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UNIDADE II

Sociologia da
Comunicação

Prof. Me. Cidclei Guimarães


Abordagens sociológicas da cultura contemporânea, a partir dos meios de
comunicação de massa
 Neste vídeo vamos expor as principais abordagens sociológicas da comunicação de massa,
em que a discussão teórica e conceitual é articulada à análise de exemplos, tomados da
trajetória brasileira.

 No desenvolvimento do módulo, as abordagens foram divididas em dois grandes blocos: a


tendência funcionalista empirista que fundamenta estudos de mercado e opinião pública em
um primeiro momento, seguindo-se a crítica de Umberto Eco.
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
O sentido sociológico da palavra abordagem é bastante próximo daquele utilizado no cotidiano:
“Mas como você abordou a garota, para ela responder dessa forma ao seu convite
para ir à festa?”

 O leitor deve ter entendido que o modo como o garoto se aproximou da garota, o que ele
disse, as ideias que mantinha sobre ela e seu procedimento deveriam estar inadequados à
garota, ao momento, ou a ambos.

 Provavelmente se anos mais tarde o mesmo homem voltasse


a fazer o mesmo convite para a mesma mulher, sua
abordagem seria outra, o que não quer dizer que ele teria
acertado, mas não cometeria os mesmos erros...
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Esse é o sentido para abordagem em sociologia: como o sociólogo vai se relacionar com o
problema que pretende estudar.

 No caso em pauta, cultura contemporânea e os meios de comunicação de massa são duas


faces da “mesma” moeda, ou seja, da vida social ao longo do século XX aos dias atuais.

 Por isso que a abordagem deve ser atualizada, para atender à historicidade do problema, do
sociólogo e da sociedade (a garota).
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 As abordagens funcionalistas: O funcionalismo foi uma tendência muito em voga na
Sociologia dos anos 40-50, cujo propósito era o de descrever e explicar o comportamento
social partindo da relação (função) ou correlação entre variáveis (aspectos) desse
comportamento, da quantificação dos dados coletados em uma amostra, ou dados para toda
uma população (universo) submetida à pesquisa.

 Dessa forma, o funcionalismo pressupõe uma base empírica, ou seja, respostas em que as
variáveis tomadas como significativas, ou consideradas significativas, aparecem em uma
dada frequência, permitindo explicar os resultados, em face das hipóteses levantadas.
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 O funcionalismo aparece primeiramente como abordagem metodológica na Antropologia
(Malinowiski) para explicar a cultura de povos pré-letrados, a partir do conjunto de
necessidades (básicas, primárias secundárias e terciárias) articuladas, formando o ‘todo’
da cultura, embora a posição deste antropólogo tenha sido questionada por outros de seu
tempo e posteriores (Boas, Kroeber, Lévi-Strauss), ela permanece válida para
alguns autores.
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 A utilização do conceito de função (relação entre variáveis) na Sociologia da Comunicação
se deu pela contribuição de alguns autores clássicos como R. Merton, Lazarfeld e Talcott
Parsons (este passando da base funcionalista para a Teoria de Sistemas).

 Contudo, nesse campo, o da comunicação, a concepção de cultura como um “todo”


articulado sofreu algumas alterações, uma vez que se tornava fundamental explicar não
apenas as relações presentes, mas aquelas em desaparecimento; não apenas as relações
funcionais articuladas, mas aquelas cujo aparecimento contradizia o conjunto funcional
articulado.
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Em outras palavras, era importante explicar as relações funcionais, mas também levar em
consideração as relações disfuncionais, além das funções latentes.

 Por exemplo, em um hipotético estudo das opiniões sobre união sexual, não bastaria
caracterizar as condições funcionais (casamento no civil, no religioso, em várias religiões),
mas também considerar a união sexual estável de casais sem casamento (disfuncional) e os
dados dos que negavam estabilidade para a união sexual (latente).
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 A utilização do funcionalismo em pesquisas de comunicação, especialmente da opinião
pública, ao mesmo tempo em que favorece o estudo instantâneo (porque o simplifica) traz
certo comprometimento aos resultados, uma vez que a análise fica limitada às variáveis
escolhidas antes da pesquisa, ou seja, a priori.

Por outro lado, no exemplo acima, qual dos resultados expressaria uma relação disfuncional, e
qual uma relação funcional latente?

 No exemplo, admitiu-se uma tendência, mas nada assegura


que ela seria a verdadeira, especialmente considerando a
variedade de grupos sociais. Em síntese, qual seria a
tendência? Difícil a resposta...
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Quais as tendências da opinião pública? Eis uma questão cuja resposta o funcionalismo
dificilmente poderia dar, a não ser que ampliasse a análise, saindo do campo
estritamente funcionalista.

Isto porque a questão está em aberto, não há delimitação de “quem” está sendo considerado
no campo “opinião pública”, nem foi dito qual o tema, ou objeto, dessa “opinião”: “opinião sobre
o quê?” Futebol? Religião? Moda? Ou sabonete?
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Na medida em que sejam delimitados os campos, é possível iniciar o trabalho de escolher as
variáveis “significativas”, submetê-las a um exame, teste etc.

 Enfim, até que se tenha um campo essencialmente delimitado, mas neste momento será
preciso considerar aquelas relações entre variáveis (funções) que não são explícitas, ou
manifestas, mas que estão latentes ao comportamento, assim como aquelas que são
manifestas, mas “disfuncionais”, ou seja, respondem pelo comportamento no sentido
contrário ao que é esperado.

 Os recursos utilizados pelos funcionalistas para essas análises


mais complexas têm origem na Estatística (paramétrica e
não paramétrica) e nos modelos matemáticos...
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Embora o funcionalismo seja uma corrente teórica bastante utilizada (ainda) é muito limitada,
induzindo certa “padronização” de resultados esperados, supostamente verdadeiros, mas
que correspondem à reiteração de pesquisas já desenvolvidas e sempre reproduzidas.

 É importante considerar que na abordagem funcionalista, que fundamenta tais pesquisas, de


modo geral, é admitido como pressuposto (hipótese genérica) que o comportamento social
parta de “necessidades” (o que não é totalmente verdadeiro), e no caso da “opinião pública”,
as respostas (às questões formuladas) compreenderiam todas as respostas possíveis (o que
também não é verdadeiro).

