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SEMINÁRIO II: SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO

CRÉDITO TRIBUTÁRIO, MS E LIMINARES

ALUNA: LARISSA MARIA LIMA LIRA

QUESTÕES

1. No art. 151 do CTN, que significa o termo “exigibilidade”? Quando


surge essa “exigibilidade”? E qual o efeito da suspensão da exigibilidade?
Impede-se (i) o lançamento, (ii) a inscrição na dívida ativa, (iii) a execução
fiscal; (iv) todos estes atos? (vide anexo I a IV).
R: No art. 151 do CTN, o termo “exigibilidade”, segundo Paulo de Barros (Curso de
Direito Tributário, 2019):

Por exigibilidade havemos de compreender o direito que o credor


tem de postular, efetivamente, o objeto da obrigação, e isso tão só
ocorre, como é óbvio, depois de tomadas todas as providências
necessárias à constituição da dívida, com a lavratura do ato de
lançamento tributário. No período que antecede tal expediente,
ainda não se tem o surgimento da obrigação tributária,
inexistindo, consequentemente, crédito tributário, o qual nasce
com o ato do lançamento tributário. (pág. 523)

Na mesma linha de pensamento segue Fabiana Del Padre Tomé, em texto


disponibilizado pelo IBET, pág. 5, onde compreende: “(iii) exigibilidade: poder de
cobrar a prestação introduzida no ordenamento pelo ato administrativo.”

Assim, temos que a exigibilidade do art. 151 do CTN só surge quando o FISCO pode
de fato cobrar o objeto da obrigação tributária, ou seja, quando há a constituição
do crédito tributário, com a lavratura do ato do lançamento tributário.

Fabiana Del Padre Tomé, ainda chama atenção para o fato de que, a exigibilidade
não surge no exato momento da lavratura do ato de lançamento tributário, na
medida em que, é necessário esperar seu vencimento para que o FISCO possa
tomar medidas ativas de cobrança:

Como se vê, a exigibilidade não surge lógica e cronologicamente


no mesmo instante em que o ato administrativo passa a existir no
ordenamento: para que o sujeito ativo possa tomar as
providências necessárias à cobrança do crédito tributário é
imprescindível que se tenha operado o vencimento da prestação
tributária. Somente quando concretizado esse fator estará o Fisco
habilitado a cobrar o crédito tributário, mediante inscrição do
débito na Dívida Ativa e o consequente ajuizamento da execução
fiscal. (pág. 6)
Para entender os efeitos da suspensão da exigibilidade, é preciso atentar-se ao fato
de que, as hipóteses previstas no art. 151 do CTN podem concretizar-se antes da
própria constituição do crédito (liminar em MS preventivo), antes de iniciado o
período de exigibilidade (reclamações e recursos administrativos) e após iniciada a
exigibilidade.

Feitas tais considerações, sem dúvidas, a exigibilidade impede (ii) a inscrição na


dívida ativa, (iii) a execução fiscal, que indubitavelmente são atos do FISCO de
cobrança do crédito tributário. As discussões caem sobre a possibilidade ou não da
suspensão da exigibilidade atingir (i) o lançamento, ou seja, a própria constituição
do crédito tributário.

Alinho-me ao pensamento de que a suspensão da exigibilidade não impede o ato de


lançamento do crédito tributário, sendo este inclusive necessário para operar-se a
suspensão da exigibilidade, conforme aduz Fabiana Del Padre Tomé (Pág. 8):

O ato de lançamento tributário, devidamente notificado ao


contribuinte, confere existência ao crédito tributário. E o termo de
existência não é impedido ou postergado por qualquer das causas
suspensivas da exigibilidade do crédito tributário. Pelo contrário:
para que possamos falar na suspensão da exigibilidade do crédito
tributário é necessário que exista o crédito a ser suspenso. O fato
suspensivo da exigibilidade do crédito tributário produz a
paralisação da incidência de normas voltadas à efetivação do
direito de o sujeito ativo exigir os valores do sujeito passivo. Por
isso concordamos com Décio Porchat18 no sentido de que,
notificada a autoridade competente da medida liminar concedida,
está deverá efetuar o ato de lançamento, constituindo o crédito
tributário, para, depois disso, operar-se a suspensão da
exigibilidade do gravame. Se assim não o fizer, sua inércia
ocasionará a perda do direito de constituir o crédito tributário
(decadência), nos termos do art. 173, I ou 150, § 4º, do CTN,
conforme se trate de tributo sujeito a lançamento de ofício ou a
lançamento por homologação, respectivamente.

