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CPII – Aula 1 1

Direitos Políticos

Inicialmente, destaque-se que os direitos políticos nada mais são que instrumentos por
meio dos quais a CRFB garante o exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos
cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta ou indiretamente.

Cumpre trazer a definição clássica de Pimenta Bueno, no qual direitos políticos são:
“prerrogativa, atributos, faculdades, ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo
de seu país, intervenção direta ou indireta, mais ou menos ampla, segundo a intensidade de
gozo desses direitos. São o Jus Civitatis, os direitos cívicos, que se referem ao Poder Público,
que autorizam o cidadão ativo a participar na formação ou exercício da autoridade nacional, a
exercer o direito de vontade ou eleitor, os direitos de deputados ou senador, a ocupar cargos
políticos e a manifestar suas opiniões sobre o governo do Estado”.

Constitucionalismo e Soberania Popular:


A ideia de que todo Estado deva possuir uma Constituição e de que esta deve conter limitações
ao poder autoritário e regras de prevalência dos direitos fundamentais, desenvolve-se no sentido da
consagração de um Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, CRFB), e, portanto, de soberania
popular.
O art. 1º, § único, distingue a titularidade de exercício do poder. O titular do poder é o povo.
Porém, como regra, o exercício desse poder dá-se através dos representantes do povo no Poder
Legislativo (Deputados e Vereadores – art. 45, CRFB).
Obs.: Vale lembrar que os Senadores representam os Estados-membros e o Distrito Federal, conforme
art. 46, CRFB.
Além de desempenhar o poder de maneira indireta (Democracia Representativa), o povo
também o realiza diretamente (Democracia Direta), concretizando a soberania popular, conforme os
incisos do art. 14, CRFB, regulamentado pelo art. 1º, da Lei 9.709/98, mediante plebiscito, referendo e
iniciativa popular.
Assim, pode-se dizer que a CRFB consagra a Democracia Semidireta ou Participativa,
verdadeiro sistema híbrido.

1) Democracia:,
Quando se fala em democracia, associais à ideia de governo do povo (demo = povo e
cracia = governo). Dessa forma pode-se dividir os regimes políticos em democráticos e não
democráticos (regimes ditatoriais – autoritarista, totalistarismo). Trata-se, portanto, de regimes
políticos, quenada mais são do que técnicas de desempenho do poder do Estado. Este, em
regra, é dividido em 3 espécies:

 Monocracia - é o regime político desempenhado por 1 pessoa;


 Oligocracia - é o regime político desempenhado por uma classe de pessoas;
 Democracia - é o regime político desempenhado por todas as pessoas.

Obs.: Lembre que os radicais Mono (um); Oligo (alguns); Demo (todos) são oriundos do
grego.

A democracia pode ser conceituada como sendo o governo do povo, para o povo e pelo
povo, veja:
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Governo do Povo Governo para o Povo Governo pelo Povo


Soberania Popular Objeto Finalístico Representação Popular
Soberania popular significa A democracia se destinará à Nesses caso o exercício do
que este é titularizado sempre proteção dos direitos poder político nem sempre
pelo povo. fundamentais. será exercido pelo povo,
podendo ser executado pelos
seus representantes.

Deve-se destacar ainda a ideia do Novo Constitucionalismo Latino Americano, tratado por
alguns autores americanos. Essa expressão foi criada pelo autor espanhol Rubens Dalman, que se refere
a três experiências: Venezuela em 1999; Equador em 2006 e Bolívia em 2010.

A característica desses três países foi haver uma constituição outorgada que ficara submetida a
plebiscitos ou a referendos na tentativa de dar um grau de legitimidade mínimo para torná-la de acordo
com o povo. Note que esse processo, que confunde democracia com voto, entendendo que basta que se
vote para que haja democracia. Esse tipo de processo, infelizmente, vem se espalhando pela América
Latina, mostrando que esses dois institutos de democracia direta estão sendo aplicados para dar
legitimidade a constituições não legitimas.

1.1) Classificação
De modo geral, podemos classificar os regimes democráticos em 3 espécies:

a) Democracia Direta: O povo exerce por si só o poder, sem intermediários, sem


representantes (Ex.: Democracia de Atenas – apenas homens livres).

b) Democracia Indireta ou Representativa: O povo, soberano, elege


representantes, outorgando-lhes poderes, para que, em nome deles e para o povo,
governem o país.
No Brasil o povo escolhe seus representantes por eleição, em uma democracia
partidária (não se admite candidato que não seja filiado a partido político1).

c) Democracia Semidireta ou Participativa: Trata-se de um sistema híbrido,


sendo uma democracia representativa, com peculiaridades e atributos da democracia
direta, permitindo a participação direta e concreta do cidadão.
Este foi o modelo adotado pela CRFB (art. 1º, § único, e art. 14), na qual prevê a
participação popular no poder por intermédio de um processo, de modo que o exercício
da soberania se instrumentaliza por meio do plebiscito, referendo, iniciativa popular, e
ação popular.

Obs.: As formas de participação direta do povo que estão no art. 14, CRFB não
são as únicas. Portanto, o rol do art.14 não é taxativo. Existem ao longo do texto
constitucional outras formas de participação direta, como a Ação Popular (art. 5º,
LXXIII, CRFB), Iniciativa popular de leis no âmbito municipal e estadual (art.