 Além disso, é preciso considerar que as questões formuladas


podem induzir as respostas.
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Outros aspectos relevantes são: Em primeiro lugar, especialmente na Sociologia e nas
pesquisas de opinião, o funcionalismo incorpora o modelo de sociedade capitalista, industrial
e de consumo, essa base ideológica contamina as pesquisas, retirando delas a dimensão
crítica que caracteriza as ciências sociais.

 Este aspecto pode ser observado na obra de Kotler, o pai dos estudos de MKT (que não é
sociólogo, mas se aventura no campo), especialmente pelo uso da teoria de motivação
(Maslow), fazendo derivar o comportamento social (consumo) da dimensão psicológica
desse comportamento.
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Em segundo lugar, mas não menos importante, está o fato de o funcionalismo ser apontado
como “objetivo”, ou seja, os resultados da pesquisa seriam verdadeiros porque foram obtidos
em campo e foram quantificados.

 Talvez se possa dizer que a “objetividade” do funcionalismo é a da aparência, uma vez que
este é o nível de realidade passível de ser abrangido pela pesquisa funcionalista, a qual não
visa compreender ou interpretar resultados, mas descrevê-los e explicá-los com base nas
hipóteses assumidas.
Abordagens sociológicas da cultura contemporânea: funcionalismo e
pesquisas de mercado
 Não se pode, porém descartar o funcionalismo, ele foi um capítulo importante da história das
ciências sociais, nem se pode ignorar a contribuição de seus fundadores para o avanço
dessas ciências.

 Todavia pode-se lamentar a vulgarização da abordagem, que se caracteriza principalmente


pelo emprego desavisado da construção lógica das hipóteses, e pelo abandono da
metodologia estatística, elementos centrais na obra de Lazerfeld, por exemplo.
As relações entre mercado e consumidor: pesquisas de mercado e de
opinião pública
 A questão central ao estabelecimento da relação entre oferta e consumo (relação de
mercado) reside no interesse das empresas em segmentar o mercado, identificando
consumidores preferenciais e potenciais para seus produtos e serviços.

 Esse objetivo estratégico poderia ser atingido por aspectos descritivos dos consumidores
(distribuição no espaço, renda, idade, sexo etc.), porém tais aspectos não são decisivos na
orientação da decisão de compra, consequentemente um rol de outras variáveis acabou
sendo utilizado para construir o perfil psicográfico de consumidores.
As relações entre mercado e consumidor: pesquisas de mercado e de
opinião pública
 Essa foi a origem do VALS, um instrumento de avaliação psicográfico, construído por Arnold
Mitchell no Stanford Research Institute – SRI (MITCHELL, 1983), a partir de teorias de
motivação, de Maslow dentre outras.

 O instrumento é propriedade do SRI, sofreu alteração para uma segunda versão, o VALS2,
contudo permanece a hipótese básica de que as pessoas se orientam para compra segundo
Valores, Atitudes e Estilo de Vida (VALS, em inglês).

 A segmentação do mercado americano, segundo o VALS, resulta em oito grupos com


características e predisposições ao consumo diferenciadas.
As relações entre mercado e consumidor: pesquisas de mercado e de
opinião pública
Segundo Gil e Campomar (ver fontes virtuais), os oito grupos são:
 Inovadores (innovators),
 Reflexivos (thinkers),
 Realizadores (achievers),
 Experimentadores (experiencers),
 Crentes (believers), Esforçados (strivers),
 Fazedores (makers),
 Lutadores (survivors).
As relações entre mercado e consumidor: pesquisas de mercado e de
opinião pública
 A simples leitura dos títulos demonstra que esses grupos não são mutuamente exclusivos,
impressão reforçada na leitura da descrição de características dos grupos, disponível
no trabalho.

 Essa segmentação, segundo os especialistas citados e outros, não se aplica diretamente ao


consumidor brasileiro, embora essa prática seja relativamente comum. Há vários trabalhos
disponíveis na internet sobre o assunto, além do citado.
As relações entre mercado e consumidor: pesquisas de mercado e de
opinião pública
 No Brasil, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) definiu, desde 1997,
outro recurso de segmentação, o chamado Critério Brasil, atualmente na segunda versão,
datada de 2008.

 Trata-se de um recurso de segmentação baseado na presença (ou não) de itens de


consumo, tomados como variáveis (ou indicadores) de condição de classe, aos quais são
atribuídos pesos que variam de 0 (zero) a 9 (nove) indo ao total máximo de 46 pontos.
As relações entre mercado e consumidor: pesquisas de mercado e de
opinião pública
 As pesquisas, ou instrumentos de pesquisa, acima mencionados estão relacionados à
questão “opinião pública”, mas não são instrumentos destinados a pesquisas específicas
desse campo.

 Todavia, o principal instituto de pesquisas de opinião pública no Brasil, o Ibope, utiliza


estudos de segmentação como base para avaliar tendências de mercado e de opinião dos
vários segmentos sociais sobre temas distintos, especialmente de natureza política.

 Aliás, o quadro acima tem como fonte o sistemático Levantamento Socioeconômico realizado
pelo Ibope.
As relações entre mercado e consumidor: pesquisas de mercado e de
opinião pública
 Como pode ser observado ao longo desse breve texto sobre funcionalismo, as
características principais da abordagem estão na quantificação, na utilização de dados
empíricos obtidos por questionários, formulários ou ainda ligações telefônicas, e na crença
de que esse procedimento conduz à objetividade dos resultados.

