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A

A tomada do poder pela Aliança Liberal

1. O tenentismo e a Revolução de 1930:


os cálculos estratégicos ea trama dos fatos

Ao percorrermos a literatura sobre o tenentismo e a Revolução de 1930


(vasta, como se sabe) deparamo-nos com divergèncias de interpretação cuja
persistência sugere ao menos duas certezas, a saber: a importância decisiva
da ruprura institucional de outubro de 1930 e a ambigüidade de seu signi-
ficado histórico. Tais divergências foram se acumulando na medida em que
confronto de e de interesses dos
ao opinióes protagonistas e observadores
dos acontecimentos, sobrepuseram-se, ao longo das décadas seguintes. as
discrepâncias de seus intérpretes, reativando periodicamente um debate
onde o estorço de compreensão do passado nem sempre predomina sobre a
vontade de demonstrar teses do presente. Como aquilo que e presente num
momento, logo despenca no passado, as controvérsias hermenèuticas foram
se acumulando e perdendo de vista seu objetivo inicial. Exemplo caracteris-
tico o deslocamento do centro temático da discussão
neste sentido foi para
a avaliação do getulismo, numa anacrónica tentativa de explicar o que veio
antes pelo que vei0
depois.
Seria demasiado fácil (e certamente injusto) responsabilizar os his-
toriadores pelas dificuldades
ainda hoje persistentes na avaliação do sig
nificado histórico do levante organizado pela Aliança Liberal. As discre-
påncias e controvérsias se iniciaram, à esquerda como à direita. antes
mesmo que se desencadeasse o movimento insurrecional. A direita por

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propósito qual do
perteitamente objetivas: se há zação anti-oligárquica dos anos 20. Divergência relativamente aos ex-ca-
ponto um a as
razões
unanimes, éo caráter decisivo da Cisão interoligárqui- maradas da Coluna, convergéncia relativamente ao movimento operário e
interpretaçõessão
abalo final República
na dita do café (mais exato se- a seu partido de vanguarda, o PCB. Este último, através das páginas de A
ca que provocou o
da vitória do mare- Nação, marcadas pelo ardoroso, mas original bolchevismo de Otávio
ria dizer dos donos do cafë). Com a única exceção
chal Hermes da Foncesa em 1910, valera, ao longo de três décadas e Brandão, investira suas esperanças na aliança com o tenentismo revolucio-
meia (de Prudente de Morais a Washington Luís) o acordo hegemônico nário. Em 1927-1928, a perspectiva de que esta aliança viesse a constituir
entre os circulos de São Paulo e de Minas
dirigentes Gerais
não somen- a principal linha de força do combate antioligárquico configurava uma
te para decidir quem ocuparia a presidència, mas também para garantir possibilidade objetiva que merece ser examinada tanto por suas conseqüen-
maioria governista no Congresso. Salvo na campanha presidencial de cias de curto prazo sobre as articulações e alianças dos diversos componen-
de Ar- res da esquerda, quanto por sua significação histórica como uma das gran-
1921, quando Nilo Peçanha apresentou sua candidatura contra a
tur Bernardes, sendo por este ampla e previsivelmente derrotado, nas des (e poucas) ocasióes históricas perdidas para imprimir um rumo nacio-
demais eleições presidenciais a vitória do candidato da aliança do café nal e democrático à evolução da sociedade brasileira.
foi obtida praticamente sem disputa (candidatura única, ou candidatu- Nunca será demais repetir, neste sentido, contra o fatalismo vulgar
ra meramente "pro forma' da oposição). A eleição do marechal Hermes mente conformista para o qual o conhecimento histórico se esgota na tau-
em 1910 constituía, portanto, o único
precedente histórico de que dis- tologia 'um fato é um fato', que não se pode avaliar o significado de um
a Aliança Liberal em sua tentativa de romper o statu quo políti- fato sem reconstruir a situação em que ele ocorreu. Quando nos referimos
punha
co-eleitorai da República Velha. Não o conseguiu no terreno viciado das a um fato histórico, queremos dizer que contrariamente à banalidade dos
urnas: embora pela última vez, a 'máquina eleitoral da aliança do café fatos corriqueiros e repetitivos, cuja ocorrência ou não-ocorrência não afe-
fabricou o candidato vitorioso. Conseguiu-o, meses mais tarde, pela via ta decisivamente o curso dos acontecimentos, estamos diante de algo
armada. Foi esta a cisão mais frontal da oligarquia agrária brasileira em novo, de uma mudança de situação, em que determinada possibilidade de
toda sua história, tanto pela natureza do enfrentamento (a guerra civil) ruptura logrou se impor na cena histórica. Compreender o significado
da cisão: Império desta ruptura é avaliar o que teria ocorrido se ela não tivesse se realizado.
quanto pela profundidade o era uma superestrutura
politica herdada do processo de Independência, ao passo que a Repúbli- Seja o exemplo, mais recente historicamente, do golpe reacionário de
a Velha constituía a forma jurídica de uma aliança hegemônica cons 1964 e da ditadura militar por ele instaurada. Compreender o que signi-
truída pe_a por peça pelos círculos dirigentes da oligarquia. Sua derru- ficou para nosso país implica em avaliar o que poderia ter sido nossa his-
bada golpeou portanto diretamente uma parcela da classe dominante, tória se o golpe tivesse fracassado. Só avaliamos os males que uma desgra-
aquela que desde 1894 exercia o poder. Compreende-se assim a ambi- ça nos trouxe se tivermos presente ao que poderia ter sido nos-
espírito o
güidade da chamada revolução constitucionalista' de 1932 em São Pau- sa existência coletiva se a tivéssemos evitado. O fato histórico põe drama-
lo. De um ado, exigia uma nova Constituição: tal era sua face ticamente em questão o destino de uma coletividade. Mas como o inte
democrá-
tica explícita. De outro, mobilizava a nostalgia do regime derrubado em resse do drama não se reduz a seu desfecho, já que a dramaticidade da si-
tuação consiste exatamente na incerteza do desfecho, isto é, em que entre
1930: tal era sua face reacionária oculta. Globalmente, na
exprimiu, for- os desfechos possiveis estão tanto o melhor quanto o pior, o historiador
ma dramática de uma nova guerra civil, o caráter objetivo das discrepân-
cias e controvérsias que dividiram a direita a propósito do significado deve, da mesma maneira que o autor dramático, transportar-se intelectu-
histórico da revolução de 1930. almente para o tenso momento em que desfechos opostos ainda eram pos-
Na esquerda, a recusa de Prestes em participar do levante da Aliança síveis. Só assim mostrará o que estava em jogo em determinada situação e
Liberal e sua conseqüente ruptura com o tenentismo concentrou drama- o
que significou o desfecho de determinado processo.
ticamente em torno da decisão pessoal do herói nacional-popular uma Para esquerda brasileira e muito particularmente para a esquerda mili-
a

divergéncia enraizada na própria composição social da heteróclita mobili- tar brasileira, o desfecho de outubro de 1930 encerrou o drama iniciado em

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ultino ato OCorreria em novembra
cujo
1922, mas desencadeou tragedia
a Programa anódino e métodos ambíguos, poderia Prestes acrescentar.
acontecimentos que conduziu ao destecho dramático
de 1935. Na linha de lPrestes em comandar o levante da Alianre
O ambiente político daquele momento, deprimido pela derrota eleitoral,
a recusa de
de outubro de 1930, necessitava de algo mais do que meras advertências para recobrar ánimo e
de maiores consequencias para a tragédia
Liberal constituiu o tato político readquirir perspectivas. Tanto mais que Borges de Medeiros, o principal
ele seria o ator principal. Mas de imediato (isto
futura (a de 1935), da qual chefe político gaúcho e, nesta qualidade, sustentáculo decisivo da Aliança
levante de outubro de 1930) a conseqüência foi a reds Liberal, fizera declarações reconhecendo, com muito menor ambigüidade
é, relativamente ao
do tenentismo na derrubada do regime oligárquico, E do que Getúlio, a 'vitória' do candidato governista Júlio Prestes. O tam-
ção do peso específico
frente do movimento armado estivesse Luís
óbvio, com efeito, que se à bém gaúcho João Neves da Fontoura, ardoroso partidário do levante ar-
o herói da Coluna e não um de seus
Carlos Prestes e não Góis Monteiro, mado, traçou um quadro pouco alen tador da situação no Rio de Janeiro,
tenentista e o com- durante o mês de maio de 1930:
perseguidores, a correlação de forças entreo componente
seria menos favorável a este último.
ponente gerulistada Aliança Liberal "Por desacreditada que estivesse a lisura dos pleitos, o povo imaginou"
escolha de Prestes foi mais lógica do (antes das eleições de março, obviamente) "que daquela vez a vontade na
Longamente meditada, entretanto, a

