de direito público, e que a CRFB não recepcionou o Decreto
Lei 200/67, em seu artigo 5º, inciso IV, na qual se refere a Fundação Pública como pessoa
jurídica de direito privado.
1) Pessoa Jurídica de Direito Privado : Seu regime será o trabalhista / emprego público
(da CLT).
Fundamento Jurídico:
Ainda que tenha concurso público, não terá estabilidade. Receberá FGTS. Mas
entende-se que não é possível mandar embora facilmente, já que se há impessoalidade na
contratação, deve haver impessoalidade no desligamento. Demissão imotivada não existe.
Na CRFB, é o art. 39 que exige um regime único, sem indicar que regime é esse.
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua
competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública
direta, das autarquias e das fundações públicas.
A União, cumprindo a CRFB, cria a lei 8.112/90, escolhendo o regime do cargo público
como o regime único em âmbito federal. O Estado do RJ, por meio da lei 1.698/90, optou por
estabelecer seu regime jurídico único como o Estatuário, mantendo a lei anterior à CRFB, ou
seja, o DL 220/75 e o Decreto Regulamentar 2479/79. Somente remeteu a estas leis, não criou
lei nova como a União fez.
I. CRFB/88
II. E. C. 19/1998
III. Liminar na ADIN 2.135-4
De acordo com Luis Oliveira Jungsted (Professor da Amperj), era possível que o
Regime Único optado pela União fosse o celetista (trabalhista), mas optaram pelo estatutário
(do cargo público). Para o Carvalhinho (pág. 555), a intenção do constituinte foi a de que o
regime de pessoal fosse apenas único, seja o estatutário, seja o trabalhista.
Antes da CRFB/88, além do regime estatutário o regime da CLT também era
encontrado nas PJ de direito público, e o ingresso era sem concurso. Optou-se pelo regime
único estatutário. E o que fazer com os celetistas que já estavam lá? O art. 19 do ADCT diz
que:
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na
data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não
tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados
estáveis no serviço público.
§ 1º - O tempo de serviço dos servidores referidos neste artigo será contado como título
quando se submeterem a concurso para fins de efetivação, na forma da lei.
Estes servidores não passaram a ser estatutários! Os celetistas quem tivessem mais de
5 anos de exercício efetivo na promulgação da CRFB passariam a ter estabilidade. O nome
técnico é celetista sem concurso estável. Receberam estabilidade, mas não efetividade (§1º
do art. 19 do ADCT). Mas a lei 8.112 não seguiu esta regra, conforme se depreende de
seu artigo 243. Na prática não foi realizado o concurso público e os celetistas foram
absorvidos como estatutários. Mas não é isso que a lei prevê.
Caminho normal:
CONCURSO → EFETIVIDADE → ESTABILIDADE
O servidor que tivesse menos de cinco anos de serviço público deveria ter seu
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contrato rescindido, pois estava em desacordo com a nova CRFB e não estava protegido pelo
ADCT. Na prática ninguém saiu. Argumentaram que na época do ingresso não era ilegal o
ingresso sem concurso. A consequência é que não teriam recebido estabilidade e que
poderiam permanecer trabalhando sem estabilidade. Outro argumento é que se mandasse todo
mundo embora, iria ferir a continuidade do serviço público. Em 1988, existiam 33.000
celetistas sem 5 anos de exercício em âmbito federal. O argumento também não colou. Mas
como eram indicados por pessoas importantes (pistolão), foram mantidos no exercício.
Tanto não foram mandados embora que o art. 169 §3º diz que é possível exonerar os
servidores não estáveis.
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste artigo, durante o prazo
fixado na lei complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios adotarão as seguintes providências:
I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções
de confiança;
II - exoneração dos servidores não estáveis.
Assim sendo, o art. 169, §3º, II, da CRFB, determinou que, no caso de corte de
despesas com pessoal, estes não estáveis sejam desligados antes dos estáveis. Não se pode
confundir, pois este artigo não se refere aos servidores em estágio probatório (apesar de
parecer), mas dos celetistas anteriores à CRFB, conforme se depreende do artigo 33 da E.C.
19/1998.
Art. 33. Consideram-se servidores não estáveis, para os fins do art. 169, § 3º, II, da
Constituição Federal aqueles admitidos na administração direta, autárquica e fundacional
sem concurso público de provas ou de provas e títulos após o dia 5 de outubro de 1983.
A EC 19/98 teve como principal objetivo flexibilizar a estabilidade. O servidor
estável poderia ser mandado embora sem que tenha dado causa (perda de cargo público por
excesso de gasto orçamentário) – art. 169 §4º. Mas antes de exonerar o servidor estável, tem
que exonerar os servidores não estáveis, e os servidores estatutários, concursados, não
estáveis.
§4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem suficientes para
assegurar o cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o
servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos
Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da
redução de pessoal.
Obs.: “Não existe direito adquirido para regime jurídico” – Tal afirmação para concurso está
correta, mas na realidade não está. A frase correta é: “Não existe direito adquirido às regras do
regime jurídico”. Isto, pois existe, sim, direito adquirido para regime jurídico, o que não se tem
direito adquirido é para as regras desse regime jurídico.
Administração Direta
É o conjunto de órgãos que integram as pessoas federativas, aos quais foi atribuída a
competência para o exercício, de forma centralizada das atividades administrativas do Estado.
Isto significa que a Administração Pública é, ao mesmo tempo, a titular e a executora do serviço
público.
Obs.: Descentralização cria nova pessoa jurídica (concessão e permissão) (art. 6º, III, DL
200/67). Desconcentração mantém na mesma pessoa jurídica. Desta forma, note-se que a
criação de Órgão Público corresponde à Desconcentração, mas mantém a Centralização, uma
vez que não cria uma nova pessoa jurídica.
Obs.: Se a entidade descentralizada causar prejuízos a particulares, é ela que deverá ser
acionada pessoalmente no Judiciário para ressarcimento dos danos, respondendo o Estado
apenas de modo subsidiário.
b. Por Serviço / Funcional / Técnica : Criação de uma pessoa jurídica de direito público
ou privado, que recebe a titularidade e a execução de serviços públicos (Autarquias,
Estatais, Fundações).
A classificação de tais autores é criticada por parcela da doutrina, pois, em seus conceitos,
seria possível que o Estado transferisse a titularidade que lhe foi atribuída pela CRFB, considerada
irrenunciável. A descentralização só pode abranger a execução da atividade. Isso porque, em qualquer
descentralização (por lei ou negócio jurídico), é possível ao Ente titular da atividade descentralizada,
retomar a sua execução, desde que seja respeitado o princípio da simetria das formas.
Ademais, a responsabilidade subsidiária dos Entes Federados, por danos causados pelas
respectivas entidades administrativas, demonstra que a titularidade do serviço permanece com o Ente,
pois, caso contrário, não haveria qualquer nexo causal capaz de gerar tal responsabilidade.
Assim, muitos doutrinadores (Carvalho Filho), de maneira simplificada, classificam a
descentralização da execução da atividade (delegação) em 2 formas:
a. Legal: Instrumentalizada pela lei (Entidades da Administração Indireta);
Como a Administração Direta é própria das pessoas políticas de federação, temos que
considerá-la em conformidade com os níveis componentes da nossa forma de Estado.
Nota-se, portanto, que a administração direta é constituída por órgãos internos dessas
mesmas pessoas. Assim sendo, passamos a analisar melhor os órgãos públicos.
Note-se que alguns órgãos podem ter CNPJ por terem autonomia financeira (art. 99,
CRFB). Apesar disso, continuam sem ter personalidade jurídica.
Obs.: No âmbito estadual foi editada lei estadual nº 5.427/2009 para tratar do processo
administrativo, que prevê o mesmo conceito no art. 1º §1º, inciso I. No §2º da lei
estadual há previsão de aplicação ao MP, Defensoria e Tribunal de Contas, quanto ao
pessoal administrativo.
Di Pietro afirma que a doutrina que hoje prevalece no direito brasileiro é que vê no
órgão apenas um feixe de atribuições, uma unidade inconfundível com os agentes. Como diz
Hely Lopes Meirelles, "cada órgão, com centro de competência governamental ou
administrativa, tem necessariamente funções, cargos e agentes, mas é distinto desses elementos,
que podem ser modificados, substituídos ou retirados sem supressão da unidade orgânica. Isto
explica porque a alteração de funções, ou a vacância dos cargos, ou a mudança de seus titulares
não acarreta a extinção do órgão". Além disso, grande parte dos órgãos é constituída por vários
agentes, cada um exercendo uma parcela das atribuições totais dos órgãos que integram.
Criação e Extinção: Art. 48, XI, da CRFB: Órgão público é criado e extinto por lei
ordinária, por força de um processo administrativo de desconcentração.
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o
especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União,
especialmente sobre:
Obs.1: Vale notar que, com a nova redação do art. 48, XI, dada pela EC 32/2001, a
exigência de reserva legal passou a alcançar apenas a criação e a extinção de órgãos. Em
consequência, a estruturação e as atribuições podem ser processadas por decreto do
Chefe do Executivo, conforme dispõe o art. 84, VI, a, da CRBF.
Em regra, a inciativa para o projeto de lei de criação dos órgãos públicos é do Chefe do
Executivo, conforme art. 61, §1º, II, e, CRFB. Todavia, em alguns casos, a iniciatva legislativa é
atribuída, em relação aos órgãos do Poder Judiciário (art. 96, II, c e d, CRFB) e do Ministério
Público (art. 127, §2º, CRFB), cuja iniciativa pertence aos representantes daquelas instituições.
O Estado é uma criação do Direito e não dispõe de vontade própria. Assim, o Estado
deve atuar por meio dos agentes públicos para satisfazer as necessidades coletivas. Diversas
teorias procuraram explicar a relação entre o Estado e os agentes públicos que compõem os
órgãos.
Antigamente entendia-se que os agentes públicos eram mandatários do Estado
(Teoria do Mandato). Mas tal teoria não prosperou porque, despido de vontade, o Estado
não poderia outorgar mandato.
Passou-se a considerar os agentes como representantes do Estado (Teoria da
Representação). Esta teoria também não prosperou por muito tempo, porque o Estado
estaria sendo considerado uma pessoa incapaz, que precisa de representação. Depois, porque
se o dito representante exorbitasse de seus poderes, não se poderia atribuir responsabilidade
ao Estado como representado.
Desta forma, surgiu a Teoria do Órgão, de modo que a vontade manifestada pelo
agente público é considerada na verdade não como vontade desse, mas sim, como vontade do
próprio Estado (aqui Estado-Administração Pública) (Teoria da Imputação Volitiva – art.
37, §6º, CRFB). Em uma analogia entre o Estado o corpo humano, considera-se que os
órgãos públicos seriam verdadeiros “braços” estatais. Assim, a ideia de representação é
substituída pela noção de imputação volitiva: a atuação dos agentes públicos, que compõem
os órgãos públicos, é imputada à respectiva pessoa estatal (Otto Gierke).
Portanto, segundo esta teoria, a vontade da pessoa jurídica deve ser atribuída aos
órgãos que a compõem, sendo eles mesmos, os órgãos, compostos de agentes (Celso
Antônio Bandeira de Mello). A vontade do órgão público é imputada à pessoa jurídica a
cuja estrutura pertence (O Órgão Público não representa o estado, ele É o Estado).
Para Di Pietro, é por essa teoria que se explica a validade dos atos praticados pelos
funcionários de fato (também chamados de agente de fato - agente sem investidura legítima),
pois o ato administrativo na verdade não é do agente, mas sim do órgão, e por conseguinte da
Administração Pública.
Vale dizer que existem limites à teoria da imputabilidade ao Estado de todas as
atividades exercidas pelos órgãos públicos; para que se reconheça essa imputabilidade é
necessário que o agente esteja investido de poder jurídico, ou seja, de poder reconhecido pela
lei ou que, pelo menos, tenha aparência de poder jurídico, como ocorre no caso da função de
fato. Fora dessas hipóteses, a atuação do órgão não é imputável ao Estado.
A teoria do órgão foi elaborada na Alemanha, por Otto Gierke, merecendo grande
aceitação pelos publicistas, como Michoud, Jellinek, Carré de Malberg, D Alessio, Cino
Vitta, Renato Alessi, Santi Romano, Marcello Caetano, entre tantos outros.
não são pessoas jurídicas e muito menos física. NÃO SÃO PESSOAS.
não têm personalidade jurídica.
não têm capacidade processual , em regra, pois se não são pessoas são podem estar
em juízo.
são criados por lei ordinária.
são extintos por lei ordinária.
a criação corresponde a desconcentração.