 Na verdade, mesmo os institutos de pesquisa contam com profissionais especializados, em


geral sociólogos, incumbidos de analisar, interpretar os resultados e compará-los.
A crítica intermediária de Umberto Eco

 Umberto Eco, um dos mais importantes autores nas áreas de comunicação, em seu livro
Apocalípticos e Integrados (1990) critica o termo “cultura de massa”, considerando-o tão
impreciso quanto “sociedade de massa”, para ele o elemento mais significativo para exame
consiste na modalidade de produção dos meios de comunicação de massa, ao qual Eco
denomina “mass media”.
 No capítulo “A cultura de massa no banco dos réus”, o autor sistematiza as principais críticas
a essa modalidade de produção cultural, listando um total de 15 “peças de acusação”, e de 9
“argumentos de defesa”.
 Abaixo foram resumidas as “peças de acusação” e
“argumentos de defesa”, acrescentados alguns comentários e
exemplos que não se encontram no texto original. Esse
resumo, preparado para alunos em 2006, não substitui a
leitura do capítulo.
A crítica intermediária de Umberto Eco

As proposições de “acusação” à cultura de massa (mass media) são as seguintes:


1. Embora dirigidos a um público heterogêneo, os mass media são pautados por um “gosto
médio” “evitando as soluções originais”;

2. Esse padrão médio favorece a formação de certa “homogeneidade cultural”, sacrificando as


especificidades culturais;

3. O público sofre as propostas da cultura de massa, não faz


exigências, não interage com ela; (os mecanismos de
interação contemporâneos não eram conhecidos na época,
embora esses mecanismos não caracterizem uma verdadeira
interação social, como foi apontado);
A crítica intermediária de Umberto Eco

4. As inovações culturais, estéticas existentes e desenvolvidas no âmbito da “cultura superior”


são transcritas para o mass media, porém ainda adaptadas aos padrões preexistentes,
portanto permanecem conservadoras;

5. Os mass media confeccionam as emoções e as apresentam “prontas”, especialmente nas


formas visuais de comunicação, portanto eliminam a “elaboração da emoção”. Essa
peculiaridade é significativa quando se pensa na apresentação de conceitos relacionados a
imagens, uma relação igualmente imperfeita, ou na utilização da música como “recurso”
propiciatório de emoções, um recurso usual no jornalismo televisivo e radiofônico.
A crítica intermediária de Umberto Eco

Proposições em defesa da cultura de massa:


1. A cultura de massa não é típica do capitalismo, mas da sociedade industrial (e de
consumo), portanto encontrável nas sociedades pautadas por outros regimes econômicos
(China de Mao Tse Tung, URSS, à época ainda existente).

 Na verdade, a cultura de massa pressupõe, por um lado, a existência de grandes


contingentes populacionais com acesso ao consumo, e de outro lado, pressupõe a
necessidade de comunicação ampliada com esses contingentes, seja o conteúdo dessa
comunicação constituído por normas de higiene, valores, regras de comportamento ou
posturas políticas.
A crítica intermediária de Umberto Eco

2. A cultura de massa não tomou o lugar da “cultura superior”, mas difundiu para grandes
contingentes populacionais certos elementos da cultura que eram antes privilégios das
elites (na China de Mao a divulgação da alfabetização em um “mandarim” simplificado).

3. O argumento de que a mass media não privilegia a cultura erudita, situando-a no mesmo
patamar da cultura de massa, segundo a “defesa” não se sustenta, uma vez que em seu
tempo as obras de arte, hoje consideradas fundamentais, também foram “vistas” com o
olhar superficial semelhante ao do homem moderno, alimentado pela cultura de massa;
este, contudo, foi informado sobre a importância da obra, embora não saiba como
analisá-la convenientemente.
A crítica intermediária de Umberto Eco

4. Os mass media divulgam maciça e indiscriminadamente um volume incrível de


informações, visando entretenimento e curiosidade, mas não se pode dizer que esse
volume de informação não esteja de algum modo relacionado a uma formação do homem
moderno: muitas dessas informações são necessárias à sobrevivência nas condições
sociais concretas contemporâneas.

 Não se pode afirmar ainda que a preservação dos padrões tradicionais de divulgação cultural
seja correspondentes a uma formação intelectual superior de todos os cidadãos, uma vez
que nunca foi esse o quadro revelado pela estrutura de classes: a chamada “cultura superior”
sempre foi uma “chave de segredo” do poder das elites, (e continua sendo).
A crítica intermediária de Umberto Eco

5. A homogeneização cultural de que são “acusados” os mass media deve ser examinada
mais atentamente: em realidade eles contribuem para o desaparecimento de valores e
práticas culturais, ou para sua desvalorização em face dos conteúdos culturais “mais
modernos”, contudo, frequentemente são utilizados alguns recursos dos mass media para
recuperar, preservar e difundir valores e práticas culturais tradicionais (a cultura local, na
verdade, oferece material para produtos culturais divulgados em escala nacional e
internacional: eles integram o “exótico” da cultura local, ou de grupos, como
antes mencionado.

 Na mesma direção em que é divulgado o Halloween, é


divulgada a festa de Yemanjá, a lavagem do Bonfim, e muitas
das festas típicas brasileiras que passam despercebidas,
exatamente porque não mereceram divulgação pela mídia, por
exemplo, a Congada de Atibaia. Quantos a conhecem? Ela é
centenária, e isso para não mencionar várias outras
manifestações culturais que são solenemente ignoradas).
A crítica intermediária de Umberto Eco

6. Finalmente, é preciso entender que os meios de comunicação de massa desenvolveram


novos elementos estéticos, novas gramáticas, novas formas de comunicação, integrando
igualmente novas tecnologias e recursos.
 Tais inovações repercutiram nas chamadas “artes superiores” introduzindo mudanças
significativas. Essa dinâmica reduz a dimensão conservadora dos mass media, acentua-lhe o
caráter subversivo, instaurando exigências estéticas de apreciação também inovadoras.
 Em síntese, não é possível condenar a mass media, ou absolvê-la na totalidade, ela existe e
pertence à vida social contemporânea.
 Podem-se levantar questões quanto ao conteúdo comunicado, exigir aperfeiçoamentos,
mudanças, enfim, participar, e criticamente, de sua produção e divulgação.
 Se essas posturas estão relativamente distantes do cotidiano
dos indivíduos, elas constituem dimensões centrais ao
exercício ético e responsável do jornalismo profissional.
Interatividade

As pesquisas de mercado e de opinião pública não se instalam na contradição de pressuporem


um modelo de sociedade de massa e estarem voltadas para caracterizar diferenças de toda
sorte, além das de renda? Como se resolve essa contradição no campo teórico e
procedimental? Escolha a alternativa correta e verifique o resultado.

a) Não há contradição alguma, porque para o funcionalismo o “todo” (a sociedade) é integrado


por “partes” (segmentos sociais ou psicográficos) articuladas, compondo um “todo”,
sociedade, cujas características seriam mais abrangentes que a soma das “partes”, e as
distinções de renda ilustram essa constatação.