Assim, a suspensão atinge a exigibilidade do crédito e não o crédito em si, não


afetando a competência da autoridade administrativa de efetuar o ato de
lançamento tributário.

2. Em que sentido a expressão “crédito tributário” foi utilizada no art.


151 do CTN? Essa expressão congrega também liames decorrentes da prática
de atos ilícitos (e.g. multa por desrespeito aos deveres instrumentais)?
R: A expressão crédito tributário foi utilizada no art. 151 do CTN, no sentido de se
referir ao que Paulo de Barros Carvalho chama de norma tributária em sentido
estrito, bem explicado pela Fabiana Del Padre Tomé (Pág. 9), em texto
disponibilizado pelo IBET:
Conciliando a terminologia acima proposta com os requisitos
necessários à configuração do tributo, podemos definir norma
jurídica tributária em sentido estrito como a norma cuja hipótese
conota um fato lícito de possível ocorrência, prescrevendo, no
consequente, relação jurídica que obrigue um sujeito de direito a
entregar certa quantia em dinheiro a outro sujeito de direito. É a
chamada norma-padrão de incidência ou regramatriz de
incidência, cuja aplicação faz surgir o crédito tributário.

Desta forma, a expressão crédito tributário não atinge as normas que conferem
operacionalidade ao sistema jurídico tributário, destinadas a fiscalização e
arrecadação dos tributos, chamados de deveres instrumentais. Por consequência,
essa expressão não congrega os liames decorrentes da prática de atos ilícitos
(como por ex.: multa por desrespeito aos deveres instrumentais), já que tais ainda
precisam ser cumpridos normalmente.

Tal situação é inclusive positivada no § único do art. 151 do CTN:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:


(...)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o
cumprimento das obrigações assessórios dependentes da
obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela
conseqüentes.

Destarte, a suspensão da exigibilidade atinge somente o direito do FISCO de


postular o valor devido à título de tributo.

3. As hipóteses de “suspensão da exigibilidade do crédito tributário”


previstas no art. 151 do CTN são taxativas? (vide anexo V). Considerando que
não houve alteração nos art. 151 do CTN, pergunta-se:
R: Para a doutrina e para a jurisprudência, o entendimento que se aplica é que as
hipóteses previstas do art. 151 do CTN são taxativas, em razão do art. 111, também
do CTN, exigir interpretação literal da legislação tributária que disponha sobre
suspensão da exigibilidade do crédito tributário, como também, em razão do art.
141 dispor que apenas lei complementar poderia legislar sobre suspensão da
exigibilidade do crédito tributário.

Contudo, no campo prático, o que se observa é a existência de um caráter apenas


exemplificativo no rol do art. 151, uma vez que, o próprio CTN (§2º do art. 161) e a
Lei Federal nº 6.830/1980 possuem institutos de efeitos equiparados aqueles
descritos no art. 151 do CTN, paralisando também o processo de positivação.
Assim, se efetivamente existem outras causas com os mesmos efeitos da suspensão
da exigibilidade, sem que estejam elencadas no art. 151 do CTN, este se torna
taxativo.
Muito embora, a situação acima delineada não seja reconhecida pelos Tribunais
Pátrios, a mesma é uma realidade no ordenamento jurídico.

a) A equiparação, prescrita pelo §2º do art. 835 do CPC/15, a dinheiro da


fiança bancária e do seguro garantia, tem o condão de consagrar a hipótese
de suspensão do crédito tributário prevista no art. 151, II, do CTN?
R: Entendo que sim. A liquidez e a certeza do seguro-garantia/fiança bancária
fazem com que ele seja idêntico ao depósito em dinheiro, não havendo motivos
para a sua não aceitação para suspensão do crédito tributário previsto no art. 151,
II do CTN.

O ministro do STJ Napoleão Maia Filho, comentando sobre a decisão do Resp


1381253, bem leciona:

Tornou-se claro que o dinheiro, a fiança bancária, bem como o


seguro-garantia são equiparados para os fins de substituição da
penhora ou mesmo para a garantia do valor da dívida ativa, seja
ela tributária ou não tributária, sob a ótica absolutamente
alinhada do parágrafo 2º do artigo 835 do Código Fux, combinado
com o inciso II e parágrafo 3º do artigo 9º da Lei 6.830/1980,
alterado pela Lei 13.043/2014 <
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Notici
as/Fianca-bancaria-e-seguro-garantia-judicial-podem-suspender-
exigibilidade-do-credito-nao-tributario-.aspx >

Importante ainda se faz destacar que, não se pode conceder interpretação errada
ao disposto na Súmula 112 do STJ, que assim dispõe: “O depósito somente suspende
a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro”.

