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Ano letivo 2016/2017 Resolução Casos Práticos de P.

Civil Inês Tranquada Gomes 140113096

Tipos de acção, formas de processo e providências cautelares

Nota: Injunção - tipo de Petição Inicial.

CASO I

Aníbal comprou na loja “FNAT”, no Porto, uma televisão da conhecida marca “XPTO”, pelo valor de €2.500,00.

1. Passado um tempo, Aníbal veriFica que a televisão não tem as características que lhe foram asseguradas pelo
Vendedor e instaura uma acção de anulação do contrato, com fundamento em erro, no Tribunal cível do Porto.
Qual o tipo de acção e a respectiva forma de processo?

Tipo de Acção

Nos termos do art. 10º/1 CPC podem existir dois tipos de acções: acções declarativas e acções executivas
(pressupõe a existência de um título executivo).

Na ação executiva, o direito já está deEinido e o Autor dirige-se ao tribunal para que coercivamente o direito seja
assegurado. Esta pode ser, nos termos do numero 6 do artigo 10º: uma ação para o pagamento de quantia certa;
para entrega de quantia certa ou para prestação de um facto (quer positivo, quer negativo).

Nos termos das alíneas constantes do nº2 do art. 10º CPC, as acções declarativas podem ser:

- de simples apreciação (al. a),

- de condenação (al. b)

- constitutivas (al. c).

Uma vez que ,no presente caso, não existe nenhum título executivo, não estamos face a uma acção executiva.
Deste modo, é necessário saber que tipo de acção declarativa é que está em causa.

Em regra, as acções declarativas constitutivas visam o exercício de direitos potestativos isto é, o autor pretende
obter, com a coadjuvação da autoridade judicial, um efeito jurídico novo, que altera a esfera jurídica do
demandado, independentemente da vontade deste. Sendo que a produção de efeitos da anulação dependem da
declaração de anulação pelo Tribunal, as acções de anulação são acções declarativas constitutivas, nos termos do
art. 10º/1 e art. 10º/2 al. c) CPC.

NOTA2: A anulação de um negócio pode ser acompanhada da restituição daquilo que já foi pago. Daqui
resultam as seguintes teorias:

- A restituição do preço que já foi pago é uma acção declarativa de condenação.

- Prof. Maria dos Prazeres Beleza: considera que a restituição do preço que já foi pago não é uma acção
declarativa de condenação, mas sim uma consequências da acção declarativa constitutiva, ou seja da acção
de anulação. A restituição do preço é algo que resulta da lei não sendo necessário autonomizar o pedido.

Forma De Processo

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- 546º/1 e 2 CPC + 548º —> Forma de processo comum que se determina por exclusão de partes.

2. Para pagamento da televisão, Aníbal entrega um cheque, que foi devolvido pelo Banco por falta de provisão.
Que meios tem a FNAT à sua disposição para obter o efectivo pagamento do preço?

O Banco, tendo um cheque sem provisão em seu poder, tem 2 opções:

1. Pode instaurar uma ação Executiva

Sendo um cheque um título executivo, o banco poderia instaurar uma ação executiva, nos termos do artigo 10º/5
conjugado com o artigo 703º/1/c), dado que um cheque é um título de crédito. Esta seria, mais concretamente,
uma ação executiva de pagamento de quantia certa nos termos do 10º/6 CPC.

2. Pode instaurar uma ação Declarativa

O facto de se estar munido de um titulo executivo não impede que se possa ainda instaurar uma ação declarativa.
Tal tem vantagens e consequências:

‣ Pode-se preferir intentar uma ação declarativa pois, através desta, obtém-se um título executivo com
força manifesta: uma sentença. — Há muitos mais fundamentos para atacar um título executivo cheque
do que uma sentença e, como tal, intentar uma ação declarativa pode ser mais vantajoso e de maior
interesse e segurança para o Autor.

- Se se instaurar uma ação declarativa esta seria uma ação de condenação nos termos do artigo
10º/3/b pois houve a violação de um direito de crédito do autor e, consequentemente, esta ação
teria como objetivo, condenar o Réu a pagar o preço de 2.500€.
- Tal remete-nos para o tipo de forma do processo: —> Forma de processo especial. O DL
169/98 que prevê uma ação especial para o pagamento de quantias pecuniárias
decorrentes de contratos. O regime desta ação está regulado no diploma preambular do
DL. — Visa-se apenas o cumprimento de obrigações pecuniárias (exclui-se a
obrigação de indemnização deste diploma).
✓ Esta diploma apenas se aplica às obrigações pecuniárias emergentes de
contratos de valor não superior a 15.000€.

‣ O artigo 535º/2/c) regula quem suporta as custas de uma ação que geralmente é quem perde a ação.
Mas há aqui excepções: — quando alguém, munido com um titulo executivo, intenta uma ação
declarativa, tem de pagar as custas.

Neste caso estamos perante uma condenação de 2.500€. Nos artigos 296º e ss. encontra-se o regime de
determinação do valor de uma ação. Nos termos do artigo 297º, se, pela ação se pretende obter certa quantia em
dinheiro, é esse o valor da causa, logo, o valor da ação é de 2.500€ —> é por isso que têm uma tramitação mais
simpliEicada dado os valores serem irrisórios relativamente a outros processos que podem estar pendentes em
Tribunal.

Anexo ao Diploma 269/98 encontra-se regulada a Injunção. A injunção tem um plano de sobreposição com o
artigo 1º (tendo por isso também como objeto obrigações pecuniárias cujos valores não excedam 15.000€) e
abrande ainda obrigações emergentes de transações comerciais. Esta é a forma mais expedita pela qual se pode
obter um titulo executivo pois não passa pelo Juiz mas sim pelo Balcão Nacional de Injunções.

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Há, portanto, 3 formas de obter títulos executivos:

‣ Ação Declarativa processo Comum — Na opinião de MPB, quando a lei cria processos especiais torna-
se obrigatório seguir esses processos especiais, porém não tem vindo a ser assim na prática, ou seja,
considerando aquilo que é a pratica hoje em dia poderia seguir-se o processo na forma comum apesar
de haver uma especial prevista.
‣ Processo especial de cumprimento de obrigações pecuniárias
‣ Injunção - meio alternativo a um processo especial

Concluindo, o Banco podia se recorrer de:

Ação Executiva

Ação Declarativa Especial ou Comum

Injunção

3. Se o preço da televisão fosse de 30.500,00 a sua resposta seria a mesma?

Poder-se-ia, na mesma, instaurar uma ação declarativa ou executiva. Porém, a forma do processo não seria
especial pois, tal como foi dito, o DL 169/98, só se aplica a ações que visam o cumprimento de obrigações
pecuniárias não superiores a 15.000€. Consequentemente, está também excluída a possibilidade de requerer
contra A uma injunção.

4. E se, em vez de Anibal, quem tivesse adquirido a televisão de €30.500,00 fosse Anibal, Lda, a resposta seria a
mesma?

Uma vez mais, a única diferença residiria na possibilidade de aplicação do DL 62/2013 pois, apesar de nos
termos do seu artigo 10º ser possível recorrer à injunção porque teríamos aqui uma transação comercial, o
cumprimento da obrigações pecuniárias que se exige tem um valor superior a 15.000€.

CASO II

A sociedade Vinhos do Côa, Lda., aprovou, em assembleia-geral, a destituição do sócio António das suas funções de
gerente e a nomeação do sócio Bernardo como gerente, tendo ambos os sócios estado presentes na referida
assembleia. A Vinhos do Côa, Lda., registou as deliberações perante a Conservatória do Registo Comercial. António,
inconformado com aquelas deliberações e receando que Bernardo lese os interesses da Vinhos do Côa, Lda.,
pretende impedir que este assuma as funções de gerente. Com este intuito, António propõe uma providência cautelar
não especiFicada. Quid iuris?

As Providências Cautelares são providências destinadas a acautelar o efeito útil da ação. A sua função não é a de
composição deEinitiva dos litígios, é antes uma função instrumental relativamente à decisão do conElito de
interesses. A Einalidade de tutela da situação jurídica a deEinir é realizada através de medidas provisórias que
vigorarão enquanto decorre o processo de apuramento dos factos necessários à composição deEinitiva.

Estas Providências Cautelares não são autónomas, são dependentes de uma ação principal, ou seja, são sempre
dependentes da causa que tenha como fundamento o direito acautelado. MPB refere-se-lhes como a “garantia das
garantias”, dado uma ação ser, por si, a garantia de um direito.

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Esta Eigura regula a situação de facto entre as partes de uma ação já proposta ou que ainda vem a ser proposta —
> podem ser requeridas como preliminares da ação (declarativa ou executiva) a propor ou como incidente de
uma ação já proposta.

Nos termos do art. 362º/3 CPC existindo um procedimento cautelar especiEicado em que se possa resolver a
questão não se pode resolver a mesma com recurso ao procedimento cautelar comum. Por isso, como a
suspensão de deliberações sociais é uma PC especiEicada prevista nos artigos 380º e ss. do CPC:

- coloca-se a questão de saber se este seria, necessariamente, declarado improcedente e se poderia o juiz
corrigir a forma do meio processual.

- O artigo 193º permite que o Tribunal se dirija à parte, considere que aquele requerimento é inadmissível e
que a convide a corrigir o erro na forma de processo. — O Tribunal podia notiEicar a parte a alterar e
recorrer à forma de processo adequada (especial).

- O 376º/3 aplica-se quando o que está em causa é a própria convolação da pretensão materialmente feita
pelo requerente. O que se encontra no artigo 376º/3 é um poder que é dado ao juiz que vai além deste
poder corrigir a opção pelo processo comum em vez do especiEicado — Aqui, o juiz confere outra tutela,
não é uma questão de erro na forma de processo, é um caso em que se declarada inadequado aquilo que é
pedido. — MPB entende que este artigo não vai tão longe ao ponto de se poder alterar o pedido pois estar-
se-ia a pôr em causa o principio do dispositivo.

Nos termos do art. 380º e ss. CPC encontra-se regulada a suspensão de deliberações sociais que constitui
um procedimento cautelar especi\icado:

PC ESPECIFICADA — 380º e ss. Suspensão de deliberações sociais (380º/1) - As deliberações sociais são
imediatamente executadas e, uma ação principal, poderia não chegar a tempo. Há uma série de riscos
diEicilmente reversíveis e a PC serve para garantir que a deliberação social não é executada. É preciso demonstrar
que há uma forte probabilidade de a deliberação ser tomada e que cause um grave risco ao requerente.

- 381º/3 - Normalmente as PC só são obrigatórias depois de serem decretadas. Mas aqui, mal a sociedade
seja citada, está proibida de executar a deliberação, ou seja, aqui, automaticamente, com a mera citação,
a deliberação não pode ser executada e têm de suspender a deliberação. —> Excepção ao Princípio do
Contraditório. O juiz nestes casos nem chegou a apreciar o mérito da causa.
- Há, hoje, Doutrina que não concorda porque o efeito que se atribui à citação é antecipatório do
decretamento da providencia. Por isso, há diferentes interpretações: (1) quando a lei diz que ‘não é
licito’ nos 381º/3, diz que os atos praticados por aquele gerente não são eEicazes. Outra interpretação
que tem sido a efetivamente seguida és que (2) o efeito é apenas de responsabilidade civil - os
atos serão ilícitos.

PRAZO - (10 dias a contar da data da assembleia em que as deliberações tenham sido tomadas ou - 380º/1)

Esta PC pressupõe que a lesão ainda não ocorreu. Se a lesão se consumou não há tutela cautelar. Neste caso,
tendo sido nomeado Gerente, coloca-se a questão de saber se essa lesão já não ocorreu. Como a deliberação foi
registada, havia quem entendesse que ja não era possível uma PC nestes casos. Mas, tendo em conta que esta
deliberação é de execução continuada, não há uma lesão absolutamente consumada pois pode-se ainda evitar
que este pratique atos.

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INVERSÃO DO CONTENCIOSO (369º) — Pode o juiz inverter o contencioso? A suspensão não funciona como uma
deliberação antecipada. O facto de não ser proposta a ação de impugnação, dentro do prazo previsto (30 dias
subsequentes à notiEicação nos termos do 371º/1) pela sociedade requerida, importa a consolidação da decisão
cautelar como deEinitiva, mas não deixa de ser uma situação anómala. —> A inversão do contencioso no âmbito
da providência de suspensão da deliberação social parece ter aqui um interesse diminuto. A consolidação da
providência de suspensão terá interesse no caso excepcional das deliberações nulas, uma vez que não é
necessário que a nulidade seja declarada em ação especialmente intentada para esse Eim.

RESPONSABILIDADE CIVIL (374º) —> Nos casos de caducidade da providência o requerente pode ser obrigado a
indemnizar a parte contraria pelos prejuízo. A estrutura simpliEicada dos procedimentos, inerente à diminuição
da garantia dos direitos do requerido, é contrabalançada pela responsabilização do requerente pelos danos
culposamente causados ao requerido, se a PC decretada vier a ser considerada injustiEicada ou vier a caducar por
facto imputável àquele, quando não tenha agido com a prudência normal.

TUTELA PENAL (375º) - Existe apenas após a violação de uma providência cautelar depois de decretada.

Nota: Se o tribunal entendesse que não estava aqui em causa uma suspensão de deliberação social poder-se-ia,
eventualmente, recorrer a um Procedimento cautelar comum.

CASO III

Em Junho de 2013, Caetano foi citado pelo Tribunal Judicial de Portimão de que fora decretado o arresto de todos os
bens imóveis de que é proprietário, no âmbito do procedimento cautelar requerido contra si pelo seu credor Diogo.

Arresto (368º e ss.) - Esta é uma medida requerida por quem se arroga na qualidade de credor do requerido. A
providencia tem como Einalidade assegurar a garantia patrimonial do credor. Esta é uma Providência Cautelar
Conservatória porque se destina a uma atuação preventiva sobre os bens do devedor, assegurando que os bens
se irão manter na esfera jurídica do devedor até ao pagamento da dívida. Há, por isso, uma apreensão judicial de
bens por parte de um depositário em nome do tribunal e, posteriormente, o credor terá prioridade face aos
demais credores comuns no pagamento através da venda dos bens arrestados.

- Pode ser requerido na dependência de uma ação declarativa de condenação ou de ação executiva.
- Tem de se provar factos que tornam provável a existência de um direito de crédito e de factos de onde
resultem justiEicado receio da perda da garantia patrimonial.

1. Caetano insurge-se contra a sentença por a mesma ter sido decretada sem a sua prévia audição, não tendo
Diogo demonstrado em Tribunal que a sua audição poria em risco sério o Fim ou a eFicácia da providência. Tem
razão?

Nos termos do artigo 366º (Contraditório do Requerido), há a possibilidade de haver um desvio aos princípios
fundamentais do Processo, nomeadamente o Principio do Contraditório prévio. Este Princípio exige que o
Tribunal não possa decretar uma medida sem dar à parte contra a qual essa medida é oposta, a possibilidade de
se opor. Nos Procedimentos Cautelares pode haver um desvio. —> O Tribunal deve ponderar se a audição prévia
põe ou não em causa a eEicácia da providência cautelar (risco sério) e, se chegar à conclusão de que pode pôr,
decreta primeiro a Providência Cautelar (O juiz só está autorizado a dispensar a audiência do requerido quando
os conceitos indeterminados ‘’risco sério’’ e ‘’Eim ou eEicácia da providência’’ estiverem no caso concreto
preenchidos).

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Há medidas cautelares especiais em que a própria lei proíbe a audiência prévia do requerido com é o caso do
Arresto (393º). Ou seja, neste caso, não é necessário demonstrar-se em Tribunal que a audição poria em sério
risco o Eim ou a eEicácia da providência porque a própria lei prevê que o Arresto seja decretado sem que o
requerido seja ouvido, só o será depois de notiEicado da concretização do mesmo (366º/6).

EM SUMA:

‣ Há aqui um procedimento cautelar especiEicado — Arresto — 393º


‣ Requisitos: quem requer o arresto tem de demonstrar que é credor de uma dívida não paga e que a
garantia dessa dívida está em risco de desaparecer.
‣ A lei expressamente prevê que não pode haver audição prévia. —> Regime especial em que se dispensa a
prova dos requisitos do 366º.
‣ Esta é uma excepção ao regime comum.

2. Caetano, inconformado com a sentença que determinou o arresto porque baseada em depoimentos de
testemunhas da conFiança de Diogo, pretende que o Tribunal Judicial de Portimão ouça o depoimento de outras
testemunhas, pelo que recorreu daquela sentença. Procedeu correctamente?

Decretado o arresto, Caetano será citado para exercer o seu direito de defesa, nos termos do art. 366º/6 e art.
372º/1 CPC. Tal direito de defesa pode-se realizar através de oposição ou de recurso.

Ora a diferença entre o recurso e a oposição assenta no facto de que recorrer da decisão serve para atacar a
prova, isto é para recorrer da matéria de direito e da matéria de facto, nos termos do art. 372º/1 al. a) CPC (por
exemplo, quando não se concorda com a apreciação feita pelo tribunal de uma determinada prova já produzida
recorre-se da decisão); enquanto a oposição é deduzida quando se pretende alegar factos ou produzir meios de
prova não tidos em conta pelo tribunal e que podem afastar os fundamentos da providência ou determinar a sua
redução, nos termos do art. 372º/1 al. b) CPC.

O recurso é apreciado pelo tribunal da relação, ao passo que a oposição é apreciada por aquele juiz que deferiu.
Se quiser fazer os 2, opõe-se.

Prazos: Oposição (10 dias) / Recurso (15 dias)

Tendo em consideração que Caetano pretende a audição de novas testemunhas deveria ter deduzido oposição
nos termos do art. 372º/1 al. b) e não recorrido da decisão.

3. Diogo foi notiFicado do trânsito em julgado do arresto em 13 de Agosto de 2013. Em 10 de Setembro de 2013,
Diogo propôs uma acção executiva contra Caetano, requerendo ao Tribunal Judicial de Portimão que o arresto
fosse apenso a esta acção. Em 17 de Setembro de 2013, Caetano apresentou um requerimento no âmbito do
procedimento cautelar de arresto requerendo a extinção da instância com fundamento em caducidade do
mesmo dado que o arresto não pode ser dependência de uma acção executiva.

Nos termos do art. 364º/1 CPC, o procedimento cautelar pode ser dependente de uma acção executiva, sendo o
procedimento cautelar acessório à acção executiva nos termos da 2ª parte desta norma. —> regime geral
aplicável ao Arresto.

PRAZO: Nos termos do art. 373º/1 al. a) CPC a regra é que uma vez decretada providência cautelar, o requerente
tem 30 dias (passaram apenas 28) para propor a acção principal sob pena de caducidade da providência cautelar.

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SUMA: D foi a tempo quando pediu a apensação e podia tê-lo feito.

Na ação principal o juiz terá de se fazer nova prova.

CASO IV

Bernardo, de avançada idade, intenta providência cautelar contra o condomínio do prédio onde reside, solicitando
que este seja condenado a reparar o único elevador do prédio, que se encontra avariado, e que seja invertido o
contencioso. A providência cautelar é decretada e o contencioso invertido. Três meses depois, não tendo sido
instaurada qualquer acção principal, o condomínio vem invocar a caducidade da providência cautelar. Quid iuris?

Esta é uma providencia não especial.

REQUISITOS/PRESSUPOSTOS veriEicados:

✓ 1º pressuposto - A natureza Antecipatório da Providência - O Juiz apenas pode tomar a decisão de inverter o
contencioso se a providencia decretada for adequada a realizar a composição deEinitiva do litígio. — Neste
caso, é. O seu conteúdo é idêntico e equivalente à decisão da ação principal.
✓ 2º pressuposto - Depende do requerimento da parte interessada (requerente). — Foi o que aconteceu aqui
pois B propôs uma ação. 369º/1
✓ 3º pressuposto - Para o juiz inverter o contencioso tem de ter formado uma convicção segura acerca da
existência do direito acautelado. — o juiz terá de formar uma convicção similar à que é exigida para proferir
uma decisão deEinitiva numa ação. Parece aqui ser evidente a urgência e os factos são fáceis de comprovar
vendo que o único elevador existente está efetivamente avariado. - 369º/1

EFEITOS DA INVERSÃO DO CONTENCIOSO — regulados nos artigos 369º, 370º e 371º

✦ 369º/1 —> Dispensa do ónus de intentar a ação principal pelo requerente que passará a onerar o requerido.
✦ 371º/1 —> Se o requerido não propuser a ação principal (para provar que o direito não existe) no prazo
previsto (30 dias), a Providência Decretada consolida-se como composição deEinitiva do litígio.

CONCLUSÃO: Por força do 371º/1, logo que transite em julgado a decisão que haja decretado a providência
cautelar e invertido o contencioso, o requerido é notiEicado para intentar ação destinada a impugnar a existência
do direito acautelado nos 30 dias dias subsequentes à noti\icação, sob pena de a Providencia decretada se
consolidar como composição de\initiva do litígio - regula de forma de\initiva o que são os direitos das
partes no âmbito do litígio. Não o tendo feito, o conteúdo da Providência passa a ser idêntico ao da Ação
principal.

Nota:
Está aqui em causa a tutela de direitos de personalidade - 878º - indicia que é um regime que visa evitar a
violação de um direito de personalidade.

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Pressupostos relativos às Partes

CASO V

A ZERTS, conhecida marca de aluguer de automóveis sem condutor, pertencente à sociedade comercial por quotas
ARMEX, Lda, representada por ERNESTO, sócio da referida sociedade, instaurou uma acção contra BENTO, com
fundamento no incumprimento de um contrato de aluguer de um veículo motorizado entre ambos celebrado, no
valor de € 5.500,00.

BENTO defende-se nos termos das alíneas seguintes — Diga-se BENTO tem razão, justiFicando e, em qualquer caso, o
que deve o juiz fazer.

a) Que a ZERTS não pode ser parte nesta acção porque:

i. não tem legitimidade para o efeito;

ii. O contrato foi celebrado com a sua sucursal G, pelo que só esta pode instaurar a acção;

Requisito da Personalidade Judiciária

i) A parte na ação não é a ARMEX (sociedade), é uma marca. Não está aqui preenchido o pressuposto da
Personalidade Judiciária ao abrigo do artigo 11º e 12º do CPC, assim como não tem, ao abrigo do artigo 13º, que
abrange alguma das situações de extensões da capacidade judiciária.

➡ Esta é uma excepção dilatória porque obsta a que o Tribunal conheça do mérito da causa - artigo 577º/
c). Note-se ainda que sendo uma excepção dilatória, é de conhecimento oEicioso pelo Tribunal tal como
consta do artigo 578º, ou seja, em regra, não tem de ser arguido pelas partes

➡ A Consequência da falta deste pressuposto é a absolvição da instância do Réu proferida através de


despacho saneador — 576º/2 + 278º/c + 595º/1/a)). (Nota: A absolvição do pedido pressupõe que
tenha havido um juízo de mérito).
➡ Apenas se absolve o Réu da instância quando a falta da personalidade judiciária for insanável
— ou seja, quando for aplicável o artigo 14º. (590º/1 - “a petição é indeferida quando o pedido
seja manifestamente improcedente ou ocorram, de forma evidente… excepções dilatórias
insupríveis e de que o juiz deva conhecer oFiciosamente.”)

ii) Ser parte é reconduzível ao pressuposto da Personalidade Judiciária. De acordo com o CPC a sucursal tem PJ
embora com o requisito de conexão com o litígio (13º/1). Assim, a sucursal teria tido capacidade judiciaria para
ser autora. O que está nº1 do artigo 13º é uma faculdade de escolha entre a ação ser proposta contra a sucursal
em vez de contra a sociedade.

Diferente é a legitimidade que é vista da forma como o autor a conEigura que é neste caso a sucursal. A sucursal e
a sociedade não têm necessidade de estarem as duas na ação porque a condenação que venham a ter, produzem
efeitos quanto à mesma pessoa jurídica, independentemente da dissociação processual.

Como a ação foi proposta pela marca, a falta deste pressuposto é insanável. No caso de falta de personalidade
judiciaria da sucursal, o artigo 14º, excepcionalmente, permite a sanação.

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b) Que ERNESTO é parte ilegítima porque, segundo consta dos respectivos estatutos, a sociedade ARMEX é
representada em juízo por FERNANDO e, como tal, devia ser absolvido do pedido;

Pressuposto da Capacidade judiciária (susceptibilidade de estar sozinho em juízo)

Ao contrário das Pessoas Singulares, as Pessoas Coletivas precisam de algum mecanismo para estarem presentes
em juízo. Apesar de a sua representação ser de cariz diferente, o legislador estabelece, no artigo 25º/1 do CC, que
as Pessoas Coletivas e as Sociedades são representadas por quem a lei e os estatutos determinarem. Assim,
conEirma-se que Fernando é que deve ser o representante da sociedade em juízo pois é ele que consta dos
respetivos estatutos.

➡ A irregularidade de representação é suprível mediante a intervenção do representante legitimo. Logo


que o juiz se aperceba de tal irregularidade tem o poder-dever de, oEiciosamente e a todo o tempo,
providenciar pelo seu suprimento nos termos do artigo 28º/1.

➡ Os mecanismos de sanação desta falta de capacidade é o mesmo do artigo 27º (equiparável) CPC.

- Assim, há sanação mediante a intervenção ou citação do representante legítimo (Fernando).


- Este pode rati\icar os atos anteriormente praticados e o processo segue como se o vicio não
existisse.
- Se não rati\icar \ica sem efeito tudo o que está para trás mas sendo a incapacidade da parte do
Autor, Eica tudo sem efeito desde a petição inicial (absolvição do Réu da instância por falta da
capacidade judiciária que constitui excepção dilatória).
- 278º/1/c) + 577º/c)

(Se o incapaz fosse o Réu, Eicava sem efeito a contestação e correm novamente os prazos
para a prática dos atos).

c) Que, tendo sido ERNESTO a assinar a procuração que confere poderes ao advogado da Autora, a acção deve
ser considerada improcedente.