b) Há contradição, porém ela não se instala na relação entre a


concepção da homogeneidade social e diferenças sociais,
mas na concepção das diferenças, que são atribuídas não
apenas às preferências e disposições ao consumo, mas às
características psicológicas de segmentos da população.
Interatividade

c) No campo teórico e procedimental do funcionalismo não se coloca contradição, mesmo


porque a base da concepção teórica de sociedade é a caracterizada pela possibilidade e
expectativas de consumo, portanto a inserção na sociedade de mercado; sendo que dessa
condição homogênea decorreriam as segmentações por renda, ou outras quaisquer.

d) Pesquisas de mercado e de opinião são aplicadas, devem “funcionar”, apresentar


resultados utilizáveis, e para essa finalidade não interessam as questões teóricas,
ou procedimentais.

e) O funcionalismo clássico, que preside boa parte das


pesquisas de mercado e de opinião, não coloca questões
dessa ordem, e se alguém coloca é porque está analisando
“de fora” e criticamente esse campo, tão importante da
pesquisa social.
Resposta

As pesquisas de mercado e de opinião pública não se instalam na contradição de pressuporem


um modelo de sociedade de massa e estarem voltadas para caracterizar diferenças de toda
sorte, além das de renda? Como se resolve essa contradição no campo teórico e
procedimental? Escolha a alternativa correta e verifique o resultado.

a) Não há contradição alguma, porque para o funcionalismo o “todo” (a sociedade) é integrado


por “partes” (segmentos sociais ou psicográficos) articuladas, compondo um “todo”,
sociedade, cujas características seriam mais abrangentes que a soma das “partes”, e as
distinções de renda ilustram essa constatação.

b) Há contradição, porém ela não se instala na relação entre a


concepção da homogeneidade social e diferenças sociais,
mas na concepção das diferenças, que são atribuídas não
apenas às preferências e disposições ao consumo, mas às
características psicológicas de segmentos da população.
Resposta

c) No campo teórico e procedimental do funcionalismo não se coloca contradição, mesmo


porque a base da concepção teórica de sociedade é a caracterizada pela possibilidade e
expectativas de consumo, portanto a inserção na sociedade de mercado; sendo que dessa
condição homogênea decorreriam as segmentações por renda, ou outras quaisquer.

d) Pesquisas de mercado e de opinião são aplicadas, devem “funcionar”, apresentar


resultados utilizáveis, e para essa finalidade não interessam as questões teóricas,
ou procedimentais.

e) O funcionalismo clássico, que preside boa parte das


pesquisas de mercado e de opinião, não coloca questões
dessa ordem, e se alguém coloca é porque está analisando
“de fora” e criticamente esse campo, tão importante da
pesquisa social.
Comentário resposta

a) Realmente não há contradição, mas não pelo argumento apontado: as pesquisas de


mercado e de opinião não colocam como objeto “a sociedade”, elas são mais específicas,
de caráter descritivo e explicativo, mas dentro do tema (objeto ou “assunto”) pesquisado.

b) Essa é uma contradição de implicações mais amplas: se no marco do funcionalismo


(especialmente do marketing) concebe-se o ser humano como agente diferenciado do
consumo, as diferenças psicológicas entre seres humanos responderiam pelas diferenças
de renda, e de consumo, porque elas estariam situadas no nível das “necessidades”.

c) No campo teórico e procedimental do funcionalismo não


se coloca contradição, mesmo porque a base da concepção
teórica de sociedade é a caracterizada pela possibilidade e
expectativas de consumo, portanto a inserção na sociedade
de mercado; sendo que dessa condição homogênea
decorreriam as segmentações por renda, ou
outras quaisquer.
Comentário resposta

d) É verdade, essas modalidades de pesquisa têm finalidade pragmática, contudo para elas
são profundamente importantes as questões teóricas (definição de indicadores, critérios
estatísticos de amostragem etc.), como também as questões procedimentais (controles
múltiplos na aplicação de questionários, treinamento de entrevistadores etc.).

e) Coloca sim, questões “dessa ordem”, como foi apontado acima. Todavia, realmente o
questionamento teórico do funcionalismo implica um discurso exterior a esse campo
(o que não é muito adequado). Exatamente por isso a alternativa c foi considerada correta.
Todavia, há questionamentos teóricos que se situam no próprio campo do funcionalismo.
Abordagens críticas centradas na cultura midiática e seus efeitos na
sociedade
Nesta aula, pretendemos esclarecer o sentido da expressão “teoria crítica” e focalizar duas
tendências às quais se aplica o termo em Sociologia da Comunicação:

 A Escola de Frankfurt, na verdade a tendência original da teoria crítica no estudo da


comunicação; com esse foco são distinguidas as posições de Adorno, Horkheimer daquela
de W. Benjamin; outras duas contribuições mais contemporâneas (Baudrillard e Bauman)
são comentadas, as quais, embora não herdeiras daquela escola e dos respectivos
fundamentos teóricos, desenvolvem modalidades de análise crítica da comunicação na
sociedade de consumo contemporânea, e do próprio modelo de sociabilidade
nela desenvolvido.

 A discussão conceitual é ilustrada com a


experiência brasileira.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 A expressão “sociedade contemporânea” designa a sociedade (padrão ou modelo societário)


emergente no marco do capitalismo do século XX, ou capitalismo monopolista, no qual se
desenvolveram os meios de comunicação, o mesmo modelo que inspirou a contribuição da
Escola de Frankfurt, especialmente no ambiente histórico e social durante e remanescente
da segunda guerra.

 A Alemanha de Hitler, o Nazismo, formam um quadro de referência para as reflexões de


Adorno e Horkheimer.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Na verdade, desde o final do século XIX já havia indícios de crítica à dimensão autoritária da
racionalidade no pensamento sociológico e filosófico.

 Essa tendência foi ampliada nas primeiras décadas do século XX, especialmente focalizando
a racionalidade instrumental na esfera política, podendo ser citados a respeito, Georg
Simmel, Max Weber (sociólogos, final do século XIX, início do XX), Nietzsche, Marx
(filósofos, ambos do final do século XIX), Freud e Jung (psicanalistas do século XX).
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Portanto, a “novidade” trazida pela Teoria Crítica estava em submeter à análise crítica as
bases da sociabilidade moderna em sua relação fundamental com os meios de comunicação
e com a preservação e expansão do capitalismo industrial.