Referida Súmula 112 do Superior Tribunal de Justiça decorre dos precedentes


firmados no REsp 8.764, no RMS 1.269, no RMS 1.267 e no REsp 30.610, todos
voltados a determinar que títulos da dívida agrária ou cartas de fianças bancárias
não podiam, ao menos à época das referidas decisões, fundamentar pedidos de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário baseados no inciso II, do artigo
151, do Código Tributário Nacional.

Desta forma, e considerando que me alinho ao entendimento de que o rol do art.


151 é apenas exemplificativo, a equiparação, prescrita pelo §2º do art. 835 do
CPC/15, a dinheiro da fiança bancária e do seguro garantia, tem sim o condão de
consagrar a hipótese de suspensão do crédito tributário previsto no art. 151, II, do
CTN, uma vez que, hodiernamente, tais títulos, gozam de liquidez e certeza como o
dinheiro.

b) As espécies de tutela provisória previstas no CPC/15 se aplicam ao


Processo Tributário? Tais medidas têm o condão de suspender a
exigibilidade do crédito tributário?
R: Sim, as tutelas provisórias previstas no CPC de 2015 se aplicam ao Processo
Tributário e têm o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário, nos
termos do art. 151, inciso V do CTN, que assim claramente dispõe:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:


(...)
V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em
outras espécies de ação judicial;

4. Sobre o depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória


proposta antes da constituição do crédito tributário, pergunta-se: trata-se de
faculdade do contribuinte? Há distinção entre depósito judicial para fins do
art. 151, II do CTN e prestação de caução? O levantamento do depósito
judicial pelo contribuinte vincula-se ao êxito (com trânsito em julgado) da
ação pelo contribuinte ou o juiz pode a qualquer tempo autorizar o
levantamento do depósito? (vide anexo VI).
R: Sim, trata-se de uma faculdade do contribuinte, uma vez que não há qualquer
obrigação legal de fazê-la, como bem leciona Paulo de Barros em seu Curso de
Direito Tributário, 2019: “Não se configura uma diligência obrigatória e, na
primeira eventualidade, tem unicamente o efeito de evitar a atualização do valor
monetário da dívida (correção monetária)” (Pág. 530)

Sim, há distinção entre depósito judicial e a prestação de caução. Os valores à


disposição do juízo configuram depósito judicial, suspendem a exigibilidade do
crédito fiscal, nos termos do artigo 151, II, do CTN; se representam caução, é
porque fora oferecida como garantia ao deferimento de medida liminar, e acaba
por se subsumir a hipótese do artigo 151, IV, do CTN.

Filio-me ao entendimento de que o juiz pode a qualquer tempo autorizar o


levantamento do depósito, uma vez que, o contribuinte poderia ter escolhido não
fazê-lo, contudo, tendo o mesmo que arcar com as consequências de sua decisão de
fazer o levantamento.

Contudo, é preciso esclarecer que o entendimento dos Tribunais não é nesse


sentido, uma vez que, compreendem que uma vez realizado o depósito a
destinação é vinculada diretamente ao resultado do processo.

Sobre o tema, preciosas são as lições de Regina Helana Costa, em sua obra Curso de
Direito Tributário, Constituição e Código Tributário Nacional (8ª edição):

O entendimento corrente é o de que, uma vez efetuado o depósito,


sua destinação está necessariamente vinculada ao resultado do
processo. S e extinto o processo sem resolução do mérito, por
qualquer fundamento, o depósito há de ser levantado pelo próprio
contribuinte, uma vez que a decisão judicial não provocou
nenhuma modificação na relação tributária de direito
material.304 Por outro lado, se o processo foi extinto com
resolução do mérito, há duas possibilidades: julgado procedente o
pedido, o contribuinte tem direito ao levantamento da quantia
depositada; se ocorrer a improcedência, o depósito deverá ser
convertido em renda da Fazenda Pública.305

Nossa opinião, entretanto, é bastante diversa. Sustentamos que,


em sendo o depósito direito do contribuinte, a ser exercido dentro
de certos limites, este pode proceder ao levantamento do
respectivo valor a qualquer tempo, enquanto não houver decisão
judicial definitiva. Vale dizer, requerendo o levantamento do valor
depositado, estará abrindo mão da situação de suspensão da
exigibilidade do crédito tributário e, consequentemente,
ensejando a possibilidade de sua cobrança por meio de execução
fiscal.