1 Não se admite que o militar tenha filiação partidária. Assim, a filiação partidária, enquanto condição de
elegibilidade, para o militar é mitigada. O militar terá o registro da candidatura sem filiação partidária num
primeiro momento, mas tem que ter um atestado de um partido de que depois de eleito irá para a inatividade (art.
14, §8º, I e II, CRFB).
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29, XIII; e art. 27, §4º, CRFB); Audiência Pública2 (art. 58, §2º, II, CRFB),e
Participação do Povo na Administração Pública (art. 37, §3º, CRFB).

1.1.a) Plebiscito e Referendo (art. 14, I e II)


Tais institutos se encontram regulados infraconstitucionalmente pela regulados
pela Lei 9.709/1998, e, conforme seu art. 2º, se assemelham por serem formas de
consulta ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza
constitucional, legislativa ou administrativa. A diferença se dá no momento da consulta.

O Plebiscito é uma consulta prévia que se faz aos cidadãos no gozo dos seus
direitos políticos, sobre determinada matéria a ser, posteriormente, discutida no
Congresso Nacional. Assim sendo, há convocação com anterioridade ao ato legislativo
ou administrativo, cabendo ao povo, por meio do voto, aprovar ou denegar o que lhe
tenha sido submetido à apreciação. Neste sentido fica o governante condicionado ao
que for deliberado pelo povo.

Temos como exemplo de plebiscito, o previsto no art. 2º do ADCT, para a escolha


da forma e sistema de governo (1993)3.

Obs.: A EC nº 4/1961, à Constituição de 1946, fixou a possibilidade de lei


complementar “dispor sobre a realização de plebiscito que decida sobre a
manutenção do sistema parlamentar ou voltar ao sistema presidencial. Contudo,
parte da Doutrina considera que se tratou de um referendo, pois ocorreu depois
de já tomado o ato (a instituição do parlamentarismo no Brasil).

No Referendo há uma consulta posterior sobre determinado ato governamental,


para ratificá-lo (concedendo-lhe eficácia – condição suspensiva) ou para retirar-lhe
eficácia (condição resolutiva). Portanto, primeiro se tem o ato legislativo ou
administrativo, para, só então, submetê-lo à apreciação do povo, que o ratifica
(confirma) ou o rejeita (afasta).

Obs.: Em tais hipóteses, o voto também será obrigatório, com base no art. 14, §1º,
CRFB.

Como exemplo de referendo temos o previsto no art. 35, §1º, da Lei 10.826/2003
(Estatuto do Desarmamento), organizado pelo TSE, na qual previa a manifestação do
eleitorado sobre a manutenção ou rejeição da proibição da comercialização de armas de
fogo e munição em todo o território nacional (2005).

Obs.: A Lei 10.826/2003 foi objeto de diversas ADIs, de modo que o STF
(Ricardo Lewandowski) determinou o apensamento de todas à de nº 3.112, já que
esta impugnava a totalidade da lei. No mérito, o STF decidiu pela
inconstitucionalidade do § único dos arts. 14 e 15 (considerou não razoável a
vedação de fiança) e art. 21 do Estatuto (violação da presunção de inocência e do

2 Esta não vincula o órgão ou o poder que a realizou.


3 No referido plebiscito o voto seguiu a regra da obrigatoriedade, conforme art. 3º da Lei8.6245/1993.
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devido processo legal ao vedar a liberdade provisória – a CRFB não permite
prisão ex lege, sem motivação)4. Afastou-se as alegações de inconstitucionalidade
formal.

Vale lembrar que a competência de autorizar referendo e convocar plebiscito,


conforme art. 49, XV, CRFB, é exclusiva do Congresso Nacional, que se materializará
por meio de decreto legislativo. Alexandre de Moraes põe a salvo quando a própria
Constituição expressamente determinar (Ex.: Art. 18, §3º e §4º; Art. 2º, ADCT) (Nestas
hipóteses não depende do Congresso Nacional?).

Obs.: De acordo com o art. 3º da Lei 9.709/98, nas questões de relevância


nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso
do art. 18, §3º, CRFB, o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto
legislativo, por proposta de 1/3, no mínimo, dos membros que compõem
qualquer das Casas do Congresso Nacional.

Por fim, discute-se sobre a possibilidade do resultado de plebiscito ou referendo


ser modificado por lei ou emenda à Constituição. De acordo com Lenza, tal lei seria
flagrantemente inconstitucional, uma vez que houve manifestação da vontade popular,
que passa a ser vinculante. Assim, considera-se que haveria violação ao art. 1º, § único,
da CRFB. (Ver se é isso mesmo)

Neste sentido, pode-se concluir que a democracia direta prevalece sobre a


democracia representativa, de modo que a única forma de modificar a vontade popular
seria mediante nova consulta.

1.1.b) Inciativa Popular (art. 14, III):


Em âmbito federal, significa a possibilidade de apresentação de projeto à Câmara
dos Deputados, subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por
pelo menos 5 Estados com não menos de 0,3% de eleitores de cada um deles, conforme
dispõe o art. 61, §2º, CRFB e art. 13 da Lei 9.709/98.

1.1.c) Recall e Veto Popular:


Tratam-se de institutos de democracia semidireta, que não foram adotados pela
CRFB/88.

O Recall, que possui origem nos EUA, é um mecanismo de revogação popular


do mandato eletivo (Ex.: não cumprimento de promessa de campanha). José Afonso da Silva
denomina de revocação popular, definindo-o como um “instituto de natureza política,
pelo qual os eleitores, pela via eleitoral, podem revocar mandatos populares”.

