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República
Estado de
direito
Esclarecimento de dúvidas:
1. De que maneira o Estado Islâmico e o Estado Absoluto são Estados
de Direito?
Não são. São Estados Modernos, integrados dentro do Estado
Moderno.
O Estado Absoluto é a primeira forma do Estado Moderno (do séc. XIV
aos finais do séc. XVIII). Entretanto há as Revoluções Liberais (dos finais do
séc. XVIII e séc. XIX) que precisamente se destinam a derrubar o regime
anterior (o Estado Absoluto) e a inaugurar o Estado de Direito, o Estado
Constitucional. Portanto, um Estado Absoluto não é um Estado de Direito.
O que é que é um Estado de Direito? É um Estado que está organizado
juridicamente, está organizado através do Direito, por isso fica vinculado
juridicamente a respeitar os direitos fundamentais das pessoas, os direitos
e as liberdades das pessoas. Um Estado pode ter leis e não é um Estado de
Direito, por exemplo, muito duvidosamente se poderia considerar a China,
agora, como um Estado de Direito, no entanto na China há um
Constituição, há leis, há administração, há tribunais, mas não é um Estado
de Direito porque esta organização jurídica do Estado Chinês não se
destina a respeitar e promover os direitos e liberdades das pessoas, antes
pelo contrário, destina-se a fortalecer o Estado, a garantir a perpetuação
dos titulares do poder nesses órgãos. Ou seja, a preocupação do Estado
Chinês, daquela organização, não é propriamente os direitos e liberdades
dos cidadãos, mas sim o seu próprio poder, internamente e
externamente. Isto não é um Estado de Direito.
Quanto ao Estado Islâmico, nós podemos, em teoria, ter um Estado
Islâmico, no sentido de ter um Estado de natureza teocrática, onde não há
uma separação entre a política e a fé, entre o Estado e a Religião, mas
onde haja respeito pelos direitos dos cidadãos, mas tendencialmente não
é assim. Quase por natureza, se um Estado é um Estado de uma religião,
obviamente não vai tratar em igualdade os fieis daquela religião oficial, ou
os fieis de outra religião, ou pessoas que não têm religião nenhuma.
Então, tendencialmente, o Estado Islâmico, por mais boa vontade que
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
tenha, discrimina entre pessoas conforme as suas crenças, conforme as
suas ideologias, conforme o seu género, porque de acordo com os
princípios da religião é assim: homens e mulheres não devem ser tratados
da mesma maneira, não têm os mesmos direitos.
Em suma, não basta haver leis para que um Estado seja um Estado de
Direito (por exemplo, o Estado Nazi tinha leis, mas estas eram racistas).
Para ser um Estado de Direito tem que haver separação de poderes e
respeito pelos Direitos fundamentais.
2. Separação de Poderes
A confiança ilimitada na justiça da lei podia conduzir a mau resultado
quando, por exemplo, o Parlamento (os representantes do povo)
aprovavam leis racistas -> nessa altura, pretender que essa lei seja
aplicada só conduz a mais injustiça e, se o tribunal servir para garantir
que ela seja aplicada, mais injustiça ainda. Exatamente por isso, a
perceção atual (pós 2ª Guerra Mundial) da separação de poderes, fez
com que a lei perdesse o estatuto de permanentemente justa. Uma
lei é um ato aprovado por pessoas concretas que podem estar a
cometer a maior injustiça -> isto combate-se dando a um poder
Questão do Constitucionalismo/Inconstitucionalismo
Europa:
Após as Revoluções Liberais, são aprovadas as Constituições que
consagram os Direitos fundamentais e a divisão de poderes, mas não
eram vistas como normas jurídicas. Eram documentos de natureza
política/fundadora, mas não era norma aplicável pelos tribunais ->
aplicavam as leis como norma jurídica na resolução de conflitos. Depois
da 2ª Guerra Mundial há uma mudança radical neste domínio (Neo-
constitucionalismo – a Constituição não muda, mas a forma como é vista
dá origem a um novo constitucionalismo) porque as pessoas apercebem-
se que a lei pode induzir às maiores barbaridades (uma maioria
democrática pode anular os direitos fundamentais). O lema que existia
era “Os Direitos fundamentais são à medida da lei”, ou seja, o facto de
um direito estar consagrado na Constituição isso por si só não significa
nada. A Revolução Constitucional da 2ª metade do século XX inverte os
termos: as leis é que passam a ser à medida dos direitos fundamentais
Estado Federal -> Estado formado pela união de vários Estados que
perdem a sua soberania em favor de uma União Federal
Porque é que nos EUA isto foi tão simples de aceitar em 1801 e na
Europa isto só veio a ser reconhecido a partir de 1950?
