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Aula 2: Quem litiga? Litigância pode redistribuir a Justiça?

Quais são as vantagens


dos grandes litigantes?
GALANTER, Marc, 1974. Por que “quem tem” sai na frente: especulações sobre os limites da transformação no direito;
organizadora e tradutora: Ana Carolina Chasin. São Paulo: FGV Direito SP, 2018, Coleção acadêmica livre, pp. 43-130

● O que é litigância? Algo que está em litígio, ou seja, algo caracterizado pelo conflito
de interesses judiciais que se estabelece por meio da contestação da demanda ou
solicitação.
● Tipologia das partes:
○ Participantes Eventuais (PE’s): atores que recorrem aos tribunais
ocasionalmente.
■ Tenta maximizar o ganho tangível e imediato.
■ Geralmente são pessoas físicas.
■ Menor experiência e expertise.
■ Ex: cônjuge em caso de divórcio.
○ Jogadores Habituais (JH’s): atores que se envolvem várias litigâncias
similares ao longo do tempo.
■ Tenta maximizar o ganho efetivo.
■ Maior experiência e expertise.
■ Geralmente são pessoas jurídicas.
■ Buscam ganhos em escala.
■ Possuem maiores recursos informacionais e financeiros.
■ Assumem mais riscos.
■ Ganho normativo: se preocupam com os precedentes que serão
originados após decisão do caso, e com os resultados futuros das
partes.
● Quadro de Galanter (autor vs. réu):
○ PE vs. PE:
■ Grande parte é pseudolitigância;
■ Na maior parte das vezes, as partes possuem laço íntimo e disputam
um bem impartilhável;
■ Mais individualizado;
■ Ex: marido e esposa (divórcio); interdições.
○ PE vs. JH:
■ Pouco individualizado.
■ Ex: beneficiário e previdência social.
○ JH vs. PE:
■ Maior volume de litígios.
■ O estado de direito é interesse do JH e não do PE.
■ Pouco individualizado.
■ Ex: financiadora e devedor.
○ JH vs. JH:
■ Pode ter casos especiais, sendo assim mais individualizado.
■ Ex: sindicato e empresa.
● Advogados:
○ São considerados JH, já que participam de mais litígios e, assim, possuem
mais experiência e prática na assessoria pública.
○ Advogados muito especializados podem tratar seus clientes como
mercadorias, já que, com a intenção de agilizar seus processos, podem tratar
seus casos de forma menos individualizada. Ex: danos pessoais, crimes).
○ Advogados de PE:
■ Considerados “baixo escalões” da profissão.
■ Problemas de mobilização da clientela.
■ Tipo de serviço jurídico e sem criatividade.
■ Problemas para desenvolver estratégias de otimização.
● Maiores litigantes no Brasil: pessoas jurídicas de direito interno, autarquias e
instituições privadas. Ex: INSS, Caixa e Fazendo Nacional.
● Sistema judiciário neutro em relação a “quem tem” e “quem não tem”: faz com que
os JH sempre se favorecem através dos precedentes, já que esses também têm
interesse nos ganhos normativos.
● Regras tendem a beneficiar interesses mais antigos e culturalmente dominantes;
quando são alteradas tendem a beneficiar os JH’s, e se as regras não beneficiarem
diretamente os JH, esses vão tentar ao máximo se habituar com as novas normas.
● Alternativas ao sistema jurídico (privado ou público - “anexos”):
○ Saída: dissociação de uma relação em que as partes apenas rompem
qualquer compromisso existente entre eles sem acionarem o sistema.
○ Inércia: a “não-ação” do indivíduo diante da justiça;
○ Controle não oficial: uso do sistema privado, como arbitragem e mediação.
● Estratégias para reforma (transformação redistributiva: mudança na distribuição de
poder):
○ Mudança de regras: facilitação da organização, aumento da oferta de
serviços jurídicos e aumento dos custos dos oponentes.
○ Melhorias dos aparatos institucionais: maior disponibilidade quantitativa dos
tribunais e instituições, o que faria ter menos atrasos e custos aos PE’s.
○ Melhoria dos serviços jurídicos em qualidade e quantidade: aumento da
quantidade e qualidade da defensoria pública, dando um serviço de
qualidade aos PE’s e diminuindo a diferença de expertise entre esses e os
JH’s.
○ Melhoria da posição estratégica de “quem não tem”: organização de PE’s em
JH’s por meio de sindicatos (ação coletiva).
● Litigiosidade repetitiva: ajuizamento massificado de ações idênticas.
○ Na maior parte das vezes, PE vs. JH.
○ Ampliação da perspectiva sobre o crescimento de morosidade e litigiosidade,
dentro e fora do sistema judicial.
○ Ex: cartão de crédito pós-pago (poucas informações ao consumidor).

