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PESQUISA SOCIAL

Fernanda Picinin Moreira


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SUMÁRIO

1 FUNDAMENTOS DA PESQUISA SOCIAL .................................................... 3


2 O MÉTODO NO CONTEXTO DAS PESQUISAS SOCIAIS ............................. 17
3 NÍVEIS, INSTRUMENTOS E DELINEAMENTO DA PESQUISA .................... 32
4 DELIMITAÇÃO DO TEMA, FORMULAÇÃO DE PROBLEMA, HIPÓTESES E
JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 42
5 DELINEAMENTOS DA PESQUISA SOCIAL ................................................ 54
6 ESTRUTURA E ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA ....................... 64

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1 FUNDAMENTOS DA PESQUISA SOCIAL

Bem-vindo(a) ao estudo de fundamentos da pesquisa social!

Neste bloco, iremos realizar uma aproximação à pesquisa científica, percorrendo um


caminho histórico que começa na curiosidade humana e termina em desenvolvimento
científico. Neste percurso, entraremos em contato com o processo de construção de
conhecimento através da pesquisa social, de suas etapas de investigação, protocolos e
metodologias.

Bons estudos!

1.1 Pesquisas no âmbito do Serviço Social

No cotidiano nos parece costumeiro o processo de buscar informações, sobre algo ou


sobre alguém, com o objetivo de obter um conhecimento qualificado a respeito do
nosso objeto de curiosidade, seja ele físico ou abstrato. É a partir desta curiosidade
que o ser humano civilizado estabelece sua relação com os fenômenos sociais de sua
época, e ao mesmo tempo é capaz de resgatar e reconhecer, através da investigação,
seu processo histórico enquanto indivíduo e sua relação com o todo, no que diz
respeito a suas interações e subjetividade.

Este movimento intelectual de questionamento, de busca e de produção de


conhecimento, contribuiu, ao longo da história para o desenvolvimento dos mais
variados conhecimentos, formais ou informais, a partir de conteúdos de transmissão
oral, de textos verbais e visuais, de modo que, ao buscarmos compreender qualquer
fato, precisamos recorrer aos procedimentos de pesquisa.

O termo ‘pesquisa’, do latim perquirere, que significa procurar com afinco, consta nos
dicionários etimológicos, logo, podemos deduzir que a curiosidade humana remonta
aos mais remotos registros da civilização, sobretudo seu aparato filosófico.

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Aprofundaremos mais adiante essa discussão. Por enquanto, buscaremos identificar os


elementos de pesquisas diante da relação com o cotidiano.

Para ilustrar este processo, podemos utilizar inúmeros segmentos de pesquisa:


pesquisas de mercado, de satisfação ao cliente, de moda, comportamento ou mesmo
sites de busca online como Google e Wikipedia, nos quais o ícone de uma lupa,
representa a palavra em questão: pesquisar.

A partir dos exemplos citados acima, podemos concluir, de uma maneira geral, que a
pesquisa diz respeito ao processo de levantamento de dados e investigação sobre
determinado tema ou objeto. Umberto Eco, em seu livro, Como se faz uma tese (1977)
sintetiza quatro pontos principais para atribuir cientificidade a uma pesquisa, são eles:

O estudo debruça-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal


maneira que seja reconhecível igualmente pelos outros.
O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob uma
óptica diferente do que já se disse.
O estudo deve ser útil aos demais, ou seja, o grau de indispensabilidade que
a contribuição estabelece.
O estudo deve fornecer elementos para a verificação e contestação das
hipóteses apresentadas e, portanto, para uma continuidade pública (ECO,
1977, p.21).

Vemos, portanto, que dentre as características de uma pesquisa científica, no caso das
ciências humanas, temos o fato de ela ser subsidiada por critérios de verificabilidade,
conforme veremos ao longo deste capítulo, em que serão abordados os
procedimentos de pesquisas científicas, classificadas por métodos e categorias de
análise no âmbito do Serviço Social.

No que diz respeito ao Serviço Social, a pesquisa tem profunda relevância tanto no
âmbito da formação profissional, quanto na atuação de um Assistente Social, como
aponta Iamamoto (2013, p.273-274):

A pesquisa ocupa um papel fundamental no processo de formação


profissional do assistente social, atividade privilegiada para a solidificação
dos laços entre o ensino universitário e a realidade social e para a soldagem
das dimensões teórico-metodológicas e prático-operativas do Serviço Social,
indissociáveis de seus componentes ético-políticos.

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Ao indicar as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e prático-operativas, a


autora explicita a transformação da experiência profissional, que a partir da década de
1980, passou a atuar sob a concepção de trabalho interventivo dentro de um contexto
sócio-histórico, ou seja, não apenas como prática tecnicista e politicista da ação
profissional.

Tendo a profissão de Serviço Social, um perfil interventivo, no qual se busca não só


atuar junto as expressões da questão social, como também elaborar alternativas para
superá-las, a pesquisa se estabelece como ponte de conexão entre a teoria e a prática.

Como exemplo, suponhamos que um determinado assistente social que atue na área
da saúde desconheça as mais recentes orientações técnicas, produções acadêmicas e
demais informações oriundas de pesquisas relacionadas ao seu segmento profissional,
território e campo de atuação. Não seria semelhante a um advogado que desconheça
as portarias mais recentes, ou até mesmo um médico cirurgião que não tenha se
atualizado em relação a novos procedimentos cirúrgicos?

Para evitar que sua prática recaia em um contexto moralista e de senso comum,
defende-se a pesquisa em Serviço Social tanto para compreender os fenômenos como
para formular respostas profissionais enraizadas na realidade, além disso, é necessário
que a formação profissional sofra um

[...] “encharcamento” de informações históricas sobre a sociedade


brasileira, em suas faces rural e urbana, tendo como foco a produção e
reprodução da questão social em suas expressões nacionais, regionais e
municipais, construindo-se uma indissolúvel aliança entre teoria e realidade,
necessariamente alimentada pela pesquisa. (IAMAMOTO, 2013, p.275).

1.2 Pesquisa Social e construção do conhecimento

Após compreendermos as características de uma pesquisa científica, sobretudo com


ênfase na formação e exercício profissional no âmbito do Serviço Social, faz-se
necessário elaborar a seguinte reflexão: O que determina uma pesquisa social?

Naturalmente, podemos concluir que a pesquisa social se debruça em objetos frutos


da interação humana, de seu comportamento coletivo, sua estrutura econômica e
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contexto histórico. Contudo, para além desta investigação a respeito da sociabilidade,


a pesquisa social se propõe a oferecer uma leitura da realidade, com vistas a superar a
opinião do senso comum, a partir da construção de um conhecimento a respeito de
determinado assunto.

A medida em que as pesquisas sociais têm como objeto principal de estudo a


experiência humana, sua produção de conhecimento está apoiada no conjunto de
disciplinas das ciências sociais, ou seja: antropologia, sociologia, psicologia, história e
artes criativas, conforme sistematiza Lewin e Somekh, no livro Teoria e Métodos de
Pesquisa Social:

A antropologia contribui com uma tradição de observação participativa e


entrevistas, anotações em campo e interpretação heurística da cultura. Da
sociologia aprendemos de que maneira as relações sociais se formam ou
reproduzem. A psicologia fornece-nos uma compreensão do
comportamento humano. A história contribui com uma tradição de análise
de documentos e confere importância a registros contemporâneos, inclusive
testemunhos pessoais em cartas e livros de anotações. As artes criativas
oferecem uma tradição da estética e dão importância a criatividade e
imaginação na interpretação (LEWIN e SOMEKH, 2015, p.27).

É a partir deste conjunto de disciplinas que a pesquisa social se propõe a explicar a


realidade concreta, com o apoio de teorias e metodologias que categorizam diferentes
interpretações possíveis diante de um mesmo fenômeno social. Neste caso, convém
utilizar o conceito de teoria proposto por Minayo (2015, p.13): “o conhecimento de
que nos servimos no processo de investigação como um sistema organizado de
proposições que orientam a obtenção de dados e análise dos mesmos.”
Ao realizar este apontamento, a autora propõe que utilizemos a teoria como um
conhecimento anterior, que se relaciona com o objeto pesquisado, conhecimento este,
que contribui com análises a respeito das questões a serem aprofundadas ao longo de
uma determinada pesquisa.
Para ilustrar a discussão acima, podemos considerar como exemplo a seguinte
sugestão: Ao sermos convidados a elaborar uma narrativa histórica a respeito da
colonização brasileira, certamente iremos recorrer a livros de história, artigos
científicos dentre outras produções intelectuais fundadas a partir de registros e
documentos comprobatórios. Contudo, este mesmo fato histórico possui diferentes
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perspectivas analíticas que contribuem para a produção de conhecimento a respeito


deste tema.
Estamos na era da informação, em que muitos dados e indicadores de pesquisas
encontram-se disponíveis através da internet, no entanto, ao pesquisador social, cabe,
não apenas o levantamento das informações como também um posicionamento
político a respeito da maneira com a qual irá defender seu objeto de estudo.
Com isso, pretende-se ressaltar que a pesquisa social, fundamentada nas categorias de
análise das ciências sociais, é em sua gênese, dotada de um determinado nível de
consciência histórica social, uma vez que também é “intrínseca e extrinsecamente
ideológica” como explica Minayo (2015, p.13).

Ela veicula interesses e visões de mundo historicamente construídas,


embora suas contribuições e seus efeitos teóricos e técnicos ultrapassem as
intenções de seu desenvolvimento. No entanto, as ciências físicas e
biológicas participam de forma diferente do comprometimento social (...) na
investigação social, a relação entre o pesquisador e seu campo de estudo se
estabelecem definitivamente. A visão de mundo está implicada em todo o
processo de conhecimento, desde a concepção do objeto, aos resultados do
trabalho e à sua aplicação.

