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1) Introdução:
A Relação Jurídica1 engloba 3 elementos: Sujeito, Objeto e Vínculo Jurídico. Dessa
forma, nota-se uma correlação com os livros da Parte Geral do Código (Livro I – Pessoas; Livro
II – Bens; Livro III – Fatos Jurídicos).
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Relação Jurídica é toda relação da vida social regulada pelo direito.
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Os animais não são considerados sujeitos de direitos, embora mereçam proteção (são objeto de direito).
Por isso não têm capacidade para adquirir direitos (não podem ser beneficiados em testamento, salvo na
forma de encargo).
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Embora não tenha personalidade, a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a sua concepção ( Vida,
art. 542, art. 1.779 e 1.798, CCB).
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2) Personalidade:
É a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres na ordem civil (art.
1º, CCB), ou seja, para ser sujeito de direitos (participar de relação jurídica).
Hoje, sob uma visão existencial, personalidade consiste em um atributo que confere às
pessoas todo um rol de direitos e aptidões que lhe são necessárias para o exercício de sua
dignidade.
Obs.1: Vale notar que este conceito não distingue pessoa natural de pessoa jurídica.
Obs.2: Dever Jurídico é a imposição legal a determinado sujeito, e que não cria uma
relação jurídica com isso. Diferencia-se da obrigação que exige a existência de sujeitos
unidos pelo vínculo jurídico, e natureza patrimonial.
A lei não cria obrigações, mas sim só deveres. Assim, nota-se que o art. 1º do
CCB adotou este raciocínio ao estabelecer que “Toda pessoa é capaz de direitos e
deveres na ordem civil”.
Vale notar que toda obrigação é um dever, mas nem todo dever é uma
obrigação. Em toda obrigação há o dever do sujeito passivo em realizar sua prestação.
Ocorre que pode haver dever desvinculado de qualquer relação obrigacional, por não ter
natureza patrimonial e ser imposto por lei.
O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao de pessoa, uma vez que todo
aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Trata-se,
portanto, de um atributo do ser humano.
Obs.: Pode haver sujeito de direito sem personalidade jurídica? – Conforme visto
na introdução, excepcionalmente o legislador pode reconhecer a qualidade de sujeito de
direitos a quem não é pessoa, não possuindo personalidade jurídica, como é o caso do
ente despersonalizado (Ex: ente despersonalizado considerado fornecedor de serviços
– art. 3º do CDC).
Obs.: Embora não tenha personalidade, a lei põe a salvo os direitos do nascituro
desde a sua concepção (Vide, art. 542, art. 1.779 e 1.798, CCB).
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Diz-se que houve nascimento com vida quando o recém-nascido, ao se desfazer a unidade biológica com
a mãe (não precisa cortar o cordão), tenha respirado. Se respirou e logo em seguida morreu, deve-se
lavrar o assento de nascimento e o de óbito (art. 53, §2º, LRP).
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O STF ora segue a Teoria Natalista, ora a Concepcionista. Já o STJ simpatiza mais com a Teoria
Concepcionista.
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Há doutrinadores que afirmam que o nascituro já é titular do bem. Nascendo com vida somente confirma
tal direito. Se nascer morto, resolve-se o mesmo retroativamente.
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Obs.: Para a teoria concepcionista o direito do nascituro é adquirido desde a concepção. Para a
condicionalista, só se torna adquirido no nascimento com vida (art. 125).
Todavia, embora se interpenetrem, tais atributos não se confundem, uma vez que a
capacidade pode sofrer limitação: “Enquanto a personalidade é um valor, um conceito
absoluto (ela existe, ou não existe), a capacidade é a projeção desse valor que se traduz em
um “quantum”, tratando-se de conceito relativo. Pode-se ser mais ou menos capaz, mas não
se pode ser mais ou menos pessoa”.
Diz-se que a capacidade é a medida da personalidade, pois, para alguns ela é plena e,
para outros, limitada.
Assim, por faltarem a certas pessoas alguns requisitos materiais, como maioridade,
saúde, desenvolvimento mental, etc., a lei, com o intuito de protegê-las, apesar de lhes conferir
capacidade de adquirir direitos, sonega-lhes os de autodeterminarem, de os exercer pessoal e
diretamente, exigindo sempre a participação de outra pessoa (representante ou assistente).
Quem possui as duas espécies de capacidade tem capacidade plena. Quem só ostenta a
de direito, tem capacidade limitada.
Os menores de 16 anos;
Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos;
Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
As pessoas do art. 3º, III (que por causa transitória não puderem exprimir sua
vontade) não dependem de interdição, posto que o art. 1.767, II, apenas se refere aos
com “causa duradoura” (ISSO MUDOU!)
