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CONSTITUIÇÃO,
SISTEMAS SOCIAIS
E HERMENÊUTICA
ANUÁRIO DO PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM
DIREITO DA UNISINOS
CONSTITUIÇÃO,
SISTEMAS SOCIAIS E
HERMENÊUTICA
Anuário do Programa de Pós-Graduação
em Direito da Unisinos
1ªEdição
C758
Constituição, Sistemas Sociais e Hermenêutica: Anuário do
Programa de Pós-Graduação em Direito da Unisinos. Nº 17 / Orgs.
Anderson Vichinkeski Teixeira, Lenio Luiz Streck, Leonel Severo Rocha. -
Blumenau/SC : Editora Dom Modesto, 2021. 398 p. ; il.
[recurso eletrônico]
ISBN 978-65-86537-38-3
CDU: 34
REVISÃO GRAMATICAL:
Michelle Dayane Krause
ARTE-FINAL E DIAGRAMAÇÃO:
CONSELHO EDITORIAL
Profª. Drª. Ana Paula Basso – UFCG e UFPB/Brasil
Profª. Me. Analice Schaefer de Moura – Dom Alberto/Brasil
Profª. Me. Angela Dias Mendes – UERJ/Brasil
Profª. Drª. Charlise Paula Colet Gimenez – URI/Brasil
Profª. Drª. Clarissa Tassinari – UNISINOS/Brasil
Prof. Dr. Clovis Gorczevski – UNISC/Brasil
Profª. Drª. Daiane Moura de Aguiar – UAM/Brasil
Prof. Dr. Daniel de Mello Massimino – CatólicaSC/Brasil
Profª. Drª. Danielle Anne Pamplona – PUCPR/Brasil
Prof. Dr. Danilo Pereira Lima – IMESB/Brasil
Profª. Drª. Eliane Fontana – UNIVATES/Brasil
Profª. Me. Elisa Berton Eidt – UFSC e PGE-RS/Brasil
Profª. Me. Flávia Candido da Silva – REGES/Brasil
Prof. Dr. Giancarlo Copelli – UNISINOS/Brasil
Prof. Dr. Guilherme Valle Brum – PGE-RS/Brasil
Profª. Drª. Isadora Wahys Cadore Virgolin – UNICRUZ/Brasil
Prof. Dr. Iuri Bolesina – IMED/Brasil
Prof. Dr. Ivo dos Santos Canabarro – UNIJUI/Brasil
Profª. Me. Janete Schubert – UNICRUZ/Brasil
Prof. Dr. Jonabio Barbosa dos Santos – UFPB, UFCG e UNIFACISA/Brasil
Prof. Dr. Luiz Felipe Nunes – CESURG/Brasil
Prof. Dr. Marcelino da Silva Meleu – FURB/Brasil
Profª. Drª. Maria da Glória Costa Gonçalves de Sousa Aquino – UFMA/Brasil
Profª. Drª. Marli Marlene Moraes da Costa – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Mateus Barbosa Gomes Abreu – UNIRUY e UNINASSAU/Brasil
Prof. Dr. Ma�eo Finco – UniRITTER/Brasil
Profª. Me. Rafaela Cândida Tavares Costa – FEOL/Brasil
Profª. Drª. Roberta Drehmer de Miranda – Dom Bosco/Brasil
Prof. Me. Rodrigo Cristiano Diehl – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Rosivaldo Toscano dos Santos Júnior – ESMARN e UFRN/Brasil
Prof. Dr. Sandro Cozza Sayão – UFPE/Brasil
Profª. Drª. Tássia Aparecida Gervasoni – IMED/Brasil
Profª. Drª. Vera Lucia Spacil Rada� – UNIJUI/Brasil
Prof. Dr. Willame Parente Mazza – UESPI/Brasil
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 11
APRESENTAÇÃO 11
APRESENTAÇÃO
Os Organizadores
SUMÁRIO
Capítulo 1
TEORIAS DA
CONSTITUIÇÃO
um breve ensaio
Introdução
1 Doutor em Teoria e História do Direito pela Università degli Studi di Firenze (IT), com estágio de pesquisa
doutoral junto à Faculdade de Filosofia da Université Paris Descartes-Sorbonne. Pós-Doutor em Direito
Constitucional pela mesma Universidade. Coordenador e Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Membro internacional do Colegiado de Docentes do
Doutorado em Direito da Università degli Studi di Firenze (IT). Professor visitante do Instituto de Ciências
Jurídicas e Filosóficas da Sorbonne. Membro Permanente da Association Française de Droit Constitutionnel.
Advogado e consultor jurídico.
SUMÁRIO
2 Cf. LEMAIRE, Andrè. Les Lois Fondamentales de la Monarchie française. D’après les théoriciens de l’ancien
régime. Paris: Fontemoing, 1907, pp. 99-102, 106.
SUMÁRIO
normas de caráter geral, como as edicta e mandata, bem como normas de caráter
particular, como decreta, epistulae e rescripta.
3 MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. 3a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, pp. 188-192,
apresenta o mesmo elenco como uma espécie de ilustração daquelas que são as grandes correntes doutrinais
acerca do problema constitucional.
SUMÁRIO
John Pocock salienta que essa tese fundamenta a divisão entre Ancient
constitution e British constitution no curso da história, recordando inclusive que o
Jugo Normando foi objeto de grande importância para movimentos políticos
como os Niveladores (Levellers) durante a primeira Guerra Civil Britânica
(1642-1651); a retórica antinormanista favorecia a crítica e insurreição contra a
ordem estabelecida àquela época, sobretudo contra o poder absoluto do
monarca.⁶ Os Levellers tinham a pretensão de sustentar uma soberania popular
com base no argumento de que somente um homem livre poderia conhecer os
desígnios de Deus para ele, o que tornava qualquer forma de mediação, seja por
meio do monarca ou de um parlamento restrito a nobres, uma ofensa à condição
natural do homem e, em última instância, a Deus.
6 Cf. POCOCK, J. G. A. Ancient Constitucional and the Feudal Law. Cambridge: Cambridge University Press,
1967, p. 319.
7 Cf. SEABERG, R. B. The Norman Conquest and the Common Law: the Levellers and the Argument from
Continuity. The Historical Journal, Vol. 24, n. 4, 1981, p. 804.
SUMÁRIO
8 Registre-se a dificuldade de tradução literal para o português que a expressão commonwealth nos oferece, pois
ela possui vários significados, como: bem-comum, Estado, nação e comunidade.
9 Cf. POCOCK, J. G. A. Ancient Constitutional and the Feudal Law, cit., p. 32.
10 SABINE, George H. Storia delle do�rine politiche. 4 ed. Trad. Luisa de Col. Milano: Edizioni di Comunità, 1962,
p. 489.
11 BURKE, Edmund. Reform of representation in the House of Commons (1782). In: Id. Works, Vol. VI. London:
Bohn, 1861, p. 147.
SUMÁRIO
12 LASSALLE, Ferdinand. A essência de uma constituição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 06.
13 LASSALLE, Ferdinand. A essência de uma constituição, cit., p. 18.
14 LASSALLE, Ferdinand. A essência de uma constituição, cit., p. 10.
SUMÁRIO
15 MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973, p. 28.
SUMÁRIO
17 Sobre a temática da unidade do ordenamento jurídico, ver Tommaso Gazzolo, Santi Romano e l’ordinamento
giuridico, Jura Gentium, Vol. XV, n. 2, 2018, pp. 115-127, sobretudo nas precisas referências às obras de
Fioravanti e Grossi sobre o tema em objeto.
18 HAURIOU, Maurice. Aux sources du droit: le pouvoir, l’ordre et la liberté. Paris: Librairie Bloud & Gay, 1933,
pp. 90-91.
19 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 247.
SUMÁRIO
29 Remetemos a seguinte pesquisa já desenvolvida há alguns anos e a partir da qual diversos desdobramentos se
seguiram: TEIXEIRA, Anderson Vichinkeski. Constitucionalismo transnacional: por uma compreensão
pluriversalista do Estado constitucional. Revista de Investigações Constitucionais, Vol. 3, n. 3, 2016, p. 141-166.
30 Fioravanti, Maurizio. Costituzionalismo. Percorsi della storia e tendenze a�uali. Roma-Bari: Laterza, 2009, p. 5.
31 Ma�eucci, Nicola. Lo Stato moderno. 2ª ed. Bologna: il Mulino, 1997, p. 127.
SUMÁRIO
Referências
BURKE, Edmund. Reform of representation in the House of Commons (1782). In: Id.
Works, Vol. VI. London: Bohn, 1861.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
_____. Les rapports du système entre le droit interne et le droit international public.
Recueil des cours de l’Académie de droit internacional, Vol. 13, n. 4, 1926.
_____. Il problema della sovranità e la teoria del diri�o internazionale: contributo per
una do�rina pura del diri�o. Milano: Giuffrè, 1989.
MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973.
_____. Radicaliser la démocratie: propositions pour une refondation. Paris: Seuil, 2015.
SEABERG, R. B. The Norman Conquest and the Common Law: the Levellers and the
Argument from Continuity. The Historical Journal, Vol. 24, n. 4, 1981, pp. 791-806.
_____. Teoria Pluriversalista do Direito Internacional. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2011.
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Capítulo 2
Introdução
1 Professor da Escola de Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Professor no Programa
de Pós-Graduação em Direito e nos Cursos de Graduação em Direito e Relações Internacionais da Unisinos.
Doutor em Filosofia pela Unisinos. Bacharel em Filosofia e Direito. Advogado e, atualmente, Coordenador do
Curso de Graduação em Direito da Unisinos. E-mail: andreluiz@unisinos.br.
SUMÁRIO
2 A inspiração para a teoria da vontade foi dada por Kant, que propôs uma vontade fortemente racional que
conseguiria inclusive se colocar à parte dos movimentos do mundo natural para prescrever, julgar e decidir
sobre o uso de sua liberdade. A filosofia prática kantiana esteve sempre preocupada com o intercâmbio entre
vontade, autonomia, liberdade e dever (seja um dever moral, seja um dever jurídico) e, por causa destes
conceitos-chave, inspirou profundamente uma discussão muito semelhante no domínio da teoria dos direitos.
Para todo adepto da teoria da vontade, pode-se verificar uma “intenção” ou “intencionalidade” por detrás do
fenômeno empiricamente observável, o que pressupõe a ideia de uma vontade livre e racional capaz de fazer
escolhas. Seguindo o rastro da tese da vontade, chegaremos em autores que desenvolveram e desdobraram a
noção de “intencionalidade” na teoria do direito, como Herbert Hart (HART, 1983, p. 106). Além de Hart,
podemos referenciar Henry Shue, Allan Gewirth, Friedrich Carl von Savigny, Bernhard Windscheid, Hans
Kelsen, Sumner, Carl Wellman e Hillel Steiner. Todos eles concordam que o sujeito de direitos só pode possuir
um direito se e quando estiver capacitado a fazer escolhas e, com isso, demandar, exigir e até mesmo renunciar
aos seus direitos.
SUMÁRIO
humano é livre e pode agir e controlar a sua ação e também a ação dos outros com
base na sua capacidade racional para escolher, demandar e renunciar aos direitos.
Ter um direito é ser livre para agir e determinar a sua ação a partir de si
próprio; é estar dentro de um perímetro de atuação, ao qual ninguém pode
ultrapassar para obstaculizar o exercício da sua vontade por meio do direito. Ter
um direito significa ter uma escolha respeitada dentro dos limites da lei,
conforme afirma Hart ao definir os direitos legais a partir da teoria da vontade:
3 Apontar o interesse como o fundamento dos direitos é um recurso que perpassa a modernidade, desde Hobbes,
passando por outros contratualistas, até chegar em Jeremy Bentham e John Stuart Mill, bem como a autores
mais contemporâneos como Joseph Raz, David Lyons, Rudolf Von Ihering, John Austin, John Finnis, John
Tasioulas, James Nickel, Neil MacCormick, Ma�hew Kramer, James Griffin, Martha Nussbaum e Amartya Sen.
SUMÁRIO
4 Quando dizemos que chimpanzés possuem direitos ao serem usados em experimentos científicos, dizemos, ao
mesmo tempo, que o seu direito não é considerado um direito por causa de sua vontade ou faculdade para
decidir e escolher– o que mostra, por si só, as limitações da teoria da vontade para justificar os direitos.
SUMÁRIO
Mas voltemos ao impasse. Por não conseguir vencer o debate, cada uma
dessas teorias turbina críticas à outra, mostrando as suas falhas e os seus defeitos,
pois “a fraqueza de cada uma delas é a força da outra.” (WENAR, 2005, p. 243,
tradução nossa). Prossegue Wenar:
Contudo, mais recentemente, autores como Leif Wenar irão alertar que
a composição de ambas as teorias em uma só não será suficiente para justificar a
posse de um direito. Será preciso, por certo, dar um passo mais radical do que as
propostas híbridas e deixar de lado tanto a teoria da vontade quanto a do
interesse, visto que ambas limitam a análise dos direitos a funções únicas e
exclusivas. A melhor alternativa é abandonar as duas teorias e explicar quais são
as múltiplas funções que o direito pode desempenhar. Diz Wenar: “Uma
alternativa melhor, creio eu, é o que poderia ser chamada a teoria das diversas
funções dos direitos.” (WENAR, 2005, p. 238, grifos do autor, tradução nossa).
Continua:
SUMÁRIO
Considerações Finais
5 Wenar recebe duras críticas de Ma�hew Kramer e Hillel Steiner: “Isso causa confusão ao simplificar demais as
involuções das relações jurídicas de Hohfeld; acaba por ser uma elaboração (uma elaboração
desnecessariamente detalhada) da Teoria dos direitos do interesse, que ele presume rejeitar; e perde o ponto
principal das altercações entre teóricos do interesse e teóricos da vontade.” (KRAMER, 2007, p. 299, tradução
nossa).
SUMÁRIO
Referências
CRUFT, Rowan. Rights: Beyond Interest Theory and Will Theory? Law and Philosophy,
v. 23, n. 4, p. 347-397, jul. 2004. Disponível em: <h�ps://www.jstor.org/stable/4150573>.
Acesso em: 20 abr. 2021.
HART, Herbert Lionel Alphonsus. Are There Any Natural Rights? The Philosophical
Review, Duke University Press, v. 64, n. 2, p. 175–191, abr. 1955. Disponível em: <h�p://
www.jstor.org/stable/2182586>. Acesso em: 12 fev. 2021.
KRAMER, Ma�hew H.; STEINER, Hillel. Theories of rights: is there a third way? Oxford
Journal of Legal Studies, v. 27, n. 2, p. 281–310, 2007. Disponível em: < h�ps://doi.org/
10.1093/ojls/gqi039>. Acesso em: 12 abril 2021.
MACCORMICK, D.N. Rights in Legislation. In: HACKER, P.M.S.; RAZ, Joseph. Law,
Morality and Society: essays in honour of H.L.A. Hart. Oxford: Clarendon, 1977. p.
189–209.
PENNER, J. E. The analysis of rights. Ratio Juris, v. 10, n. 3, p. 300–315, set. 1997.
Disponível em: <h�p://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=3&hid=126&
sid=65b09c6e-aced-4884-86b7-d1d943dda472%40sessionmgr115>. Acesso em: 4 abril 2021.
RAZ, Joseph. The morality of freedom. Oxford: Clarendon Press; New York: Oxford
University Press, 1986.
SUMNER, Leonard Wayne. The moral foundation of rights. New York: Oxford
University Press, 1987. 224p.
WENAR, Leif. The nature of rights. Philosophy & Public Affairs, v. 33, n. 3, p. 223–253,
summer 2005. Disponível em: <h�p://www.jstor.org/stable/3557929>. Acesso em: 16 dez.
2020.
________. The analysis of rights. In: KRAMER, Ma�hew H; GRANT, Claire; COLBURN,
Ben; HATZISTAVROU, Antony. The Legacy of H.L.A. Hart. Oxford/New York: Oxford
University Press, 2008. Cap. 14. p. 251 – 274.
SUMÁRIO
Capítulo 3
DESAFIOS
DEMOCRÁTICOS NO
CONTEXTO DA DINÂMICA
ENTRE PODERES
os perigos das tentativas de
sobreposições institucionais
Clarissa Tassinari
SUMÁRIO
Clarissa Tassinari¹
Introdução
1 Doutora (2016) e Mestre (2012) em Direito Público pelo PPG Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
– UNISINOS (bolsista CNPq-BR em ambos os casos). Estágio pós-doutoral (com bolsa CAPES/PNPD), na
mesma instituição, sob a tutoria do prof. Lenio Streck (período: de 2017 até 2018/1). Professora da UNISINOS
(mestrado e graduação). Coordenadora do grupo de pesquisa GPolis – Direito, Política e Diálogos
Institucionais. Advogada (OAB/RS). E-mail: clarissa@tassinari.adv.br
SUMÁRIO
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 3 51
manifestações, exigindo-se de nossas instituições o comprometimento com
renovadas e diversificadas pautas sociais. Com o pleito eleitoral de 2018,
conjugado a esse cenário de efervescência social, inaugura-se um novo momento na
política, que, dentre outros elementos, caracteriza-se pela existência de uma
“presidência de confrontação” (ABRANCHES, 2020, p. 156), oportunizando fortes
embates institucionais internos, bem como com setores do Legislativo e da
sociedade (ABRANCHES, 2020, p. 155).
Com base nisso, este texto busca realizar uma análise exploratória
acerca das práticas institucionais eventuais e das leituras teóricas que possam ser delas
decorrentes, com o potencial e o propósito de materializar, isto é, dar um pouco de
forma e conteúdo, à hipótese aqui ensaiada sobre as tensões vivenciadas entre os
Poderes. Desse modo, os argumentos – ainda em fase de teste, diga-se de
passagem – estão organizados em duas partes, com finalidades específicas:
primeiro, compreender como se chega ao cenário de tentativas de sobreposições
institucionais no Brasil e o que está envolvido nesse debate; e, segundo,
caracterizar esse fenômeno a partir da análise de posturas institucionais (ou
práticas institucionais eventuais) e dos fenômenos delas decorrentes (leituras
teóricas possíveis). Ao final, como considerações finais, serão apresentados alguns
pontos de reflexão ao problema, à luz da democracia e de seus desafios.
2 Recentemente, Giancarlo Montagner Copelli publicou um texto na Revista Eletrônica Consultor Jurídico, na
coluna Diário de Classe (espaço destinado aos integrantes do Dasein – Núcleo de Estudos Hermenêuticos),
problematizando a existência de sobreposições entre Poderes (COPELLI, 2021).
SUMÁRIO
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 3 53
mais relacionada a refletir sobre as origens dos sistemas jurídicos (traçando
diferenças entre civil e common law). Entretanto, ainda assim, é possível verificar a
existência de um ponto de contato com a percepção de que a construção de
sentidos no direito tem como palco certas disputas institucionais.
3 Em que pese venha tratando, ao longo deste texto, da relação Direito-Política, considero relevante,
especificamente para este momento quando trato daquilo que funda o Estado, a adotar a distinção entre a
Política e o Político, proposta por autores como Chantal Mouffe. O seguinte trecho do livro de Mouffe justifica
a minha opção: “Se quiséssemos expressar essa distinção de maneira filosófica, poderíamos dizer, recorrendo
ao repertório heideggeriano, que a política se refere ao nível ‘ôntico’, enquanto o político tem a ver com o nível
‘ontológico’. Isso significa que o ôntico tem a ver com as diferentes práticas da política convencional, enquanto
o ontológico refere-se precisamente à forma em que a sociedade é fundada” (MOUFFE, 2015, p. 7-8).