 Com tal propósito, a Teoria Crítica incorpora elementos centrais ao marxismo, na análise da
comunicação cultural pelos meios de massa, no sentido de esclarecer as condições em que,
nesse contexto, o homem moderno foi perdendo sua individualidade e consciência social.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 A “Escola de Frankfurt” e as teorias sobre a indústria cultural: contribuições de T. Adorno e


W. Benjamin.

 A Escola de Frankfurt se insere no campo da denominada teoria crítica, especialmente as


obras de Adorno, Horkheimer, Marcuse e W. Benjamim.

 Entre esses autores há distinções significativas as quais foram estudadas e contraditadas em


parte por Jürgen Habermas, na elaboração de suas obras sobre a ética do agir comunicativo,
e sobre a legitimação da esfera pública no estado contemporâneo.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Enquanto Adorno, examinando a produção cultural no capitalismo, desenvolve uma


concepção negativa da racionalidade emergente na modernidade, fazendo da racionalidade
um instrumento de sua própria negação, Walter Benjamin encontra nos meios de
comunicação, especialmente no cinema, a possibilidade de uma nova estética associada à
reprodutividade técnica da obra de arte.

 Em poucas palavras, enquanto Adorno nega a arte no ambiente dos meios de comunicação
de massa, Benjamin vê na emergência desses meios uma possibilidade, uma nova estética
(associada à reprodutividade técnica).

 Para ele, os meios de comunicação apenas destruíram a


“aura” da obra de arte, aquela relacionada à condição de único
e exclusivo, ampliando seu acesso.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Adorno e Horkheimer partem do conteúdo produzido pelos meios de comunicação


organizados sob a forma empresarial, denominando-os produtos culturais de uma
indústria cultural.

 De fato, os meios de comunicação condicionam o modo como se pretende estabelecer a


comunicação com o receptor, que pode ser o receptor individual (o leitor solitário de um
artigo de revista), o ouvinte de um programa de rádio, o público de uma sessão de cinema, o
telespectador da novela, como também o internauta.

 Em qualquer desses casos, o receptor não está sendo


considerado na sua individualidade, na sua pessoalidade,
mas na sua tipicidade, ou na condição de integrante anônimo
de um dado grupo social (convém lembrar o papel importante
da segmentação de público nas programações).
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Dois aspectos são importantes aqui: o primeiro diz respeito à delimitação por características
do receptor, possibilidade que permite aos meios de comunicação delimitar “públicos ou
audiências” para determinados programas e para determinados anunciantes, caracterizando
públicos preferenciais para comerciais.

 O segundo aspecto vem na direção oposta, isto é, em lugar de estabelecer a comunicação


com um público anônimo, os meios ensaiam a comunicação individualizada, a chamada
interatividade: “visite o nosso site, converse com Dr. Fulano sobre este tema”, ou então, “ligue
para nós, vote em qual filme você deseja ver, a ligação é gratuita”, ou ainda, “você que está
nos ouvindo, ligue, converse conosco, a sua ligação é muito
importante” e outras formas de estabelecer uma relação direta
com “alguém” do público que integra a audiência daquele
momento da TV ou do rádio.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Esses dois aspectos mostram que a comunicação por qualquer desses meios é construída
(produzida) para a sociedade, tomada em uma segmentação “generalizadora”, como “as
donas de casa”, “os homens”, “os adultos de ambos os sexos”, “os jovens”, “o público de
classe A e AB”.

 Tais “generalizações” fundamentam a produção de programas “destinados a um público” e


denunciam a tendência (preconceituosa) de considerar aqueles segmentos sociais que têm
menos dinheiro para consumir, ou as chamadas “classes populares”, como tendentes ao
grotesco como forma de humor, com menor interesse cultural, apreciadoras da violência, do
escândalo e da música “descartável” de baixa qualidade.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Meios de comunicação também são empregados para mobilização de grandes contingentes


populacionais, e nesse caso, embora a mensagem possa ser individualizante, (o emprego do
“você” é um indício nessa direção), a mobilização implica em manifestação de
comportamento assemelhado quanto aos objetivos e modos de expressão.

 Para tanto, mobilizações pressupõem discursos que constroem a situação social vivida de
alguma forma, seja a partir de alguma perspectiva ideológica, seja a partir de uma
perspectiva religiosa, ou da perspectiva estética e da preferência musical.

 Em qualquer delas os valores éticos, estéticos e políticos são


essenciais para o convencimento. Isto significa que a
construção desse discurso, o modo como nele aparece
explicada uma dada situação vivida por todos é
fundamental para a mobilização.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Tal construção pode ser verdadeira ou não, mas em realidade não importa o grau de
veracidade, importa isto sim que ela pareça verdadeira aos que a ouvem porque mantém
com a realidade certos vínculos supostamente concretos, e ainda que sejam imaginários,
sejam tomados como reais. Supostamente, a manifestação irá atuar sobre esses vínculos, e
por decorrência, sobre aqueles que detêm poder sobre eles.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Dois exemplos podem ser dados desse “discurso de mobilização”, um primeiro construído
para apontar a “causa” de uma situação dramática em que um país foi colocado, após
uma guerra de interesses econômicos: o já mencionado discurso do nazismo na
Alemanha de Hitler.

 A “causa” da situação em que se encontrava o povo alemão seria o povo judeu e suas
ligações com o socialismo e com os interesses econômicos dos países capitalistas. A
“solução” seria o fortalecimento do nazismo, expandi-lo para todo o mundo, exterminar
judeus e outros (todos) que constituíssem perigo para esse projeto.

 Um discurso de mobilização para a ação política, e para a


guerra, visando alterar radicalmente a situação vivida.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Outro exemplo, esse relativo ao Brasil, o discurso de mobilização contra reformas, antes do
Golpe Militar, se situa no sentido inverso, qual seja no sentido da manutenção de uma ordem
social considerada justa e adequada, portanto, uma mobilização para manter a democracia,
a crença em Deus e nos valores cristãos e justos da democracia à brasileira, manter o direito
à propriedade, manter os valores familiares como centro da sociedade brasileira pacífica e
não violenta.

