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MÓDULO I – EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

SEMINÁRIO III- Decadência e Prescrição em Matéria Tributaria

ALUNA: Natália Pereira Lino


1. Defina o conceito “decadência” no âmbito do direito tributário.

Para definir decadência, antes é necessário analisá-la sobre 3 (três) enfoques, quais
sejam: i) numa instância normativa, enquanto norma jurídica que compõe o sistema do direito
positivo; ii) numa instância factual, como acontecimento do mundo, relatado em linguagem
competente; e iii) numa instância e fectual, como efeito jurídico atribuído a tal acontecimento.
Sob o primeiro enfoque, decadência e prescrição são normas cuja hipótese descreve o fato do
não exercício de um direito dentro de certo período de tempo e o consequente prescreve a
perda deste direito por seu titular. Sob o segundo enfoque, decadência e prescrição são gatos
jurídicos, que são consubstanciados a partir do relato em linguagem competente de um
acontecimento social, qual seja, a inércia do titular do direito durante um determinado
período de tempo. Por fim, o terceiro seria a prescrição e decadência enquanto efeitos
jurídicos, que seria a perda jurídica de um direito subjetivo do titular.
Ao nosso entender, decadência normativa decorre da conjunção das normas que
atribuem competência/legitimidade. A decadência do fisco consiste na não-competência do
agente fiscal para constituir o crédito tributário, enquanto as normas de decadência do
contribuinte determinam a falta de legitimidade deste em repetir o indébito tributário, na
esfera administrativa e judicial. Para não fugir da didática, no item abaixo, analisaremos as
múltiplas acepções do conceito normativo dos institutos.

(a) Com base na bibliografia indicada para desenvolvimento deste seminário apresente as
diferentes acepções do conceito “decadência”.
(b) Construa a respectiva estrutura normativa para cada acepção (ex. NGA, NIC,
antecedente, consequente...), indicando quai(is) dessa(s) estrutura(s) normativa(s)) são
norma em sentido estrito.

Segundo Aurora Tomazini, a partir de lições de Eurico Marcos Diniz de Santi, há


importantes diferenciações entre decadência do fisco e decadência do contribuinte. De modo
que a primeira se trata da perda da competência administrativa do fisco para constituir o
crédito tributário, em decorrência do decurso de certo período de tempo sem que o tenha
exercitado. Já a segunda, é a perda da legitimidade do contribuinte de repetir o indébito na
esfera administrativa, em decorrência do decurso de certo período de tempo sem que o tenha
exercitado.
Passemos a analisar, primeiramente, a decadência do direito do fisco. Para determinar
os prazos de decadência do direito do Fisco de constituir o crédito tributário (lançar), são
relevantes 5 (cinco) critérios: i) previsão de pagamento antecipado; ii) pagamento antecipado;
iii) dolo, fraude ou simulação; iv) notificação de medida preparatória e v) anulação por vínculo
formal de lançamento anterio. Não previsão de pagamento antecipado, não ocorrência do
pagamento antecipado, não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, não ocorrência de
anulação.

Critério temporal da norma de decadência do art 173, I: cinco anos do primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que deveria ter ocorrido o evento tributário. Exemplo ilustrado
pela Autora Aurora Tomazini:

i) Não ocorrência do pagamento antecipado (com ou sem previsão), não ocorrência de