4 Mais informações – Informativo nº 465/STF.


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O Veto Popular é o instrumento pelo qual o povo poderia vetar projetos de lei,
podendo arquivá-los, mesmo contra a vontade do parlamento. Teria efeito sobre os
projetos de lei tramitando no Congresso Nacional.

1.2) Estado Democrático de Direito: (entender isso melhor).


A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito,
conforme o art. 1º, CRFB. A previsão desse regime jurídico é reforçada pelo princípio
democrático que marcou a CRFB/88.

O Estado Democrático de Direito busca um ponto de equilíbrio entre dois valores que
tendem a ser antagônicos entre si: de um lado, o princípio majoritário (entenda-se como a
prevalência da vontade da maioria) e de outro lado, o valor da limitação do poder político (ou
seja, é o poder político limitado).

Quando se fala em limitação do poder político, esse valor do poder político limitado é a
essência do Estado de Direito, sendo que a limitação do poder político se dá através de normas
jurídicas. Por sua vez, a ideia central de democracia é a de vontade da maioria com respeito das
minorias.

Vamos imaginar que num Estado, a maioria do povo entenda que os judeus constituem
uma raça inferior, devendo ser eliminados. Numa ideia extrema de vontade da maioria, caso se
radicalize a ideia de vontade da maioria, poderia se chegar ao absurdo de dizer que se uma
decisão deriva da vontade da maioria é legítima em si mesma. Então, se poderia legitimar a
perseguição a um grupo alegando que isso deriva da vontade da maioria. Por outro lado, caso
se leve a ideia de Estado de Direito ao extremo, pode-se entender que o poder é tão limitado
que de nada adianta a vontade da maioria.

Dessa forma, esses dois valores levados ao extremo se mostram antagônicos. Portanto, o
Estado Democrático de Direito pretende definir um poder político limitado, porém limitado,
a partir de valores definidos pela maioria sem sacrificar as minorias. No nosso caso, os valores
definidos pela maioria estão plasmados na CRFB. Assim, há um núcleo limitador do poder sem
sacrificar a vontade da maioria e se insere a ideia de defesa e manutenção das conquistas
sociais, chegando-se assim, a vertente que seria o Estado Democrático Social De Direito (≠
Estado Democrático Liberal de Direito). No Estado Democrático Social De Direito, o que se insere
são as conquistas econômicas e sociais.

Obs.: Ao falar em estado democrático de direito, pode-se pensar em duas


vertentes:

 A primeira vertente liberal onde o estado busca intervir o menos possível.


Numa vertente extrema de Estado Liberal, cada um busca livremente os
seus próprios direitos, então, o Estado não deveria intervir para
promover a igualdade. Repare que esse nada se assemelha ao Estado
Democrático Social De Direto que busca a intervenção do estado na
sociedade para promoção da igualdade com estado socialista;
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 A segunda vertente social que defende uma intervenção do estado tanto
na economia quanto na sociedade de modo a promover a igualdade de
todos. Havendo a promoção de direitos econômicos, culturais e sociais,
que são considerados direitos de segunda geração. Neste, haverá
incidência das ações afirmativas.

2) Conceitos Básicos:
 Soberania Popular: Conforme Uadi Lammêgo Bulos, é a qualidade máxima do poder
extraída da soma dos atributos de cada membro da sociedade estatal, encarregado de
escolher os seus representantes no governo por meio de sufrágio universal e do voto direto,
secreto e igualitário.

 Nacionalidade: É o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado


Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, por
consequência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações.

 Cidadania: Tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a cidadania),
caracterizando como a titularidade de direitos políticos de votar e ser votado. O cidadão,
portanto, é o nacional que goza de direitos políticos.

 Sufrágio: É o direito político em si considerado. É o direito de participação da vida


política de uma nação. É o direito de votar e ser votado. Trata-se da capacidade eleitoral
ativa (direito de votar, capacidade de ser eleitor, alistabilidade) e capacidade eleitoral
passiva (direito de ser votado, elegibilidade).

 Voto: É o ato por meio do qual se exercita o sufrágio (instrumento do sufrágio). De acordo
com Alexandre de Moraes, o voto possui natureza de direito público subjetivo, possuindo
também função política e social de soberania popular na democracia representativa.
Ademais, para muitos se caracteriza como um dever.

Obs.: O Sufrágio é um direito abstrato, já o voto é um direito concreto. O voto é o


exercício do sufrágio.

Obs.2: o jus sufragi é o direito de votar (que depende de alistabilidade), e o jus


honorum é o direito de ser eleito (que pressupõe elegibilidade).

 Escrutínio: É o modo, maneira, forma pela qual se exercita o voto (público ou secreto).

3) Direito Político
3.1) Direito Político Positivo (Direito de Sufrágio):
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Um dos núcleos dos direitos políticos é o direito de sufrágio, que se divide, como visto,
em capacidade eleitoral passiva e ativa.

Na capacidade eleitoral ativa, o exercício do sufrágio se dá pelo voto, que pressupõe


alistamento eleitoral (título eleitoral5), nacionalidade brasileira, idade mínima de 16 anos, e não
ser conscrito6 durante o serviço militar obrigatório, conforme art. 14, §1º e §2º.

Obs.: De acordo com o art. 14, §1º, I, CRFB, o voto é obrigatório para os maiores
de 18 e menores de 70 anos. Fora de tal faixa, o voto é facultativo.