 Em decorrência, caberia à sociedade brasileira, e às famílias a manifestação contra o perigo


iminente do “comuno-socialismo” das reformas. Essas representavam um “risco” a temer
porque dissolveriam a família, o direito de propriedade, a crença em Deus.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

 Esse discurso despertou o medo como mobilização política antes do Golpe de 64,
contagiando pessoas, grupos e segmentos de classe, integrando-os em manifestações, e
nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade, mobilização conservadora que fez sair às
ruas figuras ilustres das elites brasileiras (mulheres) padres, e parte da classe média
defendendo Deus (?!) a família e a liberdade.

As intrincadas relações entre meios de comunicação e sua própria organização empresarial,


estão na base do conceito indústria cultural (IC) de Theodor Adorno (1903-1969) e Max
Horkheimer (1895-1973). Os aspectos principais do conceito são apontados a seguir e
ilustrados a partir da música brasileira popular:
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

a) Quebra de espontaneidade – A música é manifestação espontânea, é expressão cultural e


artística, criatividade em ato. A música-produto é intencional e deliberadamente destinada a
um público, seja isoladamente, seja como complemento de outro produto cultural, como se
passa nas novelas e trilhas sonoras dos filmes.

 Nesses dois casos, a música popular entra como linguagem paralela das cenas, ou ainda
para sinalizar ao espectador o sentido da cena e mesmo do filme, quando ela acompanha a
exibição dos créditos no final.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

b) Integração deliberada dos consumidores a partir do alto promovendo a integração, inclusive


espacial, do mercado.
 A música brasileira popular só adquire esse contorno típico no bojo da urbanização e
industrialização, quando aparece como “produto”, competindo pela preferência da totalidade
dos consumidores.
 De outra parte, a integração espacial é promovida, tornando a música regional um “produto
diferenciado” para o consumidor metropolitano (o baião e o xaxado são exemplos desta
tendência), mas também a integração ultrapassa fronteiras nacionais, sendo exemplos
típicos o rock brasileiro, o reggae, rap, funk, dentre outros ritmos e modalidades musicais.
Abordagens críticas dos reflexos da cultura midiática: Escola de Frankfurt

c) A IC força a integração da arte superior e inferior. Representantes dessa tendência são as


gravações dos “clássicos populares” (Chopin em ritmo de fox) com piano e orquestra de
dança, que fizeram tanto sucesso na década de 50. Mais recentemente, os concertos de
cantores líricos, como Plácido Domingo, Carreras e Luciano Pavarotti, mesmo os
internacionais, como o Concerto de Caracala, por exemplo, não só incluem peças
populares como são divulgados como “sucessos”.
As contribuições de Jean Baudrillard

 Jean Baudrillard é um dos mais importantes e significativos autores sobre a questão da


forma pela qual se expressa o consumo numa sociedade de consumo, como a nossa.

 Em sua obra Sociedade de Consumo, ele aborda as principais implicações sobre o consumo
na atual sociedade, mas o faz relacionando-as à cultura do consumo e do consumidor,
aspectos em parte já abordados na anterior apostila, bem como ao papel desempenhado
pelos “mass media” face às questões do consumo. Segue um resumo das principais
colocações do autor.

 Jean Baudrillard começa sua análise pelo que denominou de A


Lógica Social do Consumo. Esta lógica está relacionada a uma
“liturgia formal do objeto”, na qual há um ritual que cerca o
consumo e permeia as relações sociais, na
medida em que são marcadas pela intermediação
dos signos das mercadorias.
Referências

 Para o autor, em nossa sociedade, “há uma evidência fantástica do consumo e da


abundância, criada pela multiplicação dos objetos, dos serviços, dos bens materiais (...) Os
homens encontram-se rodeados mais por objetos, do que por outros homens. (...) Vivemos o
tempo dos objetos, existimos segundo seu ritmo e sua sucessão permanente”. Mas estes
objetos e serviços são efêmeros (não são perenes como aconteceu em outras sociedades).

 Diante dessa situação, a atividade humana fica condicionada pela lei do valor de
troca e pelo significado que estes objetos e serviços possuem, ou seja, pelos signos
que eles representam.

 O aspecto fundamental de sua teoria é que a atividade de


consumo implica numa permanente e básica manipulação de
signos, na qual o signo é a mercadoria a ser consumida
(mercadoria e signo se associam num único processo). O valor
de uso transforma-se em valor de troca, que contém signos
fundamentais a serem consumidos.
Referências

 Baudrillard, apesar de ter, em diversas partes de suas análises, como fonte algumas
contribuições de K. Marx, acabou revisando a colocação do autor alemão. Para o marxismo
tradicional, as atividades de produção cultural e das significações ficam subordinadas à
atividade econômica, ou seja, ao seu modo de produção.

 Baudrillard, ao rever esta concepção marxista, coloca em sua análise que no mundo de
grande produção de mercadorias culturais (característico de nossa época), de imagens
sociais e de signos, tudo isso funciona como verdadeiras mercadorias, gerando o
que foi denominado de “economia política do signo”, que acaba ultrapassando o
modo de significação.
Referências

 Na ação publicitária, por meio do anúncio, a empresa produtora e a marca desempenham


papel essencial, uma visão coerente de uma totalidade quase indissociável e um
encadeamento de significantes, na medida em que se significam um ao outro como super
objeto mais complexo, arrastando o consumidor a uma série de motivações bem mais
complexas. Há, portanto, uma maneira lógica que vai de objeto para objeto.
Referências

 Dessa maneira, o consumo invade toda a vida, fazendo com que haja uma procura
específica pelos locais nos quais ocorre este consumo, como os shoppings ou os novos
centros comerciais. Jean Baudrillard tece em sua obra uma interessante análise do
significado desses shoppings e centros comerciais.

 Neles, há uma amálgama dos signos. Todas as atividades lá existentes se encadeiam,


provocando um envolvimento total, num ambiente inteiramente climatizado, organizado,
culturalizado, assim como as mercadorias lá expostas. Lá, tudo é bonito e atraente: “a beleza
do meio e a primeira condição da felicidade de viver”. Os grandes locais de consumo, como
os shoppings, conferem conforto, segurança, beleza e uma “permanente primavera”.
Referências

 O autor ressalta que o mais belo objeto de consumo é o corpo, relacionado ao narcisismo
dirigido, ao erotismo, à sensualidade, à beleza, dentro de concepções e padrões estéticos
revistos e divulgados, tudo relacionado a um culto do corpo, para ambos os sexos e
diferentes idades.
Referências

 Baudrillard complementa que esse verdadeiro culto do corpo, atualmente e diferentemente


de outras épocas históricas, está associado a uma compulsiva “obsessão da magreza e a
preocupação de manter a linha estética do corpo.”