Em consonância com esta argumentação, podemos concluir que todo o repertório de


conhecimento científico, seja na sua produção, na divulgação e acesso, pode ser
utilizado como instrumento de poder, que por sua vez, pode se desdobrar em
impactos sociais positivos como a criação e aperfeiçoamento de políticas públicas, bem
como impactos negativos, com o controle de informação, tendo em vista suas
determinações políticas.

É importante acrescentar que o processo de construção do conhecimento científico,


em que se pesem todo o rol de fundamentos teóricos e metodológicos, abarca em sua
gênese as questões filosóficas relacionadas a natureza do conhecimento e da verdade
(epistemologia), dos valores (axiologia) e do ser (ontologia). Questões estas que serão
discutidas no próximo capítulo.

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1.3 Protocolos para o desenvolvimento de pesquisas científicas

A partir da leitura dos itens anteriores, podemos elaborar o seguinte raciocínio a


respeito da pesquisa social: Sua gênese é fruto da curiosidade humana, quando
subsidiada por fundamentos teóricos e metodológicos de teorias advindas das
disciplinas de ciências sociais; seu objeto de estudo é o próprio ser humano e suas
expressões sociais dentro de determinado contexto histórico; a visão de mundo
proposta pela análise da pesquisa encontra-se igualmente impregnada pela visão de
mundo do(a) pesquisador(a) que a analisa.

A definição de critérios para a elaboração de um projeto de pesquisa e sua


correspondência com as normativas para sistematização de pesquisas científicas, como
no caso brasileiro, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), assim como
elementos lógicos capazes de serem constatados a partir de algum nível de
experiência, garantem o princípio de verificabilidade.

Tais suportes contribuem para o registro histórico das pesquisas sociais, uma vez que
estas acompanham a dinâmica de relações sociais e sua consequente transformação
política e tecnológica. É a partir destas mudanças que o conhecimento científico pode
ser concebido como falível, pois uma determinada ideia ou teoria pode ser superada
por outra, a medida em que se desenvolvam novas comprovações e se aperfeiçoem as
experimentações científicas.

Para aprofundar a discussão, consideramos necessário trazer ao texto informações a


respeito das etapas de uma pesquisa, bem como suas normativas e estruturas de
pesquisa. O livro Pesquisa científica – da teoria à prática, aborda as seguintes etapas,
como explanadas na tabela abaixo:

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Tabela 1.1 – Etapas de Pesquisa

Etapa 01 Definir ou estabelecer um problema


Etapa 02 Realizar um levantamento bibliográfico sobre o tema
Etapa 03 Formular uma hipótese
Etapa 04 Estabelecer um método para a realização do trabalho
Etapa 05 Definir os instrumentos utilizados no desenvolvimento da
pesquisa
Etapa 06 Realizar a coleta de dados da pesquisa
Etapa 07 Analisar crítica, científica e rigorosamente os resultados
obtidos
Etapa 08 Delinear conclusões
Fonte: CASARIN e CASARIN, 2012, p.63. Adaptado.

Inicialmente, uma pesquisa parte de um problema, ou seja, uma questão não


resolvida. Em se tratando das pesquisas sociais, a pesquisa se inicia ao identificar ou
definir um problema. Para buscar a definição de um tema, propõe que inicialmente
seja consultada a produção científica da área a ser investigada, de modo que a
literatura específica possa oferecer conclusões, limites e ainda dúvidas em relação aos
resultados obtidos.

Ainda neste processo de iniciação em pesquisa científica, cabe ao pesquisador realizar


um levantamento do máximo de materiais produzidos na área de abrangência do
assunto, para ponderar sobre a própria possibilidade de a pergunta/problema já ter
sido respondida anteriormente, a este procedimento denominamos levantamento
bibliográfico.

Em seguida, faz-se necessária a elaboração de uma hipótese, (CASARIN e CASARIN,


2012, p.63) afirmam que esta etapa pode ser entendida como “a solução ou resposta
preliminar a um problema existente. Ela pode e deve ser formulada com base no que
se observou na fase anterior da pesquisa, ou seja: nas conclusões obtidas no
levantamento bibliográfico”.
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Seguindo os procedimentos de pesquisa, a partir da hipótese, o pesquisador precisa


definir seu modo de atuação para alcançar as respostas e resultados planejados, ou
seja, sua metodologia de trabalho. A esta etapa, cabe, a partir da natureza do
problema, bem como do próprio objeto pesquisado, a concepção da maneira com a
qual serão levantados os dados e indicadores, que por sua vez podem ser
denominados como quantitativos, qualitativos ou ambos (pesquisas mistas), que serão
discutidos nos próximos itens.

Após ter identificado a metodologia de trabalho, é preciso planejar com quais


instrumentos o pesquisador irá coletar os dados, portanto, o instrumental é a fase
conseguinte de um processo de pesquisa científico, este pode ser elaborado por
diferentes suportes, como questionários, roteiro de entrevistas abertas ou fechadas,
que variam também a partir do objeto de pesquisa.

A próxima etapa, conforme sintetizado na Tabela 1.1, (CASARIN e CASARIN, 2012,


p.63), é classificada como análise dos resultados obtidos, momento no qual cabe ao
pesquisador uma análise comparativa, para verificar compatibilidades ou diferenças
em relação aos resultados, com o intuito de verificar se as informações coletadas são
satisfatórias ou carecem de eventual revisão de instrumentos e de metodologias.

Por fim, a respeito do processo de construção de uma pesquisa científica, é necessário


que seja apresentada uma conclusão, em que, embasada nos resultados coletados e
após meticulosa análise destes, o pesquisador poderá responder sua pergunta inicial.

De acordo com o conteúdo acima, observamos que o processo de investigação de uma


pesquisa científica possui critérios normativos para seu desenvolvimento. Levando em
consideração o sistema de etapas exposto, os leitores deste conteúdo provavelmente
conseguirão minimamente vislumbrar um vestígio de seu projeto de pesquisa, tendo
em vista o conteúdo apresentado ao longo de seu processo de formação e
naturalmente, interesse por determinado tema.

Neste sentido, o Serviço Social abarca um repertório inimaginável de temas, contudo,


em sua maioria, fundamentado a partir de uma leitura crítica da sociedade e da
própria reprodução social, de tal modo que é consideravelmente relevante a produção
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de conhecimento em Serviço Social, especialmente pesquisas, cuja ambientação e


objeto possuem como pano de fundo um questionamento e por vezes, enfrentamento
da cultura dominante, seja ele baseado no repertório das demais ciências sociais, bem
como também dentro da própria literatura produzida pelo Serviço Social. Esta
inclinação provém, da própria trajetória da profissão, em que se pesem os documentos
históricos que norteiam a profissão a partir da década de 1980, a citar a Proposta
Básica para o Projeto de Formação Profissional e os Princípios e Diretrizes Curriculares
da Formação Profissional.

Para além destas motivações pessoais, profissionais e políticas que determinam o


objeto de pesquisa e seu delineamento, observaremos no próximo item, parâmetros
que definirão as possibilidades de coleta e análise dos dados investigados a partir dos
seguintes direcionamentos metodológicos: Pesquisas qualitativas; Pesquisas
quantitativas e Pesquisas mistas.

1.4 Pesquisas qualitativas

Diante da sequência de assuntos abordados no presente conteúdo, podemos chegar


neste momento à conclusão de que a pesquisa científica, para além de carecer de
critérios de verificabilidade, fundamentos e métodos bem definidos, expressa
também, sobretudo a pesquisa social, uma perspectiva que parte de um diálogo entre
o pesquisador e o objeto de pesquisa, em que se pesem todas as interferências
subjetivas, sistema de valores individuais e coletivos durante a produção e análise das
informações coletadas.

A pesquisa qualitativa se ocupa exatamente deste ambiente, “uma vez que o


pesquisador coleta os dados diretamente no contexto em que os atores vivem e
participam” (PEROVANO, 2016, p. 151), para tanto, as técnicas mais recorrentes
utilizadas são: entrevista, história oral, estudo de caso e estudos etnográficos.

Portanto, no âmbito da pesquisa qualitativa, é correto afirmar, como destaca Perovano


(2016) que cabe ao pesquisador determinar os pontos relevantes das pesquisas,

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baseadas nas suas próprias observações e vivências. Para apreender toda esta gama
subjetiva e produzir a partir dela a composição de amostras, os sistemas de
classificação, instrumentos de coleta de dados para análises e elaborações de
interpretações a respeito da construção social, destacamos aqui as principais
características da pesquisa qualitativa, explicitadas por Baptista (2012, p. 37):

Deixam a verificação das regularidades para se dedicarem à análise dos


significados que os indivíduos dão às suas ações, no espaço que constroem
as suas vidas e suas relações, ou seja à compreensão do sentido dos atos e
das decisões dos atores sociais, assim como dos vínculos das ações
particulares com o contexto social mais amplo em que estas se dão. Há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, entre o sujeito e o objeto,
entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito.

Embasados nestes elementos, podemos concluir então, que a pesquisa qualitativa é


uma metodologia que se propõe a definir não apenas a maneira com a qual os dados
da investigação serão coletados e tratados, mas também é uma metodologia que se
propõe a capturar, ao longo da pesquisa, as experiências sociais adensadas na própria
trajetória de vida dos participantes da pesquisa, de modo que sua motivação final
acaba se tornando também uma experiência social, uma vez que as conclusões de suas
análises deverá retornar aos objetos de pesquisa, contribuindo deste modo para a
leitura crítica da própria dinâmica social, tanto do pesquisador quanto do que está
sendo pesquisado. Por exemplo, uma investigação científica que vise compreender
como os(as) assistentes sociais constroem sua identidade profissional ao longo da sua
trajetória.

