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1.

Observadas as situações concretas abaixo descritas, identifique o(s)


instrumento(s) processual(is) judicial(is) adequado(s) para a defesa dos
interesses do sujeito passivo da obrigação tributária, considerando as ações
que são estudadas neste Seminário III:
a) Exercício da competência tributária pelo ente político com a edição e
publicação da regra-matriz de incidência tributária, mas antes da constituição
da obrigação tributária – mandado de segurança ou ação declaratória.
b) Constituição da obrigação tributária sem que tenha havido a intimação do
sujeito passivo desse ato constitutivo da dívida – ação declaratória
c) Dúvida a respeito do sujeito ativo da obrigação tributária – execução de pré
executividade ou ação declaratória
d) Inscrição do crédito tributário em dívida ativa – ação anulatória
e) Constituição da obrigação tributária com a intimação do sujeito passivo
desse ato constitutivo da dívida – ação anulatória
f) Ajuizamento de execução fiscal cobrando crédito tributário prescrito –
execução de pré executividade ou ação anulatória
g) O sujeito ativo da obrigação tributária está condicionando o pagamento do
tributo ao pagamento de uma multa instituída por instrução normativa –
Consignação
h) Intimação de penhora de bens nos autos de execução fiscal – Embargos de
execução, impugnação ou consignação.
2. Quanto à ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária,
pergunta-se:
a) Quando nasce o interesse processual para sua propositura?
Segundo o professor Rodrigo Dalla Pria, “A ação declaratória de inexistência de relação
jurídico tributária se presta exatamente a esse papel, isto é, o de instrumento ordinário
de veiculação de pretensão especificamente destinada a obstar o eventual-provável-
iminente desencadeamento de atividade fiscal, e a consequente constituição do crédito
tributário, em situações em que a pretensão fiscal se mostre ilegítima, tendo lugar,
portanto, sempre que houver efetivo risco de exigência ilegítima de tributo que não haja
ainda sido objeto de constituição, inclusive no que tange a fatos geradores anteriores à
propositura da ação.” 1
Diante disso, o interesse de proposição de ação declaratória de inexistência de relação
jurídica tributária nasce quando o contribuinte deseja que seja declarada a inexistência
de relação jurídico-tributária diante do fisco. A fim de evitar a constituição do crédito
tributário, até que seja esclarecida a isenção, imunidade e/ou não incidência, para que
seja declarada a inexistência da relação jurídico tributária.
b) O manejo do referido instrumento processual em momento anterior à
constituição do crédito configura questionamento de “lei em tese”? Aponte o
que é questionamento de “lei em tese”.
Questiona-se a ocorrência ou não do fato gerador do crédito tributário, não a “lei em
tese”. Um fato acarretou em incerteza ao sujeito passivo com relação as suas
obrigações tributárias, vez que não ocorreu a constituição do crédito tributário, ocorreu
apenas uma relação danosa ao contribuinte. Neste caso, não há questionamento de “lei
em tese” o manejo do referido instrumento processual em momento anterior a
constituição do crédito.
c) Há interesse jurídico na sua propositura após a expedição do ato
constitutivo do crédito tributário? Em caso afirmativo, quais seriam os efeitos
da referida tutela jurisdicional? (Vide anexos I e II)
Após expedição do ato constitutivo do crédito tributário, não há interesse jurídico na sua
propositura. Porque estará definida a existência ou não da relação jurídica. O que
caberia neste caso, é ação anulatória, para obstar a relação jurídica existente.
3. Quanto à ação anulatória de débito fiscal, pergunta-se:
a) É viável a propositura de ação anulatória para desconstituição de relação
jurídica constituída pelo próprio contribuinte por meio de DCTF, cujo
recolhimento do tributo ainda não tenha ocorrido?
É possível a propositura de ação anulatória para desconstituição de relação jurídica
constituída pelo próprio contribuinte por meio de DCTF. Porque não há distinção entre