Todavia, tem evoluído a ideia de conferir capacidade a órgãos públicos para certos
tipos de litígios. Um desses casos é o da impetração de Mandado de Segurança por órgãos
públicos de natureza constitucional (órgão independente), quando se trata da defesa de sua
competência / prerrogativas institucionais, violada por ato de outro órgão, ou seja, defesa de
suas prerrogativas em juízo (Ex: Assembléia Legislativa Estadual, a par de ser órgão com
autonomia financeira expressa no orçamento do Estado, goza, legalmente, de independência
organizacional. É titular de direitos subjetivos, o que lhe confere a chamada “personalidade
judiciária”, que a autoriza a defender os seus interesses em juízo. Tem, pois, capacidade
processual) (Ex do TJ-RJ – MS 2009.004.00067 – Foi admitido Mandado de Segurança
impetrado por Câmara Municipal contra o Prefeito para o fim de obriga-lo à devida prestação
de contas ao Legislativo, tendo sido concedida a segurança). Neste sentido é a Súmula 525 do
STJ.
No caso de conflito entre órgãos da mesma natureza (Lide entre Executivo e Legislativo
da mesma pessoa política), não há outra alternativa senão admitir-lhes, por exceção, capacidade
processual. No entanto, não é tecnicamente adequado é a formação de litisconsórcio entre o
órgão e a própria pessoa a que pertence. Ou a personalidade judiciária é atribuída ao órgão em si
para a defesa de sua competência, ou, se o problema é diverso, a capacidade deve ser da pessoa
federativa, ainda que a controvérsia atinja mais especificamente determinado órgão.
Para os conflitos entre órgãos comuns da Administração, a solução deve ter caráter
interno e ser processada pelos órgãos a que são subordinados, em observância ao princípio da
hierarquia administrativa.
Por fim, é possível que a legislação atribua capacidade processual para certos órgãos
públicos. Neste sentido, o CDC veio a dispor no seu art. 82, III, que são legitimados para
promover a liquidação e execução de indenização “as entidades e órgãos da administração
pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados
‘a defesa dos interesses ne direitos protegidos por est Código”. Assim, órgãos públicos que
atuam na defesa dos consumidores, cuja capacidade processual é reconhecida pelo art. 82, III,
CDC.
Não se pode olvidar, todavia, que o art. 37, § 8o, da CRFB parece consagrar, a partir da
sua interpretação literal, uma possibilidade excepcional de celebração de contratos por órgãos
públicos. Trata-se do denominado “contrato de gestão” (expressão consagrada na Lei
9.649/98 – art. 51 e 52) ou “contrato de autonomia” celebrado por órgãos (relações intra-
administrativas) ou entidades administrativas (relações interadministrativas). Na referida
norma constitucional, admite-se a celebração de contratos entre órgãos públicos e Entes
federativos com o objetivo de ampliar a autonomia “gerencial, orçamentária e financeira” desses
órgãos, que deverão cumprir “metas de desempenho” nos prazos estabelecidos.
Por essas razões, o “contrato de gestão” do art. 37, § 8.o, da CRFB deve ser encarado
como verdadeiro ato administrativo complexo (convênio) ou acordo administrativo. Em
consequência, cada Ente federado terá autonomia para regulamentar, por meio de lei ordinária, o
art. 37, § 8º, da CRFB.
Inúmeras são as atividades administrativas, gerando assim uma vasta gama de órgãos
para desempenhá-las.
Questão: O que é o Estado Policêntrico? → É um Estado que além dos Poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário), prevê órgãos independentes, com vários polos de decisão. Hoje há
independência do MP e do Tribunal de Constas (Para Di Pietro, o MP é órgão autônomo). Há
quem alegue, inclusive, que as agências reguladoras devem aí ser incluídas.
Obs.: A CRFB não prevê as atribuições da Defensoria Pública Estadual, portanto, este seria um
órgão autônomo. No entanto, como possui previsão de suas atribuições na Constituição
Estadual, Hely Lopes argumenta no sentido de considerar a Defensoria Estadual como
independente. Mas prevalece o entendimento de que é um órgão autônomo.
Obs.: A Defensoria Pública da União, por estar vinculado ao Ministério da Justiça, que por sua
vez é vinculado ao Presidente, é considerado como um órgão superior (Isso mudou – Com o
advento da EC 74/2013, que acrescentou o art. 134, §3º, CRFB, conferiu-se autonomia
funcional, administrativa e a iniciativa de proposta orçamentária para a DPU, não mais
estando vinculada ao Ministério da Justiça).
Órgãos Superiores: Estão subordinados aos órgãos autônomos. São aqueles que
tem poder de controle, decisão e comando dos assuntos referentes à sua área de
atuação, sujeitos a controle hierárquico, sem possuir autonomia financeira, mas
possui autonomia (independência) administrativa. Sua liberdade funcional
restringe-se ao planejamento e soluções técnicas, dentro de sua área de
competência, com responsabilidade pela execução, geralmente a cargo de seus
órgãos subalternos (próxima espécie).
São exemplos: a) Gabinetes; b) Inspetorias-Gerais; c) Procuradorias
Administrativas e Judiciais; d) Coordenadorias; e) Departamentos; f) Divisões.
Órgãos Simples: também conhecidos por unitários, são aqueles que possuem apenas
um único centro de competência, sua característica fundamental é a ausência de outro
órgão em sua estrutura, para auxiliá-lo no desempenho de suas funções. (Ex: Órgãos
Subalternos).
Órgãos Compostos: são aqueles que em sua estrutura possuem outros órgãos menores,
seja com desempenho de função principal ou de auxilio nas atividades, as funções são
distribuídas em vários centros de competência, sob a supervisão do órgão de chefia.
Basta ter departamento pessoal para já ser órgão composto.
O critério de classificação conforme a atuação funcional do órgão pode ser entendido sob
dois prismas, singulares e colegiados (quem manda).
Órgãos Singulares: são aqueles que decidem e atuam por meio de um único agente, o
chefe. Os órgãos singulares possuem vários agentes auxiliares, mas sua característica de
singularidade é expressa pelo desenvolvimento de sua função por um único agente, em
geral o titular (Ex: MP, Defensoria, Presidência).
Órgãos Colegiados: são aqueles que decidem pela manifestação de vários membros, de
forma conjunta e por maioria, sem a prevalência da vontade do chefe, a vontade da
maioria é imposta de forma legal, regimental ou estatutária. (Ex: Assembléia
Legislativa)
Obs.: O Tribunal, quando estiver exercendo função típica (jurisdicional), será órgão colegiado.
Porém, quando exerce função administrativa, será órgão singular, pois o Presidente é que exerce
o poder.
Administração Indireta
Obs.2: Para Di Pietro e Marçal Justen Filho, com o advento da Lei 11.107/05,
que regulamenta os consórcios públicos (art. 241, CRFB), e exige a sua
personalização (pessoa de direito público – associação pública; ou pessoa de
direito privado), tais consórcios personalizados seriam novas entidades da
Administração Indireta.
Assim, para tais autores, com o art. 6º, §1º da Lei 11.107/05, e a nova
redação do art. 41, IV do CC, as associações públicas passam a integrar a
Administração Indireta das pessoas federativas que participam do consórcio
público.
Estas são criadas por descentralização legal e são vinculadas ao respectivo Ente
federado (o poder que era centralizado foi descentralizado, criando-se uma nova pessoa
jurídica). Desta forma, nota-se que a Administração Pública Indireta é um conjunto de pessoas
jurídicas, ou seja, conforme dispõe o art. 4º, II, do D.L. 200/67, são dotadas de personalidade
jurídica própria (Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista).
Abrangência: De acordo com a CRFB (art. 37, caput), todas as entidades federativas
podem ter a sua Administração Indireta. Assim sendo, desde que seja sua a competência para a
atividade e que haja interesse administrativo na descentralização, a pessoa política pode criar as
entidades de sua Administração descentralizada. Por conseguinte, além da federal, temos a
Administração Indireta de cada Estado, do Distrito Federal e, quando os recursos o permitirem,
dos Municípios.
4
A relação entre as entidades da Administração Indireta com a Administração Direta é de
vinculação/controle (que depende de expressa previsão normativa), que não se confunde com a
subordinação/hierarquia, que existe nas hipóteses de criação de órgãos públicos por desconcentração.
5
Alguns autores consideram que a descentralização só pode abranger a execução da atividade. Isso
porque, em qualquer descentralização (por lei ou negócio jurídico), é possível ao Ente titular da atividade
descentralizada, retomar a sua execução, desde que seja respeitado o princípio da simetria das formas.
Ademais, a responsabilidade subsidiária dos Entes Federados, por danos causados pelas respectivas
entidades administrativas, demonstra que a titularidade do serviço permanece com o Ente, pois, caso
contrário, não haveria qualquer nexo causal capaz de gerar tal responsabilidade.
CPI – Aula 3 30
vinculadas (este é o vínculo entre a Administração Direta e a Indireta – Supervisão Ministerial
(Art. 26 do DL 200/67) – pode se dar através do contrato de gestão).
A regra geral é que não haja controle, salvo disposição expressa na lei. Quando
ocorre a criação de uma entidade por descentralização o objetivo é excluir o máximo o
controle da administração direta sobre a sua função administrativa, agora descentralizada.
Isso tem se demonstrado extremamente eficiente.
Assim sendo, notamos que a eficiência na administração indireta está muito ligada à
fuga do rigor hierárquico, próprio da organização da administração direta, por causa da
desconcentração. Cria-se, portanto, uma autonomia, pois o controle somente é feito na
forma da lei. Já na desconcentração, a estrutura administrativa é organizada de forma
hierarquizada, não sendo um controle por vinculação, mas por subordinação. Na
desconcentração, a princípio há controle sobre tudo, exceto quando a lei dispuser
expressamente. (Ex: poder hierárquico – quando a lei disser que é caso de competência
exclusiva do agente – não aplica-se o poder hierárquico, mas a regra é existir na
desconcentração o controle geral sobre todos os atos administrativos editados pela entidade
subordinada).
Obs.: Tutela Política: Por outro lado o DL 200/67 (art. 26, §único, a) previu um
determinado instituto, muito criticado pela doutrina, chamado de Tutela Política, que
autoriza o Chefe do poder Executivo a nomear e exonerar o dirigente da entidade . Dessa
forma, o chefe do Poder Executivo tem uma tutela, uma ingerência sobre os dirigentes da
entidade o que, obviamente, gera um certo controle, maior do que o pretendido.
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa
pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso,
definir as áreas de sua atuação;
Obs.: A parte final do art. 37, XIX, fala sobre necessidade de Lei Complementar. Em relação à
isso, temos 2 posições doutrinárias:
CPI – Aula 3 33
Professor Jessé Torres: “Este último caso” se refere às autorizadas, ou seja, para os
casos de leis autorizativas. Logo para criar as entidades de lei autorizativa, dependerá de
lei complementar definindo sua área de atuação.
Obs.: Art. 37, XX – No caso de subsidiárias (é criada) e controladas (nascem, e depois passam a
ser controladas), também deverá ser criada por lei autorizativa. Quem cria a subsidiária e
controlada são as próprias empresas públicas e sociedades de economia mista (pode ter de
autarquia ou fundação?). No entanto, existem 2 interpretações em relação à palavra “em cada
caso”:
Resumindo:
AUTARQUIA → lei específica cria
EP, SEM → lei autorizativa + estatuto registrado na Junta Comercial ou RCPJ
FUNDAÇÃO → lei autorizativa + LC definir áreas de atuação + estatuto
* SUBSIDIÁRIAS → para criação das subsidiárias é necessária autorização legislativa.
Basta uma autorização genérica por entidade.
Vinculação X Subordinação
Não se deve confundir a vinculação (controle ou tutela) entre as entidades
administrativas e o Ente central com a subordinação (hierarquia), pois a subordinação
(hierarquia) existe apenas entre órgãos de uma mesma pessoa jurídica. Por isso, a hierarquia
existe em toda e qualquer desconcentração administrativa, seja entre órgãos da Administração
Direta, seja no interior de determinada entidade da Administração Indireta.
Entre pessoas jurídicas distintas, no entanto, em razão da autonomia dessas entidades,
não existe hierarquia, mas somente os controles previstos expressamente na legislação. Em
consequência, não existe hierarquia na descentralização administrativa, mas apenas
instrumentos de vinculação (controle ou tutela).