Aula 3: Acesso à Justiça.


GABBAY, Daniela Monteiro; COSTA, Susana Henriques da; ASPERTI, Maria Cecília Araujo. Acesso à justiça no Brasil:
reflexões sobre escolhas políticas e a necessidade de construção de uma nova agenda de pesquisa”. Revista Brasileira de
Sociologia do Direito. V. 6, n. 3, Set./Dez. 2019, pp. 152-181.

● Acesso à justiça é um direito social que demanda prestações positivas por parte do
Estado diante do reconhecimento de novas injustiças e da dinamicidade das
fronteiras entre justiça e injustiça:
○ Dimensão substancial de transformação social pela efetivação de direitos
○ Dimensão procedimental, relacionada à ampliação, racionalização e controle
do aparato governamental de realização de direitos.
● Galanter: acesso à Justiça é um recurso escasso (“cobertor curto”), em um mundo
de capacidade social em expansão e que há uma escolha política distributiva, muitas
vezes implícita no desenho institucional e normativo de um determinado país, na
distribuição deste direito a determinados litigantes (JH vs. PE) à dificuldade em
universalizar a justiça.
● Três linhas de análise sobre a democratização do acesso à justiça:
○ 1° onda: eliminação de obstáculos econômicos, culturais e sociais que
dificultam o acesso à Justiça. Quanto custa para entrar na Justiça?
○ 2° onda: democratização do acesso à Justiça como sendo uma das
premissas da democratização do Estado. Como as pessoas se organizam ao
entrar na Justiça?
○ 3° onda: participação da comunidade na solução de conflitos como critério
para a democratização. Como a Justiça funciona?
● “Litigantes-sombra” (Herman Benjamin): litigantes ocasionais acabam representando
uma coletividade de ausentes.
● Agenda redistributiva do acesso à justiça:
○ Litigância estratégica de interesse público;
○ Iniciativas legislativas ou interpretações jurisprudenciais voltadas a fortalecer
a ação coletiva;
○ Adoção de técnicas para desjudicializar demandas de cobranças em massa
e desestimular condutas ilícitas de JH’s.
○ gratuidade da justiça e dos serviços jurídicos; pluralismo jurídico; equidade e
imparcialidade das decisões judiciais à tribunais de pequenas causas e
fortalecimento e ampliação de serviços jurídicos gratuitos de qualidade.
● Agenda eficientista e gerencial do acesso à Justiça:
○ impedir a morosidade, a incerteza jurisdicional e falta de segurança jurídica e
previsibilidade das decisões judiciais no desenvolvimento econômico à
instrumentos judiciais que centralizam as tomadas de decisões no Judiciário.
○ Não olhar só para o Estado/governo; também prestar atenção no interesse
dos jogadores habituais/maiores litigantes.

Seminário II: Acesso à justiça e desigualdades.


SANDEFUR, Rebecca L. Access to Civil Justice and Race, Class, and Gender Inequality. (May 1, 2010). Annual Review of
Sociology, Vol. 34, August 2008. Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=1142098

● Abordagem comportamental:
○ Bottom-up: parte de experiências individuais ou coletivas sobre problemas
judicionalizáveis e traça uma relação entre condições sociais e históricas
com os resultados de sistemas de resolução de conflitos.
○ Top-down: fala que o sistema judicial e seus agentes não ajudam a facilitar
grupos diferentes a atingirem seus objetivos.
■ Define que o acesso de justiça está ligado a capacidade de pagar por
um advogado, e isso facilita a desigualdade
○ Experiências civis podem destruir ou desestabilizar a desigualdade já que as
disparidades são reduzidas com o contato com eventos judicializáveis ou
instituições legais
○ A desigualdade de classe e socioeconômica: pessoas de status
socioeconômicos mais altos são mais prováveis de tomar uma ação
envolvendo a lei do que pessoas mais pobres.