Neste sentido, ilustramos aqui a síntese proposta pela Maria Lucia Martinelli, que
sistematiza três considerações sobre a pesquisa qualitativa no texto: O uso de
abordagens qualitativas na pesquisa em serviço social:

1) Quanto a seu caráter inovador, como pesquisa que se insere na busca de


significados atribuídos pelos sujeitos às suas experiências sociais;

2) Quanto à dimensão política desse tipo de pesquisa que, como construção


coletiva, parte da realidade dos sujeitos e a eles retorna de forma crítica e
criativa;

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3) Exatamente por ser um exercício político, uma construção coletiva, não se


coloca como algo excludente ou hermético, é uma pesquisa que se realiza
pela via da complementariedade, não da exclusão (MARTINELLI, 2012, p.29).

1.5 Pesquisas quantitativas

Dentre os caminhos possíveis para o desenvolvimento de uma pesquisa científica, a


escolha de uma metodologia para coleta e análise de dados, como discutimos ao longo
do item anterior, é também uma escolha com intenções políticas, contudo, no caso
entre as pesquisas qualitativas e quantitativas, tal escolha não é concebida como uma
atitude excludente, como ressalta (MARTINELLI, 2012, p. 29):

É muito importante que possamos perceber com clareza e afirmar com


convicção que a relação entre a pesquisa quantitativa e qualitativa não é de
oposição, mas de complementaridade e de articulação. O uso de uma ou
outra metodologia, ou de ambas, depende essencialmente da opção do
pesquisador em função da natureza e dos objetivos da pesquisa,
relacionando-se, portanto, de modo iniludível com seu projeto político, com
seu viver histórico.

Ao ressaltarmos a complementariedade de ambos os métodos, buscamos também


pontuar as diferenças de abordagens, conforme se verá no decorrer do texto. No caso
das pesquisas quantitativas, ilustremos o seguinte exemplo de contribuição utilizando
como caso, o banco de dados de instituições como IBGE, que reúnem informações a
respeito da própria dimensão territorial brasileira, assim como expressam a
desigualdade social do país, em informações como: “Em relação ao mercado de
trabalho, pesquisa realizada em 2018, indica que 68,6% dos cargos gerenciais são
ocupados por brancos enquanto 29,9% são ocupados por pretos ou pardos (IBGE,
2019).

Ao contrário da pesquisa qualitativa, as pesquisas quantitativas possuem tradição na


composição das ciências naturais e biológicas, as quais fundamentam-se avaliações e
leituras objetivas a partir de dados numéricos e estatísticos que representam,
indicadores de análise pautados na lógica matemática. A pesquisadora Figueiredo
(2008, p. 96), indica que a pesquisa quantitativa é um método indicado para as
seguintes situações de pesquisa: “Quando é exigido um estudo exploratório para um

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conhecimento mais profundo do problema ou objeto de pesquisa; quando é


necessário um diagnóstico inicial da situação; dentre outros”.

1.6 Pesquisas mistas

Como os leitores já devem supor, a pesquisa mista tem como característica principal a
possibilidade de integração entre a pesquisa qualitativa e quantitativa, ou seja, de
elementos subjetivos e objetivos. Convém, contudo, ressaltar que para estes casos, a
integração pode ser tanto na produção do instrumental de coleta de dados, quanto ao
que se refere a análises realizadas.

Como exemplo de pesquisa mista, podemos citar uma pesquisa cujo objetivo é
conhecer o perfil profissional dos assistentes sociais trabalhadores da política de
assistência social da cidade de São Paulo. Nesse caso, podemos fazer em um primeiro
momento o levantamento do número de profissionais atuantes nessa área, dentro de
uma perspectiva quantitativa e, em um segundo momento, uma entrevista com uma
amostra desses profissionais com perguntas relacionadas a formação e dinâmica de
trabalho cotidiano, já nos utilizando de uma perspectiva qualitativa.

É importante ressaltar que, para todos os casos, os pesquisadores precisam trazer


também para a pesquisa, suas motivações de escolha por determinado método, assim
como também é necessário justificar de que forma os dados serão tratados.

Conclusão

Diante do conteúdo apresentado, observamos que os fundamentos da pesquisa social,


contribuem para o desenvolvimento de leituras de mundo, imprescindíveis para a
construção do pensamento crítico de nossa realidade social. Percebemos as
possibilidades de análises e os diferentes critérios para a elaboração de um projeto de
pesquisa, em suas características mais relevantes. Buscamos também aproximar os
leitores do processo de construção de conhecimento dentro do Serviço Social e

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constatamos a relevância da tradição de pensamento das ciências sociais em suas


diferentes disciplinas. Por fim, refletimos sobre as escolhas de metodologias de
pesquisa e sua repercussão na coleta e análise de dados científicos.

Concluímos, deste modo, que a pesquisa social é fruto da curiosidade humana e seu
processo científico é composto por elementos filosóficos, teóricos e metodológicos e
sobretudo de dimensões políticas, capazes de oferecer ao sujeito, um elo do sujeito e a
sua história, através das transformações sociais da totalidade.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, Dulce Maria Tourinho. O debate sobre o uso de técnicas qualitativas e


quantitativas de pesquisa. In: MARTINELLI, Maria Lucia. Pesquisa qualitativa: um
instigante desafio. São Paulo: Veras, 2012.

CASARIN, Helen de Castro Silva e CASARIN, Samuel José. Pesquisa Científica: Da teoria
à prática. Edição digital. Curitiba: Editora Intersaberes, 2012.

ECO, Uberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de. Método e metodologia na pesquisa científica.


São Caetano do Sul, SP: Yends Editora, 2008.

IAMAMOTO, Marilda Vilella. O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e


Formação Profissional. São Paulo: Cortez Editora, 2013.

IBGE. Estudos e Pesquisas. Informação Demográfica e Socioeconômica. n.41. 2019.


Disponível em: <https://bit.ly/3bbuoSp>. Acesso em: ago. 2020.

LEWIN, Cathy e SOMEKH, Bridget. Teorias e métodos de Pesquisa Social. Edição


digital. Petrópolis: Editora Vozes, 2015.

MARTINELLI, Maria Lucia. Pesquisa qualitativa: um instigante desafio. São Paulo:


Veras, 2012.

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MINAYO, Maria Cecilia de Souza (organizadora). Pesquisa Social: Teoria, método e


criatividade. Edição Digital. Petrópolis: Editora Vozes, 1993.

PEROVANO, Dalton Gean. Manual de metodologia da pesquisa científica. Edição


digital. Editora Intersaberes, 2016.

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2 O MÉTODO NO CONTEXTO DAS PESQUISAS SOCIAIS

Bem-vindo(a) ao estudo de método no contexto das pesquisas sociais!


Apresentaremos neste bloco uma série de informações a respeito dos principais
métodos de pesquisas sociais, trazendo também para a discussão a correlação dos
métodos com a formação e prática do Serviço Social brasileiro.

As diferentes perspectivas metodológicas discutidas no presente texto contribuirão


com uma leitura mais ampla a respeito do desenvolvimento da ciência social e sua
fecunda produção de conhecimento, fundamentais para a compreensão e reflexão do
mundo em que vivemos.

Bons estudos!

2.1 As concepções de método no contexto da pesquisa social

A teoria social, no decorrer do seu desenvolvimento, buscou decifrar as


transformações sociais, políticas e tecnológicas ao longo da história e justamente por
isso, precisou ter suportes metodológicos tão dinâmicos quanto a própria realidade na
qual encontra-se inscrita.

Por outro lado, em um primeiro momento a ciência impôs ao método científico bases
universais para “estabelecer a distinção e superioridade em relação a outras
modalidades do saber.” (MEDEIROS, 2013, p.18). Contudo, como reunir e
operacionalizar métodos semelhantes para áreas de abrangência tão distintas quanto
as ciências biológicas, físicas e sociais?

Eis o grande desafio “entre estudar seres humanos e objetos da natureza” (MEDEIROS,
2013, p.18), pois um cientista social, “não atua apenas como um pesquisador, mas
também como um cidadão” (MEDEIROS, 2013, p.21), com todo seu repertório de
circunstâncias históricas, sociais e culturais. Entretanto, cabe estabelecer um paralelo
entre o pesquisador e o cidadão, que existe em todo cientista social, a partir do

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seguinte exemplo: O pesquisador se vale de procedimentos técnicos e científicos para


produzir uma leitura crítica da realidade, enquanto o cidadão reproduz, a partir de
uma interpretação prática de suas ações e leituras do cotidiano. Para ampliar esta
discussão, apresentamos abaixo a síntese produzida no texto “Teoria, método e escrita
em ciência e pesquisa”:

Na distinção entre saberes, é possível admitir que o senso comum orienta a


ação cotidiana, ao passo que a ciência busca ultrapassar as fronteiras desse
cotidiano ao observar, descrever, ordenar e explicar o extraordinário. Assim,
mesmo que a ciência possa relacionar-se com a vida cotidiana, é sempre na
atitude de problematizar o cotidiano que encontramos qualquer ciência em
sua gênese (BIANCHETTI, MEKSENAS, 2008, p.149).

Diante deste contexto, tendo a pesquisa social uma profunda interface no cotidiano,
inúmeros questionamentos podem surgir, por exemplo, a respeito da própria ética de
pesquisa, ou da afirmação de uma ciência tão flutuante, em comparação às ciências
naturais e biológicas.