dolo fraude ou simulação, ocorrência da notificação preparatória e não-ocorrência de
anulação. Critério temporal do art. 173, I e §único do CTN: cinco anos da data da notificação
(ato preparatório) - antecipa o prazo da primeira regra e posterga o da terceira.
ii) Ocorrência do pagamento antecipado (com previsão), não ocorrência de dolo, fraude
ou simulação, não ocorrência da notificação, não-ocorrência de anulação. Critério temporal da
norma de decadência do art. 150, §4º: cinco anos da ocorrência do evento tributário (para o
Fisco homologar o pagamento).
iii) Previsão de pagamento antecipado, ocorrência do dolo, fraude ou simulação,
ocorrência de notificação e não ocorrência de anulação. Critério temporal da norma de
decadência do art. 150, §4º e 173, §único do CTN: 5 anos do ato-norma administrativo
formalizados do ilícito tributário (a notificação do ano-norma não pode ser realizada a
qualquer tempo - submete-se também ao prazo decadencial de 5 anos.
iv) Existência de decisão administrativa ou judicial que decrete a anulação por vício formal
de lançamento anterior. Critério temporal do art. 173, II do CTN: Cinco anos da decisão que
anulou o lançamento anterior (o prazo da anulação submete-se ao prazo decadencial de cinco
anos).
No que diz respeito à decadência do contribuinte, tem-se 2 (duas) regras importantes,
quais sejam:
Não ocorrência de desfazimento de decisão anterior que tenha motivado o pagamento.
Critério temporal da norma de decadência segundo o art. 168, I do CTN: cinco anos da data do
pagamento.
i) Ocorrência de desfazimento de decisão anterior que tenha motivado o pagamento
dentro do interregno de 5 (cinco) anos para o pagamento, por reforma, revogação ou revisão.
Critério temporal, do art. 165, III e 168, II do CTN: cinco anos da data da reforma.
(b) Construa a respectiva estrutura normativa para cada acepção (ex. NGA, NIC, antecedente,
consequente...), indicando quai(is) dessa(s) estrutura(s) normativa(s)) são norma em sentido
estrito.
1. Decadência do direito do Fisco:
i) Norma geral abstrata e antecedente – Não previsão de pagamento antecipado, não
ocorrência do pagamento antecipado, não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, não
ocorrência de anulação.
Norma individual concreta e consequente – Perda da competência administrativa do Fisco
para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 (cinco) anos do primeiro dia do
exercício seguinte àquele que ocorreu o evento tributário.
ii) Norma geral abstrata e antecedente – Não ocorrência do pagamento antecipado (com
ou sem previsão), não ocorrência de dolo fraude ou simulação, ocorrência da notificação
preparatória e não-ocorrência de anulação.
Norma individual concreta e consequente – Perda da competência administrativa do Fisco
para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos da data da notificação.
iii) Norma geral abstrata e antecedente – ocorrência do pagamento antecipado (com
previsão de pagamento), não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, ausência de
notificação, não ocorrência de anulação.
Norma individual concreta e consequente – Perda da competência administrativa do Fisco
para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos do evento tributário.
iv) Norma geral abstrata e antecedente – previsão de pagamento antecipado, ocorrência
de dolo, fraude ou simulação, ocorrência de notificação e não ocorrência de anulação.
Norma individual concreta e consequente – Perda da competência administrativa do Fisco
para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos do “ato norma
administrativo formalizador do ilícito tributário”.
v) Norma geral abstrata e antecedente – existência de decisão administrativa ou judicial
que anule lançamento anterior.
Norma individual concreta e consequente – Perda da competência administrativa do Fisco
para constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos da decisão anulatória do
lançamento anterior.
2. Decadência do direito do contribuinte:
i) Norma geral abstrata e antecedente - Não ocorrência de anulação de decisão anterior
que motivou o pagamento.
Norma individual concreta e consequente: Perda do direito de repetir o indébito
administrativamente a contar o prazo de 5 anos da data do pagamento.
ii) Anulação de decisão anterior que motivou o pagamento, desde que dentro do prazo
de 5 anos do pagamento.
Norma individual concreta: Perda do direito de repetir o indébito administrativamente a
contar o prazo de 5 anos da data da reforma da decisão que havia motivado o pagamento.

(c) É correta a afirmação de que a decadência opera-se automática e infalivelmente?


Justifique sua resposta.

A Teoria da Incidência Automática e Infalível, de Pontes de Miranda é seguida pela


