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1. João, na sequência de uma ação inspetiva, foi no dia 19 de dezembro de 2014, e sem que
tenha existido audiência prévia, notificado de uma liquidação adicional de IRS, relativa ao
ano de 2009, no valor de 100.000€. No relatório de inspeção tributária que acompanhava a
liquidação estavam em falta as folhas 7,8,9 e 10 onde, aparentemente, deveria constar a
fundamentação do ato.
Indignado, João dirigiu.se ao seu advogado de modo a que este o aconselhasse sobre a
estratégia processual a seguir.
Após a entrega da declaração dos contribuintes, a administração tributária inicia um processo de
inspeção tributária que tem como objetivo confirmar essa informação declarada.
O procedimento de inspeção tributária inicia-se com uma declaração formal, que indica logo qual o
tipo de procedimento está em causa, ou seja, se é uma procedimento interno ou externo (art. 13º
RCPIT). Estamos perante um procedimento de inspeção tributária interno se... e externo se...
De acordo com o art. 49º/1 RCPIT, o procedimento externo de inspeção deve ser notificado ao sujeito
passivo com uma antecedência mínima de 5 dias relativamente ao seu início, sendo que essa
notificação efetua-se por carta-aviso elaborada de acordo com o modelo aprovado... (art. 49º/2
RCPIT). Essa carta-avisa deve ainda conter os direitos, deveres e garantias do sujeito passivo (art.
49º/3 RCPIT).
Assumindo que tudo o que eu referi anteriormente se sucedeu, seguem-se os atos de inspeção
propriamente ditos, que se consideram concluídos na data da notificação da nota de diligência...(art.
61º/1 RCPIT), que tem como função principal informar o contribuinte que cessaram os deveres de
colaboração na realização dos atos de inspeção.
Casos os atos de inspeção possam originar atos tributários desfavoráveis à entidade inspecionada esta
deve ser notificada do projeto de conclusões do relatório, com identificação desses atos e a sua
fundamentação (art. 60º RCPIT), para que tenha a possibilidade de exercer o seu direito de audição
prévia (princípio da participação- art. 60º LGT), o que neste caso não se verificou.
Para além disso, a lei exige que no relatório da referida inspeção, deve obrigatoriamente constar a
fundamentação do ato – o que também não acontece no caso em apreço.
Vícios decorrentes da falta de notificação, de audiência prévia e da fundamentação (nulidade,
anulabilidade, irregularidade)– não demos
1.1 Suponha que a Direção de Finanças competente, ao ter verificado que faltavam as páginas 7,
8, 9 e 10 no relatório de inspeção tributária notificado a João, resolveu notificá-lo das páginas
em falta.
Ao ler as referidas páginas o advogado de João apercebe-se que a liquidação tem como
fundamento mais-valias obtidas numa venda de participações sociais que João efetuou, no ano de
2009, e que não declarou no anexo G da Declaração Mod. 3 de IRS.
Fazendo nova apreciação do caso, o advogado de João concluiu que os fundamentos para obter a
anulação do ato de liquidação somente poderiam atender a questões “exteriores” ao ato.
Assim, o advogado de João considerou que o ato de liquidação era anulável por não ter existido
audição prévia e porque a dívida tributária estava prescrita.
Concorda com os argumentos do advogado de João?
Prescrição da dívida tributária:
Relativamente à prescrição, verificamos, de acordo com o art. 48º LGT, que as dívidas tributárias
prescrevem no prazo de 8 anos, prazo esse que começa a contar em momentos diferentes, tendo
em conta se estamos perante um imposto periódico ou de obrigação única. Assim, como o IRS é
um imposto periódico, uma vez que o facto tributário se vai gerando ao longo do tempo, o prazo
começa a contar a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário, que é 2009.
Podemos então concluir que o prazo de prescrição termina no dia 1 de janeiro de 2018, logo a
dívida não estava ainda prescrita.
No entanto, podemos afirmar que, de acordo com o art. 45º LGT, o prazo de caducidade do direito
de liquidação dos tributos é de 4 anos que, mais uma vez, como está em causa um imposto
periódico (IRS), começa a contar a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário
(2009), logo o direito de liquidar este imposto caducou no dia 1 de janeiro de 2014,
1.2. O advogado de João apresentou, em 20 de janeiro de 2015, reclamação graciosa do ato de
liquidação em causa.
a) A reclamação foi apresentada tempestivamente?