A tutela e a hierarquia, espécies de controles administrativos, possuem três diferenças
básicas (Di Pietro e Odete Medauar)
A tutela não se presume (depende de previsão legal); a hierarquia é inerente à
organização interna dos Entes federados e entidades administrativas (não depende de
previsão legal);
A tutela pressupõe a existência de duas pessoas jurídicas, onde uma exerce o
controle sobre a outra (fruto da descentralização administrativa); a hierarquia existe
no interior de uma mesma pessoa (relaciona-se com a ideia de desconcentração); e
A tutela é condicionada pela lei, só admitindo os instrumentos de controle
expressamente previstos em lei; a hierarquia é incondicionada, sendo-lhe inerente
uma série de poderes administrativos (ex.: dar ordens, rever os atos dos
subordinados, avocar ou delegar atribuições).
Em razão disso, os recursos administrativos interpostos contra decisões de entidades
administrativas e dirigidos ao Ente federativo respectivo (ou Ministério) são denominados
“recursos hierárquicos impróprios”. Não há, propriamente, hierarquia entre pessoas
distintas, mas apenas relação de vinculação (controle ou tutela). Como a tutela não se
presume (nulla tutela sine lege), o recurso hierárquico impróprio é medida excepcional e
depende, necessariamente, de previsão legal expressa (Di Pietro e Diogo de Figueiredo)
(Ver questão da possibilidade do recurso hierárquico impróprio no campo das agências
reguladoras)
IMPORTANTE
Características Comuns às Entidades da Administração Indireta
1)Autarquia6:
Autarquia é a pessoa jurídica de direto público, integrante da Administração Indireta,
criada por lei para desempenhar funções que, despidas de caráter econômico, sejam próprias e
típicas do Estado.
É criada por lei específica e é uma pessoa jurídica de direito público. Trata-se de uma
pessoa jurídica de direito púbico (essa é a sua natureza jurídica), integrante de Administração
Pública indireta, com características de serviço autônomo (gestão administrativa e financeira
descentralizada – capacidade de autoadministração). Ex: IBAMA, INSS, INCRA, Comissão
Nacional de Energia Nuclear, Banco Central, CVM.
Obs.: Para o Professor, existem diversas entidades autárquicas, segundo uma interpretação do
art. 5º do DL 200/67 e do art. 77. §2º da CE/RJ, haja vista que ambos apenas trataram da
fundação pública de direito privado, inserindo, assim, a fundação pública de direito público no
rol das autarquias lato sensu.
Neste mesmo sentido afirma Marcelo Alexandrino: “Embora não estivesse previsto no
DL 200/67, tampouco na CRFB, a jurisprudência e, também, nosso ordenamento positivo
infraconstitucional têm adotado a concepção de que “autarquia” representa um “gênero” de
entidade administrativa, subdividido em “espécies”, tem em vista determinadas características
que as particularizem”.
6
Alguns autores afirmam que as autarquias são um desmembramento do próprio Estado.
CPI – Aula 3 38
Carvalhinho ainda cita que as autarquias são classificadas em dois grupos, levando-se
em consideração o seu regime jurídico: a) Autarquias comuns ou ordinária (de Regime
Comum – é a prevista no DL 200/67): Estariam sujeitas a uma disciplina jurídica sem
qualquer especificidade; b) Autarquias Especiais (de Regime Especial): Seriam regidas por
disciplina específica, cuja característica seria a de atribuir prerrogativas especiais e
diferenciadas a certas autarquias, conferindo-lhes maior autonomia perante o Executivo.
Marcelo Alexandrino ainda complementa esse rol com Autarquia Fundacional e Associação
Pública (para Carvalhinho, estas estão dentro das Especiais).
Autarquias Especiais:
Agências Executivas, Agências Reguladoras e Associações Públicas
A legislação tem atribuído nomenclaturas próprias a determinadas autarquias, tendo
em vista as suas características especiais, destacando-se, por exemplo, as agências executivas,
agências reguladoras e associações públicas:
2) Agências reguladoras:
A expressão “agência reguladora” encontra-se prevista em diversas leis específicas e
é utilizada para designar as autarquias que possuem a incumbência de regular o desempenho
de certas atividades econômicas ou a prestação de serviços públicos (ex.: ANEEL – Agência
Nacional de Energia Elétrica, instituída pela Lei 9.427/1996, ANATEL – Agência Nacional
de Telecomunicações, instituída pela Lei 9.472/1997, ANP – Agência Nacional do Petróleo,
instituída pela Lei 9.478/1997).
São duas as características principais das agências reguladoras:
a. A concessão do rótulo “agência reguladora” é efetivada pela lei que cria a autarquia;
e
Obs.: Para Di Pietro e Marçal Justen Filho, com o advento da Lei 11.107/05, que
regulamenta os consórcios públicos (art. 241, CRFB), e exige a sua personalização
(pessoa de direito público – associação pública; ou pessoa de direito privado), tais
consórcios personalizados seriam novas entidades da Administração Indireta.
Assim, para tais autores, com o art. 6º, §1º da Lei 11.107/05, e a nova
redação do art. 41, IV do CC, as associações públicas passam a integrar a
Administração Indireta das pessoas federativas que participam do consórcio público.
Porém, outros autores afirmam que as pessoas jurídicas criadas no âmbito dos
consórcios públicos não representam novas entidades administrativas. Afirma-se que
associações públicas possuiriam natureza autárquica, e as pessoas privadas poderiam
ser consideradas fundações públicas de direito privado ou empresa pública prestadora
de serviços públicos.
Criação: Por Lei Específica (Art. 37, XIX, CRFB). Tal lei é de iniciativa
privativa do chefe do Executivo, conforme art. 61, §1º, II, “e”, CRFB. Tal
dispositivo deve ser interpretado de maneira lógica, uma vez que não se refere
expressamente às autarquias, mas aos órgãos em sentido amplo, em ordem a
alcançar quer os órgãos públicos (em sentido estrito), quer as pessoas jurídicas que
fazem parte da Administração Pública, como é o caso das autarquias.
A criação também se fundamenta na autonomia dos entes federativos,
conforme art. 18 da CRFB. Quando a autarquia for vinculada ao Poder
Legislativo ou Judiciário, a iniciativa da lei respectiva será do Poder
correspondente, a que estiver vinculada a entidade.
Da mesma forma, para sua extinção, é também a lei o instrumento jurídico
adequado (princípio do paralelismo das formas), em decorrência do princípio da
CPI – Aula 3 40
simetria das formas jurídicas, pelo qual a forma de nascimento dos institutos
jurídicos deve ser a mesma para sua extinção (não podendo, assim, ser um ato
administrativo que dê fim à sua existência, já que se trata de ato de inferior
hierarquia).
Vale destacar que a organização das Autarquias é delineada através de ato
administrativo, normalmente decreto do chefe do Executivo. Tais regras de
organização irão dispor sobre regras atinentes ao funcionamento, órgãos
componente e suas competências administrativas, procedimento interno e outros
aspectos ligados efetivamente à atuação da entidade autárquica.
Finalidade (Objeto): O art. 5º, I, DL 200/67 (art. 77, §2º, CERJ), ao fixar os
contornos jurídicos das autarquias, consignou que elas seriam destinadas a executar
atividades típicas da Administração pública (conceito objetivo de “administração
pública”). No entanto, a noção de atividades típicas é extremamente fluida e
variável no tempo e espaço, tratando-se de um conceito jurídico indeterminado.
Para Carvalhinho, o legislador teve o escopo de atribuir às autarquias a
execução de serviços públicos de natureza social e de atividades
administrativas, excluindo-se os serviços e atividades de cunho econômico e
mercantil (que após a reforma administrativa passou a caber às Estatais – Ex:
Caixa Econômica deixou de ser autarquia).
Atividades Típicas do Estado, segundo Diogo de Figueiredo, são: 1 –
Função de Polícia (Ex: IBAMA); 2 – Serviço Público (Ex: DENIT); 3 –
Intervenção do Estado na Ordem Econômica (Ex: CAD – Não é o estado agente,
mas controlador da ordem econômica; CVM); 4 – Intervenção do Estado na
Ordem Social (estado agente) (Ex: INSS; IFES); 5 – Fomento Público (Ex:
SUDENE, SUDAN).
CPI – Aula 3 41
Forma: Intra ou Infra-Estatal (Autarquia) (≠ paraestatal).
Obs.: Alguns tributaristas afirmam que esta imunidade tributária é limitada às suas finalidades
essenciais. Assim sendo, as atividades que não estiverem de acordo com sua finalidade, não
gozariam de imunidade tributária. Mas tal corrente não é pacífica, uma vez que o art. 150 §2º
trata também das “atividades decorrentes da finalidade essencial”, podendo-se defender uma
imunidade total (imunidade incondicionada – divergente).
O STJ entende que a imunidade do ITPU existe mesmo em relação aos imóveis
autárquicos concedidos a terceiros, desde que a renda, auferida com a sua utilização, seja
utilizada na satisfação dos objetivos da autarquia (REsp 726.326/MG).
Obs.: Foro de Litígios Judiciais: Seu foro de litígios judiciais está previsto no art. 109, I,
CRFB, sendo competente a Justiça Federal, com exceção das causas relativas à falência,
acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e do Trabalho. Tal norma também se aplica
em causas em que litigam usuários-consumidores e concessionárias de serviços públicos,
havendo intervenção de agência reguladora (que é autarquia federal) na qualidade de
litisconsorte passiva necessária, assistente ou oponente (se não houver intervenção da autarquia,
será justiça estadual, conforme Súmula Vinculante 27).
Natureza Jurídica de seus bens / Patrimônio: Seus bens são Públicos (art.
98 do CC), e gozam destas prerrogativas, ou seja, meios de proteção em geral,
destacando-se a impenhorabilidade (a garantia se dá pelo sistema de precatórios –
art. 100, CRFB e art. 535, §3º, I, NCPC – não é permitida a penhora de bens),
alienabilidade condicionada pela lei / inalienabilidade relativa (art. 100 e 101, CC,
art. 17, Lei 8.666), não onerabilidade (art. 1.420, CC), e a imprescritibilidade (não
são passíveis de usucapião – Súmula 340, STF, art. 183, §3º, e art. 191, § único,
CRFB, art. 102, CC).
Obs.: O critério para a qualificação de bem público deixou de ser o fato de pertencer a pessoa
CPI – Aula 3 42
da federação para ser aquele que pertence a qualquer pessoa de direito público.
Obs.3: Os créditos autárquicos são inscritos como dívida ativa e podem ser cobrados pelo
processo especial das execuções fiscais.
Atos e Contratos: Podem ser de natureza privada (sendo regulados pelo direito
privado), mas em regra são típicos atos administrativos, revestindo-se das
peculiaridades próprias do regime de direito público ao qual se submetem.
O mesmo pode-se dizer quanto aos contratos, pois, fora daqueles contratos
típicos do direito privado (Compra e Venda, Permuta, Doação), os ajustes
firmados por autarquias se caracterizam como contratos administrativos (Lei 8.666
e ART. 22, XXVII, CRFB).
b) Fundação Pública:
A Fundação, como pessoa jurídica oriunda do direito privado, se caracteriza pela
circunstância de ser atribuída personalidade jurídica a um patrimônio preordenado a certo fim
CPI – Aula 3 43
social (art. 62 a 69 do CC). As características básicas das fundações são:
a. A figura do instituidor
b. O fim social da entidade (Objeto) : A regra do art. 62, § único do CCB, deve ser
entendida em sentido lato, ou seja, deve-se considerar não apenas os fins citados,
mas todos os objetivos sociais (não econômicos ou empresariais).
c. A ausência de fins lucrativos : Apesar de não ter fins lucrativos, pode possuir
superávit, necessário ao pagamento de novos custos operacionais.
Obs.: A 1ª Corrente era a corrente adotada por Helly Lopes antes da CRFB/88, entendendo que
o termo “autarquias fundacionais” se constituía uma contradictio in terminis, uma vez que se a
entidade era uma fundação, estaria ínsita sua personalidade privada e que, se era uma autarquia,
a personalidade seria de direito público. No entanto, após a CRFB/88, passou a entender que a
referência a “fundações públicas” e denominações análogas permitia inferir que tais entidades
teriam personalidade de direito. Apesar disso, mostrava ainda certo inconformismo em relação à
posição adotada pelo STF: “Não entendemos como uma entidade (fundação) possa ser espécie
de outra (autarquia) sem se confundirem nos seus conceitos”.