No caso da pesquisa social, algumas escolas de pensamento defendem a necessidade


de suspensão dos pesquisadores a respeito do conteúdo investigado, como o caso do
método positivista, que só considera conhecimento aquilo que pode ser comprovado
cientificamente, outros, porém, defendem que a interferência da visão de mundo
cientificista precisa ser incorporada aos elementos da pesquisa, de modo crítico, sob o
prisma de desenvolvimento de consciência a respeito da totalidade, pois partem do
princípio de que o campo subjetivo do indivíduo interage diretamente com a
dinamicidade do ambiente social no qual este se situa.

Em todo caso, o fio condutor que garante aos pesquisadores a confiança a respeito de
seus procedimentos investigativos é o método utilizado, uma vez que é dentro deste
que as conclusões apresentadas poderão ser questionadas, problematizadas e até
superadas, abrindo caminho para novos questionamentos, tendo em vista os sistemas
de regras estabelecidas no determinado método de pesquisa.

Discutido acima as implicações da pesquisa social em determinação do próprio


ambiente no qual se fundam sua produção de conhecimento, experiência, vivência e

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análise, podemos concluir que diferentemente de um laboratório de biologia, os


objetos de pesquisa encontram-se em interação constante, de modo que para
acompanhar seu processo dinâmico, ao longo da história, foram igualmente ampliados
os métodos que conduzem a investigação social.

Este movimento de investigação social é fruto de uma transformação na leitura de


mundo, que anterior às ciências sociais, surge na filosofia moderna, em que o
questionamento e reflexão sobre como é composto o conhecimento da realidade, teve
maior ênfase. Ao longo do tempo foram consolidadas correntes filosóficas que
buscaram compreender através de diferentes explicações e problematizações
questões como a natureza das afirmações e conhecimentos científicos, suas formas de
produção e meios para determinar a validade da informação produzida, a formulação
e utilização dos métodos científicos, seus argumentos e implicações para a sociedade e
para a ciência, estas discussões e análises se amparam no conhecimento advindo de
determinado grupo de pensadores que defendem formas de interpretação da
realidade, bem como seus fundamentos e pressupostos, que serão apresentados no
decorrer do presente texto.

2.2 A relevância da definição do método nas pesquisas sociais

A pesquisa social tem dimensões técnicas, ideológicas e científicas, logo, constatamos


que esta elaboração racional precisa obedecer a métodos, processos e técnicas. Para
aprofundar esta discussão, iremos ao longo deste capítulo, apresentar as diferentes
concepções de métodos e suas correlações teóricas, contudo, convém para o
momento a compreensão do seguinte conceito de método:

O método deriva da metodologia e trata do conjunto de processos pelos


quais se torna possível conhecer uma realidade específica, produzir um
dado objeto ou desenvolver certos procedimentos ou comportamentos. Ele
compreende um processo tanto intelectual como operacional (DIEHL,
TATIM, 2004, p.48).

Considerando que método é a abordagem necessária para que pesquisadores


viabilizem as respostas em torno de seu objeto de pesquisa, sua escolha por este

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método ou aquele influi diretamente na leitura que fundamentará a discussão do


projeto, sobretudo com qual acesso ou percurso irá propor para solucionar suas
investigações. Por este motivo, seu processo é intelectual.

O método determinará também a forma com a qual serão elaborados os instrumentos


de coleta de dados, ou seja, o conjunto de técnicas que irão garantir a
operacionalidade da pesquisa e a qualidade das informações obtidas. Por este motivo,
podemos considerar o método também como um processo operacional.

Ressaltamos novamente a importância de uma reflexão minuciosa em relação à


escolha do método utilizado, para tanto, ao longo do presente capítulo, iremos
apresentar classificações de métodos baseados nas seguintes teorias: teoria
positivista; no materialismo histórico e dialético; no pensamento complexo e na teoria
fenomenológica.

O objetivo desta exposição é garantir que os leitores compreendam que a observação


do mundo, a partir da pesquisa social, pressupõe o bom manejo com os fundamentos
do método adotado, para o devido aprofundamento crítico diante do fundamento
teórico da abordagem definida. A este respeito, Medeiros (2013, p.14), simplifica a
discussão ao produzir a seguinte síntese: “As técnicas de pesquisa que compõem o
método científico têm como função aprimorar, afinar e fornecer precisão aos sentidos
do cientista”.

Este aprimoramento conduz o próprio pesquisador a um longo caminho reflexivo, no


qual, sua percepção a respeito do tema de pesquisa se transforma em uma leitura
cada vez mais consistente da realidade observada, qualificando não apenas sua leitura,
mas fatalmente as conclusões que serão obtidas quando do término da pesquisa.

Dito isto, podemos afirmar que o método científico se diferencia da simples


observação, uma vez que fornece conteúdo aos fatos, como argumenta ainda
Medeiros (2013,p.18), ao sistematizar conclusões acerca do método científico:
“comportam concepções de mundo e realidade”, suas “técnicas, procedimentos e
etapas” garantem objetividade, padrão e especializa o pesquisador, “reduzindo a
interferência dos fatores pessoais e idiossincráticos na observação".
20
,

A partir destes elementos, podemos concluir que a definição do método nas pesquisas
sociais, constitui-se como uma determinante, uma vez que cada método implica em
uma perspectiva diferente de análise, ou seja, podemos chegar a conclusões distintas
em relação a um mesmo objeto de estudo, em função do método empregado.

Detalhamos anteriormente a importância do método para a produção do


conhecimento científico, discutimos também a posição do pesquisador no que se
refere ao processo de escolha da metodologia a ser empregada.

Iniciaremos agora um aprofundamento de algumas das teorias que embasam os


métodos de pesquisa, apresentando seus contextos históricos, evolução do
pensamento, principais autores e demais características. A ordem de apresentações
pode ser compreendida também como uma maneira de categorizar as influências e
registrar o próprio momento histórico de nossa civilização. Também iremos realizar
alguns apontamentos a respeito da teoria positivista, materialismo histórico dialético,
pensamento complexo e fenomenologia.

2.3 O método baseado na teoria positivista

Pode parecer um exagero, mas para compreender a teoria positivista precisamos


voltar para o final da Idade Média, época na qual o homem (no sentido genérico), que
antes tinha sua leitura de mundo explicada por meio do conhecimento teológico,
passa a buscar critérios e procedimentos de verificação capazes de explicar sua relação
com a natureza. Surge aí a ênfase de experiências pautadas em métodos de
observação, que contribuem para uma mudança de perspectiva oposta ao
pensamento da idade média, marcada pela forte influência de crenças e superstições.

Este breve contexto histórico favorece a leitura de uma corrente filosófica que surge
entre o final da idade média e nascimento da sociedade industrial, tendo como
característica a interpretação dos fatos e a classificação de conhecimento por meio de
valores racionais, com base apenas no mundo físico e material, o argumento abaixo
ilustra esta percepção:

21
,

O fundamental no processo de constituição da ciência moderna foi o


divórcio entre o fato e o valor, realidade e verdade, objeto e sujeito (...)
Nasce um homem moderno para pensar, trabalhar e agir sobre o mundo
externo: um mundo desencantado, materializado, do qual Deus foi expulso.
(...) a natureza deve ser descoberta pelo homem para os seus próprios fins.
Instala-se no pensamento ocidental a racionalidade dos fins, na qual estão
separados o homem interior e exterior (DIEHL, TATIM, 2004, p. 21).

Este movimento de descoberta pelo homem, foi capaz de conduzir um processo de


sistematização científico, com o objetivo de alcançar o progresso humano, atribuindo à
ciência a responsabilidade de superação das questões sociais, da mesma forma com a
qual se propõe a lidar com fenômenos naturais como física, química e biologia.

Deste modo adentramos na perspectiva positivista, utilizando um argumento que


encontra-se na Lei dos Três Estados, escrita por Augusto Comte (1798-1857), pensador
francês representante do positivismo, que classifica a história da humanidade
cronologicamente a partir dos seguintes estados: Estado teológico, no qual a
explicação de mundo é sobrenatural; estado metafísico, o homem substitui o
sobrenatural pelo abstrato e por fim o estado positivo, em que o homem passa a
valorizar a lógica e a produção de conhecimento científico.

Diante desse contexto, o método positivista pode ser compreendido como movimento
racionalista que:

Só se pode basear a explicação em eventos observáveis e mensuráveis, (Esta


ontologia empirista visa resguardar contra o misticismo metafísico onde a
explicação se baseia na autoridade, aceitando-se o que alguém disse sem
olhar nem medir. A ciência positivista, vê os dados como fatos não
influenciados por valores (...), crenças, emoções e valores estão fora da
ciência, cujo propósito é restringir-se àquilo que podemos observar (LEWIN,
SOMEKH, 2015, p.23).

Sua relação com o processo de produção de conhecimento nas ciências sociais está
relacionada, em alguma instância, às pesquisas científicas e ações advindas de
interpretações quantitativas da realidade social, pautadas na objetividade e
causalidade.

22
,

Neste contexto, aproveitamos para relacionar o referido conteúdo com a prática do


serviço social em seu primeiro processo de profissionalização, em que a Igreja Católica
e suas ações de benevolência, acrescida da influência positivista, tinha suas
intervenções pautadas nos procedimentos técnicos capazes realizar a manutenção da
ordem estabelecida, ou seja, cabia ao Serviço Social a função de ajustar os sujeitos às
expressões da questão social, percebida como uma questão natural, pelo prisma
positivista, de modo que, ao sujeito pobre, por exemplo, cabia a sua resignação diante
da pobreza, uma vez que é responsabilidade sua a condição na qual se encontra.