1. Os americanos desconfiavam, logo desde o início, do Parlamento,
porque tiveram a experiência do Parlamento inglês que podia
aprovar impostos injustos e, portanto, eles sabiam por experiência
prática que a lei podia ser uma lei injusta. Os europeus não tiveram
esta experiência.
2. Quando se fizeram as Revoluções Liberais, os juízes que existiam
tinham sido nomeados pelo Rei, ou seja, estavam muito ligados à
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
Monarquia Absoluta, à aristocracia. Os revolucionários europeus
desconfiavam dos juízes.
Monarquia
Na constituição de 1822 Constitucional
(a primeira) tivemos uma legitimidade
democrática porque foi aprovada pelo povo.
Sufrágio universal (séc. XX, décadas de 30, 40, 50, sensivelmente) -> é a
partir daqui que se inicia a verdadeira democracia representativa (o povo
elege os seus representantes, mas ainda há muita gente que não pode
votar – é um regime representativo porque são os representantes que
saem da eleição que compõe o parlamento; pluralismo, eleições livres,
etc., mas inicialmente não se pode dizer que é democracia representativa
porque nem todos votam).
Regime Representativo
10
A Círculo Plurinominal
B Podemos optar pelo método.
C
D
1
A
Círculo Uninominal
B
O método é, invariavelmente, o maioritário
C
D
Círculo Uninominal (necessariamente sistema maioritário)
País dividido em 230 círculos eleitorais
Panorama geral: PS e PSD com mais votos
Em termos de composição da Assembleia da República só iriam ser
representados os partidos grandes
× CONSEQUÊNCIAS:
Sub-representação dos partidos mais pequenos;
Polarização do voto nos partidos maiores (porque
veem que não vale a pena votar nos pequeninos).
80
1 1 1
A A A
80 40 45
20 60 55
B B B
Sistema proporcional
D
50%
Cada um escolheria 40 deputados
50%
R
80
Por vezes os países adotam certas medidas que acabam por modular os
sistemas: quando a partir anos 70 do século XX se começaram a
multiplicar os partidos verdes nos vários países desenvolvidos, a grande
dificuldade que os Verdes tinham numa primeira fase era entrar no
parlamento devido às barreiras eleitorais, ou seja, devido à existência de
um número mínimo de votos que tinham que ter para obter mandatos
(ex. o partido Verde na Alemanha já tinha uma grande força social, mas
por existir essa barreira eleitoral era muito difícil a sua presença no
parlamento; ultrapassada a barreira, verifica-se que existe até aos dias de
hoje).
Modalidades de sistemas maioritários:
de maioria relativa -> qualquer que seja o resultado, quem tem mais
votos num circulo eleitoral é eleito;
de maioria absoluta (ex. o Presidente da República será eleito em
janeiro de 2021 se tiver maioria absoluta do voto dos eleitores; se
nenhum candidato obtiver maioria absoluta faz-se uma segunda volta
onde participam apenas os dois candidatos mais votados)
Estado Unitário
1 único poder constituinte;
1 única constituição;
1 único sistema de governo;
1 única ordem jurídica
NOTA: os Estados unitários também têm formas de descentralização do
poder, ou seja, por vezes, o poder central delega algumas funções
administrativas noutro tipo de instituição que não é propriamente estatal.