Obs.2: Voto do deficiente físico: De acordo com o art. 1º e § único da Resolução


21.920/2004, o voto é obrigatório para o deficiente físico, porém não estará
sujeita a sanção a pessoa portadora de deficiência que torne impossível ou
demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais, relativas ao
alistamento e ao exercício do voto. Assim, o deficiente, a priori, é obrigado a
votar, mas pode pedir a dispensa, desde que fundamentada. Na visão de Gilmar
Mendes, o voto para o deficiente deve ser facultativo.

O voto é direto, secreto, universal, periódico, livre, personalíssimo e com valor igual
para todos. Vale lembrar que o constituinte originário elevou à categoria de cláusula pétrea tais
características, conforme art. 60, §4º, II.

 Direto: O cidadão vota diretamente no candidato, sem qualquer intermediário.


Para José Afonso da Silva, tal regra é absoluta e não possui exceções. Contudo, para
Alexandre de Moraes e Lenza, excepcionalmente, é possível eleição indireta no
Brasil, conforme art. 81, §1º (vagar os cargos de Presidente e Vice nos últimos 2 anos
do mandato), na qual a eleição para ambos os cargos será feita pelo Congresso
Nacional.

 Secreto: Não se dá publicidade da opção do eleitor, mantendo-se absoluto sigilo.


Obs.: De acordo com o STF (ADI 1.057-MC), as deliberações parlamentares
devem pautar-se pelo princípio da publicidade, a traduzir dogma do regime
constitucional democrático. Neste sentido, o art. 14, CRFB, tem por destinatário
específico e exclusivo o eleitor comum, no exercício das prerrogativas inerentes
ao satus activae civitatis, não se aplicando tal norma de garantia ao membro do
Poder Legislativo nos procedimentos de votação parlamentar. Neste, prevalece o
postulado da deliberação ostensiva ou aberta.

 Universal: Seu exercício não está ligado a nenhuma condição discriminatória,


como aquelas de ordem econômica (ter ou não certa renda - censitário), intelectual
(ser ou não alfabetizado – capacitário), etc. O voto no Brasil, portanto, não é restrito.

5 Conforme o STF decidiu em medida cautelar na ADI 4.467, não há necessidade de dupla identificação do eleitor,
por ferir a proporcionalidade e razoabilidade. Assim, basta apresentar documento oficial com foto para exercício da
capacidade eleitoral ativa. O mérito se encontra pendente.
6 São aqueles que estão prestando serviço militar obrigatório.
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 Periódico: A democracia representativa prevê e exige mandatos por prazo


determinado. Tal garantia está prevista no art. 60, §4º, de modo que a democracia
representativa exige a existência de mandatos com prazo determinado.

 Livre: A escolhe pode dar-se por um ou outro candidato, podendo também anular
ou votar em branco. A obrigatoriedade está em comparecer à urnas apenas. Neste
sentido, Alexandre fala em “obrigatoriedade de formal comparecimento”.

 Personalidade / Personalíssimo: É vetada a votação por procurador, de


modo que o voto deve ser exercido pessoalmente pelo cidadão.

 Igualitário: Decorre do princípio one mano ne vote, de forma que o voto deve ter
valor igual para todos.

Obs.: Alexandre de Moraes também traz como característica a obrigatoriedade


formal do comparecimento. Contudo, tal característica não é inerente a todos os
eleitores, e não está arrolada no caput do art. 14.

Já a capacidade eleitoral passiva (elegibilidade), que nada mais é que a


possibilidade de eleger-se, concorrendo a um mandato eletivo, apenas se torna absoluto caso
preencha todas as condições de elegibilidade para o cargo ao qual se candidata e, ainda, não
incidir em nenhum dos impedimentos constitucionalmente previstos (direitos políticos
negativos).

As condições de elegibilidade estão previstas no art. 14, §3º (ler7 - cai em prova). Em
relação à idade mínima, de acordo com a Res. 22.156/TSE, esta é verificada por referência a data
da posse.

3.2) Direitos Políticos Negativos:


Trata-se de formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades político-
partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como o impedindo
de eleger um candidato (capacidade eleitoral ativa) ou ser eleito (capacidade eleitoral passiva).
Neste ponto, abordaremos as inelegibilidades, a perda e a suspensão dos direitos políticos.

3.2.a) Inelegibilidades:
As inelegibilidades são as circunstâncias (constitucionais ou legais) quem impedem o
cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva (eleger-se).

Obs.: Não deve ser confundido com a inalistabilidade (impede o exercício da


capacidade eleitoral ativa) e a incompatibilidade (já eleito, impede-se o exercício
do mandato).

7Vale notar que o estrangeiro naturalizado pode candidatar-se ao Senado Federal ou Deputado Federal, apenas
não podendo ser eleito presidente daquelas Casas (art. 12, §3º, III).
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De acordo com o art. 14, §9º, as inelegibilidades protegem a probidade administrativa, a
moralidade para o exercício do mandato, considerando a vida pregressa do candidato e a
normalidade e legitimidade das eleições, contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

As causas de inelegibilidade estão previstas no §4º ao §8º do art. 14, normas estas que
independem de regulamentação infraconstitucional (normas de eficácia plena e imediata), e
em lei complementar, que poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade, conforme §9º.

As inelegibilidades se dividem em absolutas e relativas:

 Inelegibilidade Absoluta: Trata-se de impedimento eleitoral para qualquer


cargo eletivo, taxativamente previsto na CRFB.
Trata-se das hipóteses previstas no art. 14, §4º, abordando os inalistáveis8
(previstos no §2º - estrangeiros9, conscritos) e os analfabetos (este tem direito a se
alistar, podendo votar, mas não possui capacidade eleitoral passiva).