Pressuposto do Patrocinio Judiciário

Está aqui em causa o pressuposto do Patrocínio Judiciário que é a representação das partes por proFissionais do
foro (advogados, solicitadores, agentes de execução e advogados judiciários). O Patrocínio Judiciário nem sempre
é obrigatório e, apenas quando o é, é que constitui um pressuposto processual.

Nos termos do Artigo 40º/1/a) era necessário constituir-se mandatário porque a ação tem o valor de 5500€
(297º/1 + 301º) e, sendo o valor da alçada dos tribunais de 1ª instancia de de 5000€, esta era uma ação passível
de recurso.

- (Lei 62 /2013 regula o valor da alçada). — LOSJ — Artigo 44º.

A falta, insuEiciência e a irregularidade do mandato pode ser suscitada pela parte ou pelo tribunal a todo o tempo
e pode ser sanada (48º/1 +578º (regra)). O artigo 48º prevê que o juiz pode Eixar um prazo dentro do qual deve
ser corrigido o vicio ou ratiEicado o processo (neste caso, assinatura de Fernando), Eindo o qual Eica sem efeito
tudo o que tiver sido praticado pelo mandatário —> Assim, nesta última hipótese, ao não existir a sanação da

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irregularidade do mandato, Eicaria sem efeito a petição inicial, logo, ter-se-ia de absolver o Réu da instancia —>
excepção dilatória do artigo 577º/h ultima parte.

Nota: A lei também regula o exercício do patrocínio judiciário a título de Gestão de Negócios (49º). Deve o
advogado dizer que atua a título de gestor de negócios e, posteriormente, necessita-se de ratiEicação. —> Apenas
ocorre em situações de urgência.

II. Ao proferir despacho saneador o juiz apercebe-se que:

a) BENTO é menor.

Está em causa a falta de capacidade judiciária de Bento pois este, por ser menor, não é susceptível de estar, por si,
em juízo (15º).

Nos casos de Menoridade, previamente, é sempre necessário fazer ligação com o CC: Temos de aferir se, nos
termos do artigo 127º, se veriEica alguma das suas excepções. Caso que não se veriEica pois este NJ não implica
apenas despesas de pequena importância.

- No caso de emancipação, necessidade de saber se essa é absoluta ou relativa e de análise do 1649º.

Sendo incapaz, este só pode estar em juízo por intermédio dos seus representantes legais ou autorizados pelo
seu curador nos termos do artigo 16º CPC.

Se o menor estiver em juízo sozinho há uma incapacidade judiciária que constitui a falta de um pressuposto
processual cuja consequência é uma excepção dilatória (577º/c).

O que o Juiz deve fazer:

A falta da capacidade judiciária é sanável nos termos do artigo 27º a 29º do CPC. Logo que o juiz se aperceba da
incapacidade judiciária tem o poder-dever de, oEiciosamente e a todo o tempo, providenciar pelo seu suprimento
tal como refere o artigo 28º CPC.

No entanto, a falta de capacidade judiciária não tem como ser sanada pelo próprio Juiz. Assim, nos termos do
artigo 28º/2, o juiz deve noti\icar quem deve representar o menor na causa para, no prazo \ixado, rati\icar
ou não o processado anterior.

Entretanto, suspende-se a instância. O 577º tem de ser interpretado com o 27º porque uma absolvição da
instância seria uma desproteção do Autor.

Resumindo, a incapacidade judiciária, traduzindo-se na falta de representante, pode ser “suprida” nos termos do
artigo 27º/1 e 2 CPC:

O juiz pode mandar citar o representante ou o curador do incapaz.

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Caso contrário, não concordando o representante ou o


curador, Eica sem efeito todo o processado posteriormente
Se estes rati\icam os atos
anteriormente praticados, o ao momento em que a falta de capacidade se deu ou a
processo segue como se o irregularidade foi cometida. — Se não rati\icarem \ica
vicio não existisse. sem efeito tudo o que está para trás mas tem-se de
distinguir consoante a incapacidade seja do Autor ou Réu.

Se a incapacidade for do Se o incapaz era Réu, Eica sem


Autor, Eica tudo sem efeito efeito a contestação e correm
desde a petição inicial — novamente os prazos para a
Absolvição do Réu da prática dos atos. — APLICA-
Instancia. SE AO NOSSO CASO.

Nota: SUB-REPRESENTAÇÃO — Se o juiz se aperceber que há uma falta de diligência da parte dos representantes
de que o incapaz não tem culpa este não pode Eicar prejudicado e, por isso, se tal se provar, o artigo 21º permite
que o representante seja substituído pelo Ministério Público. Note-se que esta substituição não é automática pelo
facto de não ser apresentada nova contestação, tem de haver falta de diligência. O MP irá contestar. — Caso
contrario teríamos a situação de revelia porque quando Réu não contesta consideram-se confessados os factos.
Mas esta é uma das excepções do 567º/c do CPC. —> Sistema que garante a proteção dos Menores.

b) BENTO é inabilitado;

Esta não é uma Incapacidade Genérica pois existe apenas em relação à prática de determinados atos. No plano
substantivo, o regime está no 153º e 154º do CC. e a regra é que o âmbito da incapacidade dos inabilitados é
deEinida pela sentença de inabilitação ou seja, tem-se de ver o que é que o juiz considerou que estava abrangido
na incapacidade de exercício do inabilitado.

Temos de nos situar aqui no âmbito do 152º do CC. Esta ação é para pagamento relativo a um contrato de aluguer
está no seu âmbito de capacidade ou incapacidade. Como nada nos diz na hipótese concluímos que terá o
mínimo de capacidade, ou seja, que pode praticar atos de administração.

Ser Réu é ato de disposição ou de administração? Temos de pensar se teria capacidade para obter os efeitos que
obteve através da ação substantivamente, caso contrario, estar-se-ia a alargar um âmbito de capacidade —
CRITÉRIO.

Os incapazes são incapazes judiciariamente mas podem intervir com o limite daquilo que é a posição do curador
— VER ARTIGO 19º. Há causas de inabilitação que são mais graves do que outras. A forma de suprimento dos
inabilitados é a assistência — o inabilitado pode estar por si mas não pode estar por si sozinho.

Há ainda a questão de saber se este ato se trata de um ato de disposição de 5000€ ou se é um mero ato de
administração e o inabilitado tem capacidade para tal?

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- Se for um simples ato de administração cuja função económica normal implica a transmissão do
dinheiro que é um elemento instável, a contestação pode produzir os seus efeitos.
- Se considerarmos que é um ato de disposição pelo elevado valor em causa, é incapaz, e o suprimento é
feito por parte do curador.
- Depende sempre da posição por parte dos autores relativamente ao conceito de ato de
administração e disposição.

O que o Juiz deve fazer: O critério que se utiliza é o dos resultados possíveis das ações em que o inabilitado seja
parte, no sentido de ver se são favoráveis ou desfavoráveis e ver se o inabilitado poderia, extra-judicialmente,
alcançar aqueles efeitos. Se concluirmos que não, a ação está fora do âmbito da capacidade.

c) O mandatário de BENTO, na contestação, reconheceu que BENTO tinha assinado o contrato, facto que BENTO
nega veementemente. BENTO alega que nunca autorizou o advogado a reconhecer este facto e que, por isso, o
mesmo não pode ser valorizado pelo juiz. Tem razão?

A questão que se coloca aqui é saber se a conEissão de factos desfavoráveis ao cliente por parte dos advogados
necessita da concessão de poderes especiais.

O CPC faz uma distinção entre as con\issões feitas nos articulados e as feitas noutras fases do processo.
Conclui-se, nos termos do artigo 465º CPC que:

‣ A parte \ica vinculada às con\issões feitas nos articulados sem que seja necessária a concessão de
poderes especiais (465º/2 - a parte pode retirar esses atos).
- Na fase dos articulados o legislador parte do princípio de que há maior contacto entre o advogado
e a parte. Os articulados signiEicam que a parte contou ao advogado determinado litígio.
‣ Se forem con\issões de facto feitas noutro momento qualquer só \ica vinculada a parte perante a
concessão de poderes especiais — > É o que se aplica ao nosso caso. Por isso, conclui-se que esse
reconhecimento não pode ser valorizado pelo Juiz se supusermos que não foi aceite pela parte.
‣ Racio: Pode haver um erro na transmissão das informações relativamente aos factos.

Podem ser retiradas as conEissões dos articulados? Hoje em dia tem-se entendido que a decisão do tribunal pela
ocorrência dos factos só se estabiliza na sentença nos termos do artigo 607º/4. — Por isso, não faz sentido que
não possa ser retirada a conEissão de factos nos articulados uma vez que estes apenas Eicam estáveis na sentença.

Nota 1: A retratabilidade existe só quanto às conEissões feitas pelo mandatário ou também nas conEissões feitas
pela parte? Nas partes não porque partimos do pressuposto que ninguém confessa factos que são desfavoráveis a
si próprio, mas, se foi o mandatário, o legislador decide acautelar a possibilidade de poder ter havido erro na
transmissão dos factos ao Advogado ou simplesmente, um erro deste.

Ainda, não termina a faculdade de retirar factos com os articulados — Tal é discutível pois os factos só se
consolidam verdadeiramente na sentença. Até lá, um facto que poderia estar indiciariamente provado — 46º +
607º/4. Na reforma anterior havia pré estabilização dos factos numa lista de factos assentes.

Nota 2: Lebre de Freitas defende que, esta regra de se poder retirar factos, não se aplica às conEissões feitas pelas
partes segundo a lógica de que ninguém confessaria um facto que lhe fosse desfavorável.
Nota 3:
- 277º (Causas da Extinção da instância) + 283º e ss. (o autor pode desistir do pedido ou de parte dele assim
como o Réu)
- 285º - diferença entre desistência do pedido e desistência da instancia.
- 286º — O réu está acautelado melhor pela desistência do pedido.
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Legitimidade

CASO VI

A sociedade Rocha-Pêra, Lda., adquiriu à sociedade Agro-Conservação, Lda., um produto destinado à conservação
de longa duração de pêra rocha em câmaras de atmosfera controlada.
Passados quatro meses da aplicação do produto, a Rocha-Pêra, Lda., constatou que as pêras armazenadas nas
câmaras estavam em avançado estado de putrefacção.
A Rocha-Pêra, Lda., propôs então uma acção contra a Agro-Conservação, Lda., pedindo a condenação desta
última no pagamento de uma indemnização pelos danos causados na fruta, alegando que o produto fornecido pela
ré fora a causa dos danos.
Citada para contestar, a Agro-Conservação, Lda., requereu ao Tribunal que a absolvesse do pedido com
fundamento em ilegitimidade, alegando que a responsabilidade pelos danos era da sociedade AC – Atmosfera
Controlada, S.A., que controlara o funcionamento das câmaras onde tinham sido armazenadas as pêras.

a) Como deverá decidir o Tribunal?

O problema que se coloca aqui é o de saber quem é parte legítima, se a Agro Conservação Lda ou a AC - Atmosfera
Controlada SA.

Já há muito tempo surgiram 2 teses relativamente à interpretação de se a relação jurídica controvertida era a
descrita pelo autor ou a efetivamente existente:

Tese de Barbosa de Magalhães:

Barbosa de Magalhães defendia que a relação jurídica que devia servir de base para aferir a legitimidade era a
relação jurídica tal como o autor a conEigurava (critério). Ou seja, se Rocha-Pêra Lda diz que a Agro-Conservação
Lda é a responsável pelos danos causados, então esta é parte legitima. Se se concluir, posteriormente, que esta
sociedade não foi a responsável pelos danos, então, esta já é uma questão de mérito da ação e esta sociedade
deve ser absolvida do pedido. É absolvida, não por ser parte ilegítima (porque nesse caso seria absolvida apenas
da instância), mas apenas por o autor não ter razão.

‣ O Fundamento alegado por este autor é o de que os pressupostos processuais devem ser aferidos como
uma questão prévia à questão de mérito e, como tal, devem ser resolvidos numa fase inicial, prévia à
resolução do litígio.— A legitimidade tinha de ser aferida no início e, como tal, só poderia ser aferida tendo
em conta o que o legislador descreve. Se não for assim, obriga-se o juiz a apreciar o mérito.

‣ Este entendimento é o que melhor protege o Réu pois leva a que o Réu no Einal seja absolvido do pedido
enquanto que, no entendimento de Alberto dos Reis é apenas absolvido da instância. — Se for absolvido do
pedido há força de caso julgado material e o autor já não pode insistir mais com aquela pessoa. E no caso de
ser apenas absolvido na instância pode ser de novo proposta contra este uma nova ação.

‣ O réu tem sempre interesse em contradizer. AR diz que só tem interesse em discutir se actuou como parte
ou como representante.

Tese do Professor Alberto dos Reis

Este autor considera que ser parte legítima é ser parte da relação controvertida efetivamente existente.

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‣ Fundamento: Este autor adopta esta posição com o fundamento último da Utilidade Social da Sentença
— Não faz sentido permitir que o juiz proEira uma decisão que não tenha utilidade.

‣ Argumento para contrariar Tese de BM: Se a tese adoptada for a de BM, então nunca vai haver
ilegitimidade — os casos de ilegitimidade serão meramente residuais. O autor vai sempre chamar a juízo a
parte que é descrita como sendo a culpada ou como aquela que devia ser responsabilizada.

‣ Argumento que contraria a tese de BM por se dizer que, segundo a sua tese, há necessidade de
entrar no mérito da causa: Não é mérito da causa discutir se a pessoa interveio como parte. Tem-se de
pressupor quem foi parte desse contrato — é apenas uma análise para efeitos do pressuposto processual.

CONCLUSÃO: Desde 95/96 que o legislador adopta a Tese de Barbosa de Magalhães —> O artigo 30º/3 do CPC
diz que são considerados titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação
controvertida tal como conEigurada pelo Autor. Por isso, a relação material que interessa para aferição da
legitimidade é aquela que o autor descreveu na petição inicial e não a que venha a apurar-se na própria causa. O
Juiz Eicciona que a relação controvertida existe e que existe tal como foi narrada pelo autor na petição inicial. Por
isso, mesmo que não se venha a comprovar a existência da relação material controvertida e a sua
titularidade pelas partes identi\icadas, ou seja, mesmo que se venha a veri\icar que a Agro Conservação
Lda não é, de facto, a responsável pelos danos, tal não implicará a absolvição da instância com
fundamento em ilegitimidade processual. Há, sim, a absolvição do pedido que não se funda na
legitimidade mas sim no facto de o autor não ter razão (decisão de mérito). —> entendimento que
melhor protege o Réu.

Notas ao Caso:

• Hoje em dia, tanto num como noutro há a absolvição do pedido.

• A ilegitimidade singular, hoje em dia, são casos meramente residuais —> Ex. Dono de automóvel propõe ação
contra a marca e requer a anulação do contrato. A anulação do contrato e a forma como conEigura a ação de
anulação de CV — a marca não é a parte legitima porque o carro foi comprado num stand de automóveis.

b) Poderia a Agro-Conservação, Lda., ter proposto a acção contra as duas sociedades, com fundamento no facto
de desconhecer a entidade responsável pelos danos?

Pelo artigo 39º CPC, parece-nos que sim, MAS têm de haver elementos objetivos dos quais resulte uma dúvida
dos titulares da relação material controvertida e, ainda para mais, tem o autor de ter sido diligente o suEiciente
para tentar apurar qual o sujeito da relação controvertida.

NOTA: ARTIGO 278º/3 — Temos de estar perante a falta de um Pressuposto processual mas, ainda assim, o tribunal
conhece do mérito porque considera que a decisão seria integralmente favorável a uma das partes. — É a escolha
entre acautelar os interesses da parte com absolvição da instância e entre se chegar à conclusão de que se pode
conhecer o mérito da causa relativamente a uma parte, e que essa decisão que é-lhe integralmente favorável —
Nestes casos o mérito prevalece sobre a forma.
É um artigo que acaba por, em regra, não ser utilizado tendo em conta que é um pressuposto que só tutela uma das
partes e que não está aqui em causa um interesse público. MPB diz que isto aparentemente é o mais favorável à
parte, mas, se há uma decisão de recurso, e o tribunal recorrido considera que não é integralmente favorável, em
vez de o processo ter sido mais célere, reverte-se.
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CASO VII

António celebrou com Beatriz e Carlota um contrato de mútuo, no valor de 10 000 €. Algum tempo depois
demandou Beatriz, pedindo a sua condenação na devolução de toda a quantia emprestada. Diga qual deve ser a
decisão do juiz quanto à legitimidade passiva, no caso de a dívida ser:

Nota Prévia: Se há uma dívida conjunta de um contrato de mútuo e há 2 devedores, todos os sujeitos fazem parte
da mesma relação material controvertida. Assim, aqui a pergunta resume-se a saber se estamos perante uma
situação de Litisconsórcio Necessário ou Voluntário, ou seja, se é obrigatório, ou não, que estejam presentes na
ação todas as partes da relação jurídica. É importante ainda referir que a regra é a do Litisconsórcio Voluntário.

(a) Conjunta,

Se a dívida for conjunta, e a A não for pago o dinheiro, este pode instaurar a ação contra B e C ou apenas contra
cada uma individualmente.

Isto justiEica-se porque estamos perante uma situação de Litisconsórcio voluntário dado que não se veriEicam
nenhuma das excepções do artigo 33º:

1. Não estamos perante um Litisconsórcio Legal pois a lei não exige a presença de todos na ação em caso de
a dívida ser conjunta.

2. Não estamos perante um Litisconsórcio Convencional pois não há a exigência da presença de todas as
partes daquela mesma relação jurídica por convenção (NJ).

3. Não estamos perante um Litisconsórcio Natural pois a natureza da relação jurídica não exige que estejam
todos presentes na ação dado que, para que a decisão produza o seu efeito útil normal, não têm de estar
todos presentes em juízo. Isto porque, naturalmente, o direito pode ser dividido em quotas partes.

Assim, concluímos que esta é uma situação de Litisconsórcio Voluntário. No entanto, neste caso, A apenas
instaura uma ação contra B, por isso, como estamos perante uma dívida conjunta, o juiz não vai condenar o Réu
no pagamento de toda a dívida — vai dividir o valor que é pedido e condenar o Réu apenas na sua quota parte, ou
seja, condena B ao pagamento de 5 000€. Esta decisão teria fundamento no artigo 32º/1/ 2ª parte —> pois o
juiz só pode conhecer da quota parte do interesse do sujeito que está em juízo e não pode tomar decisões que
abranjam os sujeitos das outras partes na relação, mesmo que o sujeito em juízo venha pedir a condenação na
totalidade.

(b) Solidária, (519º do CC.)

A Dívida Solidária, substantivamente, não exige que estejam presentes na ação todos os devedores quando
apenas um é demandado na totalidade da dívida. Há uma fonte chamada responsabilidade solidária que permite
que o Juiz condene o Réu no pagamento da totalidade do pagamento da dívida, sem prejuízo que depois haja
entre os devedores solidários o exercício do direito de regresso.

A Responsabilidade Solidária constitui uma excepção à regra do Litisconsórcio Voluntário que se encontra
englobada nos casos previstos no artigo 32º/2 pois a lei permite que a obrigação comum seja exigida de um só
dos interessados, bastando, por isso, que apenas um deles intervenha para assegurar a legitimidade. No entanto,
não é obrigatório demandar apenas um dos devedores!

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Embora o Litisconsórcio seja voluntário, pode haver vantagem em demandar todos os devedores por razões de
caso julgado e satisfação do crédito.

Não há qualquer ilegitimidade processual neste caso, B é parte legítima.

(c) Indivisível. (535º/1 CC - obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores)

Não estamos perante um caso de Litisconsórcio Natural porque está expressamente previsto na lei
(Litisconsórcio Legal) no artigo 535º do CC que “Se a prestação for indivisível e vários os devedores, só de
todos os obrigados pode o credor exigir o cumprimento da prestação, salvo se tiver sido estipulada a
solidariedade ou esta resultar da lei.”

Assim, não há necessidade aferir os requisitos do artigo 33º/2. —> Nos termos do artigo 33º/2, há
Litisconsórcio Natural sempre que, para que a decisão produza o seu efeito útil normal, tenham de estar todos
presentes em juízo. Nos termos do artigo 33º/3, produzir efeito útil normal signiEica que a decisão possa ser
deFinitiva e exequível ainda que apenas em relação à quota parte dos interessados.

CASO VIII (3)

Diana e Eugénio venderam o seu prédio rústico a Filipe que pretende dedicar-se à produção de laranja. Vindo a
descobrir que, contrariamente ao que lhe fora assegurado, o prédio rústico não tinha as condições de irrigação
necessárias ao tipo de cultura desejada, Filipe propôs uma acção de anulação do contrato de compra e venda com
fundamento em erro. A referida acção foi apenas proposta contra Diana, uma vez que Eugénio se encontra em
paradeiro desconhecido.
O juiz, no Despacho Pré-Saneador, pondera ordenar a citação de Eugénio, com fundamento em ilegitimidade
passiva de Diana. Tem razão?

Temos de analisar as hipóteses de Litisconsórcio Necessário: (…)

Se o comprador quer anular a Compra e Venda, tem de demandar os dois vendedores pois, se demandar apenas
um, não se consegue desfazer daquele negócio jurídico. Por isso, estamos perante uma situação de Litisconsórcio
necessário Natural nos termos do 33º/2 que é aquele que impõe a presença de todos os interessados na acção
pois, de outro modo, a decisão judicial a obter não produz o seu efeito útil normal.

Sendo esta uma situação de litisconsórcio necessário natural, daqui decorre que, não tendo Eugénio sido
demandado na acção intentada por Filipe estamos face a uma situação de ilegitimidade processual, que, nos
termos do art. 576º e 577º al. e) consubstancia uma excepção dilatória tendo como consequência a absolvição da
instância.

Contudo, esta excepção dilatória pode ser sanável nos termos do art. 590º/2 al. a) que se conjuga com o art. 6º/2
e 411º, ou seja o juiz notiEica o autor que existe uma situação de ilegitimidade processual (O juiz não pode tomar
iniciativa de chamar ao processo a parte em falta, apenas convida a chamar porque está em causa uma
modiEicação substantiva da instancia — tal colide com o Principio do Dispositivo!).

Nos termos do artigo 316º, têm de ser as partes a chamar a juízo o interessado com legitimidade para intervir na
causa até ao trânsito em julgado da decisão nos termos do artigo 261º/1. De notar ainda que esse chamamento

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pode ser efetuado ainda depois do trânsito em julgado, desde que seja feita 30 dias posteriores a este nos termos
do 261º/2. —> F há de requerer a intervenção principal provocada — 316º (que o tribunal defere, ordenando
a citação edital se não se conseguir apurar o paradeiro). — É parte principal porque quando vier à ação será Réu.
318º/1/a) — Esta intervenção pode ser feita até ao termo da fase dos articulados. Para além dos articulados rege
o artigo 261º.

Conclusão: O Juiz não pode ordenar a citação do Eugénio mas pode provocar as partes a fazerem intervir o
Eugénio e, para tal, faz um despacho saneador (590/2º/a). Se as partes não o Eizerem, há a existência de uma
excepção dilatória de conhecimento oEicioso ( 576º e 577º/e) ) que leva à absolvição do Réu da instância.

Deste modo pode surgir uma nova parte na acção.

Relativamente ao facto de não se saber do paradeiro de Eugénio devemos recorrer ao artigo 225º/6 — faz-
se uma Citação Edital que não garante o conhecimento de que a ação está a decorrer contra ele mas garante que
foram criadas as condições para que aquela pessoa possa intervir. Sob pena de isto poder impedir o acesso à
justiça de F, a partir do momento em que decorre a citação edital e que E não contesta (revelia é inoperante), a
ação decorrerá nos seus termos normais.

Notas:
- No caso do artigo 28º, o juiz cita o representante e tal não consiste num convite — é o próprio tribunal que
cita. A parte aqui é o representante — não há nenhuma modiEicação subjetiva da instância — chama apenas o
representante pois o incapaz, por si só, não pode estar sozinho na instância.
- No artigo 260º temos um principio de que a partir do momento em que ocorre a citação a instancia tem de se
manter estável (partes, pedido e causa de pedir). — Só é possível uma alteração de acordo com as previsões
da lei. No artigo 261º pode-se chamar ao processo uma parte que até aí não estava mas isso tem de ser
desencadeado pela parte, por isso é que o juiz apenas pode convidar a parte.

CASO IX

A sociedade Fitness Top, Lda., com sede em Lisboa e proprietária de vários ginásios em Portugal, resolveu propor a
Gonçalo, conhecido professor de crossFit, a abertura, em conjunto, de um ginásio em Sintra, do qual Gonçalo seria o
director.
Para o efeito, combinaram que Gonçalo se encarregaria de comprar um terreno adequado à construção do ginásio,
bem como de proceder aos estudos e aos contactos necessários para o efeito. Assim, Gonçalo celebrou com as irmãs
Helena e Isabel, domiciliadas em Amesterdão, um contrato-promessa de compra de venda com eFicácia real de um
terreno de que ambas eram proprietárias em Sintra, pelo preço de € 400.000,00, tendo pago € 50.000,00 como sinal.
O contrato foi negociado e celebrado em Sintra, aproveitando uma estadia das proprietárias em Portugal.
Uns meses depois, a Fitness Top enviou a Gonçalo uma carta na qual declarou não estar mais interessada em abrir
o ginásio, por se encontrar em graves diFiculdades económicas.
Suponha que Gonçalo, residente em Lisboa, propõe uma acção nos seguintes termos:

- Contra a Fitness Top, pede uma indemnização no montante de € 100.000,00, pelos prejuízos sofridos com o
que considera ser a violação do acordo entre ambos celebrado, com vista à abertura do ginásio;

- Contra Isabel, a anulação do contrato-promessa e a consequente restituição do sinal que pagou, dizendo
que, como Isabel sabia, só o tinha celebrado para nele construir o ginásio, em colaboração com a Fitness
Top.

