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Direito Constitucional I

Professor Doutor Jorge Reis Novais

06-10-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo,


Jorge Reis Novais (página 21 e seguintes)
Blog: constitucional.blogs.pt

 O que é uma Constituição? A Constituição é a lei fundamental de um


país, onde se encontram os grandes princípios da organização política,
jurídica em geral e ainda os direitos e deveres fundamentais dos
cidadãos. Podemos encontra-la em dois sentidos distintos:
1. Material (inclui costumes, tradições e normas escritas [ou não]
que caracterizam um regime político) – ex. Constituição Britânica (é não
escrita, não se encontrando num único documento);
2. Formal (texto escrito que codifica as normas que regulam a
forma e o exercício do poder político decretado por um órgão com
poderes especiais) – ex. Constituição Portuguesa;
Para além disso, a Constituição pode ser flexível ou rígida.
1. Flexível (quando pode ser revista pelo mesmo processo das leis
ordinárias) – ex. Constituição Italiana de 1947
2. Rígida (quando, para a sua modificação, exige a observância de
uma forma distinta do processo legislativo ordinário) – ex. Constituição
Portuguesa
A Constituição passa a ser uma realidade após a Revolução Americana
(1776) e Revolução Francesa (1789).
Uma outra resposta ao que consiste uma que Constituição poderá ser
encontrada no artigo 16º da Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão (1789) que nos diz que “A sociedade em que não
esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação
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dos poderes não tem Constituição.” Estes direitos são explícitos e
possuídos pelo cidadão face ao poder público e, portanto, fundamentais;
A separação de poderes existe exatamente para garantir estes direitos
fundamentais.
Antigamente, por exemplo na altura do Absolutismo Régio, não havia
de todo Constituição. Hoje em dia, “fica bem” a um Estado de Direito
(objetivo do Estado de Direito: garantir a proteção dos cidadãos contra o
abuso de poder, ou seja, o Estado não se encontra acima da lei; limitação
do poder político a favor dos direitos e garantias dos cidadãos) aprovar
uma Constituição.

 A conceção dos direitos fundamentais mudou ao longo dos tempos.


Hoje em dia, encontramos uma linguagem muito mais inclusiva,
nomeadamente em termos de igualdade entre homens e mulheres. Ainda
assim, torna-se evidente que, todos os direitos fundamentais, sem
exceção, quando confrontados, poderão ser limitados quando um deles
necessita de proteção. (Situação do Covid19 é um bom exemplo disso)

República

Estado de
direito

Democracia A maioria decide

Existe desde que há Constituição

EUA, Brasil: presidencialismo


Portugal: semipresidencialismo -> o semipresidencialismo português
resultou do compromisso entre duas forças políticas divergentes que se
digladiavam ao tempo dos trabalhos da Assembleia Constituinte, em 1975,
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o MFA (legitimidade revolucionária) e os partidos políticos (legitimidade
democrática, por via das eleições, por sufrágio universal, para a
Assembleia Constituinte). O MFA queria um sistema de governo
presidencialista, na esperança de colocar um dos seus mais distintos
membros na Presidência da República; os partidos políticos tinham clara
preferência por um sistema parlamentar, uma vez que só este permitiria
chamar o poder efetivo à Assembleia da República. A história ensinara-os,
porém, que o presidencialismo conferia um poder excessivo nas mãos de
um só homem, podendo conduzir a um novo período de autoritarismo.
Por outro lado, também haviam aprendido que a instabilidade crónica na
qual assentou o parlamentarismo da nossa primeira república, também
não seria viável. É então que o semipresidencialismo, à moda de França
entra em cena, apresentando-se como solução para a discórdia. Por um
lado, os partidos não podiam desassociar-se da eleição direta do
presidente da república na medida em que tinham apoiado a alteração
constitucional da lei que “democratizava” o sistema, fazendo com que o
General Humberto Delgado se retirasse das eleições; por outro lado, o
MFA aceitou o semipresidencialismo com a condição (implícita) de os
partidos se comprometerem a apoiar a candidatura de um militar insigne
nas primeiras eleições presidenciais após a aprovação da Constituição – o
que, de facto, veio a acontecer com o General Ramalho Eanes.
Contextualizado o semipresidencialismo português, podemos acrescentar
que ele é um semipresidencialismo com tendências parlamentaristas. Há
um presidente da República, que funciona como chefe de Estado. Eleito
por voto direto, o presidente é o comandante das Forças Armadas e
deve fiscalizar o governo, sendo responsável por nomear o primeiro-
ministro e tendo o poder de dissolver tanto o governo quanto a
Assembleia da República. Destaca-se ainda um poder legislativo
unicameral (Assembleia da República). A demissão do governo por parte
do presidente da República só pode ocorrer, segundo a Constituição,
“para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas”.
Neste caso, o presidente deve ouvir o Conselho de Estado, um órgão
consultivo formado por 20 integrantes.
A Assembleia da República é composta por 230 deputados. O eleitor
vota em listas partidárias, escolhidas pelos próprios dirigentes de cada
sigla. Os deputados são representantes de 22 círculos eleitorais
(equivalente a distritos) delimitados demograficamente. Cada círculo tem

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um número específico de cadeiras no parlamento, proporcionalmente
correspondente ao número de eleitores.
Dos 22 círculos, 20 são do território português, incluindo Açores e
Madeira), um é referente aos portugueses residentes na Europa e outro
dos portugueses que moram fora da Europa.
Cabe à Assembleia, formada por 230 deputados, aprovar as legislações
e votar o orçamento do governo, sempre uma matéria altamente sensível.
A Assembleia da República pode, também, derrubar o governo ao votar
favoravelmente uma moção de censura. Para ser aprovada, a moção
precisa de maioria absoluta: 116 votos. Outra forma do poder Legislativo
derrubar o governo é através de uma moção de rejeição ao programa de
governo. Neste caso, também é necessária uma maioria absoluta.
O chefe de governo em Portugal é o primeiro-ministro.
Espanha: parlamentarismo

 Como funciona o sistema eleitoral americano? Nos EUA, as eleições


não são realizadas por sufrágio universal (como em Portugal), o que
significa que os votos não contam de igual maneira em todo o país.
Assim sendo, realiza-se um sufrágio indireto, no qual cada um dos 50
Estados terá um peso diferente no processo eleitoral, uma vez que o
número de grandes eleitores varia consoante a população. As
presidenciais são decididas pelo voto de 538 grandes eleitores de
todo o país que formam o colégio eleitoral, saindo vencedor o
candidato que recebe, no mínimo, 270 votos do colégio eleitoral.
Estes grandes eleitores são eleitos pelos populares do seu Estado,
com o objetivo de representarem o voto dos mesmos, aquando da
escolha do presidente.

 O Estado de Direito é uma forma política designada por tipo histórico


de estado. Pode ser um Estado de Direito Liberal ou um Estado de
Direito Social e Democrático.

1. Estado de Direito Liberal

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Divisão de poderes: O poder essencial da assembleia representativa
(povo) é o poder legislativo, ou seja, a capacidade de fazer a lei -
submissão de outros poderes à lei, tanto à administração como o poder
judicial no fundo teriam apenas de aplicar a lei. Esta subordinação da
administração à lei faz-se sobre a égide de um princípio, “principio da
legalidade ou princípio da legalidade da administração”. Feita a lei,
aprovada a lei, aplicável a todas as pessoas em qualquer situação, a
administração tem de aplicar a lei aos casos concretos. Se a aplica em
sentido contrário à lei ou sem ter competência para praticar aqueles
atos, diz-se que está a violar o princípio da legalidade da administração.
Este princípio acaba por ser visto nesta época, como princípio
fundamental que concretiza o império da lei. Nesta fase liberal há uma
dominância dos parlamentos, das assembleias representativas. Em
termos de atos jurídicos, o juiz era normalmente designado apenas como
a boca que pronunciava as palavras das leis.
Direitos fundamentais: no século XIX havia uma assembleia eleita pelo
povo, mas não faziam parte as mulheres, o que significava que 50% da
população estava fora. Uma coisa é falarmos nos cidadãos, outra é falar
de 50%. Só era cidadão quem fosse proprietário, para pagar imposto. Só
votava quem fosse proprietário. Trabalhador por conta de outrem não era
cidadão, analfabetos não eram cidadãos, em alguns países pessoas negras
também não o eram. Quando falamos na assembleia representativa do
povo, nunca nos referimos à população toda, o que difere da atualidade.
O principal direito fundamental que influencia o exercício de todos os
outros direitos era o direito à propriedade. Estes proprietários, tinham
meios de riqueza próprios, por exemplo para aceder ao serviço de saúde,
educação. O estado só tinha que garantir a segurança da propriedade.
2. Estado de Direito Social e Democrático
Ao contrário do que os liberais do século XIX pensavam, o Estado de
Direito Liberal revela-se catastrófico, começando pelas crises dos anos 20
e 30, e 1ª guerra mundial, que levaram as pessoas a dirigirem-se ao estado
a pedir a regulação da vida social e económica. Constatava-se que sem
intervenção do estado, a sociedade por si só era incapaz de recuperar. O
estado não tinha só de intervir, tinha de regular as atividades.
O Estado Liberal chega a uma grande crise nos anos 20/30, sendo
preciso mudar as conceções das relações entre estado e indivíduos. Há, no
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entanto, uma ideia de que se devem manter os princípios estruturais do
estado de direito (divisão do poder e os direitos fundamentais).
Hoje, o Estado tem uma conceção social diferente da do século XIX,
intervindo na vida da sociedade, regulando-a. E, em contrapartida, a
sociedade intervém no estado, por exemplo, o direito de voto alarga-se a
todas as pessoas. É esta a nova forma de conceber designamos Estado
Social.

 O que distingue uma Monarquia de uma República? A natureza do


mandato: na monarquia, com exceção das monarquias eletivas, que
não são tão comuns atualmente, a hereditariedade é um fator
importante. Neste regime, os filhos dos monarcas são os seus
sucessores. Na república, novos chefes de Estado são eleitos pelo povo
após um mandato que geralmente dura cerca de quatro ou cinco anos.

13-10-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de


Governo, de Jorge Reis Novais (págs. 21 e seguintes, págs.36 e
seguintes, págs. 42 e seguintes, págs. 49 e seguintes)

É muito diferente a forma como hoje entendemos os direitos


fundamentais da forma como se entendiam nos séculos XVIII, XIX e
XX. Todos terem direito a ser tratados com igualdade face à lei é algo
que já existe desde do século XIX, mas acontece que o conceito de
igualdade era entendido de maneira diferente.

Direitos negativos e direitos positivos:


 Positivos: interesses que se opõem ao Estado e objetivam inibir a sua
atuação (ex. direito à propriedade, liberdade e igualdade)
 Negativos: visam assegurar a participação do indivíduo na condução do
destino da coletividade de forma direta ou indireta, na possibilidade de
votar e ser votado (ex. participação na vida política e na estruturação
do Estado)

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Quando se fazem as Revoluções Liberais é para acabar com a
insegurança existente nas suas liberdades, devido ao facto de estarmos
perante um Estado Absoluto. Os cidadãos (burgueses) pediam que o
estado não se metesse na sua vida privada, social e económica -
separação entre o Estado e a sociedade que se desenvolvia
autonomamente - o estado deveria apenas garantir a segurança interna e
externa (paz social), de modo a que os cidadãos pudessem desenvolver
as suas atividades. Reivindicavam um Estado abstencionista, um Estado
mínimo -> acreditava se que isto levaria a uma situação de progresso e
que só assim se poderia garantir os direitos fundamentais.
A conceção dos direitos fundamentais da época baseava-se no direito
à propriedade – este condicionava a existência de outros direitos: se eu
não for proprietário, não tenho um interesse sério na preservação da boa
organização social, então só quem é proprietário é que pode votar
(inscritos no censo).

Direitos de exercício coletivos eram vistos com desconfiança: os


direitos fundamentais em Estado de Direito eram aqueles exercidos
individualmente, uma vez que o coletivo se poderia virar contra o
indivíduo.

Há separação de poderes, sendo o órgão predominante a Assembleia


representativa do povo/dos cidadãos (os proprietários, que são 4 a 6% do
povo – excluindo-se os analfabetos, as etnias estrangeiras, as mulheres e
os não proprietários). A lei era feita por esta Assembleia e exercida pela
administração.
 Princípio da legalidade da administração – a administração só tem
legalidade nas suas competências quando aprovada pelas leis
criadas pela Assembleia.

As conceções liberais (acima referidas) começam a ser postas em


causa: se a sociedade for deixada à vontade com a lei da oferta e da
procura não se atinge o equilíbrio pretendido.

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A partir da I Guerra Mundial / das primeiras grandes crises económicas
do séc. XX – começa a ser evidente que o modelo liberal imposto chegou
a um ponto de esgotamento, uma vez que não corresponde às
expetativas da população e à situação real das nações. (ex. os países,
depois da I Guerra Mundial, aperceberam-se de que o Estado seria
necessário para mediar e resolver os problemas que surgiram – esta
perceção faz-se sentir mais na população com menos recursos, devido ao
desemprego e etc.
O Estado/o setor público começa então a ser percecionado como uma
segurança para a população, sendo o seu primeiro recurso em períodos
de crise (uma vez que, muitas vezes, o setor privado também não
consegue garantir a resposta a essas situações).
Ao recorrer ao setor público deixamos de falar em Estado Liberal (que
funciona bem em períodos de crescimento económico), passando a falar
em Estado de Direito liberal/democrático.