Obs.2: Vale notar que o texto original da CRFB/88 não previu a fundação pública de direito
privado e estendeu o regime jurídico único aos servidores das fundações públicas (ar. 39 da
CRFB). No entanto, a EC 19/98 alterou a redação do art. 37, XIX da CRFB e previu sua
natureza pública de direito privado, ao estabelecer sua criação autorizada pela lei como as
empresas estatais (pois a fundação pública, de direito público, é criada por lei específica, tal
qual a autarquia).
Obs.: Considerações que li no livro do Celso Antônio (pág. 183) – O autor adota a teoria
monista moderna (≠ tradicional), ou seja, não aceita essa divisão de fundação pública de
direito público e de direito privado, existindo apenas Fundação Pública de Direito Público.
Ele afirma que, apesar do DL 200/67 falar em fundação pública de direito privado, na
verdade são pessoas de Direito Público. Justifica tal posicionamento argumentando que para
saber se uma pessoa criada pelo Estado é de Direito Privado ou de Direito Público é
meramente uma questão de examinar o regime jurídico estabelecido na lei que a criou. Se
lhes atribuiu a titularidade de poderes públicos, e não meramente o exercício deles, e
disciplinou-a de maneira a que suas relações sejam regidas pelo Direito Público, a pessoa será
de Direito Público, ainda que se lhe atribua outra qualificação. Na situação inversa, a pessoa
será de Direito Privado, mesmo inadequadamente nominada.
Desta forma, no Direito brasileiro criou-se inúmeras pessoas designadas como
“fundações”, com atribuições nitidamente públicas, nada se distinguindo das autarquias. Seu
regime estaria inevitavelmente atrelando-as às limitações e controles próprios das pessoas de
Direito Público. Entretanto, foram batizadas de pessoas de Direito privado, apenas para se
evadirem deste controle, e permitir a cumulação de cargos de seus agentes (não entendi – o
art. 37, XVII, prevê que a cumulação também é vedada em emprego público).
Sustenta ainda que a CRFB dirimiu tal dúvida, ao se referir especificamente aos
CPI – Aula 3 45
servidores das “fundações públicas”, deixou claro que as considerava como pessoas de direito
público (art. 37, XI), tratando de seus servidores juntamente com os da Administração Direta
e Autárquica, ao contrário do que fez com as pessoas de Direito Privado da Administração
Indireta (S.E.M e Empresa Pública). Ademais, atribuiu aos servidores de quaisquer delas o
mesmo tratamento da Administração Direta e Autárquica quando exercem mandato eletivo
(art. 38 e art. 19 do ADCT). Assim sendo, seria um contrassenso atribuir tratamento
equivalente aos servidores do Estado e autarquias às fundações públicas, se fossem fundações
de direito privado.
Por fim, acrescenta que a constituição referiu-se às fundações públicas em
paralelismo com as autarquias.
Voltando para a divisão feita pela 2ª Corrente, para o STF, (RE 215.741), são 4
os fatores diferenciais para a distinção entre as fundações governamentais de direito
público e as de direito privado:
Obs.: Toshio Mukai considera a marca diferencial a natureza do serviço: Serviços públicos para
as fundações de direito público, e atividades estatais de caráter social para as de direito privado.
Obs.1: Em relação ao Controle Judicial, ambas fundações públicas podem dar origem a atos
de direito privado e a atos administrativos. Cumpre observar que, no caso das fundações de
direito privado, a regra é que se pratique atos de natureza privada, porém quando pratica ato no
exercício de função delegada do Poder Público, esse ato se caracterizará como administrativo.
Assim sendo, nos atos de direito privado o controle judicial se dará pelas vias comuns,
ao passo que nos atos administrativos poderá o controle ser exercido pelas vias específicas
(especiais), como o mandado de segurança e a ação popular.
Foro dos Litígios: Na fundação de direito público irá seguir as regras das
autarquias, já que o art. 109, I, CRFB, se refere às entidades autárquicas. Assim
sendo, se a fundação de direito público for federal, seus litígios são dirimidos na
Justiça Federal. As fundações estaduais e municipais terão seus feitos processados
CPI – Aula 3 48
no foro fixado no código de organização judiciário do Estado (Justiça Estadual
Comum, podendo haver várias de competência fazendária). Tal regra se aplica
inclusive para as causas que decorram da relação estatutária entre a fundação e seus
servidores.
Objeto: Como dito, terá como objeto funções estatais típicas / serviços públicos.
Acrescentando-se ao já descrito acima sobre o objeto (que são idênticos aos das
autarquias), Carvalhinho e Alexandre Aragão defendem uma particularidade, de
modo que nas fundações de direito público poderá o legislador indicar objeto
diverso dos que constam no diploma civilístico (art. 62, § único, CC). A razão é
que tais fundações têm natureza autárquica, o que permite ao legislador fixar sua
finalidade institucional, considerando o interesse público perseguido, no caso
específico, pela Administração.
Criação: A regra a ser aplicada é a mesma que incide sobre as autarquias, ou seja,
a própria lei dá nascimento à entidade (lei específica), porque essa é a regra
adotada para o nascimento da personalidade jurídica de pessoas jurídicas de direito
público.
De igual forma, a lei extinguirá a fundação de direito público, tal como
sucede nas autarquias, não se lhes aplicando as hipóteses de extinção das fundações
privadas do art. 69, CC
Obs.: Com a EC 19/98 (que modificou o art. 37, XIX), passou-se a estabelecer 2 formas
distintas de instituição de entidades da administração indireta: a) Criação por Lei Específica; b)
Criação a partir da Lei Autorizativa. A primeira forma de criação está expressamente prevista
apenas para as autarquias, e a segunda é, literalmente, a sistemática aplicável às demais
entidades (inclusive as fundações públicas de direito privado).
No entanto, conforme entendimento do STF, é possível que uma fundação pública seja
instituída com personalidade jurídica de direito privado (aplicando-se literalmente o art. 37,
XIX) ou com personalidade de direito público (hipótese em que seguirá as regras da autarquia,
uma vez que será uma espécie de autarquia, com regimes jurídicos idênticos).
Forma: O professor afirma que possui forma de Fundação particular (Não entendi
bem isso – Seria fundação de direito privado, porém não uma fundação particular,
já que é pública). Afirmou, ainda, o professor que, apesar disso, não se aplicam as
regras do CC (art. 5º, §3º, do DL 200/67) (O Carvalhinho afirma que estas
fundações que se sujeitam a um regime híbrido, assim sendo, em parte, ao regime
privado, devendo sujeitar-se ao modelo previsto no CC (explicação no tópico
abaixo); Di Pietro afirma que estas regem-se pelo direito civil em tudo o que não
for derrogado pelo direito público; Marcelo Alexandrino também defende o regime
híbrido).
Esta integra a administração indireta, conforme a Lei nº 7.596/87, que
modificou o DL 200/67.
Obs.: De acordo com Di Pietro, às fundações públicas não se aplicam as normas civilistas sobre
o destino dos bens doados pelo instituidor quando insuficientes para constituir a fundação ( art.
63, CC), sobre o controle pelo MP (art. 66, CC), sobre a elaboração e alteração dos estatutos e
sobre a extinção da entidade (art. 65, 67 e 69, CC). Chega-se à conclusão de que, pelo menos na
esfera federal (lei 7.596/87), embora definidas como pessoas de direito privado, passaram a
ter “natureza jurídica” predominantemente pública. Afirma a mesma que as fundações de
direito privado se submetem ao direito comum em tudo aquilo que não for expressamente
derrogado por normas de direito público, podendo essas normas derrogatórias constar na própria
CRFB, de leis ordinárias e complementares federais e da própria lei singular, também federal,
que institui a entidade.
Regime Jurídico: De acordo com Carvalhinho, a lei criou para elas um regime
especial.
Carvalhinho afirma que as Fundações Públicas de Direito Privado deveriam
reger-se, basicamente, pelas normas de direito civil sobre a matéria fundacional, e
só supletivamente pelas regras de direito público, principalmente na relação que
vincula as entidades da Administração Indireta à respectiva Administração Direta.
Todavia, de acordo com o art. 5º, §3º, do DL 200/67, apesar de tais entidades
adquirirem personalidade jurídico pelo registro da escritura pública de constituição,
ficou consignado que não lhes são aplicáveis as demais disposições do CC
concernentes às fundações.
Concluiu-se, assim, que o regime jurídico aplicável sobre as fundações
públicas de direito privado tem caráter híbrido, isto é, em parte (quanto à
constituição e ao registro) recebem o influxo de normas de direito privado e noutra
parte incidirão normas de direito público, normas que, diga-se de passagem,
CPI – Aula 3 50
visarão a adequar as entidades à sua situação especial de pessoa da Administração
Indireta.
No mesmo sentido, afirma Di Pietro que as fundações de direito privado
regem-se pelo direito civil em tudo o que não for derrogado pelo direito público.
Criação: Por lei autorizativa (≠ Fundação de Direito Público, que é por lei
específica – Art. 37, XIX, CRFB), devendo o Poder Executivo elaborar os seus
atos constitutivos e providenciar a inscrição no registro competente a fim de que
ela adquira personalidade (art. 45 e 985, CC), ou seja, depende apenas de lei que
autoriza a criação da entidade. Assim sendo, levando em consideração também o
art. 5º, §3º, do DL 200/67, a personalidade dessa fundação é adquirida com a
inscrição da escritura pública de sua constituição no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas.
Trata-se, portanto, de 2 atos diversos: a lei que autoriza a criação da
entidade, e o registro que dá início à personalidade jurídica.
Da mesma forma, a lei autorizará a extinção de fundação de direito privado
(art. 5º, IV, e art. 178 do DL. 200/67) (paralelismo de forma e hierarquia dos atos
jurídicos), não se lhes aplicando as hipóteses de extinção das fundações privadas
do art. 69, CC. Na sua extinção, seu patrimônio se reverterá para o Poder Público
(alguns doutrinadores dizem que poderá se reverter para outra fundação pública ou
retorna para o Poder Público criador).
Professor Jessé Torres: “Este último caso” se refere às autorizadas, ou seja, para os casos de leis
autorizativas. Logo para criar as entidades de lei autorizativa, dependerá de lei complementar
definindo sua área de atuação.
Dúvida: A norma do art. 37, inciso XIX da CRBF/1988, que exige lei complementar para
definir as áreas de atribuição das fundações aplica-se à fundação de direito público e direito
privado, somente à fundação de direito público, ou somente à fundação de direito privado?
Obs.2: Uma parte da doutrina (PGR – ADI 4.247 e ADI 4.197 – pendem de julgamento no
STF) sustenta que, sem tal lei complementar, não haveria ensejo para as fundações
governamentais de direito privado. Carvalhinho discorda disso, pois tal diploma apenas
limitaria a área de atuação, o que não impede a instituição das fundações estatais de direito
privado para o desempenho de atividade socialmente relevante (art. 37, XIX, é norma de
eficácia contida). Outra parte da doutrina argumenta que o DL 200/67 (com alteração pela lei
7.596/87 em seu art. 5º, IV) foi recepcionado como Lei Complementar pela CRFB, pois a lei
ordinária preexistente é recepcionada como lei complementar, se tal status somente tenha sido
dado pela nova ordem constitucional que lhe seja posterior (Tal como acontece com o CTN).
Obs.3: O PGR (MPF), na ADI 4.197, afirma que o PLP 92/07 virá para suprir tal necessidade
de lei complementar. Reitera ainda que o DL 200/67 não serve como definidor da área de
atuação.
Obs.4: Há certa divergência sobre a necessidade da referida lei complementar ser federal
(nacional), ou poder ser suprida tal necessidade por lei complementar estadual ou municipal.
Obs.: Ver ADI 191-4/RS – Sendo diverso seu regime jurídico ao das fundações de direito
público, diferente também são os direitos e deveres que se combinam e formam os fundamentos
CPI – Aula 3 52
da relação empregatícia firmada.
Foro dos Litígios: Quando a fundação for de direito privado, seja qual for a
esfera a que esteja vinculada, a regra de foro é a comum para as pessoas privadas,
ou seja, a Justiça Estadual. Como o pessoal dessas fundações deve reger-se pela lei
trabalhista, será competente a Justiça do trabalho para dirimir os conflitos dessa
natureza.