sido
que dramática: possibilidade da escolha oposta havia
a praticamente cional tão expressamente pronunciada a favor da Aliança Liberal não fos-
eliminada pelo Cavaleiro da Esperança bem antes de anunciar, no célebre se vítima de fraude, e que afinal a oposição conseguise suplantar o Go-
manifesto de maio de 1930, sua adesão à causa da revolução social e seu verno. Desvanecida esta esperança, e sob a ducha fria das
declarações
conseqüente repúdio "programa anódino da Aliança Liberal'.
ao contemporizadoras de Getúio Vargas e quase capitulacionistas de Borges
A 1 de junho, très dias após a publicação do manifesto de Prestes no de Medeiros (João Neves é discreto a este respeito: afinal, os dois eram
seus chefes), "o desalento se apoderara de toda gente". "Desalento e
Diário da Noite, Getúlio Vargas decidiu-se entim a tomar posição a res- revol
peitodo resultado das miseravelmente fraudadas eleições de 1° de março. ta, acrescenta. Na verdade, muito mais desalento que revolta, já que "nin
Assinala que fraude é "inerente ao sistema', dependendo apenas "da de-
a
guém depositava um mínimo de confiança em nossa capacidade de resis-
senvoltura maior ou menor sob que se aplica, e que tentou verificar a tência aos desafios do Catete". Naquele momento o mais grave desafio
de pú- ocorria na Paraíba, onde o caudilho sertanejo José Pereira, à frente de seus
apuração dos votos para que pudesse conscientemente contessar
blico a minha derrota, se dela me convencesse. Negaram-me vista. No jagunços e insuflado pelo governo federal, se apoderara da cidade de Prin-
me assiste o direito de julgar em causa própria. Como candidato, devo cesa, em rebeldia aberta contra o governador do Estado (e candidato der-
acatar a decisão dos poderes competentes instituídos para a apuração
e rotado à vice-presidncia na chapa de Getúlio Vargas), João Pessoa
reconhecimento das O verbo "acatar" é claro. E o contrário de Washington Luís simplesmente proibira João Pessoa de adquirir as armas
eleições".
desacatar. Quem se levanta de armas na mão comete seguramente um necessárias para debelar a sedição. João Pessoa resistia com dignidade a
esta rentativa de sufocamento, em contraste com "as nossas hesitações no
desacato. Gerúlio anuncia portanto que não vai se rebelar. Mas anuncia
também que "cabe ao povo manifestar-se se está ou não de acordo" com Rio Grande". O senador gaúcho Paim Filho, discretamente autorizado
o "encerramento" da campanha. Argumento mais ambiguo que sutil: a por Borges de Medeiros, havia acintosamente virado a casaca, "dando en-
campanha (presidencial) se encerrara em fevereiro. A única manifestação trevistas a favor dos adversários da véspera", isto é, de Washington Luís e
permitida ao "povo" era o voto. O povo já havia votado e seu voto já havia de seu candidato eleito, Júlio Prestes. A tal ponto caíra no descrédito a
sido, como de costume, falsificado. O povo certamente não estava de possibilidade de que a AliançaLiberal,e mais exatanmente, seu núcleo mais
acordo com os que falsificavam seu voto. Daí a advertência final do pro forre, do Rio Grande do Sul, se erguesse contra o regime da fraude cleito
nunciamento, suficientemente vaga para não comprometer, mas clara o ral, que n0s restaurantes (do Rio de Janeiro) "sujeitos malcriados pediam
bife gaúcha: um pedacinho de carne e muita farofa! Era
bastante para não desanimar os articuladores do levante armado: "não à pungente"
Este prato pungente teria quem sabe permanecido muito tempo no
acredito que esteja longe a necessária retificação, para vermos a democra-
cardápio dos restaurantes cariocas, não fora um evento dramaticamente
Cia brasileira no regime que
exige a felicidade da Pátria..."2

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numa confeitaria de Kecite,
de João Pessoa.
fortuito: o assassinato, bo-
Ihante percorreram os outros partiCipantes destacados dos levantes te-
ra o assassino, Joáo
IDantas, pertencesse a um cla oligarquco
igado da
ao

l'ereira, nao houve nenhum envolvimento


nentistas. Variou, de caso para caso, a ordem das etapas características do
chefe sertancjo sedicioso Jose
crime. Politicamente, entretanto, não se podia dis
curriculum revolucionário: exilio, clandestinidade, prisáo. Mas mesmo
do governo federal no os que haviam conseguido, após um
Luis com José Pereira e seu bando in. periodo de prisáo, regularizar sua
sociar a conivencia de Washington situação judicial e voltar ao Exército (Cordeiro de Farias e Eduardo Go-
homicidio ocorrido a 26 de julho de 1930,. Fste
clusive João Dantas) do mes, notadamente), mantiveram-se vinculados a0 processo conspirató-
evento, tanto mais
tortuito que o gesto de João Dantas foi tortemente mo-
tivado por razóes pessoais, forneceu ao amortecido zelo conspirativo dos
rio. Para eles, todas as perspectivas políticas e protissionais permaneciam
suspensas à preparação do levante que enfim parecia poder dar certo.
chetesda Aliança Liberal um novo alento. LDaí por diante, o levante arm
Um dos documentos que melhor revela este estado de espírito é a carta
do seria questão de tempo.
enviada a 18 de julho de 1927 por Juarez Távora, então clandestino no Rio
E razoavel supor que sem a apaixonada indignação provocada por um
de Janeiro, a Carlos de ILima Cavalcanti, jovem usineiro pernambucano
crime incsperado (João Pessoa não era propriamente um homem "'marca-
que se tornara o principal articulador, no Nordeste, da oposição civil à de
do para morrer"), nem Borges de Medeiros, nem Cietúlio Vargas teriam
generada República do café, e que, nesta qualidade, havia tomado a inic-
sido forçados a deixar de contemporizar e, por conseguinte, a Aliança Li-
ativa de propor o nome de Juarez para comandar o levante revolucionáno
beral não teria passado de uma coalizáo eleitoral derrotada. Nesta hipóte-
naquela região do pais. Este explica, em sua resposta que "o movimento ofa
s. perfeitamente plausível, a direção da luta antioligárquica teria se
projetado não conta, talvez, ainda, um décimo dos elementos que haviam
concentrado nas mãos dos chefes tenentistas, que então teriam de buscar emprestado o seu apoio à conspiração paulista de 1924". (Esta avaliação
à esquerda as alianças que haviam faltado à direita. No há a menor dúvi-
da, com efeito, de que o tenentismo só aceitara aliar-se com a dissidência
era parilhada pelo general Isidoro, a quem ele acabara de visitar em Mon
tevidéu). "Por si só", a "experiência acumulada desde então. prossegue a
oligárquica porque esta lhe oferecia a tão esperada oportunidade de resposta, "não suprirá a deficiência material do presente". A confiança na
retomar a luta armada contra um regime que, persistindo em Ihes negar a
revolução segue inabalada: "o Brasil se salvará porque repugna à natureza
anistia, continuava a tratá-los como delinqüentes. Os que não estavam no que um organismo robusto e moço se deixe matar sem resistencia. A rea-
cxilio nem na prisão viviam na clandestinidade: João Alberto, Djalma ção salvadora que não pode começar hoje" (isto é, em meados de 1927)
Dutra, Siqueira Campos passaram os anos 1927-1930 em contínuos
deslocamentos no interior do Brasil e em peregrinaçôes para o outro lado deverá iniciar-se, eficientemente, amanhã ou depois'. Na espera deste
da fronteira a fim de se encontrar com Prestes e outros revolucionários
amanh, Juarez deposita sua confiança no Exército, para cujas fileiras iri
am logo retornar muitos dos implicados no levante de 1922. "Com esses
exilados. Siqueira Campos, como assinalamos, morreu na volta de uma elementos e mais alguns novos aspirantes que vão sair da Escola com boa
dessas viagens ao exterior, em maio de 1930, num acidente do qual João não será dificil conseguir-se um movimento de larga enver-
Alberto escapou nadando até a costa uruguaia. mentalidade,
gadura,capaz de fazer tremer os alicerces da atual máquina política. Até lá.
Juarez Távora passou o ano de 1926 na prisão: a 31 de dezembro de devemos esperar com paciência." Mais adiante, vem um desabafo em que
1925, havia sido capturado pelas tropas governistas quando tentava o veterano do Levante de 1924 e da Grande Marcha confessa um certo
Tiontar uma emboscada contra uma lancha inimiga que cortava a cansaço do heroísmo sem resultados e tempera o arroubo de D. Quixote
travessia do rio Parnaíba, entre Maranhão e Piauí. Conseguiu fugir em com o
pragmatismo de Sancho Pança:
Jancirode 1927, quando seus companheiros da Coluna Prestes termina- "Não basta para o Brasil o nosso sacrificio de eternas derrotados. E-
van a Grande Marcha. Daí
em diante, dividiu o
tempo entre a clandes Ihe indispensável que, pela
razão ou pela força, as nossas idéias vençam
tinidade eo cxílio. Foi preso novamente em janeiro de 1930, mas logrou Congreguemo-nos para isso e confiemos no futuro.Quanto ao presente,
ugir no més seguinte. Dirigiu-se para o Nordeste, onde em outubro,
.nós, os desertados e expatriados, devemos contormar-nos com a sorte
assumiria o comando do levante da Aliança Liberal. Trajetória seme que ora nos
oprime, até que soe a hora de defender, com proveito, a iiber