Aula 4: Instrumentalidade e tipos de processo.


DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, pp. 17-26.
● 1° fase metodológica do processo = sincretismo jurídico (visão plana do
ordenamento jurídico):
○ Processo como mera sucessão de atos (procedimentos);
○ Processo era tido como conjunto de formar para o exercício dos direitos, sob
a condução participativa do juiz.
○ Confusão entre os planos substancial e processual do ordenamento estatal:
se dirige ao juiz – não ao adversário – e tem por objeto a prestação
jurisdicional – e não o bem litigioso.
○ O processo era acessório a ação = caráter adjetivo a ação.
● 2° fase metodológica do processo = Ponto de maturidade: autonomia da relação
jurídica processual à fundação do processo como ciência e formação de premissas
metodológicas e estrutura metodológica traçada.
○ Universalização da ciência do processo: necessidade de aplicar os princípios
formativos.
○ Sujeitos, objetos e pressupostos próprios.
○ Começo de teorias sobre a natureza da ação e do processo à tratados e
monografias.
● 3° fase metodológica do processo = instrumentalidade (finalidades externas do
processo):
○ Instrumentalidade como importante pólo de irradiação de ideias e
coordenador dos diversos institutos, princípios e soluções (questões práticas
e não só teóricas).
■ É a instrumentalidade o núcleo e a síntese dos movimentos pelo
aprimoramento do sistema processual.
■ Instrumentalidade da forma: Art. 239, parágrafo 1°, CPC
■ Instrumentalidade nos Tribunais
○ Conotação deontológica (aspecto ético): Efeito da revelia (p. 24); art. 344-345
do CPC.
○ Princípios formativos: lógico, jurídico, político e econômico.
○ Relação jurídico-processual:
■ Objeto:
● Pedido (bem da vida – mediato + provimento jurisdicional –
imediato);
● Causa de pedir (fática e jurídica);
● Regra da correlação da sentença ao pedido (sentença não
pode estar além do pedido: garantia constitucional:
contraditório e ampla defesa).
■ Sujeitos
■ Pressupostos:
● Existência de uma relação jurídica processual distinta da
relação jurídica material.
● Pressupostos de existência (demanda e juiz) e de validade
(capacidade das partes, competência e imparcialidade do juiz,
inexistência de litispendência e coisa julgada).
● Ação: admissibilidade e mérito.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 31.
ed. São Paulo: Malheiros, 2015. p. 336-350.