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Diga se a acção pode ser proposta nestes termos.

Há uma pluralidade de pedidos que traduz uma pluralidade de relações materiais controvertidas coligadas pelo
Autor. Desta feita, para saber se a ação poderia ser proposta nestes termos, temos de analisar se estão cumpridos
os requisitos da coligação para a admissibilidade da Coligação em juízo que estão presentes nos artigos 36º; 37º
e 555º do CPC. Note-se, ainda, que estes 3 requisitos têm de estar preenchidos cumulativamente.

São estes:

1. Conexão entre os Pedidos (36º/1 e 2) — conexão material

Para este requisito se veriEicar basta existir uma das seguintes ligações presentes no artigo 36º para se veriEicar o
requisito da conexão entre os pedidos. Estas são situações alternativas e não cumulativas:

(1) 36º/1 — Se, entre os pedidos, existir uma mesma causa de pedir — 581º/4 — Há identidade da causa
de pedir quando o facto jurídico concreto do qual emerge a pretensão da parte é o mesmo. Nas ações
constitutivas de anulação (caso da proposta contra I) é o facto concreto ou a nulidade especiEica que se
invoca para obter o efeito pretendido. — Tal não se veriEica aqui. A ação de anulação é assente num erro
de que iria construir o tal ginásio (erro sobre a base do NJ ou erro sobre os motivos — vontade viciada)
— isto vai além do fundamento ou base do anterior contrato. A causa de pedir, relativamente à ação de
anulação, não se basta com a averiguação de que houve incumprimento por parte da Fitness Top. Tem-se
de provar que a sua vontade só se formou relativamente ao contrato com I devido ao facto de ter partido
do pressuposto de que se cumpriria o contrato celebrado com Fitness Top — aspeto mais amplo.
(2) 36º/1 — Quando os pedidos estejam, entre si, numa relação de prejudicialidade ou dependência (lógica
de procedência)
✓ 36º/2 - Quando os vários pedidos implicam a apreciação dos mesmos factos. — É o que ocorre neste
caso pois há coincidência parcial de factos!
(3) 36º/2 - Quando a procedência dos pedidos principais depende da aplicação ou interpretação das
mesmas regras de direito ou cláusulas contratuais análogas.

Encontra-se vericicado um elemento de conexão entre os pedidos!

2. Compatibilidade processual (37º)

(i) Identidade das Formas de processo — Sempre que um dos pedidos deva seguir uma forma de
processo especial, não deve ser coligado com aqueles que sigam forma processo comum e vice versa
porque nunca seriam bem julgados. A Economia processual não deve suplantar as vantagens da
adequação da tramitação processual. — O legislador não exige a identidade estrita — O pedido 1 e o
2 têm de seguir a mesma forma mas podemos temperar com o 37º/2. Temos de analisar os pedidos
separadamente:

- Quanto ao pedido de indemnização — (nota: o valor do pedido é de 100.000€ — 296º e


ss. + 297º) — a forma de processo é comum pois, nos termos do 546º/2, como não se
encontra expressamente regulada nenhuma forma de processo especial aplicável a este
caso, é lhe aplicável uma forma de processo comum.
- A veriEicação deve ser feita nos artigos 878º e ss. e ainda legislação
avulsa.
- O DL 269/98 que regula a ação especial para o cumprimento de
obrigações pecuniárias decorrentes de contratos e injunção não é
aqui aplicável pois não engloba as indemnizações (especialmente
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porque neste caso nem se pede o cumprimento do contrato mas


sim um ressarcimento pelo seu incumprimento).

- Quanto ao pedido de Anulação — (nota: o artigo 301º contém o critério pelo qual nos
devemos pautar para determinar o valor da causa porque, quando se discute se o NJ é
anulavel ou não, discute-se a sua validade — 400mil€ — valor do ato determinado pelo
preço ou estipulado pelas partes) — Não há nenhuma forma especial para a anulação do
NJ e, por isso, este segue também uma forma de processo comum pelos mesmos motivos
que foram acima referidos.

Ambos os pedidos seguem a mesma forma de processo!

A referência ao valor dos pedidos não releva neste caso, é uma mera anotação.

(ii) Competência absoluta do tribunal para avaliar determinados pedidos — O Tribunal onde é
instaurada a ação com a coligação tem de ser absolutamente competente para julgar todos os
pedidos formulados em coligação — Para a coligação ser possível tem de ser o mesmo Tribunal
competente em razão da hierarquia, da matéria e a nível internacional (competência absoluta). em
relação a cada dos pedidos.

Nota prévia: Gonçalo é residente em Lisboa; Fitness Hut tem sede em Lisboa; Isabel tem domicilio em Amesterdão.

- Quanto ao pedido de indemnização

Averiguação da competencia internacional

Este ponto apenas tem de ser averiguado se tivéssemos algum facto que nos levasse a crer que há uma conexão
com outra ordem jurídica que não a portuguesa. Não é o caso pois todos os elementos se conectam com a OJ
Portuguesa.

Averiguação do tribunal competente em razão da matéria

Como concluímos que os tribunais portugueses eram competentes no ponto anterior, então, para saber qual o
tribunal competente em razão da matéria recorremo-nos ao CPC e à LOSJ. O artigo 64º do CPC e 40º/1 da LOSJ
determinam que são da competência dos tribunais judiciais, as causas que não sejam atribuídas a outra ordem
jurisdicional.

Ou seja, apenas na medida em que os Tribunais Administrativos e Fiscais (212ºCRP); o Tribunal Constitucional
(221º CRP) e o Tribunal de Contas (214º CRP) não sejam competentes (note-se que estes têm uma lista positiva
de competências deEinidas), é que são competentes os Tribunais Judiciais — o que se veriEica neste caso! Dentro
dos tribunais judiciais temos tribunais de competência especializada e genérica.

Analisamos aqui em relação aos tribunais de 1ª instancia (tribunais judiciais):

Nos termos do 40º/2, os tribunais de comarca (que podem ter competência genérica ou especializada e que se
desdobram em instancias locais e centrais) têm competência residual e, só serão competentes, se os tribunais de
competência territorial alargada não o forem.

Estes tribunais de competência territorial alargada têm competência especializada e estão previstos no artigo
83º da LOSJ. Como no caso não se veriEica que algum destes tribunais seja competente, então, serão competentes,
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Ano letivo 2016/2017 Resolução Casos Práticos de P. Civil Inês Tranquada Gomes 140113096

os tribunais de Comarca que se encontram previstos nos artigos 79º e ss. LOSJ. A secção responsável seria a cível
pois é esta que é responsável residualmente, nos termos do artigo 81º.

Para sabermos qual instância onde teria de ser posta a ação temos de aferir em função do valor e da forma de
processo, critérios estes que têm necessariamente de ser cruzados com o da matéria. Tal não é chamado para o
nosso caso porque remetem para uma possível incompetência relativa que não lesa a possibilidade de Coligação.
(Sendo o valor da causa de 400mil €, seriam competentes as instâncias centrais por este valor ser superior a 50mil€
(41º + 117º da LOSJ). A secção responsável seria a cível pois é esta que é responsável residualmente, nos termos do
artigo 81º/2/a), por não estamos no âmbito de alguma das outras alíneas.)

Averiguação do tribunal competente em razão da hierarquia

Nos termos do artigo 42º da LOSJ e dos artigos 67º a 69º do CPC, são, regra geral, competentes para interpor uma
ação um tribunal de 1ª instância e é esse o nosso caso dado não estarmos perante as seguintes situações
excepcionais:
- recurso
- ações contra magistrados (967º e ss.)
- conElitos de competência e de jurisdição (109º e ss.)

- Quanto ao pedido de Anulação

Averiguação da competencia internacional

Este ponto apenas tem de ser averiguado se tivéssemos algum facto que nos levasse a crer que há uma conexão
com outra ordem jurídica que não a portuguesa. Como I tem domicilio em Amesterdão, justiEica-se aqui fazer
essa averiguação.

O artigo 59º do CPC ( + 8º da CRP) salvaguarda a aplicação de regras que não as do CPC para saber se os tribunais
portugueses são competentes a nível internacional. À aplicação dos artigos 62º e 63º do CPC, sobrepõem-se a
aplicação de regulamentos e de Convenções internacionais que regulem a matéria.

Em primeiro lugar temos de ver se o Regulamento 1215/2012 é aplicável. Para isso temos de veriEicar se estamos
perante o seu:
✓ Âmbito Temporal (66º + 81º) — Nada nos diz no caso, por isso pressupomos que os acontecimentos
narrados se passaram depois de 10 de Janeiro de 2015, data a partir da qual efetivamente este
regulamento entrou em vigor nos termos do artigo 66º e 81º do presente regulamento.
✓ Âmbito Material (1º/1) — Nos termos do artigo 1º/1, o presente regulamento aplica-se em matéria
civil e comercial. O âmbito material também se encontra veriEicado porque esta é uma matéria civil.
✓ Âmbito Espacial/Territorial (4º + 6º):

A regra geral do artigo 4º determina que as pessoas domiciliadas num Estado Membro devem ser demandadas,
independentemente da sua nacionalidade, nos tribunais desse Estado membro. Antes de aplicar a regra geral,
temos de ver se estamos perante um caso de competência exclusiva do artigo 24º; de pacto de jurisdição (25º) ou
perante o caso especial do artigo (26º) pois todas estas regras têm prevalência sobre a regra geral. Não se veriEica
a situação do artigo 26º e não há nenhum pacto de jurisdição, por isso, só nos resta saber se estamos perante um
caso de competência exclusiva.

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Ano letivo 2016/2017 Resolução Casos Práticos de P. Civil Inês Tranquada Gomes 140113096

Não nos parece que seja o caso porque não está a ser discutido aqui o direito real de aquisição mas sim a
formação da vontade e isso é independente do objeto do contrato em termos do bem móvel — a interpretação
que a doutrina tem feito é que este não se aplica nos casos de anulação e nulidade e é essa a interpretação que
seguimos.

Assim, só nos resta a aplicação da regra geral. Segundo o artigo 4º, os tribunais portugueses não seriam
competentes pois o domicilio do Réu é em Amesterdão ( e isso impediria a coligação com o pedido 1).

Para tentar salvaguardar a possibilidade de haver coligação, teríamos de ver se as regras especiais do artigo 7º
(cumuláveis com a regra geral no sentido de dar ao Autor uma possibilidade de escolha), são aplicáveis. Podemos
ainda aplicar uma regra de competência especial do artigo 7º /1/a) mas esta solução é muito diEícil — há
doutrina comunitária que diz que é possível aplicar o artigo 7º estabelecendo o critério da obrigação
característica do contrato — estando a falar de um contrato promessa a obrigação característica é a celebração
do contrato. A jurisprudência chama a atenção para que, em algumas destas normas tenhamos de convocar
normas de direito interno, — tem de se convocar o direito de conElitos para identiEicar qual a lei que se aplica ao
contrato para se poder identiEicar o local do cumprimento se as partes não tiverem convencionado. — Não
havendo indicação devemos dizer que para determinar a competência internacional aplicar-se-á o artigo 4º + 7º/
1/a) (na medida em que o contrato devesse ser cumprido em PT).

Supondo, então, que o contrato deveria ser cumprido em Portugal e que, por isso, os tribunais portugueses seriam
competentes para julgar …

Averiguação do tribunal competente em razão da matéria (Competência Interna)

Como concluímos que os tribunais portugueses eram competentes no ponto anterior, então, para saber qual o
tribunal competente em razão da matéria recorremo-nos ao CPC e à LOSJ. O artigo 64º do CPC e 40º/1 da LOSJ
determinam que são da competência dos tribunais judiciais, as causas que não sejam atribuídas a outra ordem
jurisdicional.

Ou seja, apenas na medida em que os Tribunais Administrativos e Fiscais (212ºCRP); o Tribunal Constitucional
(221º CRP) e o Tribunal de Contas (214º CRP) não sejam competentes (note-se que estes têm uma lista positiva
de competências deEinidas), é que são competentes os Tribunais Judiciais — o que se veriEica neste caso! Dentro
dos tribunais judiciais temos tribunais de competência especializada e genérica.

Analisamos aqui em relação aos tribunais de 1ª instancia (tribunais judiciais):


Nos termos do 40º/2, os tribunais de comarca (que podem ter competência genérica ou especializada e que se
desdobram em instancias locais e centrais) têm competência residual e, só serão competentes, se os tribunais de
competência territorial alargada não o forem.

Estes tribunais de competência territorial alargada têm competência especializada e estão previstos no artigo
83º da LOSJ. Como no caso não se veriEica que algum destes tribunais seja competente, então, serão competentes,
os tribunais de Comarca que se encontram previstos nos artigos 79º e ss. LOSJ. A secção responsável seria a cível
pois é esta que é responsável residualmente, nos termos do artigo 81º.

Para sabermos qual instância onde teria de ser posta a ação temos de aferir em função do valor e da forma de
processo, critérios estes que têm necessariamente de ser cruzados com o da matéria. Tal não é chamado para o
nosso caso porque remetem para uma possível incompetência relativa que não lesa a possibilidade de Coligação.
(Sendo o valor da causa de 400mil €, seriam competentes as instâncias centrais por este valor ser superior a 50mil€
(41º + 117º da LOSJ). A secção responsável seria a cível pois é esta que é responsável residualmente, nos termos do
artigo 81º/2/a), por não estamos no âmbito de alguma das outras alíneas.)
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Averiguação do tribunal competente em razão da hierarquia (Competência Interna)

Nos termos do artigo 42º da LOSJ e dos artigos 67º a 69º do CPC, são, regra geral, competentes para interpor uma
ação um tribunal de 1ª instância e é esse o nosso caso dado não estarmos perante as seguintes situações
excepcionais:
- recurso
- ações contra magistrados (967º e ss.)
- conElitos de competência e de jurisdição (109º e ss.)

Estes requisitos são cumulativos e, considerando


os termos acima descritos, os tribunais eram
absolutamente competentes para julgar ambos os
pedidos. — Tribunais Portugueses, Comarca (1ª
instância); Secção cível.

3. Compatibilidade substantiva (555º) — Este requisito consiste em a procedência de um dos pedidos, não
poder implicar a improcedência do outro, ou seja, os dois pedidos têm de poder proceder simultaneamente.
— Está veri\icado!

Se algum dos requisitos não se veri\icar, o que o juiz deve fazer depende do requisito que está em falta:

- Se faltar a conexão entre os pedidos presente no artigo 36º, estamos perante uma excepção dilatória (577º/f)) que leva
à absolvição da instância. No entanto, há uma possibilidade de sanar esta coligação segundo o artigo 38º que permite que,
se não existir a conexão entre os pedidos, que o juiz notiEique o autor para que ele escolha qual dos pedidos é que ele quer
que prossiga.

- Se houver violação das regras da competência absoluta para um dos pedidos —> esta é também uma excepção
dilatória que leva à absolvição do Réu da instância (que pode ser apenas relativamente a um dos Réus).

- Se houver violação do requisito da identidade das formas de processo, há um erro na forma do processo quanto a um
dos pedidos que está regulado no 193º CPC, cuja consequência também é a absolvição da instância.

- Se houver falta de compatibilidade substantiva (555º) — se os pedidos são contraditórios, há ineptidão da petição
inicial - 186º/1/c) — A ação não pode prosseguir. A petição inicial é inepta e o juiz terá de absolver o Réu da instância.

Ainda pode haver aqui uma hipótese de Litisconsórcio entre Helena e Isabel (pedido de anulação do
contrato)! Se for necessário temos um problema que não impede a coligação mas que levará à
improcedência desse pedido se Helena não intervier.

Ter-se-ia de avaliar a ilegitimidade passiva por não estar na ação a Helena. —> Há quem discuta se o pedido de
restituição e anulação são 2 pedidos distintos. MPB entende que a restituição substantivamente é uma
consequência da anulação — a anulação determina a restituição do que tiver sido prestado — cumulação
aparente de pedidos.
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Ano letivo 2016/2017 Resolução Casos Práticos de P. Civil Inês Tranquada Gomes 140113096

Temos aqui em causa a anulação do CP com eEicácia real. Neste caso parece que estamos perante um
Litisconsórcio Necessário Natural (33º/1 e 2) pois, para que a decisão produza o seu efeito útil normal,
tenham de estar todos presentes em juízo. ——> Nos termos do artigo 33º/3, produzir efeito útil normal
signiEica que a decisão possa ser decinitiva e exequível ainda que apenas em relação à quota parte dos
interessados.

Temos, portanto, preterição de Litisconsórcio Necessário:

Nos termos do 590º/2/a) e do 6º/2, o Juiz convida a parte a sanar o vicio que, se não for sanado, resulta numa
excepção dilatória pois há ilegitimidade, o que leva à absolvição do réu da instancia. O mecanismo para sanar é o
de intervenção principal provocada presente nos artigos 316º/1 +261º do CPC.

CASO X (Interesse em agir)

A comprou um automóvel à sociedade Bentomóvel, Lda, a pagar em 12 prestações mensais. Perante a falta de
pagamento de uma das prestações, a sociedade instaura uma acção pedindo a condenação no cumprimento das
prestações vencidas e vincendas.
Na contestação, A não impugna a existência da dívida a B. Na sentença Final, o tribunal considera procedente o
pedido da sociedade, condenando A a pagar as prestações pedidas.

Pergunta-se: não deveria o tribunal, em vez de conhecer do mérito da causa, ter absolvido A da instância, por falta
de interesse em agir?

Nota: As 12 prestações mensais são prestações fraccionadas.

Está aqui em causa o pressuposto processual do interesse em agir. O interesse processual traduz-se na
necessidade que o autor tem de recorrer a juízo (necessidade razoável ou justiEicada) que justiEique a
intervenção dos Tribunais. É preciso que o direito do autor se encontre numa situação tal que justiEique a
intervenção do Tribunal. Se o direito do autor não estiver nessa situação há absolvição da instância.

Este é um Pressuposto Processual que não está previsto no CPC. A maioria da Doutrina e a Jurisprudência
considera que este é um pressuposto processual autónomo. Sabemos que os pressupostos processuais não são
taxativos pois tal resulta da lista do artigo 577º. Neste artigo diz-se, expressamente, no seu foro, que “São
dilatórias entre outras as excepções seguintes…”. Daqui resulta a possibilidade de considerar que existem outras
excepções dilatórias e, por consequência, outros pressupostos processuais que não estão aqui expressamente
previstos, sendo um deles, o interesse em agir

A identi\icação do interesse em agir afere-se de forma diferente consoante o tipo de ação em que
estejamos. Neste caso, estamos perante uma ação de condenação que, nos termos do artigo 10º/3/b), têm
como objetivo exigir a prestação de uma coisa ou de um facto — “pressupondo ou prevendo a violação de um
direito”. A regra é que, numa ação de condenação, só existe interesse em agir da parte do Autor se já tiver
existido a violação do seu direito. — Só nestes casos é que o nosso direito processual considera que o autor
tem razões justiEicadas para recorrer a juízo.

Apesar da regra, há situações em que o legislador permite que, apesar de ainda que não ter havido violação
do direito, o autor possa ter interesse em agir na instauração de uma ação.

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1. Se, perante a violação de uma das prestações, as restantes fossem exigíveis, aplicava-se o regime do CC (781º
+ 934º + 886º do CC) — e havia o vencimento antecipado de todas as prestações pelo incumprimento do
contrato.

2. Se, perante a violação de uma das prestações, as restantes não fossem exigíveis, temos de distinguir o
momento processual em que o Juiz se aperceberia de que a obrigação não era exigível. Nos termos do artigo
610º/2 (e tendo em conta que este aparece regulado na fase da sentença, o que permite esta interpretação):

✓ Se, na fase de saneamento, o juiz se apercebe que a dívida não está vencida, pode absolver o Réu da
instância e tal pode ser conhecido oEiciosamente pelo Juiz por este ser um pressuposto processual
(578º).

✓ Se, apenas na fase da sentença se apercebe de que a dívida não está vencida, por uma razão de economia
processual, o tribunal condena o Réu a satisfazer a prestação para o futuro, sem prejuízo do prazo
convencionado - como consequência resulta que Eica o Autor sujeito às custas e aos honorários do
advogado (610º/3).

NOTA TEÓRICA:

As outras excepções à regra são:

- o 557º/º2 permite um pedido de condenação em prestações futuras quando esteja em causa um contrato de
duração continuada e a falta de um título executivo no Einal possa pôr em causa o direito do Autor. —> (*)
Neste caso, a possibilidade de decorrer para ao autor um prejuízo grave no Einal do contrato de duração
continuada também pode justiEicar uma atuação preventiva. — Ação de condenação para o futuro.

- O 557º/1 (NÃO SE LHE APLICA NESTE CASO PORQUE ESTAS SÃO PRESTAÇÕES FRACCIONADAS) permite que
o Autor peça a condenação do Réu nas prestações vincendas quando estejam em causa prestações periódicas
(RENDAS - renovam-se no tempo) e uma delas seja violada. — Esta é uma ação de condenação para o futuro
— Basta o incumprimento de uma das prestações periódicas e o autor tem interesse em agir para pedir a
condenação do pagamento não só daquela que foi violada como também daquelas que ainda não se venceram.
—> (*) Neste caso, o não pagamento de uma prestação periódica pode fazer antever o risco do não pagamento
das restantes prestações.
- Há razões que justiEicam uma intervenção precoce ou preventiva do Tribunal em detrimento de um
interesse especíEico
- Esta é uma das excepções do interesse em agir que a doutrina justiEica como sendo um caso
excepcional e ocasional.

- O artigo 610º/1 CPC — O nº1 parece dizer que o Autor pode propor uma ação de condenação para o
pagamento da prestação e, se esta ainda não for exigível (se o prazo ainda não tiver decorrido), mesmo assim,
o juiz pode condenar o Réu na prestação futura.

- Um dos requisitos do 610º/1 é que o Réu conteste a existência da obrigação. Ou seja, existe algum
interesse em agir porque o Réu põe em causa a existência da obrigação. Assim, considera-se que o
Juiz aprecie aquela pretensão e que, eventualmente, condene o Réu na prestação futura.

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Competência

CASO XI

António, sócio da sociedade BBB, Lda., com sede em Vila Nova de Gaia, tendo discordado da deliberação que, em
assembleia geral, aprovara a distribuição de dividendos pelos sócios, propôs uma acção de anulação daquela
deliberação na secção cível da instância central de Lisboa, comarca onde reside.
Na contestação, a BBB, Lda., arguiu a excepção de incompetência territorial.
Como deve o juiz decidir?

Antonio — residente em Lisboa


Sociedade — sede em Vila Nova de Gaia

1. Competência internacional — 59º CPC

Partindo do pressuposto de que não há nenhum elemento de conexão relacionado com outra ordem jurídica que
não a portuguesa perante os dados do caso, nos termos do artigo 59º do CPC, os tribunais portugueses são os
internacionalmente competentes para conhecer deste litígio (sendo que neste caso se veriEicam elementos de
conexão com a sua OJ nos termos dos artigos 62º e 63º).

— Tribunais Portugueses competentes

2. Competência em razão da Matéria — 64º + 65º CPC + 40º + 80º + 81º LOSJ

Como concluímos que os tribunais portugueses eram competentes no ponto anterior, então, para saber qual o
tribunal competente em razão da matéria recorremo-nos ao CPC e à LOSJ. O artigo 64º do CPC e 40º/1 da LOSJ
determinam que são da competência dos tribunais judiciais, as causas que não sejam atribuídas a outra ordem
jurisdicional.

Ou seja, apenas na medida em que os Tribunais Administrativos e Fiscais (212ºCRP); o Tribunal Constitucional
(221º CRP) e o Tribunal de Contas (214º CRP) não sejam competentes (note-se que estes têm uma lista positiva
de competências deEinidas), é que são competentes os Tribunais Judiciais — o que se veriEica neste caso!

Uma vez determinado que são competentes os Tribunais Judiciais, dentro destes temos tribunais de competência
especializada e genérica.

Nos termos do 40º/2 da LOSJ, os Tribunais de 1ª instancia podem ser Tribunais de Comarca (que podem ter
competência genérica ou especializada e que se desdobram em instâncias locais e centrais) que só serão
competentes, se os tribunais de competência territorial alargada não o forem.

Estes tribunais de competência territorial alargada têm competência especializada e estão previstos no artigo
83º da LOSJ. Como no caso não se veriEica que algum destes tribunais seja competente, então, serão competentes,
os tribunais de Comarca que se encontram previstos nos artigos 79º e ss. LOSJ. A secção responsável seria a
secção de comércio pois, nos termos do artigo 128º/d), é às secções de comércio que competem preparar e julgar
as ações de anulação de deliberações sociais.

— Tribunal de Comarca, secção de Comércio

3. Competência em razão da Hierarquia — 67º CPC + 42º da LOSJ

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Nos termos do artigo 42º da LOSJ e dos artigos 67º a 69º do CPC, são, regra geral, competentes para interpor uma
ação um tribunal de 1ª instância e é esse o nosso caso dado não estarmos perante as seguintes situações
excepcionais:
- recurso
- ações contra magistrados (967º e ss.)
- conElitos de competência e de jurisdição (109º e ss.)