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yorgo
eficientemente, preparar esse
mais
dade mutilada. Aos outros, que podem, correr à luta armada, como chegou mesmo, em seu pronunciamento à na-
advento, devemos entregar, confiantes, a tareta de Propugná-lo, para qu
ção de 19 de junho, a transferir para 'o povo a decisão de acatar ou não a
andamos pleiteando por interesse pessoal..."
não pareça que trapaça consumada. Obviamente, ele sabia tão bem quanto qualquer um
No tático, a
plano avaliação de Juarez e a mesma a que chegará Pres- de nós que 'o povo' é uma abstração e que as abstrações náo tomam deci-
de retomar de imediato o combate re
tes em 1928:
não há poss1bilidade sões. O objetivo mais plausível desta estudada ambigüidade era não se
volucionário. Mas a perspectiva estrategica
em
que cada um deles inscreve amarrar ao compromisso do levante armado e mesmo de se precaver face
o necessário recuo tático já
marnifesta divergencia
a que logo os
de rumos
à possibilidade de que algum de seus aliados tenentistas, exasperado com
separará. Para Juarez, a palavra-chave
e eficiencia e a
questão, portanto, é a incerta espera de uma rebelião já tantas vezes postergada, resolvesse ten-
concerne estritamente aos meiOS e às condições conjun-
meramente tática: tar a sorte por conta própria. Dois meses depois, porém, a indignação ge
favoráveis. E preciso esperar com
turais: aqueles são escassos e estas pouco ral diante do assassinato de João Pessoa tornou inaceitável a tática da arm-
liberal e a chegada aos postos de co
paciencia a rearticulação da oposiçao
mando de tropa de jovens oficiais com boa mentalidade". Já a paciência
bigüidade. As últimas hesitações venceram-se. Desde o início de agosto, a
direção da Aliança Liberal, dos mais velhos políticos aos mais jovens te-
de Prestes não obedecia apenas a u m cálculo tático, mas correspondia, e nentes, lançou-se a fundo e para valer na preparação do levante armado.
corresponderia cada vez mais, a u m a concepção social revolução que iria Desencadeado em Porto Alegre no fim da tarde de 3 de outubro, eclo
da

basear na organização política da classe operária e na perspectiva da insur- dindo nas horas seguintes, até a madrugada do dia 4, em vários pontos do
reição proletária seu raciocínio estratégico. Para Juarez, portanto, a estraté território nacional onde eram mais sólidas as bases regionais da Aliança

gia era em 1927 a mesma de 1924 e será a mesma em 1930: derrubar o re- Liberal, o levante atingiu plenamente seu objetivo inicial: o país acordou.
gime fraudulento e "nacionalizar nossa Constituição, isto é, torná-la capaz no dia 4, com dois governos e dois exércitos, dois Estados, Rio Grande do
de ser bem executada pela elite deficiente que Foi pois Sul e Paraíba, já inteiramente em poder dos rebeldes e intensos combates
possuimos"
do levante
com
no Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e Paraná. Mais um dia e a situação
conhecimento de causa e
plena coerência que participou armado se definiu a favor dos rebeldes em todo o Sul e em boa parte do Nordes-
da Aliança Liberal em outubro de 1930. A revolução que queria era aquela
mesma que se realizou com sucesso. Ainda hoje, entretanto, discute-se em te. Apenas em Minas Gerais o levante foi contido, a despeito do apoio do

que consistiu este sucesso, e portanto, que revolução foi aquela. Antes de
governador Antonio Carlos Ribeiro de Andrada e de seu sucessor, Olegá-
mais nada, procuraremos mostrar porque e em que medida cabe caracterizar rio Maciel (que assumira o cargo a 7 de setembro). O 12° Regimento de
tomada do Infantaria não aderiu ao levante, resistindo quatro dias, até 8 de outubro,
a
poder pela Aliança Liberal como uma revolução.
ao assédio da Polícia Militar mineira e das
forças do Exército integradas
no movimento insurrecional.
2. Outubro de 1930: No plano militar, a despeito destee de outros casos de resistência dos
o
confrono armado e o golpe pacificador militares legalistas, estava evidente, ao fim da primeira semana de
guerra
P'ara Gerúlio Vargas e seus parceiros da dissidência oligárquica, a luta civi, que o governo federal não tinha capacidade de desfechar uma con-
armada constiruía uma hipótese considerada desde o início da campanha tra-ofensiva eticiente. Foi entretanto capaz de deter o avanço dos revolu-
presidencial de 1929-1930. Na verdade, desde as primeiras tentativas de Cionáriostanto em Minas Gerais
quanto na fronteira paulista, onde logo
articulagão da frente oposicionista nacional em 1927 (aproximação entre se armou o cenário para o combate decisivo entre as forças da rebelião, já
0s hberais gaúchos dirigidos por Asis Brasil e os democratas paulistas) ha- plenamente vitoriosas no Sul, e asforças governamentais, enviadas a lta-
va torte consenso no sentido de que só se poderia derrubar a República raré, última aglomeração urbana paulista antes da fronteira com P'araná,
o
da fraude eleitoral com missão de barrar o avanços dos rebeldes rumo a São P'aulo
a
por meios extralegais. e ao - -

Rio de Janeiro. As forças


Vimos que, constatada a indecente falsificação dos resultados das elel governamentais dispunham de cerca de 5 600
Goes de l de março de 1930, Getúlio no homens, mais da metade dos quais
somente hesitou muito
ci
re pertenciam à aguerrida
Força Pública

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rebeldes (cerca de 7 800 homens) tava
comando das forças mais longa ditadura de nossa história, a saber a função moderadora' da
paulista. No em julho de 1924 partic1para, como oficial
Costa, que intervenção política das torças Armadas.* Tratava-se, com efeito, para
justamente Miguel
Pública, do levante tenentista de Sáão Paulo e
de cavalaria daquela Força Klinger, de "mais uma vez, solucionar a questão política de acordo comn
chefiara, lado de Prestes, a longa marcha dos tenente
ao
em seguida a tradição das forças armadas nacionais, elemento moderador por excelên-

guerrilheiros. cia (grifos nossos) nos contlitos partidários que têm agitado a Nação nos
inicialmente ao ataque, em direção de Sen-
Os governistas passaram cem anos de nossa vida constitucional"'7
da fronteira, onde Miguel Costa havia estabeleci-
gés, do lado paranaense Sensível a tão eloqüentes argumentos, o general Mena Barreto aceitou
recuaram para o território paulista, fixando uma
do seu QG. Repelidos, a chefia do complô, que prosperou na razão direta dos sucessos crescentes
linha defensiva na localidade de Morungava, poucos quilómetros frente
à
das forças rebeldes. Na manhá de 23 de outubro, julgando chegado o mo-
na guerra de posições como o fora na
de Itararé. Mostrando-se eficiente mento de dar o empurrão que propeliria Washington Luís para fora do
Costa submeteu as posições governistas de
guerra de movimento, Miguel
tão cerrado e preciso, que o major Teófilo poder, dirigiu-se à casa de Tasso Fragoso, munido do rascunho da intima-
Morungava a um bombardeio ção a ser apresentada ao inquilino do Palácio Guanabara. Considerado
informou que "a artilharia
Ramos, comandante daquela linha de defesa, um 'escritor primoroso', coube a Tasso a tarefa de amaciar o texto, acen-
de comando, chegando a impedir a
inimiga barrava porta de seu posto
a
tuando o "apelo aos sentimentos patrióticos do governante para que aban-
não o impediu de resistir com
distribuição do "almoço à tropa".O que donasse posto"." A primeira reação de Washington Luís foi grandilo
o
outubro os revolucionários se apoderaram de Morun-
coragem: só a 17 de "