● Processo de conhecimento (dos fatos aos direitos): provoca o juízo por meio da
instauração de um órgão jurisdicional responsável por julgar e decidir qual das
partes possui razão.
○ Procedência, improcedência e inadmissibilidade do julgamento do mérito.
○ Função jurisdicional se exerce mediante ao juízo de equidade.
○ Subclassificações do processo de conhecimento:
■ Processo meramente declaratório: limita-se formalmente à mera
declaração da regra jurídica substancial concreta.
● Objetivo: declaração da existência ou inexistência da relação
jurídica.
● Tal sentença será positiva ou negativa, se a relação for
existente ou inexistente, respectivamente.
● Em geral, sentenças declaratórias produzem efeitos ex tunc.
● Ex: ação de investigação de paternidade.
■ Processo condenatório: além de declarar, aplica a sanção executiva
à sentenças acolhem a pretensão do autor.
● Objetivo: formar uma sentença de condenação ao réu,
afirmando a existência de um direito e sua violação.
● Tal sentença é a única que participa do estabelecimento de
um novo direito de ação (executiva), correspondente ao direito
à tutela jurisdicional executiva.
● Em geral, sentenças condenatórias produzem efeitos ex tunc.
● Ex: ação de indenização por perdas e danos em função da
aquisição do produto viciado.
■ Processo mandamental:
● Objetivo: semelhante a sentença condenatória, mas propicia a
imediata atuação concreta dos resultados desejados, sem
depender do processo executivo.
● Ex: ação condenação de plano de saúde a cobrir a cirurgia
cardíaca que está prevista no rol da ANS.
■ Processo executivo latu sensu:
● Objetivo: semelhante a sentença de mérito, mas legitima a
execução sem necessidade de um novo processo.
● Ex: ação de despejo (já possui caráter executivo).
■ Processo constitutivo: além de declarar, modifica a relação jurídica
substancial à sentenças acolhem a pretensão do autor.
● Objetivo: formação de um provimento jurisdicional que
constitua, modifique ou extinga uma relação ou situação
jurídica e, para isso, é preciso declarar as condições legais
suficientes para tanto.
● Tal sentença pode ser necessária – quando o ordenamento
jurídico só admite alterações do estado ou relação jurídica por
via jurisdicional (anulação do casamento) – ou não
necessárias – produção de efeitos jurídicos que poderiam ser
alcançados extrajudicialmente (rescisão de contrato por
inadimplemento).
● Em geral, sentenças constitutivas produzem efeitos ex nunc.
● Ex: ação de rescisão contratual.
● Processo de execução: satisfazer o direito do credor, reconhecido em sentença ou
algum título executivo extrajudicial.
● Elementos essenciais da sentença: relatórios, fundamentos e dispositivos (faz a
coisa julgada).
● Coisa julgada:
○ Qualidades da sentença e dos efeitos desta:
■ Formal: a sentença, como ato daquele processo, não poderá ser
reexaminada – imutabilidade como ato processual, provinda da
preclusão de todos os recursos eventualmente admissíveis.
■ Material: torna imutáveis os efeitos produzidos por ela e lançados fora
do processo – imutabilidade como sentença entre as mesmas partes.
○ Limites objetivos da coisa julgada: quais partes da sentença ficam cobertas
pela autoridade da coisa julgada?
○ Limites subjetivos da coisa julgada: quem é atingido pela autoridade da coisa
julgada material?
■ A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando nem prejudicando terceiros.

Seminário III: Como identificar o conflito? Como o conflito vira processo? Qual é o
papel do advogado?
FELSTINER, William L. F. et all. “The emergence and transformation of disputes: naming, blaming, claiming...” Law & Society
Review, Vol. 15, No. 3/4, Special Issue on Dispute Processing and Civil Litigation (1980 - 1981), pp. 631-654. Disponível em
http://jstor.org/stable/30535

● Naming: a pessoa lesada percebe que teve algum dano.


● Blaming: atribui-se a culpa da lesão a um terceiro (pessoa ou entidade). É diferente
de uma simples reclamação ou de um desejo.
● Claiming: a pessoa prejudicada comunica o terceiro responsável pelo dano e pede
a devida reparação. A reclamação de transforma em disputa quando é rejeitada no
todo ou em parte.
● Ideologia: como você se relaciona com direitos e deveres e como isso é influenciado
no ambiente que você se encontra.

Aula 5: Pedido e Causa de Pedir.


BONDIOLI, Luis Guilherme. “Do pedido”. In Teresa Wambier et al (Coord.). Breves Comentários ao Novo CPC. São Paulo: RT,
2015, pp. 822-834.

● Causa de pedir: tem a ver com a motivação da sentença.