2.4 O método baseado no materialismo histórico dialético

Impossível apresentar uma discussão prévia acerca do materialismo histórico dialético


sem considerar a produção teórica de Karl Marx (1818-1883), filósofo e pensador,
vinte anos mais novo que Augusto Comte, que desenvolveu o conceito de
materialismo histórico dialético, em contraponto às ideias positivistas.

Enquanto Augusto Comte e os demais positivistas, buscavam justificar a sociedade


com base em raciocínios lógicos em uma perspectiva de análise dos conteúdos
aparentes, aplicando bases da ciência natural para a explicação dos fenômenos sociais,
Marx propôs um sistema interpretativo no qual uma teoria social só pode ser
concebida dentro de um determinado contexto histórico.

Para além da interpretação da realidade, é fundamental que a teoria apresente


condições de transformação desta realidade, diferentemente de pesquisas e
produções científicas de cunhos confirmatórios e de rasa intervenção política, uma vez
que é o próprio homem e sua comunidade o único capaz de construir sua história,
como ilustra o seguinte trecho:

Para ser materialista, histórica e dialética, a investigação deve considerar a


concretude, a totalidade e a dinâmica dos fenômenos sociais, que não são
definidos à priori, mas construídos historicamente (CARVALHO, 2008, p. 38).

23
,

As explicações da realidade pautadas no materialismo histórico dialético, consideram o


argumento de que ao longo da história, a sociedade manteve a seguinte estrutura de
classes: A classe dominante, detentora dos meios de produção, e a classe dominada,
cujo tempo e força de trabalho eram negociadas com a primeira. Marx aponta que
para a manutenção deste sistema, existe um movimento de contradições e forças
opostas, contudo, as estratégias de dominação vão para além do controle material,
mas também da própria dimensão intelectual de determinado tempo. Como ressalta a
citação abaixo:

As ideias das classes dominantes, em todas as épocas, são as ideias


dominantes: i.e., a classe que é força material governante da sociedade é ao
mesmo tempo sua força governante intelectual. A classe que tem à
disposição os meios de produção material controla concomitantemente os
meios de produção intelectual, de sorte que, por essa razão, geralmente as
ideias daqueles que carecem desses meios ficam subordinadas a ela (MARX
e ENGELS, 1986, apud FRIGOTTO, 1991, p. 41)

Ao contrário da busca por compreensão racional positivista, o materialismo histórico


dialético se configurou como uma perspectiva transformadora, de tal modo que a
própria ciência poderia promover uma transformação na sociedade, quando fosse
capaz de conciliar a consciência social e a ação social, traduzida pelo conceito de
práxis, através do qual o homem poderia superar a estrutura estabelecida, a partir de
uma percepção crítica da totalidade.

Pois bem, com base no conteúdo apresentado, podemos observar a relação do


materialismo histórico dialético com uma percepção não apenas filosófica, mas
também metodológica e interventiva, especialmente a respeito das contradições de
forças e interesses no decorrer da civilização humana, mas afinal, por que seria
dialético?

‘Dialética’ é uma palavra de origem grega, que tinha como significado algo próximo de
“o caminho entre as ideias”. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), do qual Marx
fora contemporâneo, utilizou a mesma palavra para denominar uma forma de pensar a
realidade, diante do fluir dos acontecimentos e do contraditório em torno dos fatos,
de modo que para este processo, identificou as três seguintes etapas: tese, antítese e

24
,

síntese, por meio das quais a razão determinaria a realidade concreta. Esse era um
ponto de discordância entre Hegel e Marx, em relação à dialética. Marx afirmava que o
mundo material é quem determinaria a ideia, questão fundamental para a
compreensão de suas concepções filosóficas. Para aproximar o leitor a uma
investigação mais detalhada, convido-o a analisar as próprias palavras de Marx:

Meu método dialético, por seu fundamento, não só difere do método


hegeliano, como também é a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o
processo do pensamento – que ele transforma em um sujeito autônomo sob
o nome de ideia – é o criador do real, e o real é apenas sua aparição
externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material
transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado (MARX,
1974, p. 27).

O materialismo histórico dialético causou muitas repercussões ao longo dos séculos


XIX e XX, inspirando práticas revolucionárias e reacionárias também. A história do
Serviço Social brasileiro ilustra bem este contexto de transição do métodos positivistas
para a perspectiva do materialismo histórico dialético, tendo em vista que este é um
método de análise sociológica, que coloca o homem como o produtor da própria
história, individual e coletiva, apesar de estar dentro de determinado tempo histórico
em que se pesem todas as suas contradições. Este raciocínio foi fundamental para
garantir ao/a profissional a manutenção de uma postura interventiva em oposição às
determinações das forças produtivas e instrumentos de controle da organização social.

2.5 O método baseado no pensamento complexo

O pensamento complexo é uma teoria social fruto da década de 1960, seu principal
pensador foi o filósofo francês Edgar Morin, nascido em 1921, aproximadamente cem
anos depois do nascimento de Marx. Em suas ideias, o filósofo propôs uma
reconciliação entre o conhecimento da experiência (ciência) com a experiência do
conhecimento (consciência), de forma que, a complexidade estaria na mediação entre
a simplicidade do cotidiano e o rigor do pensamento científico.

25
,

Em sua perspectiva, a teoria e prática não são excludentes, mas complementares,


neste sentido, cabe à ciência contemporânea adotar uma visão mais ampla para
garantir a aproximação devida com os objetos de pesquisas sociais. Como ilustração
deste raciocínio, o pensamento complexo leva em consideração não apenas uma
aproximação física e econômica, mas também uma investigação que considere os
aspectos culturais desenvolvidos por cada povo, uma vez que estes elementos são
singulares e de difícil captura no que se refere à procedimentos lógicos e padronizados
de análises.

Uma das críticas do pensamento complexo, em relação aos demais métodos, é o fato
de o saber científico do início do século XX, ainda em repercussão do desenvolvimento
industrial e tecnológico, oferecer um conhecimento fragmentado da experiência
humana, em que, em meio a tantas especialidades e capacidades analíticas, o próprio
conhecimento deixou de fazer sentido na vida do sujeito comum. Portanto, o
pensamento complexo se propõe a promover a reconexão dos diversos tipos de
pensamento, do lógico ao mágico, do empírico ao imaginário.

Ao contrário de sobrepor uma ciência à outra, o pensamento complexo articula estes


saberes com a prerrogativa de inserir na consciência científica a rede complexa na qual
o homem vive. Em síntese ao conteúdo exposto até o momento, podemos neste
momento refletir acerca do sistema complexo através de seus três princípios:

1) Dialógica: Não há possibilidade de impor uma verdade a determinada


sociedade que tem ideais e formações diferentes, de modo que existem,
portanto, contradições insuperáveis;

2) Princípio da recursão organizacional: “Os indivíduos humanos produzem a


sociedade e mediante suas interações, mas a sociedade, enquanto um todo
emergente, produz a humanidade destes indivíduos, trazendo-lhes a
linguagem e a cultura;

3) Princípio Hologramático: “O indivíduo é uma parte da sociedade, mas a


sociedade está presente em cada indivíduo enquanto todo, através de sua
linguagem, cultura e suas normas (MORIN, LEMOIGNE, 2000, p. 205).

Para além dos princípios, o sistema complexo se apoia em três teorias, são elas:
informação, ou seja, princípios de codificação e de troca de informações; cibernética,
que por sua vez se refere a maneira de regular a maneira pré-programada de
26
,

funcionamento das partes ou do orgânico em si. A terceira teoria diz respeito aos
sistemas, que representam a investigação de todos os princípios comuns a todas as
entidades complexas, bem como dos modelos possíveis para a sua descrição.

Segue abaixo uma das sínteses de Morin a respeito do método do pensamento


complexo:

A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido de constituintes


heterogêneas inseparavelmente associadas: Ela coloca o paradoxo do uno e
do múltiplo. Num segundo momento a complexidade é efetivamente o
tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações,
acasos, que constituem nosso mundo fenomênico (MORIN, 2005, p.13).

Ao serviço social, o pensamento complexo pode contribuir tanto para a produção de


pesquisas científicas quanto também para o próprio exercício profissional, uma vez
que a este profissional, são apresentadas, pelos sujeitos, pelos coletivos e também
pelas expressões da questão social, as mais variadas situações, nas quais sempre
predomina a experiência humana, vinculada a histórias de sofrimento, perda e
ruptura. De modo que nestas condições é possível afirmar que o Serviço Social é uma
profissão complexa, que precisa se munir de reflexões críticas e teórico-metodológicas
para garantir uma leitura fundamentada a respeito destes fenômenos.

2.6 O método baseado na teoria fenomenológica

A fenomenologia é supostamente reflexo de um encontro entre a matemática e a


psicologia, pois seu principal idealizador, enquanto método científico, é o matemático
e filósofo alemão, Edmund Husserl (1859-1938). Sua contribuição para o método
fenomenológico possui relação com as conferências do psicólogo alemão Franz
Brentano (1838-1917), professor da Universidade de Viena, que tinha como
perspectiva inicial a separação dos fenômenos psicológicos e dos físicos.

