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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário

SEMINÁRIO I - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL

1. Recurso administrativo protocolado intempestivamente tem o condão de


suspender a exigibilidade do crédito tributário? Fundamentar sua decisão
observando o que dispõe o art. 35 do Decreto Federal n. 70.235/72: “Art. 35.
O recurso, mesmo perempto, será encaminhado ao órgão de segunda
instância, que julgará a perempção.”

Recurso administrativo protocolado intempestivamente tem o condão de


suspender a exigibilidade do crédito tributário.
Embora o artigo 35, do Decreto Federal nº 70235/72, preveja que
recurso administrativo protocolado intempestivamente será direcionado à
segunda instância para julgamento da perempção, tal análise será apenas da
possível perempção.
Isso porque o artigo 151, inciso III, do CTN, prevê que o crédito tributário
tem sua exigibilidade suspensa, quando houver reclamações e recursos
administrativos.
No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento
uníssono no sentido de que “a reclamação ou recurso administrativo, mesmo
intempestivo, suspende a exigibilidade do crédito tributário e, por
consequência o curso do prado prescricional, enquanto perdurar o
contencioso administrativo”.

2. Considerando a presunção de legitimidade dos atos administrativos, a quem


compete o ônus da prova nos recursos e impugnações? Até que momento o
contribuinte (recorrente) pode juntar aos autos do processo administrativo
provas documentais? Diante do que dispõem os arts. 9º e 10 do CPC/15,
apresentadas novas provas pelo contribuinte o julgador administrativo deverá
dar oportunidade ao Fisco para se manifestar a respeito antes de afetar o
processo para julgamento? (Vide anexo I, II e III).

O lançamento tributário, por tratar-se de Ato Administrativo, goza da


presunção de legitimidade. Sendo assim, seria lógico concluir que o ônus da
prova em recursos e impugnações administrativas incube ao Contribuinte.
Contudo, importante salientar que compete, também, ao Fisco, o ônus de
comprovar o alegado. Isto é, o artigo 9º, do Decreto nº 70.235/72, prevê que
o ato administrativo de lançamento deve ser fundamentado com “elementos
de prova indispensáveis à comprovação do ilícito”. Nesse sentido, resta claro
que, ao realizar o ato de lançamento, compete ao Fisco ônus de comprovar a
legalidade de tal lançamento, tendo em vista que o Fisco deve fundamentar
tal ato administrativo. No entanto, incube também ao Contribuinte o ônus de
comprovar possíveis excessos e ilegalidades por ele alegados.
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Em regra, o contribuinte pode juntar provas aos autos do processo


juntamente com a impugnação, conforme prevê o artigo 16, §4º, do Decreto
nº 70.235/72.
Contudo, as alíneas deste referido artigo oportunizam ao recorrente a
juntada de provas em momento posterior à impugnação, nos casos em que
reste comprovada a impossibilidade de apresentação da prova em momento
anterior; ou caso a prova seja relativa à fato superveniente; ou ainda se tenha
como objeto contrarrazoar fatos apresentados posteriormente.
Ademais, para que tais provas sejam juntadas em momento posterior,
tal pedido, que deve devidamente fundamentado, será analisado pela
autoridade julgadora, conforme determina o §5º, do mesmo artigo
supracitado.
No mesmo sentido, o Acórdão nº 1201-000.820, do CARF, prevê a
possibilidade de juntada de provas após a impugnação, caso estas sejam
“essenciais à garantia dos princípios norteadores do PAF”, desde que
juntadas antes da decisão de primeira instância.
Além disso, caso sejam juntadas novas provas após a decisão de
primeira instância, o artigo 16, §6º, do Decreto nº 70.235/72, determina que
tais documentos serão juntados aos autos para possível apreciação em
segunda instância, caso haja interposição de recurso.
Corroborando com tal entendimento, e em observância ao Princípio da
Verdade Material, o Acórdão nº 1102-000.940, do CARF, reforça a
possibilidade de juntar nova prova ao processo após a decisão de 1ª instância,
a fim de que tais documentos sejam analisados quando houver o julgamento
em 2 ª instância.
Por fim, considerando o disposto nos artigos 9º e 10 do Código de
Processo Civil, caso haja nova juntada de provas nos autos do processo
administrativo, a autoridade julgadora deverá dar ao Fisco a oportunidade de
manifestar-se acerca destes novos documentos. Isso porque, de acordo com
os artigos citados, e com fundamento nos Princípios do Contraditório e da
Ampla Defesa, nenhum julgador poderá decidir sem que seja ouvida a parte
contrária à requerente.