Com a Revolução Russa/Soviética (1917) assiste-se a uma subversão


do Estado de direito liberal: dá-se inicio à socialização total (apropriação
dos meios de produção, etc.). Temos também o exemplo do fascismo em
Itália, e do nazismo na Alemanha – autoritarismos. Todas estas situações
são inspiradas no modelo de Estado de Direito, com vertentes
diferenciadas. Surgem novas propostas de organização social.

A crise do Estado Liberal leva ao modelo autocrático. Dentro deste


modelo surge o tipo de Estado Islâmico com a revolução iraniana nos
finais dos anos 80 (teocracia) -> na comunidade islâmica a soberania é a
divina: mais importante que uma eleição é a vontade de Deus,
interpretada pelos juristas clérigos: poder do califa é aceite quando este
se compromete a respeitar a vontade de Deus, ou seja, a igreja tinha mais
influência que o poder político.
Esta situação era equilibrada antigamente, contudo, este Estado passa
por experiências de “ocidentalização”, laicização e modernização no séc.
XIX (feitas por elites burguesas – maioritariamente – que iam contra a

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vontade da maioria) –> acabou por não vingar, uma vez que a população
considerava que a sociedade era melhor com os clérigos.
Dá-se então a 2ª fase da Revolução Iraniana -> clérigos deixam de
repartir o poder com o califa

Fases do estado absoluto:


 Patrimonial -> o Estado é do monarca
 Estado de policia (séc. XVIII) -> que pretende alcançar o bem da
polis
NOTA: nenhum tem nada a ver com o estado autocrático do século XX.

Estado de Direito e Democracia são diferentes:


 Estado direito: Império da Lei, garantias jurídicas das pessoas;
podemos tê-lo sem democracia (ex. Portugal, no séc. XIX)
 Democracia: é a regra da maioria; podemos tê-la sem ter um
Estado de Direito (ex. num país islâmico, os cidadãos elegem um
partido cujo programa não respeita a liberdade e a igualdade entre
o homem a mulher - democracia sem Estado de Direito, visto que os
direitos fundamentais não são respeitados)

O Estado de Direito Liberal contestado em todas estas origens, é


verdade, foi, no entanto, capaz de se renovar estruturalmente mantendo
os princípios fundamentais -> Estado de Direito social e democrático.
Deve-se contrapor agora uma outra conceção dos direitos
fundamentais (não são apenas os direitos negativos que são importantes,
por exemplo, o direito à proteção da saúde – positivo e negativo – passa a
ter também importância, assim como o direito ao trabalho, a educação e
etc.). No século XIX os cidadãos da época não precisavam do Estado para
aceder a esses direitos, enquanto que, hoje em dia, sim.

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Hoje, os direitos fundamentais estão consagrados nas constituições
(agrupados em várias gerações) para garantir aos cidadãos uma
democracia mais consolidada onde as finalidades do Estado (justiça,
segurança, bem-estar económico, social e cultural) possam ser alcançados
por todos os cidadãos.

1ª geração - século XVIII 2ª geração – séculos XIX 3ª geração – século XX


• Direitos civis e políticos  Direitos económicos,  Direitos coletivos
sociais e culturais  Direito ao
• Liberdade de expressão,
de reunião, de manifestação  Direito ao trabalho, à desenvolvimento, à paz,
e de voto greve, à segurança social à qualidade do ambiente
e à educação e ao usufruto do
património da
humanidade

Direitos civis e políticos (1ª geração)


 Direitos civis -> decorrem da livre atuação dos indivíduos em
sociedade isolada ou coletivamente (ex. direito à vida, à liberdade
de expressão, etc. – art. 24º e 44º CRP)
 Direitos políticos -> dão aos cidadãos o “poder” de cooperar na vida
estadual ou no exercício de funções públicas ou de manifestação da
própria vontade para a formação da vontade coletiva (art. 48º e 49º
CRP)

Direitos sociais, económicos e culturais (2ª geração)


 Direitos sociais -> faculdades que se traduzem na exigência ao
Estado da prestação de bens e serviços indispensáveis à
consecução de condições mínimas da vida em sociedade (ex.
Direito à segurança social, saúde, habitação, etc. – art. 63º e 72º
CRP)

Consoante a natureza do bem juridicamente tutelado:

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Direitos culturais (Educação, etc.) Direitos económicos (Trabalho, etc.)
Art. 73º CRP Art. 58º a 62º CRP

Direitos de solidariedade (3ª geração)


A partir da década de 60 do século XX, começaram a afirmar-se os
direitos à paz, ao desenvolvimento, ao ambiente, etc.

Vamos construir estradas ou outras infraestruturas necessárias ao


desenvolvimento sem ter em conta o seu impacto ambiental?

Chega-se à conclusão que a industrialização e o desenvolvimento


económico têm que ser realizados protegendo o ambiente e a gestão
adequada dos recursos naturais, defendendo a qualidade de vida ->
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – art. 66º CRP

A partir da primeira guerra mundial, ao mesmo tempo que o


estado de direito é contestado de várias latitudes, ele renova-se até se
formar o estado social de direito (a partir da 2ª guerra mundial).

20-10-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo,


Jorge Reis Novais (página 36 e seguintes); Em defesa do Tribunal
Constitucional, Jorge Reis Novais (página 19 e seguintes)

Matéria para avaliação: toda :))))

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 Participação nas aulas práticas
 Frequência

Esclarecimento de dúvidas:
1. De que maneira o Estado Islâmico e o Estado Absoluto são Estados
de Direito?
Não são. São Estados Modernos, integrados dentro do Estado
Moderno.
O Estado Absoluto é a primeira forma do Estado Moderno (do séc. XIV
aos finais do séc. XVIII). Entretanto há as Revoluções Liberais (dos finais do
séc. XVIII e séc. XIX) que precisamente se destinam a derrubar o regime
anterior (o Estado Absoluto) e a inaugurar o Estado de Direito, o Estado
Constitucional. Portanto, um Estado Absoluto não é um Estado de Direito.
O que é que é um Estado de Direito? É um Estado que está organizado
juridicamente, está organizado através do Direito, por isso fica vinculado
juridicamente a respeitar os direitos fundamentais das pessoas, os direitos
e as liberdades das pessoas. Um Estado pode ter leis e não é um Estado de
Direito, por exemplo, muito duvidosamente se poderia considerar a China,
agora, como um Estado de Direito, no entanto na China há um
Constituição, há leis, há administração, há tribunais, mas não é um Estado
de Direito porque esta organização jurídica do Estado Chinês não se
destina a respeitar e promover os direitos e liberdades das pessoas, antes
pelo contrário, destina-se a fortalecer o Estado, a garantir a perpetuação
dos titulares do poder nesses órgãos. Ou seja, a preocupação do Estado
Chinês, daquela organização, não é propriamente os direitos e liberdades
dos cidadãos, mas sim o seu próprio poder, internamente e
externamente. Isto não é um Estado de Direito.
Quanto ao Estado Islâmico, nós podemos, em teoria, ter um Estado
Islâmico, no sentido de ter um Estado de natureza teocrática, onde não há
uma separação entre a política e a fé, entre o Estado e a Religião, mas
onde haja respeito pelos direitos dos cidadãos, mas tendencialmente não
é assim. Quase por natureza, se um Estado é um Estado de uma religião,
obviamente não vai tratar em igualdade os fieis daquela religião oficial, ou
os fieis de outra religião, ou pessoas que não têm religião nenhuma.
Então, tendencialmente, o Estado Islâmico, por mais boa vontade que
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tenha, discrimina entre pessoas conforme as suas crenças, conforme as
suas ideologias, conforme o seu género, porque de acordo com os
princípios da religião é assim: homens e mulheres não devem ser tratados
da mesma maneira, não têm os mesmos direitos.
Em suma, não basta haver leis para que um Estado seja um Estado de
Direito (por exemplo, o Estado Nazi tinha leis, mas estas eram racistas).
Para ser um Estado de Direito tem que haver separação de poderes e
respeito pelos Direitos fundamentais.

Estado de Direito -> Estado vinculado juridicamente a respeitar os


direitos e liberdades das pessoas, respeito da igual dignidade das pessoas,
separação de poderes
Estado Moderno -> Estado laico; a cada nação deve corresponder um
Estado; soberania (define o poder do Estado, no sentido em que se
considera que este novo poder é um poder supremo no plano interno, não
há nada acima dele, e no plano externo é um poder independente, que se
relaciona com os outros Estados de forma independente)

O século XX não é só caracterizado por crise do Estado de Direito Liberal


-> Estados Autocráticos. Em muitos países Europeus a linha de
continuidade do Estado de Direito Liberal não foi quebrada, não houve
uma rutura radical. Houve uma continuidade com evolução significativa
dos princípios que vinham naquelas conceções do Estado de Direito
Liberal. Ou seja, se nós dizíamos que Estado de Direito, Estado
Constitucional, era Direitos fundamentais e separação de poderes é
possível nós termos, hoje, Direitos fundamentais e separação de
poderes, mas as nossas sociedades serem radicalmente diferentes das
sociedades de Estado de Direito Liberal. Exatamente a partir daquelas
crises económicas dos anos 20 e 30 do século passado, chega-se à
conclusão de que um Estado abstencionista que não se preocupe com a
vida económica, com a vida social, que entregue tudo isso apenas aos
cidadãos, é um Estado que afinal, ao contrário do que pensavam os
liberais do século XIX, não vai chegar ao melhor dos mundos, ou pode

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não chegar. Ou seja, a certa altura, o conceito de “mão invisível” que se
acreditava levar a situações de equilíbrio, conduz a situações de crise
extrema. O papel do Estado não é assistir a estas crises e não se preocupar
com isso (conceção liberal), mas sim regular este tipo de situações
(conceção atual). Há muitos serviços (transportes, saúde, limpeza,
saneamento…) que, se não forem assumidos pelo Estado, as pessoas não
beneficiam deles, porque o setor privado atua apenas nos setores
suscetíveis de darem lucro.

Estado Intervencionista/Estado Social: dupla direção no funcionamento


da relação entre o Estado e a sociedade. Por um lado, o Estado intervém
na sociedade – estadualização da sociedade. Em contrapartida, a
sociedade tende a apoderar-se do Estado, a intervir também no Estado –
socialização do Estado. O Estado Social é um Estado de Direito (é um
Estado Social de Direito) quando, ao mesmo tempo que muda estas
conceções, de intervenção, conserva os grandes princípios que vinham do
Estado de Direito Liberal. Existe não para se engrandecer a si próprio,
como acontece nos Estados Autocráticos, mas para promover, respeitar,
proteger, os direitos dos cidadãos -> Estado Social de Direito ou Estado
Social e Democrático de Direito.
NOTA: A nossa Constituição fala em Estado de Direito Democrático, mas é
a mesma conceção.

 Dizemos que os fins do Estado mudaram, mas que os princípios se


mantêm. Será mesmo assim?
De facto, os princípios mantêm-se, mas aquilo que nós achamos hoje
que são os Direitos fundamentais, ou que é uma boa separação de
poderes, quando comparada ao que os liberais do século XIX achavam
que era, altera-se.
1. Direitos Fundamentais:
 A liberdade de um burguês do século XIX era tanto maior quanto
menos intervenção do Estado houvesse; realçava-se a dimensão
negativa dos direitos: se eu tenho um direito significa que o Estado tem

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um dever (o dever de não interferir). Hoje, no Estado Social de Direito,
estes direitos continuam a ser negativos, mas por vezes dizemos que o
Estado tem o dever de intervir sobre eles (ex. Direito à saúde obriga o
Estado a ter de a proteger, tendo eventualmente de limitar os Direitos
negativos, por exemplo, o Direito ao desenvolvimento da
personalidade está, devido à pandemia do COVID-19, limitadíssimo ->
obrigatoriedade de usar máscara); Em suma, enquanto que no século
XIX, os direitos fundamentais eram negativos, hoje são
simultaneamente negativos e positivos;
 Alargamento do Direito de sufrágio -> Enquanto no Estado de Direito
Liberal só uma camada muito reduzida da população tinha direitos na
intervenção na vida política, agora esses direitos políticos são
alargados a toda a gente (sufrágio universal);
 O Direito de propriedade deixa de ser a medida de todas as coisas.
Hoje, continua a ser um direito fundamental, mas já não é a medida da
possibilidade de exercer os outros direitos;
 Os proprietários (os burgueses) tinham riqueza para acederem por si
mesmos a bens como a educação, a saúde, habitação, atividade
económica. Hoje, a esmagadora maioria da população não tem meios
de por si só aceder a eles (são serviços muito caros);
 Surgimento de outros direitos (ex. direito à greve)
 Enquanto no século XIX se dava exclusividade aos direitos exercidos
individualmente, hoje sabemos que, se não for possível exercer
alguns direitos de forma coletiva, a liberdade individual fica quase
que esmagada. Antigamente, a força do número podia esmagar o
indivíduo.