A fenomenologia, a partir das ideias de Husserl, se apresenta como um método de


investigação que tem como propósito apreender o fenômeno, ou seja, toda a aparição

27
,

que se assimila através da consciência. Em sua inquietação filosófica, de acordo com


Ziles:

Coloca a questão nos seguintes termos: como é possível que o sujeito


cognoscente alcance, com certeza e evidência, uma realidade que lhe é
exterior? A noese são os atos pelos quais a consciência visa um certo objeto
de uma certa maneira, e o conteúdo ou significado desses objetos visados é
o noema. No nível transcendental, as noeses são os atos do sujeito
constituinte que criam os noemas enquanto puras idealidades ou
significações. As noeses empíricas são passivas, porque visam uma
significação preexistente; a noese transcendental é ativa, porque constitui as
próprias significações ideais (ZILES, 2007, p.218).

Neste sentido, o uso da pesquisa qualitativa é frequente no método fenomenológico,


uma vez que a integração entre a consciência e a realidade são expressas a partir da
percepção dos fenômenos, de modo que, para investigar um fenômeno, deve-se
observar a forma como o indivíduo o percebe, como o experimenta e como elabora
esta experimentação. Portanto, é a partir do significado e vivência atribuídos pelo
sujeito, que a fenomenologia se propõe a sistematizar a leitura da realidade.

Diante do exposto, podemos também afirmar, na perspectiva fenomenológica, a


existência de dois campos de percepção do sujeito: O lado externo, material, objetivo
e observável e o lado interno, subjetivo, campo de emoções sensações e pensamentos.

É exatamente a partir da apreensão do relato, com o devido enfoque na subjetividade


do objeto em questão, que o método se desenvolve. Em um primeiro nível, se
assimilam as dimensões do cotidiano experimentado pelo homem, e em um segundo
momento, se sistematizam as possibilidades de reinterpretação da experiência,
através do conhecimento científico.

Preocupa-se com a descrição direta da experiência tal como ela é. A


realidade construída socialmente, é entendida como o compreendido, o
interpretado, o comunicado. Assim, ela não é única: Existem tantas quantas
forem suas interpretações e comunicações, e o sujeito/ator é
reconhecidamente importante no processo de construção do conhecimento
(DIEHL, TATIM, 2004, p. 50).

28
,

O método fenomenológico se opõe ao positivismo, por refutar explicações totalizantes


e absolutas. De alguma maneira, também se opõe ao materialismo histórico dialético,
quando não inclui em suas análises os fenômenos estruturais como o conflito de
classes, tampouco o elemento histórico que compõe o fato social.

No Serviço Social, observamos a tendência da fenomenologia, com o movimento de


reatualização do conservadorismo, em meados da década de 1970, em que houve uma
tendência fundada na perspectiva de ajuda psicossocial. Em suma, Netto (2005, p.
158), resume com clareza este momento, ao destacar ao mesmo tempo a recusa ao
positivismo e os debates incipientes sobre a teoria marxiana, de modo que foram
dissolvidas as possibilidades de uma análise mais rigorosa e crítica das realidades, com
a ênfase no traço microscópico da profissão, a partir de uma ciência que apresenta a
tendência da compreensão, ao invés da transformação social.

Conclusão

Observamos ao longo do conteúdo apresentado, que cada método corresponde com o


tempo histórico no qual encontra-se inserido, naturalmente, a ciência possui um longo
caminho até a chegada do positivismo enquanto corrente filosófica e metodológica,
contudo, a sequência apresentada foi iniciada pelo próprio positivismo para
demonstrar ao leitor que o processo de transformações sociais e de desenvolvimento
tecnológico, são determinantes para o desenvolvimento ou maior aplicabilidade de
determinado método.

Podemos concluir que mesmo sendo a ciência social tão dinâmica quanto as próprias
relações sociais, não podemos perder de vista os fundamentos que direcionaram a
produção do conhecimento, especialmente a partir da revolução industrial cujo
impacto político e econômico, reverberam questões presentes em nosso cotidiano até
os dias atuais, do mesmo modo que os métodos apresentados no presente conteúdo.
Por fim, podemos afirmar que a sintética aproximação dos métodos com os diferentes
momentos históricos do Serviço Social, também apresentados, oferecem uma
aproximação maior do leitor aos principais traços históricos da profissão, e se coloca
29
,

neste texto como um convite para que os temas sejam aprofundados durante seu
processo de formação.

REFERÊNCIAS

BIANCHETTI, Lucídio e MEKSENAS, Paulo (orgs.). Trama do conhecimento: Teoria,


método e escrita em ciência e pesquisa. Campinas, SP: Papirus, 2008.

CARVALHO, Edmilson. A produção dialética do conhecimento. São Paulo: Xamã, 2008.

DIEHL, Astor Antonio e TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em ciências sociais


aplicadas: método e técnicas. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

FRIGOTTO, Gaudêncio. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa


educacional. In: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Metodologia da pesquisa
educacional. São Paulo: Cortez, 1991.

LEWIN, Cathy e SOMEKH, Bridget. Teorias e métodos de Pesquisa Social. Edição


digital. Petrópolis: Editora Vozes, 2015.

MARX, Karl. Para a crítica da economia política e outros escritos. São Paulo: Abril,
1974. (Coleção Os Pensadores).

MEDEIROS, Alexandre da Silva. Perspectivas e problemas de método na pesquisa em


ciências sociais. In: PREMEBIDA, Adriano et al. Pesquisa Social [livro eletrônico],
Curitiba: editora InterSaberes, 2013.

MORIN, Edgar e LEMOIGNE, Jean-Louis. A inteligência da complexidade. São Paulo:


Periópolis, 2000.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005

NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do serviço social no pós-
64., São Paulo: Cortez, 2005.

30
,

ZILES, Urbano. Fenomenologia e teoria do conhecimento em Husserl. Rev. abordagem


gestalt. [online]. 2007, vol.13, n.2, pp. 216-221. Disponível em:
<https://bit.ly/3blkgGO>. Acesso em: jul. 2020.

31
,

3 NÍVEIS, INSTRUMENTOS E DELINEAMENTO DA PESQUISA

Bem-vindo(a) ao estudo de níveis, instrumentos e delineamento de pesquisa. Neste


bloco iremos abordar uma série de informações a respeito do processo de
sistematização de uma pesquisa, com ênfase na discussão a respeito dos instrumentos
de pesquisa e suas aplicabilidades de acordo com o objeto de pesquisa a ser
investigado.

A presente discussão oferece aos leitores um aprofundamento em relação às


possibilidades de abordagens e métodos de coletas de dados, questões fundamentais
para o desenvolvimento de uma boa pesquisa científica. Também apresentaremos os
principais processos referente às etapas de pesquisa, de modo que ao término do
presente conteúdo, a aproximação do leitor com os elementos práticos da pesquisa
seja efetiva, tanto para seu processo de produção em pesquisas científicas, quanto
para a própria relação com a produção de conhecimento advindo das ciências sociais.

Bons estudos!

3.1 Os níveis da pesquisa social

Para direcionar a pesquisa científica, no que se refere a coleta de dados e respectiva


análise, é necessário que o desenho de pesquisa seja bem elaborado, portanto, cabe
aos pesquisadores um levantamento no qual o mesmo deverá constatar se o tema em
questão é original ou inédito, bem como faz-se necessário que os cientistas tenham
clareza das estratégias de pesquisa que serão adotadas. Para garantir ao leitor uma
noção a respeito deste processo da elaboração da pesquisa, detalharemos abaixo
quatro principais níveis de pesquisa: exploratório, descritivo, correlacional e
explicativo.

O estudo exploratório tem como característica um processo de investigação e análise


de fenômenos com poucas informações registradas no campo da ciência, portanto, se

32
,

detém em procedimentos que possam reunir uma gama de conhecimentos acerca do


tema, de modo que contribua futuramente com outros métodos de análises. Perovano
(2016, p.165) acrescenta que:

Como a sua característica principal é a de exploração de variáveis contidas


na pergunta da pesquisa, os estudos exploratórios não apresentam
hipóteses. As variáveis devem ter um tratamento diferenciado em relação
aos outros tipos de estudo; devem ser traduzidas e interpretadas de acordo
com sua conexão com o meio em que se encontram e gerar uma rede de
explicações.

Logo, podemos concluir que a pesquisa exploratória é, de alguma maneira, uma


pesquisa preparatória em relação a um tema que não foi tão discutido pela
comunidade científica, ou eventualmente, em relação a uma pesquisa já realizada,
contudo, vista a partir de um novo ponto de vista. Não são apresentadas hipóteses,
uma vez que em sua estratégia toma-se como objetivo o levantamento de dados a
respeito de determinado tema.

A pesquisa descritiva tem em sua natureza a função de especificar características e


perfis, nestes casos, quando a escolha se refere a estudos quantitativos, é fundamental
a coleta de dados para em seguida medir suas variáveis. Nas ocasiões de pesquisas
qualitativas, coletam-se os dados e durante o processo de análise, busca-se
compreender as motivações e determinações das variáveis (PEROVANO, 2016, p. 155).

No estudo descritivo, não são realizados cruzamento de variáveis e indicadores, uma


vez que seu processo de investigação se limita apenas a descrever as informações
coletadas durante a pesquisa, de modo a inspecionar com precisão as características e
atributos do objeto estudado. Um ponto importante destacado por Perovano (2016), é
da relevância de registro do ambiente no qual a pesquisa é realizada, questão de
grande influência na explicação dos dados.

A pesquisa correlacional se propõe a analisar a relação entre duas ou mais variáveis,


conceitos ou categorias de um fenômeno, por este motivo, as perguntas do problema
de pesquisa dizem respeito às diferenças ou comparações entre conceitos e grupos.