3. Os tribunais administrativos exercem “jurisdição”? Justifique sua resposta,


definindo “jurisdição”. Podem, no ato de julgar, afastar a aplicação de Decreto
sob a alegação de sua ilegalidade para com a Lei. Pode a decisão
administrativa inovar o feito, agravando o lançamento por ocasião do
julgamento da defesa do contribuinte?

Jurisdição é o poder que o Estado tem de aplicação prática do direito


para resolução de uma lide, ou seja, é a função de concretizar as leis a fim de
resguardar a ordem jurídica.
Nesse sentido, ainda que a jurisdição seja atividade predominantemente
típica do Poder Judiciário, é plausível alegar que os tribunais administrativos
exercem “jurisdição administrativa”. Isso porque eles possuem competência
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para analisar e julgar questões administrativas, bem como possuem papel


fundamental na defesa dos interesses públicos.
Ademais, os tribunais administrativos não podem afastar aplicação de
decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade, conforme prevê
expressamente o artigo 26-A, do Decreto nº 70.235/72.

4. Qual a aplicabilidade do CPC/15 ao processo administrativo tributário? Os


enunciados das súmulas vinculantes devem ser observados pela
Administração Pública? E os demais enunciados das súmulas do STF em
matéria constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional? E os acórdãos
em incidente de resolução de demandas repetitivas (vide art. 928, II, do
CPC/15)?

O Código de Processo Civil tem aplicação subsidiária ao processo


administrativo tributário, tendo em vista que pode ser aplicado à possíveis
lacunas da legislação do processo tributário administrativo. O próprio CPC
prevê a tal aplicação subsidiária, em caso de ausência de normas que regulem
processos administrativos, conforme prevê o artigo 15, deste Codex.
Quanto à aplicabilidade de decisões judiciais no âmbito do processo
administrativo, importante salientar que a Administração Pública deve
observar os enunciados das Súmulas Vinculantes, conforme prevê a Lei nº
11.417/2006, o qual prevê o cabimento de reclamação ao STF em face de
decisão administrativa que contrarie Súmula Vinculante.
No mesmo sentido, o §2º, do artigo 102, da CF, dispõe expressamente
que os enunciados vinculantes do STF e do STJ, em matéria constitucional e
infraconstitucional, respectivamente, devem ser observados pelos órgãos do
Poder Judiciário e pela Administração Pública.
Neste mesmo caminho, o artigo 927, do CPC, declara que os juízes e
tribunais deverão observar os enunciados e súmulas já citados. Sendo assim,
tal dispositivo deve ser aplicado aos “tribunais” administrativos, de formar que
estes devem observar, também, os acórdãos em incidente de resolução de
demandas repetitivas.

5. A lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro é aplicada ao


procedimento/processo administrativo fiscal? Quais as implicações da
aplicação da LINDB no PAF? Analisar especificamente os artigos 241 e 282
da referida lei (vide ACÓRDÃOS DO CARF Nª 9202-006.996, 1301-003.284,
1
. Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as
orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se
declarem inválidas situações plenamente constituídas.
2
. Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de
dolo ou erro grosseiro.
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9101-003.839). A desconsideração de negócios jurídicos para requalificação


dos efeitos tributários por consideração de inexistência de propósito negocial
pode ensejar a aplicação do artigo 28 da LINDB?