c o m precisão, o bastião quente: Eu não renuncio. Só aos pedaços sairei daquil"" Mas ao cons-
gava, de onde passaram bombardear, sempre go-
a
tatar que ninguém mais o nesta heróica
vernista de ltararé. A resisténcia ali foi também tenaz. Recebendo cons- acompanharia resolução, preferiu
sair inteiro, sendo recolhido ao Forte de Copacabana. Ainda na noite de
tantes reforços, Miguel Costa já tinha preparado o plano de batalha para
24 de outubro, assumiu o governo uma junta militar, composta dos gene-
o assalto final, que lhe abriria o caminho
de São Paulo, quando, a 24 de
rais Tasso Fragoso e Mena Barreto e do almirante Isaías de Noronha, que
ourubro, chegou a notícia de que Washington Luís havia sido deposto por
um golpe militar.
se apressou em comunicar a própria existência aos chefes da Aliança
Libe
ral, em telegramas dirigidos notadamente a Getúlio Vargas e a Góis Mon-
A notícia era verdadeira. Os generais João Mena Barreto e Tasso Fra- teiro, nos quais apelava para a imediata suspensão das hostilidades."
goso haviam articulado uma
conspiração na
cúpula do Exército visando Embora exultantes com a derrubada de Washington Luís, os chefes
a desferir o riro de misericórdia num regime já derrotado no campo de
rebelde compreensível preocupação em cer-
batalha. O agora coronelBertoldo Klinger/desempenhou papel ativo nes- do movimento manifestaram
tificar-se dos objetivos políticos da junta militar. Tasso Fragoso
ta articulaço, iniciada, conforme depoimento do general Mena Barreto, queixou
se, a este respeito, de que "ao contrário do que esperávamos, apareceram
nos primeiros dias de outubro", quando ele foi procurado pelo infatigá-
logo os primeiros sintomas de que a nossa atitude não era compreendida
vel Klinger que o instou a "estancar a torrente de sangue dos patrícios sa-
crificados pelas armas nos sertões do País". Ao classificar Klinger como
e nos tomavam como
desejosos de agarrar-nos às posições, ou como orga-
nizadores de uma contra-revoluço". Com efeito, "certos revolucioná
um oportunista da legalidade". João Alberto havia subestimado sua capa-
rios... vingaram-se da junta (que os impedira de "atacar e vencer a capital
Cidade de se agarrar às ocasióes oportunas/Em outubro de 1930, exerceu do país) enviando-lhe telegramas inamistosos, a que ela não deu respos-
com ehciencia o oportunismoda ilegalidade. Soube mesmo, sempre con
tormeo depoimento de Mena Barreto, conferir a um compló cujo obje- ta.o'escritor primoroso' abusa aqui da liberdade poética. Tenentes e
aliancistas estavam preparando aquele levante há mais de um ano. Quan-
Ivo obvio era dissociar a cúpula do Exército de um presidente e de um re do enfim chegavam perto da vitória, um grupo de generais que oficial-
gime jå em pleno naufrágio, uma justificação doutrinária elegante, a qua mente haviam permanecido no campo oposto, desciam de cima do muro
recorreriam, nas décadas seguintes, e até data recente, os protagonistas para apanhar o poder como se apanha um fruto caído da árvore. O gene-
0S apologistas dos golpes militares democraticidas que culminaram a, ral Mena Barreto, menos cauteloso do que Tasso, havia declarado, na ma-

100
101
dr. Getúlio Va
absoluto, de que ar- deve tomar ao pë da letra traseologia propagandística da própria junta,
a
o
outubro, discordar "em
nhá de 24 de e "estribada.
assumisse o poder a
título de presidente eletivo"(sic) no como o fez o over-rated brasilianista norte-americano Alfred Stepan ao
'a apresentar a derrubada da República do café como obra dos "militares
primeira República preconizara formacão de
gas
antecedente histórico da (sem maiores especificações) no exercício de pretensa função moderado-
constituido de um grupo
de dirigentes sendo um
um governo provisório ra.Confundir o pronunciamento de 24 de ourubro com o levante de 3
o c h e f e " . 14

não haver compreendido juntaa, a atitude da de outubro é ver a fumaça e no ver o fogo.
Não foi, portanto, por
havë-la compreendido m u i t o bem que, em resposta Sem cometer a mesma confusão, José Murilo de Carvalho endossa
mas, ao contrário, por com escasso sentido crítico a versáão de Bertoldo Klinger sobre a inter-
transmitido no dia 25 de manhá, c o m a assinatura do
a um novo telegrama
tom mais ameno e cordial do que na véspera
venção "moderadora da cúpula do Exército, esquecendo-se de que,
triunvirato militar, que n u m como o admitiu o general Mena Barreto, o objetivo inicial das "forças
enviava-lhe agora atetuosas saudações"), in-
(em vez de meras "saudações',
sistia na imediata suspensão das
hostilidades, Getúlio assinalava desconhe pacificadoras" era utilizar a deposição de Washington Luís como meio
Rio" e esclarecia que a "solução definitiva
de barganha política com as forças da Aliança Liberal. Não o consegui-
cer propósitos junta organizada
ram, tendo de se contentar com as condições ditadas por Getúlio Var
da situação militar ficará subordinada à solução detinitiva situação política",
isso o argumento de José Murilo care-
integral programa revolucionário". Concluía gas e Osvaldo Aranha. Nem por
a qual dependia da "aceitação
com saudações apenas atenciosas".5 ce de interesse. Ele tem razão de notar que a nacionalização do Exér-
respondendo ao ateto dos generais cito através do alistamento universal e do crescimento do contingente
entre o comando da Aliança e a
A batalha diplomático-telegráfica desenvolvimento do estado-maior e pela forma-
Coube a lasso Fragoso, e m telegrama e, principalmente pelo
junta prosseguiu intensa no dia 25.
sintomaticamente assinado só por ele, e coerentemente redigido na pri- ção de oficiais com esta especialidade" havia criado as paracondições
um novo tipo de intervenção militar, "o intervencionismo de generais
garantia que
dar Getúlio a este exigia: "Estou
meira pessoa do singular, a
ou do estado-maior, o intervencionismo da organização como um todo
a passar o governo a V. Exa.
e foi sempre este m e u pensamento,
pronto, e não apenas de seus setores subalternos. Menos convincente, entre-
de enfatizar, comentando
quando V. Exa. aqui se apresentar". A despeito tanto, é a desta análise aos eventos de outubro de 1930,
aplicação
este telegrama, que "embora assinado
unicamente por mim, ele foi "ex
a verda- quando ao apagar das luzes da Primeira República" teria ocorrido o
pedido de acordo com meus dois outros companheiros de junta', primeiro ensaio deste tipo de intervenção".20
de é que Tasso teve de assumir com solitária clareza uma responsabilida-
Não somente os tatos, mas também a aritmética sai aqui muito mal-
de (a de reconhecer sem subterfúgios a vitória da rebelião) da qual
seus
tratada. Como chamar de primeira intervenção do Exército em seu todo
só partilharam indiretamente."
companheiros um pronunciamento palaciano que envolveu unicamente a guarnição
Ainda no dia 25, outro telegrama, enviado à junta por Osvaldo Ara-
militar do Rio de Janeiro, isto é, a retaguarda da forças governistas,
nha (o principal articulador civil do levante da Aliança Liberal) assegura-
das 100 do reduzidas, a 24 de outubro, a menos de 30 das 100 unidades do Exérci-
va que torças nacionais compostas de mais de 70 unidades
to? (Osvaldo Aranha certamente não estava blefando quando em sua
Exército brasileiro, acrescidas das forças policiais de 15 Estados e de
um
mencionada advertência telegráfica à junta informou que as "forças
voluntariado que só no Rio Grande atinge a soma
para seus objetivos" " Na verdade, já os haviam alcançado àquela alrura
de 100 mil, marcham nacionais da Liberal
Aliança de "mais de 70" daquelas 100
dispunham
unidades). Acresce que pronunciamento, desfechado na retaguarda
o
Um novo telegrama de Getúlio a Tasso, no dia 26, deu por encerradas das forças governistas, constitui uma "punhalada traiçoeira" (a expressão
manobras militares quanto anunciando Militar
tanto as as diplomáticas, nave é do general Hastimphilo de Moura, comandante da 2° Região
sido "expedidas ordens gerais cessação hostilidades". de operações na
de São Paulo e, nesta qualidade, responsável pelo teatro