○ Na petição inicial, causa de pedir corresponde aos fatos e ao direito.
○ Individualiza e especifica o pedido.
○ Classificação:
■ Próxima = jurídica.
■ Remota = fática.
● Pedido: tem a ver com o dispositivo da sentença.
○ Princípio da demanda: o autor que ativa a Justiça.
○ Reconvenção: quando o réu forma pedidos (“contra-ataque”).
○ A legitimidade do pedido está relacionado com as partes.
○ Veicula o efetivo bem da vida pretendido pelo autor e a correlata medida
solicitada ao Estado-juiz, concentrando o real objeto do processo
(importância na petição inicial).
○ Pode ou não ser acolhido pelo juiz.
○ Tipos de pedido:
■ Imediato: provimento jurisdicional, ou seja, o tipo de tutela do pedido
ou o efeito jurídico desejado. Ex: condenatório, constitutivo,
declaratório.
■ Mediato: bem da vida pretendido. Ex: pagamento.
○ Requisitos: o pedido deve ser certo e determinado (tanto o juiz quanto o
réu devem conhecer perfeitamente o que o autor pede).
○ Pedido genérico: contém situações da vida cujas repercussões não são
conhecidas por inteiro pelo autor no momento do ingresso em juízo à
desconhecidas as consequências de qualquer ato ou fato
○ Pedido alternativo:quando há multiplicidade de prestações e se uma delas
for cumprida, a obrigação é satisfeita, o credor pode formular esse tipo de
pedido que permite que a sentença recaia sobre qualquer daquelas
prestações.
○ Pedido subsidiário: autor pode estabelecer uma hierarquia entre os pedidos
formulados na petição inicial quando há multiplicidade de pleitos.
○ Prestações sucessivas: o legislador garante a inserção das prestações
sucessivas (periódicas) no objeto do processo independentemente de
declaração expressa do autor.
● Coisa julgada: o dispositivo da decisão determina se uma coisa é julgada; não atinge
terceiros.

Seminário IV: Garantias e princípios processuais - A moldura processual estabelecida


na CF/88 e no novo CPC.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2015. p. 74-102.

● A teoria geral do processo envolve uma série de princípios que norteiam a


conformação do direito positivo a partir de preceitos éticos, sociais e políticos.
● Os princípios gerais do direito processual é que configuram o direito positivo, os
quais perpassam por toda a dogmática jurídica. Eles são:
○ Princípio da imparcialidade do juiz: o juiz deve se colocar entre as partes e
acima delas, sendo esta a primeira condição para que o magistrado possa
exercer sua função jurisdicional; é o que garante a justiça para as partes.
○ Princípio da igualdade: igualdade de tratamento das partes pelos juízes;
mesmas oportunidades para as partes; abrange o conceito de igualdade
proporcional.
○ Princípio do contraditório e da ampla defesa: juiz se coloca entre as
partes de forma equidistante, tendo que sempre escutar as duas partes de
maneira equivalente, seja o litigante, seja o acusado.
■ Dar ciência para as partes poderem se manifestar.
○ Princípio da ação: ação é o direito ou poder de ativar os órgãos
jurisdicionais, visando à satisfação de uma pretensão. Engloba processos:
■ Inquisitivo: instaurado pelo juiz, o que provoca uma ligação
psicológica do juiz à pretensão, o que torna muito mais provável que
o juiz forme uma decisão favorável a essa pretensão.
■ Acusatório: a parte interessada que faz a provocação e, por isso, os
princípios de igualdade, imparcialidade, do contraditório e da
publicidade devem estar presentes.
■ Misto: algumas etapas secretas e contraditórias.
○ Princípio da disponibilidade: partes de um processo têm direito de
apresentar ou não determinada pretensão em juízo, podendo escolher se
querem ou não exercer seus direitos por meio do ato processual.
○ Princípio Dispositivo e o Princípio da livre investigação das provas: a
iniciativa cabe às partes no tocante a apresentação de provas e das
alegações que sustentaram a decisão; o dispositivo visa garantir a
imparcialidade do juiz ao diferenciar o processo dispositivo do inquisitivo.
○ Princípio da persuasão racional do juiz: é função do magistrado formar
livremente sua opinião a partir da apreciação e avaliação das provas
existentes.
○ Exigência de motivação das decisões judiciais: todas as decisões
judiciais devem ser motivadas e fundamentadas; a motivação permite que o
exercício da função jurisdicional seja também controlado pela população no
geral, não só pelas partes.
○ Princípio da publicidade: serão públicos todos os julgamentos dos órgãos
do Poder Judiciário; promove fiscalização popular; existe a possibilidade de
publicidade restrita, quando o interesse social ou a defesa da intimidade a
exigir.
○ Princípio da lealdade processual: participantes do processo possuem
deveres de moralidade e probidade, a fim de que o Direito possa eliminar os
conflitos e promover a pacificação social; a desobediência à lealdade
processual implica em ilícito processual (sanções processuais).
■ Partes não podem esconder provas tanto benéficas quanto maléficas
seu espaço no desenvolvimento do caso.
■ Agir de boa-fé.
○ Princípio da economia e da instrumentalidade das formas: como o
processo é um instrumento, deve haver um dispêndio exagerado quanto aos
bens que estão em disputa;
■ Princípio da economia estabelece que se deve buscar o máximo de
resultado na atuação do direito empregando o mínimo possível de
atividades processuais.
● Princípio da economia X princípio da igualdade: qual é o
melhor
■ Princípio do aproveitamento dos atos processuais consiste na reunião
de duas ou mais causas ou demandas em um mesmo processo.
○ Princípio do duplo grau de jurisdição: consiste na garantia do direito de
recorrer à instância superior para fins de novo julgamento; tem por
fundamento a possibilidade da decisão do primeiro grau ser injusta ou
errada.
○ Princípio da proporcionalidade: buscar o equilíbrio justo entre os meios
empregados e os fins a serem alcançados. Possui quatro subprincípios:
■ Adequação: pertinência entre a medida usada e o fim buscado.
■ Necessidade: sopesar direitos e conseguir priorizar um em relação a
outro(s)
■ Proporcionalidade estrita: escolha baseada na ponderação entre
meios e fins para garantir que o direito buscado não seja aniquilado.
■ Não excessividade: garantir que os meios usados não extrapolam as
amarras impostas pelo sistema e estejam adequados aos fins
buscados.