2. Separação de Poderes
 A confiança ilimitada na justiça da lei podia conduzir a mau resultado
quando, por exemplo, o Parlamento (os representantes do povo)
aprovavam leis racistas -> nessa altura, pretender que essa lei seja
aplicada só conduz a mais injustiça e, se o tribunal servir para garantir
que ela seja aplicada, mais injustiça ainda. Exatamente por isso, a
perceção atual (pós 2ª Guerra Mundial) da separação de poderes, fez
com que a lei perdesse o estatuto de permanentemente justa. Uma
lei é um ato aprovado por pessoas concretas que podem estar a
cometer a maior injustiça -> isto combate-se dando a um poder

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independente – poder judicial - (que não seja politicamente dominado
pelo Governo ou pelo Parlamento) a faculdade e a competência de
verificar se aquela lei respeita ou não os direitos dos cidadãos.
 Enquanto que num Estado de Direito Liberal o juiz era “boca que
pronunciava as palavras da lei”. Hoje, a conceção de juiz que nós
temos é completamente diferenciada -> permitimos e esperamos que
um juiz se recuse a aplicar uma lei quando a considere
inconstitucional. Antes, admitir isto era o pior dos mundos, era visto
como o mais contrário aos princípios do Estado de Direito
 Fazer leis era uma competência exclusiva do Parlamento. Hoje, tanto
o parlamento como o Governo podem fazê-las -> Lei (ato aprovado
pela Assembleia da República) e Decreto-lei (ato aprovado pelo
Governo). O Parlamento continua a ser o principal órgão legislativo,
mas não dar esta competência ao Governo seria dificultar ao máximo
o funcionamento da sociedade. NOTA: As Assembleias Legislativas
Regionais também podem aprovar atos legislativos.
 O Parlamento passa também, em contrapartida, a meter-se na
atividade governativa, na atividade política.

Questão do Constitucionalismo/Inconstitucionalismo
 Europa:
Após as Revoluções Liberais, são aprovadas as Constituições que
consagram os Direitos fundamentais e a divisão de poderes, mas não
eram vistas como normas jurídicas. Eram documentos de natureza
política/fundadora, mas não era norma aplicável pelos tribunais ->
aplicavam as leis como norma jurídica na resolução de conflitos. Depois
da 2ª Guerra Mundial há uma mudança radical neste domínio (Neo-
constitucionalismo – a Constituição não muda, mas a forma como é vista
dá origem a um novo constitucionalismo) porque as pessoas apercebem-
se que a lei pode induzir às maiores barbaridades (uma maioria
democrática pode anular os direitos fundamentais). O lema que existia
era “Os Direitos fundamentais são à medida da lei”, ou seja, o facto de
um direito estar consagrado na Constituição isso por si só não significa
nada. A Revolução Constitucional da 2ª metade do século XX inverte os
termos: as leis é que passam a ser à medida dos direitos fundamentais

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presentes na Constituição -> fiscalização feita pelo poder judicial, mais
concretamente por um novo órgão: o Tribunal Constitucional.
Em suma: pela primeira vez, na Europa, a Constituição passa a ser vista
como norma jurídica e norma jurídica superior à lei.

 Estados Unidos da América e outros Estados americanos:


A Constituição da América não diz nada sobre esta valência de
avaliadores de constitucionalidade e inconstitucionalidade dos juízes,
muito provavelmente por ser a mesma há mais de 200 anos. Aquilo que
ela faz é consagrar os Direitos fundamentais e depois a divisão de
poderes (com a particularidade de se tratar de um Estado Federal).
A certa altura, em 1801, logo no início do século XIX, há um caso que
chega ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos e na resolução deste caso
há um juiz (Marshall) que pensa da seguinte maneira “Para resolver este
conflito que me puseram eu tenho duas normas aplicáveis e,
curiosamente, enquanto uma norma (ordinária) diz sim, a outra norma
(da Constituição) diz não”. O que fazer neste problema jurídico? Aplica-se
a norma superior e desaplica-se a lei. Foi assim que o Supremo Tribunal
dos Estados Unidos, sem que a Constituição dissesse nada, arrogou-se,
implicitamente, do poder de fazer a fiscalização da constitucionalidade
das leis.

Estado Federal -> Estado formado pela união de vários Estados que
perdem a sua soberania em favor de uma União Federal

 Porque é que nos EUA isto foi tão simples de aceitar em 1801 e na
Europa isto só veio a ser reconhecido a partir de 1950?
1. Os americanos desconfiavam, logo desde o início, do Parlamento,
porque tiveram a experiência do Parlamento inglês que podia
aprovar impostos injustos e, portanto, eles sabiam por experiência
prática que a lei podia ser uma lei injusta. Os europeus não tiveram
esta experiência.
2. Quando se fizeram as Revoluções Liberais, os juízes que existiam
tinham sido nomeados pelo Rei, ou seja, estavam muito ligados à
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
Monarquia Absoluta, à aristocracia. Os revolucionários europeus
desconfiavam dos juízes.

27-10-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo,


Jorge Reis Novais (página 65 e seguintes)
Regimes políticos (relações entre governantes e governados)
 Fatores de distinção:
× Legitimidade – de onde vem o poder?
× Quem tem o poder constituinte?
× Participação dos governados no exercício do poder -> caráter das
eleições: há pluralismo? há representação?
Regimes políticos próprios de Estado autocrático:
Estados autocráticos -> tipo de regime político em que o poder está
concentrado numa pessoa ou num grupo restrito (ex. monarquia
absoluta com o monarca e ditaduras recentes, em grupo); não há uma
participação dos governados no exercício do poder, ainda que haja
eleições; nas ditaduras não há pluralismo politico (eleições são uma
fachada)

Distinção entre regimes políticos de Estado de direito:


Legitimidade -> no regime político do Estado de direito, tendemos a
considerar que o poder provem do povo, mas nem sempre é assim - nos
primeiros tempos após as revoluções liberais, havia reis que consideravam
positivo haver uma constituição no seu reino (carta constitucional:
consagra direitos fundamentais e institui uma separação dos poderes –
rei, apesar de não estar obrigado a fazê-lo, limita o seu próprio poder; é
uma monarquia limitada ou auto-limitada).
Formas de governo
 Monarquia O que as distingue? -> Como se acede ao poder e
 República cargo do chefe é vitalício ou de mandato renovável?
renovável

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


Regime político português atual -> democracia representativa, tal como
Espanha. No entanto, em termos de formas de governo são diferentes
(Espanha -> monarquia; Portugal -> República).

O rei não exerce poder político.

Podemos ter em monarquia e em república regimes democráticos ou não


democráticos.

Monarquia
Na constituição de 1822 Constitucional
(a primeira) tivemos uma legitimidade
democrática porque foi aprovada pelo povo.

Monarquia Limitada Monarquia Orleanista


Monarquia parlamentar
 Legitimidade  Surge em 1830, em
 Poder deriva da
democrática e papel França, com Luís Filipe
eleição;
importante do rei, de Orléans;
 Legitimidade
apesar de já haver  Legitimidade através
democrática;
separação de de um pacto entre o rei
 Reis são apenas uma
poderes*. e os representantes do
figura simbólica.
povo (constituição feita
nas cortes
Em Portugal, constituintes, mas só
tivemos uma entra em vigor se o rei
Monarquia Limitada concordar;
em 1826, com a
 Constituição é como
Carta Constitucional
que um intermédio
de D. Pedro
entre legitimidade
democrática e
legitimidade
monárquica.
*Benjamin Constant ->
teorizou que na divisão de
poderes tradicional, Em Portugal, temos
quando se pretendesse uma monarquia
conservar a importância orleanista, com a
da figura real, ele devia ter revolução de 1836,
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
o chamado poder na Constituição de
moderador (procurava 1838 (3ª)
moderar os eventuais
Praticamente, ao longo do século XIX e do século
XX, Portugal experimentou os vários regimes
políticos. No século XIX, século de grande
agitação, tivemos 3 constituições (1822, 1826 e
1838), cada uma delas com um diferente regime
político dentro da Monarquia Constitucional
Nada distingue hoje, em termos de regime político, o regime
(limitada, parlamentar e orleanista).
político de Portugal e o do Reino Unido -> são democracia
representativas (os cidadãos britânicos têm as mesmas possibilidades de
participação no exercício do poder que nós temos; o pluralismo
(diferentes partidos políticos) é o mesmo; eleições livres. A relação entre
governantes e governados é muito parecida e, por isso, qualificamos o
regime político da Espanha, da França, de Portugal, como democracia
representativa.
O que caracteriza a democracia representativa em termos de
participação dos cidadãos no exercício do poder? -> legitimidade
democrática.

Sufrágio universal (séc. XX, décadas de 30, 40, 50, sensivelmente) -> é a
partir daqui que se inicia a verdadeira democracia representativa (o povo
elege os seus representantes, mas ainda há muita gente que não pode
votar – é um regime representativo porque são os representantes que
saem da eleição que compõe o parlamento; pluralismo, eleições livres,
etc., mas inicialmente não se pode dizer que é democracia representativa
porque nem todos votam).

Regime Representativo

Democracia Representativa Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021

(votam todos os que querem


votar)
Governo Representativo Liberal
(só uma minoria da população
vota)

No nosso séc. XIX a partir da existência de constituições, o governo


é representativo (sob monarquia). Na primeira metade do séc. XX
continuamos a ter governo representativo, mas a partir de 1910, sob
forma de governo republicano. Hoje temos uma democracia
representativa, mas até ao sufrágio universal tínhamos um governo
representativo liberal.

Há diferenças enormes entre governo representativo e democracia


representativa:
 Quem vota;
 Quando era apenas um conjunto de pessoas com interesses muito
semelhantes que votava, isso determinava que, ao realizarem-se as
eleições, se escolhiam aqueles que se consideravam ser as melhores
pessoas para ir para o parlamento (notáveis, pessoas influentes a
nível local, etc.);
 O papel dos partidos políticos não era importante na altura dos
governos representativos liberais porque não havia conceções
diferentes do mundo. Os partidos políticos só intervinham na
altura das eleições e, entre eles, não havia diferenças
programáticas. Isto só se altera aquando do sufrágio universal
porque aí já começa a haver conceções diferentes do mundo.
NOTA: é bom ou mau este fator omnipresente dos partidos políticos nas
eleições e na vida política? A opinião geral é que é mau porque dizem que
a culpa é toda deles e tal, mas depois de um estudo aprofundado esta
opinião pode mudar já que é através dos partidos políticos que obtemos
uma verdadeira representatividade; se não houvesse partidos políticos
não tínhamos democracia.

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


Sistema eleitoral -> numa democracia representativa é uma questão
decisiva.
Em Portugal, a escolha do presidente é simples: quem tem mais votos
ganha.
Eleição americana -> há 4 anos não bastou que a Hillary tivesse mais votos
que o Trump para ser eleita, porquê? Tem a ver com o método eleitoral.
Nos arquipélagos:
 cada ilha constitui um circulo eleitoral e depois há um círculo de
compensação;
 Circulo plurinominal -> há vários nomes em cada círculo eleitoral,
consoante o numero de habitantes na ilha.

Vantagens de haver círculos uninominais:


 Saberíamos quem estávamos a escolher;
 Maior ligação entre eleitores e deputados.

Numa eleição as pessoas votam, mas depois é preciso traduzir o


número de votos em número de mandatos -> isto é o método eleitoral
ou sistema eleitoral em sentido restrito (há 2 -> proporcional ou
maioritário).
O maioritário é o mais simples, não é menos democrático, mas é
menos representativo, o que constitui uma desvantagem.
Historicamente, o primeiro método que surge no governo
representativo é o maioritário, é o mais simples. Nas eleições, já vimos
que quando falamos de um governo representativo liberal, no fundo
tratava-se de escolher pessoas e não de escolher partidos e o mais
natural é que quem tem mais votos num circulo eleitoral vai para o
parlamento, isso determina que no método eleitoral maioritário vão para
o parlamento as pessoas que tiveram em cada círculo eleitoral mais
votos – o natural é que em cada circulo eleitoral se eleja uma pessoa ou
duas.

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


Sintetizando: Sistema eleitoral maioritário -> quem tem mais votos elege
os representantes aos lugares em causa na eleição.

10
A Círculo Plurinominal
B  Podemos optar pelo método.
C
D

1
A
Círculo Uninominal
B
 O método é, invariavelmente, o maioritário
C
D
Círculo Uninominal (necessariamente sistema maioritário)
 País dividido em 230 círculos eleitorais
 Panorama geral: PS e PSD com mais votos
 Em termos de composição da Assembleia da República só iriam ser
representados os partidos grandes
× CONSEQUÊNCIAS:
 Sub-representação dos partidos mais pequenos;
 Polarização do voto nos partidos maiores (porque
veem que não vale a pena votar nos pequeninos).

Sistema proporcional: quando um pequeno consegue ser eleito, nas


próximas eleições vão tentar eleger mais deputados.

Sistema maioritário - círculo plurinominal

D Este partido escolhe todos os deputados


70%

R Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


30%

80

Sistema Maioritário -> Círculos Uninominais (1 deputado por círculo)

1 1 1
A A A
80 40 45

20 60 55
B B B

O partido A tem mais votos,


A -> com 165 votos no total, elege 1 deputado mas menos
representatividade
B -> com 135 votos no total, elege 2 deputados

Sistema proporcional

D
50%
Cada um escolheria 40 deputados
50%
R
80

03-11-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo,


Jorge Reis Novais (página 87 e seguintes)
Método maioritário -> quem chega à frente preenche o mandato
Método proporcional -> distribuição proporcional dos mandatos em
função do número de votos
Porque é que alguns países adotam o sistema maioritário e outros
o proporcional? Porque proporcionam vantagens e têm inconvenientes
diferentes entre si e é em função dessa avaliação que quando se aprova a

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


Constituição (porque é normalmente aí que estas coisas se decidem) opta-
se por um ou por outro método.