doutrina majoritária, de modo que a incidência da norma se opera de forma automática e
infalível, ou seja, sempre que o(s) fato(s) previsto(s) na sua hipótese se concretiza(m) no
mundo real.
Pontes de Miranda aduz que a causalidade no universo jurídico, está relacionada à
estrutura do pensamento humano e à sua descoberta de poder adotar, para os fatos, regras
que incidam. Segundo o Autor, não é a lei que determina a incidência de suas regras; mas elas
incidem pois foram criadas para esse processo de adaptação social. Explica-se. O homem, ao
criar as regras jurídicas, é que lhes deu a força da incidência, fornecendo-lhe uma estrutura de
atuação dinâmica que determina que incida toda vez que a situação fática prevista na norma
se realize no mundo dos fatos. E esta forma de atuação da regra jurídica é considerada por
Pontes de Miranda a criação mais eficiente do homem para submeter o mundo social, pois,
segundo ele, foi a técnica que mais de perto copiou a mecânica das leis físicas ou da natureza,
não deixando margem à não incidência.
No mesmo sentido Alfredo Augusto Becker defende que “o jurídico é uma realidade
espiritual [...] e toda a fenomenologia jurídica existe e desencadeia-se no mundo do
pensamento”. O Autor endossa que “não existe regra jurídica constitucional prescrevendo a
incidência das regras jurídicas e estabelecendo a necessidade da prévia realização de sua
hipótese de incidência”. Para ele “todas as regras jurídicas somente incidem depois de
realizada a respectiva hipótese, uma vez que foram criadas de acordo com a estrutura do
pensamento humano que permite a criação de uma regra cujo efeito disciplinador fica
condicionado à realização de uma hipótese”.
Becker compara a juridicidade (validade) da regra jurídica a uma descarga
eletromagnética, de forma que realizando-se por completo a hipótese de incidência,
automaticamente (imediata, instantânea e infalivelmente) a regra entra em dinâmica e projeta
uma descarga (incidência) de energia eletromagnética (juridicidade) sobre a hipótese de
incidência realizada, cujo efeito é a irradiação da eficácia jurídica: a relação jurídica e seu
conteúdo jurídico. Seguindo este primado, pode-se dizer que o mundo jurídico criado pelo
homem seria uma imitação do natural, pois na medida em que os fatos acontecem, vão sendo
automaticamente valorados pela incidência das regras jurídicas, transformando-os em fatos
jurídicos, independentemente de vontade, conhecimento, atendimento ou de aplicação. E
tudo isso - identificação do fato concreto com o previsto na norma e incidência desta – dá-se
no campo dos pensamentos, pois o mundo jurídico, muito embora busque uma realização do
plano concreto (adaptação social) e incida sobre fatos concretos (identificados com a hipótese
fática), foi criado e constituído pelo intelecto do homem.
Segundo tal Teoria, o fenômeno da incidência para qualificar a conduta fática
independe de qualquer ato, vontade ou interferência humana, sendo automática,
incondicional e inesgotável. Mas, no que se refere à efetivação da consequência prevista na
norma, ou seja, ao cumprimento ou não da norma jurídica, já não depende do sistema de
incidência criado pelo homem na busca da adaptação social, mas da vontade do sujeito
atingido pela incidência. Justamente por isso é que existe a força coercitiva do Poder
Judiciário, a qual deve interferir quando, apesar da incidência, a norma não é cumprida como
se prescreve.
Insta salientar, por oportuno, que a doutrina de Pontes de Miranda, Augusto Becker e
Geraldo Ataliba preconiza que a incidência só ocorre quando realizados todos os elementos
que compõe a hipótese normativa. Isto é, a subsunção só ocorre quando o fato ocorrido no
mundo real for rigorosamente idêntico à previsão hipotética da lei. Assim, faltando qualquer
dos elementos da hipótese, tem-se que esta não se realizou, não ocorrendo a incidência da
norma. Assim, uma vez concretizada a conduta prevista no antecedente da norma tributária,
esta incide automática e infalivelmente, fazendo nascer a relação jurídica tributária.
Paulo de Barros Carvalho é contrário à tese de que a incidência da norma jurídica se dê
automática e infalivelmente tão-somente com a realização da hipótese prevista na norma.
Segundo o Autor, as normas não incidem por conta própria, sendo imprescindível a
participação do ser humano para fazer: (i) a subsunção, pela qual se reconhece, em
determinado espaço e marco de tempo, a efetiva ocorrência concreta da situação hipotética
prevista na norma geral e abstrata; e (ii) a implicação da respectiva consequência prescrita na
norma. Tudo isto, porque a linguagem teria um papel fundamental, uma vez que a norma só
seria fato jurídico a partir do momento em que for relatado em linguagem jurídica própria, sob
pena de transfigurar em um mero evento social. Exemplifique-se. Se o sujeito presta serviço,
mas tal evento não for levado ao conhecimento da Autoridade Fiscal, esta não aplicará a regra
jurídica que determina o pagamento do ISS, não gerando, por conseguinte, a obrigação
tributária.
Seguindo essa corrente, para que seja formada a relação jurídica tributária, não basta a
presença da norma geral e abstrata e do acontecimento do fato jurídico tributário nela
previsto; é imprescindível a edição de norma individual e concreta para vincular o fato à lei e
documentar a incidência tributária.
Com todas as vênias, endossamos a teoria da Pontes de Miranda. A principal crítica a
Paulo de Barros, adotada por Souto Maior Borges, é que incidência estaria no âmbito da
existência da norma jurídica, enquanto que a sua aplicação no campo da eficácia, planos que
não podem ser confundidos.