Aula 6: Competência e jurisdição.


CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2015. p. 165-175 e 266-282.

● Jurisdição (juris dictio = fazer direito): é o poder e dever do juiz e do árbitro de


decidir de modo imperativo e o de substituir as partes, sendo também uma função e
atividade como na mediação e conciliação (poder, função e atividade).
○ Função de pacificar o conflito por meio de um procedimento e contraditório
○ Características: caráter substituto, jurídico e inerte, ou seja, precisa ser
provocada para começar.
○ Princípios: investidura, a indelegabilidade (existem hipóteses legais de
redistribuição; art; 144 do CPC), a inevitabilidade, inafastabilidade,inércia,
aderência ao território e juiz natural competente.
○ INcorporação de mecanismos extrajudiciais (mediação e arbitragem) na
jurisdição.
● Competência: distribuição do exercício da jurisdição (mais regras que a
jurisprudência).
○ Fontes: regras na Constituição, constituições estaduais, código, súmulas etc.
○ A qualidade da parte define a regra de competência.
○ Passos (mais geral à mais específico):
■ Competência de jurisdição: qual a justiça competente.
■ Competência originária: competente o órgão superior ou inferior.
● Depende do sujeito do processo, que pode ser direcionado a
um órgão superior.
■ Competência de foro: qual a comarca (localidade) competente? Art.
53 do CP.
■ Competência de juízo: qual a vara competente?
● Vara de família, penal, fazenda pública.
● Vara não especializada.
■ Competência interna: qual o juiz competente?
● Juiz é escolhido de forma aleatória, já que uma vara possui
mais de um juiz.
■ Competência recursal: mesmo órgão ou um superior.
○ A distribuição de competência leva em consideração os elementos da ação:
■ Partes: (i) qualidade e (ii) sede (domicílio do réu).
■ Pedido: (i) natureza do bem (móvel ou imóvel), seu (ii) valor e (iii)
situação.
● (ii) art. 47 do CPC.
● (iii) art. 23, I e 47.
■ Causa de pedir (fundamento fático do pedido): (i) natureza da relação
(penal, civil, trabalhista) e (ii) local onde se deu o fato.
○ Tipos de competência:
■ Competência relativa: estabelecida pela comodidade das partes,
sendo assim, pode ser modificada (prorrogável) e pode ser escolhida
o foro dirigente e o valor; determinada segundo a comodidade das
partes.
● Competência territorial ou de foro: leva em consideração a
comodidade das partes; regra geral (domicílio, consumação e
prestação de serviços).
■ Competência absoluta: competência em razão da matéria, e por
isso não pode ser modificada (improrrogável); determinada segundo o
interesse público.
● Competência em razão de matéria: em razão do interesse
público.
● Competência funcional: em razão do modo de ser do
processo.
○ A incompetência absoluta e relativa do juiz devem ser alegadas em
preliminar de contestação
■ As decisões preferidas pelo juiz incompetente são aproveitadas ao
máximo e depois encaminhadas ao juiz competente para revisá-las e
continuar o processo.