Ademais, nessa linha de raciocínio, cremos que, mesmo diante de


uma decisão judicial definitiva de improcedência, ainda assim é
possível ao contribuinte proceder ao levantamento da quantia que
depositou, pois a conversão de depósito em renda constitui
espécie de pagamento (art. 156, VI, CTN) e, portanto, modalidade
voluntária de extinção da obrigação tributária. Pensamos,
contudo, que, caso não tenha o contribuinte êxito na ação judicial
que propôs, ao formular o requerimento de levantamento do
montante depositado, deve a Fazenda Pública ser cientificada a
respeito para, querendo, tomar as providências necessárias com
vista à penhora desse valor, com o consequente prosseguimento
da execução fiscal.

Lembre-se, por derradeiro, de que a Lei n. 6.830, de 1980 (Lei de


Execução Fiscal), em seu art. 38, menciona ações judiciais
admissíveis para a discussão da dívida ativa, dentre as quais a
ação anulatória, estabelecendo deva ela ser precedida do depósito
do valor integral do débito tributário.306 O entendimento de que
tal depósito constitui condição de procedibilidade há de ser
afastado, por ser incompatível com o princípio da inafastabilidade
do controle jurisdicional (art. 5º, XXXV, CR). Assim, a
interpretação consentânea com tal diretriz é no sentido de que a
ação anulatória pode ser proposta sem a necessidade de depósito;
mas o depósito do montante integral do débito em discussão, uma
vez efetuado, impede a Fazenda Pública de ajuizar a execução
fiscal. (págs. 192 e 193)

5. A partir da vigência do CPC/15 foi instituído um novo fundamento


para a concessão de tutela provisória, a evidência do direito, tal como
preveem os arts. 294 e 311. Pergunta-se:
a) Identifique a diferença entre tutela antecipada e tutela cautelar. É possível
a concessão de tutela provisória antecipada em mandado de segurança? Ou
em mandado de segurança tão somente é admissível medidas provisórias de
natureza cautelar?
R: Entende-se por tutela cautelar uma ação com o objetivo de garantir o êxito do
processo principal, assegurando a eficácia do resultado e evitando que, com o
passar do tempo, o mesmo se torne inútil. Portanto, a tutela cautelar pode ser
definida como uma tutela definitiva não satisfativa com efeitos antecipáveis. Ela
tem como objetivo, portanto, preservar os efeitos úteis da tutela definitiva
satisfativa. A tutela cautelar pode ser preparatória, quando for proposta antes da
ação principal, ou incidental, quando for proposta durante o desenvolvimento da
ação principal.

A tutela antecipada é caracterizada por dar eficácia imediata à tutela definitiva. A


característica de antecipação dos efeitos da tutela é a capacidade que o advogado
dá ao juiz de conceder antecipadamente ao requerente o que somente poderia ser
obtido com uma sentença de procedência de mérito. Entretanto, o juiz só concede a
tutela antecipada mediante prova substancial e irrefutável, ou seja, somente se ele
estiver totalmente convencido que as alegações são verdadeiras.

Assim, temos que a tutela antecipada é de cunho satisfativo, portanto, sua decisão
antecipa os resultados que só seriam obtidos após o término do processo,
conforme mencionado acima. Já a tutela cautelar tem por finalidade assegurar os
resultados até o término do processo.

Sim, é possível a concessão de tutela provisória antecipada em sede de Mandado


de Segurança. Por seu caráter mandamental e protetor de direito líquido e certo,
consagrado nos direitos e garantias individuais e coletivos (CF: art.5º, LXIX e LXX),
a ação de mandado de segurança tem por finalidade a proteção rápida e eficaz
contra direito violado por autoridade, a qual só pode ser realizada, de maneira
expedita, no momento da concessão da liminar, porque, por meio desta, suspende-
se, ou estanca-se, o ato violador do direito do impetrante. A própria Lei de
Mandado de Segurança (lei 12.016/09), prevê, no artigo 7º, III, e §1º, a
possibilidade de concessão de liminar, independente de ser de natureza antecipada
ou cautelar.