Que a deposição de Washington Luís, ao apressar o fim do confron batendo, há três semanas, para
Zona de ltararé) nas tropas que vinham se

to armado, tenha exercido um efeito "pacificador" (termo utilizado peia deter o avanço da coluna de Miguel Costa.
antapara caracerizar sua iniciativa), é incontestável. Nem por isso
103
102
A qualidade de interpretaçao historica nao pode ser melhor
uma
que
Franco redigiu então uma nota desmentindo a verdadeira balela. "O cotu
em que se apóia.
Jose Murilo, imprudentemente, baseou a sua nel Klinger ouviu-lhe a leitura silencios0, sem nada objetat Terminava
a das fontes
das mais, senao a mais turva,
a saber, nosso
conhecido sem glória sua missão de "lider pacificador. Mas não seu costumeiro
numa só fonte,
desde a criaçao, em 1913, da revista A Defa.
coronel Bertoldo Klinger que 'oportunismo da legalidade. A 3 de novembro, quando (setúlio, qur che
uma intervençao controladora ou 'modera.
aNacronai, vinha propondo gara ao Rio a 31 de outubro sob apoteótica aclamação popular, recebeu as
como tal, orientada
dora, a ser levada a eteito pela organizaçao por seu ór- "rédeas do governo", Klinger fez chegar a suas mãos um oficio em que pro-
com esta doutrina e com
estado-maior." Empolgado seu curava fazer esquecer suas provocadoras e irresponsáveis declarações de 28
gão de cupula, o de 24 de
doutrinador. José Murilo chega a afirmar que intervenção
a ou-
de outubro assegurando-lhe que jamais tinha sido "simpático à idéia de
Klinge.. chefe do estado-maior das For.
rubro "foi liderada pelo próprio uma "ditadura militar". Acrescentaria mais tarde, em suas memórias, qu
a derrubada de Washington Luís"2 Na
as Pacificadoras que promoveram
estado-maior do grupo de Divisões Milita-
diferente
fizera aquelas declarações por achar necessário colocar "opinião
verdade, Klinger chetiava o da que fora oficialmente assumida pela junta" A explicaão seria atédrver
era o general João Mena Barreto. A junta não tinha
res, cujo comandante tida se a hora não fosse dramática: a única diterença que estava ern jogo
estado-maior: ao se outorgar ex post este cargo, Klinger se colocou em po- era entre pacificação e guerra civil. Ao brincar com essa alternativa. Klin-
da Marinha da Bolívia ou da Suíça." No-
sição semelhante à de Ministro ger deu a medida de seu tamanho político-moral. Na verdade, o que mais
meado pela junta chete de polícia do Rio de Janeiro, exerceu o cargo por
o inquietava era o risco de que, na agitação revolucionária, fossem
assim conseguiu armar uma de suas costumeiras
"seme
poucos dias, mas mesmo ados os propósitos subversivos da ordem social com o recurso infame do
rapalhadas de pescador de águas turvas, que mostra quo longe da verda- assanhamento dos apetites". Aos que tentassem assanhar o povo, o chete de
de está josé Murilo ao erigi-lo em "lider pacificador". Dentre as muitas ver
söes desta trapalhada, apoiamo-nos na do general Tasso Fragoso, incompa-
policia Klinger deixara um aviso claro: "Quem se faz fera precisa ser trata-
do com ferocidade"." Faltou-lhe tempo para cumprir a advertência.
ravelmente mais responsável e confiável do que nosso doutrinário das in- Se há alguma conclusão histórica a tirar das balelas e bravatas do coro-
tervençöes "moderadoras". A 28 de outubro, quando efetivamente a junta nel Klinger, a mais clara é a de que, ao embriagar-se com seu próprio canto,
militar havia aceito as condições das "forças nacionais'e a situação cami- imaginando ser de fato o "chefe do estado-maior das forças pacificadoras e
nhava para a pacificação, Klinger distribuiu uma nota à imprensa, na qual, sobrerudo, não percebendo o que o sóbrio Tasso Fragoso percebera muito
afirmando-se "senhor do pensamento que congrega as vontades dos diri- bem, a saber a fraqueza daquelas forças, ele mostrou pela constrangedora in-
gentes das diversas frentes" (para ser mais exato deveria ter dito "das diver- consequência de sua "opinião diferente, quão rapidamente o poder estatal
sas retaguardas"), declarou "que é destituída de qualquer consistência a ba- escapara da cúpula institucional do Exército, transferindo-se para a do le
lcla de que a junta governativa será sumariamente substituida, que ela en- vante militar vitorioso. Neste sentido ao menos, em outubro de 1930 hou-
tregará as rédeas do governo ao dr. Getúlio Vargas'. Chefes aliancistas ve uma revolução no Brasil e não
apenas um 'pronunciamento. Mais exa
como Osvaldo Aranha e Afrånio de Melo Franco,
que concluíam as neg tamente, a destituição de Washington Luís pela junta pacificadora constitui
caçöes para realizar a entrega das "rédeas do governo" a Getúlio, não esta- um
golpe, isto é, uma ruptura da legalidade através de um ato de força pre-
vam dispostos a perder tempo com "balelas". Tasso Fragoso, que ao con- parado e executado pela cúpula burocrático-militar do aparelho de Estado.
trário do pretenso "chefe do estado-maior das Forças Pacificadoras", não Já a conquista do poder pela Aliança Liberal não representou apenas uma
cra um pescador de águas turvas, convocou imediatamente ao palácio do ruptura da ordem vigente, mas sua supressão, enquanto ordem ilegitima.
Catete londe se instalara a junta) o nosso especialista de balelas e, na pre- por um movimento armado que se impôs (combatendo e em seguida nego-
ngadaqueles dois chefes da Aliança Liberal, pediu-lhe "explicação do seu ciando a partir de uma muito favorável correlação militar de forças) àquela
ato cstranhável e
inoportuno". Como "o coronel Klinger não as deu satis cúpula burocrático-militar.
tatoriamente, disse-lhe "que a junta iria contestar o que ele havia
d0, cmbora evitando o mais
afirma-
possível desconsiderá-lo". Afränio de Melo

104 10S
industriais? reduzindo-o
burguesa' sem movimento em seu conjunto c o m o u m a "contra-revolução",
3. Uma revolução da disputa e n t r e imperialismos rivais é agredir não somen-
a mero reflexo
datado de 6 de novembro
de 1930, Prestes, ainda exi
Em manifesto histórica c o m o também a própria lógica. Uma "contra-
do Rio de Janeiro" (deno- te objetividade
a

lado em Buenos Aires,


qualificou a "quartelada relativamente revolução como um
contrapeso
como "a primeira par revolução" define
se a uma

sição de Washington
Luís pela junta pac1ficadora) relativamente a um peso. Salvo a jogar com as palavras, a expressão se apli-
contra-revoluço... dirigida pelos politiqueiros de
Minas e do Rio
te da u m processo revolucionário e m curso. Na
criminosa de oficiais revolucionários", Estes ca a m o v i m e n t o s que esmagam
conivência... ocorrido contra-
Grande, Alemanha entre 1918 e 1924, n a Itália em 1922, haviam
com a
como revolucionarios
entre
aspas eram essen-
oficiais agora apresentados
no manifesto de 29 de maio, ele se referira revoluções. Mas contra qual processo revolucionário se ergueu a Aliança
cialmente os mesmos a quem,
"revolucionários sinceros,
com oS quais creio poder continuar a Liberal? Fazer a revolução antes que o povo a faça, segundo a célebre e cí-
como
Prestes é fazer "revo
nica fórmula de Antônio Carlos lembrada por
uma
ora proponho c o n t r a todos os opres-
e decidida que
contar na luta franca