Bens: Seus bens são particulares (art. 98 CC), não se enquadrando como bens
públicos. Carvalhinho ainda complementa, afirmando que incumbe a gestão dos
bens, por serem privados, aos órgãos dirigentes da entidade na forma definida no
respectivo estatuto. Assim sendo, somente se houver na lei autorizadora restrições
e impedimentos quanto à gestão dos bens fundacionais é que os órgãos dirigentes
deverão obedecer. Fora dessas hipóteses, o poder de gestão é da própria fundação,
cabendo, no caso de desvio de finalidade, a responsabilização civil e criminal dos
responsáveis.
Contudo, a doutrina destaca que serão mantidas algumas prerrogativas
de direito público, tais como a impenhorabilidade dos bens afetados ao serviço
público e necessários à sua continuidade, bem como as exigências próprias
para alienação do patrimônio, na forma do art. 17, Lei 8.666.
Obs.: Alienação dos Bens Privados: Em regra, os bens privados podem ser penhorados.
No entanto, em relação aos Bens da Fundação Pública de Direito Privado, caso este bem esteja
vinculado à um serviço público (Ex: Máquina de Raio-X), este bem não poderá ser
penhorado, devendo-se cumprir o princípio da continuidade do serviço público. Tal aplicação
também vale para as permissionárias e concessionárias de serviço público (Ex: Penhora de
Ônibus), de modo que, apesar de seus bens forem particulares, não serão penhorados para não
comprometer o serviço público.
Neste caso, em que os bens da pessoa jurídica de direito privado não podem ser
penhorados, haverá responsabilidade subsidiária do ente da federação (a primária é a do
prestador do serviço).
1) Lei Criadora;
2) Regime de Contratação do Pessoal;
3) Forma, Prerrogativas Processuais;
4) Natureza dos Bens.
5) Gênero no qual estão incluídas (Instraestatal/Autarquia X Paraestatal)
CPI – Aula 3 54
Di Pietro ainda complementa as consequências jurídicas de se ter personalidade de
direito privado: Bens penhoráveis, não se lhes aplicando o processo de execução contra a
Fazenda Pública; Não terá juízo privativo; Somente se aplica a responsabilidade objetivo do
art. 37 §6º se forem prestadoas de serviços públicos; regime jurídico dos empregados é a
CLT.
Tiver celebrado contrato de gestão com o respectivo Ministério supervisor (art. 52, §1º, Lei
9.649/98) (ex.: INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
industrial).
Os contratos de gestão, celebrados por agências executivas, são os denominados
“contratos de gestão internos ou endógenos”, pois são formalizados no interior da
Administração Pública (art. 37, §8º, CRFB).
Uma consequência importante da qualificação é a maior liberdade para a
celebração de contratos administrativos por meio de dispensa de licitação, na forma do art.
24, §1º, Lei 8.666, de modo que a Agência Executiva tem o valor de dispensa de licitação
dos incisos I e II dobrados para 20%.
Obs.: Uma autarquia comum poderá ter celebrado contrato de gestão, sem
necessariamente se tornar uma Agência Executiva.
Tais entidades destinam-se a exercer atividade estatal que, para melhor desenvoltura,
deve ser descentralizada e, por conseguinte, afastada da burocracia administrativa central. A
base de sua atuação é a operacionalidade, ou seja, visam à efetiva execução e implementação da
atividade descentralizada, diversamente da função de controle, que é alvo das agências
reguladoras.
Obs.: A Lei 10683/03, em seu art. 59, derrogou a Lei do Governo Fernando Henrique (Lei
9649/98). Note-se, no entanto, que apenas se referiu ao que dispõe ao contrário da nova lei.
Assim sendo, não revogou o dispositivo da antiga lei que se referia às Agências Executivas (art.
51 e 52), pois não contraria em nada a Lei do Governo Lula. (O Decreto 2.487 e 2.488 também
regulamenta aspectos das agências executivas).
De acordo com o art. 51 da Lei 9649, ficou qualificada as Agências Executivos como
uma Entidade Autárquica (Autarquia ou Fundação), que celebrou contrato de gestão, tendo um
plano estratégico de reestruturação e de desenvolvimento institucional em andamento, devendo,
por fim, tal qualificação ser feita em Ato do Presidente da República (Decreto).
Além disso, dispõem sobre remuneração de pessoas ou diretores, assim como sobre a
responsabilidade destes.
Esta foi uma inovação trazida pela E.C. nº 19/98, que acrescentou o §8º ao art. 37 da
CRFB, com vistas a possibilitar a implantação da reforma administrativa na Administração
Pública.
A norma do art. 37, §8º, não se classifica como de eficácia plena, pois que é
prevista a criação de lei que disponha sobre a disciplina desse regime, especialmente sobre o
prazo de duração do contrato, os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos,
obrigações e responsabilidade dos dirigentes e a remuneração do pessoal.
Obs.: Marcelo Alexandrino entende que o contrato de gestão, quando celebrado com
autarquias e fundações públicas, possibilita que elas recebam a qualificação de Agências
Executivas.
Obs.2: Carvalhinho critica o fato de a Lei 9.649/98 ter se referido a contrato com Ministério:
Este se configura como mero órgão integrante da União Federal; não tem personalidade
jurídica própria e, portanto, não teria aptidão para figurar como contratante. Pessoa jurídica,
sim, é a União Federal. Desse modo, para Carvalhinho, deve entender-se que o contrato será
celebrado entre a agência executiva e a União Federal, representada esta pelo Ministério que
supervisiona a agência.
Obs.3: A lei 10.683/03, que passou a dispor sobre a organização da Presidência da República
e dos Ministérios, revogou as disposições em contrário da Lei 9.649/98. Como nada na lei
nova contraria o citado dispositivo, é de presumir-se que continue vigente.
Por esse motivo a organização social fica sujeita não só ao controle relativo ao
atingimento das metas fixadas no contrato de gestão, mas também aos controles aplicáveis a
toda e qualquer pessoa que receba e utilize recursos públicos, a exemplo dos exercidos pelo
Tribunal de Contas da União (TCU).
Tal ente possui previsão constitucional no art. 21, XI, CRFB (instituição de órgão
regulador para o setor de telecomunicações), art. 174, CRFB (dispõe que o Estado é agente
normativo e regulador da atividade econômica), e art. 177, §2º, III, CRFB (criação de órgão
regulador do setor do petróleo e gás natural).
A concessão do rótulo “agência reguladora” é efetivada pela lei que cria a autarquia; e
Contextualização
A Lei 9.491/97 instituiu o Plano Nacional de Desestatização (PND), com o objetivo
de reduzir o déficit público, transferindo à iniciativa privada atividades que o Estado exercia
de forma dispendiosa e indevida.
Desse modo, por meio da privatização, deixava-se de ter o processo de
descentralização por delegação legal (gera a Administração Indireta), para ter a
descentralização por delegação negocial, através da concessão de serviços públicos.
O afastamento do Estado, porém, dessas atividades haveria de exigir a instituição de
órgãos reguladores (art. 21, XI, CRFB; e art. 177, §2º, III, CRFB). Pela natureza da função a
ser exercida, foram então criadas, sob a forma de autarquias, as denominadas agências
reguladoras, entidades com típica função de controle da prestação dos serviços públicos e
o exercício de atividades econômicas, bem como da própria atuação das pessoas privadas
que passaram a executá-los, inclusive impondo sua adequação aos fins colimados pelo
Governo e às estratégias econômicas e administrativas que inspiraram o processo de
desestatização.
Tal controle existe para evitar a prática do abuso de poder econômico (art. 173, §4º,
CRFB).
Desta forma, o sistema verdadeiro das agências reguladoras implica lhes seja
outorgada certa independência em relação ao governo no que tange a vários aspectos de sua
atuação. Se há interferência política do governo, o sistema perde sua pureza e vocação
(apesar de isso acontecer muito na prática).
Por fim, como a instituição de tais autarquias resulta de processo de descentralização
administrativa, e tendo em vista a autonomia conferida pela CRFB, é lícito aos Estados, DF e
Municípios, criar suas próprias agências autárquicas quando se tratar de serviço público de
sua respectiva competência, cuja execução tenha sido delegada a pessoas do setor privado.
No entanto, exige-se que entidade seja instituída por lei, na forma do art. 37, XIX, CRFB,
sendo nela definidas a organização, competências e devida função controladora.
Classificação
A instituição das agências reguladoras é justificada não apenas pela necessidade de
CPI – Aula 3 60
regulação dos serviços públicos concedidos aos particulares, mas também pela necessidade
de controle de determinadas atividades privadas relevantes, destacadas pela lei.
Portanto, a partir do tipo de atividade regulada, as agências reguladoras podem ser:
Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos (ANEEL, ANATEL,
ANTT);
Agência Reguladora de Atividades Econômicas em Sentido Estrito (ANP,
ANCINE).
Por outro lado, a partir de setores regulados, as agências podem ser classificadas em:
Agências Monossetoriais: Regulam, especificamente, uma atividade econômica
ou um serviço público (Esta é a regra – ANEEL, ANATEL, ANP);
Agências Plurissetoriais: Regulam, ao mesmo tempo, diversas atividades
econômicas e/ou serviços públicos (AGERGS; AGESC).
Convém mencionar que não existe uma “lei geral das agências reguladora”, tampouco,
sequer, uma definição legal de “agência reguladora”. Desta forma, apesar de não ser pacífico na
doutrina, Carvalhinho traz linhas gerais (prerrogativas especiais diversas das autarquias de
regime comum) que definem a autarquias de regime especial:
Obs.: Alguns doutrinadores (Celso Antônio Bandeira de Mello, Gustavo Binenbojm) afirmam
que tal fenômeno acarreta uma transferência do Poder Legiferante a órgãos ou pessoas da
Administração. Carvalhinho não concorda com tal tese, afirmando que trata-se apenas de um
poder de estabelecer regulamentação sobre matéria de ordem técnica, que, por ser extremamente
particularizada, não poderia estar disciplinada na lei, não havendo, assim, nenhuma ofensa ao
princípio da reserva legal contemplado em âmbito constitucional.
Obs.2: Não existe “reserva de regulamento” na técnica da deslegalização, pois nada impede
que o legislador, que é quem atribui liberdade normativa ampla por meio da lei deslegalizadora,
CPI – Aula 3 61
volte a tratar diretamente da matéria deslegalizada.
Obs.: A legislação aplica o termo “mandato”, porém mandato tem caráter político e resulta de
processo eletivo. Assim sendo, o termo certo é “investidura a termo”, ou seja, com prazo
determinado.
Obs.2: Em relação à caracterização dos dirigentes das agências reguladoras, existem duas
correntes:
Agentes Políticos (Marcos Juruena Souto): Estão inseridos na categoria dos agentes
políticos, já que, entre suas funções, está a de implementar políticas públicas.
Obs.3: Quem tem o Mandato Fixo nessas Agências Reguladoras: Lei 9.986 – Art. 5º, §
único. Este mandato será fixado na lei criadora da Agência.
Obs.4: Quarentena: art. 8º, Lei 9.986 (pode ser aumentado o prazo de 4 meses pela lei
criadora da Agência, mas não pode ser diminuído). Seus dirigentes sujeitam-se a uma
“quarentena” quando deixam seus cargos, ou seja, são proibidos, durante prazo certo, de exercer
atividades em empresas privadas que atuem no setor regulado pela agência em que trabalhavam
(A Lei 12.813/2013, em seu art. 6º, II, aumento para 6 meses o prazo de quarentena).
Obs.: Na ANEEL (Art. 3º, II, da Lei 9.427/96), a mudança da lei determinou que as decisões
técnicas sejam tomadas na Agência, sem interferência política, tendo independência para tais
escolhas. No entanto, as decisões políticas retornaram para o Governo com a alteração do art.
3º, II de tal lei, ao afirmar que a base no plano de outorgas e diretrizes devem ser aprovadas
pelo Poder Concedente. (Ex: Criação de Belo Monte – Quem decide se cria ou não é o
Governo, mas, após decidida sua criação, a parte técnica de como será criada, será feita
pela ANEEL).
De acordo com Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, note-se que a natureza atribuída
às agências reguladoras só pode ser desempenhada por pessoas jurídicas de direito público,
uma vez que envolvem amplo exercício de poder de polícia, edição de atos normativos,
solução administrativa de litígios entre as partes atuantes no setor regulado, e entre estas e
a própria agência, além de outras competências típicas do poder público.