b) É cabível o requerimento de liminar em mandado de segurança fundada


na evidência do direito a partir da vigência do CPC/15? Ou diante das
disposições da Lei Federal n. 12.016/09, apenas é cabível o requerimento de
liminares fundadas em urgência, a outra espécie de tutela provisória
prevista no CPC/15?
R: Considerando somente as causas tributárias, as restrições trazidas pelo artigo
7º, parágrafo 2º, da Lei 12.016/2009, acabam por evidenciar que somente seria
cabível medida liminar em mandado de segurança de cunho cautelar. Contudo,
com o advento do CPC/15, ao instituir a figura da “tutela de evidência” – art. 311,
prevendo ainda que esta poderia dar-se de maneira liminar, dispensando a
demonstração de risco ao resultado útil do processo, novos entendimentos
apareceram,

Sobre o assunto, bem discorre Paulo César Conrado, em artigo publicado no


CONJUR e disponibilizado pelo IBET:

Dessas hipóteses, uma é de realçada importância para o direito


tributário: a inscrita no inciso II, que afirma viável a outorga do
provimento se “as alegações de fato puderem ser comprovadas
apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante”.

Como o CPC/2015 não define, materialmente, os efeitos extraíveis


da tutela de evidência (deixando de apontar, por outros termos, se
a providência por ela aparelhada é cautelar ou satisfativa), fica a
questão desde logo: o jurisdicionado pode pedir tutela de
evidência apenas para um, para outro ou para ambos os fins?

Em princípio, poderíamos dizer que, por não restritivo, o novo


estatuto caminharia para uma posição mais abrangente,
contemplando, via tutela de evidência, tanto as providências
cautelares como as satisfativas.

Se assim for, partindo-se da premissa (já assentada) de que


liminar em mandado de segurança é submodelo de cautelar, o que
se poderia concluir é, para além das condições gerais fixadas nos
incisos do artigo 7º da Lei 12.016/2009[2], seria possível a
concessão da aludida medida sob o regime do artigo 311
(especificamente em seu inciso II).

Ter-se-ia, com isso, uma variante à “clássica” medida liminar em


mandado de segurança, que se caracterizaria, inovadoramente,
pela irrelevância do periculum in mora.

Essa é, parece-nos, uma das mais interessantes implicações da


legislação processual em relação ao direito tributário — primeiro
de tudo, sabe-se, por conta da recorrente utilização do mandado
de segurança nessa matéria; segundo, porque, nos termos do
inciso IV do artigo 151 do Código Tributário Nacional[3], liminar
em mandado de segurança é causa de suspensão de exigibilidade,
potencial que, seguido o raciocínio apresentado, se estenderia às
tutelas de evidência.

Desta forma, tenho o entendimento de que é possível o requerimento de liminar


em mandado de segurança fundada na evidência do direito a partir da vigência do
CPC/15, desde que fundada no art. 311, inciso II do CPC/15.

6. Dado o seguinte caso concreto: Gênesis Waves Ltda. obteve liminar em


Mandado de Segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário
que posteriormente foi “cassada” pela sentença de denegação da segurança.
Pergunta-se:
a) na hipótese de a empresa apelar da sentença que “cassou” a liminar, o
recebimento de sua apelação, nos efeitos suspensivo e devolutivo, tem o
condão de afastar os efeitos da sentença e reconstituir os efeitos da liminar?
Responder a pergunta considerando as disposições do CPC/15 a respeito dos
efeitos da apelação (vide anexo VII).
R: Sim, no caso do recebimento da apelação se dar nos efeitos suspensivo e
devolutivo, pode reconstituir os efeitos da liminar, afastando os da sentença, a
depender do caso concreto, não sendo uma regra obrigatória.

Explique-se. De acordo com o artigo 1.012 do Novo CPC a apelação, em regra, terá
efeito suspensivo e devolutivo, entretanto, em determinados e excepcionais casos
será atribuído efeito não suspensivo, ou seja, a sentença poderá ser executada de
forma provisória, ainda que o recurso de apelação esteja pendente de julgamento.

Assim, o §1º do art. 1.012 do CPC prevê hipóteses em que se atribui apenas o efeito
devolutivo à apelação, ou seja, a sentença começa a produzir efeitos imediatos a
partir de sua publicação. Uma dessas hipóteses, diz respeito a exposto no inciso V,
que é quando a sentença confirma, concede ou revoga tutela provisória. Ou seja, no
caso de uma sentença que ‘cassa’ uma liminar, o efeito suspensivo deixa de ser
regra e passa a ser exceção, nos termos §3º do mesmo art., que prevê a
possibilidade de requerer efeitos suspensivos a sentenças que deveriam surtir
efeitos imediatos.