Há 2 modalidades de descentralização:
1. descentralização funcional ou institucional - quando são
delegadas a instituições não estatais (ex. Ordem dos
advogados regula a profissão dos advogados)
2. de caráter territorial (ex. câmaras municipais)
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
Também pode existir desconcentração de funções -> tudo
permanece no aparelho de Estado, mas em vez de ser decidido pelos
órgãos de topo estes podem desconcentrar os poderes noutros órgãos
(ex. Presidente da Câmara dá autoridade a um vereador para decidir um
determinado assunto).
NOTA: alguns Estados unitários chegam mesmo a descentralizar funções
políticas (descentralização político-administrativa, autonomia político-
administrativa), ou seja, permitem que outras entidades desempenhem
funções de governo, ou funções legislativas.
Estado Federal
Vários Estados unitários agregam-se para constituir uma nova
unidade estatal através da aprovação de uma Constituição (ex. os
EUA, Estados independentes das ex colónias, consideram que é
proveitoso para eles associarem-se);
Estados aceitam perder parte da sua soberania a favor da nova
entidade estatal, ou seja, passam a ter a sua Constituição e a
Constituição da nova entidade estatal (o cidadão está sujeito às leis
do seu Estado e à ordem jurídica dos EUA; participa da vida política
do seu Estado e dos EUA);
NOTA: há vantagens na duplicação em territórios de grande extensão já
que permite uma melhor resolução dos problemas; na Europa isto seria
complicado devido às nossas diferenças em termos de língua, história,
cultura, etc.
Num Estado federal os países não podem abandoná-lo livremente
(o Estado Federal tem que concordar) – o Reino Unido pôde sair da
Europa porque a Europa não é um Estado Federal;
O senado é uma instituição típica de um Estado federal porque se
destina a representar cada um dos estados no congresso dos
Estados Unidos da América (constituído pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado – cada um dos Estados federados tem
direito a 2 senadores no Senados dos Estados Unidos da América);
A constituição dos Estados federados está subordinada à do
Estado federal (a Constituição portuguesa tem, na nossa ordem
jurídica, um peso maior do que tem a Constituição, por exemplo, da
Estado absoluto
Concentração do poder no monarca absoluto;
Despotismo iluminado no séc. XXIII;
Despotismo Esclarecido
Constituição de 1838
× Menos radical do que a de 1822
× Parlamento é bicameral (em 1822 só havia uma câmara), mas não é
a mesma coisa que o da Carta Constitucional porque a segunda
Câmara, a dos senadores, é agora eletiva (perdeu o caráter
aristocrata);
× O rei conserva ainda poderes significativos como o de veto, mas é
diferente do que se passava na Carta Constitucional – rei perde
poderes relativamente à Carta Constitucional (ex. já não dissolve
cortes tao livremente).
NOTA: na prática, a terceira vigência da Carta Constitucional (depois da
Constituição de 1838) também vai funcionar como uma monarquia
orleanista em que o rei tem poderes, mas não tantos quanto antes.
A estabilidade só vem a ser alterada com a revolução republicana (1910)
e consequente Constituição de 1911:
Não altera o tipo histórico de Estado (continuamos em Estado de
direito liberal);
Vigora ainda o regime de governo representativo liberal (ainda não
podemos dizer que temos uma democracia representativa);
Forma de governo - já não falamos em monarquia parlamentar,
mas antes em República;
Predominância do parlamento (o governo é responsável perante o
parlamento) – significa que a pessoa do Presidente da República
em 1911, no fundo corresponde em grande medida àquilo que era a
1926 – Revolução de maio que impõe em Portugal aquilo que era o tipo
estado autocrático que já tinha surgido noutras zonas da europa ->
elabora-se da Constituição de 1933 que não é feita pelo parlamento, é
feita por um pequeno grupo sob a liderança de Salazar e depois sujeita a
um plebiscito nacional para legitimação.