 Inelegibilidade Relativa: Trata-se de impedimento eleitoral para algum cargo


eletivo ou mandato, em decorrência de situação prevista na CRFB ou Lei
Complementar. Contudo, podem eleger-se para outros cargos sobre os quais não
recaia inelegibilidade.
Trata-se das hipóteses em decorrência da função exercida, parentesco, ser
militar, outras situações previstas em lei complementar (art. 14, §9º).

1. Inelegibilidade relativa em razão da função exercida (motivos


funcionais)

1.1. Inelegibilidade relativa em razão da função exercida para um


terceiro mandato sucessivo (art. 14, §5º): Os chefes do poder executivo e
quem os houver sucedida ou substituído no curso do mandato não pode ser reeleito
para um terceiro mandato sucessivo10.
Trata-se de regra trazida pela EC 16/67, que permite a reeleição por um único
período subsequente. Contudo, se permite que, após o intervalo de uma legislatura, se
candidate para um terceiro mandato não sucessivo.
De acordo com a Res. n. 20.889/01/TSE, sobre o questionamento se os vices
podem ser candidatos à sucessão do titular reeleito (este não pode mais ser candidato a
um terceiro mandato sucesso), abordando a lógica do art. 14, §5º11, ficou determinou
que o Vice, tendo ou não sido reeleito, se sucede o titular, poderá candidatar-se à
reeleição por um período subsequente. No entanto, para candidatar-se a cargo diverso,
deverá observar o art. 1º, §2º, da LC 64/90.

8 Vale lembrar que o alistamento eleitoral é indiscutível condição de elegibilidade.


9 Conforme José Afonso da Silva, os estrangeiros não adquirem direitos políticos, que só são atribuídos a brasileiros
natos e naturalizados. Não são, portanto, alistáveis eleitores, nem podem votar ou serem votados (art. 14, §2º).
10 Pode ser eleito para um terceiro mandato, desde que não seja sucessivo.
11 O art. 79, CRFB, estabelece a diferença de sucessão para substituição.
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§ 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando
os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou
substituído o titular.

Tal entendimento foi mantido pelo STF no RE 366.488.

CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. VICE-GOVERNADOR ELEITO DUAS VEZES


CONSECUTIVAS: EXERCÍCIO DO CARGO DE GOVERNADOR POR SUCESSÃO DO TITULAR:
REELEIÇÃO: POSSIBILIDADE. CF, art. 14, § 5º. I. - Vice-governador eleito duas vezes para o cargo
de vice-governador. No segundo mandato de vice, sucedeu o titular. Certo que, no seu primeiro mandato
de vice, teria substituído o governador. Possibilidade de reeleger-se ao cargo de governador, porque o
exercício da titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão. Somente quando sucedeu12 o
titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato como titular do cargo. II. - Inteligência do
disposto no § 5º do art. 14 da Constituição Federal. III. - RE conhecidos e improvidos. (STF - RE:
366488 SP , Relator: CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 04/10/2005, Segunda Turma, Data de
Publicação: DJ 28-10-2005 PP-00061 EMENT VOL-02211-03 PP-00440 LEXSTF v. 27, n. 324, 2005,
p. 237-245 RB v. 18, n. 506, 2006, p. 51)

1.2. Prefeito Itinerante / Prefeito Profissional: Trata-se de hipótese em que


prefeito reeleito para um mesmo Município, na medida em que inelegível para 3º
mandato consecutivo, transfere seu domicílio eleitoral para município diverso,
buscando afastar a inelegibilidade do art. 14, §5º, CRFB.
Durante muito temo o TSE (RESPE 32.507) admitia tal situação13, porém mudou
seu entendimento em 2008, passando a não mais admitir essa situação, por configurar
fraude mediante a faculdade de transferir-se domicílio eleitoral, de modo a ilidir a
incidência do art. 14, §5º, CRFB. Nota-se evidente desvio de finalidade do direito à
fixação do domicílio eleitoral.
O STF (RE 637.48514) manteve tal entendimento, não admitindo o terceiro
mandato consecutivo, mesmo na hipótese de municípios distintos. Neste sentido,
assentou-se que a inelegibilidade atinge cargo da mesma natureza, ainda que em ente
da federação diverso. Tal decisão buscou fundamento no princípio republicano, no
sentido de respeito à temporariedade e alternância no exercício do poder.
Contudo, é possível que o prefeito, observando a desincompatibilização de 6
meses antes de novo pleito, saia a candidato a outros cargos (Governador, Presidente,
Deputado, Vereador), na forma do art. 14, §6º, apenas sendo vedado para Prefeito,
ainda que de outro município.

1.3. Inelegibilidade relativa em razão da função para concorrer a


outros cargos: De acordo com o art. 14, §6º, os Chefes do Executivo, para concorrer
a outro cargo, devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 meses antes do pleito.
Trata-se do instrumento de desincompatibilização15.

12 No entendimento do STF, a redação do art. 14, §5º, foi infeliz ao se refere “quem houve sucedido ou substituído”,
de modo que o exercício da titularidade do cargo somente se dá pela eleição ou sucessão. O texto constitucional não
proíbe a candidatura daquele que tenha substituído precariamente o titular do cargo
13 Com algumas limitações, como no caso de município limítrofe, microrregião eleitoral única ou resultante de

desmembramento, incorporação ou fusão.