sores". Em menos de seis meses, portanto, a


sinceridade revolucionária
lução pelo alto", mas não contra-revolução.
uma

tornou-se "conivência crimino- u m a revolução significa, até etimolo


dos 'tenentes integrados à Aliança
Liberal Mesmo "pelo alto", entretanto,
do levante de 3 de outubro tornara de 1930 o seja, no plano político
sa". Obviamente, o desencadeamento gicamente, u m a virada histórica. Que a
do tenentismo ao levante das dissidên- e militar, há de ter ficado suficientemente claro/Mas o alcance histórico
politicamente irreversível a adesão
hustórica, o abismo era de toda revolução é determinado por seu impacto sobre a base econômi-
cias oligárquicas. Ao menos naquela conjuntura
militar se t o r n a r a a ala esquerda da
intransponível entre aesquerda que ca da sociedade.A tarefa dos historiadores que sustentam o caráter revo
Prestese a alguns companheiros
Aliança Liberal e aquela que, reduzida lucionário do regime instaurado pelo levante da Aliança Liberal teria sido
a

fiéis, condenou outubro de 1930 como uma "contra-revolução" mais fácil se nele estivessem claramente configurados e exemplarmente
Na verdade, desde o manifesto de maio, Prestes reduzira o signifi-
concentrados os componentes essenciais do secular e planetário processo
cado do confronto entre a oligarquia do café e a Aliança Liberal aos Em especial, se na base
que se c o s t u m a designar por revolução burguesa.
interesses contrários de duas correntes oligárquicas, apoiadas e estimu- do confronto entre a Aliança Liberal e a aliança do café houvesse u m cla-
ladas pelos dois grandes imperialismos que nos escravizam..." (o inglês
interesses agrários. Pou-
ro
antagonismo entre os interesses industriais e os

Manteria esta avaliação ao longo das décadas se tão discutidas quanto a da


eonorte-americano). cas questões de nossa história moderna foram

guintes. Em 1975, em artigo composto no exílio moscovita,


reiterou

que "em 1929-1930, a luta se travou entre argumentos oligárquicos


base econômica deste confronto. Sedutora em sua brilhante simplicidade,
a hipótese do antagonismo entre industriais e agrários sofreu, a partir do
para se apoderar de postos governamentais. Façamos revolução
a antes
final dos anos 60, cerrada crítica, levada a efcito notadamente pelo histori-
de O con-
que o povo a faça, dizia Antonio Carlos (Ribeiro Andrada)'.
tronto entre os representantes dos dois cls, dividindo as classes diri-
ador Boris Fausto que, entre outros fatos, insistiu no de que os industriais
paulistas não se vincularam ao Partido Democrático (PD), lançado em
gentes, era o reflexo da luta entre os imperialistas da Grä-Bretanha e 1926 na perspectiva de um combate frontal contra o regime (vimos que
dos Estados Unidos. O capital americano, almejando arrebatar aos Br Paulo Nogueira Filho, talvez o mais entusiasta dirigente do PD, visitou
ranicos suas posições no Brasil, sustentou Vargas
financeiramente. Prestes na Argentina, prometendo-lhe levantar os fundos necessários para
Avaliação idëntica à do PCB, 20 qual Prestes já estava, em novembro um novo levante armado). Poder-se-ia objetar a Boris Fausto que o grande
de 1958. plenamente identificado no plano ideológico, embora sotresse,
patronato industrial é avesso, como qualquer outro grupo economica-
per parte do grupo obreirista que assumira do Partido, umna
direção
a mente
privilegiado, a se lançar em aventuras sediciosas contra governos
Eezo politica extremamente sectária. Mas ninguém tem o monopolio placidamente conservadores como o de Washington Luís. Boris Fausto
osectansmo: criticar ourubro de 1930 como um movimento dominado certamente replicaria que o fato expressivo não é tanto o de que os pode
por cias oligárquicos dissidentes constitui uma interpretação que, enno
bora
rosos cheföes da indústria paulista (Roberto Simonsen, Jorge Street, Fran-
unilateralmente esquerdista, tatos;
o
cisco Matarazzo, Rodolfo Crespi) preferiram manter-se vinculados ao go-
encontra apoio nos mas
classu

I06 107
PD desen- de ceber de Washington Luís o presente da majoração de tarifas" e contra-
que
Republicano Paulista (PRP) e
sim o o

vernista Partido
combate pela retorma politica, uma camoa- pondo-o ao "abandono em que se encontrava a agricultura". Boris Fausto
paralelamente a seu assinala ainda que esta denúncia do
volveu,
antiindustrialista. Não há dúvida, c o m efeito, de ane que se inspirava no liberalismo
PD,
nha abertamente as ideias dominantes, que eram. manchesteriano, acusava a nova lei de "terir de morte o
princípio da li-
tanto quanto o
PRP, o PD sustentava
ideias das classes dominantes, notadamente a da vre concorrência".
toda parte, as
fato mostra o exemplo escolhido por Boris Fausto não é
como em

agrícola do Brasil. Mas nem mesmo os


pionei- Oque de
vocação essencialmente tanto o antiindustrialismo do PD, mas sobretudo sua hostilidade ao uso
com a evidente exceção dos comunistas,
ros da luta pela industrialização, como divisor político de águas manipulatório do protecionism0. Afinal, os magnatas da indústria tèxtil,
colocaram claramenteo 'industrialismo ao conseguirem a restrição da importaç o de teares, estavam eles próprios
entre o regime e a oposição. Não se pode esquecer que "a economia ca- fim de monopolizar o merca
voltando contra expansão
a industrial, a
para as industrias nacionais; ao subs-
se
feeira gerou mercados consumidores do interno. Foi justamente em nome do consumidor, lesado pela manipu-
trabalho assalariado, criou extensos merca-
tituir o trabalho escravo pelo
dos rurais; ao determinar a necessidade de criação de u m complexo de ser- lação legislativa que reduzia a oferta de produtos tèxteis sob
o pretexto, e s

pecialmente odioso num país de descamisados (para urilizar a expressão


criou o consumidor urbano... Vale dizer: o setor agroexportador
viços. de conhecido porta-voz da oligarquia nordestina), de que "o mercado não
criou os pressupostos objetivos para industrialização, voltada
uma certa

bens de de massa, notadamente tecidos de comportava a ampliação da capacidade produtiva existente",i que PD o