Seminário V: Ativismo judicial - Modelos de juiz.


OST, François. “Júpiter, Hércules, Hermes: Tres Modelos de Juez”.
● Complexidade da magistratura: paradoxalmente, a ausência e a e abundância de
referências contribuem para a complexidade dessa.
● Juiz Júpiter (ideal): constrói o direito a partir das normas.
○ Modelo clássico, sistemático, positivista e com o Estado como soberano.
○ O direito acaba tendo dificuldades quando deparado com casos concretos
que nem sempre tem normas aplicáveis.
○ Composto por códigos e constituições modernas.
○ Representado pela pirâmide por ser hierárquico com as normas
fundamentais em seu ápice.
■ Como a pirâmide de Kelsen (Teoria do Ordenamento Jurídico).
■ Quatro corolários: monismo jurídico; monismo político; racionalidade
dedutiva linear; codificação jurídica cria uma concepção de tempo
(futuro previsível).
● Juiz Hércules (semideus): constrói o direito a partir de seu entendimento, tendo
assim um papel mais ativo.
○ O juiz é visto como um engenheiro social, e usa o direito como meio de
atingir justiça social.
○ Jurisprudência sobrepõe-se às leis.
○ Seu ativismo excessivo causa insegurança jurídica pois suas decisões não
têm linearidade e temporalidade, elas são plurais.
■ As normas se tornam obsoletas.
○ Representado pelo funil, pois as normas se direcionam de modo não-
hierárquico à as decisões jurisdicionais são o coração do sistema.
● Juiz Hermes (constante movimento): modelo de síntese que oscila entre o pré-
estabelecido e o improvisado
○ Nasce após os outros modelos falharem com a crise do Estado liberal, que
contou com o aumento do número de atores na sociedade, o embate entre o
poder público e privado e a criação de instituições supranacionais como a
ONU.
○ Representado pela rede, simbolizando que o direito é um processo sempre
inacabado; organizado em um banco de dados.
○ Ainda existe uma previsibilidade mesmo com uma maleabilidade maior.
○ Surgimento do Direito pós-moderno: multiplicidade de atores jurídicos; uso de
mecanismos; multiplicação dos níveis de poder.
○ Teoria lúdica de Hermes (Jogo):
■ Dois pilares fundamentais que integram a tradição jurídica: a
legitimidade procedimental do direito; e laço entre o respeito aos
procedimentos aos direitos fundamentais à para não formar caos na
sociedade.
■ Também é preciso existir uma responsabilidade coletiva, junto com
uma reação global e coordenada.

Aula 7: Filtros da demanda - condições de ação e pressupostos processuais.


COSTA, Susana Henriques da. “Comentário ao art. 17 do CPC”. In BUENO, Cassio Scarpinella (coord.). Comentários ao
Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, pp. 274-292.
JUNIOR, Humberto Theodoro.Curso de Direito Processual Civil. Vol. 1. Rio de Janeiro: Gen Forense, 2015, pp. 142-148

● Trinômio processual: pressupostos iniciais, condições da ação e mérito.