14 O STF modulou os efeitos da decisão, aplicando-a apenas prospectivamente, a partir de 2012.
15 Desincompatibilização é o afastamento da incompatibilidade.
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O STF (ADI 1.805-MC/DF) entende que a desincompatibilização deve dar-se
somente para a candidatura a outros cargos, diversos, diferentes. Para a reeleição, os
Chefes do Executivo não precisam, portanto, renunciar 6 meses antes do pleito.
Em relação aos vices, a mencionada regra de desincompatibilização não incide,
na medida em que não são mencionados no art. 14, §6º, a não ser que tenham, nos 6
meses anteriores ao pleito, sucedido ou substituído os titulares.

2. Inelegibilidade relativa em razão do parentesco (Inelegibilidade


reflexa): De acordo com o art. 14, §7º, CRFB, são inelegíveis, no território da circunscrição
do titular, o cônjuge (se estende à União Estável, inclusive união homoafetiva) e os parentes
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção dos Chefes do Executivo ou
quem os haja substituído dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de
mandato eletivo e candidato à reeleição (Ex: O filho não pode ser vereador no município em que
seu pai é prefeito e está no mandato - art.14, §7º, da CRFB). Tal limitação se dá dentro da
circunscrição (território) que o chefe do poder executivo exerce o mandato.
Segundo o STF (RE 543.117), tal regra deve ser interpretada de maneira a dar
eficácia e efetividade aos postulados republicanos e democráticos da Constituição,
evitando-se a perpetuidade ou alongada presença de familiares no poder.
De acordo com o STF (Informativo 283), o tratamento dispensado ao titular do
cargo deve ser o mesmo adotado relativamente aos parentes, ou seja, sendo reelegível o
titular, e renunciando 6 meses antes do pleito, permite-se a candidatura de seus parentes ao
mesmo cargo. Ademais, afirmou-se que parentes podem concorrer nas eleições, desde que o
titular do cargo tenha o direito à reeleição e não concorra na disputa.
Assim sendo, o prefeito, o governador e o presidente que estiverem no 1º mandato
podem ser reeleitos (cargos do poder legislativo não possuem limitação ao número de
reeleições). Todavia, eles podem renunciar ao mandato e, com isso, permitir que o cônjuge e
os parentes possam concorrer na mesma circunscrição eleitoral (Municípios, Estado, etc.)
(Mas se estiver no 2º mandato, ainda que renuncie 6 meses antes da eleição, não será
permitido que seu parente se candidate). Trata-se de uma exceção permitida pela
jurisprudência do TSE, que se baseia em uma interpretação sistemática entre o art. 14 §5º e o
§7º, CRFB.

Obs.: No caso de governador, irá gerar impedimento para todos os cargos dentro do
estado (inclusive Governador), menos o de presidente e vice-presidente da república
(Deputado Federal e Senador são eleitos por um estado - Se tornam Senador eleito
pelo Estado do Rio e Deputado Federal do RJ) (mas haverá possibilidade se
candidatar a qualquer cargo dentro de outro estado).

Obs.2: Caso Garotinho e Rosinha: Se meu pai estiver no 1º mandato de prefeito, e se


afastar 6 meses antes, eu posso concorrer para prefeito. Esta renúncia favorece o
parente, desde que seja no 1º mandato (porém não afasta as causas de
ineligibilidade, apenas é instrumento de desincompatibilização). Porém, se eu for
eleito (depois do meu pai ter renunciado 6 meses antes do fim de seu 1º mandato),
não poderei me recandidatar, pois já estarei no 2º mandado naquela relação familiar
(é como se eu estivesse substituindo a recandidatura de meu pai). Note-se que, não
afasta a ineligibilidade, pois se meu pai já estiver no 2º mandato, não adiantará ele
renunciar 6 meses antes, pois de qualquer forma eu não poderei me candidatar.
CPII – Aula 1 12

Por fim, de acordo com a Súmula Vinculante 18, pacificou o STF que a dissolução
da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não fasta tal inelegibilidade.
Porém, de acordo com o STF (RE 758.461), não há de ser seguida a orientação constante na
Súmula Vinculante 18, a qual não se aplica nos casos de extinção do vínculo conjugal pela
morte de um dos cônjuges.

3. Militares: De acordo com o art. 14, §8º, o militar alistável é elegível, sendo que, se tiver
menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade, e se tiver mais, será agregado
pela autoridade superior (afastado temporariamente), e se eleito passará automaticamente,
no ato da diplomação, para a inatividade.
De acordo com interpretação do STF (RE 279.469), o termo “afastar-se” deve ser
entendido como definitivo, de modo que deve ser excluído do serviço ativo mediante
demissão ou licenciamente ex officio, e o consequente desligamento da organização a que
estiver vinculado.

4. Inelegibilidades previstas em lei complementar: Trata-se de permissão


prevista no art. 14, §9º, para que lei complementar estabeleça outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação. Ademais, por se tratar de restrições a direitos
fundamentais, somente novas inelegibilidades relativas podem ser definidas, já que as
absolutas só se justificam quando estabelecidas pela CRFB16. Neste sentido foi criada a LC
64/90, que recebeu alterações da LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa).

Obs.: Segundo o STF (ADI 1.063-MC), os requisitos de elegibilidade


(domicílio eleitoral, filiação partidária, etc.) podem ser disciplinados
mediante lei ordinária, posto que não se confundem, no plano jurídico-
conceitual, com as hipóteses de inelegibilidade, que só podem derivas de
norma inscrita em lei complementar.