4. Competência em razão do Valor (66º CPC) e da Forma de Processo — 41º + 117º + 130º LOSJ

O valor e a forma de processo, relevam para saber se a ação deve ser colocada nas secções cíveis da instancia
central ou nas secções cíveis das instancias locais. Como aqui sabemos que a secção competente é a de comercio,
a sua proposição na secção de comércio da instância central é independente do valor e da forma de processo
(128º LOSJ).

5. Competência em razão do Território

Para sabermos qual o tribunal competente para conhecer desta ação temos de atentar no artigo 43º da LOSJ que
nos indica a competência dos Tribunais em razão do território (remissão 31º e ss. LOSJ) e que nos remete para o
CPC pois é esta lei que estabelece que factores é que determinam, em cada caso, que tribunal é territorialmente
competente.

A rega geral, nos termos do artigo 80º CPC é a de que é competente para a ação, o tribunal do domicilio do Réu.
Porém, esta regra opera apenas para as Pessoas singulares. O artigo 81º CPC contém a regra geral relativamente
às Pessoas Coletivas e, no seu número 2, estabelece que se o Réu for uma sociedade, esta tem de ser demandada
no tribunal da sede da administração principal.

Por isso, o tribunal competente para julgar a ação seria o Tribunal de Comarca do Porto, com sede em Vila Nova
de Gaia, na sua secção de comércio (instância central) nos termos do artigo 93º/1/t) do DL 49/2014 (ROFTJ).

Tribunal de Comarca do Porto, com sede em Vila Nova de Gaia, na sua secção de comércio (instância central)

Análise da questão da incompetência

Sendo que a ação foi proposta na secção cível da instância central do Tribunal de comarca de Lisboa e que
deveria ter sido posta no tribunal de Comarca do Porto, com sede em Vila Nova de Gaia, na sua secção de
comércio (instância central), temos incompetência em razão da matéria e do território. As consequências para a
incompetência encontram-se reguladas nos artigos 96º e ss. do CPC.

Nos termos do artigo 96º/a), a infração das regras de competência em razão da matéria gera incompetência
absoluta do tribunal.
- Legitimidade para arguir — Nos termos do artigo 97º, pode ser arguida pelas partes e também
pode ser conhecida oEiciosamente pelo tribunal neste caso
- Prazo para arguir: Enquanto não houver sentença com transito em julgado.
- Consequências — Nos termos do artigo 99º, determina a absolvição do Réu da instancia (576º +
577º/a)

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Caso XII

Carl, cidadão alemão com domicílio em Munique, adquiriu à sociedade Domus, Lda., com sede no Porto, uma quinta
localizada em Guimarães, pelo preço de € 170.000,00.
Tendo tomado conhecimento de que a quinta não era ediFicável, ao contrário do que lhe tinha sido assegurado pela
Domus, Charles propôs uma acção de anulação do contrato, com fundamento em erro.

a. Suponha que a acção foi proposta na instância local de Lisboa e que a Domus contestou suscitando a
incompetência territorial do tribunal. Quid iuris?

Carl — Autor — Residente na Alemanha


Domus Lda. — Réu — sede no Porto
Quinta — localizada em Guimarães

Averiguação da competência internacional

Este ponto apenas tem de ser averiguado se tivéssemos algum facto que nos levasse a crer que há uma conexão
com outra ordem jurídica que não a portuguesa. Como C tem domicilio em Munique e como a quinta se encontra
localizada em Guimarães, justiEica-se aqui fazer essa averiguação.

O artigo 59º do CPC ( + 8º da CRP) salvaguarda a aplicação de regras que não as do CPC para saber se os tribunais
portugueses são competentes a nível internacional. À aplicação dos artigos 62º e 63º do CPC, sobrepõem-se a
aplicação de regulamentos e de Convenções internacionais que regulem a matéria.

Em primeiro lugar temos de ver se o Regulamento 1215/2012 é aplicável. Para isso temos de veriEicar se estamos
perante o seu:
✓ Âmbito Temporal (66º + 81º) — Nada nos diz no caso, por isso pressupomos que os acontecimentos
narrados se passaram depois de 10 de Janeiro de 2015, data a partir da qual efetivamente este
regulamento entrou em vigor nos termos do artigo 66º e 81º do presente regulamento.
✓ Âmbito Material (1º/1) — Nos termos do artigo 1º/1, o presente regulamento aplica-se em matéria
civil e comercial. O âmbito material também se encontra veriEicado porque esta é uma matéria civil.
✓ Âmbito Espacial/Territorial (4º + 6º):

A regra geral do artigo 4º determina que as pessoas domiciliadas num Estado Membro devem ser demandadas,
independentemente da sua nacionalidade, nos tribunais desse Estado membro. Antes de aplicar a regra geral,
temos de ver se estamos perante um caso de competência exclusiva do artigo 24º; de pacto de jurisdição (25º) ou
perante o caso especial do artigo (26º) pois todas estas regras têm prevalência sobre a regra geral. Não se veriEica
a situação do artigo 26º e não há nenhum pacto de jurisdição, por isso, só nos resta saber se estamos perante um
caso de competência exclusiva.

Não nos parece que seja o caso porque não está a ser discutido aqui o direito real de aquisição mas sim a
formação da vontade e isso é independente do objeto do contrato em termos do bem móvel — a interpretação
que a doutrina tem feito é que este não se aplica nos casos de anulação e nulidade e é essa a interpretação que
seguimos.

Assim, só nos resta a aplicação da regra geral. Segundo o artigo 4º, os tribunais portugueses seriam competentes
pois a sede da PC demandada é em Portugal. A regra do artigo 4º pode ainda ser temperada com a do artigo 7º,
regra essa que dá a possibilidade de escolha ao Autor mediante a veriEicação de certos elementos. (No presente
caso não temos dados suEicientes para saber onde é que deveria ter sido cumprida a obrigação ou o local onde o
bem deveria ter sido entregue, mas conseguimos concluir que os tribunais portugueses são competentes.)

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Averiguação da competência interna

Em função da Matéria

Como concluímos que os tribunais portugueses eram competentes no ponto anterior, então, para saber qual o
tribunal competente em razão da matéria recorremo-nos ao CPC e à LOSJ. O artigo 64º do CPC e 40º/1 da LOSJ
determinam que são da competência dos tribunais judiciais, as causas que não sejam atribuídas a outra ordem
jurisdicional.

Ou seja, apenas na medida em que os Tribunais Administrativos e Fiscais (212ºCRP); o Tribunal Constitucional
(221º CRP) e o Tribunal de Contas (214º CRP) não sejam competentes (note-se que estes têm uma lista positiva
de competências deEinidas), é que são competentes os Tribunais Judiciais — o que se veriEica neste caso!

Uma vez determinado que são competentes os Tribunais Judiciais, dentro destes temos tribunais de competência
especializada e genérica.

Nos termos do 40º/2 da LOSJ, os Tribunais de 1ª instância podem ser Tribunais de Comarca (que podem ter
competência genérica ou especializada e que se desdobram em instâncias locais e centrais) que só serão
competentes, se os tribunais de competência territorial alargada não o forem.

Estes tribunais de competência territorial alargada têm competência especializada e estão previstos no artigo
83º da LOSJ. Como no caso não se veriEica que algum destes tribunais seja competente, então, serão competentes,
os tribunais de Comarca que se encontram previstos nos artigos 79º e ss. LOSJ.

A secção do tribunal de Comarca responsável por julgar é a secção cível, tendo em conta que esta é aplicável
residualmente e que este caso não se enquadra em nenhuma das outras.

Secção cível do Tribunal de Comarca

Em função da Hierarquia

Nos termos do artigo 42º da LOSJ e dos artigos 67º a 69º do CPC, são, regra geral, competentes para interpor uma
ação um tribunal de 1ª instância e é esse o nosso caso dado não estarmos perante as seguintes situações
excepcionais:
- recurso
- ações contra magistrados (967º e ss.)
- conElitos de competência e de jurisdição (109º e ss.)

1ª instância

Em função do Valor e da Forma de Processo

Este critério é importante para aferir se a ação deve ser proposta na instancia central ou na instancia local dado
que este caso é abrangido pela secção cível do tribunal de comarca nos termos do artigo 66º do CPC e 41º da
LOSJ. Nos termos do artigo 117º/1/a), compete à secção cível da instância central, a preparação e julgamento das
ações declarativas cíveis de processo comum de valor superior a 50.000€:

- para saber o valor da ação — 297º e ss. do CPC. — Nos termos do 301º/1, o valor desta ação (tendo
em conta que esta tem por objeto a apreciação da validade do contrato), é o valor do preço estipulado
pelas partes — 170mil€.

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- para saber qual a forma do processo — 546º e ss. do CPC — enquanto não há nenhum processo
especial regulado para este caso, é aplicável residualmente o processo comum.

Assim, conclui-se que a ação teria de ser posta na instância central do Tribunal de Comarca.

Em função do Território

Temos de aplicar as regras de direito interno para saber qual era, dentro do território português, o tribunal
competente onde se deveria instaurar a ação. — Para sabermos qual o tribunal competente para conhecer desta
ação temos de atentar no artigo 43º da LOSJ que nos indica a competência dos Tribunais em razão do território
(remissão 31º e ss. LOSJ) e que nos remete para o CPC pois é esta lei que estabelece que factores é que
determinam, em cada caso, que tribunal é territorialmente competente.

A rega geral, nos termos do artigo 80º CPC é a de que é competente para a ação, o tribunal do domicilio do Réu.
Porém, esta regra opera apenas para as Pessoas singulares. O artigo 81º CPC contém a regra geral relativamente
às Pessoas Coletivas e, no seu número 2, estabelece que se o Réu for uma sociedade, esta tem de ser demandada
no tribunal da sede da administração principal.

No entanto, temos de ter em atenção que as regras gerais funcionam sem prejuízo das regras especiais
estabelecidas nos artigos 70º e ss. do CPC.

O artigo 70º CPC estabelece que nas ações reais sobre imóveis é competente o tribunal do local do imóvel (nesta
caso, Guimarães) mas a generalidade da doutrina tem entendido (e é esse o entendimento que seguimos) que
esta regra não se aplica às ações de anulação nem de declaração de nulidade pois aqui não se discute um direito
real (mas sim a anulação de um contrato com fundamento em erro) sendo que, por isso, e não parecendo haver
qualquer outra norma especial quanto à competência aplicável, prevalece a regra do artigo 81º CPC.

O Tribunal competente é o tribunal onde a sociedade tem sede, ou seja a ação teria de ter sido interposta na
instancia central da Comarca do Porto, na secção cível nos termos do artigo 93º/1/a) do ROFT.

Averiguação da Incompetência

Se a ação foi proposta na instância local de Lisboa, temos de averiguar quais as consequências tendo em conta
que houve violação das regras da competência em razão do valor, e do território. Nos termos do artigo 102º, a
violação destas regras determina que geram incompetência relativa.

Legitimidade para arguir — Pertence apenas ao Réu nos termos do artigo 103º/1. No entanto, as excepções de
conhecimento oEicioso pelo tribunal encontram-se no artigo 104º. Aplica-se aqui o artigo 104º/2 pois a
incompetência em razão do valor da causa é sempre do conhecimento oEicioso do tribunal.

Prazos para arguir — O prazo de arguição para o Réu é o Eixado para a contestação. O prazo de arguição para o
Juiz no caso da incompetência em razão do valor é até ao despacho saneador.

Consequências da incompetência relativa — Nos termos do artigo 105º/3, o processo é remetido para o
tribunal competente (excepção ao artigo 577º - esta excepção dilatória não determina a absolvição do réu da
instancia — Se não for suscitada a excepção dilatória, esta sana-se porque esta incompetência não é tão grave e
não há razão de interesse público que justiEique uma solução diferente destas. — apenas nos casos em que não
há conhecimento oEicioso por parte do tribunal nos termos do artigo 104º).

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b. Imagine que do contrato de compra e venda da quinta constava uma cláusula de acordo com qual “todos os
litígios emergentes do contrato deverão ser decididos pelos tribunais de Paris” e que a acção foi proposta na
instância central de Guimarães. Quid iuris?

Este é um Pacto privativo de Jurisdição pois as partes acordam retirar a competência aos tribunais portugueses
(que como ja vimos pelas regras de competentes internacional, eram os tribunais competentes) para a atribuir
aos tribunais de um outro Estado membro. Precisamente por este pacto atribuir competência a um outro estado
membro, não se aplica o artigo 94º do CPC mas sim o artigo 25º do Regulamento que contém regras de validade
muito menos exigentes — essas regras de validade estão previstas no nº1 do artigo 25º, alienas a); b) e c) — não
cumulativos. — Note-se que estes pactos nunca podem alterar as regras de competência exclusiva, o que não
parece ser o caso (25º/4).

Perante o silêncio das partes, a competência atribuída pelas partes aos tribunais de paris presumem-se
exclusivas.

Consequências de preterição deste pacto privativo de Jurisdição por a ação ter sido proposta em Guimarães

A infração das regras de competência internacional constitui um caso de incompetência absoluta (96º/a)).
Como tal, esta é uma excepção dilatória que tem como consequência, nos termos do artigo 99º, a absolvição do
réu da instância — MAS apenas acontece se for arguida pelas partes (que o podem fazer, nos termos do 97º/1,
enquanto não houver sentença com transito em julgado).

- Se não for arguida pelas partes, presume-se que houve um acordo tácito que determinou a
mudança do pacto privativo de jurisdição — há sanação e não a absolvição da instancia.
- Se fosse a incompetência fosse arguida antes do despacho saneador, reservava-se a apreciação para o
despacho; se fosse arguida posteriormente, conhecia-se logo da arguição — artigo 98º.
- Este é um dos casos excepcionais que não pode ser conhecido oEiciosamente pelo Tribunal porque, se o
Réu nada disse, presume-se que houve um acordo tácito entre as partes.

Se houver arguição da violação do pacto de jurisdição ——> absolvição do réu da instancia (99º)
Se não houver arguição da violação do pacto de jurisdição ——> sanação da excepção dilatória por presunção de
acordo entre as partes (97º)

NOTA:
Nos termos do artigo 25º/5, a invalidade da clausula não afetava o contrato — uma nulidade parcial conduzia a
uma redução parcial da clausula —há uma autonomia desta clausula que é independentemente do contrato.

c. Suponha agora que do contrato constava uma cláusula de acordo com a qual “Se vier a surgir algum litígio
quanto à validade, à interpretação ou à execução deste contrato, as partes comprometem-se a submetê-lo à
apreciação de um tribunal arbitral, constituído de acordo com as regras constantes do Regulamento de
Arbitragem da Câmara de…”.

- Carl, para evitar os custos de um tribunal arbitral, propôs a acção no tribunal judicial que, na falta desta
convenção, seria competente. Procedeu bem?

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Esta é uma convenção de arbitragem nos termos do artigo 1º da lei da arbitragem, mais concretamente, uma
clausula compromissória dado que as partes previamente previram a possibilidade de vir a surgir um litígio e
estipularam que, uma vez que esse surgisse, que iriam recorrer à Arbitragem (surge antes do aparecimento do
litígio).

Nem todos os litígios podem ser sujeitos a arbitragem, existem critérios. No artigo 1º/1 temos o critério da
patrimonialidade e no número 2 do mesmo artigo determina-se que, serão também válidas convenções relativas
a litígios que não envolvam interesses de natureza patrimonial, desde que as partes possam celebrar transação
sobre o direito controvertido (direitos disponíveis).

O objeto desta convenção de arbitragem tem natureza patrimonial por isso, este requisito encontra-se veriFicado.

O artigo 2º pressupõe ainda que a convenção adopte uma forma escrita no seu número 1 (ver também numero 2
que determina outras formas de se considerar que a convenção tem a forma escrita).

Este requisito também se encontrava veriFicado porque a forma da convenção era a de uma cláusula de um
contrato.

Se não for respeitado o disposto no artigo 1º e 2º a convenção é nula (3º). Não é o caso, pois encontram-se
veriEicados os requisitos.

No entanto, é nos dito que a ação foi intentada num Tribunal Judicial. Nos termos do artigo 96º/b) CPC, tal
determina incompetência absoluta. No entanto, excepcionalmente, este não é um caso de conhecimento oEicioso
como resulta do 578º pois, partindo da lógica de que o originou a obrigação foi o acordo das partes, a preterição
destes apenas deve gerar a incompetência absoluta se for pelos mesmos suscitada. — Porém, uma vez suscitada,
esta é, antes, uma excepção dilatória nos termos da 577º/a) e 576º do CPC e conduz à consequência da
absolvição da instancia (99º CPC).

No entanto, uma vez suscitada a incompetência absoluta do tribunal arbitral, o tribunal judicial deverá absolver o
Réu da instância com uma ressalva que está presente no artigo 5º/1 da Lei de Arbitragem: se a convenção for
manifestamente nula, ineEicaz ou inexequível.

Notas teóricas anexas à resolução do caso:

‣ O artigo 11º diz como se faz a meação de árbitros.


‣ No artigo 17º fala se das custas — normalmente as custas são maiores na arbitragem do que uma ação
proposta num tribunal judicial.
‣ O artigo 17º no número 4 e no número 5º prevêem as consequências da falta de pagamento das custas com os
honorários dos árbitros. Estes devem suspender ou dar por concluídos o processo arbitral após ter decorrido
um prazo adicional razoável que concedam à parte ou partes faltosas para executar o pagamento.
‣ No artigo 30º refere-se a liberdade das partes de conformarem o processo mas não de podem violarem
princípios fundamentais como o da Igualdade e do contraditório.

- Carl, receando a situação económica da Domus, requereu o arresto dos bens daquela sociedade
(localizados em Setúbal, no Porto e em Lisboa) na instância central de Lisboa por lhe ter sido dito que
obteria uma decisão em tempo mais curto nesse tribunal. Procedeu bem?

O regime das PC da Lei da Arbitragem Voluntária encontra-se nos artigos 20º e ss. — ordens preliminares

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Nas providencias cautelares decretadas por um tribunal arbitral, há sempre audição da parte contrária, enquanto
que, por exemplo, o arresto do CPC é sempre decretado sem audição. No artigo 22º, encontram-se reguladas as
ordens preliminares que servem para situações em que haja tutela cautela preliminar sem audiência.

Nos termos do artigo 7º e 29º da Lei de Arbitragem Voluntária veriEicamos que, em matéria cautelar, há uma
competência concorrente que resulta desta fragilidade de os Tribunais Arbitrais não terem poderes coercivos. —
As partes que estiverem sujeitas a uma providência cautelar estão perante maior desproteção, daí haver
concorrência de competências.

Olhando para o regime das PC da Lei de Arbitragem Voluntária temos estabelecido no artigo 26º a
responsabilidade do requerente que é, em parte, semelhante à prevista no artigo 374º CPC. No entanto, o regime
das PC civis oferece ainda uma garantia penal (375º CPC).

De acordo com o artigo 7º da LAV, C poderia ter instaurado a PC num Tribunal Estadual.

No entanto coloca-se ainda a questão de saber se os tribunais Portugueses seriam competentes para decretar a
Providência Cautelar. — Nos termos do 35º do Regulamento 1215/2012, não se distingue se os artigos 4º e
ss. (também do regulamento) respeitam a litígios ações principais ou a Providências Cautelares. — A
Jurisprudência (num acórdão de 98) decidiu no sentido de que os artigos 4º e ss. aplicam-se quer às
ações principais, quer às Providências Cautelares.

No entanto, temos de ter em atenção que este Regulamento não se aplica em relação aos processos arbitrais. — A
questão de fundo não será conhecida nem sujeita às regras do artigo 4º e ss. mas isso não signi\ica que,
não obstante, o tribunal competente não esteja sujeito ao regulamento. —> Por isso, temos de aferir, nos
termos do regulamento, se os tribunais Portugueses são competentes.

A competência internacional dos Tribunais Portugueses aplica-se nos termos do artigo 4º e, estando a Domus
domiciliada em Portugal, são os tribunais Portugueses competentes.

Porém, temos ainda de aferir que tribunal português seria competente:

‣ Em razão da matéria: São competentes os tribunais judiciais. Não sendo competentes os TCTA (83º), são
competentes os tribunais de Comarca . Nos termos do artigo 81º, seria competente a secção cível (residual).
‣ Em razão da Hierarquia: Primeira instância (79º).
‣ Em razão do valor e forma de processo: Nos termos do artigo 117º/c + 304º/e), compete à secção cível
da instância central preparar os procedimentos cautelares a que correspondam ações da sua competência.
Tínhamos de ver o valor da ação principal e só se esta couber à instância central é que as providências
cabem na instancia central também. — Mas não é da sua competência.. mas sim dos tribunais arbitrais —
duvida.
✓ Não interessa ver o valor da causa da providência (valor do crédito que se pretende garantir).
✓ Forma de processo comum = providência cautelar não é processo especial
✓ Valor da causa = 170.000€ — instância central (117.º da LOSJ)

‣ Em razão do território: Nos termos do artigo 78º/1/a) do CPC, o tribunal competente para a ação
principal era o de Guimarães (tribunal onde se encontram os bens) mas, nos termos da alínea a), podia
também ser competente o tribunal onde devia ser proposta a ação respetiva (Lisboa?).

d. Suponha que Carl propôs a acção também contra Eduardo, domiciliado no Porto, pedindo (i) no que respeita à
Domus, a anulação do contrato e a condenação desta no pagamento de uma indemnização no valor de €
50.000,00 com fundamento em dolo; e (ii) no que respeita a Eduardo, a condenação deste no pagamento de

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uma indemnização no valor de € 50.000,00, com fundamento no facto de este, em conluio com a Domus, lhe ter
apresentado a quinta como podendo ser ediFicada nos vários contactos mantidos nas deslocações à quinta em
Guimarães. A acção foi proposta na instância central de Guimarães. Poderia a acção ser proposta nestes
termos?

Carl — Autor — Residente na Alemanha


Domus Lda. — Réu — sede no Porto
Quinta — localizada em Guimarães

Temos no presente caso uma pluralidade de pedidos e várias relações materiais controvertidas:

➡ Contra a Domus temos 2 pedidos:


1. Pedido de anulação do contrato de CV da Quinta (fundamento em erro)
2. Pedido de indemnização de 50mil€ (fundamento em Dolo)
➡ Contra Eduardo temos 1 pedido:
3. Pedido de indemnização de 50mil€ (extra-contratual)

Para sabermos se poderíamos coligar estes pedidos temos de ver se se encontram preenchidos os requisitos
presentes nos artigos 36º; 37º e 555º do CPC:

1. Conexão entre os pedidos (36º) — este requisito encontra-se veriEicado na medida em que a procedência
dos pedidos principais depende essencialmente da apreciação dos mesmos factos (basta que se veriEique
uma das 4 situações explicitas neste artigo para este requisito se encontrar veriEicado).

Este requisito da conexão entre os pedidos encontra-se veriFicado.

2. Compatibilidade Processual (37º) — Este requisito subdivide-se em 2 sub-requisitos que têm de ser
avaliados individualmente em relação a cada pedido:
‣ Os pedidos têm de seguir a mesma forma de processo (37º/1/1ª parte). Note-se que, nos
termos do artigo 546º e ss., os processos especiais aplicam-se aos casos expressamente
designados na lei e, na falta de previsão especial, aplica-se a forma de processo comum. Estes
processos encontram-se especialmente regulados nos artigos 878º e ss. e em lei avulsa:

Pedido 1 (Pedido de anulação do contrato de CV da Quinta) — segue forma de


processo comum.
Pedido 2 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra Domus) — segue forma de
processo comum (não se aplica o DL 269/98 porque esta não é uma obrigação
pecuniária (que teria de ser até 15mil€) mas sim uma indemnização que não está
abrangida por este DL).
Pedido 3 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra E)— segue forma de processo
comum.

Este sub-requisito da mesma forma de processo encontra-se veriFicado.

‣ Para a apreciação destes pedidos têm de ser competentes os mesmos tribunais a nível
internacional; em razão da hierarquia; em razão da matéria (competência absoluta) (37º/1/2ª
parte):

Pedido 1 (Pedido de anulação do contrato de CV da Quinta)

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A nível da competência internacional — Para determinar se se aplica o


regulamento 1215/2012 temos de veriEicar se se encontra veriEicado o seu
âmbito material; temporal e espacial. O âmbito material afere-se nos termos do
artigo 1º que determina que este regulamento é aplicável em matéria civil e
comercial. VeriEica-se neste caso pois estamos perante uma matéria civil. O
âmbito temporal presumimos que se encontra veriEicado dado que nada nos é
dito na hipótese e, por isso, consideramos que os factos ocorreram depois de
10 de Janeiro de 2015 (data em que o regulamento entrou em vigor).
Relativamente ao âmbito espacial, a regra geral (4º) determina como critério o
domicílio do Réu que tem domicilio em território português. No entanto, para
que esta regra geral seja aplicável temos de excluir a aplicação das regras do
artigo 24º; 25º e 26º. Como não há pactos de jurisdição nem estamos perante o
caso especial do artigo 26º, então, resta-nos saber se este é um caso de
competência exclusiva. Nos termos do artigo 24º poderíamos considerar a
hipótese de nos encontrarmo-nos no âmbito do nº1 mas, na verdade, esta não
é uma ação em que se discutam direitos reais mas sim apenas a validade de um
contrato de compra e venda. Assim, é aplicável a regra geral do artigo 4º que
determina que serão competentes os tribunais portugueses.