Tomando por base a Lei da ANATEL (Lei 9.472), nota-se que, de acordo com o §2º do
art. 8º, a natureza de autarquia especial conferida à Agência é caracterizada por independência
administrativa, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo (para evitar
interferência política) e estabilidade de seus dirigentes e autonomia financeira.
Obs.: Em relação à ANEEL, a Lei 9.074, em seu art. 10, tirou o poder da ANEEL de declarar a
desapropriação, passando a apenas ter competência para promover a desapropriação. (O único
exemplo que pode declarar a Utilidade Pública na desapropriação é o DNIT).
Obs.: As Agências Reguladoras receberam em todas as suas leis um poder judicante: compor
administrativamente litígios, para tentar resolver o conflito antes de levar o problema ao
judiciário (por ter caráter mais técnico, que talvez o judiciário não entenda).
Obs.: Agências Reguladoras do Estado do RJ: Lei 4.555 – AGETRANS; Lei 4.556 –
AGENERSA.
ADIN 2310: Não é possível celetista na agência reguladora, por se tratar de um poder polícia.
Assim sendo, deverá haver concurso para as Agências Reguladoras, com Regime Estatutário
de Contratação.
Resumindo:
Autarquia de regime Agências Agências executivas
comum. reguladoras
Fiscalizam e normatizam Atuam por meio de contrato
(regulamentam, controlam e de gestão com o Poder
Desempenham atividade
fiscalizam) atividade Público para cumprimento
típica da Adm. Pública.
econômica, em regra, de metas estabelecidas pelo
serviço público delegado. mesmo.
CPI – Aula 3 68
Têm um regime especial, tal
Têm um regime jurídico
como: seus agentes detêm
Têm regimes jurídico de especial, principalmente no
prerrogativas que
direito público comum. que diz respeito a formação,
extrapolam ao regime
pois é por decreto*.
comum.
Ex: IBAMA, INSS, INCRA. Ex: ANATEL, ANAEL, Ex: INMETRO, SUDENE
ANP ANAC SUDAM
*O decreto presidencial cria uma mera designação, pois agência executiva é uma designação
(qualificação) que incide sobre autarquias e fundações públicas já existentes art. 51, § 1º da
lei 9649/98.
Ocorre que o STF, posteriormente, afirmou que a OAB – Ordem dos Advogados do
Brasil –, que também exerce a fiscalização de profissões, não integraria a Administração
Pública Indireta (ADIn 3.026/DF). A doutrina majoritária entende que a OAB é autarquia
profissional. Nesse sentido: DI PIETRO.
Parcela da doutrina sustenta que os conselhos profissionais são “entes públicos não
estatais”. A natureza pública decorre da possibilidade de exercício do poder de autoridade; o
caráter não estatal significa que os Conselhos não integram o Estado, uma vez que não se
encontram vinculados à Administração, recebem recursos da própria categoria profissional (e
não do orçamento) e seus dirigentes são nomeados pela categoria (e não pelo Chefe do
Executivo).
Por outro lado, a pessoa de direito privado é instituída pelo registro do ato
constitutivo, após aprovação do protocolo de intenções (art. 6º, II, Lei 11.107, c/c art.
45, CC).
1ª Corrente (Di Pietro, Marçal Justen Filho ): A associação pública é uma nova
entidade da Administração indireta distinta das entidades tradicionais
(autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
estatais).
Assim, para tais autores, com o art. 6º, §1º da Lei 11.107/05, e a nova
redação do art. 41, IV do CC, as associações públicas passam a integrar a
Administração Indireta das pessoas federativas que participam do consórcio
público.
Ademais, argumenta-se que o art. 37, XIX, da CRFB, ao tratar das entidades
integrantes da Administração Indireta, cita apenas as autarquias, empresas públicas,
sociedades de economia mista e as fundações públicas, o que gera, em princípio, a
necessidade de enquadramento da associação pública em uma daquelas quatro
categorias de sujeitos.
Por fim, a natureza autárquica da associação pública foi consagrada no art. 2o, I,
do Decreto 6.017/2007, que regulamenta a Lei 11.107/2005.
8
Independentemente da controvérsia, fato é que o art. 6º, §1º, Lei 11.107/05, foi claro ao estabelecer
expressamente que a Associação Pública (pessoa jurídica de direito público) integra a Administração
Pública Indireta.
CPI – Aula 3 77
Art. 2º Para os fins deste Decreto, consideram-se:
I - consórcio público: pessoa jurídica formada exclusivamente por entes da Federação, na forma da Lei
no 11.107, de 2005, para estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive a realização de
objetivos de interesse comum, constituída como associação pública, com personalidade jurídica de
direito público e natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito privado sem fins econômicos;
Em relação à reversão dos bens cedidos aos consórcios, o art. 11, §1o, da Lei
11.107/2005, ao tratar da retirada do Ente do consórcio público, dispõe que os bens
“somente serão revertidos ou retrocedidos no caso de expressa previsão no contrato de
consórcio público ou no instrumento de transferência ou de alienação”. Para Odete
Medauar, todavia, que a ausência de previsão expressa em instrumento jurídico sobre a
reversão não pode gerar o “perdimento” ou “confisco” dos bens por parte do consórcio,
uma vez que a propriedade dos bens permanece com o Ente consorciado.
Excepcionalmente, poderia haver irreversibilidade, quando plenamente comprovada a
necessidade do bem para a continuidade dos serviços públicos prestados pelo consórcio,
surgindo, nesse caso, o direito à indenização por parte do proprietário.
Ademais, segundo o STF (RE 220906/00), para a execução da ECT, deve ser observado
o regime de precatório por se tratar de "empresa pública que não exerce atividade econômica e
presta serviço público da competência da União Federal e por ela mantido", concluiu o STF.
Por interpretação do STF quanto ao art.12 do Decreto-Lei n. 509/69, a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos (ECT) tem status de Fazenda Pública, também no que concerne à quitação
de suas dívidas, que são pagas mediante o sistema constitucional de precatório-RPV.
Porém, cabe lembrar que a ECT é uma empresa pública, pessoa jurídica de direito
privado, sujeita ao regime jurídico de direito privado. Contudo, possui benefícios pertinentes às
autarquias, dentre eles merece realce a imunidade recíproca para impostos.
CPI – Aula 3 81
Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento do
Recurso Extraordinário (RE 601392) que discutia a imunidade da Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos (ECT) em relação ao recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISS) nas atividades exercidas pela empresa que não tenham características de
serviços postais.
Reconheceu-se que a imunidade tributária recíproca – nos termos do artigo 150, VI, “a”, da
Constituição Federal (que veda a cobrança de impostos sobre patrimônio, renda ou serviços entre os
entes federados) – alcança todas as atividades exercidas pelos Correios . O tema teve repercussão
geral reconhecida.
No recurso, a empresa pública questionava decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF-4) que reconheceu o direito de a Prefeitura de Curitiba (PR) tributar os Correios com o ISS nos
serviços elencados no item 95 da Lista anexa do Decreto-lei 56/1987. Esses serviços abrangem
cobranças e recebimentos por conta de terceiros, inclusive direitos autorais, protestos de títulos,
sustação de protestos, devolução de títulos pagos, manutenção de títulos vencidos, fornecimento de
posição de cobrança ou recebimento e outros serviços correlatos da cobrança ou recebimento.
Conforme argumento dos Correios, a decisão do TRF-4 contrariou o artigo 21, inciso X, da
Constituição Federal, segundo o qual compete à União manter o serviço postal e o correio aéreo
nacional. Sustentou ainda que o STF deveria reconhecer a “imunidade completa” de suas
atividades, pois todos os seus rendimentos estão condicionados à prestação de serviço público.
Entendeu-se, assim, que a imunidade deve alcançar todas as atividades desempenhadas pela
ECT, inclusive as atividades afins autorizadas pelo Ministério das Comunicações,
independentemente da sua natureza. Trata-se de uma empresa pública prestadora de serviços
públicos criada por lei para os fins do artigo 21, inciso X, da Constituição Federal e todas as suas
rendas ou lucratividade são revertidas para as “finalidades precípuas”.
Não se pode equiparar os Correios a empresas comuns em termos de concorrência porque não
concorre de forma igualitária com estas. Primeiro porque precisa contratar seus bens e serviços
mediante a Lei 8.666/93, que engessa sobremaneira a administração pública. Assim, não há nenhuma
disparidade de armas no que tange ao reconhecimento dessa imunidade fiscal relativamente aos
Correios.
No INFO 915, o STF, adotou, para efeito criminal (art. 327, §1º, CP) lição de Di
Pietro, a respeito das Organizações Sociais (OS) serem consideradas “entidades
paraestatais”:
“Exatamente por atuarem ao lado do Estado e terem com ele algum tipo de vínculo jurídico,
recebem a denominação de entidades paraestatais; nessa expressão podem ser incluídas
todas as entidades integrantes do chamado terceiro setor, o que abrange as declaradas de
utilidade pública, as que recebem certificado de fins filantrópicos, os serviços sociais
autônomos (como Sesi, Sesc, Senai), os entes de apoio, as organizações sociais e as
organizações de sociedade civil de interesse público.”
No mesmo sentido, Luis Régis Prado:
“Entidades paraestatais são pessoas jurídicas de direito privado, instituídas por lei, ‘para
realização de atividades, obras, serviços de interesse coletivo, sob normas e controle do
Estado’. Inserem-se como modalidades de entidades paraestatais as empresas públicas, as
sociedades de economia mista, os serviços sociais autônomos e modernamente o que se
denomina ‘terceiro setor’ (entes da sociedade civil de fins públicos e não lucrativos).”
A respeito da conceituação de paraestatal descrita no art. 84, §1º, Lei 8.666/93, o STF
entendeu que este apenas repercute no âmbito administrativo, mas não constitui parâmetro
interpretativo para os crimes definidos no CP, uma vez que o legislador fez questão de
fornecer, no Código Penal, um conceito mais amplo do que o utiliza o Direito
Administrativo.
“Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins desta Lei, aquele que exerce, mesmo
que transitoriamente ou sem remuneração, cargo, função ou emprego público.
§ 1º Equipara-se a servidor público, para os fins desta Lei, quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, assim consideradas, além das fundações,
empresas públicas e sociedades de economia mista, as demais entidades sob controle,
CPI – Aula 3 83
direto ou indireto, do Poder Público.”
Composição do Capital:
CPI – Aula 3 84
Empresas Públicas – Apenas as Pessoas Administrativas participam da formação
do capital, seja qual for seu nível federativo (apenas dinheiro público).
Destaque-se que qualquer pessoa administrativa, pública ou privada
(Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno, e entidades da Administração
Indireta) pode participar da formação do capital da empresa pública, desde que
a maioria do capital votante permaneça de propriedade do Ente Público,
conforme art. 5º, DL 900/69.
Art . 5º Desde que a maioria do capital votante permaneça de propriedade da União, será admitida,
no capital da Emprêsa Pública (artigo 5º inciso II, do Decreto-lei número 200, de 25 de fevereiro de
1967), a participação de outras pessoas jurídicas de direito público interno bem como de entidades da
Administração Indireta da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios.
Em igual sentido é o art. 3º, § único, Lei 13.303:
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça em propriedade da União, do
Estado, do Distrito Federal ou do Município, será admitida, no capital da empresa pública, a
participação de outras pessoas jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da
administração indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
É possível, por exemplo, que uma sociedade de economia mista, mesmo que
possua parcela do seu capital com caráter privado, participe do capital de empresa
pública.
Porém, também é possível a criação de empresas públicas unipessoais, ou
seja, com um único sócio, sendo uma exceção à regra geral do Direito Societário, que
exige a presença de 2 ou mais sócios para a instituição da sociedade, ainda que seja a
unipessoalidade temporária (art. 206, I, d, Lei 6.404).
A unipessoalidade permanente também é possível para as subsidiárias.
Forma Societária:
Empresa Pública – Podem ser revestidas por qualquer forma societária admitida
em direito (art. 5º, II, DL 200/67, e art. 77, CE/RJ).
Sociedade de Economia Mista – São sociedades anônimas (art. 5º, III, DL 200/67,
e art. 3º, Lei 13.303), e tal forma deverá ser observada por todos os Entes da
Federação, na forma do art. 235, Lei 6.404.
Obs.: Finalidade Lucrativa: Alguns autores (Marcos Juruena) apontam, ainda, uma
quarta diferença, qual seja, enquanto a empresa pública não exige finalidade lucrativa, a
sociedade de economia mista deve possuir necessariamente finalidade lucrativa, pois,
nesse último caso, o Estado busca investidores e parceiros no mercado (capital privado),
devendo remunerar adequadamente a expectativa de retorno do investimento feito pelo
particular.
