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● O que é litigância? Algo que está em litígio, ou seja, algo caracterizado pelo conflito
de interesses judiciais que se estabelece por meio da contestação da demanda ou
solicitação.
● Tipologia das partes:
○ Participantes Eventuais (PE’s): atores que recorrem aos tribunais
ocasionalmente.
■ Tenta maximizar o ganho tangível e imediato.
■ Geralmente são pessoas físicas.
■ Menor experiência e expertise.
■ Ex: cônjuge em caso de divórcio.
○ Jogadores Habituais (JH’s): atores que se envolvem várias litigâncias
similares ao longo do tempo.
■ Tenta maximizar o ganho efetivo.
■ Maior experiência e expertise.
■ Geralmente são pessoas jurídicas.
■ Buscam ganhos em escala.
■ Possuem maiores recursos informacionais e financeiros.
■ Assumem mais riscos.
■ Ganho normativo: se preocupam com os precedentes que serão
originados após decisão do caso, e com os resultados futuros das
partes.
● Quadro de Galanter (autor vs. réu):
○ PE vs. PE:
■ Grande parte é pseudolitigância;
■ Na maior parte das vezes, as partes possuem laço íntimo e disputam
um bem impartilhável;
■ Mais individualizado;
■ Ex: marido e esposa (divórcio); interdições.
○ PE vs. JH:
■ Pouco individualizado.
■ Ex: beneficiário e previdência social.
○ JH vs. PE:
■ Maior volume de litígios.
■ O estado de direito é interesse do JH e não do PE.
■ Pouco individualizado.
■ Ex: financiadora e devedor.
○ JH vs. JH:
■ Pode ter casos especiais, sendo assim mais individualizado.
■ Ex: sindicato e empresa.
● Advogados:
○ São considerados JH, já que participam de mais litígios e, assim, possuem
mais experiência e prática na assessoria pública.
○ Advogados muito especializados podem tratar seus clientes como
mercadorias, já que, com a intenção de agilizar seus processos, podem tratar
seus casos de forma menos individualizada. Ex: danos pessoais, crimes).
○ Advogados de PE:
■ Considerados “baixo escalões” da profissão.
■ Problemas de mobilização da clientela.
■ Tipo de serviço jurídico e sem criatividade.
■ Problemas para desenvolver estratégias de otimização.
● Maiores litigantes no Brasil: pessoas jurídicas de direito interno, autarquias e
instituições privadas. Ex: INSS, Caixa e Fazendo Nacional.
● Sistema judiciário neutro em relação a “quem tem” e “quem não tem”: faz com que
os JH sempre se favorecem através dos precedentes, já que esses também têm
interesse nos ganhos normativos.
● Regras tendem a beneficiar interesses mais antigos e culturalmente dominantes;
quando são alteradas tendem a beneficiar os JH’s, e se as regras não beneficiarem
diretamente os JH, esses vão tentar ao máximo se habituar com as novas normas.
● Alternativas ao sistema jurídico (privado ou público - “anexos”):
○ Saída: dissociação de uma relação em que as partes apenas rompem
qualquer compromisso existente entre eles sem acionarem o sistema.
○ Inércia: a “não-ação” do indivíduo diante da justiça;
○ Controle não oficial: uso do sistema privado, como arbitragem e mediação.
● Estratégias para reforma (transformação redistributiva: mudança na distribuição de
poder):
○ Mudança de regras: facilitação da organização, aumento da oferta de
serviços jurídicos e aumento dos custos dos oponentes.
○ Melhorias dos aparatos institucionais: maior disponibilidade quantitativa dos
tribunais e instituições, o que faria ter menos atrasos e custos aos PE’s.
○ Melhoria dos serviços jurídicos em qualidade e quantidade: aumento da
quantidade e qualidade da defensoria pública, dando um serviço de
qualidade aos PE’s e diminuindo a diferença de expertise entre esses e os
JH’s.
○ Melhoria da posição estratégica de “quem não tem”: organização de PE’s em
JH’s por meio de sindicatos (ação coletiva).
● Litigiosidade repetitiva: ajuizamento massificado de ações idênticas.
○ Na maior parte das vezes, PE vs. JH.
○ Ampliação da perspectiva sobre o crescimento de morosidade e litigiosidade,
dentro e fora do sistema judicial.
○ Ex: cartão de crédito pós-pago (poucas informações ao consumidor).
● Acesso à justiça é um direito social que demanda prestações positivas por parte do
Estado diante do reconhecimento de novas injustiças e da dinamicidade das
fronteiras entre justiça e injustiça:
○ Dimensão substancial de transformação social pela efetivação de direitos
○ Dimensão procedimental, relacionada à ampliação, racionalização e controle
do aparato governamental de realização de direitos.
● Galanter: acesso à Justiça é um recurso escasso (“cobertor curto”), em um mundo
de capacidade social em expansão e que há uma escolha política distributiva, muitas
vezes implícita no desenho institucional e normativo de um determinado país, na
distribuição deste direito a determinados litigantes (JH vs. PE) à dificuldade em
universalizar a justiça.
● Três linhas de análise sobre a democratização do acesso à justiça:
○ 1° onda: eliminação de obstáculos econômicos, culturais e sociais que
dificultam o acesso à Justiça. Quanto custa para entrar na Justiça?
○ 2° onda: democratização do acesso à Justiça como sendo uma das
premissas da democratização do Estado. Como as pessoas se organizam ao
entrar na Justiça?
○ 3° onda: participação da comunidade na solução de conflitos como critério
para a democratização. Como a Justiça funciona?
● “Litigantes-sombra” (Herman Benjamin): litigantes ocasionais acabam representando
uma coletividade de ausentes.