Em razão da matéria — Uma vez determinado que os tribunais portugueses


são competentes para julgar esta ação, temos de averiguar, de acordo com as
leis internas portuguesas, qual o tribunal competente. A nível da matéria, nos
termos do artigo 64º do CPC e 40º/1 da LOSJ, temos que os tribunais judiciais
têm competência residual em relação a todas as outras categorias de tribunais.
Apenas na medida em que o tribunal constitucional; o tribunal de contas e os
tribunais administrativos e Eiscais não sejam competentes, é que os tribunais
judiciais têm competência. Estes tribunais têm as suas competências deEinidas
de forma positiva nos artigos 221º; 214º e 212º (e ETAF) da CRP
respetivamente e, pela analise destes artigos vemos que estes não são
competentes. Concluímos, então, que são competentes os tribunais judiciais.
Estes têm competência genérica e especializada. Nos termos do artigo 40º/2 (e
já temos aqui subjacente o critério da hierarquia), os tribunais de 1ª instancia
podem ser tribunais de comarca (que estão divididos por instancias locais e
centrais) ou tribunais de competência territorial alargada — os tribunais de
comarca têm competência residual em relação a estes últimos que se
encontram deEinidos no artigo 83º. Pela análise deste artigo concluímos que
esta matéria não se enquadra na competência de um TCTA e, por isso, são
competentes os tribunais de Comarca. Nos termos do artigo 81º,
determinamos que secção dos tribunais de comarca será responsável para
julgar a causa — uma vez mais a secção cível é aplicável residualmente se não
estivermos no âmbito de aplicação de qualquer uma das outras — é o nosso
caso. Concluímos, por isso, que são compenses os tribunais de Comarca na sua
secção cível.

Em razão da hierarquia — Nos termos do artigo 42º da LOSJ e dos artigos


67º a 69º do CPC, são, regra geral, competentes para interpor uma ação um
tribunal de 1ª instância e é esse o nosso caso dado não estarmos perante as
seguintes situações excepcionais: recurso; ações contra magistrados (967º e
ss.); conElitos de competência e de jurisdição (109º e ss.).

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Pedido 2 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra Domus)

A nível da competência internacional — Pelas mesmas razões acima


expostas, aplica-se igualmente o regulamento, na sua regra geral do artigo 4º
que determina que serão competentes os tribunais portugueses. Porém, neste
caso pode-se ainda temperar com a regra do artigo 7º/2 que determina que,
em caso de matéria extra-contratual, o Réu pode ainda ser demandado no
tribunal do lugar onde ocorreu poderá ocorrer o facto danoso.
Em razão da matéria — Nos mesmos termos acima deEinidos, são também
competentes para julgar a causa os tribunais de comarca na sua secção cível.
Em razão da hierarquia — são competentes também os tribunais de 1ª
instância nos mesmos termos acima deEinidos.

Pedido 3 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra E)

A nível da competência internacional — Pelas mesmas razões acima


expostas, aplica-se igualmente o regulamento, na sua regra geral do artigo 4º
que determina que serão competentes os tribunais portugueses. Porém, neste
caso pode-se ainda temperar com a regra do artigo 7º/2 que determina que,
em caso de matéria extra-contratual, o Réu pode ainda ser demandado no
tribunal do lugar onde ocorreu poderá ocorrer o facto danoso.
Em razão da matéria — Nos mesmos termos acima deEinidos, são também
competentes para julgar a causa os tribunais de comarca na sua secção cível.
Em razão da hierarquia — são competentes também os tribunais de 1ª
instância nos mesmos termos acima deEinidos.

Concluímos que, para os 3 pedidos, são competentes os mesmos tribunais a nível internacional: os portugueses; são
competentes os mesmos tribunais em razão da matéria: os tribunais de Comarca na sua secção cível são
competentes os mesmos tribunais em razão da hierarquia: tribunais de 1ª instância.

Este requisito encontra-se, por isso, deFinidos.

3. Compatibilidade substancial (555º) — Estes pedidos são compatíveis entre si pois a procedência de um
não impede a procedência de outro.

O requisito da compatibilidade substancial encontra-se veriFicado.

Podia, então, haver coligação dos pedidos. Já sabemos que o tribunal competente é um tribunal de Comarca (secção
cível) da 1ª instância. Mas ainda temos de aferir em relação ao valor e ao território.

Averiguação em relação ao Valor e Forma do Processo

Nos termos do artigo 66º do CPC e 41º da LOSJ, o valor é um critério que serve para distinguir se a causa se
insere na competência da secação cível da instancia central ou na secção cível da instancia local.

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Nos termos do artigo 117º, competem à secção cível da instância central, as ações declarativas cíveis de processo
comum (veriEicado em relação a todos os pedidos — ver acima) de valor superior a 50mil€.

Para sabermos o valor da ação em relação a cada pedido temos de nos socorrer dos artigos 297º e ss.:

Pedido 1 (Pedido de anulação do contrato de CV da Quinta) — Nos termos do artigo 301º, uma
vez que se afere da validade do contrato, a ação tem o valor de 170mil€ por ter sido esse o preço
estipulado pelas partes.
Pedido 2 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra Domus) —Nos termos do artigo 297º/1,
sendo que pela ação se pretende obter o valor de 50mil €, é esse o valor da ação.
Pedido 3 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra E) —Nos termos do artigo 297º/1, sendo
que pela ação se pretende obter o valor de 50mil €, é esse o valor da ação.

Temos ainda de atentar no artigo 297º/2 que determina que, quando se cumulam na mesma ação vários pedidos,
o valor é a quantia correspondente à forma dos valores de todos eles, ou seja: 50mil € + 50mil €+ 170mil €= 270
mil €

Averiguação em razão do Território

Nos termos do artigo 43º da LOSJ, esta remete-nos para o CPC pois é este que estabelece que factores é que
determinam, em cada caso, o tribunal territorialmente competente nos artigos 70º e ss.

Pedido 1 (Pedido de anulação do contrato de CV da Quinta) — Uma vez mais aqui não se
discutem direitos reais, por isso, não se aplica o artigo 70º. Aplica-se, sim, o artigo 81º que
determina que o Réu, enquanto for uma pessoa coletiva, é demandado no tribunal da sede da sua
administração principal — Porto.
Pedido 2 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra Domus) — Aqui aplica-se o artigo 71º/2
pois estamos perante uma responsabilidade extra-contratual — assim, nos termos deste artigo, é
competente o tribunal correspondente ao lugar onde o facto ilícito ocorreu — O facto ilícito é o Dolo
na celebração do NJ.
Pedido 3 (Pedido de indemnização de 50mil€ contra E) — Aqui aplica-se o artigo 71º/2 pois
estamos perante uma responsabilidade extra-contratual — assim, nos termos deste artigo, é
competente o tribunal correspondente ao lugar onde o facto ilícito ocorreu — o facto ilícito foi a
indução em erro que ocorreu em Guimarães.

Pluralidade de Réus e Cumulação de Pedidos

Se o Autor cumular pedidos para cuja apreciação sejam competentes tribunais territorialmente competentes, nos
termos do artigo 82º/2 do CPC pode escolher qualquer um deles, a menos que a competência para apreciar um
dos pedidos dependa de algum dos elementos de conexão que permitem o conhecimento oEicioso da
incompetência relativa. Ou seja, se alguma destas situações estiver prevista no artigo 104º, o autor tem
obrigatoriamente de propor a ação no local aferido por essas regras. Ora, nos termos do artigo 104º, é de
conhecimento oEicioso pelo tribunal os casos previstos no artigo 71º/2, por isso, a ação teria de ser
obrigatoriamente proposta em Guimarães.

Conclusão: Assim, conclui-se que a ação foi proposta corretamente na instância central do tribunal de
Comarca de Braga, na secação cível com sede em Guimarães.

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2. Francisca, deputada no Parlamento Europeu e domiciliada em Bruxelas, tomou conhecimento do iminente


lançamento, numa prestigiada livraria de Lisboa, de um livro, da autoria de Gonçalo, conhecido colunista de
costumes residente em Lisboa, relatando supostos factos da sua vida privada bem como da vida privada de outras
personalidades da vida pública.
Indignada pela falsidade dos factos aí relatados e pela repercussão mediática do lançamento, Francisca decidiu
propor uma acção de indemnização no valor de € 100.000 e, antes de o fazer, requereu uma providência cautelar
comum na instância central de Lisboa, na qual peticionou que Gonçalo fosse condenado a abster-se de publicar o
livro.
Na oposição à providência, Gonçalo arguiu a excepção de incompetência internacional dos tribunais portugueses,
com fundamento no domicílio de Francisca.

Para aferirmos a competência internacional dos tribunais temos de, em primeiro lugar, ver se é aplicável o
Regulamento. Para tal têm de estar preenchidos todos os seus âmbitos:

- Âmbito Temporal — presumimos que se encontra veriEicado este requisito porque nada nos é dito na
hipótese, ou seja, presumimos que os factos ocorreram depois da entrada em vigor do Regulamento —
15 de Janeiro de 2015. (66º + 81º do Regulamento).
- Âmbito Material — Nos termos do artigo 1º do Regulamento, este aplica-se apenas quando estão em
causa a matéria civil e comercial. Este requisito também se encontra veriEicado pois a matéria em causa é
civil.
- Âmbito Espacial — A regra geral (4º) determina que as pessoas domiciliadas num Estado-Membro
devem ser demandadas, independentemente da sua nacionalidade, nos Tribunais desse Estado Membro.
Assim, se aplicarmos esta regra, são competentes os tribunais portugueses. Porém, é preciso atentar que
há regras especiais que prevalecem sobre a regra geral, se forem aplicáveis: são elas as do artigo 24º; 25
e 26º. Estas não são aplicáveis porque não estamos perante nenhum caso de competência exclusiva,
pacto de jurisdição ou perante o caso especial do artigo 26º. Assim, nos termos do artigo 4º, são de facto
competentes os tribunais portugueses. Pode ainda haver conjugação da regra geral com a regra do artigo
7º/2 que determina que, em matéria extra-contratual, pode o Réu ainda ser demandado no tribunal do
lugar onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso. (depende da interpretação porque o caso não é
explicito — pode ser tanto em Bruxelas como em Lisboa).

Após determinarmos que o regulamento é aplicável porque se encontram preenchidos os seus âmbitos de
aplicação, devemos de atentar na sua regra do artigo 35º relativamente aos procedimentos cautelares. Esta regra
determina que as medidas cautelares, previstas na lei de um Estado Membro, podem ser requeridas às
autoridades judiciais desse Estado Membro mesmo que sejam competentes para conhecer do mérito da causa, os
tribunais de outro Estado Membro.

Assim, mesmo que F decidisse interpor a ação em Bruxelas, poderia sempre requerer uma providência cautelar
junto dos tribunais portugueses.

Vejamos, então, qual o tribunal competente em função:

‣ Em razão da Matéria — Uma vez determinado que os tribunais portugueses são competentes para julgar esta
ação, temos de averiguar, de acordo com as leis internas portuguesas, qual o tribunal competente. A nível da
matéria, nos termos do artigo 64º do CPC e 40º/1 da LOSJ, temos que os tribunais judiciais têm competência
residual em relação a todas as outras categorias de tribunais. Apenas na medida em que o tribunal
constitucional; o tribunal de contas e os tribunais administrativos e Eiscais não sejam competentes, é que os
tribunais judiciais têm competência. Estes tribunais têm as suas competências deEinidas de forma positiva nos
artigos 221º; 214º e 212º (e ETAF) da CRP, respetivamente e, pela análise destes artigos vemos que estes não
são competentes. Concluímos, então, que são competentes os tribunais judiciais. Estes têm competência

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Ano letivo 2016/2017 Resolução Casos Práticos de P. Civil Inês Tranquada Gomes 140113096

genérica e especializada. Nos termos do artigo 40º/2 (e já temos aqui subjacente o critério da hierarquia), os
tribunais de 1ª instancia podem ser tribunais de comarca (que estão divididos por instancias locais e centrais)
ou tribunais de competência territorial alargada — os tribunais de comarca têm competência residual em
relação a estes últimos que se encontram deEinidos no artigo 83º. Pela análise deste artigo concluímos que esta
matéria não se enquadra na competência de um TCTA e, por isso, são competentes os Tribunais de Comarca.
Nos termos do artigo 81º, determinamos que secção dos tribunais de comarca será responsável para julgar a
causa — uma vez mais a secção cível é aplicável residualmente se não estivermos no âmbito de aplicação de
qualquer uma das outras — é o nosso caso. Concluímos, por isso, que são compenses os tribunais de Comarca
na sua secção cível.

‣ Em razão do Valor e da Forma de Processo — Nos termos do artigo 66º do CPC e 41º da LOSJ, o valor é um
critério que serve para distinguir se a causa se insere na competência da secação cível da instancia central ou
na secção cível da instancia local. Nos termos do artigo 117º, competem à secção cível da instância central, as
ações declarativas cíveis de processo comum de valor superior a 50mil€.

- Nos termos do artigo 117º/c), tínhamos de ver o valor da ação principal e só se esta couber à instância
central é que as providências cabem na instancia central também. Não interessa ver o valor da causa da
providência.
- Assim, temos de saber onde deve ser instaurada a ação principal — Esta ação parece seguir uma forma
de processo especial tal como está prevista no artigo 878º a 880º.
- Depois da análise do artigo 117º, podemos concluir que, nos termos do artigo 130º/1/a), as formas de
processo especiais são sempre propostas nas instâncias locais independentemente do valor. Assim,
também a PC teria de ser intentada numa instancia local.
- (Para sabermos o valor da ação temos de nos socorrer dos artigos 297º e ss. Nos termos do artigo 304º/3/
d), a PC teria o valor do prejuízo que se pretendia evitar (a determinar pelo tribunal). A ação, em si, teria o
valor de 100mil€ nos termos do artigo 297º/1) — acaba por ser irrelevante.

Parte da resolução da Mariana Vacas:

Valor da causa = 304.º n.º3 é valor do crédito que se pretende garantir


- Valor da causa = 170.000€ é instância central (117.º da LOSJ)
- Forma de processo comum = providência cautelar não é processo especial
- 117.º alínea c) = instancia central
- § Tínhamos de ver o valor da ação principal e só se esta couber à instância
central é que as providências cabem na instancia central também
- § Não interessa ver o valor da causa da providência

‣ Em razão da Hierarquia — Nos termos do artigo 42º da LOSJ e dos artigos 67º a 69º do CPC, são, regra geral,
competentes para interpor uma ação um tribunal de 1ª instância e é esse o nosso caso dado não estarmos
perante as seguintes situações excepcionais: recurso; ações contra magistrados (967º e ss.); conElitos de
competência e de jurisdição (109º e ss.).

‣ Em razão do Território — Nos termos do artigo 43º da LOSJ, esta remete-nos para o CPC pois é este que
estabelece que factores é que determinam, em cada caso, o tribunal territorialmente competente nos artigos
70º e ss.

- Nos termos do artigo 78º/1/c) do CPC, para os procedimentos cautelares não previstos nas alíneas
anteriores (é o caso), é competente o tribunal em que deva ser proposta a ação respetiva. V

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CASO

A sociedade Investimentos Produtivos, S.A. (“IP”), com sede em Luanda, celebrou, em Faro, um contrato promessa
de compra e venda com a sociedade Xin Chao (“XC”), com sede em Shangai, prometendo comprar um terreno
situado em Faro, para aí construir um empreendimento, tendo Ficado acordado que o contrato deFinitivo seria
assinado em Faro. Diga se o tribunal português deve ser considerado internacionalmente competente para julgar
estas acções, considerando que:

a) A IP quer demandar a XC pedindo a anulação do contrato com fundamento em erro?

A questão da competência internacional tem de ser aqui previamente analisada porque há elementos de conexão
com outras ordens jurídicas:

Existem 3 fontes possivelmente aplicáveis para aferir a competência internacional:

1. Regulamento 1215/2012 de Bruxelas


2. Convenções Internacionais
3. Regras de Direito Interno

Para sabermos se podemos aplicar o Regulamento 1215/2012 temos de aferir se estamos perante o seu
âmbito:

‣ Temporal —presume-se que foi celebrado depois de 10 de Janeiro de 2015 — quando entrou em
vigor (66º + 81º)

‣ Material — nos termos do artigo 1º, encontra-mo-nos dentro do âmbito material pois o que é
discutido em causa é matéria civil, logo, este âmbito também se encontra veriEicado.

‣ Espacial — Não estando nós perante um caso de competência exclusiva (24º) ou do artigo 25º e 26º,
resta-nos a aplicação da regra geral do artigo 4º. Ao aplicar-mos esta regra (são competentes para
julgar o litígio os tribunais do local do domicílio do Réu), concluímos que não é aplicável este
regulamento pois, nestes termos, seriam competentes os tribunais de Shangai que não é um Estado
membro da União Europeia.

- Nota: O artigo 24º/1 não se aplica aqui porque não se discutem direitos reais sobre imóveis
mas sim uma questão de anulabilidade do contrato e tal não constitui um direito real.

- NOTA/ALERTA — NÃO CONFUNDIR — Aqui não podemos pôr a hipótese de aplicar o


artigo 7º do Regulamento pois este apenas tem aplicação em conjunto com o artigo 4º
quando, deste último, se extrai que se aplica o Regulamento por o Réu estar domiciliado
num Estado Membro da UE.

Uma vez que se determine que não se aplica o Regulamento, temos de ver se existe alguma Convenção
Internacional entre Portugal e a China sendo que a resposta é negativa.

Só nos resta, por isso, o direito interno português, ou seja, temos de aferir se os tribunais portugueses são
competentes à luz dos artigos 62º e 63º do CPC nos termos dos quais temos 3 princípios que, se se veriEicarem,
determinam a competência dos tribunais portugueses:

- No artigo 62º/1 temos o Principio da Coincidência que não se aplica porque não se veriEica que a nível
territorial sejam competentes os tribunais portugueses — isto porque, se aplicarmos as regras dos artigos 70º
e ss. não encontramos nenhum tribunal português competente.

‣ Não se aplica o artigo 70º pela mesma razão acima referida se não estar aqui em causa um
direito real mas sim uma questão de mera anulabilidade.

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‣ Não havendo nenhuma regra especial aplicável, nos termos da regra geral do artigo 81º
(visto se tratar de uma PC) para que os tribunais portugueses fossem internacionalmente
competentes então, a PC, que é Réu, teria de ter sede em Portugal e, neste caso, tem sede
em Shangai.

- Nos termos do artigo 62º/2 temos o Principio da Causalidade que determina que os Tribunais Portugueses
são internacionalmente competentes se o facto que constitui a causa de pedir na ação tiver ocorrido em
Portugal total e parcialmente. Parece-nos que se aplica este artigo pois a causa de pedir (erro) foi fundada
num contrato promessa de Compra e venda que foi celebrado em Faro, ou seja, em Portugal.

b) Na data da celebração do contrato decinitivo, a sociedade XC não compareceu e IP quer agora instaurar
acção de execução especícica do contrato promessa de compra e venda?

Contrato Promessa de Compra e Venda com ecicácia real

Na linha do raciocínio anterior, mas considerando que está aqui em causa uma ação de execução especíEica de
eEicácia real, temos de ver se se aplica o Regulamento.

Neste caso, já podemos pôr a hipótese de aplicar o artigo 24º/1 se o Contrato de Compra e venda tiver sido
celebrado com e\icácia real — estaria aqui em causa um direito real. Aí, seriam competentes os tribunais
portugueses por serem os tribunais do local do imóvel.

Contrato Promessa de Compra e Venda sem ecicácia real (direito substantivo)

Mas, por outro lado, se o Contrato de Compra e venda tivesse sido celebrado sem e\icácia real, a resposta ia
na mesma linha que a alínea anterior pois o Regulamento não se aplicava — nem a nível das competências
exclusivas, nem nos termos da regra geral — (nos termos do artigo 4º — o Réu não era domiciliado num estado
membro e por isso este não seria aplicável).

Uma vez mais, não existindo nenhuma Convenção Internacional entre PT e a China que regule esta matéria
especialmente, temos de aplicar as regras de direito interno, mais concretamente, os artigos 62º e 63º do CPC.

No artigo 62º/a) temos o Principio da Coincidência que se aplica porque através das regras da competência em
razão do território, veriEica-se que são competentes os tribunais portugueses — isto porque, se aplicarmos as
regras dos artigos 70º e ss. encontramos um tribunal português competente pois temos uma ação de execução
especíEica relativamente à qual temos uma norma especial — o artigo 70º/1 — Esta regra determina que devem
ser propostas no tribunal da situação dos bens, as ações referentes à execução especiEica sobre imóveis —
tribunais portugueses são internacionalmente competentes.

- Nos termos do artigo 62º/b temos o Principio da Causalidade que determina que os Tribunais Portugueses
são internacionalmente competentes se o facto que constitui a causa de pedir na ação tiver ocorrido em
Portugal total e parcialmente). — Poder-se-ia também ir por esta via porque o facto que dá origem à ação
ocorreu em Portugal (CP de CV foi celebrado em Faro e deveria aqui ter sido cumprido).

c) Celebrado o contrato decinitivo, IP não paga o remanescente do preço, obrigando XC a instaurar a


respectiva acção de condenação?

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Na linha do que vimos anteriormente não se aplica o regulamento — por não haver aplicação de nenhuma regra
de competência exclusiva nos termos do artigo 24º e por o domicilio do Réu ser em Shangai, o que impede que se
possa aplicar a regra geral do artigo 4º.

Uma vez mais, não existindo nenhuma Convenção Internacional entre PT e a China que regule esta matéria
especialmente, temos de aplicar as regras de direito interno, mais concretamente, os artigos 62º e 63º do CPC.

No artigo 62º/1 temos o Principio da Coincidência e, para saber se este é aplicável temos de ir às regras dos
artigos 70º e ss. e tentar encontrar um tribunal português territorialmente competente:

‣ Não se aplica o artigo 70º pela mesma razão acima referida se não estar aqui em causa um
direito real (considerando que o contrato de CV foi celebrado sem eEicácia real) mas sim
uma questão de mera anulabilidade.

‣ Porém, existe uma regra especial constante no art. 71º/1 CPC que diz que ‘’A acção que
destina a exigir o cumprimento de obrigações (...) é proposta no tribunal do domicilio do réu,
podendo o credor optar pelo tribunal do lugar onde a obrigação deveria ser cumprida,
quando o réu seja PC …’’).

➡ Ou seja, a lei permite que o autor escolha qual o tribunal competente de


acordo com os critérios consagrados nela. Se a sociedade XC escolhesse o
domicilio do réu, ou seja Luanda, os tribunais portugueses não seriam
competentes territorialmente; mas, se escolhesse optar pelo Tribunal do
lugar em que a obrigação seria cumprida, seriam competentes os tribunais
portugueses se cumprimento do pagamento do preço tivesse sido aqui
acordado.

➡ Obrigação pecuniária — se as partes nada estipulassem, teríamos de ver


onde é o local do cumprimento. De acordo com que lei é que o faríamos?
Teríamos de convocar as regras de conElitos — se fossem competentes os
tribunais portugueses, teríamos de ver no CC as regras das obrigações
pecuniárias.

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PROVA

NOTAS PRÉVIAS:

Esta matéria, a nível substantivo, encontra-se regulada nos artigos 341º e ss. do CC e a nível processual, nos artigos
410º e ss.

A quem invoca um direito em juízo, incumbe fazer a prova do facto alegado. — Num sistema puro subjetivo de ónus
da prova, esta tem de ser trazida para o processo pela parte a quem impende o ónus da prova e a quem esta
aproveita.

No entanto, o sistema português é um sistema de repartição do risco — a prova pode não resultar do esforço
probatório de quem quem fazer valer um determinado facto. A parte pode arriscar, ao não fazer prova do facto que
lhe incumbe, que a ação seja julgada procedente contra si, mas tal não é certo porque pode a prova daquele facto
surgir no processo por outra via. Por isso é que este é um ónus impróprio — se a parte não adoptar um certo
comportamento no sentido de fazer prova de um facto que lhe incumbe, não signiFica necessariamente que sofra as
consequências necessárias.

- Teoria Cronológica — os factos seriam constitutivos, extintivos e impeditivos, segundo a ordem pela qual se
tinham produzido. Um facto extintivo vem necessariamente depois de um facto constitutivo.
- Teoria da Norma — se alguém se quiser aproveitar da previsão da norma, incumbe-lhe fazer prova desses factos.
Não é claro porque a estatuição e previsão nem sempre facilmente se distinguem.

CASO XIII

António emprestou a Bernardo a sua casa, na zona de Santarém, para que este a usasse durante a conclusão da
sua tese de doutoramento, por a mesma se situar no campo e poder proporcionar um ambiente de silêncio e
reFlexão. Terminada a tese, Bernardo devolveu as chaves da casa a António. Decorrida uma semana sobre essa
devolução, António foi passar o Fim-de-semana à sua casa de campo e deparou com sinais evidentes de uma
inundação e com prejuízos superiores a € 50.000,00.
Após constatar a rejeição de qualquer responsabilidade pelo acidente por parte de Bernardo, António propôs uma
acção contra aquele, na qual pediu a sua condenação no pagamento de uma indemnização por € 50.000,00,
alegando que Bernardo deixara uma torneira aberta a pingar, causando a inundação.
Bernardo defendeu-se na contestação dizendo que se a torneira pingara tal se devera ao facto de ser uma torneira
antiga, que vedava mal.

Admitindo que Ficou provado que a inundação fora causada por aquela torneira, mas que não Ficou provado se a
mesma Ficara aberta ou se vedava mal, como deverá o tribunal julgar esta acção?

Estamos aqui perante um contrato de Comodato que consiste na faculdade que se atribui a outrem de fazer uso
da coisa com a obrigação de a restituir e de a entregar nas condições em que tinha sido entregue — as obrigações
do comodatário encontram-se previstas no artigo 1135º e o regime do contrato de mutuo encontra-se regulado
nos artigos 1129º e ss. do CC.