Procedimento de Interdição
O procedimento de interdição, que é especial, de jurisdição voluntária, seguirá o rito
do art. 1.177 do CPC, bem como as disposições da Lei 6.015/73 (LRP).
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Se aplica tanto aos relativamente quanto aos absolutamente incapazes.
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Uma doutrina minoritária afirma que não se pode aferir a culpabilidade do incapaz. Porém esta teoria
não prevalece, pois não se pode prejudicar o incapaz com a sua responsabilização objetiva.
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Obs.: A atuação do MP não ação de interdição que não foi por ele proposta será
a de fiscal da lei (art. 82, II), uma vez não recepcionado pela Constituição
Federal (art. 127 a 129) o contido no art. 1.182, §1º, do CPC
Em seguida, o juiz nomeará perito médico (art. 1.183), que irá proceder ao exame do
interditando e apresentará o laudo. A falta disso acarretará a nulidade. Depois o juiz irá proferir
a sentença.
Obs.: De acordo com o art. 198, I, CCB, a prescrição irá correr contra o
relativamente incapaz, apenas não correndo contra o absolutamente
incapaz.
maioridade não se confunde com a capacidade de fato. Portanto, é uma impropriedade dizer
que a emancipação é a antecipação da maioridade, uma vez que o conceito de maioridade é
estático.
Obs.: VI Jornada de Direito Civil - Enunciado 530 – A emancipação, por si só, não
elide a incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A emancipação poderá ser anulada, mas não revogada. No caso de anulação, os atos
do incapaz serão convalidados, de acordo com a teoria do prejuízo, se nenhum dano for causado
por sua manutenção.
Obs.: Responsabilização dos Pais: Existe um aparente conflito entre o art. 928
(responsabilidade subsidiária) e o art. 942, § único (responsabilidade solidária).
A doutrina majoritária defende que a única hipótese de solidariedade entre pais
e filhos ocorrerá na emancipação voluntária, ou seja, apenas nesse caso de
emancipação incide o art. 942, § único (Enunciado 41 – CJF – I Jornada de
Direito Civil - Enunciado 41 – A única hipótese em que poderá haver responsabilidade
solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art.
5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil.).
Assim, resolve-se que a responsabilidade do menor é, em regra,
subsidiária, sendo solidária apenas quando há a sua emancipação na forma
voluntária. Essa é a posição do STJ, que visa evitar fraude.
Judicial (inciso I): A emancipação judicial terá lugar quando o menor possuir
um tutor, ou seja, não estiver subjugado ao poder familiar, pois o tutor não pode
emancipar voluntariamente o tutelado (mas deverá ser ouvido).
Este será um ato de jurisdição voluntária (art. 1.112, I CPC – art. 725, I,
NCPC), e essa emancipação se dará por sentença, levando em consideração o interesse
do menor.
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Essa restrição só se aplica à emancipação voluntária. As demais emancipações também afastarão o
dever de indenizar dos pais.
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Quanto à anulabilidade, a doutrina majoritária entende que, por em regra produzir efeitos ex nunc (art.
177), a emancipação se manteria. Já uma corrente minoritária entende que tanto o ato nulo como o
anulável produzem efeitos ex tunc, conforme art. 182.
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incapaz (art. 1.563), salvo se o contraiu de boa-fé. Nesse caso, o casamento será
putativo (art. 1.561) em relação a ele e produzirá todos os efeitos de um
casamento válido, inclusive a emancipação.
A união estável não é causa de emancipação, uma vez que o rol do art.
5º, § único, é taxativo, e isso causaria insegurança jurídica.
3.3) Legitimação:
A capacidade não se confunde com a legitimação. A Legitimação é a aptidão para a
prática de determinados atos jurídicos. É uma espécie de “capacidade especial” exigida em
certas situações.
Note-se, portanto, que a capacidade de fato é genérica, a pessoa que a detém tem
genericamente a possibilidade de realizar os atos da vida civil. Certos atos, porém, demandam
uma capacidade específica, e esta nem sempre está inclusa na capacidade genérica. Se a lei
exige determinados requisitos para a prática de um ato, determina que só há legitimação
àqueles que preencherem tais requisitos4.
Assim, mesmo sendo capaz de fato, pode ocorrer de alguém não ser legitimado para o
ato (Ex.: art. 496 do CCB – o ascendente tem capacidade de fato para alienar bens de seu
acervo, mas para alienar bens para seu descendente é necessária a legitimação, que só será
configurada no preenchimento do requisito legal – anuência dos demais descendentes e
cônjuge).