Pois bem, para que no caso concreto a liminar seja reestabelecida é necessário que
o Apelante, demonstre a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo
relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação, nos
termos do §4º do art. 1.012 do CPC.

Desta forma, cabe ao julgador da apelação decidir, de acordo com o caso concreto,
se é necessário reestabelecer os efeitos da liminar.

b) Há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o


crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de
liminar concedida em Mandado de Segurança, posteriormente cassada por
ocasião da sentença? E se a liminar foi concedida depois de vencido o prazo
para pagamento do tributo? (vide anexos VIII e IX).
R: Não há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o
crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de liminar
concedida em Mandado de Segurança, posteriormente cassada por ocasião da
sentença, uma vez que, enquanto a impetrante estava amparada por decisão
judicial e vigente, causa suspensiva da exigibilidade do tributo, não há, destarte,
mora.

Este entendimento é extraído do art. 63, §2º da Lei de nº 9.430/96, que assim
dispõe:
Art. 63. Na constituição de crédito tributário destinada a prevenir
a decadência, relativo a tributo de competência da União, cuja
exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do
art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá
lançamento de multa de ofício.
(...)
§ 2º A interposição da ação judicial favorecida com a medida
liminar interrompe a incidência da multa de mora, desde a
concessão da medida judicial, até 30 dias após a data da
publicação da decisão judicial que considerar devido o tributo ou
contribuição.

Como o dispositivo supra transcrito somente afasta a incidência de multa de ofício


no lançamento tributário, na hipótese em que o crédito tributário encontra-se com
sua exigibilidade suspensa, nos casos em que a liminar foi concedida após vencido
o prazo para o pagamento, tendo a mesma sido cassada posteriormente pela
sentença, cabe multa moratória, uma vez que esta se destina a punir o
descumprimento da norma tributária que determina o pagamento do tributo no
vencimento. Os juros moratórios, por sua vez, não devem incidir sob o período que
encontrava-se suspensa a exigibilidade do crédito, por meio de liminar.

7. Primeiramente distinga tutela antecipada e tutela cautelar. Fixados


esses conceitos, responda à seguinte pergunta: diante do novo cenário das
tutelas provisórias do código de processo civil de 2015, a ordem judicial
suspensiva da exigibilidade da obrigação tributária, tenha fundamento na
urgência ou na evidência, assume natureza antecipada ou cautelar?
R: Entende-se por tutela cautelar uma ação com o objetivo de garantir o êxito do
processo principal, assegurando a eficácia do resultado e evitando que, com o
passar do tempo, o mesmo se torne inútil. Portanto, a tutela cautelar pode ser
definida como uma tutela definitiva não satisfativa com efeitos antecipáveis. Ela
tem como objetivo, portanto, preservar os efeitos úteis da tutela definitiva
satisfativa. A tutela cautelar pode ser preparatória, quando for proposta antes da
ação principal, ou incidental, quando for proposta durante o desenvolvimento da
ação principal.

A tutela antecipada é caracterizada por dar eficácia imediata à tutela definitiva. A


característica de antecipação dos efeitos da tutela é a capacidade que o advogado
dá ao juiz de conceder antecipadamente ao requerente o que somente poderia ser
obtido com uma sentença de procedência de mérito. Entretanto, o juiz só concede a
tutela antecipada mediante prova substancial e irrefutável, ou seja, somente se ele
estiver totalmente convencido que as alegações são verdadeiras.

Assim, temos que a tutela antecipada é de cunho satisfativo, portanto, sua decisão
antecipa os resultados que só seriam obtidos após o término do processo,
conforme mencionado acima. Já a tutela cautelar tem por finalidade assegurar os
resultados até o término do processo.
Destarte, a ordem judicial suspensiva da exigibilidade da obrigação tributária que
tenha como fundamento urgência ou evidência, assume natureza cautelar, uma vez
que, em matéria de ordem tributária, não há como antecipar os efeitos do
provimento jurisdicional fim, pois não é possível anular o crédito tributário em
sede liminar (já que o provimento satisfativo é a extinção do crédito tributário),
mas tão somente suspender a exigibilidade da obrigação tributária.

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