Em todo o caso, quando olhamos para isto no plano histórico,


podemos ver que, normalmente, nos Estados de direito começou por se
recorrer ao sistema maioritário - no século XIX fazia sentido porque é o
sistema mais simples, “quem tem mais votos ganha” (ganha as eleições,
mas é necessária uma maioria absoluta no parlamento para formar
governo). Como na altura não havia uma divisão partidária, não havia
uma influência dos partidos (porque o corpo eleitoral era homogéneo –
minoria de pessoas com os mesmos interesses, a mesma visão do mundo,
as mesmas conceções políticas) o que importava não era o partido que ia
para o parlamento, era a pessoa (eram círculos uninominais: elegia-se
um deputado por cada círculo e quem tinha mais votos nesse círculo ia
para o parlamento).
Quando as coisas mudaram, na passagem do governo
representativo para a democracia representativa (quando a natureza das
eleições mudou e em vez de escolherem pessoas aquilo que está em
causa numa eleição passa a ser escolher entre diferentes visões
programáticas, escolher entre diferentes projetos de organização social,
escolher entre diferentes partidos), o método eleitoral maioritário tinha
um grave inconveniente: não permitia a representação das várias
correntes políticas que havia na sociedade, ou seja, dava uma grande
vantagem aos maiores partidos, deixando os partidos mais pequenos com
pouca ou nenhuma representação.
NOTA: é o que acontece no Congresso Americano onde só têm
representação os dois grandes partidos (Partido Democrata e Partido
Republicano), apesar de existirem muitos mais; há uma sub-representação
dos partidos mais pequenos e, em consequência, quando a população se
apercebe disto tende a desviar o seu voto para os partidos maiores a fim
de ter um voto útil, o que gera um efeito de polarização nos grandes.

Vantagens no sistema eleitoral maioritário:


 Se só há dois partidos representados, há tendência para as maiorias
absolutas (só não há maioria absoluta quando empatam). Porque é
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
que esta questão é importante, porque é que isto é uma vantagem?
Saber se um partido tem maioria absoluta é importante para a
constituição de um governo: o Presidente da República tem que
nomear governo, mas para o governo executar as suas funções
necessita de uma maioria absoluta no parlamento – só desta forma
será um governo estável, terá governabilidade. Assim sendo, ainda que
possa nomear outro governo, o normal é o Presidente nomear aquele
que tem maioria no parlamento. Denota-se, então, que isto é uma
vantagem do sistema maioritário uma vez que, inevitavelmente, o
partido que ganha as eleições tem a governabilidade assegurada já
que só não tem maioria absoluta no parlamento em caso de empate;
 Quando se vota, sabe-se em quem se vota, ou seja, pode-se pedir
contas ao deputado caso ele não se comporte da maneira que se
esperava.
Desvantagens do sistema eleitoral maioritário:
 Não garante a integração da totalidade da população nas eleições
porque não se representam as ideologias políticas minoritárias.

Vantagens do sistema eleitoral proporcional:


 Representação proporcional e equitativa (pluripartidarismo
parlamentar), o que garante a participação e o interesse das pessoas
nas eleições
Desvantagens do sistema eleitoral proporcional:
 É difícil obter uma maioria absoluta: o governo ou faz uma aliança
com outros partidos que se pode romper a qualquer momento, ou é
um governo fraco, minoritário (o governo que temos agora -2020, PS -
é um governo que não tem o apoio da maioria absoluta dos deputados
e por isso precisa de negociar: para aprovar o orçamento andam a
negociar há várias semanas para ver se se consegue formar uma
maioria para aprová-lo; se o PS tivesse a maioria absoluta seria muito
mais simples);
 Vota-se numa lista partidária, num programa político e não numa
pessoa individualizada e, portanto, se não se sabe qual é o deputado
que se elege, não se lhe pode pedir que preste contas;
 A representatividade proporcional permite o aparecimento de
corretes extremistas
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
NOTA: algumas pessoas dizem que foi assim que o partido de Hitler
chegou ao poder nos anos 30 do século passado; dizia-se que se o
sistema fosse maioritário o partido nazi nunca teria obtido
representação parlamentar.

CONCLUSÃO: o sistema eleitoral influencia muito a composição do


parlamento: as pessoas votam, sim, mas a concretização efetiva de quem
vai para o parlamento depende do método eleitoral.

Por vezes os países adotam certas medidas que acabam por modular os
sistemas: quando a partir anos 70 do século XX se começaram a
multiplicar os partidos verdes nos vários países desenvolvidos, a grande
dificuldade que os Verdes tinham numa primeira fase era entrar no
parlamento devido às barreiras eleitorais, ou seja, devido à existência de
um número mínimo de votos que tinham que ter para obter mandatos
(ex. o partido Verde na Alemanha já tinha uma grande força social, mas
por existir essa barreira eleitoral era muito difícil a sua presença no
parlamento; ultrapassada a barreira, verifica-se que existe até aos dias de
hoje).
Modalidades de sistemas maioritários:
 de maioria relativa -> qualquer que seja o resultado, quem tem mais
votos num circulo eleitoral é eleito;
 de maioria absoluta (ex. o Presidente da República será eleito em
janeiro de 2021 se tiver maioria absoluta do voto dos eleitores; se
nenhum candidato obtiver maioria absoluta faz-se uma segunda volta
onde participam apenas os dois candidatos mais votados)

Modalidades de sistemas proporcionais:


É a mais
 Método d’hondt -> técnica para determinar quais são os deputados conhecida
eleitos dentro do sistema eleitoral proporcional entre nós

Em termos históricos, a tendência de evolução de sistemas foi a


seguinte:

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 Séc. XIX: sistema maioritário;
 Séc. XX: sistema proporcional, sobretudo na Europa
NOTA: na América não foi tanto assim porque começaram com o
maioritário, mas permaneceram com ele nos EUA, o que influenciou
grande parte dos restantes Estados.
 Séc. XXI: conjugação dos dois (sistema misto) -> progressivamente
alguns países foram adotando modalidades deste sistema misto com o
objetivo de juntar os benefícios e reduzir os inconvenientes de cada Esta é a co
um dos sistemas. Essa conjugação pode ser feita de diversas maneiras, simples, m
por exemplo: comum
 Se um parlamento elege 300 deputados então parte desses
deputados é eleito por sistema proporcional, a outra parte é
eleita por sistema maioritário
 Conservando o sistema proporcional, ou seja, dada aquela
vantagem de representatividade que ele garante, introduzir
fatores de personalização e, através desses fatores, aproximar
eleitores de eleitos

Em Portugal o sistema proporcional ficou consagrado de forma definitiva


na Constituição de 1976 – nem numa revisão constitucional ele pode ser
alterado; no entanto fala-se muito em tentar superar as dificuldades do
sistema e a constituição acolheu essa opinião, isto é, apesar do nosso
sistema ser proporcional, podem criar-se círculos uninominais (nunca se
passou da permissão para a realização).

Circulo uninominal -> cada partido apresenta um candidato e a


população só vota num
Circulo plurinominal (caso português) -> cada partido apresenta vários
candidatos pelo que, necessariamente, a população, ao votar na lista
proposta vota, em vários

Sistema proporcional personalizado -> o paradigma é o sistema alemão

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 Os vários partidos políticos vão ter no parlamento uma representação
proporcional ao número de votos a nível nacional, com aquela O candidat
limitação da barreira eleitoral; representa
 Há círculos eleitorais plurinominais, correspondentes aos Estados mas, nor
alemães e depois estes Estados ficam também divididos em círculos
uninominais;
 O eleitor tem dois votos: com um dos votos escolhe o partido da sua
preferência e com o outro escolhe, no seu circulo eleitoral
uninominal, um candidato individualizado, igualmente proposto por
um partido
 O voto não é obrigatório.
 Os votos obtidos por cada partido nas candidaturas plurinominais
apresentadas nos diferentes Estados são somados e o resultado serve
para proceder, a nível nacional, à distribuição proporcional dos
mandatos parlamentares pelos vários partidos, cabendo a cada
partido, em cada Estado, um número também proporcional ao número
de votos com que a lista partidária desse Estado, contribuiu para o
todo nacional do partido;
 Se nos círculos uninominais já tiverem sido eleitos alguns deputados
desse mesmo partido, ao número de deputados que cabe a esse
partido nesse Estado retira-se o número de deputados eleitos no
círculo uninominal - os deputados eleitos em sistema uninominal
permanecem sempre.
Tradução do Sistema Alemão em lugares no parlamento:
No Estado da Baviera, por exemplo, que forma um círculo
plurinominal, o Partido A tem 10% dos votos. Considerando todos os
círculos plurinominais, o Partido A tem direito a ter, pelo método
proporcional, 23 deputados no Parlamento (partidos estão representados
no parlamento consoante a sua força eleitoral a nível nacional).
Nos círculos uninominais, o Partido A elege 18 deputados. Aos 18
deputados (eleitos em círculos nominais) juntam-se 5 deputados do
Partido, pois A tem direito a ter 23 deputados no parlamento.
NOTA: os 5 deputados que se juntam são escolhidos a partir de uma lista
efetuada pela direção do partido A
O que acontece se nos círculos eleitorais o partido já tiver mais
deputados do que é suposto o que acontece? O número de deputados a
nível nacional não é fixo, portanto, aumenta-se para que a

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proporcionalidade seja representada (mantem os deputados eleitos no
uninominal e não elege no plurinominal).

Sistema grego -> proporcional personalizado (metade dos deputados


eleitos em proporcional e a outra metade eleitos em maioritário)

Sistema eleitoral brasileiro -> proporcional, mas em modalidade mista.


NOTA: o brasil tem voto obrigatório.
 Lista não bloqueada: o eleitor tem uma palavra a dizer sobre quem
daquela lista vai para o parlamento através de um sistema muito
discutível
 O eleitor brasileiro, quando vai votar, pode votar na legenda (no
partido) ou num candidato que se tenha apresentado
individualmente (a generalidade dos cidadãos é isto que faz);
 Os partidos como que desaparecem da campanha e quem aparece
são as pessoas individualmente consideradas e a tendência é que o
cidadão vote nas pessoas mais conhecidas (ex. palhaço Tiririca) -
no fundo o cidadão brasileiro acaba por votar não nos vários
partidos ou programas políticos, mas antes em personalidades.
 Como é que isto é proporcional? Quando os cidadãos votaram no
Tiririca pensavam que estavam a eleger o Tiririca, mas o Tiririca
tinha sido proposto por um partido politico – as pessoas não
tinham ideia de quem era este partido - sabiam quem era o
candidato, mas a generalidade das pessoas não sabe quem é o
partido a ele afeto;
 Em termos jurídicos, o voto depositado no Tiririca vai para o
partido que ele representa (os partidos políticos têm interesse em
apresentar o candidato mais famoso que possam para atrás deles se
fazerem eleger, por exemplo, os dirigentes do partido político).
 A percentagem de votos que cada partido obtém é proporcional
aos lugares no parlamento.

Problemas da democracia brasileira:

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 Há uma imensidão de partidos representados no congresso
brasileiro, mas ninguém sabe quais são as suas ideologias; o
desconhecimento da linha programática dos partidos permite
tudo, inclusive extremismos
 O cidadão brasileiro tem não apenas a opção de votar numa
personalidade, mas também de organizar a lista apresentada
pelo partido, consoante a sua preferência; as personalidades
apresentadas por cada lista fazem campanha uns contra os
outros – frequentemente o poder de alteração é fictício
(porque o voto é aproveitado pelo partido e não pelo
candidato em particular).

Desvantagens do sistema português (proporcional):


 A direção do partido é que faz as listas eleitorais -> os cidadãos não
têm nenhum poder sob a composição da lista eleitoral
apresentada por cada partido nos círculos eleitorais (lista
bloqueada); se o partido tem direito a 10 lugares no parlamento,
são os 10 primeiros candidatos da lista apresentada que ocupam
esses lugares)

Modalidade de compensação dentro do sistema proporcional:


 Atribuição de um bónus ao partido que fica mais próximo da
maioria, de modo a poder formar uma maioria absoluta; no entanto
ao fazer-se isso, tiram-se deputados a outros partidos, perdendo-
se a proporcionalidade
 Círculos eleitorais de compensação (ex. Açores):
× para conciliar a representatividade simultânea da população e
das ilhas, cada uma destas constitui um círculo eleitoral;
× na distribuição dos mandatos por ilha, todas dispõem,
automaticamente, de dois, pelo que 18 estão
automaticamente alocados.
× depois, cada ilha recebe um mandato adicional por cada 7250
eleitores e pelas maiores frações superiores a 1000, até se
perfazerem os 57 lugares a atribuir nas circunscrições
insulares;
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
× os que faltam são atribuídos através de um círculo de
compensação, que garante uma maior proporcionalidade dos
resultados.
× as listas que tiverem obtido menos lugares nos círculos
insulares do que os que lhe cabem a nível regional, vão buscar
os mandatos em falta ao círculo de compensação (aquelas
cujos valores sejam iguais têm o seu número de eleitos
definido; as que conseguirem eleger mais deputados nas
circunscrições insulares que os que lhes cabem a nível da
região, mantém-nos)
NOTA: neste último caso, os lugares obtidos por essas listas são retirados
da contagem efetuada a nível regional para efeito de apuramento dos
mandatos a atribuir no círculo de compensação.

03-11-2020 (aula de compensação) -> Teoria das Formas Políticas e dos


Sistemas de Governo, Jorge Reis Novais (página 99 e seguintes; página
197 e seguintes)
Há 2 grandes formas de estado:
 Estado unitário;
 Estado Federal

Estado Unitário
 1 único poder constituinte;
 1 única constituição;
 1 único sistema de governo;
 1 única ordem jurídica
NOTA: os Estados unitários também têm formas de descentralização do
poder, ou seja, por vezes, o poder central delega algumas funções
administrativas noutro tipo de instituição que não é propriamente estatal.
Há 2 modalidades de descentralização:
1. descentralização funcional ou institucional - quando são
delegadas a instituições não estatais (ex. Ordem dos
advogados regula a profissão dos advogados)
2. de caráter territorial (ex. câmaras municipais)
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
Também pode existir desconcentração de funções -> tudo
permanece no aparelho de Estado, mas em vez de ser decidido pelos
órgãos de topo estes podem desconcentrar os poderes noutros órgãos
(ex. Presidente da Câmara dá autoridade a um vereador para decidir um
determinado assunto).
NOTA: alguns Estados unitários chegam mesmo a descentralizar funções
políticas (descentralização político-administrativa, autonomia político-
administrativa), ou seja, permitem que outras entidades desempenhem
funções de governo, ou funções legislativas.