para a produção de
consumo
desenvolveu sua campanha antiprotecionista. Não convém portanto exa-
baixa consumidos pelos assalariados diretos e indiretos da ca-
qualidade, da retórica protoliberal na
E pois evidente que o poder aquisitivo deste mercado interno gerar, c o m o o faz Boris Fausto, a importância
feicultura. argumentação da dissidência oligárquica de São Paulo. O capitalismo,
estava na razão direta da expansão das exportações
de café; quando estas
como fingem não saber Roberto Campos e outros extremistas da
se contraíam, em conseqüência da saturação
do mercado internacional,
de de comércio, viveu sua primeira infância no balão de oxignio dos m0
liberda-
contraía-se também o consumo interno dos produtos da incipiente indús-
nopólios mercantilistas-coloniais e hoje, em sua opulenta senectude, divi-
tria nacional. Esta dependéncia objetiva da produção industrial relativa- de o planeta em grandes blocos comerciais, uns exigindo dos outros a li-
mente à agricultura de exportação explica em boa medida a discrepância
berdade de comércio, que eles próprios administram no conta-gotas. Sem
entre o conteúdo concreto da revolução de 1930 e o
conteúdo universal
dúvida alguma, ao utilizar polemicamente a retórica protoliberal contra os
da revolução burguesa. industriais da tecelagem, o PD não distinguiu o abuso do protecionismo
Atese de Boris Fausto, entretanto, não contenta apontar tal a
se em dis-
exigido pelos Crespi, Matarazzo e Street de seu uso necessário para prote
crepáncia. Sugere haver ocorrido em São Paulo, onde se concentravam ger a nascente indústria nacional contra o dumping ingls. No terreno
cafeiculturae a indústria, uma inversão pura e simples das relaçóes entre dos princípios, entretanto, o PD, em seu programa, se propunha "vindi-
economiae política, expressa na "incompatibilidade entre o PDea
gran
car para a lavoura, para o comércio e para a indissria igrifos nossosj a
de indústriae nas "conexôes entre a fraçâo industrial e o velho PRP".
influência a que têm direito, por sua importância., na direço dos nego-
Apoia-se, para ilustrar esta tese na "disputa levantada em torno do aumen cios públicos".32
to de tarifas dos tecidos de algodão", em 1928. "Os centros industriais se
Negar, entretanto, que os industriais tenham apoiado até o fim a Re-
articularam em uma campanha visando ao aumento das tarifas de tecidos
pública oligárquica seria cair no exagero oposto ao de Boris Fausto. A 30
de algodão cà restrição das importações de maquinaria, alegando que o
mercado não comportava a
dejulho de 1929, as entidades patronais da indústria paulista publicaram
ampliação da capacidade produtiva existente. um manifesto "com grande destaque na primeira página do Correio Paulis-
A
maioriagovernista na Câmara federal deu todo apoio a esta reivindica tano, apoiando a candidarura de Júlio Prestes" e se dispondo a "tormar..
o, transformando-a em lei após sumarissima discussão. Já o PD assumiu
uma cara
um grande corpo eleitoral, cuja organizaço ficará a cargo do Centro das
posição de repúdio à lei protecionista, denunciando, nas pag Indústrias do Estado de São Paulo.." Alguns dias depois, elas voltaranm à
nas do Didrio Nacional "o fato de
que os industriais de tecidos iriam re
109
108
industriais, a vitoria da chapa nacional Iii.
enfatizando que para os de que a chegada ao poder de Getúlio Vargas e de seus aliados abriu ca-
carga, do programa finan
Soares representa a integral execuçao minho para transtormações irreversiveis na economia e na política brasi-
lio Prestes-Vital
ceiro do atual governo da República". leiras. Entre é
elas, como da indústria
norório, o surgimento siderúrgica
agrarios e industriais, são politica-
Os grandes interesses econömicos, nacional emVolta Redonda. E verdade
que este avanço decisivo do pro-
conservadores. Além de conservador, Jülio Prestes era paulista: Dara
jeto industrializante só ocorreria nos anos 40, já no final da ditadura ge-
mente
industriais de São Paulo, apoiá-lo, mantendo
em vez de
tuliana. Como, porém, ele não ocorreu por acaso, mas, ao contrário, re-
que os grandes
na Presidência
da República, preterissem-lhe um candi- sultou de longo e árduo processo de negociação com os Estados Unidos e
um conterrâneo
triunto signiticaria certamente a ruptura
dato gaúcho de oposição (cujo a Alemanha, parece-nos importante examinar, dada a evidente relevância
sobre o Executivo federal), teriam sido
do controle da oligarquia paulista da instauração no Brasil de um parque industrial razoavelmente integra-
Luís havia satisfei-
necessárias fortes razões econômicas. Ora, Washington do, se e em que medida as decisões que culminaram na criação da indúis
do patronato da indústria têxtil. Como não tria siderúrgica nacional estavam latentes no movimento político que con-
to as exigências protecionistas
apoiar o candidato que representava a continuação de sua política? duziu Getúlio Vargas ao poder.
Ironicamente, a "integral execução do programa financeiro do atual go- Boris Fausto, advogando com zelo excessivo a tese da carência de uma
saber do mil-réis ao padrão ouro, serviu
verno da República"', a
o retorno
"perspectiva industrializante na (para ele pretensa) revolução burguesa de
Celso Furtado, para favorecer a fuga de capitais du- 1930, sustenta que "nos manifestos da Aliança Liberal, não se encontram
apenas, como mostrou
do capitalismo desencadeada pelo da bolsa de
quaisquer traços de um programa industrialista" "
estouro
rante a crise geral Os traços existem e são
Nova York. "Não fosse possibilidade de conversão (do mil-réis pelo valor
a muito claros, como a passagem que segue da plataforma da Aliança Libe-
de 0,200 gramas de ouro fino)... a queda do mil-réis teria sido muito mais ral, lida por Getúliona Esplanada do Castelo a 2 de janeiro de 1930:
estabelecendo-se automaticamente u m a taxa (um ágio) sobre a ex
Osurto industrial só serálógico, entre nós, quando estivermos ha-
brusca,
de capitais. Essa taxa evidentemente chegou, mas somente depois a fabricar, senão todas, a maior
parte das máquinas que lhe são
portação
de se evaporarem todas as reservas." Com eteito, as reservas do ouro do go-
bilitados
indispensáveis. Daí, a necessidade de não continuarmos a adiar, imprevi-
mil libras em setembro de 1929, dentemente, a soluçáão do problema siderúrgico. Não é só o nosso desen-
verno, que "alcançaram 31 milhões e cem

"haviam desaparecido em sua totalidade" em dezembro de 1930.*Ao apoi- industrial que o exige: é, também, a própria segurança nacio-
arem tão entusiasticamente uma política financeira que alguns meses depois
volvimento
nal, que nao deve ficar à mercê de estranhos, na constituição dos seus mais
iria deixar o Brasil completamente desarmado diante da crise internacional, rudimentares elementos de defesa."36
deixaram clara a provinciana estreiteza de seu racio0
os industriais
paulistas Boris Fausto prefere desprezareste inequívoco desmentido não tanto à
cínio econômico. Capitães da indústria e sargentões da política, atravessa de
linha geral argumentação,
sua à exagerada unilateralidade de
mas suas

ram reboque dos acontecimentos o ano turbulento de 1930.


a
conclusões, admitindo tão-somente que "alguma coisa de filtra...
novo se
Do fato de que o patronato industrial de São Paulo tenha permane nas afirmações (da plataforma aliancista) acerca da necessidade de se resol-
cido subordinado aos cafeicultores não se pode entretanto inferir queare ver o problema siderúrgico, associadas menos ao desenvolvimento indus
volução de 1930 tenha carecido de um projeto industrializante, nem mu trial do que segurança nacional"" Assim, a
à alegada ausència de "quais-
to menos, que tenha sido antiindustrializante. Nada atesta melhor a per-
manência de um evento passado do que a intensidade do debare em tor-
guer traços" de um programa "industrialista" se transforma na filtragem de
alguma coisa de novo" a do dito programa. Não diseutamos em
respeito
em 1930, tivesse ocorrido uma
no de seu significado. Se, de fato, apenas torno de palavras: traços ou filtros, a tomada de posição da plataforma elei
mudança na da oligarquia, a densa bibliografia herme
fração dirigente toral de Getúlio Vargas é explicita e enfática. Notemos apenas que a neces
neutica acumulada ao longo das décadas a respeito do levante da Altança sidade da instauração de um
parque siderúrgico não é associada "menos ao
LAberal e de suas consequências históricas não passaria de uma discussao
brzantina. Como certamente não o é, a inferência correta parece-nos ser a
desenvolvinmento industrial do que à segurança nacional" (como esereveu
o
ntérprete) mas àquele e "tambémi" a esta (como está cscrito na platafor-

110
do parque siderurgico a segurança nacional
aliancista). A vinculação
ma
um forte argumento
a favor da tese contrária à de Bo. no Brasil.fortalecimento do poder central em detrimento do poder
O
es-
constitui justamente nacional é característica das rev taduale municipal (os quais, no Brasil de então eram monopolizados pe-
de detesa e segurança
ris Fausto. A idéia los 'coronéis' do
Embora não representasse de
modo algum o patronato latifúndio) constituiu o
instrumento político-institucio-
lucões burguesas. na
teve o mérito de
haver longamente salientado para integração da economia nacional, até entáo fragmen-
promover a
industrial (e Boris Fausto uma consciência na- tada em segmentos regionais,-dos quais 0. mais dinâmico (agqucle que
este fato), o
levante da Aliança Libertadora exprimiu
econômico por oposição ao ponto de vista re gravitava em torno da cafeicultura paulista) já não conseguia mais, ao
cional do desenvolvimento longo dos_anos 20, colocar sua superprodução crônica num mercado
pró-imperialistada oligarquia do café.
gionalista e com sua concepção integrada da mundial saturado.
Vale lembrar que a própria MM;
insistentemente preconizando a mobilização indus.
defesa nacional, vinha
de 1927, do Conselho da Defesa Nacional
trial. A criação, em novembro Notas
neste rumo. Apontava apenas./Se de-
como notamos acima, já apontava
do café, a instalação da
pendesse dos industriais paulistas da República 1.O manifesto de 29 de maio de 1930 está reproduzido em muitos livros
e
não teria ocorrido no início Coluna Prestes elou à Revolução de 1930, vários dos consagrados àà
provavelmente
indústria siderúrgica brasileira quais mencionados no presen
te estudo. A mais recente
dos anos40. Faltava-lhes, com efeito, a consciência e, portanto, a vonta- reprodução está em A.L. Prestes, A Coluna Prestes, op. cit.
da industrialização p. 461.
de política de erigir a construção de bases autônomas 2. João Neves de Fontoura, Memórias, volume Il: A
Aliança Liberal e a Revoluço de
em prioridade nacional. Getúlio, ao contrário,
fez deste projeto uma preo- 1930, Porto Alegre, Globo, 1963, pp. 427-430,
reproduz na íntegra este pronuncia-
cupação constante. A23 de fevereiro de 1931, visitando Belo Horizonte mento de Getúlio Vargas.
3. ib., p. 320.
como chete do governo provisório, consagrou especial atenção, no discur- 4. ib., pp. 321-322.
so que lá pronunciou, ao problema
siderúrgico, "máximo" "básico da
e
5. Juarez Távora, Uma vida e muitas
marcará o período da lutas, volume I, op. cit., pp. 341-343.
nossa economia. "Para o Brasil, idade do ferro
a sua
6. ib, p.350. Esta passagem está na
Brasil está onde
réplica de Juarez ao manifesto de maio de Luís Car-
opulência econômica", Seem matéria opulência
de los Prestes.
o sa-