Assim, para o STF, dispensa-se lei complementar, por exemplo,


para os casos de regular as sanções de cassação do registro ou do diploma
em decorrência de captação de sufrágio (art. 41-A, Lei 9.504/97) não
constituem novas hipóteses de inelegibilidade (ADI 3.592); e previsão de
proibição de inauguração de obra 3 meses antes do pleito (art. 77 da Lei
9.504) (ADI 3.305).

Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010)


Inicialmente, destaque-se que o art. 14, §9 declarou a possibilidade de previsão de
inelegibilidade decorrente de lei complementar “...a fim de proteger a probidade
administrativa, a modalidade para exercício de mandato considerada a vida pregressa do
candidato...”. Neste sentido, a LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) modificou a LC 64/90 para
trazer novas hipóteses de inelegibilidade.
A LC 135/2010 passou a definir com mais precisão o conceito de “vida pregressa do
candidato”, passando a dar maior peso a eventual “ficha suja”.

16Para Pedro Lenza, ademais, apenas pode ser fixada pelo constituinte originário, sob pena de se ferir direito e
garantias individuais (art. 60, §4º, IV).
CPII – Aula 1 13
Antes de tal modificação, para que se caracterizasse hipótese de inelegibilidade era
necessário que houvesse sentença negativa transitada em julgado (O STF considerava
constitucional tal regra).
Com a mudança, passou-se a prever hipótese de inelegibilidade não somente no caso de
decisão transitada em julgado por praticado, como também em razão de decisão proferida, na
hipótese dos crimes elencados, por órgão colegiado, mesmo que ainda não tenha ocorrido o
trânsito em julgado (art. 1º, I, e, LC 64/90). De igual modo houve previsão em relação à decisão
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, em decorrência de
algumas atitudes vedadas.
Contudo, a referida alteração gerou 2 discussões:

1) Era possível aplicar as alterações à eleição de 2010? – Alguns


candidatos alegavam que iria ferir o princípio da anualidade eleitoral17
(art. 16, CRFB),
de modo que a lei que altera o processo eleitoral entra em vigor na data de sua aplicação,
mas apenas se aplica à eleição que ocorra em depois de 1 ano da data de sua vigência.
Alguns doutrinadores e o TSE afirmavam que tal lei não se caracterizava como
processo eleitoral, mas como norma eleitoral material, que não influenciava o processo
eleitoral, por não romper a igualdade de participação dos partidos e candidatos, não
ensejar alteração motivada por propósito casuístico, não afetar a normalidade das
eleições, nem perturbar o pleito.
Contudo, o STF (RE 631.10218 e 633.703 – Informativo 620/STF) determinou o
afastamento da incidência da LC 135/2010 às eleições ocorridas em 2010 e as anteriores,
bem como para os mandatos em curso, sob pena de violar o art. 16, CRFB, assegurando a
anterioridade eleitoral e a garantia do devido processo legal eleitoral. Afirma-se que a
aplicação do art. 16, como direito fundamental, caracteriza-se como verdadeira cláusula
pétrea (garantia fundamental do cidadão-eleitor, cidadão-candidato e dos partidos políticos,
oponível ao constituinte derivado – Gilmar Mendes; além disso, afirmou que a referida lei
interferiu na fase pré-eleitoral do processo eleitoral).

2) Constitucionalidade Material da Lei: O STF (ADCs 29 e 30; e ADI 4.578)


considerou constitucional a referida lei, reconhecendo a observância da moralidade e
probidade no tocante à vida pregressa bem como a interpretação conforme a
Constituição do art. 1º, I, e, LC 64/90. Afirmou-se também que não houve violação à
presunção de inocência (art. 5º, LVII, CRFB), nem à vedação ao retrocesso. Ademais a
doutrina cita consagração do princípio da precaução e do Estado Democrático de
Direito e da República.

17 Ressalte-se que o princípio da anualidade não modifica a data de vigência da lei, apenas não a aplicando às
eleições que se realizem até um ano da data de sua vigência.
18 Houve empate na votação, e a presidenta Dilma, após as eleições de 2010, indicou o Ministro Fux para o STF, de

modo que o mesmo decidiu pela não aplicação da referida regra às eleições de 2010.
CPII – Aula 1 14

Estrangeiros

Inalistáveis

Absoluta Conscritos

Analfabetos

Para o mesmo
cargo (reeleição)
Inelegibilidade Motivos
Funcionais Para outros
cargos
(desicompatibiliz
ação)

Cônjuge/Parente Inelegibilidade
sco/Afinidade Reflexa
Relativa

Menos de 10
anos de serviço /
Militares
Mais de 10 anos
de serviço

Legais LC 64/90

3.2.b) Privação dos Direitos Políticos (Perda e Suspensão):


Além das hipóteses que restringem a elegibilidade do cidadão, tornando-o inelegível,
absoluta ou relativamente, também existem hipóteses que privam o cidadão dos direitos
políticos de votar e ser votado (perda da cidadania política, conforme José Afonso da Silva),
tanto definitivamente (perda) como de modo temporário (suspensão).

Obs.: Em nenhuma hipótese, conforme art. 15, é permitida a cassação de direitos


políticos.