Em que pese Lei de Introdução ao Direito Brasileiro seja Lei Ordinária, e


o artigo 146, inciso III, da CF, determine que é reservada à Lei Complementar
a competência legislativa tributária, a LINDB pode ser aplicada ao PAF, tendo
em vista que ela foi elaborada exatamente com escopo de nortear a Leis
Brasileiras.
Contudo, é ilógica a aplicação do artigo 24 da LINDB ao PAF, tendo em
vista que, em homenagem ao Princípio da Retroatividade Benigna, há a
possibilidade de revisões administrativas levarem em consideração as
mudanças de orientações gerais. Isto é, ainda que um ato administrativo já
esteja completo, e, em momento posterior haja mudança de orientações
gerais, o ato pode ser reanalisado sob a ótica das novas orientações gerais.
Por outro lado, a aplicação do artigo 28, da LINDB, é possível. O
Parágrafo Único, do artigo 166, do CTN, prevê que o agente público
administrativo poderá desconsiderar negócio jurídico em que inexista
proposito negocial. No entanto, caso tal requalificação seja feita com dolo ou
erro grosseiro, o agente público poderá ser penalizado de acordo com o artigo
28, da LINDB.

6. A existência de processo judicial e administrativo concomitantes implica


renúncia às instâncias administrativas? (Vide anexos IV, V e VI).

A existência de processos judicial e administrativo apenas importa


renúncia às instâncias administrativas nos casos em que a ambos os
processos tenham o mesmo objeto de discussão, ou seja, tenham o mesmo
pedido e a mesma causa de pedir.
Isto é, quando há propositura de uma ação preventiva pelo contribuinte,
como a propositura de uma ação declaratória, com a finalidade de assegurar
a não cobrança de determinado tributo, por exemplo; não há o que se falar
em renúncia às instâncias administrativas, tendo em vista que o objeto desta
citada ação, e o de uma possível reclamação administrativa não será o
mesmo.
Por outro lado, a existência de processos administrativo e judicial
concomitantes, e com o mesmo objeto, implica em renúncia às instâncias
administrativas, conforme expressa a Súmula nº 1, do CARF.
No mesmo sentido, o Parecer Normativo COSIT nº 07/2014 reforça tal
entendimento, além de determinar que, em detrimento do processo
administrativo, o processo judicial prevalecerá.

7. A Lei n° 13.988/2020 incluiu o art. 19-E na Lei nº 10.522/2002, cujo enunciado


prescreve que “em caso de empate no julgamento do processo administrativo
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de determinação e exigência do crédito tributário, não se aplica o voto de


qualidade a que se refere o § 9º do art. 25 do Decreto nº 70.235, de 6 de
março de 1972, resolvendo-se favoravelmente ao contribuinte.”. Tomando
como base o dispositivo legal ora transcrito, responda:

i) A existência do chamado “voto de qualidade”, tal qual originalmente


previsto no art. 25, § 9º, do Decreto nº 70.235/72, afrontava preceitos legais
de hierarquia superior e/ou constitucionais? E a extinção desse expediente,
imposto pela Lei nº 13.988/2020, pressupõe alguma violação a princípios
constitucionais e/ou legais? Responder as questões cotejando os cânones
constitucionais da igualdade, do devido processo legal, da presunção de
inocência e da supremacia do interesse público, bem como o disposto no
art. 112 do CTN.