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Pria, Rodrigo Dalla. Direito Processual Tributário. 1. ed. São Paulo: Noeses, 2020, p.321.
as obrigações constituídas pelas diversas formas de lançamento, não podendo ser
negado ao contribuinte o direito de ação.
b) E para a desconstituição de crédito tributário inserido em parcelamento,
onde houve confissão da dívida por parte do contribuinte? Em caso de
resposta positiva, indaga-se: qualquer tipo de questão (causa de pedir) poderá
ser objeto desta ação anulatória (questões de fato e/ou questões de direito)?
Também é possível a propositura de ação anulatória para a desconstituição de crédito
tributário inserido em parcelamento, porque o parcelamento do débito não impede sua
discussão, tanto para questões de fato quanto para questões de direito.
Atualmente a Receita Federal vem criando programas de parcelamento para o
contribuinte com a oportunidade de regularizar débitos, mas coloca como premissa que
sejam retiradas todas as reclamações já realizadas em âmbito judicial ou administrativo.
O que faz com que o contribuinte não tenha mais o direito de ingressar com ação
anulatória.
c) Qual o prazo prescricional para a ação anulatória de débito fiscal? É possível
ingressar com ação anulatória de débito após a propositura da ação executiva
fiscal? E após o transcurso do prazo para apresentação dos embargos à
execução?
Conforme art. 1° do Decreto 20.910/1932, o prazo prescricional é de 5 anos. Sendo
possível ingressar com ação anulatória após a propositura da ação executiva e também
após o transcurso dos embargos à execução. Vez que não exige garantia em juízo e as
ações não se confundem.
d) O depósito do valor do débito fiscal discutido na ação anulatória é condição
específica dessa ação?
Não é condição dessa ação específica o depósito do valor do débito em discussão,
porém para que ocorra o efeito suspensivo na ação de execução, é imprescindível a
garantia em juízo. Apesar de ação anulatória não exigir garantia em juízo.
4. Que relações podem existir entre as ações anulatória de débito, executiva
fiscal e embargos à execução: conexão, continência ou prejudicialidade (ou
nenhuma das alternativas)? Qual o juízo competente para julgá-las? Deverão
ser reunidas para julgamento conjunto? Responder a essa pergunta, com base
nas disposições do código de processo civil de 2015 que tratam da
modificação da competência (artigos 54 a 63). (Vide anexos III e IV – aplicam-se
tais precedentes?)
Relação de conexão, reunião dos processos para decisão conjunta, conforme §2º do
art. 55 do CPC/2015. Isso porque há casos em que se verifique a tramitação simultânea
de processos que, de um lado, questionem a legitimidade de débitos tributários
regularmente inscritos em dívida ativa e, de outro, se prestem a exigi-lo.
Se houve vara específica, o juízo competente para execução e embargos é o mesmo,
mas para ação anulatória não é necessário. Uma vez que a ação anulatória, não
necessariamente, tramitará em juízo, não há necessidade de serem reunidas para
julgamento em conjunto.
5. Você é procurado pela empresa AZT Foods do Brasil Ltda que lhe apresenta o
seguinte:
CASO CONCRETO – Em função de sua atividade a empresa AZT Foods do
Brasil Ltda. está sujeita ao pagamento de determinado tributo pela venda de
seu produto. Nos últimos 3 anos, em função de algumas dificuldades
financeiras, ela não pagou o tributo devido (e sequer informou seus débitos ao
Fisco), pretendendo fazê-lo agora por se encontrar em melhores condições
financeiras. Contudo, em função do inadimplemento, a confissão do débito
para fins “denúncia espontânea” está sujeita a multa de 45% do valor da
operação (venda de seu produto), cuja instituição se deu por ato normativo
infralegal.
A AZT solicita um parecer em que você deverá apontar:
(a) a estratégia processual (a medida judicial ou medidas judiciais) a ser adotada
para a defesa dos seus interesses, devendo ser justificada a opção da(s)
medida(s), com a indicação do dispositivo de lei que determina o seu cabimento;
(b) o(s) fundamento(s) jurídico(s) que poderá(ão) ser(em) utilizado(s) para afastar
a exigência dessa multa – causa de pedir;