4 Lenio Streck foi quem, de modo inaugural, desvelou a dimensão hermenêutica que atravessa o Direito
(STRECK, 2021).
SUMÁRIO
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 3 55
No contexto brasileiro, portanto, o sentido de Constituição passa a
corresponder à dupla expectativa da democracia, isto é, tanto àquilo que diz
respeito a assegurar os direitos de liberdade contra o arbítrio do Estado (sem os
quais, numa perspectiva contramajoritária, não há democracia possível) quanto
ao direcionamento do agir político, criando responsabilidades ao ente estatal e
determinando a execução de ações positivas (em atendimento às demandas
democráticas, que exsurgem do tecido social). Nesse diálogo entre Direito e
Política, portanto, nossa Constituição impõe o mínimo, como redução do espaço
de governabilidade quando se trata da preservação de direitos intocáveis, e
projeta o máximo, possibilitando (e determinando, de modo programático) ao
Estado vias de interlocução com a sociedade, exigindo-lhe criatividade para
promover a canalização institucional – a implementação – das demandas sociais.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 3 57
autoridade interpretativa exclusiva; a ideia de que o Judiciário possui maiores
condições técnicas de avaliar e garantir o atendimento a demandas sociais,
possuindo autoridade política; e a crença de que as instâncias judicias possuem
maior aptidão para resolver as controvérsias sociais, associada à confiança nelas
depositadas, o que, por sua vez, é garantido por uma autoridade simbólica.
Considero, ainda, que o exercício dessas autoridades muitas vezes é consentido
pelos demais Poderes, com o intuito de evitar desgastes eleitorais. Daí a noção de
que a supremacia judicial no Brasil é consentida (TASSINARI, 2016).
através de uma relação pessoal e direta com um líder carismático. Ocorre que a
principal característica de atendimento social corresponde, também, a “uma
politização à margem dos canais institucionais existentes” (INCISA, 2010, p. 985).
Isso porque, a partir de um discurso mítico, o populismo “(...) mina a burocracia
necessária à impessoalidade – que, entre outros fatores, caracteriza o Estado de
Direito – e, ao alimentar toda sorte de ativismos – como rápido caminho à
satisfação popular – procura, também, reescrever a Constituição” (COPELLI,
2021). Mais uma vez, aqui, visualiza-se a materialização de tentativas de
sobreposições institucionais, agora direcionadas ao Poder Executivo.
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 3 59
República nos primeiros movimentos de mandato, que recusou o
“enquadramento institucional do presidencialismo de coalizão”, exercendo
preponderantemente suas possibilidades legislativas, incentivando um
“protagonismo retaliatório do parlamento” (ABRANCHES, 2020, p. 156-157).
Talvez isso não seja nenhuma novidade. E é possível que essa seja ainda
uma construção muito precária. E parece-me que é preciso aprofundar ainda mais
nessa visão sobre o papel do Legislativo, nessa dinâmica pautada por disputas e
tensões. Minha intenção, aqui, foi arriscar algum tipo de leitura, e provocar
possíveis compreensões sobre o problema. É, portanto, o argumento que precisa
ser melhor e mais testado, mas, ainda assim, arrisquei expô-lo aqui. Para finalizar:
supremacia judicial, populismo e seletivismo legislativo. A questão, ao final, fica
sendo: quanto de estabilidade institucional e de qualidade democrática esses
fenômenos são capazes de produzir? Talvez esses sejam os maiores desafios da
democracia.
Considerações finais
Diante de tudo isso, ao final, gostaria de passar por mais alguns pontos
que me parecem centrais para a discussão proposta, porque revelam importantes
desdobramentos do que foi tematizado ao longo do texto. Parece-me claro que, na
raiz do problema do que venho tratando como tentativas de sobreposições
institucionais está, também, a crise de representatividade. E talvez esse seja o
maior dos desconfortos democráticos que o Brasil vem atravessando, pelo
SUMÁRIO
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 3 61
descompasso criado entre as expectativas de representação, que se extraem da voz
das ruas, e aquilo que realmente acontece no ambiente institucional.
5 A utilização do pêndulo como metáfora não é novidade. Ela está presente, por exemplo, em Leonardo Avri�er
e, inclusive, em autores que eu possa desconhecer. Neste texto, vale menos o lúdico e mais os desdobramentos
dos argumentos, que se diferem dos apresentados pelo autor acima referido.
SUMÁRIO
Clarissa Tassinari
CAPÍTULO 3 63
Legislativo. Essas leituras teóricas das tentativas de sobreposições institucionais são
produtos dessas distorções representativas, que se fixam no imaginário social
justamente pelas insuficiências do Estado e/ou pelo longo período de desgaste
democrático – de carência na materialização da democracia – que o Brasil vem
passando, desde sua ruptura com a ditadura militar. Lancei nesse espaço
algumas ideias precárias sobre como compreender as relações entre os três
Poderes, a partir de tensões institucionais e do que elas possam representar para
democracia. Finalizo, então, com as palavras de Sérgio Abranches, porque são
capazes de melhor explicitar as minhas angústias acadêmicas: “Creio que os
constituintes desenharam um sistema institucional robusto e maleável para
evitar rupturas democráticas. Mas essa resiliência tem medida, não é elástica ao
infinito” (ABRANCHES, 2020, p. 155). Precisamos refletir cada vez mais sobre
isso.
Referências
ABRANCHES, Sérgio. O tempo dos governantes incidentais. São Paulo: Companhia das
Letras, 2020.
MOUFFE, Chantal. Sobre o político. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Editora
WMF Martins Fontes, 2015.
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da
construção do direito. 11. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2021.
Capítulo 4
CRITÉRIOS OBJETIVOS
DO ATUAL SISTEMA DE
NULIDADES NO CPC/15
Darci Guimarães Ribeiro
SUMÁRIO
Introdução
1 Advogado. Professor Titular de Direito Processual Civil da UNISINOS e PUC/RS. Pós-Doutor pela Università
degli Studi di Firenze. Doutor em Direito pela Universidade de Barcelona. Especialista e Mestre pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Membro da Associação Internacional de Direito
Processual. Membro do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual Civil. Membro do Instituto Brasileiro
de Direito Processual Civil e da Academia Brasileira de Direito Processual. darci.guimaraes@terra.com.br
2 Curso de Processo Civil, Rio de Janeiro: Forense, 2006, 7ª ed., vol. 1, p. 190. Nesta ordem de ideias,
CHIOVENDA, para quem as formas “son tan necesarias y aún mucho más que en cualquiera otra relación
social; su falta lleva al desorden, a la confusión y a la incertidumbre”, Principios de Derecho Procesal. Trad. por
José Casáis y Santaló. Madrid: Reus, Tomo II, 1925, L. II, §43, p. 110.
3 Istituzioni di Diri�o Processuale Civile. In: Opere Giuridiche, Roma: Roma Tre-Press, 2019, vol. IV, §43, p. 168.
4 El Espíritu de las Leyes. Trad. por Siro Garcia del Mazo. Madrid: Librería General de Victoriano Suárez, 1906,
Livro VI, Cap. II, p. 115.
SUMÁRIO
5 Para um estudo detalhado da causa nos atos processuais, consultar por todos, GUASP, Indicaciones sobre el
problema de la causa en los actos procesales. In: Estudios Jurídicos, Madrid: Civitas, 1996, nº 15, p. 473-492.
6 Leciones de Derecho Procesal Civil, Madrid, 1933, vol. III, p. 239.
7 Fundamentos del Derecho Procesal, Buenos Aires: Depalma, 1958, nº 231, p. 374.
8 ANTÔNIO JANYR DALL’AGNOL JR, Invalidades Processuais, Porto Alegre: Letras Jurídicas Ltda., 1989,
ARAKEN DE ASSIS, Processo Civil Brasileiro, São Paulo: RT, 2015, V. II, T. I, Cap. 55, p. 1.618 e ss; ROQUE
KOMATZU, Da Invalidade no Processo Civil, São Paulo: RT, 1991 y EDUARDO SCARPARO, As Invalidades
Processuais Civis na perspectiva do Formalismo-Valorativo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.
9 Para um estudo mais aprofundado do problema terminológico, consultar ANTÔNIO JANYR DALL’AGNOL
JR, Invalidades Processuais, ob. cit., p. 11-16 e ARAKEN DE ASSIS, Processo Civil Brasileiro, ob. cit., nº 1.248,
p. 1.629.
SUMÁRIO
10 Las Nulidades en el Proceso Civil, Buenos Aires: Ejea, 1958, §4º, p. 28.
11 Nestes casos, o caminho que o ato processual deve seguir é obrigatório, pois de acordo com IHERING, “Toda
forma decretada o impuesta limita la voluntad en la elección de sus medios de expresión. (…). La forma exige
y quiere ser exactamente conocida, y por eso castiga la ignorancia, la desatención, la torpeza, la ligereza”, El
Espíritu del Derecho Romano en las diversas fases de su desarrollo. Trad. por Enrique Príncipe y Satorres.
Granada: Comares, 1998, T. III, §50, p. 643 e 647.
SUMÁRIO
Este princípio está previsto no art. 277 do CPC, segundo o qual: “Quando
a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro
modo, lhe alcançar a finalidade”.
Esta visão teleológica dos atos processuais faz com que todo ato no
processo seja considerado válido independentemente de como se tenha realizado,
uma vez que alcance sua finalidade. Pouco importa se estamos diante de uma
invalidade absoluta, relativa, anulabilidade ou uma simples irregularidade, ela
não será decretada.
12 Manual de Derecho Procesal Civil, Buenos Aires: Abeledo Perrot, 2003, 17ª ed., nº 33, p. 74.
13 Nulidades Procesales. Buenos Aires: Astrea, 1985, §30, p. 39.
14 Fundamentos del Derecho Procesal, ob. cit., nº 251, p. 390.
SUMÁRIO
Daí que quando o Ministério Público não seja intimado para intervir e
sua presença se faça obrigatória, nos termos do art. 178 do CPC: “A nulidade só
pode ser decretada após a intimação do Ministério Público, que se manifestará sobre a
existência ou a inexistência de prejuízo”, conforme o §2º do art. 279 do CPC.
15 “Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, "o reconhecimento da nulidade processual exige a efetiva
demonstração de efetivo prejuízo suportado pela parte interessada, em respeito ao princípio da
instrumentalidade das formas (pas de nullité sans grief)" (AgInt no AREsp 1310558/SP, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe 08/04/2019)”, STJ, 4ª Turma, AgInt no
AREsp 1595325/MT, Rel. Min. ANTONIO CARLOS FERREIRA, j. 07.12.2020, DJe 14.12.2020.
16 “(...). Os Tribunais Superiores firmaram posicionamento no sentido de que a nulidade apenas será considerada
causa determinante para o refazimento do ato se houver comprovação do prejuízo sofrido, obedecendo, em
linhas gerais, às determinações da legislação penal em vigor, segundo a qual é imprescindível, quando se trata
de alegação de nulidade de ato processual, a demonstração do prejuízo sofrido, em consonância com o
princípio pas de nullité sans grief, consagrado pelo legislador no art. 563 do Código de Processo Penal, o que,
na hipótese, não ficou demonstrado. (...)”, STJ, 5ª Turma, AgRg nos EDcl no HC 619245/SP, Rel. Min.
REYNALDO SOARES DA FONSECA, j. 23.02.2021, DJe 01.03.2021.
SUMÁRIO
17 Para uma análise detalhada e histórica dos vários tipos de invalidades no processo civil brasileiro, consultar
PIMENTA BUENO, Apontamentos sobre as formalidades do processo civil, Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1858, p. 08-119.
18 Sistema del Diri�o Processuale Civile, Padova: Cedam, 1936, vol. III, nº 551 e 552, p. 495-497.
19 Despacho Saneador, Porto Alegre: Sergio A. Fabris, 1985, 2ª ed., 1985, Cap. IV, nº 6, p. 72 e 73 e Cap. V, nº 8, 124
a 127.
20 Despacho Saneador, ob. cit., Cap. V, nº 8, p. 124.
SUMÁRIO
Isto não é correto porque uma invalidade cominada pode ser tanto
absoluta, art. 93, IX da CF, quanto relativa, art. 74, § único do CPC, bem como art.
76, I do CPC. Igualmente, uma invalidade não cominada pode ser absoluta, art.
142 do CPC, em havendo a má formação na composição do tribunal, ou então
relativa, art. 833 do CPC.
26 Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1996, 3ª ed., T. III, p. 355 e 356.
SUMÁRIO
“Para que algo valha é preciso que exista. Não tem sentido falar-se
de validade ou de invalidade a respeito do que não existe. A questão
da existência é questão prévia. Somente depois de se afirmar que
existe é possível pensar-se em validade ou em invalidade”²⁷.
27 Tratado de Direito Privado. São Paulo: RT, 1983, 4ª ed., T. IV, §357, p. 06 e 07.
28 Manual de Derecho Procesal Civil. Trad. por Santiago Sentís Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1980, nº 124, p. 203.
29 Em igual sentido, ANTÔNIO JANYR DALL’AGNOL JR, Invalidades Processuais, ob. cit., p. 22 e ARAKEN DE
ASSIS, Processo Civil Brasileiro, ob. cit, V. II, T. I, nº 1.249, p. 1.630.
30 ARAKEN DE ASSIS, Processo Civil Brasileiro, ob. cit, V. II, T. I, nº 1.245, p. 1.623.
SUMÁRIO
31 A redação havida no parágrafo único do art. 37, do revogado CPC/73, induziu os mais desavisados a
confundirem ato ineficaz com ato inexistente, felizmente corrigido na redação do atual §2º do art. 104 do CPC.
Neste sentido algumas decisões do STJ que ainda confundem, entre as quais, aquela que afirma: “AGRAVO
INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. AUSÊNCIA DE PROCURAÇÃO. ATO INEXISTENTE. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II, DO CPC/73.
INEXISTÊNCIA. REVISÃO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DO
ENUNCIADO N.º 7/STJ”, STJ, 3ª Turma. AgInt no REsp 1549359/RS, Rel. Min. PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, j. 15.09.2016, DJe 22.09.2016.
32 Esboço de uma Teoria das Nulidades aplicada às Nulidades Processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, nº 79, p.
96.
33 Tratado de Direito Privado. São Paulo: RT, 1983, 4ª ed., T. IV, §360, p. 19.
34 Da Invalidade no Processo Civil, São Paulo: RT, 1991, Cap. 8, p. 159.
SUMÁRIO
cobertura da coisa julgada, nem pode constituí-la nem legitimá-la.”³⁵. Por isso a
máxima: quod non est confirmare nequit.
35 Esboço de uma Teoria das Nulidades aplicada às Nulidades Processuais, ob. cit., nº 85, p. 103 y 104. Esa es la
razón por la cual COUTURE dice que, “el acto inexistente (hecho) no puede ser convalidado, ni necesita ser
invalidado”, Fundamentos del Derecho Procesal, ob. cit., nº 234, p. 377.
36 STJ, 2ª Turma, EDcl no REsp 465580/RS, Rel. Min. CASTRO MEIRA, j. 03.04.2008, DJe 18.04.2008.
37 Neste sentido a jurisprudência do STJ, segundo a qual: “(...) Impossibilidade de atribuição de eficácia de título
executivo judicial à sentença sem assinatura do juiz, homologando o acordo de
separação consensual, por se tratar de ato inexistente. (...)”, STJ, 3ª Turma, REsp 858270/MS, Rel. Min. PAULO
DE TARSO SANSEVERINO, j. 22.03.2011, DJe 28.03.2011, RSTJ vol. 222 p. 328.
38 STJ, 3ª Turma, AgRg no RCD na MC 22196/RS, Rel. Min. PAULO DE TARSO SANSEVERINO, j. 11.03.2014, DJe
17.03.2014, RDDP vol. 135 p. 144.
39 Para LINO PALACIO, “No existen por lo tanto en el proceso nulidades absolutas”, Manual de Derecho Procesal
Civil, Buenos Aires: Abeledo Perrot, 2003, 17ª ed., nº 152, p. 332.
40 Método de Interpretación y Fuentes en Derecho Privado Positivo. Trad. por José Luis Monereo Pérez. Granada:
Comares, 2000, nº 175, p. 496.
SUMÁRIO
d) São sanáveis.
41 O Código e o Formalismo Processual, In: Revista Ajuris, nº 28, 1983, p. 10 y 11 (también publicado en Revista
da Faculdade de Direito UFPR, nº 21, 1983, p. 16).
42 Sobre esta questão, convém mencionar o posicionamento do STJ, segundo o qual esta: “Corte de Justiça, em
diversas oportunidades, tem exarado a compreensão de que a suscitação tardia da nulidade, somente após a
ciência de resultado de mérito desfavorável e quando óbvia a ciência do referido vício muito anteriormente à
arguição, configura a chamada nulidade de algibeira, manobra processual que não se coaduna com a boa-fé
processual e que é rechaçada pelo Superior Tribunal de Justiça, inclusive nas hipóteses de nulidade absoluta."
(REsp 1.714.163/SP, rel. Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe 26/9/2019)”, STJ, 1ª Turma, AgInt
no REsp 1455125/SP, Rel. Min. GURGEL DE FARIA, j. 28.09.2020, 30.09.2020.
43 STJ, 2ª Turma, RMS 62831/MT, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, j. 15.12.2020, DJe 18.12.2020.
44 “A adoção como fundamento determinante de elementos jurídicos sobre os quais não pende a causa é hipótese
de nulidade absoluta do acórdão recorrido, pois viola reflexamente a inércia jurisdicional e o contraditório”,
STJ, 1ª Turma, AgInt no AREsp 832007/RJ, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, j. 17.11.2020, DJe
25.11.2020.
45 STJ, 5ª Turma, HC 212928/PR, Rel. Min. GURGEL DE FARIA, j. 01.10.2015, DJe 19.10.2015.
46 Fundamentos del Derecho Procesal, ob. cit., nº 252, p. 391.
SUMÁRIO
caso, como a norma processual tutela o interesse das partes, o vício também
poderá ser sanado pela parte interessada. Todavia, em virtude de a natureza da
norma ser cogente e imperativa, uma vez existente o vício, o juiz deve ordenar ex
officio o saneamento do mesmo⁴⁷.
47 Entre aqueles que sustentam a possibilidade de o juiz agir ex officio, cabe citar ROQUE KOMATZU, Da
Invalidade no Processo Civil, ob. cit, Cap. 10, p. 209 e 210; ANTÔNIO JANYR DALL’AGNOL JR, Invalidades
Processuais, ob. cit., p. 54; ARAKEN DE ASSIS, Processo Civil Brasileiro, ob. cit, V. II, T. I, nº 1.259.2, p. 1.652 e
MONIZ DE ARAGÃO, Comentários ao Código de Processo Civil, Rio de janeiro: Forense, 2005, nº 347, p. 295.