A liquidação adicional de imposto é um ato administrativo individual e concreto, que exige o
pagamento de determinado imposto, referindo qual o imposto em causa, o valor a pagar e o prazo
para o fazer (que, normalmente são 30 dias). A notificação é o ato pelo qual a administração
tributária informa o contribuinte, de forma clara, da liquidação a que este está obrigado, sendo que
esta notificação pode ser feita de 3 formas: carta registada dos CTT, via portal das finanças ou por
notificação pessoal.
Perante uma liquidação adicional de imposto, o contribuinte tem 2 opções: intenta uma
impugnação judicial junto do tribunal ou intenta uma reclamação graciosa junto da AT. Importa
notar que não pode ser deduzida reclamação graciosa quando tiver sido apresentada impugnação
judicial com o mesmo fundamento (art. 68º/2 CPPT), no entanto se for intentada uma reclamação
graciosa e esta for indeferida (de forma expressa ou tácita) o contribuinte pode depois recorrer aos
tribunais. Podemos ainda afirmar que, de acordo com o pp da impugnação unitária o ato recorrível
é o ato de liquidação e, nessa impugnação, pode-se invocar vícios e ilegalidades dos atos
interlocutórios (art. 54º CPPT).
De acordo com o art. 70º/1 CPPT, a reclamação graciosa pode ser deduzida com os mesmos
fundamentos previstos para a impugnação judicial e será apresentada no prazo de 120 dias
contados a partir dos factos previstos no art. 102º/1 CPPT. Ao analisar a alínea a) do art. 102º/1
CPPT, verificamos que o prazo começa a contar a partir do termo do prazo..., no entanto, neste
caso não sabemos qual era o prazo que o João tinha para pagar voluntariamente a liquidação e,
portanto, vamos considerar que o prazo de 120 dias começa a contar no dia 19 de dezembro de
2014 (data da notificação da liquidação adicional de imposto). Assim, no dia 20 de janeiro de
2015, o advogado do João ainda podia intentar uma reclamação graciosa pois o prazo de 120 dias
ainda não tinha terminado (termina no dai 19 de abril de 2015).
b) Imagine que, em 5 de abril de 2015, não tendo ainda recebido qualquer resposta, o advogado de
João entende ser preferível apresentar, de imediato, uma impugnação judicial. É possível?
Uma reclamação graciosa pode ser objeto de indeferimento expresso ou tácito, sendo que se
presume haver indeferimento tácito se a AT não se pronunciar no prazo de 4 meses (art. 57º/1 e 5
LGT e art. 106º CPPT). Assim, neste caso como a reclamação graciosa foi apresentada no dia 20
de janeiro de 2015, só se poderia presumir o indeferimento tácito no dia 20 de maio de 2015, logo
o advogado do João não poder apresentar nessa data a impugnação judicial.
Se houvesse indeferimento tácito, o contribuinte tem um prazo de 3 meses para intentar uma
impugnação judicial, prazo esse que começa a contar a partir da data de formação da presunção de
indeferimento tácito (art. 102º/1 al. d CPPT) ou, em alternativa, pode intentar um recurso
hierárquico, no prazo de 30 dias, prazo esse que começa a contar também na data de formação de
presunção de indeferimento tácito (art. 66º/2 CPPT).
1.3. Imagine que a impugnação judicial apresentada pelo advogado de João, com os fundamentos
constantes em II., foi considerada inteiramente procedente sendo, ainda, a Fazenda Pública
condenada ao pagamento de juros indemnizatórios.
Suponha, ainda, que o Tribunal Central Administrativo confirmou a decisão proferida em
primeira instância. Comente.
No processo declarativo pretende-se obter a declaração de ilegalidade da liquidação adicional de
imposto, ou seja, o pedido principal neste processo é a anulação da liquidação adicional de
imposto, sendo que este processo pode ser intentado junto da AT (se se tratar de uma RG) ou
junto dos tribunais (se tiver em causa uma impugnação judicial, como é o caso).
Enquanto pender o processo declarativo, o processo executivo continua, isto acontece uma vez
que a AT se rege por critérios de legalidade (art. 55º LGT), logo a lei presume que a liquidação
adicional de imposto é legal e, portanto, o contribuinte tem 3 opções: paga o imposto
supostamente devido, presta garantia (aqui a lei encontrou um equilíbrio, pois o contribuinte não
tem de pagar o imposto, pode apenas prestar garantia) ou pede dispensa de garantia.