(d) Quanto aos efeitos da decadência em relação ao crédito tributário (arts. 150 e 173, do
CTN), pode-se afirmar que sejam: (i) extintivos ou (ii) impeditivos? Justifique sua resposta.

A luz do art. 156 do CTN, a decadência é causa de extinção do crédito tributário. É lúcido
também dizer que a ocorrência da decadência impede o Fisco de lançar o crédito tributário.
Contudo, não raras são as vezes que nos com lançamentos nos quais o Fisco não tinha
legitimidade para constituí-lo, uma vez operada a decadência. Nesses casos, a obrigação
tributária é extinta no momento da desconstituição do lançamento, uma vez que não poderia
de início nem ter sido lançada.

(e) Diferençar, se possível: (i) decadência do direito de lançar, (ii) prescrição do direito do
Fisco cobrar o crédito tributário, (iii) decadência do direito do contribuinte pleitear a
restituição do indébito tributário e (iv) prescrição do direito de ação do contribuinte
repetir o indébito tributário.

Decadência do direito de lançar: perda da competência administrativa do Fisco de


constituição do crédito tributário;
Prescrição do direito do Fisco cobrar o crédito tributário: aqui, há a constituição do crédito
tributário e a prescrição ocasiona a perda do direito do Fisco de promover a Execução Fiscal;
Decadência do direito do contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário: Perda da
legitimidade do contribuinte de repetição do indébito na esfera administrativa;
Prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito tributário: Perda da
legitimidade do contribuinte de repetição do indébito na esfera judicial.

2. Conjugando o art. 146, III, “b”, da CF e o princípio da autonomia dos entes federativos,
responda: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei ordinária,
podem estabelecer prazo diverso do constante no CTN para a decadência e prescrição de
seus créditos? E mediante lei complementar estadual ou municipal? (Vide anexo I e Súmula
Vinculante n. 8 do STF).

O art. 146, II, b da Constituição Federal dispõe que as normas gerais em matéria de
legislação tributária sobre prescrição e decadência poderá ser regulada somente por lei
complementar, nos seguintes termos: 
Art. 146. Cabe à lei complementar: (...) III - estabelecer normas gerais em
matéria de legislação tributária, especialmente sobre: (...)
  b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
 Verifica-se, portanto, que em virtude desta determinação constitucional, não
é possível admitir que os municípios, estados ou DF regulem sobre a temporalidade da
prescrição e decadência através de lei ordinária, estabelecendo prazos diversos daqueles
estabelecidos pelo CTN, tanto através de lei ordinária quanto através de lei complementar
estadual ou municipal. Sobre o tema, o STF se manifestou no seguinte sentido: 
DIREITO TRIBUTÁRIO. CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DOS  ARTIGOS 45 E
46 DA LEI N.
8.212/1991. ARTIGO146, INCISO III,  ALÍNEA B, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLI
CA. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA TRIBUTÁRIAS. MATÉRIA RESERVADA À
LEI COMPLEMENTAR. ARTIGOS 173 E 174 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 1. A
Constituição da República de 1988 reserva à lei complementar o
estabelecimento de normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre prescrição e decadência, nos termos do art. 146, inciso III,
alínea b, in fine, da Constituição da República. Análise histórica da doutrina
e da evolução do tema desde a Constituição de 1946. 2. Declaração de
inconstitucionalidade dos artigos 45 e 46 da Lei n. 8.212/1991, por disporem
sobre matéria reservada à lei complementar. 3. Recepcionados pela
Constituição da República de 1988 como disposições de lei complementar,
subsistem os prazos prescricional e decadencial previstos nos artigos 173 e 174
do Código Tributário Nacional. 4. Declaração de inconstitucionalidade, com
efeito ex nunc, salvo para as ações judiciais propostas até 11.6.2008,
data em que o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dos
artigos 45 e 46 da Lei n. 8.212/1991. 5. Recurso extraordinário ao qual se nega
provimento. (RE 559943, Relator(a): Min.CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno,julgad
o em 12/06/2008, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 25-09-2008
PUBLIC 26-09-2008 EMENT VOL-02334-10 PP-02169 LEXSTF v. 30, n. 359, 2008,
p. 321-366)