48 Entre eles, ARAKEN DE ASSIS, Processo Civil Brasileiro, ob. cit., V. II, T. I, nº 1.259.2, p. 1.652.
49 Neste sentido vários julgados do Superior Tribunal de Justiça, entre os quais cito: “(...). O art. 245 do CPC, que
impõe seja alegada a nulidade dos atos na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, não
tem incidência quanto às nulidades decretáveis de ofício pelo juiz. Precedentes do STJ: REsp 161.458/MG, 2a T.,
Rel. Min. Adhemar Maciel, DJ 20/10/1998; REsp 29.852/PR, 4aT., Rel. Min. Fontes de Alencar, DJ 17/06/1996.
(...)”, STJ, 1ª Turma, EDcl no REsp 765566/ RN, Rel. Min. LUIZ FUX, j. 13.11.2007, DJ 29.11.2007.
SUMÁRIO
b) Que o ato processual não tenha sido praticado pela própria parte
interessada na declaração de nulidade, conforme art. 276 do CPC. Aplica-se aqui
a máxima: venire contra factum proprium⁵¹. É o princípio da proteção, nas palavras
de CAMUSSO⁵².
Como exemplos, podemos citar o §1º do art. 239 do CPC, art. 833 do
CPC e art. 76 do CPC, entre tantos outros.
50 Em sentido contrário, entendendo que as invalidades relativas devem ser alegadas na primeira oportunidade,
sob pena de preclusão, ARAKEN DE ASSIS, Processo Civil Brasileiro, ob. cit, V. II, T. I, nº 1.259.2, p. 1.652. Este
também tem sido o posicionamento de alguns julgados do Superior Tribunal de Justiça, entre os quais o
seguinte: “Segundo o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, o vício relativo à ausência
de intimação constitui nulidade relativa, devendo ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte
se manifestar nos autos, sob pena de preclusão”, STJ, 3ª Turma, EDcl no AgInt no AREsp 1589406/RJ, Rel. Min.
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, j. 19.10.2020, DJe 29.10.2020.
51 Sobre referido princípio, consultar o que escrevi em O Novo Processo Civil Brasileiro: Presente e Futuro.
Londrina: Thoth, 2020, nº 2.5.2, p. 63 e 64, bem como nos Comentários ao Código de processo Civil. Coord.
Cássio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva, 2017, vol. 1, p. 99-109.
52 Nulidades Procesales, Buenos Aires: Ediar, 1983, Cap. XII, p. 226.
SUMÁRIO
4.2.4. Anulabilidade
4.2.5. Irregularidades
Por vezes ocorrem vícios que não são essenciais, vale dizer, não colocam
em risco a vida ou a validade do ato processual praticado.
53 Em sentido contrário, entendendo que a ordem de produção da prova oral em audiência é um exemplo de
anulabilidade, ARAKEN DE ASSIS, Processo Civil Brasileiro, ob. cit., V. II, T. I, nº 1.253, p. 1.640.
54 Comentários ao Código de Processo Civil, ob. cit., nº 349, p. 298.
SUMÁRIO
Considerações finais
Todavia, o atual CPC trouxe uma nova perspectiva para o estudo das
invalidades processuais. Vale dizer, agora a discussão sobre a invalidade de um
ato processual deve ser realizada desde princípios e valores fundamentais do
processo e não mais sobre normas processuais infraconstitucionais. Em especial
os dois grandes princípios processuais que informam a vida do processo:
segurança jurídica e efetividade. É necessário sopesar, portanto, em cada caso
concreto, se a norma processual violada alberga o princípio da segurança jurídica
ou da efetividade. Se proteger o princípio da efetividade haverá a convalidação
do ato processual e seu aproveitamento, mas se a norma processual violada
proteger o princípio da segurança jurídica, a norma processual violada não
poderá ser convalidada e a invalidade deverá ser decretada. A dificuldade na
correta ponderação dos princípios diante de situações concretas, não pode ser um
estímulo para não avançarmos na aplicação dos princípios processuais
fundamentais. Somente o estudo e uma ponderada jurisprudência poderão
SUMÁRIO
Referências
ALSINA, Hugo. Las Nulidades en el Proceso Civil, Buenos Aires: Ejea, 1958.
ASSIS, Araken. Processo Civil Brasileiro, São Paulo: RT, 2015, V. II, T. I.
CHIOVENDA, Giuseppe. Principios de Derecho Procesal. Trad. por José Casáis y Santaló.
Madrid: Reus, Tomo II, 1925.
COUTURE, Eduardo. Fundamentos del Derecho Procesal, Buenos Aires: Depalma, 1958.
DALL’AGNOL JR, Antônio J. Invalidades Processuais, Porto Alegre: Letras Jurídicas Ltda.,
1989.
GÉNY, François. Método de Interpretación y Fuentes en Derecho Privado Positivo. Trad. por
José Luis Monereo Pérez. Granada: Comares, 2000.
GUASP, James. Indicaciones sobre el problema de la causa en los actos procesales. In: Estudios
Jurídicos, Madrid: Civitas, 1996.
IHERING, Rudolf. El Espíritu del Derecho Romano en las diversas fases de su desarrollo. Trad.
por Enrique Príncipe y Satorres. Granada: Comares, 1998.
LACERDA, Galeno. Despacho Saneador, Porto Alegre: Sergio A. Fabris, 1985, 2ª ed.
SUMÁRIO
LIEBMAN, ENRICO T. Manual de Derecho Procesal Civil. Trad. por Santiago Sentís
Melendo. Buenos Aires: Ejea, 1980.
MONTESQUIEU. El Espíritu de las Leyes. Trad. por Siro Garcia del Mazo. Madrid:
Librería General de Victoriano Suárez, 1906.
PALACIO, Lino. Manual de Derecho Procesal Civil, Buenos Aires: Abeledo Perrot, 2003, 17ª
ed.
PONTES DE MIRANDA, Francisco C. Tratado de Direito Privado. São Paulo: RT, 1983, 4ª
ed., T. IV.
_________. O Novo Processo Civil Brasileiro: Presente e Futuro. Londrina: Thoth, 2020.
SILVA, OVÍDIO B. Curso de Processo Civil, Rio de Janeiro: Forense, 2006, 7ª ed.
SUMÁRIO
Capítulo 5
CONSTITUCIONALISMO
CLIMÁTICO:
a tridimensionalidade do direito
das mudanças climáticas
CONSTITUCIONALISMO CLIMÁTICO:
a tridimensionalidade do direito
das mudanças climáticas
Introdução
1 Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS.
Pós-Doutor University of California, Berkeley, CA, USA. Líder do Grupo de Pesquisa Direito, Risco e
Ecocomplexidade (CNPq). Advogado.
SUMÁRIO
2 Antropoceno consiste em um conceito que representa “era dos humanos”, criado para descrever uma nova era
geológica, ainda não oficial, a partir da qual as dinâmicas do sistema terrestre são determinadas pela atividade
humana. O termo foi proposto por Paul J Cru�en em 2002 em texto publicado na Nature (CRUTZEN, Paul J.
Geology of mankind. Nature. 415, 2002.)
3 Neste sentido, vide a Resolução 43/53, de 6 de dezembro de 1988, a Resolução 44/207, de 22 de dezembro de
1989, a Resolução 45/212, de 21 de dezembro de 1990 e a Resolução 46/169, de 19 de dezembro de 1991, todas
da Assembleia Geral das Nações Unidas.
SUMÁRIO
4. O Constitucionalismo Ambiental
5. O Constitucionalismo Climático
6 “Reconhecendo que a mudança do clima é uma preocupação comum da humanidade, as Partes deverão, ao
adotar medidas para enfrentar a mudança do clima, respeitar, promover e considerar suas respectivas
obrigações em matéria de direitos humanos, direito à saúde, direitos dos povos indígenas, comunidades locais,
migrantes, crianças, pessoas com deficiência e pessoas em situação de vulnerabilidade e o direito ao
desenvolvimento, bem como a igualdade de gênero, o empoderamento das mulheres e a equidade
intergeracional.” (UNFCCC, 2015).
SUMÁRIO
7 Para acessar o inteiro teor vide: PAKISTAN. Lahore High Court. Leghari v. Pakistan. (2015) W.P. No. 25501/201.
Disponível em: <h�p://climatecasechart.com/climate-change-litigation/non-us-case/ashgar-leghari-v-
federation-of-pakistan/>.
SUMÁRIO
direitos fundamentais. Neste curso histórico, a justiça climática traz esta análise
para uma dimensão mais complexa, atual e ampla na análise e interpretação dos
direitos fundamentais.
Neste curso histórico, foi Juliana v. USA⁸ a ação climática que ganhou
grande holofote ao propor a viabilidade constitucional de defesa de um direito
fundamental a um sistema climático estável. Para os autores – 21 jovens norte-
americanos –, as políticas e programas governamentais de fomento ao uso de
combustíveis fósseis violaram seus direitos constitucionais à vida, à liberdade, à
propriedade, à proteção igualitária (equal protection) e aos recursos dados em
confiança pela comunidade à administração (public trust resources) (MAY; DALY,
2020, p. 2). Em síntese, os autores afirmam que o governo federal, ao autorizar,
financiar e executar políticas e programas que causam ou contribuem para um
“sistema climático instável”, afeta negativamente a liberdade ordenada
assegurada pela Constituição dos EUA. Merece destaque no case Juliana v. USA
que, apesar de seu revés em nível recursal pela falta de judicialidade
(justiciability) (UNITED STATES, 2020a), esta causa, ainda pendente de decisão
8 Para acessar o inteiro teor da ação vide: UNITED STATES (a). Supreme Court of the United States. Kelsey
Cascadia Rose Juliana et al., v. United States of America et al. 947 F. 3d 1159 (9th Cir. 2020). Disponível em:
<h�p://climatecasechart.com/climate-change-litigation/case/juliana-v-united-states/>.
SUMÁRIO
9 “Fundamental liberty rights include both rights enumerated elsewhere in the Constitution and rights and
liberties which are either (1) "deeply rooted in this Nation's history and tradition" or (2) "fundamental to our
scheme of ordered libe1ty[.]"
10 A corroborar com a análise deste argumento, vide: NOVAK, Sco�. The Role of Courts in Remedying Climate
Chaos: Transcending Judicial Nihilism and Taking Survival Seriously. The Georgetown Environmental Law
Review, Washington, v. 32, n. 743, p. 743-778, 2020
SUMÁRIO
Referências
CARVALHO, Délton Winter de. Desastres ambientais e sua regulação jurídica: deveres
de prevenção, resposta e compensação ambiental. 1. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015.
CARVALHO, Délton Winter de. Desastres ambientais e sua regulação jurídica: deveres
de prevenção, resposta e compensação ambiental. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2020a.
FARBER, Daniel A.; CARLARNE, Cinnamon P. Climate Change Law. St. Paul:
Foundation Press, 2018.
MANK, Bradford C. Does the Envolving Concept of Due Process in Obergefell Justify
Judicial Regulation of Greenhouse Gases and Climate Change?: Juliana v. United States.
UC Davis Law Review, Davis, v. 52, p. 855-903, dez. 2018.
SUMÁRIO
MAY, James R.; DALY, Erin. Can the U.S. Constitution Accommodate a Right to a Stable
Climate? (Yes, it can). UCLA Journal of Environmental Law & Policy, Los Angeles, p.
1-26, set. 2020.
MAY, James R.; DALY, Erin. Global Climate Constitutionalism and Justice in the Courts.
In: JARIA-MANZANO, Jordi; BORRÀS, Susana (Eds.). Research Handbook on Global
Climate Constitutionalism. Cheltenham (UK); Northampton (MA, USA): Edward Elgar
Publishing, 2019. p. 235-245.
NOVAK, Sco�. The Role of Courts in Remedying Climate Chaos: Transcending Judicial
Nihilism and Taking Survival Seriously. The Georgetown Environmental Law Review,
Washington, v. 32, n. 743, p. 743-778, 2020.
PAKISTAN. Lahore High Court. Leghari v. Pakistan. (2015) W.P. No. 25501/201.
Disponível em: <h�p://climatecasechart.com/climate-change-litigation/non-us-case/
ashgar-leghari-v-federation-of-pakistan/>.
PEEL, Jacqueline; LIN, Joline. Transnational Climate Litigation: The Contribution of the
Global South. The American Society of International Law, Singapore, v. 113, n. 4, p.
679–726, 2019.
RODRÍGUEZ-GARAVITO, César. Litigating the Climate Emergency: The Global Rise and
Impact of the ‘Rights Turn’ in Climate Litigation. In: RODRÍGUEZ-GARAVITO, César
(Ed.). Litigating the Climate Emergency: How Human Rights, Courts, and Legal
Mobilization Can Bolster Climate Action (prelo), Cambridge: Cambridge University
Press, 2021. No prelo.
SETZER, Joana; CARVALHO, Délton Winter de. “Climate litigation to protect the
Brazilian Amazon: Establishing a constitutional right to a stable climate.” RECIEL –
Review of European, Comparative & International Environmental Law. Volume 30,
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10.1111/reel.12409. Acesso em 10/08/2021.
SUMÁRIO
UNITED STATES. Supreme Court of the United States. Obergefell et al. v. Hodges,
Director, Ohio Department of Health, et al. 576 F. 3d 1298 (6th Cir. 2015). Disponível em:
<h�ps://www.supremecourt.gov/opinions/14pdf/14-556_3204.pdf>.
UNITED STATES (a). Supreme Court of the United States. Kelsey Cascadia Rose Juliana
et al., v. United States of America et al. 947 F. 3d 1159 (9th Cir. 2020). Disponível em:
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UNITED STATES (c). United States District Court. District of Oregon. Eugene Division.
Kelsey Cascadia Rose Juliana et al., v. United States of America et al. Opinion and
Order. AIKEN, Judge Ann. 54 F. Case No. 6:15-cv-01517-TC. 2016.
WEGENER, Lennart. Can the Paris Agreement Help Climate Change Litigation and Vice
Versa? Transnational Environmental Law - TEL, Cambridge, v. 9, n. 1, p. 17-36, jan. 2020.
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Capítulo 6
LITIGÂNCIA ESTRATÉGICA
EM DIREITOS HUMANOS,
ASSIMETRIA DE PODER E
COLONIALIDADE
Fernanda Frizzo Bragato
SUMÁRIO
Introdução
109
Fernanda Frizzo Bragato
CAPÍTULO 6
111
Fernanda Frizzo Bragato
CAPÍTULO 6
113
Fernanda Frizzo Bragato
CAPÍTULO 6
colonizados, existe uma zona da não-existência que faz com que certas pessoas
não contem, de modo que a relação entre eles e o Estado e a sociedade acaba se
reduzindo à esfera da repressão e da marginalização³.
3 Ver: BRAGATO, Fernanda F. Discursos desumanizantes e violação seletiva de direitos humanos sob a lógica da
colonialidade. Quaestio Iuris (Impresso). v.9, p.1806 - 1823, 2016.
4 Isso não significa dizer que a educação em direitos humanos não seja tão ou mais importante para a efetivação
de direitos humanos.
SUMÁRIO
115
Fernanda Frizzo Bragato
CAPÍTULO 6
legitimada para ajuizar ADPFs, algo que era adstrito a entidades de classe que
cumprissem, na sua organização e desenvolvimento, as normas concernentes às
associações que estão previstas na Constituição Federal e no Código Civil
(AZAMBUJA; BRAGATO, 2020). Por conta disso, ao permitir que a APIB se
tornasse legitimada a ajuizar ADPFs sem seguir as normas organizativas
vigentes, seguindo apenas os mecanismos organizativos atinentes aos próprios
povos indígenas, o ministro Barroso reconheceu uma espécie de pluralismo
jurídico interno, abrindo um importante precedente para que outras organizações
formadas por povos indígenas e demais comunidades tradicionais do Brasil
possam pleitear a efetivação de seus direitos no STF por meio de ADPFs
(AZAMBUJA; BRAGATO, 2020).
5 Um caso emblemático que ilustra essa situação é o caso Aguinda v. Texaco. Ver em: How the Environmental
Lawyer who Won a Massive Judgment Against Chevron Lost Everything, The Intercept (January 29, 2020),
h�ps://theintercept.com/2020/01/29/chevron-ecuador-lawsuit-steven-donziger/ Acesso em: 12 Fev. 2021.
SUMÁRIO
117
Fernanda Frizzo Bragato
CAPÍTULO 6
Considerações finais
Referências
Disponível em h�p://www.a4id.org/wp-content/uploads/2016/04/Strategic-Litigation-
Short-Guide-2.pdf. Acesso em: 01 jul. 2021.
BRAGATO, Fernanda Frizzo. A colonialidade do poder por trás dos riscos de atrocidades
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Luiz; ROCHA, Leonel Severo (Orgs.). Constituição, Sistemas Sociais e Hermenêutica:
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Fab0ris Editor, 1988.
FANON, Fran�. Black Skin, White Masks. Translated by Charles Lam Markmann.
London: Pluto Press, 2008.
119
Fernanda Frizzo Bragato
CAPÍTULO 6
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www.pilnet.org/resource/pursuing-the-public-interest-a-handbook-for-legal-
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SUMÁRIO
SUMÁRIO
Capítulo 7
ESTADO DE DIREITO
CONTEMPORÂNEO
estrutura e novos desafios
Gabriel Wedy
SUMÁRIO
Gabriel Wedy¹
Introdução
1 Juiz Federal. Professor nos programas de Pós-Graduação e na Escola de Direito da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos - Unisinos. Pós-Doutor em Direito. Visiting Scholar pela Columbia Law School e Professor Visitante
na Universität Heidelberg - Institut für deutsches und europäisches Verwaltungsrecht. É professor na Escola
Superior da Magistratura Federal – Esmafe. Foi Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil – Ajufe
e da Associação dos Juízes Federais do Estado do Rio Grande do Sul - Ajufergs. Autor de diversos livros e
artigos jurídicos publicados no Brasil e no exterior. E-mail: gabrielwedy@unisinos.br
SUMÁRIO
123
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
125
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
Em que pese tudo isto, apenas a título de exemplo, Derrida, faz pouco,
alimentou a polêmica acadêmica ao referir que Schmi�, ao elaborar a sua noção
de inimigo, criou ao mesmo tempo a sua ideia de amigo (1997, p. 106). De outro
modo, como salta às escâncaras, autores influenciados por Schmi�, como Henry
Kissinger (1961) – este inclusive nas suas ações práticas como homem de Estado
nos EUA –, focam a qualidade das relações humanas no aspecto eminentemente
político. Aliás, desse modo, concedendo prevalência ao político em detrimento do
direito, agem boa parte das nações – em especial as que guardam resquícios
imperialistas – no âmbito de suas decisões no cenário internacional.
SUMÁRIO
127
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
129
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
confiável, justa e equitativa para assuntos que interessem aos seres humanos”
(2013, p. 319). O segundo significado é que as leis científicas que governam o
funcionamento da Terra restringem as arquiteturas jurídicas formando o que se
chama de direito ecológico.
131
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
é o poder por trás do Direito, “pois este sugere a existência de duas entidades
distintas onde existe apenas uma: a ordem jurídica. O dualismo de Direito e
Estado é uma duplificação supérflua do objeto de nossa cognição, um resultado
de nossa tendência de personificar e então ampliar as nossas personificações”
(KELSEN, 1945, p.275).
Aliás, não foram poucas nações que caíram nesta armadilha ao longo da
história (e continuam caindo), como demonstram o fascismo, o nazismo, as
ditaduras comunistas (e as de direita) e uma nova classe de ordoliberais que
surgiu das ruínas do neoliberalismo (BROWN, 2019). O resultado disto, e a
história não perdoa, não é positivo e, de fato, não poderia sê-lo. Nem por simples
gracejo, ou por não esclarecida crença saudosista.