NOTA: este plebiscito popular não se confunde com um referendo porque
já não havia liberdade, pluralismo ou possibilidade de apresentar
alternativas ou sequer de rejeitar a constituição (porque estávamos em
regime ditatorial); ainda assim, com receio que houvesse algum
inconveniente, Salazar insere uma norma no plebiscito que esclarece bem
a natureza desta constituição – foi algo deste género: “esta constituição
foi feita por este grupo, mas agora vai ser a nação portuguesa que vai
votar: quem votar a favor conta como voto a favor, quem votar contra
conta como voto contra, quem se abstiver conta como voto a favor”.
Sistema parlamentar
governo sai do parlamento;
governo presta contas perante o parlamento;
parlamento pode demitir o governo;
chefe de Estado não exerce o poder político
Sistema presidencial
chefe de Estado exerce poder político significativo;
o governo do presidente não responde politicamente perante o
Congresso;
o Congresso não pode destituir o governo do presidente;
impeachment – através deste instituto o congresso pode
eventualmente conseguir a destituição do governo, mas isto é algo
diferente, é quase uma exceção
Sistema parlamentar
Realizam-se eleições para o parlamento (únicas eleições) e forma-
se o governo;
Se o governo que saiu do parlamento é maioritário, não havendo
crises internas, o governo será forte e estável porque qualquer
proposta que apresente vai ter o apoio da maioria do parlamento;
Inconvenientes do Impeachment:
utilizado como uma moção de censura sem o ser -> situação que,
como já foi referido, se verifica nos sistemas presidenciais
existentes na América do Sul;
Enfraquecimento da figura do presidente: com o Impeachment, há
um risco de o Presidente “cair” durante o mandato, sendo que o
sistema presidencial se formou para evitar esta situação (podemos
falar numa "destruição da lógica do sistema presidencial”);
Desequilibra o sistema a favor da instituição parlamentar: o
Presidente não pode desenvolver, no cargo que foi eleito, a sua
política de uma forma totalmente livre.
Vantagens do Impeachment:
Sistema Semipresidencial
Começa-se a falar dele em França, na 5ª República francesa. Depois
da II Guerra Mundial, a França adota uma nova constituição (1958) que
vinha na linhagem do constitucionalismo francês que adotava o
parlamentarismo (como toda a Europa). Não haveria, à partida, nada
diferente na nova Constituição quanto a esse ponto – o sistema francês
seria um sistema parlamentar, dentro do qual especificaríamos dizendo
que é um sistema parlamentar racionalizado (estrutura típica do Sistema
Parlamentar, mas a Constituição de 1958 prevê alguns organismos que
visam uma racionalização do funcionamento do sistema (possibilidade de
os governos poderem ver aprovadas certas leis, relativamente às quais
suscitavam a confiança, sem passar por uma votação no Parlamento; o
presidente não é eleito pelo parlamento, é eleito por um colégio mais
amplo, no qual participam também autarcas, dirigentes dos
departamentos, presidente presidia ao Conselho de Ministros).
Diferença relativamente àquilo que era normal nos Sistemas
Parlamentares: o concreto Presidente da República, que ocupava o cargo
depois da II Guerra Mundial, era uma figura muito popular, muito
prestigiada em França (General de Gaulle) que tinha chefiado a resistência
aos alemães no exílio, e que, de certa forma tinha um apoio popular
enorme – apesar dos Presidentes da República de Sistema Parlamentar
não terem intervenção política este General gostava de a ter, gostava de
decidir, tinha, apesar de ser militar, uma certa apetência por uma
carreira política.
Semipresidencialismo
o governo sai do parlamento;
NOTAS:
há quem lhes chame semipresidencialismo parlamentarizado ou
aparente; na prática funciona nos mesmos moldes que o sistema
parlamentar;