Como exemplo, podemos citar o caso da ADI 124 de relatoria do Min. Joaquim


Barbosa, julgada em 17/04/2009, a qual discute a constitucionalidade do art. 16, §4º, da
Constituição do Estado de Santa Catarina, que estabeleceu hipótese de extinção do crédito
tributário por transcurso de prazo para apreciação de recurso administrativo fiscal. Verifica-se
que a determinação do arquivamento de processo administrativo tributário por decurso de
prazo, sem a possibilidade de revisão do lançamento equivale à extinção do crédito tributário
cuja validade está em discussão no campo administrativo.
No entanto, em matéria tributária, a extinção do crédito tributário ou do direito de
constituir o crédito tributário por decurso de prazo, combinado a qualquer outro critério,
corresponde à decadência e, nos termos do Código Tributário Nacional (Lei 5.172/1996), a
decadência do direito do Fisco ao crédito tributário está vinculada ao lançamento
extemporâneo e não propriamente, ao decurso de prazo e à inércia da autoridade fiscal na
revisão do lançamento originário. Extingue-se um crédito que resultou de
lançamento indevido, por ter sido realizado fora do prazo, e que goza de presunção
de validade até a aplicação dessa regra específica de decadência. O lançamento tributário não
pode durar indefinidamente, sob risco de violação da segurança jurídica, mas a Constituição de
1988 reserva à lei complementar federal aptidão para dispor sobre decadência em
matéria tributária.
Sendo assim, concluiu-se que o referido dispositivo violava o art. 146, III, b, da CF, por
ser uma norma que estabelece hipótese de decadência do crédito tributário não prevista em
lei complementar federal.

3. Quando começa a contar o prazo de decadência para o Fisco lançar nos tributos sujeitos ao
lançamento de ofício? E nos tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”? Se não
houver o que homologar, o prazo passa a ser o dos tributos sujeitos ao lançamento de
ofício (vide anexos II e III)? E no caso de fraude (vide anexo IV)?

No primeiro caso em se tratando em lançamento do ofício decadencial iniciará no 1º


dia útil do exercício fiscal subsequente ao ano em que o tributo deveria ter sido recolhido aos
cofres públicos, nos termos do artigo 173 do CTN. Nos casos dos tributos por homologação em
que há o devido recolhimento o prazo do tributo, o fisco terá o prazo de 5 anos para verificar
se o recolhimento foi realizado de forma correta, contados da ocorrência do fato gerador,
conforme prevê o artigo 150, §4º do CTN.
Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho, o lançamento por homologação do artigo
150 do CTN consiste no seguinte:
“Quanto à parte inicial, fixa o prazo de 5 (cinco) anos para que se faça a
homologação, a contar da ocorrência do “fato gerador”. Transcorrido esse
prazo a contar do acontecimento tributário cuja formalização incumbia à
iniciativa do contribuinte (lançamento por homologação), sem que a
Administração Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o
lançamento e definitivamente extinto o crédito tributário.” (CARVALHO, 2013.
p.571)
No caso do não recolhimento de tributos sujeitos a lançamento por
homologação ou haja o recolhimento parcial, o prazo decadencial se diferencia se o fato foi
realizado com dolo, fraude ou simulação. Vejamos se houve apenas a falta de recolhimento de
tributo, sem incorrer em fraude, dolo ou simulação, então o prazo decadencial é de 5 anos a
partir do instante da ocorrência do evento tributário. Por outro lado, na ocorrência de dolo,
fraude ou simulação, em razão das infrações, o prazo decadencial de cinco anos irá iniciar no
primeiro dia do exercício seguinte àquele que o lançamento poderia ter sido realizado.