Sendo a impugnação judicial considerada inteiramente procedente, quer isto dizer que o juiz
declarou a liquidação adicional de imposto ilegal e, portanto, anulou a mesma. Assim, nessa
sentença, para além de anular a liquidação adicional de imposto, o juiz determina a devolução do
montante já pago e o pagamento de juros indemnizatórios, pois tal como verificamos no art. 43º/1
LGT...sendo que cabe aos tribunais determinar se houve, efetivamente, um erro imputável aos
serviços.
Verificamos ainda que o TCA confirmou a decisão proferida em primeira instância. Ora, por
regra, as ações são intentadas nos tribunais de 1º instância, que são os tribunais administrativos e
fiscais, cabendo recurso para o TCA ou para o STA, mas só há um grau de recurso ordinário e,
portanto, dependendo da discussão em causa, o recurso é feito no TCA ou no STA. Assim, se o
recurso se fundamentar exclusivamente em matéria de facto, este deve ser interposto no TCA, se
se fundamentar em matéria de direito e a decisão proferida for de mérito o recurso deve ser feito
no STA (art. 280º CPPT)
No cumprimento do dever de colaboração (art. 59º LGT), a AT tem o dever de responder a todas as
perguntas que o sujeito passivo coloque, no entanto, a segurança do contribuinte só é alcançada se a
resposta dada pela AT a vincular. Assim, criou-se o mecanismo de pedido de informação vinculativa,
regulado no art. 68º LGT
De acordo com o art. 68º/1, as informações vinculativas sobre a situação tributária dos sujeitos
passivos são requeridas ao dirigente máximo do serviço, por via eletrónica e segundo o modelo...e a
resposta é notificada no prazo máximo de 150 dias (art. 68º/4 LGT). Caso o prazo referido não seja
cumprido...(art. 68º/18 LGT).
Importa referir que as informações vinculativas não podem compreender...(art. 68º/3 LGT), que é o
que se verifica neste caso e, portanto, Alberta não podia fazer este pedido e informação vinculativa.
O pedido de informação vinculativa não se revelou satisfatório devido à incapacidade da AT
responder às dúvidas dos contribuintes em tempo útil e, por esse motivo, ... (art. 68º/2 LGT).
ART. 68º/14, ou seja, a AT está vinculada à resposta que deu, no entanto, se o contribuinte não
concordar com a mesma, pode recorrer aos tribunais e se estes discordarem da AT, a AT dem o dever
de obediência.
c) Haveria algum modo de reação que permitisse a Alberta ver a liquidação em causa vir a ser
apreciada por um Tribunal?
Perante uma liquidação adicional de imposto, o contribuinte tem 2 opções: intentar uma impugnação
judicial junto dos tribunais ou intentar uma reclamação graciosa junto da AT, sendo que estas vias são
alternativas, pois não se pode...(art. 68º/2 CPPT).
De acordo com o art. 102º/1 al.a CPPT a impugnação judicial deve ser apresentada no prazo de 3
meses contados a partir do termo do prazo para pagamento voluntário...que era no dia 6 de março de
2014, logo alberta podia intentar uma impugnação judicial até ao dia 6 de junho de 2014.
VER RESPOSTA COMPLETA NOUTRAS PERGUNTAS
d) Suponha, agora, que a questão foi discutida no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto que
decidiu que, embora verificados todos os factos alegados pela Autoridade Tributária e
Aduaneira, os fundamentos de direito por ela apresentados não podiam sustentar o ato de
liquidação. O Tribunal condenou, ainda, a Fazenda Pública ao pagamento de juros
compensatórios.
Quais as consequências desta sentença? (2 Val)
No processo declarativo pretende-se obter uma declaração de ilegalidade da liquidação adicional
de imposto, ou seja, o pedido principal é a anulação da liquidação adicional de imposto. Assim,
uma vez que o tribunal administrativo e fiscal do porto decidiu que os fundamentos de direito não
podiam sustentar a liquidação, a consequência da sentença é a anulação da liquidação adicional de
imposto e, para além disso, o juiz determina ainda a devolução do montante já pago e ainda
determina que a AT pague juros indemnizatórios. podemos também verificar no art. 100º LGT...