Assim sendo, a violação deste contrato gera responsabilidade civil contratual (798º). Para que haja
Responsabilidade Civil têm de se veri\icar os pressupostos:
‣ Ilícito contratual (violação de um contrato) - deixar a torneira aberta

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‣ Culpa – deixar a torneira aberta com culpa


‣ Nexo de causalidade- entre a torneira aberta e a inundação. A jurisprudência tende a ser maleável.
Basta que o autor prove que a inundação foi causada pela torneira aberta.
‣ Dano – danos decorrentes da indemnização

Aplicando a lógica de que quem quer beneEiciar da previsão da norma, tem de fazer prova desses factos, é ao
autor que incumbe a prova dos factos acima enunciados. — A tem de provar que B deixou a torneira
culposamente aberta e dos danos causados por essa ação. Tal signiEicava que, não tendo sido feita a prova de que
B deixou a torneira aberta, a ação seria julgada improcedente.

Porém, nos termos do artigo 799º, estamos perante uma presunção de culpa que inverte o ónus da prova. —
Passa o ónus da prova a impender sobre o B e o tribunal deve julgar a ação contra o Réu se este não provar que o
incumprimento da obrigação não procede de culpa sua (350º/2 CC — as presunções podem ser ilididas mediante
prova em contrário). Isto porque, nos termos do artigo 350º/1, quem tem a seu favor a presunção legal escusa de
provar o facto a que ela conduz — esta presunção é a favor de A (autor).

O regime das presunções encontra-se nos artigos 344º e 349º a 351º do CC. — A apenas tem de provar o facto
que serve de base à presunção — a presunção apenas dispensa a prova do facto presumido — o facto base é o
incumprimento do contrato. Quem incumpre, em principio, fá-lo com culpa — é esta a presunção do artigo 799º
— a própria lei estabelece o nexo entre o facto conhecido e o facto presumido.

CASO XIX

Carlota propôs uma acção contra Diogo pela qual pediu ao Tribunal que condenasse o réu no pagamento da última
tranche de um contrato de mútuo que alega ter celebrado com ele dois anos antes. Na contestação, Diogo alegou, no
entanto, que a obrigação de reembolso da última tranche Ficara sujeita à condição de os juros pagos até
determinada data não excederem a quantia de € 15.000, tendo os mesmos excedido, na verdade, tal valor em €
5.000. Considerando que o juiz não considerou provado o acordo sobre a condição, como deverá ele decidir a causa?

Esta é uma hipótese que nos parece levar à aplicação da regra no disposto no artigo 343º/3. O que este artigo faz
é uma repartição do ónus da prova pelas partes perante a existência de uma condição suspensiva ou termo inicial
(cabe ao autor a prova de que a condição se veriEicou) e perante a existência de uma condição resolutiva ou
termo Einal (cabe ao réu a veriEicação da condição ou vencimento do prazo).

Porém, este artigo não é aqui aplicável pelo simples facto de que pressupõe a existência dessa condição. No
nosso caso, o que não \icou provado foi precisamente a existência da condição e, por isso, não se aplica o
artigo 343º/3. Assim sendo, coloca-se a questão de sobre quem é que impende o ónus da prova. Nos termos do
artigo 342º, a repartição do ónus da prova é feita mediante a qualiEicação dos factos — depende de enquanto
estes sejam constitutivos; impeditivos; modiEicativos ou extintivos.

Como qualicicamos o facto de um Negócio jurídico estar sujeito a condição?

Não há uma resposta necessariamente única.

Posição de Antunes Varela:

AV distingue 2 situações para efeitos do ónus da prova:

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- Situação em que há vícios no contrato como falta de vontade na celebração do contrato/ilícitude do
objeto/falta de forma (situações de vícios do contrato que devem ser provados pelo réu). Isto porque
estas defesas são defesas por exceção — incumbe ao réu provar.
vs.
- Cláusulas acessórias do contrato integrante do NJ (que se prende com a conEiguração, conteúdo do
contrato) devem ser provadas pelo Autor. — Réu defende-se por impugnação.

Antunes Varela diz que o ónus da prova recai sobre o Autor porque este é um facto constitutivo (341º/1) do seu
direito (celebração do contrato do qual se emerge como credor de uma obrigações puras). Faz parte do contrato
este dar origem a obrigações puras. Assim, o Autor é que teria de provar a não existência da condição para fazer
valer o seu direito (indemnização).

Posição MPB:

MPB diz que este é um facto impeditivo pois, o NJ estar sujeito a condição é um facto impeditivo da produção de
efeitos daquela obrigação constituída pelo contrato (exigibilidade da quantia mutuada). A racio da sua opinião
está no facto de ser mais fácil demonstrar um facto positivo do que um facto negativo e, por isso, deveria de ser o
Réu que Eicaria incumbido de demonstrar a existência da condição. (Não estando sujeito a forma escrita chamaria
testemunhas.) — cabe ao réu provar a cláusula uma vez que se está a defender por exceção.

Por isso, o juiz deve decidir a causa dependendo dos autores:

‣ MPB decide contra o Réu (342º/2) — condena o réu


‣ Antunes Varela decide contra o Autor (342º/1) — absolve réu do pedido

Depois, uma vez provada a existência dessa condição, para se provar se esta se veriEicou ou não, a repartição do
ónus da prova é feita de acordo com o artigo 343º/2 e 3.

NOTA: 344º/2 — Pode haver a inversão do ónus da prova caso alguma das partes tenha tornado culposamente
impossível a prova ao onerado.

CASO XX

A e B celebraram um contrato de compra e venda de um automóvel. B comprou o carro porque pensava ter ele
pertencido a um famoso corredor de automóveis, o que veio depois a descobrir não ser exacto.
Instaurou então contra A uma acção na qual pediu que, com base nesse erro, o contrato fosse anulado, devendo A
restituir o preço (12 500 €) que lhe pagara.

Admita que Ficou provado: a celebração do contrato; as razões que levaram B a comprar o carro; o erro. Mas que
não Ficou provado: nem que B não o teria comprado se soubesse que nunca pertencera ao referido corredor; nem
que o vendedor A soubesse que o motivo pelo qual B comprou o carro era essencial.

A. Como deve o tribunal julgar a causa?

Neste caso, o que se pretende é a anulação do contrato com base em erro. Para o autor fazer valer o seu direito de
anulação tem de provar os factos constitutivos desse direito — estes são os que preenchem a previsão da norma
que o autor está a invocar — 252º (erro sobre os motivos) + 342º.

(No nosso caso também poderia ser erro sobre o o objeto ou erro sobre os motivos)

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Aplicando a Teoria da norma, pegamos na norma jurídica e veriEicamos que factos integram a respetiva previsão
do 252º (factos constitutivos do direito do autor):

‣ Tem de ter havido erro — Eicou provado.


‣ A essencialidade do erro — se o objeto não fosse do corredor o adquirente não o teria comprado.
‣ Tem de ter havido acordo sobre essa essencialidade — a outra parte tinha de saber que era essencial.

Para o Autor beneEiciar da estatuição desta norma (anulação) teria de provar toda a previsão. Como não Eicou
provado o acordo sobre a essencialidade e a essencialidade do erro o juiz, na dúvida, deve julgar contra aquele a
quem o direito aproveita — ou seja, neste caso, a ação não procede e o Réu deveria ser absolvido do pedido (Art
414º CPC).

B. Admita agora que todos os requisitos da relevância do erro estavam demonstrados; mas que A alegou ter
B descoberto o erro há mais de um ano, quando propôs a acção, o que B impugnou.

O artigo 343º, nº2 diz que, quando estejamos perante um prazo de caducidade (ações que devam ser propostas
dentro de um certo prazo), é o Réu que tem de provar que o prazo já decorreu.

Nos termos do artigo 287º, o prazo para pedir a anulação do NJ é de 1 ano e este prazo começa a contar a partir
do momento em que o Autor teve conhecimento do erro (343º/2º). Assim, o réu, tem de demonstrar que o prazo
já decorreu e, para tal, tem de demonstrar que o Autor teve conhecimento do facto há mais tempo do que aquilo
que alega.

Seria facto constitutivo provar o não decurso do prazo e, por isso, sem a existência desta regra, caberia ao Autor
provar que teve conhecimento há menos de um ano.

CASO XXI

Eduardo instaurou contra Francisco uma acção pedindo a restituição de uma quantia que diz ter-lhe emprestado,
no valor de € 5.000,00.
Junta, para o efeito, um documento, que diz ter sido assinado por ele próprio e por Francisco, com o seguinte
conteúdo:
«Por este documento, Francisco reconhece que Eduardo lhe emprestou a quantia de € 5.000,00, dos quais € 1.000,00
foram já pagos.
Lisboa, ……….
a) assinatura de Eduardo
b) assinatura de Francisco».

Diga se este documento prova o empréstimo e a falta de pagamento.

366º — Regra da livre apreciação pelo tribunal.

364º — 466º e conjugar com o regime da conEissão 352º e 358º ss. 360º

383º — força probatoria

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Nos termos do artigo 362º estamos perante prova documental que adopta um conceito amplo de documento
cujos elementos identiEicadores são:

1. Autoria
2. Função representativa intencional

Há, no entanto, regras especí\icas para os documentos escritos:

Presume-se que este é um Documento Particular pois, no caso, nada nos diz que este documento provém de uma
autoridade publica ou de um oEicial público. Assim, nos termos do artigo 363º/2, todos os documentos não
autênticos são particulares.

Força probatória Formal

O documento do nosso caso é um documento particular simples porque não nos é dito que intervenha um
notário ou outro oEicial público, sendo elaborado pela partes sem a intervenção de qualquer autoridade.

• Documentos particulares simples (por exclusão de partes) — Portanto, na falta de intervenção notarial
neste tipo de documentos (regulada no 374º), a prova da autoria faz-se pelo reconhecimento, expresso ou
tácito contra a qual é apresentado. Assim, a parte pode:

1. Reconhecer expressamente a autoria da assinatura ou declarar que não sabe se a assinatura lhe
pertence — nestes casos está provada a autoria com força probatória plena. (376º)

2. Impugnar, ou seja, alegar a respectiva falsidade da assinatura — neste caso cabe ao apresentante do
documento (Autor) o ónus da prova da autoria, de acordo com o 374º/2. (O meio adequado é através
da prova pericial mas não se excluem meios como a prova testemunhal).

Em bom rigor a força probatória formal de um documento particular depende da reação ou atitude da parte
contrária.

Força probatória Material

1. Se for reconhecida expressamente a autoria — temos de atender ao facto de esta ser uma declaração
confessória. Nos termos do 376º/2, os factos compreendidos nessa declaração encontram-se plenamente
provados na medida em que forem contrários ao interesse do declarante. Esta declaração é, ainda, indivisível.

- 360º (Indivisibilidade da Con\issão) — Numa declaração confessória complexa, há factos favoráveis e


desfavoráveis ao declarante. — Nesta reconhece-se que foi emprestada determinada quantia (facto
desfavorável ao declarante) mas diz-se ainda que parte dessa quantia emprestada - 1000€ - já foi paga
(facto favorável). — Se a outra parte (Autor — E) quiser aproveitar-se da conEissão como prova plena,
tem de aceitar também como verdadeiros os outros factos ou circunstancias.
- Porém, a indivisibilidade da conEissão não é absoluta tal como se pode aferir da parte Einal do
360º - a parte contraria pode sempre provar o contrário.
➡ A única forma de E demonstrar que não recebeu os 1000€ seria através da prova em
contrário (347º).
➡ Seria ainda possível, nos termos do artigo 359º, destruir a força probatória plena da
conEissão através da prova que a declaração estava ferida de um vício. — Prova do
contrario + anulação confessória.

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No nosso caso está apenas provado que F declarou que tinha recebido 5 mil euros e que já tinha pago 1000. No
entanto, este documento não faz a prova de que foram pagos 4000€. Se mais nenhum meio de prova tiver sido
por o cumprimento da divida ser um facto extintivo da obrigação, Eica o devedor incumbido de o provar.

CASO XXII

Em Janeiro de 2012, Gustavo e Hélio celebraram um contrato de compra e venda de um prédio, situado em Lisboa,
por escritura pública.
A. A 2 de Junho de 2012, Gustavo instaurou contra Hélio uma acção, pedindo a declaração de nulidade desse
contrato, por simulação. A Fim de provar o acordo simulatório, Gustavo indicou, como único meio de prova,
determinadas testemunhas; mas Hélio opôs-se a que sejam admitidas a depor, invocando o nº 2 do artigo
394º do Código Civil. Quem tem razão?

A prova por documentos encontra-se regulada, a nível substantivo, nos artigos 362º e ss. do CC e a nivel
processual nos artigos 423º e ss.

O que diz respeito ao direito probatório material encontra-se, portanto, no CC relativamente à admissibilidade
dos meios de prova. — Nos termos do artigo 363º, a escritura publica é um documento autêntico feito por uma
entidade oEicial.

Nos termos do 364º, este é também um caso em que há a exigência legal de um documento escrito. A força
probatória de um documento autentico resulta dos 370º e 371º. — Este servirá de prova para que factos?

Quando se olha para uma escritura publica, a sua força probatória, não cobre aquilo que são eventuais
divergências entre a vontade declarada e a vontade real.
- Nos termos do 370º, a força probatória formal consiste em o documento provir da pessoa a quem é
imputada a autoria.
- A força probatória material consta do artigo 371º — esta implica que tenhamos de olhar para o conteúdo
— a força probatória de um documento autentico é plena, ou seja, fazem prova dos factos praticados
pelos notários atestados com base nas suas percepções (apenas mediante a prova do contrario pode ser
destruída).
A tal divergência entre a vontade real e a declarada não resulta como provada na escritura pública
pois esta vai para além das percepções do notário.

Da conjugação do artigo 393º com o 364º resulta que se esta compra e venda (é o
caso) teve de ser obrigatoriamente reduzida a escrito, não podem ser admitidas
testemunhas para substituir este meio de prova e também não podem os factos
contidos num documento com força probatória plena ser contrariados por
testemunhas.

Coloca-se a questão de saber se a limitação imposta pelo 394º é total no sentido de não ser possível o uso
da prova testemunhal relativamente ao negócio simulatório quando invocado pelos simuladores. Ou seja,
resume-se a saber se devemos adoptar uma interpretação restritiva dos limites à utilização da prova testemunhal
aqui consagrada no 394º/2.

‣ Admitir a prova testemunhal como meio de prova por si só suFiciente para demonstrar a simulação ou para
demonstrar uma convenção contrária ou adicional ao conteúdo de documento seria completamente ir outra à
letra da lei do preceituado neste artigo e ignorar os riscos inerentes a este meio de prova.

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‣ No entanto há quem defenda como (CF e MPB) que admiti-la como meio de prova complementar de outro meio
admissível (que constitua um principio de prova) permite, no entanto, salvaguardar a razão de ser subjacente
à inadmissibilidade da prova testemunhal e não colide com a letra do preceito que, assim, vedaria o uso de
prova testemunhal como único meio de prova. Neste sentido tem-se pronunciado também a Jurisprudência.
- Isto signiEica que o juiz não pode dar como provado o acordo simulatório apenas com base nas
testemunhas; apenas se for conjugado com outros elementos de prova.

RACIO DO 394º/2:

‣ Esta proibição não decorre da necessidade de proteger a força probatória dos documentos, a qual não pode
cobrir a divergência entre a vontade real a vontade declarada dos contraentes. (CF e MPB)
‣ Esta proibição também não visa sancionar os simuladores, uma vez que o legislador lhes atribui
legitimidade para invocar a nulidade do negocio simulado, apenas lhes limitando os meios através dos quais
o podem fazer.
‣ Visa, sim prevenir o risco associado à prova testemunhal quando em comparação com a prova documental.
A prova testemunhal é pouco Eiável (pois muitas vezes as testemunhas mentem ou então falha-lhes a
memória). — O risco inerente a permitir que os simuladores venham provar uma simulação é simularem a
própria simulação.

Conclusão: H tem razão se for o único meio de prova (394º/2), se for um meio complementar de outro, então é
possível.

Nota: 346º + 347º — tipo de força probatória dos meios de prova.

B. Pode Gustavo invocar a falsidade da escritura?

Nos termos do artigo 372º/2, a falsidade da escritura só pode ser arguida relativamente a factos cobertos pela
força probatória da escritura. O que está coberto pela força probatória plena é que G e H declararam que queriam
comprar e vender. A veracidade da declaração das partes vai além daquilo que o notário pode atestar (este
não pode saber se houve dolo; erro…)

A simulação prende-se com a diferença entre a vontade real e a vontade declarada e tal não consta da escritura.
— Não se quer ilidir a força probatória da escritura porque esta não abrange os vícios da divergência entre a
vontade declarada e a real, apenas aquilo que foi percepcionado pelo notário. — Nos termos do artigo 371 º,
este documento apenas abrange os factos praticados pelo notário e os factos atestados por ele. Ou seja, G
não quer atacar o que foi declarado pelo notário.

A declaração em si é diferente dos factos a que a declaração respeita — a declaração tem força plena por ter sido
atestada pelo notário. Outra coisa são os factos a que a declaração respeita que não estão provados com a força
probatória da escritura pública.

Se o vendedor declarou ter recebido o preço e o comprador ter pago, estas declarações podem ser favoráveis para
uma parte e desfavoráveis para outra. Na verdade, nos termos do 352º, esta seria uma conEissão pois
reconhecem-se factos que são desfavoráveis para quem declara.

Temos um documento com uma declaração que consubstancia uma conEissão da qual o legislador retira
consequências probatórias. — Assim, para sabermos qual a força provatória da conEissão, temos de saber antes
qual a força probatória do documento que, como já vimos anteriormente, tem força probatória plena. Nos termos

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do artigo 358º/2, a conEissão (extrajudicial) considera-se provada nos mesmos termos do documento que a
contém — logo, a conEissão tem força probatória plena.

G não teria de invocar a falsidade da escritura como vimos anteriormente. Para contrariar a força probatória
plena da conEissão, resulta da conjugação do artigo 347º com o 359º, que esta teria de ser anulada com base nos
mesmos motivos que se requer a anulação do NJ. Esta é a única maneira de destruir uma declaração confessória
pois o legislador parte do principio de que ninguém declara um facto desfavorável a si próprio e de que tal não
seja verdadeiro. É esta a racio do PRINCIPIO DA IRRETRATABILIDADE DA CONFISSÃO (468º do CPC)— que consiste em,
regra geral, a conEissão judicial não poder ser revogada.

O artigo 359º do CC estabelece a possibilidade de anulação da conEissão. Parece retirar-se daqui que, se se quiser
destruir a força probatória da conEissão, esta não é indestrutível, por isso é que se diz que é “quase pleníssima” —
no entanto, esta apenas pode ser destruída pela anulação da con\issão presente no 359º. Não basta a prova do
contrário, é preciso a prova do contrário + anulação da con\issão.

CASO XXIII

C intenta uma acção contra D em que alega que o réu lhe comprou um móvel cujo preço ainda não foi pago.
A. Pode D usar nesta acção, o testemunho escrito que C deu noutra acção em que admitia ter recebido o
preço da compra e venda? Em que condições? O pagamento Fica provado?

Coloca-se a questão de saber se o testemunho que foi dado por C noutra ação, pode ser usado nesta ação como
meio de prova.

O que está em causa é o valor extra-processual da prova. Esta matéria está regulada no artigo no 421º CPC que
permite que a prova feita por depoimento ou por perícia numa ação, seja dada noutra desde que:

(1) essa prova tenha sido proferida num processo com audiência contraditória da parte (caso do arresto
excluído por exemplo)

(2) e que o regime de produção de prova ofereça garantias idênticas no segundo caso, contrario seria apenas
princípio de prova.

Quanto a saber se o pagamento tinha Eicado efetivamente provado, nos termos do artigo 396º, a força probatória
dos depoimentos das testemunhas é apreciada livremente pelo tribunal. (+ 358º/3).

B. Uma das testemunhas apresentadas por C vem aFirmar que C recebeu um cheque de D para pagamento
da totalidade do preço. O juiz Fica convencido da veracidade daquela aFirmação. Pode, na sentença, o juiz
considerar que o preço foi pago com fundamento naquele testemunho?

Nota: 394º/1 — não pode ser usada prova testemunhal para fazer prova de convenções contrárias ou adicionais
ao conteúdo de documento autênticos, autenticados ou particulares cuja autoria esteja ou venha a ser
reconhecida nos termos da lei. — Esta inadmissibilidade radica na falibilidade da prova testemunhal; na maior
segurança que oferece a prova por documento e no facto de a experiência mostrar que a adopção escrita visa a
integralidade do ato, cobrindo-o na totalidade.

Ainda nos termos do artigo 395º, o legislador estende as limitações à utilização da prova testemunhal aos factos
extintivos das obrigações e, por isso, sendo o pagamento um facto extintivo da relação negocial, também por esta
via não poderia ser feita a prova através de testemunha.
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Não obstante, pelo principio da aquisição processual (413º CPC), deve o juiz tomar em consideração todos os
meios de prova que são trazidos ao processo, independentemente de terem sido trazidos pelas partes a
quem os aproveitam. — Ocorre essencialmente através da prova testemunhal pois, muitas vezes, as
testemunhas, fortuitamente, podem dizer alguma coisa que aproveita à parte contrária. — O nosso legislador
determina que todas as provas atendíveis são válidas no processo independentemente da parte de que tenha
resultado.

HIPÓTESE SOBRE A PROVA

Por escritura pública celebrada em Lisboa, D vendeu a C um terreno situado em Sintra, pelo preço de €
200.000,00.

Da escritura consta que ambos os contraentes declararam que metade do preço já tinha sido paga e
que a metade restante seria paga no prazo de um ano.

Seis meses depois da celebração do contrato, C instaura contra D uma acção de anulação do contrato
de compra e venda, invocando que tinha comprado o terreno porque D lhe tinha dito que tinha uma
determinada área; mas que veio a verificar, depois da compra, que a área real era significativamente inferior.

Pede, assim, a anulação do contrato, com fundamento em erro, e a restituição dos € 100.000,00 que
pagou.

D sustenta:

– que C não pode usar testemunhas para provar o erro que alega, porque declarou perante o notário
que queria comprar o terreno;

– que C não lhe pagou realmente nada; que estava combinado que C lhe enviaria um cheque no dia
seguinte à escritura; mas que C não cumpriu esse acordo.

Diga se a escritura prova, e com que eficácia, o pagamento; e se D pode, e como, provar que nada
recebeu.

A escritura pública é um documento autêntico nos termos do artigo 363º/2 dado que é emitida por uma
autoridade publica com poderes para tal (e presumivelmente dentro do limite das suas competências).

A escritura publica é um documento autêntico.

Este é um dos casos em que havia exigência legal da existência deste documento tendo em conta que se
celebrou um contrato de Compra e venda de um Imóvel. Assim sendo, nos termos do artigo 364º/2, este não
pode ser substituído por outro meio de prova ou por outro documento que não tenha força
probatória superior.

A força probatória formal (prova da autoria, ou seja, se provêm efetivamente da autoridade ou oficial
publico) deste documento, é presumida a partir do momento em que se verificam sinais exteriores de

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autenticidade tais como selo do respetivo serviço ou a assinatura da entidade documentadora reconhecido
pelo notário.

Assim, presume-se que o documento foi emitido pela autoridade competente.

Relativamente à força probatória material (prova de que as declarações nele constantes foram emitidas),
determina o artigo 371º que ficam plenamente provados os factos que nele se referem como tendo sido
praticados pela entidade documentadora, autora do documento ou que nele são atestados com base nas suas
percepções. Porém, os meros juízos pessoais do documentador ficam sujeitos à regra da livre apreciação pelo
julgador.

Assim, fica plenamente provado que D declarou ter recebido metade do preço e que C declarou faltar pagar
metade do preço.

Note-se que, saber se as declarações efetuadas correspondem ou não à vontade real dos declarastes ou se
estão afetadas de erro é algo que escapa às percepções do documentador.

Porém, neste caso, estas declarações têm força probatória especial pois consistem no reconhecimento de
um facto desfavorável, ou seja, consistem numa confissão tanto de D (declarou ter recebido 1/2 do preço)
como de C (declarou faltar pagar 1/2 do preço). A sua força probatória especial consta do artigo 358º que
determina que, no caso de se estar perante uma confissão extrajudicial (é o caso porque a confissão
encontra-se contida num documento autentico) antes de saber a sua força probatória tem-se de saber qual a
força probatória do documento que a contem. Como vimos antes, a escritura publica tem força probatória
plena, o que determina que a confissão se encontra provada nos mesmos termos.

A escritura pública tem força probatória plena e, consequentemente, também tem a mesma força probatória a
confissão nela contida. — Assim, determina-se que o pagamento de C a D de metade do preço se encontra
plenamente provado por consistir numa confissão (de D).

Para D provar que nada recebeu, a única forma que tem de destruir a confissão é através do estabelecido no
artigo 359º que permite a anulação da confissão com base nos mesmos fundamentos que justificam a
anulação do NJ. Não obstante, sendo este um documento com força probatória plena, temos ainda de
conjugar com o artigo 347º que determina que a única forma de contrariar uma prova legal plena é através
da prova do contrário.

Assim sendo, conclui-se que, para D afastar esta confissão, tem de demostrar que C não lhe pagou o preço e
anular a sua confissão com base na demonstração de que houve um erro, apesar de este ser relativo a
circunstancias futuras. Nos termos do artigo 359º/2, basta apenas provar a essencialidade do erro. Tal é feito
através da demonstração de que a declaração confessória não teria sido emitida se D não estivesse em erro, ou
seja, se D não tivesse confiado que C pagaria aquela parte do preço no dia seguinte.

Note-se que, em relação ao facto de D alegar que C não pode usar testemunhas para provar o erro
(relativamente à área do terreno) porque declarou perante o notário que queria comprar o terreno, D não
tem razão pois, nos termos do 393º/2, este não é um facto que esteja plenamente provado pela escritura
publica pois a escritura apenas faz prova de que as declarações nela constantes foram emitidas e presume-se
que nesta nada se diga em relação às dimensões do terreno. — O erro nunca contende com a força probatória
plena da escritura! É como a prova da simulação. Está fora do alcance das percepções do notário saber se o
declarante quer o que diz ou formou a sua vontade esclarecimento ou não.