4. Como deve ser interpretado o parágrafo único do art. 173 do CTN? Que se entende por
“medida preparatória indispensável ao lançamento”? Tal medida tem apenas o condão de
antecipar o termo inicial da contagem do prazo prescrito no inciso I ou pode também postergá-
lo? Trata-se de causa de interrupção do prazo decadencial? (Vide anexo V e VI).

O parágrafo único do art. 173 do CTN assim dispõe:


Art. 173. (...)
Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se
definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em
que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação,
ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao
lançamento.
Assim, diferentemente do disposto no inciso I do mencionado artigo, o prazo
decadencial previsto no parágrafo único tem início não no ano seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado, mas a partir da data em que é iniciada a constituição do
crédito tributário pela notificação do sujeito passivo.
Verifica-se, ainda, que existem correntes doutrinárias distintas em relação à
interpretação do referido artigo.
A primeira corrente, defendida por DENARI e GRECO interpreta o citado parágrafo
único no sentido de que este estaria normatizando um segundo termo decadencial, ou melhor,
a previsão de um prazo de perempção, para que a Administração Pública conclua o
procedimento tributário de lançamento já iniciado. Assim, do início da constituição do crédito
tributário, pela notificação ou da impugnação do ato impositivo, teria o Fisco um novo prazo
de 5 (cinco) anos para constituir definitivamente o crédito tributário, isto é, para concluir o
procedimento administrativo já iniciado, sob pena de ser alcançado pela decadência.
A segunda corrente doutrinária, defendida por Yves Gandra e Sacha Calmon por sua
vez, entende que o referido parágrafo único está apenas antecipando o início do prazo
decadencial definido no inciso I do mesmo artigo, que somente iria começar no primeiro dia
do exercício seguinte, caso o Fisco não viesse a se manifestar antes de findar o ano em que se
inaugurou a possibilidade jurídica de se realizar o lançamento tributário.
É necessário enfatizar que o parágrafo único do art. 173 refere-se somente aos
tributos sujeitos às modalidades de lançamento de ofício e por declaração, tendo em vista que,
nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, o início do prazo extintivo tem-se com a
ocorrência do fato gerador do tributo e a notificação de qualquer medida preparatória
indispensável ao lançamento inicia a contagem do prazo decadencial, para os créditos
tributários em que o referido prazo extintivo ainda não teve início.
Os atos preparatórios ao lançamento são os atos que antecedem a constituição do
crédito tributário, isto é, que estão na iminência da sua constituição. Como exemplo, podemos
citar a remessa entre repartições públicas, do conteúdo probatório determinante para
identificação do fato gerador. Tal medida nem antecipa e nem posterga a contagem do prazo
prescrito no inciso I do art. 173 do CTN, e tampouco interrompe o prazo decadencial.

5. A Lei n. 11.051/04 trouxe previsão de prescrição intercorrente no processo judicial. Quanto


ao processo administrativo fiscal, existe prescrição intercorrente no seu curso? E no decorrer
do processo executivo fiscal? Qual é o tratamento mais adequado em caso de falta de
intimação da Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua manifestação antes da
decisão que decreta a prescrição intercorrente? É possível que a decretação da prescrição
intercorrente seja ilidida? Justificar (vide anexos VII, VIII e IX e X).