 Será de preferência magra e descarnada no perfil dos modelos e manequins, que se revelam
ao mesmo tempo como negação da carne e a exaltação da moda”.
Referências

 Para o autor, a TV propicia, através de suas técnicas, uma razão psíquica, que acarreta na
consciência do consumidor um longo processo social que conduz ao consumo de imagens,
tornando tudo agradável.

 “As comunicações de massa não nos fornecem a realidade, mas a vertigem da realidade”,
geralmente relacionada a um simulacro do real (e não ele, em si). A ordem do consumo
nesses meios é o da manipulação dos signos.
Referências

As obras de Baudrillard, tomadas como referência nesse texto, dizem respeito a duas questões
centrais, de resto, já referidas:

a) Quais as modalidades de participação social e política são características da


sociedade de consumo?
b) Quais padrões de interação social, de relacionamento entre participantes dos grupos
sociais seriam característicos da sociabilidade fundada no consumo?
Referências

 A sociedade capitalista ocidental sofrera significativa mudança, após a Segunda Guerra: o


mundo fora dividido em blocos, democrático e comunista, estranha divisão que não se
sustenta conceitualmente, mas ideologicamente.

 Nos meios de comunicação circulava o estímulo ao consumo, e não à livre participação


política, ou mesmo à liberdade de opção política: nos USA e no Brasil, liberdade de
pensamento não deveria ser compreendida como liberdade de expressar e debater o
pensamento, e muito menos, como liberdade de opção política: nos USA houve a “caça às
bruxas” do “comunismo” e no Brasil democratizado, do Governo Dutra, o Partido Comunista
foi considerado ilegal.
Referências

 Nesse cenário se enraíza uma forma de envolvimento político que se caracteriza pela não
participação: para grandes contingentes sociais nas democracias contemporâneas, o vínculo
com a instância política perdeu especificidade e envolvimento. Para Baudrillard (1981) na
medida em que o político passou a ser um espelho do social e do econômico, a instância
política perdeu a especificidade. As categorias com as quais se representava o político, como
“o povo”, os “cidadãos”, “a vontade do povo”, a “classe”, o “proletariado” perderam
gradativamente o poder de representação na sociedade contemporânea.
 Não há representação porque o próprio social não se dá à representação por tais categorias;
em seu lugar aparecem representações não específicas, que jogam com a referência à
existência numérica de uma suposta uniformidade, “a massa”, “as massas”. Contudo, essas
designações, segundo Baudrillard (1981), também não são
referentes para a existência efetiva desses grandes
contingentes, por isso o autor substitui tais termos por
maiorias silenciosas.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 O que é sólido, o que é líquido? A sociedade contemporânea, urbana e metropolitana se


organiza sob o modelo de sociedade de consumo (ver o texto anterior), mas o padrão
societário atual apresenta diferenças significativas quando comparado ao modelo de
sociedade industrial, urbana e metropolitana persistente até os anos 80 ou 90 do século XX.

 Uma faceta fundamental dessas diferenças reside no que Zygmunt Bauman (2007)
denomina por “vida líquida”. Mas o que significa isso? Significa que a vida social, padrões,
valores e rotinas do cotidiano mudam em tempo rápido, mais rápido que o necessário para
se constituírem em hábitos.

 Essa rapidez das mudanças acarreta ambivalência nos


padrões de comportamento e práticas sociais, como se tudo
fosse “certo”, mas também “errado”, ou seja, tudo é
“por enquanto”...
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 Curiosamente, há uma dimensão sólida nessa vida líquida: ela se constrói com base na
economia capitalista de ganhos crescentes, redução de custos e operação em escala global.
Essas tendências sólidas da economia contemporânea também apresentam flutuações,
provocam oscilações nas taxas de acumulação, cujos efeitos se espalham como tsunamis
para todo o mundo, ou seja, avançam fronteiras nacionais, destroem e constroem
novas situações.

 Em linhas gerais, essa dimensão peculiar à economia capitalista contemporânea caracteriza


a modernidade, ou, como se chamou durante algum tempo, a pós-modernidade.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 Na sociedade construída a partir dessa economia volátil, a vida se passa em práticas


correntes (por enquanto); pessoas buscam atualização permanente de seus conhecimentos
e técnicas, elas procuram apresentar diferenciais em seu trabalho, numa ânsia por “se
distinguir”, “se diferenciar”, “vencer” o outro em uma competição que não tem linha de
chegada, porque é uma corrida permanente.

 Ao final, o vencedor apenas conseguiu sobreviver como “predador”, enquanto o outro foi
sucateado como “presa”, perdedor de uma luta que não era dele, mas de todo o sistema.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 Essa fluidez na vida social afeta todos os níveis da sociabilidade, e estranhamente ela se
justapõe às práticas consolidadas que identificam as práticas de classe, ou habitus de classe
(Bourdieu). Como pode ser isso?

 É fácil ver no ambiente corporativo que ao mesmo tempo em que um executivo se distingue
com vestuário elegante, conhece os melhores restaurantes, mantém certo verniz de cultura,
ele também é capaz de “puxar o tapete” do colega, praticar a concorrência desleal, buscando
uma diferenciação a qualquer custo.

 Enquanto sua imagem o projeta para o campo dos habitus de


classe, sua prática o insere no ambiente líquido dos valores.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 Nesses termos, sólido é o modelo societário correspondente à vivência no capitalismo


contemporâneo, dele decorrem os habitus de classe, sobretudo a relação entre consumo e
felicidade (necessária à dinâmica do sistema), líquidos são os valores e práticas que exibem,
na aparência, essa relação “fundante” entre consumo e felicidade que está na raiz, ou
alicerce, da moderna sociabilidade contemporânea.

 No cotidiano, essa relação implica em garantir os meios (riqueza) que proporcionam o


consumo (felicidade), em meio a um ambiente fluído de contínuas e profundas mudanças, o
meio vivido no “por enquanto” da modernidade líquida.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 Nesse campo instalam-se as práticas dos meios de comunicação ampliada, ou de massa,


examinadas nos textos anteriores: cabe a esses meios atribuir sentido e solidez de
veracidade, a tudo que na verdade é temporário, fake ou circunstancial.