Estado Federal
 Vários Estados unitários agregam-se para constituir uma nova
unidade estatal através da aprovação de uma Constituição (ex. os
EUA, Estados independentes das ex colónias, consideram que é
proveitoso para eles associarem-se);
 Estados aceitam perder parte da sua soberania a favor da nova
entidade estatal, ou seja, passam a ter a sua Constituição e a
Constituição da nova entidade estatal (o cidadão está sujeito às leis
do seu Estado e à ordem jurídica dos EUA; participa da vida política
do seu Estado e dos EUA);
NOTA: há vantagens na duplicação em territórios de grande extensão já
que permite uma melhor resolução dos problemas; na Europa isto seria
complicado devido às nossas diferenças em termos de língua, história,
cultura, etc.
 Num Estado federal os países não podem abandoná-lo livremente
(o Estado Federal tem que concordar) – o Reino Unido pôde sair da
Europa porque a Europa não é um Estado Federal;
 O senado é uma instituição típica de um Estado federal porque se
destina a representar cada um dos estados no congresso dos
Estados Unidos da América (constituído pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado – cada um dos Estados federados tem
direito a 2 senadores no Senados dos Estados Unidos da América);
 A constituição dos Estados federados está subordinada à do
Estado federal (a Constituição portuguesa tem, na nossa ordem
jurídica, um peso maior do que tem a Constituição, por exemplo, da

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


Califórnia, dentro dos Estados Unidos da América – a Constituição
de um Estado Unitário tem mais peso do que a Constituição de um
Estado federado).

Sistema eleitoral norte americano:


As eleições de hoje (03-11-2020) são eleições para todos os órgãos
dos EUA (congresso e presidente; 1/3 dos senadores; câmara dos
representantes).
NOTA: o mandato do Presidente americano tem duração de 4 anos para o
fazer coincidir com a eleição dos restantes órgãos.
Quando as antigas colónias britânicas constituíram os Estados
Unidos da América, havia Estados, desde mais pequenos e com menor
peso a maiores com mais população, pelo que esta decisão de se associar
num Estado Federal era sempre uma decisão muito complicada (há
sempre muita resistência, sobretudo dos Estados mais pequenos em se
integrarem num Estado federal porque, se por um lado é bom que os
Estados mais pequenos se sintam protegidos, integrados numa estrutura
mais poderosa, por outro lado têm receio de perder poder, de perder
importância, ficarem sujeitos às decisões dos Estados maiores dentro dos
Estados Unidos da América). Este receio levou a que, na altura em que se
fez a Constituição dos Estados Unidos da América, se estabelecesse a
forma de eleição do presidente, segundo um procedimento raro.
Normalmente nós temos a ideia que um Presidente que vai ter
muitos poderes deve ser eleito por todos os cidadãos, mas os Estados
mais pequenos tinham receio de que um sistema em que todos os
cidadãos votam pudesse levar a uma não influência da sua parte na
escolha do Presidente porque obviamente uma pessoa de um Estado
mais populoso teria mais hipóteses de se fazer eleger (não havia os
meios de comunicação que há hoje – uma pessoa que morasse lá no
caraças não sabia o que se passava noutras partes dos EUA).
Assim sendo, estabelece-se que o Presidente dos EUA não é
escolhido diretamente por todos os cidadãos. Cada um dos parlamentos
dos Estados irá apontar determinado número de pessoas para integrar o
colégio eleitoral e são essas pessoas que elegem o Presidente.

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


Porquê eleições à terça? Porque o domingo estava reservado às
tarefas religiosas, na segunda fazia-se a viagem (transportes escassos) e,
finalmente, na terça haveria condições para realizar as eleições.

Em termos estruturais este sistema mantem-se, mas surgiram algumas


modificações:
 No início não havia partidos políticos, mas agora sim e têm uma
importância decisiva – quem tem possibilidade de ser Presidente dos
Estados Unidos da América hoje é só uma pessoa que seja apoiada pelo
Partido Democrata ou pelo Partido Republicano porque estas são as
estruturas nacionais partidárias que têm a possibilidade de fazer uma
campanha nacional, de fazer eleger pessoas, tanto para o Congresso
como para Presidente da República; A partir de certa altura, em vez de
se escolherem quaisquer pessoas para o Congresso, começa-se a
escolher pessoas que sejam afetas a um destes partidos e a pouco e
pouco, em vez de serem os Congressos a escolherem estas pessoas,
chamam todos os cidadãos à escolha dessas pessoas para o Colégio
eleitoral;

No ano das eleições (que são sempre em novembro, na primeira


terça-feira depois da primeira segunda-feira) há um longo percurso até se
chegar ao ato eleitoral e é o seguinte:
 Hoje, quando se vai fazer a eleição, a primeira coisa a saber é quem é o
candidato afeto ao Partido Democrata e quem é o candidato afeto ao
Partido Republicano através das primárias eleitorais (eleições nas
quais os cidadãos escolhem o candidato de cada um dos partidos – ex.
no Partido Democrata havia várias pessoas que se queriam candidatar
à presidência, de entre as quais se contava Joe Biden e, portanto, todos
os cidadãos que quiseram puderam votar por alturas de
fevereiro/março na escolha do candidato que representaria o partido);
NOTA: se eu for democrata participo na eleição do candidato democrata,
se eu for republicano participo na eleição do candidato republicano
 As primárias eleitorais não são logo oficializadas – em junho, cada
partido realiza uma convenção partidária na qual anuncia
formalmente quem é o seu representante;

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 Chegando a novembro, volta a haver eleições e desta vez a população
vota no candidato democrata (ex. Joe Biden) ou no candidato
republicano (ex. Donald Trump), mas o seu voto serve para determinar
quem são as pessoas que vão representar o seu voto ao Colégio
Eleitoral – se num determinado Estado a maioria dos votos for, por
exemplo, para o candidato democrata, isso significa que os grandes
eleitores que vão representar aquele Estado têm de estar afetos ao
Partido Democrata;
 Em dezembro realiza-se a reunião do Colégio Eleitoral onde estão
presentes os grandes eleitores de cada Estado;
 Quantos grandes eleitores tem cada Estado? O número de grandes
eleitores de cada Estado é igual à soma do número de deputados
desse Estado no Congresso federal mais o número de Senadores
desse Estado no Congresso Federal. No total há 538 pessoas no
Colégio Eleitoral;
NOTA: isto significa que um partido pode ter mais votos a nível nacional,
mas não ter no Colégio Eleitoral – nos dias de hoje, manter este sistema é
um anacronismo total e um desrespeito para com a democracia.
 É eleito Presidente aquele que consegue ter a maioria absoluta dos
grandes eleitores (tem que ter do seu lado pelo menos 270 grandes
eleitores).

10-11-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo


(página 104 e seguintes; página 107 e seguintes; página 167 e seguintes)
Estado Unitário Regional: Portugal é, claramente, um caso de Estado
unitário, mas concedeu a entidades de natureza territorial (regiões
autónomas da Madeira e dos Açores) funções de natureza política, o que
significa que a partir da altura em que a Constituição portuguesa consagra
essas formas de descentralização, as regiões autónomas da Madeira e
dos Açores passam a ter órgãos de governo próprio (governo regional e
assembleia regional) saídos de decisões democráticas regionais que
podem conduzir a política de uma forma autónoma (pode até ser
contrária à política de governo nacional) e têm competências legislativas
próprias (fazem aquilo que se designa por decretos legislativos regionais).

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Espanha: passa-se algo muito semelhante àquilo que se passa em
Portugal, no sentido que também o Estado espanhol, através dos seus
órgãos, deu a entidades de natureza territorial poderes de governo,
poderes legislativos. A diferença relativamente ao que acontece em
Portugal surge porque todo o território do Estado espanhol está dividido
em regiões autónomas (tal como se passa num Estado Federal), enquanto
que em Portugal só temos duas regiões autónomas, cuja origem deriva da
sua insularidade.

O que é que distingue Espanha dos Estados Unido da América ou da


Alemanha (Estados Federais)?
NOTA: em termos de facto a Catalunha tem mais autonomia que a
Baviera, no entanto, o sentimento nacional é diferente (ex. Baviera será
muito mais próxima do Estado federal do que a Catalunha é do Estado
espanhol, na medida em que a Catalunha pede imensas vezes a
independência, enquanto que a Baviera não); nas universidades da
Catalunha, não se fala espanhol, enquanto que nas da Baviera se fala
alemão, tal como no Estado federal.

No plano jurídico a distinção é clara:

Regiões autónomas de um Estado


unitário regional
 não têm um poder constituinte
Estado Federal próprio originário – foi o Estado
 Estados federados têm poder Nacional que lhes concedeu
constituinte próprio, ou seja, tem uma autonomia;
constituição feita pelos próprios  tem o seu próprio estatuto regional
estados; onde se diz quais são os seus órgãos,
 Estados federados perdem parte da como é que se relacionam, como é
sua soberania que se compõe, que poderes têm, etc.
 o Estado federado participa dos  não estão representadas em nenhum
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órgãos do Estado federal (senado – órgão nacional


senadores são eleitos pelo Estado  não participa da revisão constitucional
NOTAS:
 o estatuto da região autónoma não é a mesma coisa que a constituição
do Estado federado porque enquanto que o estatuto de uma região
autónoma foi dado pelo estado nacional e, portanto, feito pelos órgãos
nacionais, aprovado pelo parlamento nacional, a constituição de um
estado federado é feita pelo próprio (ex. a Catalunha não pode alterar
o seu estatuto dizendo por ex. que agora passa a ser independente – só
o Estado espanhol é que pode alterar o estatuto da Catalunha)
 Há deputados dos Açores e da Madeira na Assembleia da República,
mas não representam a região – em termos jurídicos representam
todos os eleitores
Na nossa história constitucional tivemos 6 constituições e o nosso
percurso constitucional acompanha de uma forma muito nítida tudo isto
que temos falado até agora:
 Constituição de 1822
 Carta Constitucional de 1826
 Constituição de 1838
 Constituição de 1911
 Constituição de 1933
 Constituição de 1976

Tal como aconteceu no resto da Europa tínhamos estado absoluto,


monarquia absoluta até meados do séc. XIX (até à Revolução de 1820) e

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depois entrámos no séc. XIX (tal como os restantes países europeus) no
constitucionalismo, no Estado de Direito liberal.

Estado absoluto
 Concentração do poder no monarca absoluto;
 Despotismo iluminado no séc. XXIII;
 Despotismo Esclarecido

Estado Constitucional -> entramos na era do Estado de Direito e Estado


de Direito de Liberal
 Separação de poderes;
 Direitos fundamentais;
 Constituição (1822)

Na monarquia constitucional distinguem-se 3 tipos de regimes


políticos - Limitada, Orleanista e Parlamentar (divisão em termos
materiais):
 Limitada – rei ainda com muito peso;
 Orleanista – rei já perdeu parte do poder;
 Parlamentar - rei já não exerce poder politico
Em Portugal o nosso primeiro regime de Monarquia Constitucional
já foi parlamentar, portanto, uma monarquia onde o Rei já não exerce
poder político – a Constituição foi feita exclusivamente pelos
representantes do povo, pelas Cortes Constituintes e o rei é obrigado a
assinar a Constituição (ele não intervém com poder autónomo, ele é
obrigado a aceitar a Constituição) -> para a época, a Constituição de 1822,
era uma constituição bastante radical, uma Constituição de monarquia
parlamentar, onde o papel principal já era o do parlamento, das cortes,
dos representantes do povo – o rei era uma figura sem intervenção
constituinte e sem intervenção política, tudo se jogava nas relações entre
parlamento e governo; apesar de haver a forma de governo monárquica
ela não se reflete na relação entre governantes e governados. A relação
entre governantes e governados é marcada já pela legitimidade

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democrática, pela participação, e isso dá um certo ar radical a este nosso
primeiro regime constitucional.

Características que não são normais na época:


 parlamento só tem uma câmara (não havia a aristocrática);
 na eleição do parlamento não havia voto censitário – votavam
todos menos as mulheres e os analfabetos.