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RESOLUÇÃO DE EXAMES (Alerta para o facto de esta resolução não ter sido corrigida em aula)

Resolução Exame de 2016

a)

Temos de saber se a ação pode ser proposta nestes termos, ou seja, se A e B podem coligar o pedido
propostos contra C e D com os pedidos propostos contra E.

Contra C e D pede-se:
1. Que declarem que A e B são proprietários do terreno X (ação da simples apreciação da
propriedade)

Contra E pede-se:
2. Uma indemnização de 20mil€
3. A entrega do terreno
Cumulação de pedidos

Assim, temos de analisar os requisitos da coligação que se encontram nos artigos 36º; 37º e 555º.
Note-se ainda que estes requisitos têm de estar preenchidos cumulativamente.

1º requisito — Conexão entre os pedidos (36º) — Basta que se veriEique uma das 4 situações
previstas neste artigo para que este requisito se encontre preenchido, ou seja, basta que ou haja uma
mesma causa de pedir; que os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou
dependência; que a procedência dos pedidos principais dependa essencialmente da apreciação dos
mesmos factos ou que impliquem a interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de
clausulas de contratos perfeitamente análogas. —> Neste caso este requisito encontra-se preenchido
por os 3 pedidos estarem entre si numa relação de prejudicialidade e dependência. Isto porque, apenas
se se concluir que o terreno não pertence a C e D, é que E terá de entregar o terreno (dado que este
alega ter sido arrendado por C) e que terá de pagar uma indemnização por ter destruído a plantação
(pois C e D detinham o terreno publicamente para Eins agrícolas.

2º requisito — Compatibilidade Processual (37º) — Este requisito subdivide-se em 2 sub-requisitos:

- A ambos os pedidos têm de corresponder formas de processo iguais.

Os processos podem seguir uma forma de processo comum ou uma forma de processo especial. Nos
termos do artigo 546º do CPC, os processos especiais aplicam-se aos casos expressamente designados
na lei, sendo que a todos os restantes é aplicável a forma de processo comum. Assim, não encontrando
nos artigos 878º e ss. do CPC ou legislação avulsa, uma forma especial que deva ser seguida por algum
destes pedidos, conclui-se que os 3 seguem uma forma de processo comum e que, por isso, este sub-
requisito encontra-se preenchido.

- Para a apreciação destes pedidos têm de ser competentes os mesmos tribunais a nível
internacional; em razão da matéria e em razão da hierarquia.

Aferição da competência a nível internacional para o pedido 1

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Esta aferição apenas tem de ser feita se existirem elementos de conexão com outras ordens jurídicas
que não a portuguesa. Tendo em conta que C e D têm domicilio em Madrid, justiEica-se fazê-lo.

Nos termos do artigo 59º do CPC, há prevalência do que se encontra estabelecido em regulamentos
europeus e em convenções internacionais. Apenas se estes não forem aplicáveis é que se afere a
competência dos tribunais portugueses através das regras contidas nos artigos 62º e ss. do CPC.

Assim, em 1º lugar, temos de ver se seria aplicável o Regulamento 1215/2012 e, para tal, têm de estar
veriEicados os seus âmbitos de aplicação:
1. Âmbito de Temporal — presume-se que a ação foi proposta depois de 10 de Janeiro de 2015
(artigo 66º+ 81º do Regulamento).
2. Âmbito Material — Nos termos do artigo 1º do regulamento este aplica-se em matéria civil e
comercial. Este âmbito está preenchido pois estamos perante uma matéria civil.
3. Âmbito Espacial (4º+6º) — A regra geral do artigo 4º determina que as pessoas domiciliado num
Estado-Membro devem ser demandadas, nos tribunais desse Estado membro, ou seja, o critério é o
do domicilio do Réu. Não obstante, há regras que prevalecem sobre esta que é aplicável apenas se
não estivermos perante um caso abrangido pelos artigos 24º, 25º e 26º. No artigo 24º encontram-
se as regras de competência exclusiva que valem independentemente de o Réu ser domiciliado
num Estado membro ou do local do seu domicilio. VeriEicamos que é aplicável este artigo porque
estamos no âmbito de um direito real pois está em causa a análise de um direito de propriedade.
Assim, são competentes os tribunais do Estado Membro onde se situa o imóvel (Évora - Portugal).
— São competentes os Tribunais Portugueses.

Aferição da competência a nível internacional para o pedido 2 e 3

Os pedidos feitos contra E (2 e 3) não implicam a análise deste requisito pois não há nenhum elemento
relacionado com outra ordem jurídica que não a portuguesa. Assim, serão também internacionalmente
competentes para julgar estes pedidos os tribunais Portugueses.

Aferição da competência em razão da matéria (esta analise vale para os 3 pedidos)

Nos termos do artigo 64º CPC e do artigo 40º/1 da LOSJ, temos que os tribunais judiciais são
competentes residualmente, ou seja, apenas se não forem competentes os tribunais de uma das outras
ordens jurisdicionais. Mediante a averiguação dos artigos 212º; 221º e 214º da CRP, averiguamos que
não são competentes, respetivamente, os Tribunais Administrativos e Fiscais; o Tribunal
Constitucional e o Tribunal de Contas. Assim, concluímos que residualmente são competentes os
Tribunais Judiciais. No entanto, os tribunais judiciais têm competência genérica ou especializada. Nos
termos do artigo 40º/2 da LOSJ, os tribunais de 1ª instancia (e aqui está subjacente a hierarquia)
podem ser tribunais de Comarca ou Tribunais de Competência territorial alargada. Também os
Tribunais de Comarca são residualmente competentes se não forem competentes os TCTA. Nos termos
do artigo 83º da LOSJ podemos veriEicar que não são competentes nenhum destes tribunais. Assim,
temos de aplicar o artigo 81º para saber em que secção de competência dos tribunais judiciais tem de
ser intentado o pedido. A secção cível também tem competência residual em relação às restantes
e veri\icamos que também tem aplicação neste caso por não se veri\icar nenhum dos casos
previstos para as outras secções de competência.

Aferição da competência em razão da hierarquia (esta analise vale para os 3 pedidos)

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Nos termos do artigo 42º da LOSJ, são competentes, em regra, os tribunais de 1ª instância para se
intentar a ação. Há 2 excepções em que tal não acontece mas estas não se encontram aqui veriEicadas
que implicam a propositura direta da ação em Tribunais superiores: ações propostas contra
magistrados e conElitos de jurisdição e competência (109º e 110º do CPC + 967º CPC).

3º requisito — Requisito da compatibilidade substantiva (555º) — Estes pedidos são compatíveis


pois a apreciação de um não implica a improcedência de outro.

Uma vez concluído que a coligação dos pedidos seria possível temos de aferir qual seria o
tribunal competente.

Aferição da competência em razão do valor e da forma de processo

Nos termos do artigo 66º do CPC, este remete-nos para os artigos da LOSJ que determinam quais as
causas que, pelo seu valor, se inserem na competência da instância central e da instância local. Nos
termos do artigo 41º e 117º/a) da LOSJ, compete à secção cível da instancia central, julgar as ações de
valor superior a 50mil €. Para saber o valor da ação temos de nos socorrer dos artigos 297º e ss. do
CPC. Nos termos do artigo 297º/2, quando há uma cumulação de pedidos, o valor é a quantia
correspondente à soma do valor de todos eles.

Assim, individualmente, temos de saber qual é o valor de cada pedido:

Pedido 1 (que declarem que A e B são proprietários do terreno X) — 302º/1 — 50mil € — como a
ação tem por Eim fazer valer o direito de propriedade, o valor desta determina o valor da causa.
Pedido 2 (Uma indemnização de 20mil€) — 297º/1/1ª parte — 20mil€ pois é quantidade de
dinheiro que se pretende obter.
Pedido 3 (A entrega do terreno) — 302º/1 — 50mil € — como a ação tem por Eim fazer valer o
direito de propriedade, o valor desta determina o valor da causa.

Assim, a cumulação de todos os pedidos resulta na soma de 50mil + 20mil + 50mil = 120mil. Assim,
nos termos da alínea 117º/a), é da competência da secção cível da instancia central.

Aferição da competência em razão do território

Para a aferição dos tribunais competentes em razão do território, temos que aplicar as regras de
competência interna pois já determinamos serem competentes os tribunais portugueses (43º/2 LOSJ).

Pedido 1 (que declarem que A e B são proprietários do terreno X) — 70º/1 CPC — devem ser
propostas no tribunal da situação dos bens as ações referentes a direitos reais sobre imóveis —
Tribunal de Comarca de Évora — secção cível instancia central.
Pedido 2 (Uma indemnização de 20mil€) — 71º/2 — responsabilidade extra-contratual — O
tribunal competente é o correspondente tribunal ao lugar onde o facto ocorreu — a destruição da
plantação (facto ilícito) ocorreu no mesmo local onde estava situado o terreno — Em Évora. —
Tribunal de Comarca de Évora — secção cível instancia central.

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Pedido 3 (A entrega do terreno) — 70º/1 CPC — devem ser propostas no tribunal da situação dos
bens as ações referentes a direitos reais sobre imóveis — Tribunal de Comarca de Évora — secção
cível instancia central.

Neste caso nem precisamos de recorrer ao artigo 81º/2 pois para a apreciação dos diversos pedidos
são territorialmente competentes o mesmo tribunal — Tribunal de Comarca de Évora — secção
cível instancia central nos termos do artigo 77º/1/a) do DL 49/2014.

b)1

Em relação a C, esta não é parte ilegítima se atendermos ao referido no artigo 30º/3 CPC. Isto porque a
relação jurídica material que serve de base para aferir a legitimidade é a que existe tal como é
con\igurada pelo Autor (o legislador optou por adoptar a tese clássica de Barbosa de Magalhães).
Assim, se se veriEicasse que C não era herdeira de F ou/e que tinha sido inibida do exercício das
responsabilidades parentais, o que aconteceria era que C seria absolvida do pedido, não por ser parte
ilegítima (pois isso determinaria apenas a absolvição da instância — 577º/e + 575º) mas sim por o
Autor não ter tido razão em a demandar.

Quanto a D, este é menor. Apesar de ter Personalidade Judiciária (pois tem personalidade jurídica —
11º CPC) não tem capacidade judiciária pois não é susceptível de estar por si em juízo (15º CPC).
Assim, nos termos do artigo 16º do CPC, os incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus
representantes. Nos termos do artigo 124º do CC tendo em conta que C foi inibida do exercício das
capacidades parentais, a tutela é a aplicável subsidiariamente em relação aos poderes paternais — tal
ocorre porque F já morreu.

Assim, a falta de capacidade judiciaria constitui uma excepção dilatória nos termos do artigo 577º/c), o
que determinaria a absolvição da instancia nos termos do artigo 576º/2. As excepções dilatórias são
de conhecimento oEicioso nos termos do artigo 578º. Nos termos do artigo 6º/2 + 28º do CPC, o Juiz
deve promover oEiciosamente, enquanto decorrência do seu dever de Gestão processual, pelo
suprimento da falta de pressupostos processuais susceptíveis de sanação. O juiz apenas convida a
parte a o fazer, Eixando um prazo para que as partes supram a irregularidade da representação.
Entretanto, suspense-se a instância sob pensa de desproteção do autor.

Assim, a sanação decorre mediante a intervenção ou sanação do representante legitimo nos termos do
artigo 27º/1. Nos termos do artigo 27º/2 estes podem optar por ratiEicar e, caso não o façam, Eica sem
efeito todo o processado, correndo novamente os prazos para a pratica dos atos não ratiEicados (isto
considerando que C praticou atos em relação ao menor).

Se ninguém sanar o vicio, intervém o MP nos termos do artigo 21º.

b2)

O que importa aqui é saber se os outros herdeiros (G e H) têm obrigatoriamente de ser chamados a
juízo. Esta é claramente uma questão de litisconsórcio pois está aqui em causa apenas uma única
relação material controvertida.

A regra é a do litisconsórcio voluntário tendo em conta que, caso contrário, estar-se-ia a limitar muito a
liberdade das partes. Esta regra consta do artigo 32º do CPC. Para sabermos se estamos perante um
Litisconsórcio Necessário (33º), temos de ver se se aplica aqui alguma das suas fontes. Não é o caso do

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Litisconsórcio Convencional pois nada se diz no enunciado que foi acordado pelas partes. Também não
se considera que esta seja uma hipótese de litisconsórcio legal pois não parece haver nenhuma
referência na lei a estes casos.

Resta-nos, porém, analisar se esta é uma hipótese de Litisconsórcio Necessário Natural. Este encontra-
se previsto no artigo 33º/2 e 3. Este tipo de Litisconsórcio implica que seja necessária a intervenção de
todos os interessados quando, pela própria natureza da relação jurídica, seja necessário que estejam
presentes em juízo todas as partes da relação material controvertida para que a ação possa produzir o
seu efeito útil normal. Produzir o efeito útil normal signiEica que a decisão possa ser deEinitiva e
exequível ainda que apenas em relação à quota parte dos interessados.

No nosso caso estamos perante uma ação em que se pretende que haja a declaração da propriedade do
terreno. Parece que nesta hipótese, se aponta para a exigência de Litisconsórcio pela natureza da
relação jurídica. Isto porque, apesar de o direito de propriedade poder ser conhecido por quotas
partes, para se poder declarar que a parte de D era propriedade de A e B, tal pressupunha que
houvesse a divisão da coisa comum, o que implicaria sempre uma situação de Litisconsórcio
Necessário. Desta feita, ao haver a divisão da coisa comum apenas em relação a D, as ações
subsequentes que o Eizessem poderiam ser sempre postas em causa pois a divisão seria feita de forma
diferente. — As decisões em causa não poderiam ser exequíveis individualmente.

Concluindo, este seria um caso em que teria havido preterição de Litisconsórcio Necessário.
Consequentemente, estaríamos perante uma excepção dilatória nos termos do 577º/e) que seria
determinaria a absolvição da instancia nos termos do artigo 576º.

Não obstante, a falta deste pressuposto é susceptível de sanação nos termos do artigo 261º/1 e do
316º/1 que determinam que, em caso de preterição de litisconsórcio necessário qualquer uma das
partes pode chamar a juízo o interessado com legitimidade para intervir na causa. Quem aqui teria
interesse em sanar o pressuposto seria o autor pois, caso contrario, o Réu seria absolvido da instancia.

De notar ainda que, perante estes casos, nos termos do 578º, o Tribunal pode conhecer oEiciosamente
destas excepções e, no âmbito do seu dever de gestão processual (6º/2), toma as medidas necessárias
à sanação do litígio — o máximo que pode fazer é convidar a parte a sanar o vicio.

(Nota: Não interessa garantir a unidade de julgados mas apenas que cada decisão pode ser
de\initivamente exequível.)

c)

Segundo o artigo 364º do CC, tendo em conta que se trata de um contrato de compra e venda de um
imóvel, há uma exigência legal de forma escrita do documento (escritura pública), assim sendo não é
permitido que este documento legalmente exigível seja substituído por via de um outro meio de prova
com força probatória inferior.

A escritura publica é um documento autêntico nos termos do artigo 363º/2, pois é emitido por
autoridade pública (supõe-se que dentro dos limites da sua competência) e, por isso, nos termos do
artigo 371º tem uma força probatória plena quanto à prova das declarações dele constantes. Ou seja,
este documento, faz prova plena de que os factos nele contidos foram atestados com base nas
percepções das autoridade ou do oEicial público dele incumbidas.

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Assim, a prova testemunhal tem apenas força probatória bastante (396º) sendo que, por isso, está
sujeita à livre apreciação do tribunal. Conclui-se, então, que a prova testemunhal tem força probatória
inferior à prova de documento autêntico e, por isso, nunca poderia substituir o referido documento.

O próprio artigo 393º/1 declara que é inadmissível a prova testemunhal nos casos em que a declaração
negocial tenha de ser reduzida a escrito.

Note-se ainda que sendo esta uma exigência legal, não poderia ser suplantada nem mesmo pelo juiz no
exercício dos seus poderes inquisitórios e de gestão processual (411º CPC) pois, a principal racio desta
regra, é precisamente a de evitar a insegurança jurídica que seria provocada pela falibilidade da prova
testemunhal. Esta falibilidade é essencialmente provocada pela memória das testemunhas e pelo facto
de, muitas vezes, estas mentirem. Assim, vemos que os poderes do juiz encontram-se limitados por
regras imperativas, as quais estes não podem suplantar.

d)

É pedida uma indemnização a Ernesto por parte de A e B que dizem este ter sido responsável pela
daniEicação da plantação. No entanto o juiz tem dúvidas sobre se a daniEicação não terá sido causada
pelo mau tempo naquela região.

Tendo em conta que há duvidas sobre se o facto se veriEicou ou não, são aplicáveis as regras do artigo
341º e ss. relativas ao ónus da prova. Havendo duvidas, o juiz decide contra aquele a quem impende o
ónus da prova.

Parece-me aqui que se aplica o artigo 342º/1 pois a existência da destruição da plantação por parte de
Ernesto é um facto constitutivo do direito à indemnização de A e de B. Assim, estes últimos é que têm
de provar que E foi o responsável pela destruição da plantação e que tal não se deveu ao tempo. Assim
sendo, se A e B não conseguirem fazer prova deste facto, o Juiz julgará a ação improcedente.

Nota: não considerei que aqui se aplicava aqui o 799º porque não nos encontrávamos no âmbito
contratual dado que o ‘suposto’ contrato de arrendamento de E tinha sido celebrado com C e não com
A e B.

II.

(artigos todos do CC)

Estamos perante um documento particular simples, nos termos do artigo 373º dado que este é um
documento assinado pelas partes e, pelo que se diz na hipótese, não nos parece que tenha sido
autenticado (para tal teria de ter sido atestado pelo notário) ou com reconhecimento (intervenção do
notário para reconhecer a autoria).

Assim sendo, concluímos que este documento é simples tendo apenas a intervenção das partes. A
força probatória deste documento depende de se a outra parte (B) reconhecer a assinatura ou
de impugnar o documento.

Se B impugnar o documento, então aí quem apresenta o documento (A) tem de fazer prova da sua
veracidade nos termos do artigo 374º/2.

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Por outro lado, se B reconhecer que este documento foi por si assinado, então, nos termos do artigo
376º/1, este documento faz prova plena quanto às declarações atribuídas ao seu autor, ou seja,
encontra-se plenamente provado que B declarou ter recebido 5000€ de empréstimo e que já pagou
metade.

No entanto, temos de atentar no facto de que esta é uma declaração confessória pois contém factos
que são desfavoráveis ao declarante. A força probatória da conEissão, ou seja, de que A emprestou a B
5000€ e de que B pagou metade, nos termos do artigo 358º/2, tem a mesma força probatória do
documento que a contém. Como vimos anteriormente essa força probatória vai depender de B ter ou
não reconhecido a sua assinatura.

Partindo do pressuposto que reconheceu, a força probatória da conEissão seria, também, plena. Ou seja,
neste caso, estaria plenamente provado, tanto que B recebeu 5000€ a título de empréstimo
como que já pagou metade. Isto porque, nos termos do artigo 360º + 376º/2, a con\issão é
indivisível e, quem se quiser aproveitar dela, tem de aceitar como verdadeiro todos os factos nela
contidos.

Se A quiser provar que não recebeu nada: Ora, a conEissão é indivisível e tem de ser aceite na
integra. A força probatória plena da conEissão manter-se-á quanto ao facto desfavorável ao conEitente
(B - que lhe foram emprestados os 5000€), podendo a contraparte (A), impugnar e provar, por
qualquer meio, a inexactidão dos factos favoráveis ao conEitente por ele aditados à declaração
confessória. Por isso, conclui-se que, se o autor quiser subtrair-se à consequência de ter de
admitir como verdadeiro o facto favorável ao réu, tem de assumir o ónus da prova de que tal
facto não é exato (360º parte \inal).

Resolução Exame de 27 de Janeiro de 2014

1.

Temos de saber se a ação pode ser proposta nestes termos, ou seja, se A pode intentar a ação contra B e
contra a empresa espanhola em coligação. Este é um caso de coligação porque estão em causa 2
relações material controvertidas diferentes.

Assim, temos de analisar os requisitos da coligação que se encontram nos artigos 36º; 37º e 555º.
Note-se ainda que estes requisitos têm de estar preenchidos cumulativamente.

1º requisito — Conexão entre os pedidos (36º) — Basta que se veriEique uma das 4 situações
previstas neste artigo para que este requisito se encontre preenchido, ou seja, basta que ou haja uma
mesma causa de pedir; que os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou
dependência; que a procedência dos pedidos principais dependa essencialmente da apreciação dos
mesmos factos ou que impliquem a interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de
clausulas de contratos perfeitamente análogas. —> Neste caso este requisito encontra-se preenchido
por ambos pedidos implicarem a apreciação dos mesmos factos, essencialmente relacionados com as
características da cadeira em causa.

2º requisito — Compatibilidade Processual (37º) — Este requisito subdivide-se em 2 sub-requisitos:

- A ambos os pedidos têm de corresponder formas de processo iguais.


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Os processos podem seguir uma forma de processo comum ou uma forma de processo especial. Nos
termos do artigo 546º do CPC, os processos especiais aplicam-se aos casos expressamente designados
na lei, sendo que a todos os restantes é aplicável a forma de processo comum. Assim, não encontrando
nos artigos 878º e ss. do CPC ou legislação avulsa, uma forma especial que deva ser seguida por algum
destes pedidos, conclui-se que ambos seguem uma forma de processo comum e que, por isso, este sub-
requisito encontra-se preenchido.

Nota: Neste caso não é aplicável o DL 269/98 porque no pedido em relação a B pede-se uma
indemnização, o que não é por este abrangido pois apenas se refere a ações declarativas para
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos. Em relação ao pedido feito contra a
empresa espanhola pede-se o cumprimento do contrato mas este não é relativamente a uma obrigação
pecuniária pois pede-se apenas a substituição da cadeira.

- Para a apreciação destes pedidos têm de ser competentes os mesmos tribunais a nível
internacional; em razão da matéria e em razão da hierarquia.

Aferição da competência a nível internacional para o pedido contra B

Esta aferição apenas tem de ser feita se existirem elementos de conexão com outras ordens jurídicas
que não a portuguesa. Tendo em conta que a empresa referida é espanhola e tem sede em Madrid,
justiEica-se fazê-lo.

Nos termos do artigo 59º do CPC, há prevalência do que se encontra estabelecido em regulamentos
europeus e em convenções internacionais. Apenas se estes não forem aplicáveis é que se afere a
competência dos tribunais portugueses através das regras contidas nos artigos 62º e ss. do CPC.

Assim, em 1º lugar, temos de ver se seria aplicável o Regulamento 1215/2012 e, para tal, têm de estar
veriEicados os seus âmbitos de aplicação:
1. Âmbito de Temporal — presume-se que a ação foi proposta depois de 10 de Janeiro de 2015
(artigo 66º+ 81º do Regulamento).
2. Âmbito Material — Nos termos do artigo 1º do regulamento este aplica-se em matéria civil e
comercial. Este âmbito está preenchido pois estamos perante uma matéria civil.
3. Âmbito Espacial (4º+6º) — A regra geral do artigo 4º determina que as pessoas domiciliado num
Estado-Membro devem ser demandadas, nos tribunais desse Estado membro, ou seja, o critério é o
do domicilio do Réu. Não obstante, há regras que prevalecem sobre esta que é aplicável apenas se
não estivermos perante um caso abrangido pelos artigos 24º, 25º e 26º. No artigo 24º encontram-
se as regras de competência exclusiva que valem independentemente de o Réu ser domiciliado
num Estado membro ou do local do seu domicilio. VeriEicamos que não é aplicável este artigo
porque não estamos no âmbito de nenhuma das situações aqui reguladas. O artigo 25º refere-se a
Pactos de Jurisdição mas este não existe neste caso por isso este artigo também não é aplicável. O
artigo 26º também não é aqui igualmente aplicável porque não estamos perante o caso especial
em que se presume que houve um pacto tácito por o Réu não suscitar a incompetência dos
tribunais onde foi proposta a ação. Assim, conclui-se que seriam internacionalmente
competente os tribunais portugueses pois B é domiciliada em Portugal.

Aferição da competência a nível internacional para o pedido contra a Empresa espanhola

Na linha de todo o raciocínio anterior, também estariam preenchidos o âmbito material e temporal do
regulamento. Na averiguação do âmbito espacial, também não haveria aplicação dos artigos 24º; 25º e
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26º pelas mesmas razões acima explicadas. Assim, aplica-se-ia o artigo 4º (regra geral) que nos
remetia para os tribunais do domicilio do Réu — tendo em conta que a empresa espanhola tem sede
em Madrid, seriam competentes os tribunais Espanhóis. Isto implicaria a improcedência dos pedidos
por não se poderem coligar. No entanto, no artigo 7º temos regras de competência especiais que
permitem ao autor optar entre propor a ação no Estado onde o Réu tem o seu domicilio ou no local
permitido pela aplicação destas regras especiais. Nos termos do artigo 7º/1/a), em matéria, contratual,
permite-se que o Réu possa ainda ser demandado perante o tribunal do lugar onde foi ou deva ser
cumprida a obrigação em questão. Pelo enunciado conseguimos aferir que o local de cumprimento do
contrato seria em Portugal porque a cadeira Eicou de ser entregue no escritório de A que se situa no
Porto. Assim, este poderia optar por propor também esta ação em Portugal e não haveria
nenhum problema a nível internacional de coligar com o outro pedido.