2 O decisionismo é uma das nefastas heranças da obra de Carl Schmi� que nos assombra ainda nos dias atuais.
SUMÁRIO
133
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
(POSNER, 2018, p. 18), uma espécie de versão do Estado de Direito como por nós
concebida (BINGHAN, 2011, p. 7), e da democracia. A América possui uma
sociedade civil atuante, dois partidos extremamente fortes: os republicanos e os
democratas. Os Poderes são independentes e com agentes que gozam de
prerrogativas constitucionais bem definidas e uma mídia que, de algum modo,
seja liberal ou conservadora, cumpre o seu papel e enriquece o debate público
com informações. As agências federais independentes e aquelas outras,
vinculadas ao Poder Executivo, cumprem as suas atribuições do modo mais
técnico possível, em especial após o decidido pela Suprema Corte no caso
Chevron, não cedendo a uma adoção pura da análise do custo-benefício
(SUNSTEIN, 2005; SUNSTEIN, 2007; SUNSTEIN, 2013; SUNSTEIN, 2014; WEDY,
2020). De fato, deve-se ter presente no realismo estatal que existem valores que o
dinheiro não pode comprar em virtude dos limites morais do mercado, na expressão
de Michael Sandel (2012, p. 203).
135
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
Considerações finais
137
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
Referências
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
139
Gabriel Wedy
CAPÍTULO 7
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SUMÁRIO
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Capítulo 8
OS DESAFIOS DA
BIOÉTICA E DO
BIODIREITO
Gerson Neves Pinto
SUMÁRIO
Introdução
Esse poder de criar, o que antes apenas era “dado” pela natureza,
proporcionou avanços surpreendentes na seara da saúde. A evolução das
ciências, em especial das técnicas em reprodução humana e a facilitação do acesso
a essas novas tecnologias, tem modificado os comportamentos sociais nas últimas
décadas, abalando os conceitos éticos e morais existentes até então.
1 Possui Doutorado em Philosophie, Textes Et Savoir, mention très honorable na École Pratique Des Hautes
Etudes – Sorbonne, Paris (2011), Mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998)
e Graduação em Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1985). Atualmente é professor
adjunto da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e do Programa de Pós-Graduação em Direito.
SUMÁRIO
Habermas diz que a velha ética não é suficiente para responder a essas
questões e preocupa-se quanto à necessidade de regulamentação das novas
tecnologias. Para esse autor, são evidentes os riscos decorrentes da abreviação de
processos políticos de autocompreensão (Habermas, 2004, 19).
mudança ainda maior, pois altera de forma mais profunda o conjunto de valores
morais, a ponto de torná-los obsoletos (Dworkin, 2016, 633).
Não temos o direito – seria uma grave confusão – de pensar que até as
mudanças mais avassaladoras na fronteira entre a sorte e a opção de algum modo
desafiem a própria moralidade, de forma que um dia não haverá mais certo ou
errado. Todavia temos o direito de estar apreensivos que nossas convicções
arraigadas, muitas delas, venham a ser solapadas, que venhamos a sofrer uma
espécie de queda-livre moral, que tenhamos de pensar novamente contra um
novo pano de fundo e com resultados incertos. Brincar de Deus é brincar com
fogo (Dworkin, 2016, 446, grifo nosso).
1. O Principialismo
Considerações finais
ALIBÉS, Ester Busquets; TUBAU, Joan Mir. Principios de Ética Biomédica, de Tom L.
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Capítulo 9
O “MUNDO GRIPADO”
DA COVID-19
da globalização do medo ao
cosmopolitismo de interação
Introdução
155
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
3 CARVALHO, Delton Winter de. A natureza jurídica da pandemia COVID-19 como desastre biológico: um
ponto de partida necessário para o Direito. O artigo foi gentilmente cedido pelo autor, a quem agradecemos.
No prelo.
SUMÁRIO
157
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
Não que esses fenômenos não existam e não devam ser levados a sério.
Entretanto, o que pretendemos demonstrar é que o uso do medo como
instrumento de controle das sociedades contemporâneas é a causa de falsas
demandas por segurança e justificativa para a violação de direitos humanos em
nome dela e, no caso da COVID-19, o peso dos mais de quarenta anos de
neoliberalismo nos faz acreditar que a manutenção das dinâmicas do modelo
econômico é o que nos salvará da crise em que já estamos todos metidos. Nada
mais pertinente, portanto, do que reconhecer que a instrumentalização do medo
pode significar que sua manipulação pode conter verdadeira e falsa informação e
que ambas podem produzir apropriadas ou inapropriadas reações, como referiu
Martha Nussbaun (2019).
159
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
usados pelos Estados, cujos governantes são seduzidos pela “mão invisível do
mercado” para responder às crises, sejam os mais eficazes. Ao contrário. A
debilidade dos sistemas de saúde pública, em vários países, sendo o maior
exemplo os Estados Unidos, indicou o quanto o mundo estava despreparado para
enfrentar a crise provocada pelo coronavírus. O alerta de David Harvey (2020, p.
7) é visceral, ou seja, “mesmo bons indivíduos neoliberais podem ver que há algo
errado com a maneira com que esta pandemia está sendo respondida.”
Com efeito, se o medo causa como fim a busca por segurança, essa exige
que sejam encontrados meios para alcançá-la. Logo, a relação circular entre o
medo e a razão securitária é perfeita e estimula as mais amplas ações de governos
autoritários, os quais não apenas esperam, mas fomentam de maneira habilidosa
o apoio de indivíduos e de grupos. A cultura individualista liberal fomenta, pois,
os egoísmos por meio dos quais as pessoas interessam-se em proteger seus
próprios interesses assumindo, muitas vezes, comportamentos complacentes com
a violação de direitos dos “outros”.
161
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
5 A propósito da gripe H1N1, nessa obra o autor repensa o conceito de comunidade no quadro das novas
definições sobre imunidade.
6 O autor trata dessas duas faces nas posições 1964 e 1965, respectivamente
SUMÁRIO
163
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
7 Beck (2006, 26-36) apontou cinco teses que justificam a teoria da sociedade de risco: a) os riscos avançam na
mesma medida das forças produtivas; b) com a repartição e incremento dos riscos surgem situações sociais de
perigo; c) a lógica dos riscos não rompe com o processo de expansão capitalista; d) pode-se possuir riquezas,
mas, pelos riscos, somos afetados; e) os riscos possuem um conteúdo político.
SUMÁRIO
165
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
8 Tais reflexões foram desenvolvidas criticamente por DELSOL, Chantal. Le crépuscule de l’universel. Paris: Les
Éditions du Cerf, 202o, cap. 1.
9 Benhabib (2005, p. 25) diz que: “As interações democráticas são processos complexos de debate, deliberação e
aprendizagem públicos, através dos quais são contextualizadas, invocadas e revogadas as afirmações de
direitos universalistas em conjunto com as instituições legais e políticas, assim como a esfera pública das
democracias liberais.
SUMÁRIO
167
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
10 Nos permitimos citar aqui a obra: SALDANHA, Jânia Maria Lopes. Cosmopolitismo jurídico. Teorias e práticas
entre globalização e mundialização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018.
11 O qual será denominado por nós de cosmopolitismo de interação tomando-se emprestado a expressão de
Benhabid aplicada às interações democráticas. Veja-se: Benhabib (2005, p. 20).
SUMÁRIO
12 Cujo surgimento encontra justificativa no fim do modelo clássico de Estado, na emergência de riscos globais e
nos efeitos da redução do mundo e cujas características são: a) Novo uso do conceito de soberania; b) a
distinção de diferentes níveis de governança; c) o favorecimento da democratização da tomada de decisão; d)
as reformas institucionais; e) a realização de inovações institucionais e; f) o reconhecimento das vias não
institucionais. LOURME, Louis. Pourquoi le cosmopolitisme institutionnel? POLICAR, Alain (Dir.). Le
cosmopolitisme sauvera-t-il la démocratie? Paris : Classiques Garnier, 2019, p. 99-103.
13 Essa expressão é dos autores.
SUMÁRIO
169
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
17 Tal hipótese de derrogação não alcança o art. 2º (direito à vida, salvo em casos de guerra legal); art. 3º (vedação
à tortura e tratamento desumano ou degradante); art. 4º, §1º (proibição da escravidão); art. 7º (vedação de
punição sem lei anterior); e outros fora da Convenção, como os Protocolos n.º 6 e 13, e o art. 4º do Protocolo 7
(que impedem a derrogação da vedação à pena de morte e do direito de ser julgado e punido duas vezes).
18 Os exemplos mencionados no documento são os a) o art. 5º, § 1º, alínea “e” e §2º; arts de 8 a 11, da Convenção;
e o art. 2º, §3º do Protocolo n.º 4.
SUMÁRIO
171
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
19 Observa-se que a internalização de conteúdos morais pelo direito não ocorre como um fenômeno particular das
instituições associadas ao processo de mundialização, mas é possível de constar que esse fenômeno se afirma
como concepção para a caracterização do que significa Estado de Direito substancial, conforme Jacques
Chevallier (2013, p. 83-84): “Doravante, além da hierarquia de normas, o Estado de direito será entendido como
envolvendo a adesão a um conjunto de princípios e de valores que se beneficiarão de uma consagração jurídica
explícita e serão providos de mecanismos de garantia apropriados; assim, a concepção formal se encontra,
portanto, substituída por uma concepção material ou substancial, que engloba e a excede: a hierarquia das
normas se torna, ela mesma, uma das componentes do Estado de Direito substancial”. Assim, vê-se um nítido
itinerário entre os tópicos abordados pelo documento até aqui, uma vez que inicia preservando a conversação
constitucional entre as instâncias internacional e nacionais, seguida pela defesa do Estado de Direito e
equilíbrio dos poderes e, agora, com a defesa dos conteúdos mínimos de direitos fundamentais ante a situação
e crise.
20 A padronização na administração dos medicamentos e protocolos de tratamento é uma importante solução
conjunta que evita decisões inadequadas por parte dos chefes de Estado, como no caso do Brasil, com a
ostensiva orientação de uso por parte do Presidente da República em relação à Cloroquina, conforme registrado
por Libório; Fávero (2020), bem como no caso dos Estados Unidos, com a ingestão de desinfetante ou luz solar
que foram sugeridas pelo Presidente Donald Trump (EL PAÍS, 2020).
SUMÁRIO
173
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
Por fim, o quinto tópico serve para reafirmar o Conselho como uma
referência para o continente europeu, resgatando sua origem, no pós-guerra,
como instituição para a preservação da paz e que agora serve para catalisar os
esforços de enfrentamento da pandemia pelas vias institucionais. Entre as
orientações finais, o documento destaca que a conjuntura da pandemia conduz à
necessidade de se “iniciar uma ampla reflexão sobre a proteção dos indivíduos e
dos grupos mais vulneráveis em nossas sociedades e sobre os meios de proteger
seus direitos em um modelo de governança mais sustentável e solidário”²¹, o que
é, em outras palavras, a busca pela concretização do cosmopolitismo de interação.
21 Among other things, a broad reflection will need to be initiated on the protection of the most vulnerable
individuals and groups in our societies and about the means to safeguard their rights in a more sustainable and
solidary governance model (CONSELHO EUROPEU, 2020. p. 9).
SUMÁRIO
175
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
177
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
Desse modo, não sendo plano o mundo real, toda crise, embora global,
deve ser contextualizada a partir de suas bases culturais, históricas, políticas e
sociais, isto é, a partir de sua extensão e profundidade. Por isso, aos Estados, na
condição de atores globais, deve ser resguardada uma margem nacional de
apreciação para avaliar e decidir sobre o que mais convém à sua comunidade.
Com isso temos, nas palavras de Delmas-Marty (2020), um “comum múltiplo”
que se situa entre uniformidade e pluralidade. E é justamente aqui que se situa a
SUMÁRIO
179
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
22 Toma-se de empréstimo as reflexões de Bruno Latour sobre o fato do hibridismo ser contrário a qualquer
pretensão unificadora. Nele percebe-se a mistura entre natureza e cultura e que se associa à ideia de rede.
LATOUR (1991. p. 10-22).
SUMÁRIO
Considerações finais
181
Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
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Jânia Maria Lopes Saldanha
CAPÍTULO 9
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Jânia Maria Lopes Saldanha
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Capítulo 10
“CONSTITUIÇÃO DA
EMERGÊNCIA”
uma proposta de solução para o conflito entre
os poderes na crise da Covid-19
“CONSTITUIÇÃO DA EMERGÊNCIA”:
uma proposta de solução para o conflito entre os
poderes na crise da covid-19
189
José Rodrigo Rodriguez
CAPÍTULO 10
(UOL, “STF dá poder a estados para atuar contra covid-19 e impõe revés a
Bolsonaro”, 15/04/2020).
191
José Rodrigo Rodriguez
CAPÍTULO 10
193
José Rodrigo Rodriguez
CAPÍTULO 10
Este texto não considera que o debate técnico-científico deva ser isolado
do debate político, do debate na esfera pública (HABERMAS, 2014; NEUMANN,
2013b, FEENBERG, 1991). A relação entre política, ciência e direito vem sendo
debatida há muito tempo em diversas tradições intelectuais, também no campo
da Teoria Crítica, no qual me situo. Não há espaço para mostrar todos os
desdobramentos do problema neste texto.
No entanto, cabe sustentar aqui que nem sempre os cientistas das mais
diversas áreas formam consensos a respeito dos mais variados assuntos e, além
disso, a sociedade deve ter a possibilidade de fazer escolhas sobre as políticas
públicas que deseja adotar a partir dos marcos estabelecidos pela ciência.
SUMÁRIO
É isso que explica, por exemplo, que haja várias configurações em seus
dispositivos, que nem sempre haja consenso a respeito de regras técnicas. Isso
também explica as assimetrias de poder no processo de desenvolvimento
tecnológico, por exemplo, as classes dominantes costumam ter mais poder sobre
este processo do que as classes dominadas.
Por isso mesmo, e aqui a reflexão de Feenberg não nos ajuda muito, é
preciso disciplinar tais conflitos sociais com a construção de instituições
democráticas capazes de ouvir os diversos interesses, permitindo que a
configuração dos dispositivos tecnológicos e suas eventuais transformações
levem em conta a racionalidade científica. Para atingir este objetivo, ao que tudo
indica, as eleições majoritárias não são suficientes.
195
José Rodrigo Rodriguez
CAPÍTULO 10
197
José Rodrigo Rodriguez
CAPÍTULO 10
Uma análise fria do impasse exige que se diga que não soa razoável
exigir de um agente político legitimado pelo voto popular em aliança com forças
ultraliberais, mesmo que tenha traços fundamentalistas, que ele corra o risco de
cometer um suicídio político ao adotar uma pauta não religiosa, iluminista e
racional, adotando de bom grado políticas protetivas e de intervenção na
economia. Uma exigência assim não soa institucionalmente razoável, posto que o
Chefe do Executivo venceu uma eleição majoritária em um sistema
Presidencialista.
Para evitar que o Brasil corra este mesmo risco no futuro, mesmo em um
futuro próximo, pode ser uma boa ideia refletir sobre a necessidade de criar algo
semelhante a um “estado de emergência médico” com sede constitucional, talvez
como um mero adendo à regulação de emergência já existente, que impusesse
explicitamente o dever constitucional de seguir os conselhos das agências
especializadas nacionais e internacionais em caso de declaração de uma
pandemia em escala mundial.
Não tenho uma visão detalhada de como este organismo poderia ser
desenhado, mas, ainda que descrito em suas feições gerais, ele poderia ser útil
para aliviar o Chefe do Executivo do peso político-eleitoral de decisões que
contrariem abertamente a sua agenda política e frustrem os acordos políticos que
ele foi capaz de articular para ascender e se manter no poder, além de garantir a
funcionalidade das medidas técnicas necessárias para combater a pandemia.
199
José Rodrigo Rodriguez
CAPÍTULO 10
Considerações finais
Referências
_____. “Critical Theory of Technology”, in Jan Kyrre Berg Olsen, Stig Andur
Petersen, Vincent F. Hendricks (eds.), A Companion to Philosophy of
Technology. Oxford: Blackwell Publishing, 2009.
_____. Como Decidem as Cortes? Para uma Crítica do Direito (brasileiro). Rio de
Janeiro: FGV, 2013.
251-276.
Capítulo 11
POSITIVISMO E
LITERALISMO:
o caso do art.45 do Regimento Interno do
Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
(CARF) e o “crime de hermenêutica”
Ou seja, não é (mais) necessário dizer que o “juiz não é a boca da lei”
etc.; enfim, podemos ser poupados, nesta quadra da história, dessas “descobertas
polvolares”. Isto porque essa “descoberta” não pode implicar um império de
decisões solipsistas, das quais são exemplos as posturas caudatárias da
jurisprudência dos valores (que foi “importada” de forma equivocada da
Alemanha), os diversos axiologismos, o realismo jurídico (que não passa de um
“positivismo fático”), a ponderação e suas vulgatas (pelas quais o juiz
literalmente escolhe um dos princípios que ele mesmo elege prima facie), etc. Ou
ao menos assim deveria ser.
1 Doutor em Direito do Estado (UFSC); Pós-Doutor em Direito Constitucional e Hermenêutica (Universidade de
Lisboa); Professor Titular da Unisinos, Rio Grande do Sul, Brasil.
2 STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
SUMÁRIO
203
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
De algum modo, perceber-se-á que aquilo que está escrito nos Códigos
não cobre a realidade. Mas, então, como controlar o exercício da interpretação do
direito para que essa obra não seja “destruída”? E, ao mesmo tempo, como excluir
da interpretação do direito os elementos metafísicos que não eram bem quistos
pelo modo positivista de interpretar a realidade? Num primeiro momento, a
resposta será dada a partir de uma análise da própria codificação: a Escola da
Exegese, na França, e a Jurisprudência dos Conceitos, na Alemanha.
É nesse ambiente que aparece Hans Kelsen. Por certo, Kelsen não quer
destruir a tradição positivista que foi construída pela jurisprudência dos
conceitos. Pelo contrário, é possível afirmar que seu principal objetivo era
reforçar o método analítico proposto pelos conceitualistas de modo a responder
ao crescente desfalecimento do rigor jurídico que estava sendo propagado pelo
crescimento da Jurisprudência dos Interesses e à Escola do Direito Livre – que
SUMÁRIO
205
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
207
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
209
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
3 Ver o verbete Resposta Adequada à Constituição (resposta correta), do Dicionário de Hermenêutica: 50 verbetes
fundamentais da Teoria do Direito à luz da Crítica Hermenêutica do Direito. 2 ed. Belo Horizonte: Editora
Letramento, 2020.
SUMÁRIO
211
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
Não esqueçamos que texto e norma, fato e direito, não estão separados
e, tampouco, um “carrega” o outro; texto e norma, fato e direito, são (apenas e
fundamentalmente) diferentes. Por isto, o texto não existe sem a norma; o texto
não existe em sua “textitude”; a norma não pode ser vista; ela apenas é (existe) no
(sentido do) texto.