O “voto de qualidade” afronta o Princípio Constitucional da Igualdade,


tendo em vista que possibilita a decisão de um processo administrativo com
voto “duplicado” em favor do Fisco. Ademais, tal instituto viola o Princípio do
Devido Processo Legal, haja vista a forma arbitrária com que o processo é
julgado quando o “voto de qualidade” é aplicado.
Por estes motivos, a extinção do “voto de qualidade” não pressupõe
violação a quaisquer princípios, haja vista que sua existência afronta o
Princípio da Presunção de Inocência, previsto no artigo 112, do CTN. Isso
porque, o “voto de qualidade” pode acabar por beneficiar o Fisco, quando em
caso de dúvidas, a decisão deverá ser favorável ao réu.
Por fim, a extinção do “voto de qualidade” está em total acordo com o
Princípio da Supremacia do Interesse Público, tendo em vista que tal extinção
busca a aplicação do devido processo legal e da imparcialidade nos
julgamentos administrativos.

ii) A expressão “processo administrativo de determinação de crédito” abarca


os processos que tenham sido originados da não homologação de
declarações de compensação e do indeferimento de pedidos de
ressarcimento/restituição de créditos? E os processos administrativos
originados e autuações aduaneiras (pena de perdimento, por exemplo)?

A expressão “processo administrativo de determinação de crédito” não


abarca os processos que tenham sido originados da não homologação de
declarações de compensação e do indeferimento de pedidos de
ressarcimento/restituição de créditos, tendo em vista que tal expressão refere-
se aos procedimentos administrativos fiscais, utilizados para calcular o valor
de tributo devido pelos contribuintes.
Por outro lado, com relação aos processos administrativos originados e
autuações aduaneiras, estes podem ser considerados “processos
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administrativos de determinação de crédito”, pois buscam determinar crédito


devidos pelos contribuintes, por eventuais infrações relativas ao comércio
exterior.

8. A Administração lavra contra determinado contribuinte auto de infração


imputando duas condutas que resultaram em ausência de recolhimento de
imposto. Em face do auto, o contribuinte se insurge contra apenas uma das
imputações, mantendo-se inerte em relação à remanescente. Pode o Fisco
segregar o auto de infração para cobrança da parte não expressamente
impugnada?

O Fisco pode segregar o auto de infração para cobrança da parte não


expressamente impugnada, tendo em vista que o §1º, do artigo 21, do Decreto
nº 70.235/1972, assim permite. Tal dispositivo prevê que, em caso de
impugnação parcial, o órgão responsável procederá com a formação de autos
apartados para cobrança imediata da cobrança não contestada.

9. Analise os acórdãos lavrados no RE nº 601.314 e na ADIN 2859 e responda,


em relação à quebra de sigilo bancário:

a) Há diferença entre envio de Declaração de Movimentação Financeira


(DIMOF), atual e-FINANCEIRA, pelos bancos à RFB, e a obtenção de extratos
bancários pela RFB junto aos bancos, sem autorização judicial. (Vide anexos
VII e VIII).

A DIMOF e a obtenção de extratos pela FRB possuem diferenças entre


si. a obtenção de extratos bancários pela RFB junto aos bancos, sem
autorização judicial é prática ilegal, que viola o sigilo fiscal e bancário, ambos
oriundos do artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal.
De outro giro, a Declaração de Movimentação Financeira (DIMOF), atual
e-FINANCEIRA, pelos bancos à RFB trata-se de obrigação das instituições
financeiras. por meio da e-Financeira, as referidas instituições devem
informar, à Receita Federal, acerca de movimentações financeiras de seus
clientes.

b) A declaração efetuada para fins de aproveitamento do Programa que


recebeu o nome de “Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária”
– RERCT, criado pela Lei n. 13.254/16 está protegida pelo sigilo fiscal?

Sim, a declaração efetuada para fins de aproveitamento do RERCT está


protegida pelo sigilo fiscal, conforme prevê o artigo 7º, §1º, da Lei
13.254/2016. Este dispositivo prevê que a “divulgação ou publicidade de
informações presentes no RERCT implicarão efeito equivalente à quebra do
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sigilo fiscal”. Dessa forma, resta evidente a proteção, pelo sigilo fiscal, da
declaração do RERCT.

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