A prescrição intercorrente é aquela que ocorre pela falta de bens do devedor para
saldar a dívida, segundo o qual o processo ficará suspenso por 1 (um) ano, conforme art. 40
da LEF e, após 5 (cinco) anos, sem providências frutíferas, o processo será extinto, nos
moldes da súmula 314 do STJ.
Tal prescrição intercorrente é inaplicável ao processo administrativo fiscal, já que este
último tem como objetivo verificar o quantum devido, sendo meramente constitutivo.
Este é o entendimento consolidado através da súmula 11 do CARF.
No processo executivo fiscal a prescrição intercorrente pode ocorrer, já que o seu
objetivo é arrecadar aos cofres público a quantia devida, e se o devedor não possui bens para
saldá-la essa prescrição pode acabar ocorrendo e gerando a extinção do processo e da dívida.
Segundo o Recurso Especial 1.340.553/RS, a falta da intimação da Fazenda antes da
decisão que decreta a prescrição intercorrente não causa prejuízos à fazenda e, portanto, não
afeta a decisão, o entendimento dos ministros é baseada na Súmula 314 do STJ que visa
impedir que as execuções fiscais perdurem “eternamente”.
No entanto, ressalta-se que o art. 40, §4º determina que o representante fazendário
seja intimado e ouvido antes da decisão que decreta a prescrição. Neste sentido, o melhor
cenário é ingressar com a exceção de pré executividade no próprio processo, alegando a
prescrição e, após, a Fazenda se manifestará, cumprindo-se com o contraditório.
Por fim, segundo Tema 571 do STJ, é possível que a decisão que decreta a prescrição
intercorrente seja ilidida, diante da ausência de intimação da Fazenda Pública quanto ao
despacho que determina sua manifestação antes da decisão que decreta a prescrição
intercorrente (art. 40, § 4º). Neste caso, contudo, é necessário que a Fazenda comprove o
prejuízo que ela teve, o único prejuízo que é presumido é a falta de citação para constituir o
termo inicial, pois segundo o entendimento a Fazenda teve diversas oportunidades para
realizar a constrição de bens e não o fez. Um exemplo: cabe à Fazenda demonstrar a
ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição.

6. Qual o marco inicial da contagem do prazo para redirecionamento da execução fiscal contra
os sócios? Trata-se de prazo decadencial ou prescricional? É possível compreender que o
mesmo fato jurídico “dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao
redirecionamento da execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal
de débito não-tributário. (Vide anexos XI, XII e XIII)

O redirecionamento da execução fiscal contra os sócios consiste na inclusão do


sócio/administrador da pessoa jurídica no polo passivo da ação, passando este a responder
pessoalmente pelos débitos tributários imputados pelo fisco ao obrigado originário, que seria a
empresa.
O marco inicial da contagem do prazo prescricional de cinco anos é a citação da
empresa na execução fiscal. Assim, a prescrição ocorre quando decorrem mais de cinco anos
entre a citação da sociedade ocorrida na execução fiscal e a citação dos sócios.
Trata-se de prazo prescricional, tendo em vista que, embora o crédito tributário tenha
sido constituído, não mais poderá ser cobrado, havendo, portanto, a perda do direito do fisco
de ingressar com o processo de cobrança do tributo em face do sócio.
Verifica-se, no entanto, a existência de uma corrente doutrinária que entende que
trata-se de prazo decadencial. Tal corrente defende que a constituição do crédito contra os
sócios é determinada pelo despacho do juiz na execução fiscal, que ao solidarizar a
responsabilidade da empresa aos sócios, constitui o crédito para estes.

7. Sobre a decadência/prescrição do direito de repetir o indébito tributário pergunta-se:


a) Quais indébitos estão sujeitos ao art. 3º da LC n. 118/05: todos, independente da data do
pagamento indevido; aqueles cuja restituição seja requerida depois do termo inicial de sua
vigência; ou somente os pagamentos efetuados após iniciada sua vigência? Justificar (vide
anexos XIV e XV).
Todos independente da data do pagamento indevido, porque apesar de existir o
princípio da irretroatividade da norma tributária, a norma que foi implementada é meramente
interpretativa ou que configura uma das exceções a este princípio, de acordo com o art. 106, I,
do CTN.

b) No caso de lei tributária julgada inconstitucional em ADIN (sem modulação de efeitos),


como fica o prazo para repetir o indébito tributário? Conta-se do pagamento indevido ou o
termo inicial seria a “data da declaração de inconstitucionalidade da lei que fundamentou o
gravame”? (Vide anexos XVI e XVII).

O termo inicial do prazo para ajuizar a ação de repetição de indébito conta-se a partir da
declaração de inconstitucionalidade do tributo, devendo retroagir apenas aos últimos cinco
anos, por força da LC 118/05.
No entanto, verifica-se uma corrente que defende que o termo inicial deve ser o
pagamento indevido, em respeito aos princípios da segurança jurídica, e da não violação à
coisa julgada, vez que não se pode admitir que tributos pagos após 10, 20 anos sejam
posteriormente pleiteados.

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