33
,

Em relação às possibilidades de pesquisas qualitativas e quantitativas, no âmbito da


pesquisa correlacional, Perovano destaca as seguintes considerações:

Na pesquisa qualitativa a correlação requer explicações bem estruturadas e


elaboradas (...) quanto maior a profundidade conceitual na descrição das
variáveis, melhores serão os resultados das análises. Na pesquisa
quantitativa, como podem ser utilizados softwares estatísticos, é possível a
adoção de um número maior de variáveis para efetuar as correlações.
(PEROVANO, 2016, p. 161).

A pesquisa explicativa visa estabelecer a relação entre conceito e acontecimento,


busca apontar as motivações dos fenômenos e as condições nas quais estes ocorrem.
Deste modo, o pesquisador vai além da descrição, busca também esclarecimentos em
relação ao objeto estudado, neste caso, a própria elaboração do problema de pesquisa
precisa ser pensado de modo que, contenha em seu questionamento as condições de
respostas qualificadas de maneira compatível com o próprio desempenho da pesquisa,
como explana Perovano (2016, p. 165)

As perguntas a serem realizadas ao objeto de pesquisa se refere a “como”


ou “porque”, as variáveis se encontram relacionadas. Portanto, no
momento da construção das perguntas de pesquisa, devemos incluir nas
perguntas a relação de causação (causa e efeito), referentes aos fatos ou
fenômeno estudado. As explicações sobre as relações das variáveis
dependerão da qualidade das perguntas e do nível de aprofundamento das
variáveis.

Após sintetizar os níveis de pesquisa, convém apresentar ao leitor os principais


procedimentos relacionados ao processo de delineamento da pesquisa, ou seja, a
forma com a qual a mesma será desenhada, sobretudo questões que dizem respeito à
sua aplicabilidade, por exemplo, o modo com o qual serão levantadas as informações a
serem estudadas. A este respeito, Gil, afirma:

O elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o


procedimento adotado para a coleta de dados. Assim, podem ser definidos
dois grandes grupos de delineamentos: aqueles que se valem das chamadas
fontes de "papel" e aqueles cujos dados são fornecidos por pessoas. No
primeiro grupo estão a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. No
segundo estão a pesquisa experimental, a pesquisa ex-post-facto, o
levantamento, o estudo de campo e o estudo de caso. (GIL, 2008, p.50)

34
,

Neste caso, tanto as pesquisas qualitativas quanto as quantitativas, possuem em


comum o objetivo de promover a conciliação ou o conflito entre a visão teórica do
problema com os próprios dados expressos na dinâmica da realidade. O delineamento
da pesquisa se atém aos problemas mais práticos desta investigação, portanto, é neste
processo que são definidas as estratégias ou plano de viabilidade da pesquisa. Alguns
procedimentos serão abordados no decorrer do capítulo, contudo, convém apresentar
ao leitor alguns exemplos: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa
experimental, pesquisa participante e etnográfica. Alguns dos procedimentos citados
serão aprofundados no decorrer dos próximos capítulos.

3.2 Instrumentos de pesquisas

Os instrumentos de pesquisa indicam as técnicas utilizadas para a coleta de dados,


como entrevista, questionário, formulário etc. Ou melhor, como explica Rudio (1986,
114), “chame-se de instrumento de pesquisa o que é utilizado para a coleta de dados.”
Neste sentido, o leitor poderia nomear infindáveis instrumentos de pesquisa,
especialmente em nosso mundo contemporâneo. Neste texto, apresentaremos os
principais instrumentos de pesquisa: a observação, o questionário, a entrevista e o
levantamento bibliográfico.

Dentre as motivações que justificam os critérios destes instrumentos, encontram-se as


qualidades de validade e fidedignidade dos instrumentos convencionais, para
compreender este raciocínio, Rudio (1986) qualifica o instrumento de pesquisa que
possui validade como aquele que “mede o que pretende medir”. Em relação à
fidedignidade, diz respeito a capacidade deste instrumento ser aplicado à mesma
amostra e oferecer ainda assim, consistentemente os mesmos resultados (RUDIO,
1986, p.114).

Durante a elaboração do instrumento de pesquisa, é importante que haja um plano


lógico e ordenado, de tal forma que se torna imprescindível a sistematização das
informações necessárias para responder aos problemas da pesquisa. Também é
necessário considerar nesta etapa a maneira com a qual serão obtidos os dados, sendo
35
,

eles classificados como diretos: entrevistas e questionários e a observação, quando se


utiliza de fontes primárias para o levantamento de dados. E indiretos: nesse caso os
dados serão obtidos através de documentos e consultas bibliográficas, ou seja, por
meio de fontes secundárias. As motivações que determinam a distinção entre os
instrumentos de pesquisa diretos e indiretos, pode ser compreendida a partir da
seguinte provocação:

Tanto o questionário quanto a entrevista servem para obter informações


que não poderiam ser colhidas através de outros meios. Assim, não tem
sentido, por exemplo, aplicar um questionário para os alunos de uma Escola,
para que respondam que notas obtiveram no ano passado (...), pois
podemos obtê-las, consultando simplesmente as fichas dos referidos alunos
(RUDIO, 1986, p.118).

Para uma visualização mais ampla sobre as possibilidades de uso dos instrumentos, na
tabela abaixo, apresentamos os tipos de coletas de dados que podem ser utilizados
nos processos de pesquisa e as opções apresentadas a partir dos mesmos.

Tabela 3.1 – Coleta de dados

Fonte: PEROVANO, 2016, p. 211/212. Adaptado.


36
,

3.3 Pesquisa pura

A pesquisa pura, fundamental ou básica, tem como característica principal a produção


de conhecimento pautado na busca da compreensão dos fenômenos, sem um
propósito específico para a aplicação do conhecimento investigado. Neste sentido, a
pesquisa pura promove em seu repertório o aprofundamento de conhecimentos que
podem tanto atualizar as leituras de determinado fenômeno, sob uma perspectiva de
descrição, como contribuir na sistematização das ideias referentes ao objeto
pesquisado.

A ciência pura, em uma perspectiva filosófica, denota em sua compreensão a


superioridade do homem em relação aos demais animais, pelo fato do homem
produzir um conhecimento que em sua essência, não seria especificamente necessário
para sua sobrevivência. O que se procura não é resolver o problema em si, mas
desenvolver uma base sistêmica de elementos para serem abordados, por vezes até
mesmo através da pesquisa aplicada, como veremos adiante. Em síntese, Gil (2008,
p.45), pontua:

A pesquisa pura busca o progresso da ciência, procura desenvolver os


conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e
consequências práticas. Seu desenvolvimento tende a ser bastante
formalizado e objetiva a generalização, com vistas na construção de teorias
e leis.

No que se refere ao processo de produção de conhecimento, a abordagem da ciência


pura pode contribuir com a sistematização de informações, contudo, caso o
pesquisador opte por este tipo de pesquisa, é importante que suas motivações
estejam bem definidas, especialmente no que se refere à finalidade de sua pesquisa.

Alguns exemplos de pesquisa pura seriam: um estudo que analisa o impacto do


consumo de cafeína no cérebro ou uma investigação que examina se homens ou
mulheres são mais propensos a sofrer de depressão.

37
,

3.4 Pesquisa aplicada

A pesquisa aplicada tem como característica principal o próprio interesse na utilização


prática do conhecimento constituído em determinada investigação. Em suas
motivações filosóficas, o questionamento motor de suas reflexões é o: Como? Ou seja,
não há relevância na produção de conhecimento sem que haja uma resolução prática
para tal. A pesquisa aplicada se propõe a estudar meios de utilizar os conhecimentos
em benefício do próprio homem. Apesar de utilizar muitas descobertas da pesquisa
pura, sua preocupação, como ressalta (GIL, 2008, p.50), “está menos voltada para
teorias de valor universal que para a aplicação imediata numa realidade
circunstancial”.

São alguns exemplos de pesquisa aplicada: a investigação de qual abordagem de


tratamento é mais eficaz para redução da ansiedade ou o estudo de diferentes
modelos de teclados para determinar qual é mais eficiente e ergonômico.

3.5 Etapas de pesquisa social

Ao longo de todo conteúdo apresentado, podemos afirmar que a pesquisa social


possui um variado repertório de métodos, técnicas e instrumentos, não cabendo,
nesse sentido, alguma padronização de procedimentos aplicável a qualquer pesquisa.
Deste modo, em linhas gerais, Gil (2008, p.31) sintetiza de maneira genérica as
seguintes etapas: “Planejamento, coleta de dados, análise e interpretação e redação
do relatório.”

Evidentemente, as etapas apresentadas acima possuem infindáveis subdivisões,


sabemos inclusive que muitas etapas podem ser realizadas de maneira simultânea.
Percebemos que os textos de metodologia científica não contêm em si, um roteiro
determinado para a sistematização dos padrões, contudo, é possível delimitar um
caminho linear possível a partir da recorrência de determinadas sequências. Contudo,
o presente texto não se propõe a investigar as contradições que envolvem a
sistematização das etapas. Basta que o leitor compreenda que a ciência é um processo

38
,

em constante construção, com base nisso, podemos enfim apresentar o seguinte


fluxograma, apresentado por Koche (2014, p.127), em quatro etapas:

Figura 3.1 – Etapas de Pesquisa Social

39
,

Fonte: KOCHE, 2014, p.127. Adaptado.

Conclusão

A partir do presente conteúdo, pudemos observar as variáveis que acompanham o


processo de elaboração de uma pesquisa científica, sobretudo em uma dimensão mais
aproximada da prática, uma vez que o material exposto conduz os leitores à uma
discussão relacionada ao planejamento de ações voltadas à conciliação dos elementos
teóricos abordados nos textos anteriores, com o planejamento de ações que dizem
respeito a métodos de observação e coleta de dados.