Capacidade no CPC
Importante ressaltar que o estudo da capacidade no direito civil é diferente da
capacidade processual das partes, do processo civil, como pressuposto (requisito) processual
(art. 267, IV, CPC – art. 485, IV). A capacidade processual das partes se dividem em 3:
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I) Capacidade para ser Parte (art. 7º, CPC – Art. 70, NCPC): Toda pessoa que se
acha no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo. É inerente a
todas as pessoas (físicas ou jurídicas), plenamente capazes ou não, inclusive os
entes despersonalizados a quem a lei atribui personalidade jurídica (art. 12, CPC –
Espólio, Massa Falida, Condomínio, etc.).
Trata-se da morte em que há materialidade, e a sua prova faz-se pelo atestado de óbito.
Não há necessidade que as pessoas estejam no mesmo lugar. Um não herdará do outro,
não havendo transferência de bens entre esses. Porém, a presunção de morte simultânea é
relativa.
Obs.1: Cristiano Chaves critica a expressão morte “presumida” para os casos do art. 7º, já que a
morte é real, mas há impossibilidade de se atestar o óbito, dada a ausência de materialidade.
Assim, substitui-se a declaração de óbito do médico pela sentença do juiz, que será levada ao
RCPN para a obtenção da certidão de óbito. Para o autor, a morte “presumida” seria somente
para os casos de ausência.
Obs.2: A Lei de Registros Públicos, em seu art. 88, prevê um procedimento de justificação,
destinado a suprir a falta do atestado de óbito, que não pode ser fornecido pelo médico em razão
de o corpo não ter sido encontrado.
Neste caso, o procedimento a ser observado é o do art. 861 a 866 do CPC, específico
para a justificação da existência de algum fato ou relação jurídica. O juiz determina a lavratura
de um assento de óbito, com a data provável da morte, que será o marco da abertura da
sucessão definitiva do de cujus.
Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas
desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando
estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para
exame.
5) Ausência14:
Ausente é a pessoa que desaparece de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro
e sem deixar um representante ou procurador para administrar-lhe os bens (art. 22, CCB).
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No CC/1916 o ausente era equiparada a pessoa absolutamente incapaz. O novo CC entende que eles
gozam de plena capacidade de fato no lugar onde eventualmente se encontram.
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A ausência não é a constituição de um novo estado, e sim a declaração de uma situação que já se
instalou para aquela pessoa (art. 9º, IV, CCB).
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Nesta fase procura-se preservar os bens deixados pelo ausente para a hipótese de seu
eventual retorno. Destaque-se os efeitos são patrimoniais, não se tratando de uma declaração de
morte, mas sim de ausência.
Obs.: A curadoria irá cessar (art. 1.162, CPC) pelo comparecimento do ausente, pela
certeza da morte ou pela sucessão provisória.
Note-se que o término da arrecadação (fase anterior) é o termo a quo para a contagem
do prazo para abertura da sucessão provisória.
Os legitimados para requerer a abertura da sucessão provisória estão no art. 27. Na falta
de requerimento dos interessados, haverá legitimidade para o MP (art. 28, §1º).
Obs.: É neste momento que transfere-se a propriedade dos bens aos herdeiros e
legatários, sendo este o momento que ocorre a saisine.
Nesta fase os sucessores deixam de ser provisórios, adquirindo o domínio dos bens,
mas de modo resolúvel16, conforme dispõe o art. 39, pois se o ausente regressar (no prazo de 10
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A propriedade será resolúvel pelo período de 10 anos, conforme o art. 39, por ser condicionada a evento
futuro e incerto que, se implementando, resolve a propriedade: a condição resolutiva é o retorno do
ausente. Passados os 10 anos, consolida-se, afinal, a propriedade dos sucessores.
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anos), receberá os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados ou o preço que
houver recebido pelo bem alienado.
Obs.: A lei aplicável para a sucessão é a lei vigente à época da sentença de declaração
de ausência (primeira fase).
2) Já na fase de Sucessão Provisória, o ausente retoma os bens deixados, metade dos frutos
capitalizados pelos herdeiros (exceto os herdeiros necessários), desde que justificada a ausência.
Se restar provado que sua ausência foi voluntária e injustificada, perderá em favor do sucessor
sua parte nos frutos e rendimentos.
O código não traz solução para o caso de o presumido morto retornar, estando o seu
ex-cônjuge já casado com terceira pessoa. Para resolver este problema, existem 2 teorias:
Já a solução alemã não considera nulo o novo casamento, mesmo que reapareça o
ausente, pois que o novo matrimônio dissolve o antigo. Somente os novos esposos é que
poderiam optar por requerer, em conjunto ou separadamente, a anulação do novo
matrimônio.