Obs.: O DL 200/67 (art. 5º, I e II), estabelece que ambas são criadas por lei. Da mesma forma, a
CRFB, antes da EC 19/98, determinava que somente por lei específica poderiam ser criadas as
mesmas entidades. No entanto, tal impropriedade se adequou à realidade jurídica dessas pessoas
administrativas com a EC 19/98, passando a seguir a exigência constitucional relativa ao
princípio da autorização legislativa, o que foi seguido pela Lei 13.303 (Estatuto da Estatal).
Obs.2: Ressalte-se ainda que, de acordo com o STF, mesmo quando o Poder Público passe, por
qualquer fato jurídico, a deter a maioria do capital da empresa, esta não poderá ser considerada
como sociedade de economia mista, porque lhe faltará elemento indispensável a essa
configuração: a autorização legal (art. 37, XIX e XX, CRFB).
Obs.3: O STF entende que não é válida a exigência de prévia aprovação do Poder
Legislativo para a nomeação de dirigentes de EP ou SEM pelo chefe do Poder Executivo,
diferentemente do que ocorre quando se trata de autarquias e fundações públicas, para as quais a
imposição de tal condição é plenamente constitucional (ADIMC 2.225/SC; ADI 1.642/MG).
Obs.: Uma parcela minoritária da doutrina (Sérgio de Andréa Ferreira e Carlos Pinto Coelho
Mota) entende que as subsidiárias referidas no inciso XX do art. 37 da CRFB não podem ser
tidas como S.E.M., já que estas já se incluiriam no inciso XIX. Já Carvalhinho, de maneira
contrária, argumenta que o fato de serem subsidiárias indica apenas que não são controladas
diretamente por entidade política, de forma que, dentro dessa categoria, podem encontrar-se não
somente sociedades de economia mista e empresas públicas de segundo grau, como outras
entidades que, sujeitas a idêntico controle, se configuram como meras sociedades empresariais.
9
Quando a CRFB, no art. 173 e 175, se refere à “exploração direta pelo Estado” quer dizer por meio de
sua Administração Direta e ou Indireta, englobando todo o 1º Setor do Estado Gerencial. A
“exploração indireta”, por sua vez, se dá a partir de concessões ou permissões à iniciativa privada.
10
De acordo com o STF (ADPF 46 – Eros Graus, em referência à lição de Rui Barbosa), há diferença
entre privilégio estatal e monopólio econômico. Monopólio é de atividade econômica em sentido
estrito, empreendida por agentes econômicos privados. A exclusividade da prestação dos serviços
públicos é expressão de uma situação de privilégio. Monopólio e privilégio são distintos entre si. É
imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestação dos serviços públicos, do
regime de monopólio sob o qual, algumas vezes, a exploração de atividade econômica em sentido estrito
é empreendida pelo Estado. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de
exclusividade na prestação dos serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal.
Os regimes jurídicos sob os quais em regra são prestados os serviços públicos importam em que essa
atividade seja desenvolvida sob privilégio, inclusive, em regra, o da exclusividade. (Hely Lopes Meirelles
distingue de outra forma: Monopólio é a detenção exclusiva do bem ou da atividade por uma só
pessoa; privilégio é a delegação do direito de exploração do bem ou da atividade monopolizada a um ou
alguns interessados. Só pode dar privilégio quem tem o monopólio. O monopólio é sempre exclusivo e
excludente dos demais interessados; o privilégio pode ser exclusivo ou não).
CPI – Aula 3 89
Obs.: Segundo alguns autores (Marcelo Alexandrino), Estatal exploradora de atividade
econômica está no art. 173 e art. 177, e sua atividade é regida predominantemente pelo
direito privado. Já a Estatal prestadora de serviço público está no art. 175, sendo
sua atividade regida predominantemente pelo direito público. No entanto, segundo o autor, o
controle administrativo é o mesmo.
Obs.: Falta da expressão “serviço público”: Hely Lopes e Celso Antônio criticam o fato de o
legislador (Art. 5º do DL 200/67 e Art. 173, §1º da CRFB) ter se referido apenas à exploração
de atividade econômica, já que também pode ter o objetivo de prestação de serviços públicos.
Por outro lado, Carvalhinho, Eros Grau e Jessé Torres consideram que serviço público estaria
dentro de atividade econômica, ou seja, dentro do gênero “atividade econômica” em sentido
amplo, teríamos, como espécies, alguns serviços públicos e as atividades econômicas em
sentido estrito. Argumentam que atividade econômica significa a utilização de recursos
visando à satisfação de necessidades, ao passo que serviços públicos representam atividades
com utilização de recursos para a satisfação de necessidades públicas (Mas isto não é
necessariamente a explicação para que as estatais prestem serviço público, pois irá gerar um
outro problema conforme veremos abaixo).
Obs.: Amplitude do Art. 173, §1º: A redação do art. 173, §1º, da CRBF, imposta pela
EC/98 refere-se à exploração de atividade econômica de produção ou comercialização de bens
ou prestação de serviços. Poder-se-ia supor, em princípio, que tais serviços sejam públicos ou
privados; mas, examinando-se os incisos do referido artigo, é possível fazer a objeção de que a
futura lei (já foi editada – Lei 13.303/2016 – Em âmbito Federal, o Decreto 8.945/2016 a
regulamenta), disciplinadora do estatuto jurídico das entidades, deverá mantê-las sujeitas ao
regime aplicável às empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,
comerciais, trabalhista e tributárias. Sendo assim, persiste a dúvida sobre se o art. 173, §1º, da
CRFB, contempla todas as E.P e SEM ou se incide apenas sobre aquelas que exploram atividade
econômica e prestam serviços de natureza privada, com o que estariam de fora as que executam
serviços públicos típicos.
Desta forma, segundo a posição majoritária (Di Pietro, Celso Antônio, Carvalho
Filho), considera-se que o Art. 173, §1º apenas aplica-se à prestadora de atividade
econômica, e não à prestadora de serviço público. Já para a posição minoritária (Eros Grau e
Jessé Torres) aplica-se o art. 173, §1º, a toda e qualquer empresa estatal, isto, pois, conforme
afirma Eros Grau, consideram que o serviço público estaria dentro de atividade econômica, ou
seja, é espécie do gênero atividade.
Obs.2: Competência para editar a Lei referida no art. 173, §1º: De acordo com Toshio
Mukai, a referida lei prevista no art. 173, §1º da CRFB deverá ser editada em cada pessoa
federativa, disciplinando as suas próprias estatais, e que a disciplina visaria a abranger apenas
as entidades que exploram atividade econômica.
No entanto, para Carvalhinho, o estatuto das referidas entidades deverá processar-se por
lei federal, que estabelecerá as linhas gerais que devem nortear seu regime jurídico, cabendo às
leis regionais e locais instituir a disciplina suplementar (foi o que ocorreu com a Lei
13.303/2016 – com exceção das hipóteses do art. 1º, §1º e §3º, Lei 13.303 – Portanto, a Lei
13.303 tem APLICAÇÃO NACIONAL). Complementa ainda que a referida lei federal deverá
definir eventuais aspectos distintivos entre as pessoas que prestam serviços públicos e as que
exploram atividades eminentemente econômicas (a lei 13.303/2016 não fez tal diferenciação).
CPI – Aula 3 90
Sustenta tal posição com o argumento de que tais entidades fazem parte da administração
indireta, e, assim sendo, sofrem a incidência de princípios específicos (art. 37), devendo haver
uniformização no sistema administrativo, tal como ocorre com as contratações e licitações
(art. 22, XXVII), e não apenas buscando os interesses locais e regionais.
Obs.3: Programa Nacional de Desestatização (Lei 9.491/97): Nas últimas décadas o Estado
veio praticando excessiva intervenção na atividade econômica (em sentido estrito), provocando
o nascimento de inúmeras pessoas onerosas, deficitárias e inoperantes, para atuar em área que
não lhe seria adequada. Assim sendo, a necessidade de conter os gastos públicos causou a
criação da Lei 9.491, de modo que tais empresas têm passado à iniciativa privada (privatização),
para que o Estado se mova mais no sentido das atividades eminentemente sociais.
Obs.: O art. 22, XXVII da CRFB11, prevê lei geral, de competência privativa da União, para
disciplinar normas gerais de contratações e licitações pertinentes a todas as pessoas federativas.
Vale lembrar que a EC 19/98 modificou tal artigo em relação às EP e SEM, no entanto, tal
modificação não afastou a competência da União para editar as normas gerais, mas apenas
possibilitou que outra lei geral, também de competência da União, instituísse a disciplina
específica para tais entidades (tal disciplina se deu com a Lei 13.303/2016).
11
Carvalhinho ainda faz uma observação, de que tal inciso deveria constar no artigo 24 da CRFB, ou
seja, como competência concorrente, de modo que coubesse à União a edição de normas gerais, e às
demais pessoas federativas a regulação suplementar. Certo é que esta competência jamais poderia ser
comum.
CPI – Aula 3 92
Regime de Pessoal: Será o Regime Trabalhista (da CLT), próprio das pessoas
jurídicas de direito privado (integrantes ou não da Administração Pública), com
vínculo jurídico de natureza contratual entre o empregado e a pessoa administrativa –
art. 173, §1º, II, CRFB.
Contudo, por se enquadrarem na categoria dos agentes públicos, deverá se
submeter à regra do Concurso Público (Art. 37, II, CRFB), mas não incidirão as
regras protetivas especiais dos servidores público, como a estabilidade. Seu Regime
Previdenciário é o RGPS.
A estes também são aplicadas as regras de proibição de acumulação com cargos
ou funções públicas (art. 37, XVII, CRFB); submissão ao teto remuneratório, salvo os
empregados das estatais não dependentes do orçamento (art. 37, §9º, CRFB, e art. 2º,
III, LRF); são equiparados a funcionários públicos para fins penais (art. 327, §1º, CP);
e também são considerados agentes públicos para os fins de incidência de sanções de
improbidade administrativa (art. 1º e 2º, Lei 8.429/92).
Sendo contratual o regime, os litígios entre os empregados e as entidades,
decorrentes das relações de trabalho, serão processados e julgados na Justiça do
Trabalho (art. 114 CRFB).
Segundo a Súmula 455 do TST, não se aplica a regra do art. 37, XIII, CRFB,
às S.E.M., pois, ao admitir empregados sob o regime da CLT, equipara-se a
empregador privado, conforme art. 173, §1º, II, CRFB.
Obs.: Celetista Concursado não tem demissão imotivada, uma vez que, se tem impessoalidade e
moralidade para entrar, deverá ter impessoalidade e moralidade para sair (STF – RExt
589.998/PI). Ele poderá ser mandado embora, por não ter estabilidade (art. 41, caput, CRFB),
mas apenas poderá ser demissão motivada.
Hely Lopes (Posição menos aceitável hoje em dia ): Afirma que o bem
CPI – Aula 3 93
da empresa estatal é um bem público, com destinação especial, pois a
estatal, apesar de ser pessoa jurídica de direito privado, ela se encontra
na Administração Pública, ainda que indireta (é híbrida). Desta forma,
todos seus bens seriam impenhoráveis. No entanto, tal sustentação fere
o art. 98, segunda parte, do CC, o qual afirma que os bens da estatal são
bens privados.
Em relação a esse tema, houve o caso concreto de quando Cesar Maia, então prefeito do Rio de
Janeiro, tentou levar o Rio Cidade para a região portuária do Rio de Janeiro, e não conseguiu. Isto, pois
ele resolveu desapropriar os bens da Sociedade de Economia Mista Federal Docas S/A, para fazer a
reformulação, e quando questionado sobre a possibilidade de o Município poder desapropriar bem
da União, ele argumentou que não desapropriou bem da União, mas da SEM, que é um bem privado.
No entanto, ele se esqueceu de que a Lei de Desapropriação (DL 3.365/41), em seu art. 2º, §3º, traz o
CPI – Aula 3 94
mandamento de que o Município só pode desapropriar ações e bens de estatal federal, se, por decreto,
o presidente concordar, e o prefeito não havia pedido autorização do Presidente da República. Assim
sendo, tal desapropriação foi considerada ilegal.
Mas vale notar que a resposta inicial que ele deu foi perfeita, pois não desapropriou bens da
União, mas sim da SEM, que é uma pessoa jurídica de direito privado, cujos bens são privados.