A Constituição de 1822, por ventura pelo seu caráter avançado,


durou muito pouco (nesta sua vigência vigorou apenas entre 1822 e
1823).
A seguir entrámos num período de convulsão política com a
restauração do antigo regime, do regime absoluto (1823).
O período entre 1820 e 1850 é marcado por lutas fatídicas –
agitação máxima, sucessão de constituições, instabilidade máxima:
 Constituição de 1822;
 Restauração da monarquia absoluta;
 Carta Constitucional (1826 a 1828);
 Restauração (outra vez) da Monarquia Absoluta (até 1834);
 segunda vigência da Carta Constitucional (de 1834 até à Revolução
de 1836);
 nova entrada em vigor da Constituição de 1822 (dura
provisoriamente até à aprovação da Constituição de 1838);
 Constituição de 1838 (até 1842);
 3ª vigência da Carta Constitucional (até à Revolução Republicana de
1910)

Podemos distinguir na nossa história constitucionalista:


 um primeiro período de agitação máxima entre 1820 e 1850;
 um segundo período de estabilidade constitucional sob a 3ª Pergun
vigência da carta constitucional queijinho

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IMPORTANTE!! É a Carta Constitucional na sua 3ª vigência que nos leva
até à Revolução Republicana de 1910

Regime da Carta Constitucional


 Não foi aprovada por cortes constituintes, mas antes dada à nação
pelo rei; rei autolimita-se;
 Se é o rei que faz a constituição normalmente ele gosta de se
manter como um órgão importante – aceita limitar-se, mas
organiza a Carta Constitucional de forma a que o poder real seja
efetivo (Benjamin Constant idealiza o poder moderador que
controlava os excessos dos outros 3 poderes);
 Este poder moderador na realidade era apenas uma forma de
permitir a importância à pessoa do rei;
 O rei tinha poder executivo (com o qual governa e nomeia os
ministros) e moderador (com o qual intervinha nos restantes
poderes - intervém no legislativo porque tem o poder de sancionar
as leis, promulgar as leis, dissolver as Cortes, nomear a Câmara Alta
do Parlamento, vetar as leis; no poder judicial intervém na medida
em que é ele que nomeia os juízes da sua confiança);
 Esta monarquia limitada acaba por ser um regime constitucional,
mas onde a legitimidade é monárquica, a origem do poder é o Rei.
NOTA: não é a mesma coisa que Monarquia Absoluta porque temos
Constituição, temos direitos fundamentais, temos separação de poderes,
mas a figura central mantém-se na pessoa do Rei.
Estas características da Carta Constitucional, ao longo do séc. XIX vão ser
marcadas por uma atenuação do poder real (rei vai perdendo influência
prática e jurídica até 1910). Ex. parte da Câmara dos Pares, a partir de
certa altura passa a ser eleita; as alterações da constituição passam a ser
feitas também pelas Cortes Constituintes (já não é apenas o rei a
“mandar” na Constituição).
NOTA: estas alterações à Constituição são conhecidas por atos adicionais

Monarquia Orleanista (nasce em França com Luís Filipe de Orleans, na


Constituição de 1830)

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A monarquia orleanista (dentro da monarquia constitucional) é um
regime intermédio entre a limitada e a parlamentar: constituição nasce
com um pacto entre cortes e rei -> Constituição Portuguesa de 1838.
Características:
 Caráter compromissório, intermédio entre legitimidade
monárquica e democrática (o governo, em sistema parlamentar,
responde perante o parlamento, mas na monarquia orleanista tem
uma dupla responsabilidade – responde perante o parlamento e
perante o rei)

Constituição de 1838
× Menos radical do que a de 1822
× Parlamento é bicameral (em 1822 só havia uma câmara), mas não é
a mesma coisa que o da Carta Constitucional porque a segunda
Câmara, a dos senadores, é agora eletiva (perdeu o caráter
aristocrata);
× O rei conserva ainda poderes significativos como o de veto, mas é
diferente do que se passava na Carta Constitucional – rei perde
poderes relativamente à Carta Constitucional (ex. já não dissolve
cortes tao livremente).
NOTA: na prática, a terceira vigência da Carta Constitucional (depois da
Constituição de 1838) também vai funcionar como uma monarquia
orleanista em que o rei tem poderes, mas não tantos quanto antes.
A estabilidade só vem a ser alterada com a revolução republicana (1910)
e consequente Constituição de 1911:
 Não altera o tipo histórico de Estado (continuamos em Estado de
direito liberal);
 Vigora ainda o regime de governo representativo liberal (ainda não
podemos dizer que temos uma democracia representativa);
 Forma de governo - já não falamos em monarquia parlamentar,
mas antes em República;
 Predominância do parlamento (o governo é responsável perante o
parlamento) – significa que a pessoa do Presidente da República
em 1911, no fundo corresponde em grande medida àquilo que era a

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posição do rei na monarquia parlamentar (chefe de Estado não
interventivo, não desempenha poder politico ativo);
 Presidente da República não era eleito pelos cidadãos, era eleito
pelo congresso (figura dependente do parlamento).

NOTA: a forma de Estado dominante em Portugal foi a unitária, exceto na


constituição de 1822 (aí tínhamos um Estado composto – reino de
Portugal, do brasil e dos algarves). Qual é a diferença entre um Estado
composto e um Estado unitário? Um Estado composto é um reino unido,
ou seja, o rei e as cortes são os mesmos para todos; no Estado federal
criam-se novos órgãos de governação.
Em 1918, com Sidónio Pais, temos um momento de rutura onde se dá
uma tentativa de impor um poder mais presidencial e nessa altura ele
propôs que o presidente da República passasse a ser eleito pelos
cidadãos para ter legitimidade de intervenção, mas isto foi apenas um
período muito breve da história

1926 – Revolução de maio que impõe em Portugal aquilo que era o tipo
estado autocrático que já tinha surgido noutras zonas da europa ->
elabora-se da Constituição de 1933 que não é feita pelo parlamento, é
feita por um pequeno grupo sob a liderança de Salazar e depois sujeita a
um plebiscito nacional para legitimação.
NOTA: este plebiscito popular não se confunde com um referendo porque
já não havia liberdade, pluralismo ou possibilidade de apresentar
alternativas ou sequer de rejeitar a constituição (porque estávamos em
regime ditatorial); ainda assim, com receio que houvesse algum
inconveniente, Salazar insere uma norma no plebiscito que esclarece bem
a natureza desta constituição – foi algo deste género: “esta constituição
foi feita por este grupo, mas agora vai ser a nação portuguesa que vai
votar: quem votar a favor conta como voto a favor, quem votar contra
conta como voto contra, quem se abstiver conta como voto a favor”.

A Constituição de 1933 é uma constituição não democrática e denota


bem a influencia do fascismo:

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 Presença decisiva do presidente da República -> Constituição
esclarece que o presidente é eleito pelos cidadãos com um
mandato de 7 anos, mas como não havia possibilidade de
apresentação de outras candidaturas, o candidato do regime
ganha sempre;
 Presidente da República nomeia um governo que, por sua vez, tem
um presidente: o presidente do conselho de ministros;
 Governo não responde perante a Assembleia Nacional –
característica de governo não democrático;
 A Assembleia Nacional era destituída de poder efetivo, reunia
durante muito pouco tempo (uns 3 meses durante o ano), tinha
muito poucos deputados; só fazia as chamadas leis de base
(aquelas leis mais gerais) -> assembleia parlamentar desvalorizada;
 Quem legislava de verdade era o governo;
 Valorizava-se a participação corporativa – Portugal não seria uma
democracia, seria uma democracia orgânica, ou seja, não era a
pessoa em si que importava, mas sim os organismos onde a
pessoa se integrava (família, escola, associação profissional,
associação empresarial, lobbies – o individuo só tinha sentido
quando integrava um destes organismos); valorizava-se o voto
destes organismos conhecidos como organismos intermédios;
 Os organismos intermédios tinham uma representação própria na
Câmara corporativa (inclui representantes das escolas, das
universidades, etc., o que significava que em termos técnicos
estavam ali, por exemplo, juristas, professores universitários de
grande peso) – ao mesmo tempo que a assembleia nacional estava
desvalorizada dava se grande importância à Câmara corporativa –
os pareceres da Câmara corporativa tinham grande peso; a
Assembleia Nacional era ignorada)

Depois da II Guerra Mundial, quando há de novo na Europa uma


vaga de democratização, em Portugal a ditadura mantem-se, mas o
regime quer dar um ar de atualização no plano internacional
(“democratização”). Para isso, permite que em 1958 se faça uma
verdadeira eleição presidencial onde se podiam apresentar candidatos
alternativos ao candidato do regime (isto era possível porque nesta altura

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o regime já estava mais consolidado e, portanto, não tinham tanto receio
das alternativas como antes e porque o presidente da República tinha
desaparecido enquanto órgão de poder - na Constituição dizia que o
Presidente da República nomeava o Presidente do Conselho de
Ministros, mas na prática era o inverso, era o Presidente do Conselho de
Ministros que nomeava o Presidente da República porque a figura
principal do regime, Salazar, era Presidente do Conselho de Ministros;
nada se podia fazer no país sem o seu avaloo e era ele que escolhia o
candidato do regime à presidência da republica. Foi isso que aconteceu
nas presidenciais de 1958.
O que há de novo é que nessas eleições se apresentou um
candidato da oposição, o general Humberto delgado (na altura foi uma
novidade e o regime favoreceu esta disputa porque dava na Europa um
ar de que Portugal também estava no processo de democratização). O
problema foi que, durante a campanha eleitoral, a candidatura dele
adquiriu uma relevância popular enorme – houve uma entrevista ao
general em que lhe perguntaram que é que ele faria de diferente caso
fosse eleito, ao que ele responde que, obviamente, demitiria Salazar. A
entrevista referida foi como que uma bomba a nível nacional porque a
constituição de facto dava este poder ao Presidente (embora neste regime
fosse como que impossível).
Há obviamente fraude eleitoral (autocarros cheios de legionários
andavam pelo país – legionários eram postos à paisana junto das mesas de
voto para provocarem confusão a fim dos opositores serem presos e, no
meio dessa confusão, depositarem votos a favor do regime nas urnas) e o
candidato do regime (Américo Thomaz) ganhas as eleições.
Ainda assim, o êxito da candidatura do General Humberto Delgado
atemorizou o regime que promoveu uma revisão constitucional (1959)
através da qual o Presidente da República deixou de ser eleito por
sufrágio direto e passou a ser eleito por um colégio eleitoral.
NOTA: na Constituição de 33 já não estamos numa Constituição
tipicamente liberal, ou seja, enquanto a Constituição de 1911 era ainda
uma Constituição liberal onde não se notava uma intervenção do Estado
na vida social e económica, agora, como é próprio do regime, na
Constituição de 1933 já há uma parte sobre a intervenção social,
económica e social por parte do Estado.
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
Constituição 1976 - Estado de direito social e democrático Estas cara

 Sufrágio universal (pela 1ª vez) e direitos fundamentais (não são já


apenas as liberdades de primeira geração, mas também os direitos
sociais, como o direito à saúde, ao ensino, à cultura, ao ambiente,
etc.);
 Regime politico democracia representativa;
 Forma de estado - Estado unitário com regiões autónomas (são
criadas nesta constituição);
 Sistema eleitoral proporcional com partidos políticos (pluralismo);
 Sistema de governo semipresidencialista (novidade).

Sistemas de governo – diz respeito ao relacionamento que se estabelece


entre os órgãos de poder politico;
NOTA: só vale a pena discutir os dos regimes democráticos
Regime político – diz respeito às relações entre governantes e
governados

Tradicionalmente havia dois grandes sistemas de governo:


 na América - presidencialismo;
 na Europa – parlamentarismo
NOTA: muito diferentes entre si e fica mais complexo quando na europa
se desenvolve o semipresidencialismo
Sistema parlamentar:
 Governo responde politicamente perante o parlamento (presta lhe
contas);
 Parlamento pode destituir o Governo;
 Governo pode pedir a dissolução do Parlamento;
 Governo sai das eleições parlamentares;
 Presidente da República ou monarca não exercem poder político
efetivo por isso não são considerados aqui.

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Quando surgiram os EUA verificou-se que, por razões históricas,
territoriais, da natureza do Estado federal, eles adotaram uma construção
que está nos antípodas do sistema parlamentar: o Sistema Presidencial.
 Presidente da República exerce poder politico efetivo e é a
principal figura do regime;
 Governo não responde perante o Congresso;
 Parlamento não pode destituir o Governo;
 Governo não pode dissolver o Parlamento

Em ambos pretende encontrar-se um equilíbrio entre os órgãos de


poder, mas encontram-no de maneira diferente.

17-11-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo,


Jorge Reis Novais (página 167 e seguintes; página 177 e seguintes; página
186 e seguintes; página 197 e seguintes)
Porque é que no caso do Sistema Semipresidencial há duvidas na
sua designação (nomeadamente na escola de Coimbra – Gomes Canotilho
e Vital Moreira)? Porque a doutrina estava muito habituada a lidar
apenas com o presidencialismo e com o parlamentarismo.

Sistema parlamentar
 governo sai do parlamento;
 governo presta contas perante o parlamento;
 parlamento pode demitir o governo;
 chefe de Estado não exerce o poder político
Sistema presidencial
 chefe de Estado exerce poder político significativo;
 o governo do presidente não responde politicamente perante o
Congresso;
 o Congresso não pode destituir o governo do presidente;
 impeachment – através deste instituto o congresso pode
eventualmente conseguir a destituição do governo, mas isto é algo
diferente, é quase uma exceção

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A Constituição de cada país (democrático) diz de que forma é que os
órgãos de poder se relacionam entre si (Sistema de Governo) -> é
suposto que sejam relações equilibradas, mesmo quando há um órgão
que se destaca (ex. num sistema parlamentar, o governo pode pedir ao
chefe de estado que dissolva o parlamento e convoque novas eleições).

Os órgãos só têm poder efetivo quando são legitimados pelo povo


através de eleições.
O equilíbrio do sistema parlamentar faz-se por integração (nunca
se sabe se os órgãos vão cumprir os mandatos).
Em sistema presidencial o equilíbrio consegue-se por separação
(nem o presidente pode destituir o parlamento, nem o parlamento pode
destituir o presidente, ou seja, os mandatos duram o tempo definido).

Em qualquer sistema encontramos a mesma estrutura jurídico-política


(está na Constituição e tem de ser respeitada), mas depois na prática o
desenvolvimento dos sistemas, mesmo dentro dos mesmos grupos, leva
a que sejam muito diferenciados. Também é assim no sistema
semipresidencial: temos vários semipresidencialismos na Europa, na
América, na África, na Ásia, mas funcionam de forma também de forma
muito diferente. Portugal é um semipresidencialismo, a França é um
semipresidencialismo, mas ambos funcionam de forma muito diferente –
as Constituições são praticamente idênticas, no entanto o sistema francês
funciona de forma muito diferente do português, tal e qual como
acontece nos outros sistemas.