Aferição da competência em razão da matéria para o pedido contra B

Nos termos do artigo 64º CPC e do artigo 40º/1 da LOSJ, temos que os tribunais judiciais são
competentes residualmente, ou seja, apenas se não forem competentes os tribunais de uma das outras
ordens jurisdicionais. Mediante a averiguação dos artigos 212º; 221º e 214º da CRP , averiguamos que
não são competentes, respetivamente, os Tribunais Administrativos e Fiscais; o Tribunal
Constitucional e o Tribunal de Contas. Assim, concluímos que residualmente são competentes os
tribunais Judiciais. No entanto, os tribunais judiciais têm competência genérica ou especializada. Nos
termos do artigo 40º/2 da LOSJ, os tribunais de 1ª instancia (e aqui está subjacente a hierarquia)
podem ser tribunais de Comarca ou Tribunais de Competência territorial alargada. Também os
Tribunais de Comarca são residualmente competentes se não forem competentes os TCTA. Nos termos
do artigo 83º da LOSJ podemos veriEicar que não são competentes nenhum destes tribunais. Assim,
temos de aplicar o artigo 81º para saber em que secção de competência dos tribunais judiciais tem de
ser intentado o pedido. A secção cível também tem competência residual em relação às restantes
e veri\icamos que também tem aplicação neste caso por não se veri\icar nenhum dos casos
previstos para as outras secções de competência.

Aferição da competência em razão da matéria para o pedido contra a empresa espanhola

Aplica-se exatamente o disposto anteriormente em relação a este pedido e também são competentes
os tribunais de Comarca na sua secção cível.

Aferição da competência em razão da hierarquia para o pedido contra B

Nos termos do artigo 42º da LOSJ, são competentes, em regra, os tribunais de 1ª instancia para se
intentar a ação. Há 2 excepções em que tal não acontece mas estas não se encontram aqui veriEicadas
que implicam a propositura direta da ação em Tribunais superiores: ações propostas contra
magistrados e conElitos de jurisdição e competência (109º e 110º do CPC + 967º CPC).

Aferição da competência em razão da hierarquia para o pedido contra a empresa espanhola

Aplica-se exatamente o disposto anteriormente em relação a este pedido pois também são
competentes para o julgar os tribunais de 1ª instancia.
Assim, também este requisito da compatibilidade processual se encontra veriEicado.

3º requisito — Requisito da compatibilidade substantiva (555º) — Estes pedidos são compatíveis


pois a apreciação de um não implica a improcedência de outro.

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Uma vez concluído que a coligação dos pedidos seria possível temos de aferir qual seria o
tribunal competente.

Aferição da competência em razão do valor e da forma de processo

Nos termos do artigo 66º do CPC, este remete-nos para os artigos da LOSJ que determinam quais as
causas que, pelo seu valor, se inserem na competência da instância central e da instância local. Nos
termos do artigo 41º e 117º da LOSJ, compete à secção cível da instancia central, julgar as ações de
valor superior a 50mil €. Para saber o valor da ação temos de nos socorrer dos artigos 297º e ss. do
CPC. Nos termos do artigo 297º/2, quando há uma cumulação de pedidos, o valor é a quantia
correspondente à soma do valor de todos eles.

Assim, individualmente sabemos que os valor do pedido contra B, pela aplicação do artigo 297º/1/1ª
parte, é o valor que, pela ação, se pretende obter — 5000€. O valor do pedido contra a Empresa
Espanhola, pela aplicação do artigo 297º/1/2ª parte, o valor da causa é quantia em dinheiro
equivalente a esse beneEicio — valor da cadeira — 10 mil€.

Assim, pela soma do valor de ambos os pedidos temos que o valor da ação é de 10mil+5mil = 15mil €.
Desta feita, é competente a secção cível da instância local nos termos do 130º/1/a) da LOSJ.

Aferição da competência em razão do território

Para a aferição dos tribunais competentes em razão do território, temos que aplicar as regras de
competência interna pois já determinamos serem competentes os tribunais portugueses (43º/2 LOSJ).

Para o pedido contra B, aplicamos o artigo 71º/1 pois, sendo B intermediária da empresa, ainda nos
encontramos no âmbito contratual. Assim sendo, a ação deve ser proposta no tribunal do domicilio do
Réu (Porto) podendo, porém, também optar pelo tribunal do lugar onde a obrigação deveria ser
cumprida pois tanto o Réu como o Autor têm domicilio na mesma área metropolitana (Porto).

Para o pedido contra a empresa espanhola, nos termos do artigo 71º, como esta é uma ação
destinada a exigir o cumprimento de uma obrigação, deve ser proposta no tribunal do domicilio do Réu
(Madrid — local da sede da empresa), podendo o credor ainda optar pelo tribunal do lugar em que a
obrigação devesse ser cumprida (Porto), quando o réu seja pessoa coletiva — é o caso. — Num
pressuposto lógico, como pela aplicação do regulamento concluímos que, para ser possível a coligação,
o Autor teria de escolher propor a ação em Portugal (local onde deveria ter sido cumprida a
Obrigação), aqui o Autor não tem outra hipótese que não seja propor a ação no Porto.

Nesta lógica, seriam competentes os tribunais de Comarca do Porto; 1ª secção cível, com sede no Porto
— 93º/1/a) do DL 49/2014.

2.

O problema que se coloca é o de saber se B é ou não parte legitima. Existem 2 teses clássicas
relativamente à questão da interpretação da relação material controvertida.

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O professor Alberto dos Reis defendia que a relação material controvertida era a que efetivamente
existia. — O seu argumento consistia principalmente na Utilidade Social da Sentença, ou seja, que a
sentença, para produzir efeito útil, tinha de ter como destinatário uma parte legitima.

Por outro lado, o professor Baptista Machado dizia que a relação material controvertida que devia
servir de base para aferir a legitimidade era a relação material controvertida tal como descrita pelo
autor. — Alberto dos Reis, para contrariar esta tese dizia que, se assim fosse, os casos de ilegitimidade
seriam meramente residuais e que tal interpretação implicava entrar no mérito da causa. Baptista
Machado diz que esta é a mera análise de um pressuposto processual e que estes devem ser aferidos
previamente à questão de mérito.

Hoje em dia, esta discussão encontra-se resolvida pelo CPC sendo que o legislador, no artigo 30º/3
adoptou a posição de BM dizendo que, são titulares do interesse relevante para o efeito da
legitimidade os sujeitos da relação material controvertida tal como con\igurada pelo Autor. O
Juiz Eicciona que a relação material controvertida existe e que existe tal como foi narrada pelo Autor na
petição inicial.

Assim, conclui-se que B seria parte legitima na ação mas, se da decisão de mérito da causa resultasse
que esta realmente apenas era intermediária e que tinha utilizado publicidade fornecida pela empresa
(não sendo por isso responsável pelo sucedido) então, haveria absolvição do pedido pelo facto de o
autor não ter razão e não absolvição da instancia com fundamento em ilegitimidade processual
como decorre do artigo 577º/e) + 278º/d).

3.
Nos termos do artigo 25º do CPC, as sociedades são representadas por quem a lei; os estatutos
ou o pacto social designarem. Assim, se A constar dos Estatutos enquanto representante da
sociedade, este tinha legitimidade para ter assinado a procuração. Porém, se fosse Carlos que estivesse
referido nos estatutos como representante, então haveria irregularidade do mandato e, nos termos do
artigo 48º, esta poderia ser oEiciosamente arguida pelo tribunal nos termos do artigo 577º/h e 578º
pois a irregularidade do mandato judicial constitui uma excepção dilatória.
Não obstante, o juiz Eixa o prazo dentro do qual deve ser corrigido o vicio (48º/2). Tal decorre também
do artigo 6º/2 pois o tribunal deve tomar as medidas necessárias à sanação das excepções dilatórias
que o permitem. — Apenas se este vicio não for ratiEicado, é que há absolvição da instancia (576º/2).

Nota: Nos termos do artigo 26º, apenas se a Sociedade não tivesse Personalidade Jurídica (e
consequentemente Personalidade Judiciária) é que o Gerente seria obrigatoriamente o representante
da sociedade. Considerando que na hipótese se diz que a sociedade era parte de uma ação, então esta
teria de ter P.Jurídica e exclui-se esta hipótese.

4.

Considera-se que não Eicou provado o acordo sobre as características da cadeira. Assim sendo, o Juiz
deve julgar contra quem impende o ónus da prova de provar tal acordo se a parte a quem o compete
não o conseguir provar.

As regras do ónus da prova do artigo 342º apenas se aplicam quando não se sabe se o facto ocorreu ou
não, o que é o caso. Parece-nos que aqui se justiEica a aplicação do artigo 342º/1 pois a existência de
um acordo sobre as características da cadeira parece ser um facto constitutivo do direito autor (o
direito à substituição da cadeira — ou seja, o direito ao cumprimento do contrato — 817º + 914º).

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Assim sendo, teria de ser A a fazer prova da existência desse acordo, sob pena de correr o risco de ver a
ação julgada improcedente.

Não parece aqui aplicar-se o artigo 799º pois a presunção de culpa do devedor só se veriEica se se
provar que houve incumprimento do contrato e, para tal, o credor (A) teria de provar obrigatoriamente
que a cadeira não tinha sido recebida com as características acordadas.

5. a)

O documento que declarava que A tinha recebido os 5000€, era um documento, assinado pelo
representante da empresa, no qual este declarava que a empresa tinha recebido essa quantia, a titulo
de sinal e principio de pagamento.

Este é um documento particular simples porque, pelo que se diz na hipótese, não parece que
estejamos perante uma hipótese de ter havido a intervenção de uma autoridade pública, quer para
atestar, para reconhecer ou para exarar esse documento (363º).
Temos que, o declarado nesse documento pela empresa, é um facto que lhe é desfavorável pois, declara
ter recebido parte do preço. — Assim, esta é uma con\issão extrajudicial que, nos termos do 358º
terá a força probatória do documento que a contém. Assim, antes de saber a força probatória da
conEissão contida nos documentos, temos de saber qual a força probatória do documento.

Como já vimos anteriormente, o documento é particular simples. Assim, nos termos do artigo 374º, a
força probatória do documento depende de se a parte contrária reconhece ou não a assinatura.
Se o Eizer, nos termos do artigo 376º, faz-se prova plena quanto às declarações atribuídas ao seu autor.
— Fica plenamente provado que a Empresa declarou ter recebido o dinheiro.

Consequentemente, e concretizando o artigo 358º, também a conEissão (ou seja, o facto de a empresa
ter recebido uma parte do dinheiro) tem força probatória plena. — Sendo que, uma vez que a Ré
(Empresa) queira afastar esta conEissão terá de fazer prova do contrario e ainda de anular a
con\issão com base num fundamento que justiEique a anulação de um NJ. ( 359º + 347º).

Se, porém, nos termos do artigo 374º, a Ré (Empresa) impugnar a assinatura do documento, então aí,
nos termos do numero 2, incumbe à parte que apresentou o documento, a prova da sua
veracidade.

5/b)

O meio judicial ideal para se precaver contra esse risco seria através de uma providência cautelar
antecipatória. As providencias cautelares comuns, nos termos do artigo 362º/3, tem aplicação residual,
o que se veriEica neste caso dado que não estamos perante o âmbito de nenhuma as PC especiEicadas.

Os requisitos para se poder intentar uma providencia cautelar constam do artigo 368º/1: tem de haver
fundado receio de que haja uma lesão grave e diEicilmente reparar do direito e ainda que haja
probabilidade seria da existência do direito. Tendo em conta que o autor tem receio que a cadeira se
deteriore, deixará de poder fazer prova de que a cadeira não contém as características acordadas. Tal
poderá ter repercussões a nível da satisfação do seu direito pois poderá implicar que este não consiga
que a cadeira seja substituída, ou seja, que o contrato seja devidamente cumprido.

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Assim, justiEica-se que seja pedido uma providência cautelar antecipatória cujo conteúdo é equivalente
à decisão da ação principal. Assim, com base na analise dos requisitos e considerando o prejuízo que se
pode causar à parte contraria (368º/2), se o Tribunal decidir decretar a providência, nos termos do
artigo 374º, se essa vier a ser considerada justiEicada ou vier a caducar (por não se intentar a ação no
prazo de 30 dias — 373º/1/a)), então a outra parte será condenada a responder pelos danos
culposamente causados ao requerido que não tenha agido com a prudência normal.

Assim, uma vez decretada a providência, esta, sendo antecipatória e tendo um conteúdo equivalente ao
da ação principal, implica que, através do seu decretamento, que a Empresa seja obrigada a substituir a
cadeira.

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ANEXO:

COMPETÊNCIA INTERNA — ESQUEMA


(Código de Processo Civil de 2013, artigos 60º e 64º e segs. e Lei nº 62/2013, de 16 de Agosto, rect. pela
Declaração de RectiFicação nº 42/2013, de 24 de Outubro – LOSJ)

I) Critérios de repartição da competência, na ordem interna, segundo artigos 60º CPC, 37º LOSJ
(falta forma de processo, ver adiante)
✓ Matéria
✓ Hierarquia
✓ Valor
✓ Território

1. Matéria – CPC, 64º, 65º; LOSJ, 37º, 40º, 80º, 81º, 83º, 111º segs., 117º segs., 130º

- As Ordens de Tribunais; Constituição, artigo 209º e segs., artigo 221º e segs.:


‣ Tribunais Judiciais – 31º segs. LOSJ – Tribunais comuns ou de competência residual, em
conjunto – Constituição, 211º, CPC, 64º, LOSJ, 40º, nº 1
‣ Tribunais Administrativos e Fiscais – Constituição, 212º e Estatuto dos Tribunais
Administrativos e Fiscais (Lei nº 13/2002, de 19 de Fevereiro) – lista positiva de
competências
‣ Tribunal Constitucional – Constituição, 221º e segs. e Lei nº 28/82, de 15 de Novembro –
lista positiva de competências
‣ Tribunal de Contas – Constituição, 214º; Lei nº 98/97, 26 de Agosto, lista positiva de
competências

- Tribunais Militares – prevista a extinção com a Revisão Constitucional de 1997


– Lei Constitucional nº 1/97, artigo 197º; extinção efectivada em 2003 – cfr.
209º nº 4, 213º Constituição

Dentro dos Tribunais Judiciais: LOSJ, 40º, CPC 60º, nº 1:

- Os Tribunais de 1ª Instância são, em regra, os tribunais de comarca (79º); mas há tribunais de


competência territorial alargada a todo o território ou a várias comarcas – cfr. anexo III)

- Os tribunais de comarca têm competência residual (80º, nº 1) – o que releva no confronto com os
Tribunais de competência territorial alargada, que são tribunais de competência especializada (lista
positiva de competências) – 40º, nº 2, 111º, segs.

- Os tribunais de comarca, em razão da matéria, podem ser (80º, nº 2)


- de competência genérica (ou residual)
- de competência especializada (lista positiva de competências)

- e desdobram-se em:
- Instâncias Centrais, com competência especializada (MAS a cível tem competência residual) –
lista do nº 2 do artigo 81º LOSJ
- Instâncias Locais, com secções de competência genérica ou, se estas forem desdobradas, com
secções de competência especializada cível, criminal ou de pequena criminalidade – 81º, nºs 1,

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3. NOTA: as “Secções de proximidade” não são propriamente tribunais, com competência
jurisdicional, cfr. artigo 130º, nº 4

- O critério da matéria tem portanto de ser cruzado com a área de jurisdição:


- Há tribunais de comarca de competência genérica nas instâncias (“Secções”) locais (130º, nº
1). Nas (“Secções”) centrais, os tribunais de competência “genérica” (residual, do ponto de vista
da matéria) são os Cíveis (117º)
- Há tribunais de comarca de competência especializada nas instâncias (“Secções”) centrais
(117º e segs.) e pode haver nas locais (cíveis, criminais, de pequena criminalidade, 130º)
- Os tribunais de competência territorial alargada são tribunais de competência especializada
(40º, nº 2, 111º e segs.)

NOTA: a distinção de competências entre as Instâncias Centrais e Locais é feita ainda em função do
valor e da forma de processo. Estes critérios têm que ser cruzados com o da matéria; e para cada um a
lei deEine a área de jurisdição (nos mapas anexos ao Decreto-Lei nº 49/2014, que regulamenta a LOSJ).

Assim, em breve síntese explicativa:

1. Há 23 comarcas; em cada comarca há Instâncias Centrais e Instâncias Locais. Cada uma delas tem a
área geográEica de jurisdição que está no projecto de Decreto-Lei de regulamentação da LOSJ.

2. A diferença entre as instâncias locais e centrais, no que respeita aos processos cíveis, parece-me
ser esta: as instâncias centrais julgam causas de maior valor (mais de 50 mil euros); daí para baixo,
são competentes as instâncias locais.
‣ A diEiculdade resulta de se reduzir a competência das Secções Cíveis das instâncias centrais às
acções de processo comum; porque assim já não é só o valor que interessa, mas também a
forma de processo.

Então: dentro do processo comum, as Secções Cíveis das instâncias centrais julgam
causas de valor superior a 50 mil euros.
As causas cíveis a que corresponda processo especial, ou processo comum cujo
valor não ultrapasse os 50 mil euros, são da competência das Secções de
Competência Genérica das instâncias locais.

3. Do ponto de vista da matéria: nas Instâncias centrais, poderão existir os tribunais de competência
especializada da lista do artigo 81º, nº 2, no todo ou em parte. Em qualquer caso, há-de haver um
tribunal que julga aquilo que não cabe na competência dos demais: é o tribunal cível.
‣ Portanto, mas instâncias centrais, é o que há: tribunais de competência especializada, entre
os quais, um é o cível.
‣ Nas instâncias locais: por princípio, as instâncias locais são de competência genérica. Mas
podem ser desdobrados em cíveis, criminais e de pequena criminalidade.
‣ As instâncias de proximidade não interessam, para efeitos de repartição da competência.
4. Coexistindo com este sistema, há os tais tribunais de competência especializada alargada; já hoje
existem, só não se chamam assim. Alargada porque abrangem várias comarcas, até há uns que
abrangem todo o território nacional. São tribunais de competência especializada iguais aos outros,
só têm é uma competência territorial mais vasta. E dentro daquelas matérias, não interessa nem
valor nem forma de processo.

2. Hieraquia. – Código de Processo Civil, artigos 67º a 69º; LOSJ, artigo 42º

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Os tribunais judiciais encontram-se hierarquicamente organizados (Supremo Tribunal de Justiça/
Relações/1ª Instância, em regra Tribunais de Comarca).
O principal objectivo dessa hierarquia é o de permitir a interposição de recursos. Mas a inserção
hierárquica de um tribunal tem relevado para outros efeitos. Assim:

a) – Recursos – 67º a 69º CPC, 42º LOSJ

‣ Nota: o recurso deve ser interposto para o tribunal imediatamente acima. Só nos casos
expressamente previstos é que pode haver recurso per saltum. Ex:678º.

b) – ConFlitos de competência e de jurisdição – 109º segs. CPC .

ConElitos de competência (entre tribunais judiciais): já não é o tribunal imediatamente acima a ambos
os tribunais em conElito que é competente para os resolver, mas sim o seu Presidente (110º, nº 2);
Supremo Tribunal de Justiça: 62º, nº 3 LOSJ; Relações: artigo 76º, nº 2.

ConElitos de jurisdição: ou são resolvidos pelo Tribunal dos ConElitos (artigo 110º e Decreto n.º 19 243,
de 16 de Janeiro de 1931 – (Título II - “Tribunal dos ConElitos”, artigos 59.º a 108.º), Decreto n.º 19 438,
de 11 de Março de 1931 (altera os artigos 86.º e 87.º) e Decreto-Lei n.º 23 185, de 30 de Outubro de
1933 – (artigo 17.º, sobre a composição do Tribunal dos ConElitos), ou pelo Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça, artigo 62º, nº 2, LOSJ)

c) – Acções de indemnização propostas contra magistrados, por actos praticados no exercício das suas
funções

É competente o tribunal imediatamente acima do tribunal onde exerce funções o magistrado (LOSJ,
artigos 55º, c) e 73º, b)).

- Processo especial: artigos 967º e segs. CPC.

3. Valor. Artigos 66º CPC, 41º, 117º, 130º LOSJ

‣ Alçada: montante até ao qual o tribunal julga sem recurso ordinário;


‣ Competência delimitada pelo valor da causa: montante até ao qual o tribunal pode julgar.

O valor releva no âmbito das acções declarativas cíveis de processo comum, para delimitar a
competência entre as secções cíveis das instâncias centrais e as secções de competência genérica (ou
secções cíveis, se tiver havido desdobramento) das instâncias locais (artigo 41º LOSJ).

As instâncias centrais julgam as acções declarativas cíveis de processo comum de valor superior a €
50.000,00; (artigo 117º, nº 1. a)); as instâncias locais (secções de de competência genérica ou secções
cíveis) julgam as demais (portanto, acções declarativas cíveis de processo especial e acções
declarativas cíveis de processo comum, de valor até € 50.000,00. (artigo 130º, nº 1 LOSJ)

4. Forma de processo (41º e130º, nº 1 LOSJ)

Esta delimitação obriga a considerar que a LOSJ utilizou ainda, para distribuir a competência dentro
dos tribunais de 1º Instância, o critério da forma de processo.
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A forma de processo releva para delimitar a competência entre as secções cíveis das instâncias centrais
e as secções de competência genérica (ou secções cíveis, se tiver havido desdobramento) das
instâncias locais (artigos 41º e 130º, nº 1, LOSJ), como se viu.
Tem pois de ser acrescentado à lista dos artigos 37º LOSJ e 60º CPC.

5. Território (CPC, artigo 70º e segs., LOSJ, 43º)

a) Há que conjugar dois tipos de regras:

‣ As que dividem o território nacional em circunscrições, deEinindo a área geográEica em que


cada tribunal exercer jurisdição – LOSJ, 79º segs., 111º segs., anexos da LOSJ e do Decreto-Lei
nº 49/2014.
‣ As que determinam qual é o elemento relevante para determinação da competência territorial
(CPC, 70º e segs.)
- Será competente territorialmente o tribunal em cuja área de jurisdição se localizar o
elemento relevante (domicílio do réu, local do cumprimento, etc.)

b) Código de Processo Civil:

‣ regras gerais: 80º (pessoas singulares), 81º (entidades colectivas)


‣ regras especiais: 70º e segs.; letra e razão de ser dos respectivos preceitos;
‣ pluralidade de réus e/ou de pedidos: 82º

II) Pactos de competência (95º CPC)


Não são válidas alterações convencionais das regras de competência em razão da matéria, da
hierarquia, do valor, do território nos casos a que se refere o artigo 104º e da forma de processo
(acrescenta-se)

III) Extensões de competência 91º, 92º, 93º CPC

IV) Aplicação no tempo LOSJ, 38º, nº 2 e 61º CPC

V) Incompetência

‣ 2 modalidades.
- incompetência absoluta 96º segs. CPC, mais grave
- incompetência relativa 102º segs. Código de Processo Civil

➡ Comparação de regimes:

✤ Causas

- incompetência absoluta - 96º CPC


- novidades: preterição de tribunal arbitral (era excepção dilatória autónoma) e
violação de pacto privativo de jurisdição (estava incluído na incompetência
relativa, mas com a consequência da absolvição da instância)

- incompetência relativa – 102º CPC


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- Lacuna: deve incluir também a incompetência em razão da forma de processo,
aplicando o regime da incompetência em razão do valor.

✤ Legitimidade para suscitar (o réu? ambas as partes? de conhecimento oEicioso?)

- incompetência absoluta – 97º, nº 1, 578º – de conhecimento oEicioso e por ambas as


partes. Excepções: violação de pacto privativo de jurisdição e preterição de tribunal
arbitral voluntário, porque estão em causa convenções das partes

- incompetência relativa – 103º, 104º: só pode ser arguida pelo réu (103º), salvo nos
casos do artigo 104º (oEiciosamente), aos quais se deve acrescentar a incompetência
em razão da forma de processo.

✤ Momento até ao qual pode ser suscitada

- incompetência absoluta – 97º, nº 1 (até ao trânsito em julgado da decisão sobre o


fundo da causa), nº 2 (até ao despacho saneador: aplica-se a incompetência em razão
da matéria que ocorra no âmbito dos tribunais judiciais)

- incompetência relativa – 103º – na contestação (réu); 104º saneador ou despacho


previsto no 104º, nº 3 (oEiciosamente)

✤ Momento do julgamento da incompetência

- incompetência absoluta – liminar (590º, nº 1 e 99º, nº 1), se houver despacho


liminar; imediatamente, no saneador ou logo que arguida, se depois (98º), sentença
(608º, nº 1);

- incompetência relativa – até saneador, ou despacho previsto no 104º, nº 3. Razão de


ser desta limitação: o efeito da incompetência é o envio para o tribunal competente,
e é este tribunal que deve elaborar o saneador.

✤ Efeito:

- incompetência absoluta: indeferimento liminar (99º) ou absolvição da instância


(99º, 576º, 577º, 278º);

- incompetência relativa (105º, nº 3): remessa do processo para o tribunal


competente.

✤ Valor de caso julgado da decisão:

- incompetência absoluta – 100º (só no processo) e 101º (Eixação deEinitiva do


tribunal competente nestes casos, apenas)

- incompetência relativa – 105º, nº 2 (Eixação deEinitiva do tribunal competente)

✤ Impugnação

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- incompetência absoluta – recurso até ao Supremo Tribunal de Justiça,
independentemente do valor da causa – 629º, nº 2, a)

- incompetência relativa – não se impugna por via de recurso, mas por reclamação
para o Presidente do tribunal superior (105º, nº 4 e 652º, nº 5, e)).

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