Usucapião: Os bens privados das empresas estatais podem ser adquiridos por
usucapião, não sendo aplicável a imprescritibilidade típica dos bens
públicos (isso porque, de acordo com o art. 98, CC, prevalece se tratar de bem
privado).
A possibilidade de aquisição por usucapião de bens independe da
atividade desenvolvida pela empresa (serviço público ou atividade econômica).
Assim, ao contrário do que foi afirmado em relação à penhora, os bens, ainda
que utilizados para a prestação de serviços públicos, podem ser adquiridos por
usucapião, pois o requisito do tempo, necessário à consumação da prescrição
aquisitiva, demonstra que o bem não é imprescindível à continuidade dos
serviços (STJ – REsp 647.357/MG).
Obs.: Vale notar que, no caso de Dano Ambiental, todas estatais responderão objetivamente,
independente da atividade que prestem, conforme dispõe a Lei 6.938/81 (define a política
nacional do meio ambiente - PNMA), em seu §1º do art. 14, que define a responsabilidade
objetiva para o poluidor. Tal dispositivo deve ser combinado com o art. 3º, IV, da mesma lei,
que define o poluidor como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. A
CRFB também dispõe sobre tal tema no art. 225, §3º, em relação ao dano ambiental, e no art.
21, XXIII, d, em relação aos danos nucleares.
Tal responsabilidade se fundamenta nos argumentos de que a Estatal é criada pelo poder
público, integra a administração indireta, é mantida por investimentos governamentais, o
governo nomeia os seus dirigentes, o governo forma sua diretoria.
Assim sendo, Gasparini afirma que o Estado apenas pode ser responsável
subsidiariamente pelas atividades que lhe são típicas. Assim sendo, conforme visto, atividade
econômica (em sentido estrito) não é atividade típica do estado, pois apenas o exercem em grau
de exceção. Desta forma, Gasparini foi o primeiro autor a afirmar que Estatal prestadora de
serviço público terá responsabilidade subsidiária, por prestar atividade típica do estado (está
como preposto do estado – assim sendo, responsabiliza-se o estado por ter escolhido mal seu
preposto). Já atividade econômica, o estado não é competente para realiza-la, e mesmo que o
faça em grau de exceção, não haveria responsabilidade subsidiária do Estado.
Obs.: Para Alexandre Aragão, Toshio Mukai e antigos julgados do STJ (RMS 17.949/DF), o
controle pelo tribunal de contas depende da atividade desenvolvida pela empresa estatal. Em
relação às estatais prestadoras de serviços públicos, o controle pelo tribunal de contas é exercido
sem maiores restrições.
Falência da Empresa Estatal: Tal tema sempre foi polêmico, pois antes, de
acordo com o art. 242 da Lei de S/A, protegia-se a sociedade de economia mista
da falência, sendo que a doutrina e jurisprudência da época estendia tal proteção
às empresas públicas. No entanto, tal artigo foi revogado em 2001.
Com isso, a doutrina voltou a diferenciar as estatais prestadoras de
serviço público das que exploram atividade econômica, argumentando-se que as
estatais prestadoras de serviço público, seguindo o princípio da continuidade do
serviço público, e por não ser exigido a esta o mesmo tratamento para a
iniciativa privada (não está englobada pelo art. 173), não se sujeitariam à
falência.
Assim sendo, começou a prevalecer a tese de que apenas a estatal que
presta atividade econômica poderia falir, por não estar mais protegida pelo art.
242 da Lei de S/A, e por estar no art. 173 da CRFB, sujeitando-se ao regime
jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto às questões comerciais
(empresariais).
No entanto, em 2005, com a Lei de Falência (Lei 11.101), em seu art.
2º, I, determinou que tal lei não se aplica às EP e SEM. Note-se que tal lei não
diferenciou estatal prestadora de serviço público ou de atividade
econômica, e como o legislador não faz distinção, o interprete não pode
fazê-la.
Assim sendo, de acordo com a lei 11.101 (Nova Lei de Falência), toda e
qualquer estatal, seja lá qual atividade preste, foi protegida da falência. No
entanto, Celso Antônio e Carvalhinho afirmam que tal artigo é inconstitucional,
de modo que, ao afastar as estatais prestadoras de atividade econômica da
falência, estaria ferindo o art. 173, §1º, II, da CRFB. Mas para concurso, o
melhor posicionamento a ser adotado é em favor da lei 11.101.
Portanto, surgiram 3 correntes:
Até antes da EC 19/98, o referido artigo apenas previa uma única lei de licitação para
todo o 1º Setor do Estado gerencial brasileiro, conforme também ficou estabelecido no art. 1º, §
único da lei 8.666.
Já após a EC 19/98, a primeira interpretação (Juruena) feita ao art. 22, XXVII, foi de
que a CRFB, atualmente, prevê 2 leis de licitação para o país, sendo uma para a Administração
Direta Autárquica e Fundacional, e outra para as Empresas Estatais.
CPI – Aula 3 100
No entanto, Toshio Mukai divergiu de tal interpretação, afirmando que não estaria
completamente correta tal divisão entre pessoas jurídica de direito público para um lado e
pessoas de direito privado para o outro. Segundo ele, quando o art. 22, XXVII, prevê o
tratamento diferenciado às empresas públicas e sociedades de economia mista, ele faz referência
ao art. 173, §1º, III. Assim sendo, como o tratamento diferenciado está baseado no art. 173, e
tendo em vista que este dispositivo, de acordo com a posição esmagadora, só vale para a Estatal
que presta atividade econômica, a regra deverá ser, portanto, de um lado pessoas jurídicas
de direito público, mais estatal prestadora de serviço público de um lado (continuando na
lei 8.666), e do outro lado as estatais prestadoras de atividade econômica, que terão, em
seu estatuto, regras mais simples de licitação, para facilitar que esta possa competir com o
mercado.
Assim sendo, a lei de licitação que será nova e mais flexível será apenas para a empresa
estatal prestadora de atividade econômica, pois só esta está no art. 173. Celso Antônio concorda
com tal entendimento, e este é o entendimento dominante hoje, mantendo a estatal que presta
serviço público na lei 8.666.
Vale ainda notar que, o estatuto da estatal ainda não foi feito (SAIU EM JUNHO DE
2016 – Lei 13.303). Assim sendo a lei que está regulamentando as licitações das estatais
prestadoras de atividade econômica, de acordo com Celso Antônio, Di Pietro, e com chancela
do Tribunal de Contas da União, será a lei 8.666 por completo, até que venha a nascer o estatuto
da estatal (Ver aula de RDC, sobre a Lei 12.462/2011).
Por outro lado, Jessé Torres e Marcos Juruena entendem que a lei 8.666 não teria sido
recepcionada pela EC 19/98 apenas no que diz respeito às estatais prestadoras de atividade
econômica. E assim sendo, para estes 2 autores, terão suas licitações pautadas em seus
regimentos internos, desde que esse respeite os princípios da administração.
Desta forma, tomando-se por base tal posicionamento, a Petrobras não querendo esperar
o estatuto da estatal, decidiu enviar seu regulamento interno para aprovação da presidência (não
foi para seu conselho administrativo). E, assim sendo, o Presidente da República aprovou o
regulamento da Petrobras pelo Decreto 2.745/98, que aprova o regulamento do processo
licitatório simplificado da Petrobras. Note-se que, apesar de a CRFB realmente querer um
processo simplificado para tais estatais, a mesma requereu isso via lei, e assim sendo, o
Decreto da Petrobras é independente, autônomo e, consequentemente, inconstitucional, já que
após 88 Decreto independente e autônomo não possui mais amparo constitucional, não podendo
suprir lacuna legal por Decreto (poderia por Medida Provisória).
Por fim, a Petrobras ainda sustenta a validade de seu Decreto (2.745), argumentando
que o referido Decreto não é autônomo e independente, mas regulamentar ao art. 67 da lei
9.478/97 (Lei da ANP) (Este artigo foi revogado pela Lei 13.303, que regula o estatuto
jurídico das estatais – Me parece que não há mais base legal para que se mantenha o
Processo licitatório diferenciado da Petrobrás – Deve se submeter à Lei 13.303/2016), não
tendo a intenção de fazer o Decreto substituir o estatuto da estatal, sendo, portanto, apenas um
CPI – Aula 3 101
Decreto Regulamentar. No entanto, o professor descarta tal argumentação, mantendo tal
Decreto como inconstitucional, pois o art. 67 não trouxe qualquer característica desse processo
simplificado, e assim sendo, o art. 67 é inconstitucional, pois não pode o legislativo delegar
atribuição de legislação ao executivo (salvo nos temas admitidos às agências reguladoras, mas
não é este caso), ou seja, não poderia a Petrobras ou Presidente da República legislar e criar
regras sobre o processo simplificado, pois não é sua competência, mas do legislativo. Assim
sendo, é um Decreto independente, autônomo, e inconstitucional.
Obs.2: Apesar de a regra ser o não cabimento de Mandado de Segurança contra ato de gestão
comercial praticado por administrador de EP e SEM, conforme o art. 1º, §2º, Lei 12.016, caberá
Mandado de Segurança contra os atos praticados por tais entidades ao promover licitação,
conforme Súmula 333, STJ.
Sustentam alguns autores (Di Pietro, Celso Antônio, Gasparini) que o nivelamento do
regime tributário só é aplicável quando se trata de entidades que exploram atividade econômica
em sentido estrito, podendo haver privilégios em favor daquelas que executam atividades
econômicas sob a forma de serviços públicos, uma vez que não há concorrência com os
particulares, e, por isso, não há risco de violação ao tratamento isonômico que deve nortear as
pessoas que atuam na economia.
Já para Carvalhinho e Hely Lopes, todas as estatais, como entidades paraestatais que
são, devem sujeitar-se ao mesmo regime tributário aplicável às empresas privadas , porque como
já visto, todas exercem, em sentido amplo, atividades econômicas, além de o art. 173, §2º, não
ter feito tal diferenciação. Assim sendo, não importa o objeto da estatal, pois, na medida
em que o Estado as institui, cobrindo-lhes com as vestes de direito privado, deve arcar com
os efeitos tributários normais incidentes sobre as demais empresas privadas. Portanto, para
tais autores, a imunidade e os privilégios fiscais só se justificam para as pessoas de direito
público, estas sim representando o próprio Estado. Por fim, argumenta-se que o Estado possui
diversos outros mecanismos à sua disposição suscetíveis da incidência desses privilégios
(Administração Direta, Autarquias e Fundações Públicas).
Obs.: O STF tem reconhecido a imunidade tributária do art. 150, VI, a, CRFB,
às estatais de serviços públicos e às estatais que exercem atividades
monopolizadas, uma vez que não se aplica, nessas hipóteses, o art. 173, CRFB.
Neste sentido, a imunidade tributária foi admitida pelo STF à ECT (INFO 443,
763, 767 e 769), à INFRAERO (INFO 475), CODESP (INFO 597).
Obs. sobre Casos Concretos: O STF decidiu que a ECT (RE 407099/04 e Informativos 353,
390 e 443 STF) e a INFRAERO (Informativo 475 STF) possuem imunidade tributária (art.
150, VI, a, CRFB), e são estatais que prestam serviços públicos. No entanto, são precedentes
isolados, e ainda é cedo generalizar dizendo que estatal prestadora de serviços públicos possui
privilégios fiscais, e as de atividade econômica não. Isto, pois foi negada imunidade tributária à
ELETRONORTE e a Casa da Moeda, e não se sabe dizer se estas prestam atividade econômica
ou serviço público.
Sobre o conflito entre a ECT e o Estado, tendo por objeto a imunidade tributária
relativa ao IPVA (Ação Civil Originária - ACO nº 765-RJ), conforme explica o
Carvalhinho, fundou-se a decisão de haver um conflito de natureza federativa,
fato que leva o processamento e julgamento do feito ao STF em sua
competência originária, por força do art. 102, I, “f”, da CRFB, no fato de que o
DL 509/69 (art. 12) equiparou a citada entidade à Fazenda Pública, devendo
ser-lhe estendidos os respectivos privilégios (Informativo 390 STF).
Carvalhinho discorda disso, pois entende que litígios tributários entre pessoas
administrativas privadas e entes públicos não tem qualificação de conflito
federativo, e devem ser resolvidos na Justiça de primeiro grau, e igualmente não
caberia para tais entidades o privilégio da imunidade recíproca (art. 150, VI, a,
CRFB).