1. Perda dos Direitos Políticos:

1.1. Cancelamento da naturalização por sentença transitada em


julgado (art. 15, I): Em decorrência do cancelamento da naturalização, o
indivíduo voltará à condição de estrangeiro, não podendo mais se alistar como
eleitor (art. 14, §2º) nem eleger-se, uma vez que deixa de ostentar a nacionalidade
brasileira (art. 14, §3º, I).

1.2. Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação


alternativa (art. 15, IV): O art. 5º, VIII, estabelece que, como regra, ninguém
será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política (escusa de consciência). No entanto, se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta (serviço militar obrigatório – art. 143) e recursar-se a
CPII – Aula 1 15
cumprir a prestação alternativa, fixada em lei, terá como sanção a declaração da
perda de seus direitos políticos.

Obs.: Para muitos autores de Direito Eleitoral, essa é uma hipótese de suspensão
e não de perda de direitos políticos, conforme art. 4º, §2º, Lei 8.239/91. Contudo,
na visão de José Afonso da Silva, será hipótese de perda, pois a pessoa apenas
irá readquirir os direitos políticos se tomar prestar o serviço alternativo, não
sendo o vício suprimido por decurso de prazo.

1.3. Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de


outra (art. 12, §4º, II): Embora não esteja previsto no art. 15, por interpretação
sistemática esta é mais uma hipótese constitucionalmente prevista de perda dos
direitos políticos (por passar a ser estrangeiro19), uma vez que a nacionalidade
brasileira é pressuposto para a aquisição de direitos políticos.

2. Suspensão dos Direitos Políticos:

2.1. Incapacidade civil absoluta (art. 15, II): Casos de interdição. De acordo
com Pontes de Miranda, no casos em que as enfermidades são incuráveis (causando
uma incapacidade absoluta fixa e imutável), nestes casos haverá a perda dos direitos
políticos, e não a suspensão. Assim sendo, Pontes de Miranda defende que o
absolutamente incapaz por enfermidade ou doença mental incurável, será caso de
perda, e não de suspensão. No entanto, em uma prova, deve-se responder sempre
que a incapacidade absoluta é causa de suspensão.

Obs.: Caso dos Índios: o estatuto do índio (lei 6.001/74), em seu art. 4º, prevê 3
tipos de índios:

 Índio não integrado: É hipótese de absolutamente incapaz, protegido pela


FUNAE, não votando e nem sendo votado.
 Índio semi-integrado: A princípio vota e pode ser votado, não tendo
impedimento. Isto, pois o impedimento que poderia ter seria do art. 5º, II,
do CE (não se exprime em língua nacional). Porém o TSE entendeu que o
art. 5º, II, é uma discriminação, limitando o sufrágio (sendo que o sufrágio
não é restrito, mas universal). Assim sendo, o TSE considerou o art. 5º, II,
inconstitucional (por via incidental), permitindo ao índio tirar o título,
mesmo que ele não saiba o idioma nacional. (Da mesma forma o art. 5º, I,
do CE, também é inconstitucional, considerando-se que não foi
recepcionado pela CRFB).
 Índio integrado: Ele vota e é votado, e é considerado brasileiro nato.

19 Vale lembrar que os estrangeiros e conscritos são inalistáveis, e o alistamento eleitoral é condição de
elegibilidade.
CPII – Aula 1 16

2.2. Condenação criminal transitada em julgado (art. 15, III): Os


direitos políticos ficam suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Tal
regra abrange crimes (culposos e dolosos) e contravenções.

2.3. Improbidade Administrativa nos termos do art. 37, §4º (art. 15,
V): Além da perda da função pública, os atos de improbidade administrativa
importam em suspensão dos direitos políticos. A declaração de improbidade terá de
ser via processo judicial, não podendo ser através de mero processo administrativo.

2.4. Exercício assegurado pela cláusula de reciprocidade (art. 12,


§1º): De acordo com o art. 17.3 do Decreto 3.927/2001, o gozo dos direitos políticos
em Portugal (por brasileiro) importará na suspensão do exercício dos mesmos
direitos no Brasil.

2.5. Art. 55, II, e §1º, c/c art. 1o, I, b, da LC 64/90: Procedimento do
Deputado ou Senador declarado incompatível com o decoro parlamentar –
inelegibilidade por 8 anos, nos termos do art. 1º, b, da LC 64/90.

Reaquisição dos direitos políticos perdidos ou suspensos


Perdido o direito político na hipótese de do art. 15, I, a reaquisição só se dará através de
ação rescisória.
Se a hipótese de perda for causa do art. 15, IV, a requisição se dará quando o indivíduo,
a qualquer tempo, cumprir a obrigação devida.
Já a perda do art. 12, §4º, II, o art. 36, da Lei 818/49 prevê a possibilidade de reaquisição
por decreto presidencial, se o ex-brasileiro estiver domiciliado no Brasil. Conforme observa José
Afonso da Silva, tal reaquisição não terá efeito retroativo, e recupera a condição que perdera
(nato ou naturalizado, conforme era antes).
Por fim, em relação às suspensões, a reaquisição dos direitos políticos dar-se-á quando
cessarem os motivos que determinaram a suspensão.

Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo


De acordo com o art. 38, CRFB (redação determinada pela EC 19/98), aplicam-se as
seguintes disposições aos servidores públicos no exercício do mandato eletivo:

I. Tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu


cargo, emprego ou função;
II. Investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função,
sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
III. Investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá
as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do
cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso
anterior;
IV. Em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu
tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por
merecimento;
CPII – Aula 1 17
V. Para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão
determinados como se no exercício estivesse.

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