(c) a necessidade, ou não, de efetivação do depósito judicial;
(d) o pedido da ação (ou ações);
(d) o efeito da sentença pretendido com a ação (ou ações).
Em orientação a empresa AZT Foods do Brasil Ltda, segue através do parecer abaixo.
Deve-se ingressar com ação anulatória do lançamento fiscal, ficando obrigada ao
depósito do valor integral dos tributos devidos, realizado com fundamento no art. 151,
II, do CTN. A mera propositura de ação anulatória não impede a inscrição do débito em
dívida ativa e a propositura da ação executiva fiscal, conforme art. 784, §1°, do CPC, o
sujeito passivo apenas fica facultado de suspender a exigibilidade do crédito discutido,
para que a controvérsia acerca da legitimidade da exigência seja realizada sem o risco
da prática de atos de cobrança, que prejudiquem o sujeito passivo.
O pedido de suspensão da exigibilidade do crédito tributário impede que a autoridade
fiscal pratique quais atos que, direta ou indiretamente, cobrem o crédito tributário
discutido. Logo, o pagamento de multa não pode ser exigido, baseado nos arts. 97, V, e
113 do CTN c/c art. 5°, II da CF. Até que seja julgada a ação anulatória, suspende-se a
execução, se houver.
Com o trânsito em julgado, é reconhecido o recolhimento dos tributos devidos, sem
cobrança de multa, uma vez instituída por ato normativo infra legal, que pode violar a
segurança jurídica e princípios constitucionais.
6. Na ação de consignação em pagamento, o que extingue a obrigação tributária:
(i) a consignação em pagamento; (ii) a conversão em renda do valor
consignado; (iii) a sentença que julga procedente a ação de consignação em
pagamento; (iv) a decisão judicial de procedência da ação transitada em
julgado? Fundamente sua resposta.
Após a decisão do trânsito em julgado, sendo procedente a consignação, o pagamento
considera realizado e a importância consignada é convertida em renda. Com base no
art. 164, § 2º da CF.
“Art. 164. A importância de crédito tributário pode ser consignada judicialmente pelo
sujeito passivo, nos casos:
...
  § 2º Julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa efetuado e a
importância consignada é convertida em renda; julgada improcedente a
consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito acrescido de juros de mora, sem
prejuízo das penalidades cabíveis.” (grifo nosso).
7. Contribuinte sediado no Estado de São Paulo tem lavrado em seu desfavor auto
de infração de ICMS pelo Estado do Mato Grosso (problemas atinentes à
documentação fiscal que acompanhava a mercadoria, bem como ao não destaque
do diferencial de alíquotas supostamente devido ao Estado do Mato Grosso).
Inconformado com essa situação, referido contribuinte lhe procura para que ajuíze
ação anulatória, questionando-lhe, nessa ocasião, acerca do foro competente no
qual deve ser processada a referida ação. Apresente, de forma fundamentada, sua
resposta a esse questionamento, analisando o caso à luz da regra veiculada no
parágrafo único do artigo 52 do Código de Processo Civil/15.
Conforme art. 52 do Código de Processo Civil, pode ser o foro de domicílio da empresa
autora da demandada, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, na da
situação da coisa, ou na capital do respectivo Estado, sendo foros recorrentes.
Segundo professor Rodrigo Dalla Pria, “da mesma forma que ocorrera com a inovação
implementada pelo art. 109, §2º, da CF/88, nos critérios de eleição de foro competente
nas ações mandamentais propostas em face da União Federal, o art. 52, parágrafo
único, do CPC/2015,366 estabelece regra similar de eleição de foro para o ajuizamento
de ações em face dos Estados e do Distrito Federal, facultando ao autor propor a ação
no próprio domicílio, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de
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situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.”
Um desafio na interpretação do art. 52, Parágrafo Único, do CPC/ 2015 é de fato com
relação a sua abrangência “espacial”.

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Pria, Rodrigo Dalla. Direito Processual Tributário.1. ed. São Paulo: Noeses, 2020, p.321.

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