Por tudo isso, é preciso ter claro que o estabelecimento das bases para a
construção de discursos críticos é uma tarefa extremamente complexa e que não
se faz sem ranhuras. Afinal, mais do que um imaginário a sustentar o modo-
positivista-de-fazer/interpretar-direito, há, no Brasil, uma verdadeira “indústria
cultural” assentada em uma produção jurídica que tem nos manuais (a maioria
de baixa densidade científico-reflexiva) a sua principal fonte de sustentação,
retroalimentada pelas escolas de direito, cursos de preparação para concursos e
exame de ordem, além da própria operacionalidade do direito, que continua – em
pleno século XXI – a ter no dedutivismo a sua forma de aplicar o direito. Por isto, não
é temerário (re)afirmar que o positivismo jurídico – entendido a partir da
dogmática jurídica que o instrumentaliza – é uma trincheira que resiste (teimosa-
mente) a essa viragem hermenêutico- ontológica.
Cabe perguntar: o que são normas? E o que são “normas legais” (sic)?
Elas se confundem com as leis ou com o texto das leis? Pergunto: os princípios
constitucionais não possuem caráter normativo? É possível perceber como a
processualística brasileira ainda não conseguiu ir além dos problemas
metodológicos que foram instituídos no final do século XIX e no início do século
XX. Escopos processuais? Instrumentalismo? Deixar tudo para os juízes? Ora, isso
Kelsen já havia deixado como herança maldita para os juristas. E as
conseqüências disso todos conhecemos. Depois nos queixamos das súmulas
vinculantes...! Primeiro, incentivamos atitudes ativistas-protagonistas; depois,
quando tudo parece incontrolável, apelamos aos enunciados metafísico-
sumulares...! A pergunta que fica é: quando é que os juristas se darão conta disso
tudo?
213
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
Ainda que de há muito Rui Barbosa tenha feito sua tese triunfar no STF,
com espanto o leitor desavisado haverá de receber a seguinte notícia: o “crime de
hermenêutica”, ainda que em estado de “relíquia” permenece existindo na
ordem jurídica vigente, sintoma, como antecipado anteriormente, das voltas que
a prática e teoria do direito em terrae brasilis permanece dando com o esquema
maniqueísta “formalismo-realismo”.
215
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
Por outro lado, cumprir a “letra da lei” não quer dizer subsunção ou
“escravidão à lei” ou coisas desse gênero, que povoa(ra)m o imaginário dos
juristas do século XIX e início do século XX (até o advento das teorias voluntaristas
— embora esse fantasma ainda arraste as correntes nas salas de aula das boas
casas do ramo). O literalista é aquele que, diante da regra “Proibido cães na
plataforma”, proíbe o cão guia. E deixa entrar o urso. O voluntarista, por outro
lado, é aquele que deixa entrar o poodle porque acha bonitinho. O literalista
proíbe o cão e deixa entrar o urso⁴.
Nesse sentido, é preciso reforçar aquilo que Rui Barbosa tentou legar
como ensinamento: não pode ser proibido divergir de súmulas — mas não por
uma questão de "distinguishing", e muito menos por "livre convencimento". Não
4 Também no meu Dicionário de Hermenêutica, há um verbete intitulado “Literalidade”, em que explico com
maior profundidade esse exemplo do cão e do urso e da própria questão relacionada ao literalismo/
textualismo: STRECK, Lenio Luiz. Dicionário de Hermenêutica: 50 verbetes fundamentais da Teoria do Direito
à luz da Crítica Hermenêutica do Direito. 2 ed. Belo Horizonte: Editora Letramento, 2020.
SUMÁRIO
deve ser proibido divergir de súmula ou até deixar de a aplicar, porque, numa
súmula, o que é dotado de autoridade não é a súmula "em si mesma", mas as leis,
as diretrizes, os princípios legais que embasam a súmula e aos quais ela responde.
Há sempre uma história institucional a ser revolvida e reconstruída. Porque
súmula é texto. Como qualquer lei. E textos são eventos. Há um chão linguístico
em que isso tudo está assentando.
Numa palavra: textos são eventos, reitero. Basta ver que, nos EUA —
pego de exemplo onde pelo menos as correntes interpretativas são declaradas de
forma mais clara, as cartas são postas à mesa —, originalistas e literalistas
produzem resultados diferentes. No Brasil, a "literalidade" serviu para justificar e
para afastar a presunção da inocência. O problema não é de súmula, mas, por
outro lado, a solução jamais será o "livre convencimento".
A solução — que está nesse "Ângelo do meio" (para lembrar Medida por
Medida) — é decidir com critérios. O que tento aqui apresentar na análise desse
“sintoma” é que o Direito pode apresentar respostas coerentes e íntegras (artigo
926 do CPC, que está no Código por minha iniciativa). Decisões devem dialogar
com a ordem legal em todo seu conjunto. Distinguishing não é contraponto lógico
de súmula, mas também pode ser. Súmula pode ser derrotada. De novo, a questão
é a do ajuste (fit). O que derruba/derrota a súmula são as exigências do próprio
Direito, sempre superior. Não a conveniência, não a ocasião. Súmulas e textos
legais (súmula é um texto legal) devem ser analisados a partir do Direito positivo,
com toda a lógica que o sustenta, todas suas premissas de princípio — inseridas
217
Lenio Luiz Streck
CAPÍTULO 11
Referências
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia. Vol. I e II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1997. HART, Herbert. O conceito de Direito. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1994. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis, Vozes, 2007;
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise. 8. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2008.
Capítulo 12
CONSTITUIÇÃO,
AUTOPOIESE E
ACOPLAMENTO
ESTRUTURAL:
propostas e desafios do constitucionalismo
social em LUHMANN e TEUBNER
Introdução
1 Este texto faz parte do Projeto de Pesquisa Constitucionalismo Digital em um Sistema Social Global (CNPq); e
Teoria do Direito e Diferenciação Social na América Latina (Unisinos).
2 Doutor em Direito pela École des hautes études en sciences sociales de Paris, com estudos de Pós-doutorado
em Sociologia do Direito pela Università degli Studi di Lecce. Professor Titular do programa de Pós-Graduação
em Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Mestrado e Doutorado, CAPES 6). Leonel@unisinos.br.
Pesquisador de Produtividade 1 CNPq. Advogado.
3 LUHMANN, Niklas. La sociedad de La sociedad. Traducción de Javier Torres Nafarrate. México: Herder, 2007.
4 TEUBNER, Gunther. O Direito como Sistema Autopoiético. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.
SUMÁRIO
221
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
5 ROCHA, Leonel Severo. Epistemologia jurídica e democracia. 2. ed. São Leopoldo: Unisinos, 2005.
6 ROCHA, Leonel Severo. Epistemologia jurídica: revisitando as três matrizes. Revista de Estudos
Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD). São Leopoldo, RS, v.5, n.2, jul./dez, 2013.
Disponível em:< h�p://revistas.unisinos.br/index.php/RECHTD/article/view/rechtd.2013.52.06>. Acesso em: 18
jul. 2017.
7 COSTA, Bernardo Leandro Carvalho.; ROCHA, Leonel Severo. O Constitucionalismo Social como terceira fase
do Direito Constitucional. In: XI Congresso Internacional da ABraSD: trabalhos completos SOCIOLOGIA
JURÍDICA HOJE: cidades inteligentes, crise sanitária e desigualdade social, 2020, Porto Alegre. Anais do XI
Congresso Internacional da ABraSD: trabalhos completos SOCIOLOGIA JURÍDICA HOJE: cidades
inteligentes, crise sanitária e desigualdade social. Porto Alegre: Associação Brasileira de Pesquisadores em
Sociologia do Direito, 2020. v. 1. p. 894-903.
8 BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. Tradução de Daniela Beccaria
Versiani. São Paulo: Manole, 2007.
9 Nesse sentido: TORNHILL, Chris. A Sociology of Constitutions. Constitutions and State Legitimacy in
Historical-Sociological Perspective. New York: Cambridge University Press, 2011. FEBBRAJO, Alberto.
Sociologia do constitucionalismo: Constituição e teoria dos sistemas. Tradução de Sandra Regina Martini.
Curitiba: Juruá, 2017.
10 CANOTILHO, J. J. Gomes. 'Brancosos' e interconstitucionalidade: itinerários dos discursos sobre a
historicidade constitucional. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2008.
SUMÁRIO
223
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
19 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003.
20 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito constitucional: Tomo IV: Direitos fundamentais. Coimbra Editora, 1999.
21 HÄBERLE, Peter. Pluralismo y constitución: estudios de teoría constitucional de la sociedad abierta. Madrid:
Tecnos, c2002.
22 ACKERMAN, Bruce A. Nós, o povo soberano: fundamentos do direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey,
2006.
23 SUNSTEIN, CASS. The partial constitution. Cambridge: Harvard University Press, 1994.
24 KELSEN, Hans. General Theory of Law and State. Cambridge: Harvard University Press, 1945.
25 ZOLO, Danilo. Globalização: um mapa dos problemas. São José, SC: Conceito Editorial, 2010.
26 THORNHILL, Chris. 2016, The Sociological Origins of Global Constitutional Law. in A Febbrajo & G Corsi
(eds), Sociology of Constitutions: A Paradoxical Perspective. Routledge, Abingdon, p. 99-124.
27 LUHMANN, Niklas. El derecho de La sociedad. Tradução de Javier Torres Nafarrate. Ciudad de México, 2002
p. 40.
28 COSTA, Bernardo Leandro Carvalho.; ROCHA, Leonel Severo. O Constitucionalismo Social como terceira fase
do Direito Constitucional. In: XI Congresso Internacional da ABraSD: trabalhos completos SOCIOLOGIA
JURÍDICA HOJE: cidades inteligentes, crise sanitária e desigualdade social, 2020, Porto Alegre. Anais do XI
Congresso Internacional da ABraSD: trabalhos completos SOCIOLOGIA JURÍDICA HOJE: cidades
inteligentes, crise sanitária e desigualdade social. Porto Alegre: Associação Brasileira de Pesquisadores em
Sociologia do Direito, 2020. v. 1. p. 894-903.
SUMÁRIO
225
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
29 LUHMANN, Niklas. El derecho de La sociedad. Tradução de Javier Torres Nafarrate. Ciudad de México, 2002
p. 40.
30 LUHMANN, Niklas. El derecho de La sociedad. Tradução de Javier Torres Nafarrate. Ciudad de México, 2002.
31 LUHMANN, Niklas. El derecho de La sociedad. Tradução de Javier Torres Nafarrate. Ciudad de México, 2002
p. 40.
32 MATURANA ROMESÍN, Humberto; VARELA GARCIA, Francisco J. De máquinas de seres vivos. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 91.
SUMÁRIO
227
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
33 LUHMANN, Niklas. O direito da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 102.
34 MATURANA ROMESÍN, Humbert; VARELA GARCIA, Francisco J. De máquinas de seres vivos. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1997. p. 91.
35 THORNHILL, Chris. A Sociology of Constitutions: Constitutions and State Legitimacy in Historical-
Sociological Perspective. New York: Cambridge University Press, 2011. p. 43.
SUMÁRIO
36 “Normative analysis concentrates on the generalized aspect of legitimacy. It sees legitimacy as the a�ribute of
a political system able to provide nationally generalized justifications for itself and to reflect such justifications,
usually by means of a constitution and constitutional rights, in all irs legislative acts. Historical-sociological
analysis focuses on the factual aspect of legitimacy. It argues either that a political system maintains legitimacy
through its objective monopoly of social power, or it sees legitimacy as a symbolic commodity, which a political
system generalizes, not because of its substantive content, but through reference to the belief pa�erns or the
social structure of a given society.” TORNHILL, Chris. Towards a historical sociology of constitutional
legitimacy. Theory and Society. [S.l.]. V. 37, n. 2, p. 164.
37 THORNHILL, Chris. A Sociology of Constitutions: Constitutions and State Legitimacy in Historical-
Sociological Perspective. New York: Cambridge University Press, 2011. p. 43.
38 FEBBRAJO, Alberto. Sociologia do constitucionalismo: Constituição e teoria dos sistemas. Tradução de Sandra
Regina Martini. Curitiba: Juruá, 2017
SUMÁRIO
229
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
231
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
Assim, uma vez que o Sistema da Política, cuja função é tomar decisões
coletivamente vinculantes utilizando-se de um meio de comunicação
simbolicamente generalizado (poder)⁶⁷, e o Direito, encarregado de estabilizar
expectativas em relação a decepções possíveis, estão limitados ao âmbito dos
Estados Nacionais, os demais sistemas citados por Teubner⁶⁸ (Religião, Ciência e
Economia) possuem maior capacidade de expansão. Esse é o ponto central da
problemática de Teubner⁶⁹.
64 LUHMANN, Niklas. O direito da sociedade. São Paulo: Martins Fontes: 2016. p. 545-588.
65 LUHMANN, Niklas. La sociedad de La sociedad. Traducción de Javier Torres Nafarrate. México: Herder, 2007.
66 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016.
67 LUHMANN, Niklas. Poder. Tradução de Martine Creuset de Rezende Martins. 2. ed. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1992.
68 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016.
69 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016.
70 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 25-26.
SUMÁRIO
233
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
71 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 27.
72 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 27.
73 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 74.
74 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 112.
75 LUHMANN, Niklas. La sociedad de La sociedad. Traducción de Javier Torres Nafarrate. México: Herder, 2007.
76 MATURANA ROMESÍN, Humberto; VARELA GARCIA, Francisco J. El arbol Del conocimiento: Las bases
biológicas del conocimiento humano. Madrid: Debate, 1996.
SUMÁRIO
77 LUHMANN, Niklas. La sociedad de La sociedad. Traducción de Javier Torres Nafarrate. México: Herder, 2007.
78 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016
79 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
SUMÁRIO
235
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
237
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
90 ROCHA, Leonel Severo; COSTA, Bernardo Leandro Carvalho. A transnacionalidade do Direito Constitucional
no tratamento da Covid-19: as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a formação de uma
terceira fase do Direito Constitucional. In: Wilson Engelmann. (Org.). Sistema do Direito, Novas Tecnologias,
globalização e o constitucionalismo contemporâneo: desafios e perspectivas. 1ed. São Leopoldo: Casa Leiria,
2020, v. 1, p. 117-140.
91 COSTA, Bernardo Leandro Carvalho.; ROCHA, Leonel Severo. A crônica de uma morte anunciada em Gunther
Teubner e o papel dos atratores na articulação do direito regulatório na globalização. In: Vicente de Paulo
Barre�o; Sara Alacoque Guerra Zaghlout; Paulo Thiago Fernandes Dias. (Org.). Sentir o Direito: pesquisa e
cultura jurídicas na interação com cinema e literatura. 1ed. Porto Alegre: Fi, 2020, v. 1, p. 21-36.
SUMÁRIO
92 FINANCIAL ACTION TASK FORCE (FATF). Who We Are. Disponível em: h�p://www.fatf-gafi.org/about/ >.
Acesso em: 03. jun. 2021
93 BRASIL. Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Altera a Lei no 9.613, de 03 de março de 1998, para tornar mais
eficiente a persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro. Disponível em: < h�p://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683.htm#art2>. Acesso em: 03. jun. 2021
94 FINANCIAL ACTION TASK FORCE (FATF). 40 Recommendations. Disponível em: < h�p://www.fatf-gafi.org/
media/fatf/documents/recommendations/pdfs/FATF_Recommendations.pdf>. Acesso em: 03. jun. 2021.
95 ROCHA, Leonel Severo; COSTA, Bernardo Leandro Carvalho. Direito Constitucional Transnacional:
Observações sobre os atratores sistêmicos entre Direito, Economia e Política na articulação transnacional para
a apuração da Lavagem de Dinheiro. Revista de Direito Mackenzie, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 1-22, 2020.
96 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 107-109.
97 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 107.
98 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 107.
99 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 107.
SUMÁRIO
239
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
100 LUHMANN, Niklas. La sociedad de La sociedad. Traducción de Javier Torres Nafarrate. México: Herder, 2007.
101 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 108.
102 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 267.
103 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 163.
104 LUHMANN, Niklas. O direito da sociedade. São Paulo: Martins Fontes: 2016. p. 545-588.
105 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 28.
106 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 161.
SUMÁRIO
107 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 163.
108 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 163.
109 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 163.
110 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 163.
111 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016
112 LUHMANN, Niklas. La sociedad de La sociedad. Traducción de Javier Torres Nafarrate. México: Herder, 2007.
SUMÁRIO
241
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
113 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 197.
114 LUHMANN, Niklas. La sociedad de La sociedad. Traducción de Javier Torres Nafarrate. México: Herder, 2007.
115 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 193.
116 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 193.
117 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 195.
SUMÁRIO
Considerações finais
118 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 198.
119 LUHMANN, Niklas. O direito da sociedade. São Paulo: Martins Fontes: 2016. p. 545-588.
120 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 195.
121 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 198.
122 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016.
SUMÁRIO
243
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
que o Sistema do Direito passou a agregar comunicação que antes não era
jurídica, precisa-se, de plano, descrever o que é Direito e o que não é. É necessário,
portanto, diferenciar. Trata-se, desde já, de uma observação sistêmica.
123 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016.
SUMÁRIO
124 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 161.
125 TEUBNER, Gunther. Fragmentos constitucionais: constitucionalismo social na globalização. São Paulo: Saraiva,
2016. p. 195.
SUMÁRIO
245
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
Referências
BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: por uma teoria geral da política.
Tradução Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra: 1987.
COSTA, Bernardo Leandro Carvalho.; ROCHA, Leonel Severo. A crônica de uma morte
anunciada em Gunther Teubner e o papel dos atratores na articulação do direito
regulatório na globalização. In: Vicente de Paulo Barre�o; Sara Alacoque Guerra
Zaghlout; Paulo Thiago Fernandes Dias. (Org.). Sentir o Direito: pesquisa e cultura
jurídicas na interação com cinema e literatura. 1ed.Porto Alegre: Fi, 2020, v. 1, p. 21-36.
FINANCIAL ACTION TASK FORCE (FATF). Who We Are. Disponível em: h�p://
www.fatf-gafi.org/about/ >. Acesso em: 03. jun. 2021.
SUMÁRIO
KELSEN, Hans. General Theory of Law and State. Cambridge: Harvard University
Press, 1945.
LUHMANN, Niklas. Sistemas sociales: lineamientos para una teoría general. Barcelona:
Anthropos, 1998.
MALBERG, R. Carré De. Contribution a la théorie générale de l'État. 1. ed. Paris: Recueil
Sirey, 1920. 2 v.
_____.; VARELA, Francisco J. El arbol del conocimiento: las bases biologicas del
conocimiento humano. Madrid: Debate, 1996.
247
Leonel Severo Rocha
CAPÍTULO 12
_____. Entre Hidra e Hércules: princípios e regras constitucionais. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2014.
_____. Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil: o estado democrático de direito a partir
e além de Luhmann e Habermas. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
ROCHA, Leonel Severo; MOURA, Ariel Augusto Lira de. Epistemologia das redes e a
governança digital da Icann: teoria e práxis do direito na cultura das redes. In. ROCHA,
Leonel Severo; COSTA, Bernardo Leandro Carvalho. Atualidade da Constituição: o
constitucionalismo em Luhmann, Febbrajo, Teubner e Vesting. Porto Alegre: FI, 2020. p.
504-539.
SUNSTEIN, CASS. The partial constitution. Cambridge: Harvard University Press, 1994.