3. Suponha que, na sequência de uma ação inspetiva, Gabriel foi hoje notificado de um relatório
de inspeção tributária e de uma liquidação adicional de IRS, relativa ao ano de 2010, no valor
de € 500.000. O prazo de pagamento voluntário termina no dia 11 de dezembro 2015.
(Estamos em 2015)
Gabriel está indignado, pois, embora tenha sido notificado do início da ação inspetiva, nunca teve
oportunidade de se pronunciar sobre o sentido da decisão da Administração fiscal, até ao
momento em que recebeu o relatório final.
Para além disso, o relatório que deu origem à liquidação de 2010 considerava que Gabriel tinha
adquirido rendimentos do trabalho de € 1.000.000, quando, na realidade, os rendimentos em causa
resultavam do recebimento de dividendos de uma sociedade de que Gabriel é sócio
Considerando que o montante liquidado era totalmente absurdo, Gabriel dirigiu-se a um consultor
fiscal, para que este o aconselhasse sobre a estratégia processual a seguir
a) O consultor fiscal começou por referir que, nesta fase, só poderia apresentar uma impugnação
administrativa, pois, por um lado, não tinha sido indicado qualquer meio de defesa na
notificação e, por outro lado, salvo situações excecionais, o recurso à via judicial está vedado
enquanto “primeira linha de defesa”. Concorda com a afirmação? Caso se encontrasse na
situação do consultor fiscal, que via(s) de reação referiria e que prazo(s) indicaria?
DIZER O QUE DIGO SEMPRE
O direito de defesa não precisa de estar vertido na notificação da LA, é uma garantia
constitucional do contribuinte poder defender-se de qualquer ato que o Estado faça que interfere
na sua esfera jurídica.
Relativamente à posição do consultor que o recurso à via judicial está vedado enquanto primeira
linha de defesa importa mencionar que essa afirmação é falsa – na maior parte dos casos, perante
uma LA o contribuinte pode intentar uma Impugnação Judicial sem necessidade de intentar uma
prévia e necessária reclamação graciosa.
c) Imagine que, no dia 11 de janeiro de 2016, foi apresentada reclamação graciosa da liquidação
em causa. Contudo, em 11 de março de 2016, não existia, ainda, qualquer decisão. Cansado
de esperar, Gabriel entrou em contacto com o consultor fiscal que lhe disse que não havia
nada a fazer, sendo necessário, em qualquer caso, esperar por uma decisão expressa, para ser
possível reagir. Concorda?
DIZER O QUE DIGO SEMPRE
d) Suponha agora que a liquidação foi impugnada junto de um Tribunal Administrativo e Fiscal
anulou a liquidação em causa com fundamento em violação do direito de audição prévia e
condenou a Fazenda Pública à restituição do imposto indevidamente pago bem como ao
pagamento de juros indemnizatórios.
Após um recurso interposto pela Fazenda Pública, o Tribunal Central Administrativo
confirmou a decisão do Tribunal de 1.ª instância
Teria Gabriel direito a juros indemnizatórios? Podia a Fazenda Pública recorrer?
(2,5 val)
De acordo com o art. 43º/1 são devidos juros indemnizatórios quando se determine, em
impugnação judicial (como é o caso) ou me rg, que houve erro imputável aos serviços de que
resulte pagamento da dívida tributária em montante superior ao legalmente devido, sendo que
é o tribunal que decide se houve ou não, erro imputável aos serviços. Assim, há direito a juros
indemnizatórios quando o contribuinte paga a liquidação adicional de imposto, contesta em
processo declarativo e ganha esse processo. Assim, nessa sentença o juiz determina a
anulação da liquidação adicional de imposto, a devolução do montante já pago e o
pagamento, por parte da AT, de juros indemnizatórios. Relativamente a isso podemos ainda
referir que, de acordo com o art. 100º/1 LGT...
Por regra, as ações são intentadas nos tribunais de 1º instância, que são os tribunais
administrativos e fiscais, sendo que há só um grau de recurso ordinário, ou seja, dependendo
da discussão em causa, pode haver recurso para o TCA ou para o STA. Se...(art. 280º CPPT).
Para além disso, verificmaos ainda no art. 280º CPPT que o representante da fazenda pública
pode interpor recurso, e portanto, concluímos que ...