Sistema parlamentar
 Realizam-se eleições para o parlamento (únicas eleições) e forma-
se o governo;
 Se o governo que saiu do parlamento é maioritário, não havendo
crises internas, o governo será forte e estável porque qualquer
proposta que apresente vai ter o apoio da maioria do parlamento;

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se o governo que saiu do parlamento não é maioritário, quando se
vai formar o governo ou se forma um governo minoritário que não
tem o apoio da maioria absoluta do parlamento e que será mais
fraco e instável ou se faz um governo de coligação (aconteceu em
Portugal, em 2015) que pode garantir uma maior estabilidade, mas
está sempre sujeito a que um dos partidos da coligação lhe tire o
tapete (ex. nestas eleições dos Açores, nenhum dos partidos por si
só tinha maioria absoluta no parlamento açoriano, o que significa
que para governarem tiveram que chegar a um acordo entre vários
partidos – governo começa maioritário, mas pode acontecer que
durante os 4 anos haja atritos entre os partidos e chegarem mesmo
a deixar de apoiar o governo: nessa altura volta a haver
instabilidade).
NOTA: lembrar que, no sistema parlamentar, enquanto o governo e o
parlamento decidem tudo, no semipresidencial o presidente também tem
uma palavra a dizer. Se não tiverem em conta o que o Presidente pensa
arriscam-se a que o Presidente, por sua livre iniciativa, dissolva o
Parlamento, ainda que haja uma maioria absoluta.

No Reino Unido (sistema eleitoral maioritário), normalmente, os


governos são estáveis, fortes, de maiorias absolutas. Como no Reino
Unido ao Governo se chama Gabinete, tradicionalmente a esta forma de
funcionamento do sistema parlamentar chama-se Sistema Parlamentar
de Gabinete.
NOTA: Reino Unido tem funcionado como sistema parlamentar de
gabinete, mas não tem de ser sempre assim.
A segunda forma de funcionamento do sistema parlamentar, na
qual o Governo é mais fraco e instável, chama-se Sistema Parlamentar de
Assembleia (ex. Itália – historicamente é de sistema eleitoral
proporcional).
NOTA: o sistema eleitoral é um dos fatores importantes e decisivos que
leva a que estes dois países tenham estas características tão diferentes,
sendo ambos de Sistema Parlamentar – se o sistema for maioritário há
uma tendência do eleitorado em concentrar o seu voto nos dois maiores
partidos (voto útil); se o sistema for proporcional há muitos partidos com

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


representação no parlamento e, consequentemente, é mais difícil que um
deles reúna a maioria absoluta.

No âmbito do Sistema Parlamentar de Gabinete e no Sistema Parlamentar


de Assembleia, a certa altura, os juristas começam a refletir, por exemplo,
se é frequente que não haja maioria absoluta e isso provoca
instabilidade, é normal que se comece a refletir como é que se pode
alterar isso, como é que se pode adquirir mais governabilidade
(capacidade de se gerarem governos estáveis, governos de legislatura).
Não poderiam ser introduzidos alguns mecanismos jurídicos na
Constituição para se adquirir isso? – começa a pensar-se na necessidade
de racionalização do Sistema Parlamentar.
 Espanha, Alemanha e outros países adotam o mecanismo da
moção de censura construtiva ou positiva:
× se o Parlamento aprova uma moção de censura o governo
cai;
× quando algum partido apresenta uma moção de censura ao
governo tem que colocar logo nessa moção o nome da
pessoa que quer que seja primeiro ministro (positiva).
NOTA: governos minoritários teriam uma maior estabilidade com este
mecanismo porque as várias oposições podem votar contra, mas
dificilmente chegam a um consenso em relação ao Primeiro Ministro
alternativo (segundo a Constituição destes países a simples aprovação de
uma moção de censura –negativa- não é suficiente para destituir o
governo minoritário, logo, ele continuará em funções.
 Atualmente, na Grécia, à lista mais votada a nível nacional é
atribuído um bónus de mais 50 mandatos, o que, em princípio,
garante artificialmente à respetiva força política uma maioria
absoluta parlamentar.
 A redução da magnitude dos círculos eleitorais (número de
deputados eleitos por cada círculo) reduz a proporcionalidade e
impede a eleição de partidos menores, o que, matematicamente
falando, significa um aumento das probabilidades de determinado
partido adquirir a maioria absoluta;

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


 Estabelecimento de barreiras eleitorais – pode ser um sistema
proporcional, mas só ter representação parlamentar, por exemplo,
quem tem mais de 5% dos votos – se os partidos pequenos estão
fora, será mais fácil haver uma maioria absoluta no parlamento

No Sistema parlamentar (seja de Gabinete, seja de Assembleia) podemos


ainda o distinguir o Clássico (aquele que nós olhamos para a Constituição
e ela estabelece apenas aquelas regras normais faladas no início da aula)
e o racionalizado (quando a Constituição adota alguns mecanismos
destinados a racionalizar ou a conferir maior governabilidade ao
funcionamento do sistema).

Um Sistema Parlamentar de Gabinete pode ser racionalizado? Sim,


Alemanha tem a moção de censura prevista na constituição, apesar de ser
estável em termos de governo.

Como no Sistema Presidencial não há possibilidades de demissão


recíproca, qualquer que seja o Presidente eleito, vai ter que viver com
aquele Congresso (que pode ser do partido oposto ao seu).
Isto não faz bloquear o Sistema? Não, porque também no sistema
presidencial há mecanismos de interferência do Presidente na atividade
do Congresso e do Congresso na atividade do Presidente (ex. Presidente
quer desenvolver uma política de saúde, Congresso não aprova ->
Presidente não pode desenvolver a política que queria; reciprocamente, o
Presidente pode também interferir nas leis que o Congresso aprova, por
exemplo vetando essas leis).
NOTA: na Europa não há sistemas presidenciais em democracia,
exatamente pelo tipo de partidos políticos – seria muito difícil um
presidente de um partido governar com uma maioria do seu oposto no
Congresso -> o sistema presidencial não funcionaria

Então porque é que nos EUA funciona e na Europa não?

Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021


É algo que só se compreende dada a natureza especial dos partidos
norte-americanos que é muito diferente dos europeus (ou pelo menos
foi muito diferente durante muitos anos).
Durante muito tempo, as diferenças entre Partido Democrata e
Partido Republicano não eram muito significativas em termos
ideológicos, ao contrário dos partidos à esquerda e à direita da Europa,
que sempre consagraram diferenças gigantes. Isto significa que o tipo de
bloqueios que pode ocorrer na Europa, nos Estados Unidos é sempre
ultrapassável.
No fundo, os partidos políticos norte-americanos tinham uma
intervenção nas campanhas eleitorais e depois como que desapareciam;
os senadores e os representantes praticamente funcionavam sem se
saber a que partido pertenciam. Na América, cada senador votava de
acordo com o que pensava e não de acordo com o seu partido, como
acontece na Europa.
Nos últimos anos as coisas têm mudado (ex. últimos 4 anos isso foi
muito nítido – denotou-se um afastamento muito grande entre o Partido
Democrata e o Partido Republicano).

17-11-2020 (aula de compensação) -> Teoria das Formas Políticas e dos


Sistemas de Governo, de Jorge Reis Novais (página 200 e seguintes;
página 211 e seguintes; página 236 e seguintes; página 247 e seguintes;
página 282 e seguintes; página 288 e seguintes)

Características permitem que nos EUA o presidencialismo funcione sem


grandes problemas e bloqueios:
 Partidos não têm marca ideológica muito forte;
Sendim Fernandes | FDUL 2020-2021
 Não há uma disciplina partidária fora dos períodos eleitorais.
NOTAS:
 num país europeu, como os partidos não tem estas características,
seria difícil este sistema funcionar de forma equilibrada;
 os países da América tendem a imitar os EUA no sistema, mas não
funciona da mesma forma porque as características históricas não
são as mesmas (pode dizer-se até que o Sistema Presidencial gera
situações de fortalecimento do poder do presidente ou bloqueios
que se solucionam através de golpes militares, ditaduras, etc.)

Modelo Clássico do Sistema Presidencial – EUA


Presidencialismo adaptado – outros países da América
NOTA: depois da década de 70 têm sido anos de estabilidade democrática
para esses outros países - sem golpes militares, sem ditaduras

Como se resolvem os problemas dos bloqueios?


 Impeachment:
× instituto com origem na Inglaterra que dava a possibilidade
ao parlamento de acusar e julgar servidores públicos;
× caiu em desuso e foi substituído pelo mecanismo da
responsabilização política ou criminal julgada pelos tribunais
comuns;
× os EUA vão buscar este instituto porque receavam a imensa
possibilidade de ação ao presidente dos EUA – queriam
consagrar na constituição uma válvula de escape que
significaria que, enquanto o Presidente desempenhasse as
suas funções de maneira apropriada não haveria problema
nenhum; o Presidente não pode ser demitido, então o que
fazer se o Presidente abusar? Em certos casos como suborno,
traição, crimes, etc. cometidos pelo Presidente, o Congresso
pode ter uma forma de o destituir (não é um mecanismo de
responsabilização política porque isso não existe em Sistema
Presidencial) através de uma acusação feita pela Câmara dos
Representantes (tal como acontecia no impeachment

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britânico onde a Câmara dos Comuns acusava) para a qual o
Senado funcionará como Tribunal (desde que o Senado por
2/3 desse razão à acusação, o Presidente seria destituído e
não podia voltar a candidatar-se)
NOTAS:
 a possibilidade de impeachment não é apenas dirigida ao
Presidente, podendo dirigir-se a qualquer servidor público (juízes,
por ex.)
 ao longo da história dos EUA, este mecanismo foi utilizado poucas
vezes no que toca à acusação de presidentes e apenas uma vez foi
utilizado, com sucesso, neste âmbito (Richard Nixon, 1974 – EUA
envolvidos na Guerra do Vietname; agitação social muito grande ->
acaba por verificar-se que Nixon tinha usado os seus “serviços de
apoio” para espiar os seus adversários políticos; EUA estavam na
Guerra do Vietname, mas bombardearam também o Camboja e isso
foi escondido ao Congresso [ainda que o Congresso tenha
questionado o Presidente Nixon acerca da veracidade destes factos,
ele nega tudo] -> Nixon, não tendo dúvidas que o seu impeachment
faria sucesso, renuncia ao seu cargo antes da derradeira decisão do
Senado)
 2/3 dos senadores a votar a favor da acusação é uma maioria
qualificada muito exigente: para haver 2/3 dos senadores a votar a
favor, dada a estrutura do sistema partidário norte-americano, será
necessário que democratas e republicanos estejam de acordo
 durante a presidência de Trump falou-se muitas vezes neste
mecanismo, mas sabia-se que não haveria, da parte dos
republicanos, qualquer acolhimento a uma iniciativa deste tipo;
também tentaram usar o mecanismo do impeachment com Bill
Clinton, mas não houve uma maioria de 2/3 do Senado.
 Impeachment é raramente utilizado e menos ainda com hipóteses
de sucesso.

Nos últimos anos, o que se verifica noutros países americanos é que o


impeachment está a ser utilizado cada vez com mais frequência e está a
ser utilizado quase como mecanismo de responsabilização política - ex.
os EUA, com 200 e tal anos de história, só uma vez é que viram o seu
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Presidente a ser destituído; em contrapartida, no Brasil, um sistema
também presidencial e com uma Constituição de vigência relativamente
curta (1988) já foram dois presidentes destituídos através do
impeachment (Collor de Mello, nos anos 90 e Dilma Rousseff, em 2016).
NOTA: cada Constituição fixa as circunstâncias em que o impeachment
pode ser utilizado.

Nos EUA, onde o sistema eleitoral é o maioritário, só 2 partidos têm


representação no Congresso, sendo muito difícil os dois partidos
concordarem quanto à demissão de um Presidente (que é de um dos
partidos). No Brasil, por força do sistema eleitoral proporcional,
encontramos no Congresso dezenas de partidos políticos, o que significa
que a possibilidade de se chegar a acordo quanto à destituição de um
Presidente é bastante maior.

Há países que, para além do impeachment, têm outro mecanismo, a


declaração de incapacidade do Presidente (Parlamento declara que o
Presidente está incapaz, física ou moralmente, de desempenhar o
mandato)

Inconvenientes do Impeachment:
 utilizado como uma moção de censura sem o ser -> situação que,
como já foi referido, se verifica nos sistemas presidenciais
existentes na América do Sul;
 Enfraquecimento da figura do presidente: com o Impeachment, há
um risco de o Presidente “cair” durante o mandato, sendo que o
sistema presidencial se formou para evitar esta situação (podemos
falar numa "destruição da lógica do sistema presidencial”);
 Desequilibra o sistema a favor da instituição parlamentar: o
Presidente não pode desenvolver, no cargo que foi eleito, a sua
política de uma forma totalmente livre.

Vantagens do Impeachment:

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 Pode impedir (ou desincentivar) a cessação de mandatos
presidenciais através de golpes militares.