ZOLO, Danilo. Globalização: um mapa dos problemas. São José, SC: Conceito Editorial,
2010.
SUMÁRIO
Capítulo 13
AS DIRETRIZES DAS
NAÇÕES UNIDAS DE
PROTEÇÃO AO
CONSUMIDOR E A SUA
IMPLEMENTAÇÃO NO
MERCOSUL
o direito à informação como ferramenta
para o fomento do consumo
sustentável nos Estados Partes
Introdução
1 Os resultados apresentados neste artigo estão vinculados aos seguintes Projetos de Pesquisa coordenados pela
Prof.ª Dr.ª Luciane Klein Vieira: “Coexistência, cooperação e solidariedade: o diálogo entre o Tribunal
Permanente de Revisão e os tribunais constitucionais nacionais para a uniformização da interpretação e
aplicação do Direito Ambiental e do Direito do Consumidor, no MERCOSUL” (UNISINOS) e “A
implementação das Diretrizes das Nações Unidas de Proteção ao Consumidor, de 2015, em matéria de
consumo sustentável, no Direito brasileiro” (FAPERGS – Edital ARD nº 4/2019).
2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS.
Doutora em Direito (área: internacional) e Mestre em Direito Internacional Privado, Universidad de Buenos
Aires - UBA. Mestre em Direito da Integração Econômica, Universidad del Salvador – USAL e Universitè Paris
I – Panthéon Sorbonne. Diretora para o MERCOSUL do BRASILCON (Instituto Brasileiro de Política e Direito
do Consumidor) – Gestão 2020-2022. Ex-Consultora internacional contratada pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento – PNUD e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura – UNESCO. E-mail: lucianevieira@unisinos.br
3 O termo “sustentabilidade” foi cunhado durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano (United Nations Conference on the Human Environment - UNCHE), realizada em Estocolmo, na
Suécia, em 1972.
SUMÁRIO
251
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
4 Para mais detalhes sobre o histórico da construção dos ODS’s, bem como sobre as metas contidas na agenda
global e nacional, ver: BARBIERI, 2020, p. 128-195.
5 Conforme a doutrina, “a lógica do consumo é distinta da lógica ecológica. A lógica do consumo: i. é movida
pelo interesse do mercado; ii. é imediatista e decorrente da ‘cultura agorista’; iii. é baseada na relação homem-
objeto e natureza-objeto; iv. é de natureza social e cultural, isto é, consumo é a ‘vida cotidiana’; v. é materialista;
vi. é baseada em necessidades ilimitadas; vii. é estabelecida na conexão entre bem-estar dos consumidores e
seus bens de consumo; viii. é relacionada à abundância e satisfação imediata; ix. é estimulada a
descartabilidade de bens de consumo; x. é reconhecida a prescritibilidade dos danos aos consumidores. Já a
lógica ecológica: i. é baseada em valores distintos do mercado; ii. é relacionada aos interesses e situações
futuras; iii. é amparada na completude e no vínculo homem-natureza, sem a redução de um ao outro; iv. é
baseada em bens incorpóreos e imateriais; v. é não materialista; vi. é amparada na limitabilidade dos recursos
naturais; vii. é avaliada a partir da conexão entre bem-estar dos indivíduos e bens ambientais; viii. é
relacionada na necessidade de preservação do direito ao acesso dos bens ambientais pelas futuras gerações; ix.
é baseada na não descartabilidade de bens ambientais; x. é defendida a imprescritibilidade de ações civis
relacionadas aos danos ambientais. Todavia, embora haja diversidades entre interesses do consumo em relação
aos ecológicos, é possível reconhecer entre eles pontos de intersecção, os quais podem contribuir para o
intérprete esverdear o direito do consumidor e juridicizar a construção do consumo sustentável, quais sejam:
i. representam novos direitos o direito do consumidor e o direito ambiental; ii. envolvem riscos não só
presentes, mas, também, futuros, ainda que incertos; iii. integram os direitos humanos; iv. demandam proteção
do Estado, quanto ao direito ao consumo e o direito ao meio ambiente, seja sob a perspectiva da dimensão
subjetiva individual, seja sob a perspectiva da dimensão coletiva e indeterminada; v. incorporam novos
desafios ao intérprete para a construção de deveres de natureza ambiental aos fornecedores.” (FRANZOLIN,
2018, p .140-142).
SUMÁRIO
253
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
7 Via de regra, a doutrina classifica a vulnerabilidade do consumidor em quatro modalidades distintas, a saber:
a) a vulnerabilidade técnica, representada pela falta de conhecimento específico sobre o produto ou serviço, o
que expõe o consumidor a riscos e enganos; b) a vulnerabilidade jurídica, que se refere à carência de
conhecimentos legais frente às técnicas de contratação em massa; c) a vulnerabilidade fática ou socioeconômica,
caracterizada pela posição de superioridade do fornecedor, com relação ao consumidor; e d) a vulnerabilidade
informativa, representada pela falta ou déficit de informação ou de dados a respeito do que se adquire frente a
um fornecedor especializado (MARQUES, 2014, p. 320-357).
SUMÁRIO
8 Tradução nossa.
SUMÁRIO
255
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
9 Este conceito foi estabelecido por primeira vez pelo Relatório Brundtland, em 1987, conforme o qual trata-se de
um “desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das
futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades, não esgotando os recursos para o futuro”
(COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 46).
10 Tradução nossa.
11 Tradução nossa.
SUMÁRIO
12 A Venezuela, que ingressou ao MERCOSUL em 2012, encontra-se atualmente suspensa, desde 2017, por
aplicação do Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático.
SUMÁRIO
257
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
13 Pese ao exposto, é importante referir que, em 1994, em Buenos Aires, foram aprovadas as Diretrizes Básicas em
Matéria de Política Ambiental, pela Resolução nº 10/94, conforme as quais, além de se assegurar a
harmonização de legislações em matéria ambiental nos Estados Partes, o bloco deveria priorizar práticas não
degradantes do meio ambiente, bem como que contemplem o aproveitamento dos recursos naturais renováveis
de forma sustentável (MERCOSUL, 1994). A Resolução em referência não foi internalizada por nenhum dos
Estados Partes (MERCOSUL, 1994).
14 Tratado vigente nos quatro Estados Partes do MERCOSUL (MERCOSUL, 2001).
SUMÁRIO
15 Internalizada somente pela Argentina (Decreto nº 1289, de 09/09/2010) e pelo Uruguai (Decreto nº 40, de
27/01/2015) (MERCOSUL, 2007).
16 Sobre o tema: “a tutela da informação ambiental como um bem jurídico tem respaldo no poder de persuasão
que essa informação exerce sobre os indivíduos, influenciando a capacidade de discernimento e o
comportamento humano. A imposição de limites que protejam o direito de informação e, consequentemente, o
seu receptor, tem por escopo garantir a capacidade de reflexão do ser humano para que esteja apto a decidir
após a compreensão da realidade, de forma objetiva, afastando vícios e deturpações sobre essa reflexão, para
impedir que os dados fáticos reais se transformem em ilusão. Aponta-se para o fato de, no âmbito da rotulagem
ecológica, a mesma lógica dever ser aplicada, já que apenas o fornecedor tem pleno poder sobre os dados
referentes ao desempenho ambiental do seu produto” (LEITÃO, 2012, p. 51).
SUMÁRIO
259
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
17 Esta norma foi internalizada somente pelo Brasil, mas não chegou a entrar em vigência (MERCOSUL, 2011).
18 Cabe referir que já no final da década de 90, quando se tentou aprovar o Protocolo de Defesa do Consumidor
do MERCOSUL, se havia projetado que a informação suficiente, clara, oportuna, adequada e veraz, no idioma
do país de consumo, constituía-se ao mesmo tempo em direito do consumidor e obrigação do fornecedor
(SAHIÁN, 2018, p. 326).
19 Esta norma foi internalizada pela Argentina (Resolução da Secretaría de Comercio Interior del Ministerio de
Desarrollo Productivo nº 310, de 10/09/2020) e pelo Paraguai (Decreto nº 3.370, de 18/02/2020) (MERCOSUL,
2019a).
SUMÁRIO
261
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
21 Esta norma foi internalizada pela Argentina (Resolução da Secretaría de Comercio Interior del Ministerio de
Desarrollo Productivo nº 270, de 04/09/2020), pelo Brasil (Decreto nº 10.271, de 06/03/2020) e pelo Paraguai
(Decreto nº 4053, de 15/09/2020) (MERCOSUL, 2019b).
22 Sobre a temática do comércio regional sustentável aplicada especificamente ao setor de alimentos, no
MERCOSUL, é importante referir que tem crescido, no bloco, a preocupação com a produção de produtos
orgânicos, produzidos sem o uso de pesticidas ou medicamentos, em atenção à responsabilidade social
empresarial, ao comércio justo, à certificação ambiental e de qualidade. Nesse sentido, as orientações que são
seguidas, no MERCOSUL, para a produção de alimentos orgânicos tanto de origem animal, quanto vegetal,
podem ser consultadas em: NEGRO, 2020, p. 102-104.
SUMÁRIO
263
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
265
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
Considerações finais
Referências
267
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade. O que é – O que não é. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2016.
CIPRIANO, Ana Cândida Muniz. Consumer Law and Sustainability: the work of the
United Nations. In: AMARAL JÚNIOR, Alberto do; ALMEIDA, Lucila de; VIEIRA,
Luciane Klein (Eds.) Sustainable Consumption: the right to a healthy environment.
Cham (Swi�erland): Springer, 2020. p. 153-165.
DEVIA, Leila. La política ambiental en el marco del Tratado de Asunción. In: DEVIA,
Leila (Coord.) MERCOSUR y Medio Ambiente. Buenos Aires: Ciudad Argentina, 1998.
p. 27-34.
269
Luciane Klein Vieira
CAPÍTULO 13
MERCADO COMÚN DEL SUR. CCM/CT Nº 7. Acta nº 3/2021b. Disponível em: h�ps://
documentos.mercosur.int/simfiles/docreuniones/84083_CT7_2021_ACTA03_ES.pdf.
Acesso em: 10 jun. 2021.
MERCADO COMÚN DEL SUR. GMC/SGT Nº 6. Acta nº 1/2019e. Disponível em: h�ps://
documentos.mercosur.int/public/reuniones/doc/7048. Acesso em: 14 jun. 2021.
MERCADO COMÚN DEL SUR. GMC/SGT Nº 6. Acta nº 1/2020a. Disponível em: h�ps://
documentos.mercosur.int/simfiles/docreuniones/77941_SGT6_2020_ACTA01-
Ext_ES_Vc.pdf. Acesso em: 14 jun. 2021. 2020a
SUMÁRIO
MERCADO COMÚN DEL SUR. GMC/SGT Nº 6. Acta nº 1/2021d. Disponível em: h�ps://
documentos.mercosur.int/public/reuniones/doc/8401. Acesso em: 14 jun. 2021.
MERCADO COMÚN DEL SUR. GMC/SGT Nº 6. Acta nº 2/2020b. Disponível em: h�ps://
documentos.mercosur.int/public/reuniones/doc/8065. Acesso em: 14 jun. 2021.
Capítulo 14
A TRIBUTAÇÃO E A
DESIGUALDADE DE
RENDA E RIQUEZA
Marciano Buffon
SUMÁRIO
Marciano Buffon¹
Introdução
Esta advertência inicial faz-se necessária, pois o que será aqui exposto
possui um inequívoco e transparente ponto de partida: a desigualdade de renda
e riqueza é algo social e economicamente indesejável. Há de se olvidar esforços,
os mais significativos possíveis, para que ela arrefeça, sobretudo naqueles espaços
geográficos, nos quais a desigualdade encontrou um formidável e seguro leito de
acomodação: América Latina em especial.
Uma vez que se advoga que a desigualdade precisa ser oposta, seria
possível imaginar que isso pudesse acontecer de uma forma alheia à ação do
Estado? A resposta que Pike�y (uma das bases teóricas que mais fortemente
alicerçam este trabalho) vai dar é “sim”, embora isso dependa da concomitante
presença de fatores de difícil combinação.
1 Pós-Doutor em Direito pela Universidad de Sevilla. Doutor em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos – UNISINOS. Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado/Doutorado) e da
graduação na UNISINOS. Advogado na área tributária.
SUMÁRIO
273
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
275
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
das ações estatais acabam por resultar maior desigualdade, eis que privilegiam
atores politicamente mais bem situados.
É por isso que Atkinson afirma que “crucialmente, não aceito que o
aumento da desigualdade seja inevitável – ela não é um mero produto de forças
alheias ao nosso controle”. Segundo ele, “há medidas que podem ser tomadas
pelos governos, atuando individual ou coletivamente, por empresas, por
sindicatos e por organizações do consumidor” e, além disso, “também por nós,
como indivíduos, para reduzir os atuais níveis de desigualdade” (Atkinson, 2015.
p. 360).
277
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
passar por um crivo amplo e coletivo. Em que pese haja espaço de decisão local,
as escolhas serão mais eficientes se estiverem conectadas com outras em nível
internacional.
Parece ser inequívoco que “aumentar a renda dos mais pobres tem
efeitos positivos imediatos sobre todos os tipos de pobreza, ao mesmo tempo que
reduzem a desigualdade” (Carabaña, 2016. p. 106). Aliás, isso foi
inequivocamente demonstrado no Brasil, mediante a adoção, no início dos anos
2000, de um amplo programa de renda mínima (bolsa-família) e com aumentos
reais sobre o salário mínimo. Indiscutivelmente, tais medidas tiveram impacto
decisivo na melhora do índice de Gini ocorrida até 2014. Em vários outros países
da América Latina isso pode também ser constatado.
2 Síntese de indicadores sociais 2018: uma análise das condições de vida da população brasileira. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: <h�ps://agenciadenoti cias.ibge.gov.br/media/
com_mediaibge/arquivos/ce915924b20133cf3f9ec2d45c2542b0.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2019.
SUMÁRIO
279
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
281
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
6 O estudo de Pike�y, não está voltado ao enfrentamento específico da desigualdade de renda, mas sim da
desigualdade de riqueza. De qualquer forma, optou-se por trazer aqui sua proposta, pois ao visar à redução da
desigualdade de riqueza, indiretamente e a médio prazo há um inequívoco efeito na desigualdade de renda,
além de o próprio autor propugnar que este imposto não prescinde dos clássicos impostos progressivos sobre
a renda.
7 Como afirma textualmente Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se
afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” In: GALEANO,
Eduardo. Las palabras andantes. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 1993.
SUMÁRIO
283
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
Para que este contexto seja factível, seria necessário que tais patrimônios
fossem declarados pelo contribuinte, como ocorre, em muitos países, com a
tributação sobre a renda. O cidadão indica seus ativos e passivos, mediante uma
declaração pré-preenchida, enviada pela administração fiscal. Os valores de seus
8 Trata-se de um acordo celebrado entre o Brasil e os Estados Unidos, em 23 de setembro de 2014, através do qual
os dois países se comprometeram a criar juntos uma infraestrutura eficaz para o envio automático de
informações sobre contas mantidas em instituições financeiras localizadas nos seus territórios. O acordo foi
aprovado pelo Congresso Nacional em 25 de junho de 2015, por meio do Decreto Legislativo nº 146, de 25 de
junho de 2015, e promulgado pela presidência da República por meio do Decreto nº 8.506, de 24 de agosto de
2015, tendo entrando em vigor em 25 de agosto de 2015.
SUMÁRIO
285
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
Considerações finais
Como se pode perceber, este trabalho não se ocupou com o assunto mais
indiscutivelmente relevante na atualidade: a Pandemia. Pode-se pedir, inclusive,
as devidas escusas aos leitores que chegaram até aqui por não abordar tal tema,
até porque é razoável dizer que pós-pandemia quase será necessário reescrever os
estudos anteriores a ela, dado sua incontestável e trágica grandiosidade.
Referências
ATKINSON, Antony B. Desigualdade: o que pode ser feito? São Paulo: LeYa, 2015.
287
Marciano Buffon
CAPÍTULO 14
GALEANO, Eduardo. Las palabras andantes. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 1993.
Síntese de indicadores sociais 2018: uma análise das condições de vida da população
brasileira. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: <h�ps://
agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/ce915924b20133cf3f9ec2
d45c2542b0.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2019.
PIKETTY, Thomas. La crisis del capital em el siglo XXI: crónicas de los años em que el
capitalismo se volvió loco. Barcelona: Ed. Anagrama, 2015.
Capítulo 15
O STANDARD DE PROVA
“PARA ALÉM DE TODA A
DÚVIDA RAZOÁVEL”
NO PROCESSO
PENAL – BARD –
Miguel Tedesco Wedy
SUMÁRIO
Introdução
1 Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, Professor e Decano da Escola de Direito da Unisinos e
Advogado Criminalista.
SUMÁRIO
291
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
2 Segundo a alusão de Rabelais, o juiz Bidoyer julgava de acordo com o resultado dos dados, por mais de
quarenta anos, sem jamais ter qualquer julgamento considerado equivocado. Então, chega o momento dele
próprio ser a parte a ser julgada. Em face disso, o velho magistrado confessa que sempre decidia os processos
lançando dados, sem nunca cometer erros, a não ser naquela última sentença que, por isso mesmo, foi objeto
de apelação. Mesmo assim, o magistrado mantinha inabalável a convicção no seu método aleatório. Atribuiu,
portanto, o erro do julgamento não aos dados ou à sorte, mas ao fato de que já não enxergava bem, e podia ter
se equivocado ao tentar distinguir os números dos dados, tendo tomado um quatro por um cinco e, por isso,
ter sentenciado errado (BADARÓ, Gustavo Henrique. Editorial Dossiê: Prova penal: fundamentos
epistemológicos e jurídicos. Revista Brasileira de Direito Processual Penal. v. 4. n. 1. 2018. p. 44. Disponível em
h�p://www.ibraspp.com.br/revista/index.php/RBDPP/article/view/138. Acessado em 30/08/2020).
3 Alguns diriam que a motivação é o que confere racionalidade à decisão jurídica; porém, apenas isso não é
suficiente. Como ensina Marcela Nardelli, ao citar Piero Calamandrei, a motivação pode se traduzir como uma
“hipocrisia formal”, uma vez que apenas confere um disfarce aos verdadeiros fundamentos subjetivos do ato
decisório (NARDELLI, Marcela. Presunção de Inocência, Standards de Prova e Racionalidade das Decisões
sobre os Fatos no Processo Penal. p. 3).
4 Frisa-se, de imediato, que para além do standard da “prova além da dúvida razoável” (beyond a reasonable
doubt), ainda há os standards da “prova clara e convincente” (clear and convincing evidence), da “prova mais
provável que sua negação” (more probable than not) e da “preponderância da prova” (preponderance of the
evidence) (LOPES JR., Aury; MORAIS DA ROSA, Alexandre. Sobre o uso do standard probatório no processo
penal. Revista Consultor Jurídico. Publicado em 26/07/2019. Disponível em h�ps://www.conjur.com.br/2019-
jul-26/limite-penal-uso-standard-probatorio-processo-penal. Acessado em 30/08/2020).
SUMÁRIO
1. Prova e verdade
293
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
5 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 2º ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006. p. 125-126.