○ Só após a análise das condições da ação e dos pressupostos judiciais o juiz
pode passar para o mérito da ação.
● Condições da ação (art. 17 do CPC): filtros que o juiz deve analisar antes de partir
para o mérito à viabilidade da ação para esta conseguir prosseguir. É composta por
dois elementos:
○ Interesse de agir (adequação-necessidade): em relação a adequação e
necessidade de se procurar o judiciário e da proibição da autotutela.
■ A necessidade de buscar o judiciário quer dizer que só se pode entrar
com uma ação se esta for necessária, ou seja, se o único jeito de
conseguir o resultado for por meio do judiciário.
○ Legitimidade (tanto do autor quanto do réu): direito de pedir e capacidade
para entrar no juízo.
■ Ordinária:
● Ativa: do autor, a pessoa que entra em juízo.
● Passiva: do réu, a pessoa que foi chamada para a ação.
■ Extraordinária: associação e sindicato pode defender direitos de
outros indivíduos; sujeito que está atuando em nome próprio, mas
defende direitos de outros; não está diretamente envolvido no caso.
● Teorias da ação:
○ Teoria concreta: só tem direito de ação aquele que é titular do direito
material; não é muito usada
○ Teoria abstrata: todo mundo tem direito a ação pois o direito a ação é
incondicionado e independe da existência do direito material invocado; a
sentença de improcedência não exclui a existência do direito de ação
○ Teoria eclética: o direito da ação não é totalmente incondicionado, ele
prescinde da existência do direito material e é condicionado a possibilidade
de o juiz se manifestar sobre o mérito da demanda
○ Teoria da asserção: as condições para o julgamento do mérito da demanda
ação devem ser aferidas prima facie com base nas alegações das partes,
sem que tenha havido qualquer espécie de instrução; teoria mais moderna.
● Pressupostos processuais = requisitos jurídicos (formais e materiais) para a
validade da relação processual, sendo assim, requisitos de validade do processo à
validade.
○ Pressupostos de existência (constituição válida): requisitos para que a
relação processual se constitua validamente: petição perante uma pessoa
que possui jurisdição.
○ Pressupostos de validade: a petição deve ser (i) apta e não inepta/inapta, o
(ii) juiz deve ser competente e parcial, as (iii) partes devem ser capazes, (iv)
deve existir litispendência e coisa julgada, (v) não pode haver perempção ou
(vi) convenção de arbitragem
■ Subjetivos: relacionam-se com os sujeitos do processo, ou seja, (i)
juiz investido de jurisdição, competente e imparcial; (ii) partes
capazes (capacidade de ser parte, capacidade processual e
capacidade postulatória)
■ Objetivos: subdividem-se em negativos (que não devem estar no
processo) e positivos (que devem estar no processo).
● Positivos: pagamento das custas processuais, petição apta,
citação válida, adequação do tipo de procedimento a natureza
da causa etc.
● Negativos: litispendência, coisa julgada (processo já julgado
não pode ser repetido), convenção de arbitragem, perempção
etc.
■ Na ausência de pressuposto processual o processo é considerado
viciado.
○ Pressupostos de desenvolvimento: requisitos a serem atendidos após o
processo ser estabelecido regularmente a fim de manter curso regular do
processo até a sentença de mérito ou providência jurisdicional definitiva.

Seminário VI: Tempo e processo - Tutelas de urgência e evidência.


BEDAQUE, Jose Roberto dos Santos. “Comentários aos artigos de tutela de urgência”. In BUENO, Cassio Scarpinella
(coord.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, pp. 930-940.
● Tutela provisória: quando o juiz antecipa a uma das partes um provimento judicial
de mérito antes da decisão judicial; isso é feito através da cognição sumária.
● Tutela provisória de urgência (art. 300 do CPC): antecipa o pedido de mérito
fundamentado-se na urgência.
○ Seus requisitos são:
■ Probabilidade do direito:
■ Perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo:
○ O juiz pode pedir caução, que é uma garantia real antes da concessão da
tutela de urgência.
○ A tutela de urgência pode ser:
■ Antecedente: requerida antes do pedido principal.
■ Incidental: requerida após o pedido principal ser formulado.
○ Possui duas naturezas:
■ Antecipada: antecipa os efeitos práticos e concretos do caso, com o
intuito de diminuir as consequências causadas em razão da demora
do processo. Ex: pedido de internação para a realização de cirurgia
emergencial.
■ Cautelar: busca preservar o direito material almejado por meio do
instrumento que assegura a efetividade do mérito. Ex: tornar
indisponível o pagamento do devedor que está vendendo os bens que
garantiriam o pagamento da dívida.
● Tutela provisória de evidência (art. 311 do CPC): independe da demonstração do
perigo de dano real, ou seja, basta a evidência de um direito em que a prova de sua
existência é clara.

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