na idade do ferro 7. Cf. Hélio Silva, 1930, A


bemos todos, é incontestável quese não tivesse entrado
industrial das décadas PP. 219-220
Revoluço traida, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1972.
durante os anos 40, náo teria conhecido expansão ditadura de Getúlio
a
8. Sobre a
pseudo-objetividade da noção de 'função moderadora'
madas, ver nosso "Alfred Stepan eo mito do poder moderador",aplicada
histórico às Forças Ar
seguintes. Qualquer que seja o juízo
a
que
in Filosofia
(estamos entre os que não hesitam emclassifi- 2, Porto Alegre, LPM, 1985. Política-
Vargas nos pareça merecer 9. O depoimento de
carcomo criminosa a repressão política estadonovista), desqualificar
suas
João Mena Barreto sobre seu encontro com
escrito por seu filho, João de Deus Noronha Mena Klinger está no livro
iniCiativas decisivas no rumo do desenvolvimento industrial
auto-centra
Barreto, Os Mena Barreto, seis ge
rações de soldados, Rio de Janeiro, Laemmert, 1950,
produzida por Hélio Silva, 1930, op. cit., p. 368. pp.461-462. passagem
A
do é atropelar os fatos. é re
A luz destas considerações, parece-nos razoável admitir que o regime 10. Hélio Silva,
op. cit., pp. 375-376.
politico instaurado pelo levante de 1930 propeliu o Brasil para sua pro 11. ib., p. 384.
12. Tasso
pria revolução industrial e que, portanto, a interpretação mais objetiva c Fragoso, "A Revoluço de 1930" in T. Araripe, Tasso Fragoso, um pouco da
do cate rória do nosso Exército, hi
op. cit., pp. 572-573.
abrangente do significado econômico da derrubada da República 13. ib.. p. 573.
ainda é a de Nelson Werneck Sodré, que a caracteriza como a vitória dos in- 14. Cf. o relato de Mena
Barreto referido na nota 9, citado em Hélio Silva, ib.,
pp. 393-
teresses vinculados à
"economia interna' por oposição aos da "economiaex 394.
15. Cf. Tasso
portadora, Assim encarado,o movimento de 1930 configura, se nao C
16. Cf. ib.,
Fragoso, op. cit., pp. 574-575.
tamente uma revolução poltica burguesa, certamente uma revolugaoo pp. 575-576.
17. Cf. ib., pp. 576-577.
COnomica abrindo a via para o desenvolvimento do capitalismo inaust

112 113
18. Cf. ib, p. 578. do 33. Cf. Boris Fausto, ib., pp. 29-30.
"Alfred Stepan e o mito
poder moderador"
19. Cf. sobre este ponto
o nosso
oP. cir 34. Celso Furtado, Formação econômica do Brasil, São Paulo, Nacional, 1969, p. 195.
(nota 8), p. 175.
20. José Murilo de Carvalho, "As Forças Armadas na Primeira República: o poder eses- 35. Boris Fausto, ib. p. 44.
rabilizador", in O Brasil Republicano, vol.2, So P'aulo e Rio de Janeiro, DIFEL, 1977 36. Getülio Vargas, A Nova Politica do Brasil, vol,. I. Rio de Janeiro. José Olympio. 1938.
7 p. 39. Otávio lanni observou, a propósito desta plataforma, que ela enfatiza a neces-
P. 214.
1930 do Rio de Janeiro", publicado pelo sidade de divetsificar produção
a e substituir as importações. Cf. lanni, Estado e capi-
21. Cf. artigo "A Revolução de
o
e a junta gene.
talismo, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1965, p. 67.
ral Tasso Fragoso no Jornal do Comércio de 28-1-1937 e reproduzido em Taso Fra
37. Boris Fausto, ib.. p. 44.
gosso, um pouco da história do nosso Exército, op. ctt. Pp. 590 c ss. Neste artigo, Tasso
Moura, acabara de publicar Da Primeira à S. 38. Getúlio Vargas, A Nova Politica do Brasil, vol. I, op. eit., p. 100.
replica ao general Hastimphilo de no que a 39. Nelson Werneck Sodré, História da burguesia brasileira. Rio de Janeiro, Civilização
livro autobiográfico qual junta pac1ticadora é acerbamente cti
gunda Repiiblica, está n a p. 595.
Brasileira, 1964. p. 293. Werneck cita, nesta passagem. o discurso de Getúlio referi
ticada. A acusação de "punhalada traiçoeira" do na nota 38.
22. Citado por José Murilo de Carvalho, ib. pp. 213-214. Sobre a fundação de A Defesa
86
Naciona, ver A esquerda militar no Brasil, vol. I, pp.
e ss.

23. Cf. José Murilo de Carvalho, ib., p. 214.


24. Cf. sobre este ponto Hédio Silva. pp. 408-409. que cita o relato autobiográfico de
do Brasil
Klinger, Parada e desfile duma vida de voluntário
25. Tasso Fragoso, op.cit., pp. 584-586, narra o conjunto do episódio. Dele são as passa-
gens que citamos.

26. Klinger, citado em Hélio Silva, ib., pp. 409-410.


27. ib., p. 401.
28. Luís Carlos Prestes, "Comment je suis venu au Parti communiste", La nouvelle revue
internationale, 16(2), fevereiro de 1973, p. 221. A tradução do francès é nossa.
nacional" das "dificuldades de
questão da "passividade política do empresariado e
29. A
um industrialismo" no contexto da revolução de 1930 é sistematicamente examinada
camadas médias urbanas primeira Repiblica brasi-
por Décio Saes, O civilismo das
na

leira, Cadernos IFCH/UNICAMP, 1973. pp. 68 a s. Em especial. Décio Saes obser-


mais próspera", isto é, a cafe-
va que a expansão da "economia primário-exportadora
eira, "sempre provocou uma ampliação das oportunidades industriais" (ib., p. 69).
Mas justamente por haver surgido nos poros da cafeicultura, a burguesia industrial
adotava um comportamento "individualista e antiindustrializante", já que "o prosse
ambi-
guimento do processo de crescimento industrial, com a chegada a etapas mais
inconveniente do de vista dos seus
ciosas a indústria de base - -

parecia-lhes ponto
interesses imediatos..." (ib., pp. 72-73). Isto porque "nenhum industrial se dispunha
a um investimento maior, do progresso da indústria nacional: preteria ad-
em nome
asse-
quirir a sua maquinaria no exterior, a preços mais em conta e com qualidade
a

gurada". Quanto ao protecionismo alfandegário, eles só desejavam "tarifas... que pro-


elas oneravam
tegessem o seu produto, clamando contra as taxas aduaneiras quando
os bens de capital e os insumos necessários à sua indústria" (ib.. p. 72).
30. Boris Fausto, A revolução de 1930. São Paulo, Brasiliense, 1972,. pp. 33-34.
31. Cf. B. Fausto, ib., p. 34.
32.O programa do PD, de 1926, está reproduzido em Carone, A Primeira Republacr,ao
Paulo, Difel, 1969, pp: 240-242. A atitude do PD relativamente à "livre-concortca
cia" é analisada por Edgar De Decca, O silêncio dos vencidos, São Paulo, Brasilien
1981, pp. 126 e ss.

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