● Agenda redistributiva do acesso à justiça:
○ Litigância estratégica de interesse público;
○ Iniciativas legislativas ou interpretações jurisprudenciais voltadas a fortalecer
a ação coletiva;
○ Adoção de técnicas para desjudicializar demandas de cobranças em massa
e desestimular condutas ilícitas de JH’s.
○ gratuidade da justiça e dos serviços jurídicos; pluralismo jurídico; equidade e
imparcialidade das decisões judiciais à tribunais de pequenas causas e
fortalecimento e ampliação de serviços jurídicos gratuitos de qualidade.
● Agenda eficientista e gerencial do acesso à Justiça:
○ impedir a morosidade, a incerteza jurisdicional e falta de segurança jurídica e
previsibilidade das decisões judiciais no desenvolvimento econômico à
instrumentos judiciais que centralizam as tomadas de decisões no Judiciário.
○ Não olhar só para o Estado/governo; também prestar atenção no interesse
dos jogadores habituais/maiores litigantes.
● Abordagem comportamental:
○ Bottom-up: parte de experiências individuais ou coletivas sobre problemas
judicionalizáveis e traça uma relação entre condições sociais e históricas
com os resultados de sistemas de resolução de conflitos.
○ Top-down: fala que o sistema judicial e seus agentes não ajudam a facilitar
grupos diferentes a atingirem seus objetivos.
■ Define que o acesso de justiça está ligado a capacidade de pagar por
um advogado, e isso facilita a desigualdade
○ Experiências civis podem destruir ou desestabilizar a desigualdade já que as
disparidades são reduzidas com o contato com eventos judicializáveis ou
instituições legais
○ A desigualdade de classe e socioeconômica: pessoas de status
socioeconômicos mais altos são mais prováveis de tomar uma ação
envolvendo a lei do que pessoas mais pobres.
● Processo de conhecimento (dos fatos aos direitos): provoca o juízo por meio da
instauração de um órgão jurisdicional responsável por julgar e decidir qual das
partes possui razão.
○ Procedência, improcedência e inadmissibilidade do julgamento do mérito.
○ Função jurisdicional se exerce mediante ao juízo de equidade.
○ Subclassificações do processo de conhecimento:
■ Processo meramente declaratório: limita-se formalmente à mera
declaração da regra jurídica substancial concreta.
● Objetivo: declaração da existência ou inexistência da relação
jurídica.
● Tal sentença será positiva ou negativa, se a relação for
existente ou inexistente, respectivamente.
● Em geral, sentenças declaratórias produzem efeitos ex tunc.
● Ex: ação de investigação de paternidade.
■ Processo condenatório: além de declarar, aplica a sanção executiva
à sentenças acolhem a pretensão do autor.
● Objetivo: formar uma sentença de condenação ao réu,
afirmando a existência de um direito e sua violação.
● Tal sentença é a única que participa do estabelecimento de
um novo direito de ação (executiva), correspondente ao direito
à tutela jurisdicional executiva.
● Em geral, sentenças condenatórias produzem efeitos ex tunc.
● Ex: ação de indenização por perdas e danos em função da
aquisição do produto viciado.
■ Processo mandamental:
● Objetivo: semelhante a sentença condenatória, mas propicia a
imediata atuação concreta dos resultados desejados, sem
depender do processo executivo.
● Ex: ação condenação de plano de saúde a cobrir a cirurgia
cardíaca que está prevista no rol da ANS.
■ Processo executivo latu sensu:
● Objetivo: semelhante a sentença de mérito, mas legitima a
execução sem necessidade de um novo processo.
● Ex: ação de despejo (já possui caráter executivo).
■ Processo constitutivo: além de declarar, modifica a relação jurídica
substancial à sentenças acolhem a pretensão do autor.
● Objetivo: formação de um provimento jurisdicional que
constitua, modifique ou extinga uma relação ou situação
jurídica e, para isso, é preciso declarar as condições legais
suficientes para tanto.
● Tal sentença pode ser necessária – quando o ordenamento
jurídico só admite alterações do estado ou relação jurídica por
via jurisdicional (anulação do casamento) – ou não
necessárias – produção de efeitos jurídicos que poderiam ser
alcançados extrajudicialmente (rescisão de contrato por
inadimplemento).
● Em geral, sentenças constitutivas produzem efeitos ex nunc.
● Ex: ação de rescisão contratual.
● Processo de execução: satisfazer o direito do credor, reconhecido em sentença ou
algum título executivo extrajudicial.
● Elementos essenciais da sentença: relatórios, fundamentos e dispositivos (faz a
coisa julgada).
● Coisa julgada:
○ Qualidades da sentença e dos efeitos desta:
■ Formal: a sentença, como ato daquele processo, não poderá ser
reexaminada – imutabilidade como ato processual, provinda da
preclusão de todos os recursos eventualmente admissíveis.
■ Material: torna imutáveis os efeitos produzidos por ela e lançados fora
do processo – imutabilidade como sentença entre as mesmas partes.
○ Limites objetivos da coisa julgada: quais partes da sentença ficam cobertas
pela autoridade da coisa julgada?
○ Limites subjetivos da coisa julgada: quem é atingido pela autoridade da coisa
julgada material?
■ A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando nem prejudicando terceiros.
Seminário III: Como identificar o conflito? Como o conflito vira processo? Qual é o
papel do advogado?
FELSTINER, William L. F. et all. “The emergence and transformation of disputes: naming, blaming, claiming...” Law & Society
Review, Vol. 15, No. 3/4, Special Issue on Dispute Processing and Civil Litigation (1980 - 1981), pp. 631-654. Disponível em
http://jstor.org/stable/30535