6 LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 14º ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 375. Aury Lopes Jr. disserta sobre
as contribuições de Francesco Carnelu�i com base em uma revista italiana que esmiúça o conceito de certeza
jurídica (CARNELUTTI, Francesco. Verità, Dubbio e Certezza. Rivista di Dirito Processuale, v. XX II serie, 1965.
P. 4-9).
7 LOPES JR., Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. 5º ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
p. 80-82.
8 CARNELUTTI, Francesco. Verità, Dubbio e Certezza. Rivista di Dirito Processuale, v. XX II serie, 1965. p. 4-9.
E também em LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 14º ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 375.
SUMÁRIO
Sob esse aspecto, aliás, pode-se dizer que a natureza racionalista dialoga
perfeitamente com aquilo que se intitulou anteriormente de “verdade
processualmente válida”. Afinal, não se nega o caráter epistêmico e,
simultaneamente, impõe-se limites à busca da verdade. Além disso, importante
frisar que, em uma perspectiva racionalista, uma reconstrução processualmente
válida do fato histórico está umbilicalmente interligada às provas admitidas e
produzidas em juízo. Uma vez que o juiz no exercício da cognição terá acesso aos
elementos de prova e, então, convencer-se-á de qual hipótese fática é verdadeira.
Dessa maneira, tem-se que a prova é a mola propulsora da epistemologia no
9 STRECK, Lenio Luiz; OLIVEIRA, Rafael Tomaz. O que é isto: as garantias processuais penais. 2º ed. rev., atual.
e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019. p. 22-23.
SUMÁRIO
295
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
10 GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Autoritarismo e processo penal: uma genealogia das ideias autoritárias no
processo penal brasileiro. 1º ed. Florianópolis: Tirant Lo Blanch, 2018. p. 130-136.
SUMÁRIO
11 Ibidem. p. 97-98.
12 BADARÓ, Gustavo Henrique. Editorial Dossiê: Prova penal: fundamentos epistemológicos e jurídicos. Revista
Brasileira de Direito Processual Penal. v. 4. n. 1. 2018. p. 59. Disponível em h�p://www.ibraspp.com.br/revista/
index.php/RBDPP/article/view/138. Acessado em 30/08/2020).
SUMÁRIO
297
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
13 Importante referir que a livre apreciação da prova (art. 155, caput, do CPP) é um desdobramento específico na
fase de apreciação do princípio do livre convencimento.
14 Embora Figueiredo Dias vislumbrasse a “verdade material” – aquela que fora superada por esse mesmo artigo
anteriormente – como o principal mecanismo de controle do livre convencimento, percebe-se que já se tinha
acordo de que o livre convencimento não é um campo aberto para o juiz se convencer a bel prazer
(FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Direito processual penal. Reimpressão da 1º ed. de 1974. Coimbra/Portugal:
Coimbra Editora, 2004. p. 202).
SUMÁRIO
15 PRADO, Geraldo. Prova penal e sistema de controles epistêmicos: a quebra da cadeia de custódia da prova
obtida por métodos ocultos. São Paulo: Marcial Pons, 2014. p. 40. Apud. VIEIRA, Antônio; MATIDA, Janaína.
Para além do BARD: uma crítica à crescente adoção do standard de prova “para além de toda dúvida razoável”
no processo penal brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Criminais. Vol. 156. Ano 27. p. 224-226. Disponível
em: h�ps://www.academia.edu/40069531/Para_al%C3%A9m_do_BARD_uma_cr%C3%ADtica_%C3%A0_cres
cente_ado%C3%A7%C3%A3o_do_standard_de_prova_para_al%C3%A9m_de_toda_a_d%C3%BAvida_razo%
C3%A1vel_no_processo_penal_brasileiro. Acessado em: 04/10/2020.
16 VIEIRA, Antônio; MATIDA, Janaína. Para além do BARD: uma crítica à crescente adoção do standard de prova
“para além de toda dúvida razoável” no processo penal brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Criminais. Vol.
156. Ano 27. p. 224-226. Disponível em: h�ps://www.academia.edu/40069531/Para_al%C3%A9m_do_BAR
D_uma_cr%C3%ADtica_%C3%A0_crescente_ado%C3%A7%C3%A3o_do_standard_de_prova_para_al%C3%
A9m_de_toda_a_d%C3%BAvida_razo%C3%A1vel_no_processo_penal_brasileiro. Acessado em: 04/10/2020.
SUMÁRIO
299
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
17 MORAIS DA ROSA, Alexandre; LOPES JR.; Aury. Sobre o uso do standard probatório no processo penal.
Revista Consultor Jurídico. Coluna Limite Penal. Data de publicação: 19/07/2020. p. 1. Disponível em h�ps://
www.conjur.com.br/2019-jul-26/limite-penal-uso-standard-probatorio-processo-penal. Acessado em
30/08/2020.
18 MORAIS DA ROSA, Alexandre; MATIDA, Janaína. Para entender standards probatórios a partir do salto com
vara. Revista Consultor Jurídico. Coluna Limite Penal. Data de publicação: 20/03/2020. p. 2. Disponível em:
h�ps://www.conjur.com.br/2020-mar-20/limite-penal-entender-standards-probatorios-partir-salto-vara.
Acessado em: 04/10/2020.
19 VIEIRA, Antônio; MATIDA, Janaína. Para além do BARD: uma crítica à crescente adoção do standard de prova
“para além de toda dúvida razoável” no processo penal brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Criminais.
Vol. 156. Ano 27. p. 233-237. Disponível em: h�ps://www.academia.edu/40069531/Para_al%C3%A9m_d
o_BARD_uma_cr%C3%ADtica_%C3%A0_crescente_ado%C3%A7%C3%A3o_do_standard_de_prova_para_a
l%C3%A9m_de_toda_a_d%C3%BAvida_razo%C3%A1vel_no_processo_penal_brasileiro. Acessado em:
04/10/2020.
SUMÁRIO
301
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
23 LAUDAN, Larry. Por qué un estándar de prueba subjetivo y ambiguo no és un estándar. Universitat d’Alacant
– Universidade de Alicante. Revistes Científiques. n. 28 p. 98-99. Disponível em h�ps://doxa.ua.es/article/view/
2005-n28-por-que-un-estandar-de-prueba-subjetivo-y-ambiguo-no-es-un-estandar. Acessado em 04/10/2020.
24 Para utilizar o termo referido por Antônio Vieira e Janaína Matida.
SUMÁRIO
303
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
25 Jacinto Nelson de Miranda Coutinho aborda com precisão as diferenças entre o processo civil e o processo
penal. MIRANDA COUTINHO, Jacinto Nelson de. A lide e o conteúdo do processo penal. Curitiba: Juruá,
1998.
26 Deve-se adotar outros standards menos rigorosos no âmbito do processo penal. Por exemplo, para a recepção
da denúncia, para a decretação de medidas cautelares e para a decisão de pronúncia.
SUMÁRIO
27 Conforme os autores, os standards são estratégias normativas mais genéricas e que convidam o operador do
direito para a reflexão (VIEIRA, Antônio; MATIDA, Janaína. Para além do BARD: uma crítica à crescente
adoção do standard de prova “para além de toda dúvida razoável” no processo penal brasileiro. Revista
Brasileira de Ciências Criminais. Vol. 156. Ano 27. p. 225-226. Disponível em: h�ps://www.academia.edu/
40069531/Para_al%C3%A9m_do_BARD_uma_cr%C3%ADtica_%C3%A0_crescente_ado%C3%A7%C3
%A3o_do_standard_de_prova_para_al%C3%A9m_de_toda_a_d%C3%BAvida_razo%C3%A1vel_no_process
o_penal_brasileiro. Acessado em: 04/10/2020. Ora, aquilo que é genérico e que convida o operador para a
reflexão também pode ser considerado como vago e indeterminado.
28 Segundo o autor, “si la crítica que ofreceré puede ser aplicada en otras partes es algo que no estoy, por ahora,
dispuesto a afirmar”. (LAUDAN, Larry. Por qué un estándar de prueba subjetivo y ambiguo no és un estándar.
Universitat d’Alacant – Universidade de Alicante. Revistes Científiques. n. 28 p. 98 Disponível em h�ps://
doxa.ua.es/article/view/2005-n28-por-que-un-estandar-de-prueba-subjetivo-y-ambiguo-no-es-un-estandar.
Acessado em 04/10/2020.
SUMÁRIO
305
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
razoável, mas também a construção de um método pelo qual o juiz estará apto
para concluir acerca da existência ou não de dúvida razoável. O conceito
elaborado por Vinicius Gomes de Vasconcellos parece relevante, embora, por
óbvio, deva ser tensionado:
29 VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Standard probatório para condenação e dúvida razoável no processo
penal: análise das possíveis contribuições ao ordenamento brasileiro. Revista Direito GV. V. 16 N. 2, 2020. p. 18.
Disponível em: h�ps://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-24322020000200203&script=sci_abstract&tlng=pt.
Acessado em: 04/10/2020.
30 O art. 3-C, § 3º do CPP inovou e previu que os autos da investigação preliminar, salvo exceções expressas nesse
artigo, não serão apensados ao processo.
SUMÁRIO
se está a dizer que a defesa deve provar suas alegações³¹, mas a partir dessas
alegações defensivas o juiz conseguirá confrontá-las com o que fora alegado fática
e juridicamente pela acusação. Concluída a fase de apreciação da prova – frise-se
que o objetivo não é exaurir a discussão sobre a fase de apreciação, mas apenas
introduzi-la –, encontrar-se-á o juiz em uma posição de aptidão para julgar o feito.
Nesse momento, inicia a fase de decisão e, então, aplica-se o BARD como
parâmetro para que o juiz considere as alegações da acusação verdadeiras ao
ponto de proferir uma sentença condenatória.
Considerações finais
Por isso, a sugestão que fazemos, e que deverá ser aprofundada, de que
o BARD possa ser implementado em seus critérios quantitativos nos julgamentos
colegiados e no Tribunal do Júri. E, nos julgamentos por juízes singulares, que ele
seja definido, normativamente, para se diminuir o subjetivismo, tão próprio da
nossa realidade pretoriana.
307
Miguel Tedesco Wedy
CAPÍTULO 15
Referências
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 2. ed. rev. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Direito processual penal. Reimpressão da 1. ed. de 1974.
Coimbra/Portugal: Coimbra Editora, 2004.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
LOPES JR., Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. 5. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.
MORAIS DA ROSA, Alexandre; LOPES JR.; Aury. Sobre o uso do standard probatório
no processo penal. Revista Consultor Jurídico. Coluna Limite Penal. Data de publicação:
19/07/2020.
STRECK, Lenio Luiz; OLIVEIRA, Rafael Tomaz. O que é isto: as garantias processuais
penais. 2. ed. rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019.
TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos. Trad. Vitor
de Paula Ramos. São Paulo: Marcial Pons, 2012.
VIEIRA, Antônio; MATIDA, Janaína. Para além do BARD: uma crítica à crescente adoção
do standard de prova “para além de toda dúvida razoável” no processo penal brasileiro.
Revista Brasileira de Ciências Criminais. Vol. 156. Ano 27.
SUMÁRIO
Capítulo 16
A AGENDA 2030
DA ONU E O DIREITO:
as possibilidades transdisciplinares
para a avaliação da produção e
do consumo sustentáveis a partir da
ferramenta do Safe by Design
Introdução
1 Resultado parcial das investigações desenvolvidas pela autora no âmbito do Projeto Transdisciplinaridade e
Direito: construindo alternativas jurídicas para os desafios trazidos pelas novas tecnologias com apoio
financeiro concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS Edital
04/2019 Auxílio Recém Doutor.
2 Doutora e Mestra em Direito Público pelo Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado e Doutorado) da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS/RS/Brasil. E-mail: rhohendorff@unisinos.br
SUMÁRIO
naturais, exigirão a atuação dos diferentes sistemas, com a avaliação dos impactos
sociais, éticos e regulatórios emergentes, suportados por um modelo de inovação
que deverá ser responsável e sustentável, pois há incerteza quanto aos riscos
dessas novas tecnologias.
Referências
GUIA DOS ODS para as Empresas. Guia dos ODS para as empresas: diretrizes para
implementação dos ODS na estratégia dos negócios. 2015. Disponível em: h�ps://
cebds.org/wp-content/uploads/2015/11/Guia-dos-ODS.pdf. Acesso em: 20 maio 2021, p. 6.
HOHENDORFF, Raquel Von; ENGELMANN, Wilson. O consumo e produção
sustentáveis (ODS 12) no panorama jurídico da utilização da nanotecnologia no
agronegócio. In: LIMA, Rafaela de Deus (Org.). Direitos humanos e meio ambiente: os
17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030. 1. ed. São Paulo: IDHG,
2020, v. 1, p. 453-483.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradutor Daniel Moreira Miranda. São
Paulo: Edipro, 2016.
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l.], 2016. Disponível em: h�ps://sdgcompass.org/wp-content/uploads/2016/04/
SDG_Compass_Portuguese.pdf. Acesso em: 18 maio 2021.
SKENTELBERY, Claire. Summary: moving forward with safe by design. [S. l., 2017?].
Disponível em: h�p://nanotechia.org/sites/default/files/workshop_summary.pdf. Acesso
em: 18 maio 2021.
UNITED NATIONS. Sustainable development goals. [S. l.], 2017. Disponível em: h�p://
www.un.org/sustainable development/sustainabledevelopment-goals. Acesso em: 18
maio 2021.
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Capítulo 17
TRAMAS E
INTERCONEXÕES NO
SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL:
antidiscriminação, gênero e sexualidade
Introdução
2 Aprovada pelas Nações Unidas em 21.12.1965 e ratificada pelo Brasil em 27.03.1968. Reza seu artigo 1º, I:
“Qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional
ou étnica que tenha o propósito ou o efeito de anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou exercício em pé
de igualdade de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural
ou em qualquer outro campo da vida pública”.
3 Aprovada pelas Nações Unidas em 18.12.1979 e ratificada pelo Brasil em 21.03.1981. Diz seu art. 1º, ao definir
discriminação: “toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo que tenha por objeto ou resultado
prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo, exercício pela mulher, independente de seu estado civil, com
base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos campos
político, econômico, social e civil ou em qualquer outro campo”.
4 Internalizada pelo Brasil por intermédio do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009.
SUMÁRIO
5 Aprovada pela Organização dos Estados Americanos em 06.06.2013, ainda pendente de ratificação pelo Brasil.
SUMÁRIO
feminino”, o que se estende “às pessoas heteroafetivas” não terem o direito de “se
contrapor à equivalência jurídica perante sujeitos homoafetivos”.
2.4 Doação de sangue por homens que tiveram sexo com homens (HSH):
critérios proibidos de discriminação e modalidades de discriminação
direta e indireta
Considerações finais
Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. ‘Geopolítica da mestiçagem’. Novos Estudos, São Paulo:
CEBRAP, 1985.
ALLPORT, Gordon. The nature for Prejudice. Cambridge: Perseus Books, 1979.
ÁVILA, Ana Paula Oliveira; RIOS, Roger Raupp. Mutação constitucional e proibição de
discriminação por motivo de sexo. Revista Direito e Práxis, [S.l.], v. 7, n. 1, p. 21-47, mar.
2016. Disponível em: <h�ps://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/
view/17987>. Acesso em: 10 abr. 2020. DOI: <h�ps://doi.org/10.12957/dep.2016.17987>.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 82.424-2. Plenário. Relator para
Acórdão Min. Maurício Corrêa. Brasília, DF, 17 de setembro de 2003. Diário da Justiça,
2004. Inteiro teor de acórdão.
DEHESA, Rafael. Queering the Public Sphere in Mexico and Brazil: sexual rights
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GERSTMANN, Evan. The Constitutional Underclass. Gays, Lesbians, and the Failure of
Class-Based Equal Protection. Chicago: The University of Chicago Press, 1999.
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11:7-8, 819-823. Disponível em: <h�ps://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/1744169
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SCHWARTZ, Bernard. A history of the Supreme Court. New York: Oxford University
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Pesquisa Jurídico-Instrumental e Pesquisa Jurídico-Científica e o Papel das Fontes do
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YOUNG, Rebecca M.; MEYER, Ilan H. Meyer. The Trouble With “MSM” and “WSW”:
Erasure of the Sexual-Minority Person in Public Health Discourse. American Journal of
Public Health. 2005, v. 95, n. 7, p. 1144-1149.
SUMÁRIO
Capítulo 18
A LEI DE ACESSO
À INFORMAÇÃO
PÚBLICA (LAI) E A LEI
GERAL DE PROTEÇÃO
DE DADOS (LGPD):
a busca da interpretação adequada
constitucionalmente, em prol da
concretização dos direitos do cidadão
Têmis Limberger
SUMÁRIO
Têmis Limberger¹
Introdução
1 Doutora em Direito Público pela Universidade Pompeu Fabra - UPF de Barcelona. Pós-doutora em Direito pela
Universidade de Sevilha. Professora do Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
- UNISINOS. Advogada. Procuradora de Justiça do MP/RS (aposentada).
SUMÁRIO
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 353
escala exponencial. Como revelou a revista The Economist (2017): os dados são a
nova riqueza do século XXI, suplantando formas até então tradicionais como, por
exemplo, o petróleo. Assim, pode não haver uma prestação pecuniária típica, mas
os dados possuem valor e são o objeto de troca na sociedade de consumo e podem
trazer impactos nos regimes democráticos (REVISTA ISTO É, ZUCKERBERG,
2018).
afirmar que, antes do século XXI, não existiam redes, pois “onde quer que exista
vida, existem redes” (CASTELLS, 2015, p. 67).
Uma “sociedade em rede” é, por sua vez, “uma sociedade cuja estrutura
social é construída em torno de redes ativadas por tecnologias de comunicação e
de informação processadas digitalmente e baseadas na microeletrônica”
(CASTELLS, 2015, p. 70). Como a rede digital está mundialmente espalhada, é
possível que a sociedade interaja de forma global, ou seja, além das fronteiras
territoriais, podendo-se denominar de “sociedade em rede global” (CASTELLS,
2015, p. 70). A partir dessa visão horizontalizada de sociedade, podem-se extrair
adequadamente os escritos de Moreira Neto (2008, p. 53), quando colocou a
expressão “da pirâmide à rede”. Para o autor, a “rede informacional” impede que
os processos sociais fluam de forma hierarquizada, “transmitida sob a forma de
pirâmide” típica das sociedades estamentais, em que os detentores de poder
ocupavam as altas posições dentro deste cenário piramidal (MOREIRA NETO,
2008, p. 53). Na nova configuração social, não existiria mais um centro unitário de
poder (o Estado), mas um emaranhado de órgãos e entidades, governamentais ou
não, capazes de exercer poder e tomar decisões, em uma perspectiva pluralista,
em que existem múltiplos centros de comando”, passando da ideia de
“subordinação” para a “colaboração” (MOREIRA NETO, 2008, p. 53). Constata-
se, portanto, que o poder não é mais limitado ao Estado, mas, de certa forma,
compartilhado com ele. Com essas premissas estabelecidas, é possível
compreender o que seria uma Administração Pública em rede, como sendo uma
Administração dialógica, horizontal, que as constrói de forma democrática com a
atuação de outros atores.