Sistema Semipresidencial
Começa-se a falar dele em França, na 5ª República francesa. Depois
da II Guerra Mundial, a França adota uma nova constituição (1958) que
vinha na linhagem do constitucionalismo francês que adotava o
parlamentarismo (como toda a Europa). Não haveria, à partida, nada
diferente na nova Constituição quanto a esse ponto – o sistema francês
seria um sistema parlamentar, dentro do qual especificaríamos dizendo
que é um sistema parlamentar racionalizado (estrutura típica do Sistema
Parlamentar, mas a Constituição de 1958 prevê alguns organismos que
visam uma racionalização do funcionamento do sistema (possibilidade de
os governos poderem ver aprovadas certas leis, relativamente às quais
suscitavam a confiança, sem passar por uma votação no Parlamento; o
presidente não é eleito pelo parlamento, é eleito por um colégio mais
amplo, no qual participam também autarcas, dirigentes dos
departamentos, presidente presidia ao Conselho de Ministros).
Diferença relativamente àquilo que era normal nos Sistemas
Parlamentares: o concreto Presidente da República, que ocupava o cargo
depois da II Guerra Mundial, era uma figura muito popular, muito
prestigiada em França (General de Gaulle) que tinha chefiado a resistência
aos alemães no exílio, e que, de certa forma tinha um apoio popular
enorme – apesar dos Presidentes da República de Sistema Parlamentar
não terem intervenção política este General gostava de a ter, gostava de
decidir, tinha, apesar de ser militar, uma certa apetência por uma
carreira política.

1962 - Alteração significativa relativa ao Presidente da República: passa a


ser eleito diretamente (a eleição direta do PR dá-lhe legitimidade
democrática) -> há aqui um dado novo no sistema parlamentar.
Em sistema parlamentar, os presidentes não têm intervenção
política ativa, mas em França passamos a ter. Tínhamos então uma raiz
parlamentar (havia eleições para o parlamento e formava-se o governo

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em função dos resultados eleitorais; este governo respondia perante o
parlamento, pode ser demitido pelo parlamento), mas também algo
novo: o Presidente da República, passando a ter uma legitimidade
democrática e a poder realizar, efetivamente, os poderes que a
Constituição lhe atribui (ex. se a Constituição lhe dá o poder de dissolução
da Assembleia, ele não precisa que o Primeiro Ministro lho peça, ele tem a
legitimidade própria para o fazer; se a Constituição lhe dá o poder de
promulgar as leis, se ele quiser, não promulga as leis, ou seja, veta-as).
O Presidente deixa de ser uma figura simbólica, passando a
desempenhar um papel ativo -> Maurice Duverger repara nisto e vê que
nasceu um sistema de governo diferente; repara também que este novo
sistema já existia na Constituição da República de Weimer, na finlandesa
(1919), na Constituição Austríaca (1929), na Constituição Irlandesa (1937)
e na Constituição Islandesa (1944), ou seja, havia já aqui um grupo de
países que tinham um modelo muito parecido com aquele que agora
nasceu em França.

1976: Portugal aprova a CRP -> curiosamente, adota também este


sistema semipresidencialista, com o General Ramalho Eanes enquanto
Presidente, com vontade de participação politica.

O Sistema Semipresidencial não se confunde com o Sistema Presidencial


ou com o Parlamentarista e se dúvidas houver, temos, depois da queda
do muro, nos anos 90 do séc. passado, os diferentes países do leste
europeu que nascem da desagregação do estado soviético, a adotarem, na
sua maioria, este novo sistema -> há uma expansão do sistema por todo o
mundo e hoje, excetuando uma ou outra pessoa, ninguém contesta a
existência deste sistema.

24-11-2020 -> Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo


(página 299 e seguintes; página 309 e seguintes; página 331 e seguintes)
e Semipresidencialismo, Jorge Reis Novais (página 27 e seguintes; página
41 e seguintes; página 76 e seguintes)

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Sistema de governo semipresidencialista:
 Governo responsável perante o parlamento – o governo sai do
parlamento, responde perante o parlamento e pode ser destituído
por ele (moção de censura ou rejeição de moção de confiança) - tal
como num sistema parlamentar, ou seja, no fundo a novidade
introduzida neste sistema são os poderes do presidente;
 PR eleito diretamente pelo povo e como tal pode exercer os
poderes que a Constituição lhe atribui.

Para distinguirmos os semipresidenciais entre si temos que olhar para a


figura do PR e a sua intervenção.

A Constituição dos sistemas parlamentares e nossa não tem


aparentemente grandes diferenças em relação ao PR, mas há um fator
importante: a legitimidade do poder do PR -> eleição por sufrágio direto
e universal que não acontece no sistema parlamentar (ou é um rei ou é
designado pelo parlamento).

1958 - Constituição Francesa era a de um Sistema Parlamentar


1962 – Alteração da Constituição Francesa – o presidente passa a ser
eleito diretamente pelo povo -> passamos a ter um Sistema
Semipresidencial

Presidencialismo -> Presidente não se pode alhear da vida política;


Parlamentarismo -> Presidente não intervém;
Semipresidencialismo -> A Constituição dá poder interventivo ao
Presidente, mas ele só o exerce se quiser

Semipresidencialismo
 o governo sai do parlamento;

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 presidente sai da eleição democrática;
 governo governa;
 parlamento legisla;
 presidente pode ou não intervir na vida política, podendo
perfeitamente fazer apenas umas inaugurações e levar uma vida
pacata.

Poderes do presidente no semipresidencialismo:


 poder de nomeação do governo e, nem sempre, poder de
demissão do governo;
 poder de nomeação de altos cargos do estado e de figuras
militares;
 promulgação ou veto dos atos legislativos;
 declaração do Estado de sitio ou de Estado de emergência;
 poder de marcação da data das eleições;
 poder de dissolução do parlamento (nem sempre)

O MAIS IMPORTANTE porque quando se dissolve a assembleia há


novas eleições, ou seja, tudo vai depender do que o eleitorado disser -
> pode originar um novo governo; tudo se altera; é a chamada “bomba
atómica”
NOTA: constitucionalistas dos anos 70/80 achavam que o poder mais
importante era a demissão do governo, mas estavam errados porque aí
a decisão dependia do presidente e era quase certo que havendo uma
igual composição da assembleia, o governo também seria o mesmo

1976 -> altura em que começamos a ter o semipresidencialismo em


Portugal

O nosso sistema não é presidencial porque o nosso governo depende do


parlamento, enquanto que o dos sistemas presidencialistas não.

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NOTA: o governo de França (sistema semipresidencial) depende do
Congresso, mas no Governo de França, quem lidera o Governo francês é o
Presidente

O Semipresidencialismo depende muito da forma como o Presidente da


República entende os seus próprios poderes, como quer exercer os seus
poderes (ex. o nosso PR –Marcelo Rebelo de Sousa- gosta de intervir
politicamente; há outros presidentes de semipresidencialismo que tem
um perfil de não intervenção, apesar de o poderem fazer); isso faz variar
o exercício do poder; este fator não existe nos outros sistemas.

Fatores que podem condicionar o exercício dos poderes presidenciais:


 governo apoiado por uma maioria absoluta no parlamento -> margem
de manobra do PR diminui
NOTA: no semipresidencialismo francês, o atual presidente, Emmanuel
Macron, tem um poder aumentado com a maioria absoluta no parlamento
porque ele é o líder do partido maioritário -> neste caso especial a maioria
absoluta reforça o poder do presidente; se tivesse sido outro partido a
ganhar a maioria absoluta na assembleia, Macron veria os seus poderes
reduzidos.
 coabitação – se o presidente for de um partido e governo e
parlamento de outro, o presidente será fraco.

Dentro dos sistemas semipresidenciais há alguns que funcionam


sempre de uma certa maneira, outros de outro e outros de outra ainda.
Há quem diga que o sistema semipresidencial não existe porque o
funcionamento do semipresidencialismo francês e português são
completamente diferentes -> esta ideia é errada porque isto acontece
em todos os sistemas (ex. sistema italiano é um sistema parlamentar,
sistema britânico é um sistema parlamentar, mas funcionam de maneira
diferente / sistema dos EUA presidencial, Venezuela presidencial, mas
funcionam de forma diferente.)

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Há uma estrutura, a estrutura jurídico-constitucional, que é igual e
aí podemos dizer que a Constituição francesa, neste domínio, é muito
parecida com a Constituição portuguesa, quase igual. Aliás, foi uma
inspiração deste domínio da Constituição Portuguesa – Constituição
Portuguesa de 1976 inspirou-se muito naquilo que a Constituição Francesa
de 1958 diz. Os artigos acerca do Presidente da República são quase uma
transposição, mas há algumas diferenças:
 O Presidente da República preside aos Conselhos de Ministros ->
Franca
 O Presidente da República preside aos Conselhos de Ministros, se
for convidado a fazê-lo -> Portugal

Ainda assim, o semipresidencialismo Português é muito diferente


do Semipresidencialismo Francês

Na Franca, neste momento, não é importante saber quem é o primeiro


ministro porque é o Presidente da República que manda; em Portugal
não, o Primeiro Ministro é que tem a grande importância.

Áustria, Irlanda, Islândia, Bulgária, Eslovénia -> semipresidencialismo


com outra matriz, diferente das anteriores:
 Presidente é eleito diretamente pelo povo, mas não exerce
poderes (estranhooo);
 Presidente tem função cerimonial como os de sistema
parlamentar;

NOTAS:
 há quem lhes chame semipresidencialismo parlamentarizado ou
aparente; na prática funciona nos mesmos moldes que o sistema
parlamentar;

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 na Irlanda e na Islândia, se não houver um candidato que se
oponha pode nem passar pelo processo eleitoral.

Países do leste europeu, Europa central, países balcânicos ->


semipresidencialismo, mas com uma matriz também diferente: adotaram
o semipresidencialismo depois da queda do muro (último terço do séc.
XX); há dificuldades na estabilização do sistema democrático (há países
que nem são considerados democracia)
 há receio em dar ao presidente o poder de dissolução do
parlamento (retira aos presidentes a capacidade de moderar);
 presidente eleito (legitimidade democrática),
 constituições dão-lhe alguns poderes executivos no domínio da
politica externa e da politica de defesa (repartição dos poderes
executivos entre os presidentes e primeiros ministros origina
conflitos entre eles);
 população tende a apoiar os presidentes relativamente aos
primeiros ministros;
 sistema partidário destes países não está estabilizado, é instável e
fragmentado, é raro haver maioria absoluta;
 os presidentes podem nomear os governos tecnocráticos (governo
formado por “não políticos”)
NOTA: em Portugal estes governos designaram-se governo de iniciativa
presidencial (quando o governo é apontado pelo presidente, mas vem de
fora dos partidos políticos; normalmente corre mal porque não tem o
apoio do parlamento) – ex. naqueles primeiros anos da democracia
portuguesa, quando o Presidente era o General Ramalho Eanes: na altura
ele tinha o poder de demitir o Governo, portanto, o Governo respondia
politicamente também perante o Presidente e, a certa altura, em 1978,
ele resolveu adotar um tipo de comportamento que ficou marcado na
nossa história política -> demitiu o governo (que na altura tinha uma
maioria parlamentar, depois perdeu essa maioria) que era composto por 2
partidos políticos, liderado por Mário Soares e, quando vai nomear um
novo governo, em vez de ouvir os partidos políticos e nomear uma pessoa
indicada pelos partidos políticos parlamentares, não; decidiu escolher uma
pessoa fora da Assembleia, fora dos partidos políticos, um tecnocrata, o
engenheiro Nobre da Costa que não tinha uma intervenção política ativa,
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não era militante de nenhum partido político, não estava ligado à vida
política, no entanto, o General Ramalho Eanes quis fazer essa experiência
(CORREU MAL porque este governo a seguir apresenta-se no Parlamento e
os partidos que não gostaram, obviamente, desta atitude do Presidente
da República, rejeitaram este Governo) // General Ramalho Eanes nomeia
outro Governo do mesmo género: vai chamar o professor Mota Pinto (de
Coimbra) que era do PPD (PSD da altura), mas estava em conflito com o
partido -> CORRE OUTRA VEZ MAL // por último, o General Ramalho Eanes
nomeia o Governo da engenheira Maria de Lurdes Pintassilgo que corre
também mal, mas este no fundo já era só mesmo para gerir até às
eleições.

Instabilidade política – estes 3 governos deram-


se um atrás do outro e não podiam exercer as
suas funções porque ou não passavam no
Parlamento ou, quando passavam, caiam logo a
seguir

O mais importante é saber França e Portugal:


 Constituição é muito igual;
 Natureza do executivo:
× Franca
 executivo bicéfalo (Presidente da República e Primeiro
Ministro; o poder exercido em Franca é exercido primeiro pelo
Presidente e depois pelo Primeiro Ministro);
 nos casos de coabitação o poder passa a ser exercido em
primeira linha pelo Primeiro Ministro.
× Portugal
 executivo liderado pelo Primeiro Ministro;
 o presidente não governa, pode apenas influenciar;
 governo responde politicamente perante o parlamento.
 Papel dos Presidentes da República:
× Portugal

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 presidente português é moderador, arbitral do jogo político
que se desenvolve em torno dos vários partidos políticos;
tem um papel suprapartidário;
 PR que se apresentasse como líder de um certo partido
seria malvisto – normalmente quando são eleitos e são
líderes de partido até entregam o cartão de líder, passando a
ser apenas presidentes
× França
 presidente é militante, com ligações partidárias;
 é normal o presidente dissolver a assembleia para obter a
maioria;
 lidera o governo, tem um programa político, tem um
programa partidário;
NOTA: nada na Constituição impede o Presidente Português de fazer o
mesmo, mas desde Ramalho Eanes (militar apoiado por vários partidos de
esquerda e direita) que isto tomou este rumo;

Dupla responsabilidade -> comum nos semipresidencialismos de leste; na


Franca e em Portugal não existe (havia em Portugal até a revisão de
1982);

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