 Não é outro o sentido das manchetes, das notícias e documentários que circulam na rapidez
volátil da imprensa on-line, nas telas da TV, nos celulares.

 O escândalo político não persiste na mídia por mais de dois meses (exceto se for do
interesse da oposição, e se ela estiver aninhada nas empresas de comunicação).

 O “caso” amoroso daquele parlamentar pode “render” à mídia


matérias glamorosas em todas as revistas, e a moça
(realmente bela) vai figurar na revista em página dupla,
competindo com a “celebridade” do momento.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 A vida privada daqueles que chegam ao conhecimento do público na condição de


“celebridades”, dos que são pessoas públicas pelos cargos que exercem, ou dos que se
tornam notícia pelos atos praticados (dentre eles o crime) se torna assunto da mídia, o
privado é devassado para exibição e espetáculo: imagens e falas circulam a peso de
ouro (ou dólares).

 O palco armado para essa exibição também deve ser administrado pelos especialistas em
marketing pessoal, que estão superando o papel dos antigos empresários e agentes. Eles
vão dosar a exibição, orientar atitudes, evitar a “superexibição na mídia”. Em todo esse
processo há uma temporalidade em curso, se esgotando a cada
dia, a cada manchete ou vídeo na internet.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 O tédio diante do cotidiano é uma sensação permanente, mas o estresse tem outras
características, aproximando-se do que antes era conhecido como angústia e ansiedade em
situações de tensão e pressão.

 O estresse é estado individual, provocado pelo desafio ao sujeito, à pessoa, em face de uma
situação sobre a qual essa pessoa não tem controle. Por isso, o estresse é um dos fatores
das úlceras gástricas dos vendedores: afinal um vendedor não tem total controle sobre o
cliente, nem sobre as metas de produção que lhe foram impostas; seu controle e
responsabilidade se projetam para sua vida, contas a pagar e o perigo de perder o emprego.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 Culpa e medo são emoções que percorrem o tédio e o estresse: medo de tudo, do
desemprego, terrorismo, assalto e até do apocalipse. Medos de situações objetivas e de
muitas imaginárias; culpa pela infidelidade, pela “carreirinha” no banheiro, pela compra que
“estourou” o cartão de crédito. Diante de tudo isso, é melhor “desligar”, mas como?

 Modernidade líquida, consumo e simulacro: na modernidade líquida contemporânea


indivíduos são colocados como objetos dos demais, mas já se viu que nem todos se
posicionam dessa forma, contudo esse é o padrão mais comum.

 A sensação vaga de estar submetido a condições que não


domina provoca o medo e o estresse: pessoas e itens de
consumo são substituíveis rapidamente, contudo há a
tendência de criar, para esses “objetos pessoais” da ordem,
nomeações que ocultem o sentido objetal.
A liquefação dos valores tradicionais: Z. Bauman

 Como entender esse contato social tão próximo e assim mesmo tão distante? Como
considerar “amigo” quem não se conhece, exceto porque os dois assistiram ao mesmo
noticiário na TV? Será que as redes sociais romperam com a base das “maiorias
silenciosas”? Se no Twitter, Facebook, YouTube as pessoas “falam”, se manifestam, isso
significa que a sociabilidade contemporânea foi ampliada? Voltou-se a viver em social?

 Não. Essa sociabilidade é de outra natureza, ela é também “fake”, um simulacro do que
significa o relacionamento social. Os relacionamentos humanos, sociais são estabelecidos
entre pessoas, existem antes do surgimento de um tema, e prosseguem independentemente.
A sociabilidade virtual instaura uma rede de contatos pessoais
em torno de um tema. Trata-se de um relacionamento solitário,
até imaginário, apoiado na aparência e mantido no “por
enquanto” da modernidade líquida.
Interatividade

Zygmunt Bauman reflete sobre a liquidez dos laços na sociedade pós-moderna. De acordo com
o autor, podem-se caracterizar as relações sociais como:
a) Transitórias, superficiais e impessoais, cujas associações ocorrem com base em propósitos
muitas vezes limitados e instrumentais.
b) Pessoais, com uma predominância nos contatos sociais primários.
c) Individualistas e afetivas.
d) Comerciais, a fim de suprir a necessidade cotidiana, pois os indivíduos necessitam
preservar seus valores religiosos.
e) Os simulacros pertencem ao mundo dos objetos, mas eles
tornam “fake” a vida na sociedade de consumo porque
denunciam o desejado, amado ou esperado,
como inatingível.
Resposta

Zygmunt Bauman reflete sobre a liquidez dos laços na sociedade pós-moderna. De acordo com
o autor, podem-se caracterizar as relações sociais como:
a) Transitórias, superficiais e impessoais, cujas associações ocorrem com base em propósitos
muitas vezes limitados e instrumentais.
b) Pessoais, com uma predominância nos contatos sociais primários.
c) Individualistas e afetivas.
d) Comerciais, a fim de suprir a necessidade cotidiana, pois os indivíduos necessitam
preservar seus valores religiosos.
e) Os simulacros pertencem ao mundo dos objetos, mas eles
tornam “fake” a vida na sociedade de consumo porque
denunciam o desejado, amado ou esperado,
como inatingível.
Referência Básica

BAUDRILLARD, J. A Sociedade de Consumo. 3. ed. Rio de Janeiro/Lisboa:


Elfos/Edição 70, 2009.
BRIGGS, A.; BURKE, P. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. 3. ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 2016.
COSTA, Fernando Perillo da. Transformações sociais do século XVIII e a consolidação do
modo de produção capitalista. In: Introdução às Ciências Sociais (coletânea) São Paulo: Ed.
Évora, 2017.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2011.
Referência Complementar

ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.


BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras
Escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1987
BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
COELHO, Cláudio Novaes Pinto; CASTRO, Valdir José de. Comunicação e Sociedade do
Espetáculo. São Paulo: Paulus, 2006.
DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo. 2. ed. São Paulo: Contraponto, 2008.
PIETROCOLA, Luci Gati. Sociedade de Consumo. São Paulo: Global, 1986.
ATÉ A PRÓXIMA!

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