SUMÁRIO
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 355
2. Das previsões normativas brasileiras com temática conexa
Devido ao comando do artigo 5º, XXXIII, da CF, que dispõe que todos
têm direito ao acesso à informação contida nos órgãos públicos, sendo o interesse
particular ou coletivo (BRASIL, 1988), foi promulgada a Lei de Acesso à
Informação Pública (Lei nº 12.527/2011). Esta lei prevê que os órgãos públicos
disponibilizem informação referente a despesas públicas realizadas com
vencimentos ou licitações, em que a regra é a publicidade e o sigilo, a exceção
(BRASIL, 2011). A lei inverteu a orientação que até então existia, quando os
princípios tinham aplicação contrária. Atualmente, aquele que requer a
informação tem de se identificar, pois receberá informação dos órgãos públicos e,
pela utilização desta, ficará responsável. Antecedente importante foi a Lei de
Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar nº 101/2000, com as alterações da Lei
Complementar nº 131/2009, que nos artigos 48/9 determinaram a publicação dos
gastos públicos pela rede mundial de computadores (BRASIL, 2000). Outra
vantagem da informação em rede é a possibilidade do compartilhamento de uma
maneira crítica e com baixo custo. Em razão do artigo 5º, XXXII, da CF, que dispôs
a respeito da proteção ao consumidor, foi o Código de Defesa do Consumidor
SUMÁRIO
(Lei nº 8.078/1990) legislação pioneira editada para proteção aos bancos de dados.
Em seus artigos 43-44, tutela os bancos de dados de consumidores, prevendo
situações de acesso, retificação e cancelamento das informações negativas,
operando-se o prazo prescricional, que não podem ficar por mais de cinco anos
registradas (BRASIL, 1990). Posteriormente, foi editada a lei dos cadastros
positivos, Lei nº 12.414/2011, com a promessa de diminuir as taxas de juros aos
tomadores de financiamento, dos denominados “bons pagadores”, que são os
consumidores que realizam o adimplemento de suas obrigações pontualmente
(BRASIL, 2011).
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 357
Deste modo, busca-se realizar uma interpretação da LGPD e da LAI.
Assim, uma das primeiras questões postas é no sentido de como conjugá-los, uma
vez que uma lei determina a proteção dos dados pessoais e outra a publicidade
das informações de caráter público. A primeira impressão pode ser no sentido de
contradição, mas esta é apenas aparente. O ordenamento jurídico deve ser
interpretado de forma sistemática.
colocação em desenvolvimento humano) e a 21ª e 25ª colocação com nota 7,1 e 6,7,
respectivamente. O Brasil, a 94ª colocação, com nota 3,8, sendo que o IDH
brasileiro apresentou o índice de 0,76.
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 359
importância na participação do cidadão no controle e na crítica dos assuntos
públicos. Não se protege somente a difusão, como sucedia no Estado Liberal, mas
se assegura a própria informação, porque o processo de comunicação é essencial
à democracia. O ordenamento jurídico no Estado Democrático assenta-se no
princípio geral da publicidade, devendo o sigilo ser excepcional e justificado.
Esse preceito é extraído com base no princípio da publicidade e do direito a ser
informado do cidadão.
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 361
vai culminar com a previsão de um direito autônomo na Carta Europeia e,
posteriormente, com o Regulamento Europeu 2016/679 que unifica ainda mais as
regras em matéria de proteção de dados. O Regulamento traz novidades (PIÑAR
MAÑAS, 2016, p. 19) ao tratar do consentimento, do direito ao esquecimento, do
direito à portabilidade, o princípio de accountability ou responsabilidade proativa,
imposição de pesadas multas etc.
O Supremo Tribunal Federal (ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390
e ADI 6393), em julgamento plenário, suspendeu a eficácia da Medida Provisória
nº 954/2020, que prevê o compartilhamento de dados dos usuários de
telecomunicações com o IBGE para a produção de estatística oficial durante a
pandemia da Covid-19. Assim, firmou o entendimento de que o
compartilhamento de dados previsto na Medida Provisória viola o direito
constitucional à intimidade, à vida privada e ao sigilo de dados. Reconhecida,
assim, a importância do direito à proteção dos dados pessoais. Neste cenário, é
fundamental esclarecer que a Administração Pública em rede é uma via de mão
dupla, pois ao mesmo tempo em que capta dados dos cidadãos, respeitando
direitos fundamentais, reverte-se em transparência. Portanto, a falta de
transparência, por si só, já se apresenta como uma barreira ao acesso aos dados dos
cidadãos, como aponta a decisão. A pouca, ou nenhuma, cooperação entre os
SUMÁRIO
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 363
se aumentar este cuidado, visto que podem causar uma situação de
discriminação, caso sejam de conhecimento ou manipulados por outrem, que não
o destinatário ao qual se consentiu a guarda do dado, com uma finalidade
específica, comprometendo o princípio constitucional da igualdade
(LIMBERGER, 2007, p. 60-62). Daí a importância da interoperabilidade e da
cooperação entre os entes, como forma de garantia de mínima intervenção aos
dados sensíveis.
Considerações finais
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 365
pública visa contribuir ao debate democrático e promover a formação da
cidadania, estimulando-a a participar nos assuntos da esfera pública e realizar o
controle social dos atos administrativos ou provocar as Instituições públicas que
podem fazê-lo, tais como Tribunal de Contas e Ministério Público. A
transparência contribui para a concretização dos direitos sociais.
Referências
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 7ª ed., São Paulo: Paz e Terra, 2000.
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 367
(Org). Direito Constitucional: estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São
Paulo: Malheiros, 2001.
COSTA JR., Paulo José da. O direito a estar só: tutela penal da intimidade. São
Paulo: RT, 1970.
GOES, Severino. STF abre debate sobre direito à informação e uso da LGPD na
divulgação processual. Conjur. h�ps://www.conjur.com.br/2021-mai-18/
decisao-abre-debate-direito-informacao-uso-lgpd acesso: 14 jun. 2021.
Têmis Limberger
CAPÍTULO 18 369
REVISTA ISTOÉ. Zuckerberg contra a parede. Tecnologia. 18/04/2018, p. 66.
Capítulo 19
AS NANOTECNOLOGIAS E
SUAS APLICAÇÕES NO
MEIO AMBIENTE:
entre os riscos e a autorregulação
Wilson Engelmann
SUMÁRIO
AS NANOTECNOLOGIAS E SUAS
APLICAÇÕES NO MEIO AMBIENTE:
entre os riscos e a autorregulação¹
Wilson Engelmann²
Introdução
1 Relatório final do projeto pesquisa aprovado no âmbito da Chamada CNPq n. 12/2017 - Bolsas de
Produtividade em Pesquisa - PQ, projeto intitulado: “As nanotecnologias e suas aplicações no meio ambiente:
entre os riscos e a autorregulação”. Os resultados aqui apresentados também estão vinculados às pesquisas
realizadas no contexto do Gracious Consortium, “Grouping, read-across, characterisation and classification
framework for regulatory risk assessment of manufactured nanomaterials and safer design of nano-enabled
products”, com recursos financeiros do Eurpean Union’s Horizon 2020 research and innovation programme
under Grant Agrement n. 760840, Disponível em: www.h2020gracious.eu; e à pesquisa realizada pelo autor no
CEDIS – Centro de I & D sobre Direito e Sociedade, da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa,
Portugal, e da investigação desenvolvida pelo autor junto ao Instituto Jurídico Portucalense, da Universidade
Portucalense, Porto, Portugal.
2 Pós-Doutor em Direito Público-Direitos Humanos, Universidade de Santiago de Compostela, Espanha; Doutor
e Mestre em Direito Público, Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
– UNISINOS, Brasil; Coordenador Executivo do Mestrado Profissional em Direito da Empresa e dos Negócios
da UNISINOS; Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Direito - Mestrado e Doutorado -
da UNISINOS; Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq; e-mail: wengelmann@unisinos.br; ORCID:
h�ps://orcid.org/0000-0002-0012-3559
SUMÁRIO
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 373
crescimento considerável de produtos disponíveis no mercado consumidor
global, que poderá ser acessado por diversos caminhos, especialmente por meio
da tecnologia digital, usando a ferramenta do e-commerce, onde os produtos
chegam de qualquer país por meios dos Correios, dificultando a fiscalização. Essa
cadeia de consumo impacta diretamente na questão relativa aos riscos, pois os
produtos são elaborados em determinado país, comprados, consumidos, com o
descarte das sobras dos produtos e da embalagem em um meio ambiente, sem
que se tenha o menor controle sobre essa parte do ciclo de vida do nanomaterial.
3 Também existem informações quantitativas sobre nanomateriais em outras bases de dados, como: KRUG et al,
2018.
SUMÁRIO
4 “Esses micropedaços de materiais como ouro, zinco e prata são utilizados em ações microscópicas.
Nanopartículas de prata, por exemplo, formam tecidos mais resistentes e à prova de micróbios – ajudando,
assim, a indústria têxtil a ganhar valor. O lado ruim disso tudo é que essa tecnologia raramente é limpa –
materiais químicos pesados são usados na quebra dessas partículas”. Para fazer frente a essa situação de risco
para o trabalhador e o meio ambiente, “[...] surgem propostas de geração de nanopartículas sustentáveis ao
utilizar um laser que dispensa o uso de solventes químicos. Essa é a proposta da Nanogreen, uma empresa de
Joinville, Santa Catarina, que está criando nanopartículas com menos material do que no sistema
convencional” (50 Startups que mudam o Brasil, 2021).
5 Exemplificativamente se citam: KÜHNEL et al, 2014; SIMEONE et al, 2019; PAVLICEK et al, 2021; ZEB et al,
2021; BERTI, PORTO, 2016; GRACIOUS Consortium, 2021; JIMÉNEZ et al, 2020; LARSSON, JANSSON,
BOHOLM, 2019; VAN WEZEL et al, 2018.
SUMÁRIO
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 375
humano também desafia a regulação. Se poderia dizer que, para cada partícula
em nano escala, se deveria ter uma regulação específica. Tais aspectos sublinham
as dificuldades de se normatizar essa tecnologia e destaca a dificuldade da criação
legislativa para essa regulação.
6 “Com 17.000 toneladas produzidas ou importadas a cada ano na França, o dióxido de titânio na forma de
nanopartículas ou TiO2-NP é um dos nanomateriais mais usados em vários setores industriais. É, portanto,
uma importante fonte de exposição potencial no local de trabalho. Dando continuidade ao trabalho realizado
para a população em geral, a ANSES passou a recomendar limites de exposição ocupacional (OELs) para
fortalecer a prevenção de riscos para os trabalhadores. TiO2-NP: usado desde a década de 1990 por suas
propriedades anti-UV e fotocatalíticas. O dióxido de titânio na forma de nanopartículas ou TiO2-NP tem sido
usado nos últimos trinta anos principalmente por sua absorção de radiação ultravioleta e propriedades
fotocatalíticas, que degradam certos poluentes por decomposição química e são usados, por exemplo, em vidros
‘autolimpantes’. Em pessoas expostas pela via respiratória, pode causar inflamação pulmonar, que em alguns
casos pode levar à carcinogênese. Diversas características físico-químicas do TiO2-NP - tamanho, formato,
revestimento superficial ou não, cristalinidade - podem influenciar sua toxicidade, tornando-o uma substância
altamente complexa. Um OEL baseado na prevenção da inflamação pulmonar. Na sequência da perícia
realizada para definir um valor de referência de toxicidade (TRV) para a população em geral, a ANSES passa a
recomendar um limite de exposição ocupacional (8h-OEL) de 0,80 micrograma por metro cúbico. A
conformidade com este valor deve ajudar a prevenir a inflamação pulmonar, um efeito que ocorre nas
concentrações de exposição mais baixas. Além disso, devido à falta de dados disponíveis sobre os efeitos
imediatos ou de curto prazo do TiO2-NP e de acordo com seu guia metodológico, a ANSES também recomenda
não exceder a concentração de 4 microgramas por metro cúbico em um período de 15 minutos. A conformidade
com este valor deve ajudar a limitar o tamanho e o número de picos de exposição durante o dia de trabalho.
Uma avaliação de especialistas sobre a avaliação de métodos de medição de TiO2-NP no ar está em andamento.
Isso determinará quais métodos usar para medir as concentrações de TiO2-NP no ar de acordo com os OELs
recomendados pela Agência. Além disso, os estudos solicitados pela ANSES ao avaliar o TiO2 nos termos do
Regulamento REACH devem permitir que esses valores sejam mais refinados”. Disponível em: h�ps://
www.anses.fr/en/content/recommended-occupational-exposure-limits-titanium-dioxide-nanoparticles. Acesso
em 08 mar. 2021.
SUMÁRIO
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 377
[...] la distinción entre riesgo y peligro se haga depender de
atribuciones no significa de ninguna manera que queda al ar-
bítrio del observador classificar algo como riesgo o como peli-
gro. Ya hemos mencionado algunos casos limite, sobre tod el
de que no hay al presente ningún critério reconcoble para una
decisión diferenciable o, por lo menos, no hay critérios que
tengan que ver con uma probabilidad diversa de ventajas y
posibles daños (2006, p. 71-72).
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 379
ser incorporada em novas estruturas normativas, geradas pela chamada
“autorregulação” ou “autorregulação regulada”. Esse movimento temporal da
regulação foi estudado pelo bolsista de produtividade em seu estágio pós-
doutoral realizado no primeiro semestre de 2018, no Centro de Estudos de
Seguridad, da Faculdade de Direito, da Universidade de Santiago de
Compostela, na Espanha (ENGELMANN, 2018).
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 381
transversal e complementar com os demais. Cada um desses princípios encontra
o seu similar no Ordenamento Jurídico Brasileiro (ENGELMANN,
HOHENDORFF, LEAL, 2021). Por isso, no caso das nanotecnologias, se tem uma
estrutura jurídico-normativo muito rica no Brasil e que deverá orientar todas as
etapas do ciclo do nanomaterial. Apenas não se desenvolveu o “Princípio da
Regulamentação Mandatória Nanoespecífica”, pois ele dependerá da iniciativa
do Poder Legislativo.
tem evidências que não será esse o caminho para a regulação dos avanços gerados
a partir da escala nano. Portanto, se confirma a hipótese do projeto ora relatado,
no sentido de se fazer a inovação chegar à produção do jurídico, abrindo-se
espaço para os modelos e estruturas autorregulatórias, como os propostos na
pesquisa.
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 383
responsabilidade do regulador; 4) os fabricantes de produtos devem arcar o ônus
da prova pela origem dos nanomateriais; 5) o limiar de 50% em número deve ser
substituído por um limiar de 1% em peso para tornar as definições viáveis com os
métodos atuais de análise de partículas e, assim, contribuir para uma relação
custo-benefício mais equilibrada no nano-quadro regulamentar e sua aplicação
(MIERNICKI et al, 2019).
8 Aqui se destaca uma definição que foi desenvolvida pelo órgão europeu de registro e fiscalização de produtos
químicos (REACH), que sinaliza: com base na recomendação da Comissão Europeia de 18 de outubro de 2011,
que foi modificada em 2018, uma “nanoforma” é uma forma de substância natural ou manufaturada que
contém partículas, no estado não agregado ou como um agregado ou como um aglomerado e onde, para 50%
ou mais das partículas na distribuição de tamanho de número, uma ou mais dimensões externas estão na faixa
de tamanho 1 nm-100 nm, incluindo também por derrogação fulerenos, flocos de grafeno e nanotubos de
carbono de parede única com uma ou mais dimensões externas abaixo de 1 nm (COMMISSION REGULATION
(EU) 2018/1881).
SUMÁRIO
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 385
processo de desenvolvimento de algum produto com a utilização de nanoformas;
b) projetar os efeitos indesejáveis, potencialmente identificados nos respectivos
materiais ou produtos ou em seus processos de produção, a fim de garantir o
desenvolvimento sustentável. A redução dos riscos está relacionada à inclusão das
considerações relevantes para a segurança nos processos de inovação o mais cedo
possível, levando em consideração todo o ciclo de vida de um produto
(SHANDILYA et al, 2020; DEKKERS et al, 2020). Na literatura revisada sobre o
Safe-by-Design se encontraram diversas perguntas norteadores para se saber sobre
a segurança de uma nanoforma, seja em relação ao ser humano, seja em relação ao
meio ambiente (DEKKERS et al, 2020; JIMÉNEZ et al, 2020).
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 387
(IATA, do inglês: “Integrated Approach to Testing and Assessment”) é uma
abordagem baseada em múltiplas fontes de informação usadas para a
identificação de riscos, caracterização de riscos e/ou avaliação de segurança de
produtos químicos. Um IATA integra e pondera todas as evidências existentes
relevantes e orienta a geração direcionada de novos dados, quando necessário,
para informar a tomada de decisão regulatória em relação ao risco conhecido e/ou
risco potencial. Em um IATA, os dados de várias fontes de informação (ou seja,
propriedades físico-químicas, modelos in silico, abordagens de agrupamento e de
leitura, métodos in vitro, testes in vivo e dados humanos) são avaliados e
integrados para tirar conclusões sobre os riscos de produtos químicos
(GRACIOUS CONSORTIUM). Dentro deste processo, espera-se que a
incorporação de dados gerados com testes e métodos não experimentais
contribua consideravelmente para a redução dos testes em animais. O resultado
de um IATA é uma conclusão que, junto com outras considerações, informa a
tomada de decisão regulatória (OECD, 2016). Esse conjunto, ainda estranho ao
Direito e aos juristas, deverá integrar o processo de arquitetura dos modelos
regulatórios para as nanotecnologias. A pesquisa desenvolvida pelo pesquisador
ao longo do período viabilizou sua a participação no Consórcio internacional de
pesquisadores de diversos países, denominado Gracious Project, que conta com
apoio financeiro da União Europeia.
Wilson Engelmann
CAPÍTULO 19 389
confiança nas pesquisas já desenvolvidas sobre a nanopartícula, maior será a
probabilidade de se acertar na estruturação regulatória. Se observa a importância
das pesquisas e publicações inseridas em bases de dados acreditadas
cientificamente, como o Portal de Periódicos da CAPES, a Web of Science e o
Google Acadêmico, que também foram as bases de dados utilizadas para grande
parte da revisão da literatura desenvolvida no projeto de pesquisa que se está
fazendo este relatório final. Portanto, a importância do framework acima
apresentado se encontra na caminhada para uma regulação mais precisa.
Portanto, aqui se destaca um ponto central para a regulação, inclusive a
autorregulatória: se deverá ter um bom nível de confiabilidade nas investigações
científicas, publicadas em fontes sérias, a fim de se ter evidências científicas para
suportar as decisões regulatórias. Enquanto não se tiver um bom nível de
“relevância” e “confiabilidade” nos resultados científicos, o caminho estruturado
no framework se mostra uma alternativa normativa adequada e suficiente para
orientar o desenvolvimento dos nano produtos na indústria, a sua
comercialização e o consumo, além do descarte das sobras e dos resíduos que são
gerados ao longo do ciclo de vida. Portanto, essa a contribuição final deste projeto
de pesquisa, que se oferece para toda a sociedade, procurou contribuir com esse
momento de esclarecimento e desenvolvimento do cenário nanotecnológico,
servindo de um instrumento válido para se ter uma conjunção de elementos
normativos dispersos em variadas fontes.
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Wilson Engelmann
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ARTE-FINAL E DIAGRAMAÇÃO:
CONSTITUIÇÃO,
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ANUÁRIO DO PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM
DIREITO DA UNISINOS