Deste modo, concluímos que o delineamento da pesquisa contribui com a elaboração


de direcionamentos norteadores para a execução de uma pesquisa coesa e bem
sistematizada, garantindo desta forma tanto sua aplicabilidade quanto a possibilidade
de divulgação dos resultados apresentados.

REFERÊNCIAS

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas da pesquisa social. 6a edição. São Paulo:
Editora Atlas, 2008.

KOCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica. Petrópolis, RJ: Editora


Vozes, 2014.

40
,

PEROVANO, Dalton Gean. Manual de metodologia da pesquisa científica. Curitiba:


Editora InterSaberes, 2016.

RUDIO, Victor Franz. Introdução ao projeto de pesquisa. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,
1986.

41
,

4 DELIMITAÇÃO DO TEMA, FORMULAÇÃO DE PROBLEMA, HIPÓTESES E


JUSTIFICATIVA

Bem-vindo(a) ao estudo de delimitação do tema, formulação de problema, hipóteses e


justificativa. Neste bloco iremos acompanhar o processo de concepção de uma
pesquisa, com um direcionamento mais aproximado da experiência prática e criativa,
evidentemente, com o devido fundamento teórico para balizar esta experiência. Desse
modo, sistematizamos o conteúdo a partir de um primeiro momento de definições e
conceitos, nos propomos também a apresentar aos leitores exemplos de cada um dos
conceitos discutidos, como uma estratégia convidativa para que os futuros
pesquisadores despertem ainda mais sua leitura crítica da realidade.

Bons estudos!

4.1 Escolha e delimitação do tema de pesquisa

A pesquisa se inicia a partir de um problema, ou melhor, uma pergunta problema, que


parte de suposições que constituem o processo de investigação entre fatores e causas.
Delimitar uma investigação significa direcionar o projeto de pesquisa, no sentido de
criar a partir dele, possíveis relações entre variáveis. Portanto, podemos afirmar que “é
necessário que o investigador elimine a incógnita introduzindo no seu lugar alguma
outra variável que a substitua” (KOCHE, 2014, p. 107).

Uma pergunta inicial é composta minimamente pelo conhecimento disponível a


respeito de determinado tema, assim como também da própria criatividade do
pesquisador, que com seu repertório cultural, social e profissional, projeta sua
singularidade e experiências de vida para elaborar esta pergunta problema. O
resultado desta conexão entre o conhecimento específico e a criatividade representam
os elementos teóricos e mentais capazes de definir o tema da pesquisa.

42
,

Como exemplo, imaginemos um estudante de Serviço Social, cursando o sexto


semestre de sua graduação, que possui determinado nível de conhecimento em
relação à sistematização do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Este aluno
pretende investigar elementos sobre a territorialidade do SUAS, a partir do conteúdo
apresentado ao longo de sua formação, portanto, a escolha do seu problema de
pesquisa parte de uma dimensão teórica. Suponhamos ainda que este aluno pretenda
aprofundar esta pesquisa, tendo como pano de fundo a zona sul da cidade de São
Paulo, região de sua moradia, logo o delineamento de sua pesquisa parte também de
uma perspectiva criativa, uma vez que envolve também sua memória social em relação
ao local.

Este movimento de escolha temático, no qual, ainda a respeito do exemplo


apresentado, se refere ao SUAS, utiliza como direcionamento para o desenvolvimento
de possíveis variáveis o contexto da zona sul de São Paulo. Deste modo, a pesquisa se
desenvolverá a partir das aproximações e possíveis relações estudadas e que serão
investigadas no decorrer de todo o processo de pesquisa.

Embasados neste argumento, podemos concluir que, ao estabelecer um processo de


escolha do tema e de delimitação do problema, buscamos então, definir:

(...) os limites da dúvida, explicitando quais variáveis estão envolvidas na


investigação e como elas se relacionam. O problema delimitado é uma
pergunta inteligente que contém as possíveis relações de uma possível
resposta. O planejamento da sequência de pesquisa é feito para testar se as
relações propostas são ou não pertinentes, tornando-se, pois, impossível
planejar observações ou testes sem que o problema e suas variáveis estejam
delimitados (KOCHE, 2014, p. 108).

4.2 Definição de um problema de pesquisa e suas implicações

Como dialogamos anteriormente, a definição de um problema de pesquisa é uma


etapa fundamental para o estabelecimento entre a observação prática de determinado
fenômeno, no qual são consideradas a criatividade do pesquisador e seu repertório
cultural, social, profissional e as possibilidades de leituras teóricas que abarquem este
processo de investigação.

43
,

É neste momento que o pesquisador irá direcionar toda a sequência relacionada às


demais etapas de pesquisa, neste sentido, convém reafirmar que quão mais delimitado
e qualificado for o problema de pesquisa, melhores condições de investigação em
relação ao tema estudado. Para tanto, fizemos no item anterior uma abordagem inicial
em relação à delimitação do tema, de modo, que neste texto, traremos à tona as
implicações desta delimitação.

Moroz e Gianfaldoni (2006, p. 24), apontam que a definição do tema pode ser
elaborada através da identificação das lacunas no conhecimento existente, “quando se
colocam dúvidas quanto aos procedimentos empregados na solução de um
determinado problema, quando a previsão advinda de pesquisas anteriores não se
verifica”.

Naturalmente, cabe ao pesquisador, realizar um rigoroso levantamento de dados a


respeito do tema a ser estudado, para considerar a pertinência e relevância dos
elementos que serão trazidos à tona durante o seu processo de investigação. Este
levantamento de informações tem como objetivo evitar possíveis respostas já
apresentadas ao ambiente acadêmico, e para identificar informações que não foram
aprofundadas em pesquisas com tema semelhante, podendo, inclusive, complementá-
las ou utilizá-las como variáveis.

Além de identificar as produções relevantes e os dados coletados nas demais


pesquisas sobre o tema em questão, cabe aos pesquisadores verificar o tratamento
dado pelas pesquisas anteriores em relação à coleta e análise de dados, de modo a
inteirar-se das descobertas e resultados que podem ser úteis como subsídio para
futuras discussões.

Dentre as fontes para este levantamento, indicamos naturalmente, bibliotecas e


sistemas de bancos de dados, em que constem sobretudo informações científicas
acerca do tema. Também é possível utilizar como elemento de pesquisa a internet,
desde que haja, por parte do pesquisador um filtro acerca da própria qualidade do
conteúdo a ser explorado.

44
,

Em um segundo momento, convém investigar também, no caso de não identificar


registros e estudos anteriores a respeito do tema de sua pesquisa, a seguinte
observação:

Caso o estudo da literatura revele não haver respostas para o problema da


pesquisa ou indique apenas a existência de uma resposta provisória, a
segunda etapa do desenvolvimento de uma pesquisa, não deve ser
encerrada. É preciso verificar quais obstáculos existiram para que o
problema não pudesse ser solucionado (CASARIN, CASARIN, 2012, p 59).

O resultado de uma investigação científica é a produção de teorias e explicações


formais do mundo, portanto, é necessário que os pesquisadores tenham de fato uma
curiosidade teórica em relação ao seu tema de pesquisa. Ainda em relação ao processo
de definição do tema, para contribuir com o leitor no que se refere à uma elaboração
mais prática a respeito da discussão acima, convém citar o seguinte sistema, no qual
foram elencados três critérios que auxiliam a compreensão e definição de um
problema de pesquisa:

Primeiro, o problema deve expressar as relações entre duas ou mais


variáveis. Segundo, deve estar apresentado de forma interrogativa. A
interrogação tem a virtude de apresentar o problema diretamente. O
terceiro critério é o mais complexo, pois exige que o problema seja tal que
implique possibilidades de testagem empírica, isto é, de obtenção de
evidência real sobre a relação apresentada no problema (KERLINGER, 1980,
apud DIHEL, TATIM, 2004, p. 92).

O problema de pesquisa precisa ser definido, portanto, a partir de uma pergunta


problema, cuja essência sempre questionará em nível hipotético, as possibilidades de
relação entre a indagação de fatos e fenômenos delimitados também pelos
pesquisadores, que buscarão comprovações no decorrer do processo investigativo.

4.3 O que são as hipóteses? Conceitos e formulações

Hipótese “pode ser compreendida como uma solução ou resposta preliminar a um


problema existente” (CASARIN, CASARIN, 2012, p. 59), também podemos interpretar
conceitualmente hipótese como “a solução provisória proposta como sugestão.”

45
,

(KOCHE, 2014, p.108). Apesar da nomenclatura utilizada, a suposição de uma resposta


não é tão complexa quanto parece. Tomemos um exemplo corriqueiro: Ao acordar e
olhar para o céu, você pode ter uma noção se irá chover ou fazer sol, de acordo com a
sua percepção do clima. Não bastam mais do que cinco minutos para concluir
hipoteticamente, a partir de sua observação. No entanto, naturalmente, você irá
comprovar esta informação a partir de estudiosos especializados, quem sabe até
aplicativos de celular relacionados à previsão do tempo.

No caso da pesquisa científica, a elaboração da hipótese, pode ser construída durante


o processo de levantamento bibliográfico, momento no qual os pesquisadores irão se
deparar com um aprofundamento no tema, em que supõe-se que diante deste novo
repertório, surgirão elementos interpretativos e representativos em relação ao objeto
de pesquisa. Contudo, diante das etapas de pesquisa, a hipótese encontra-se
identificada como a terceira etapa, uma vez que é após o levantamento bibliográfico
que o pesquisador se torna capaz de concluir tal formulação com o devido
embasamento.

Tuckman (1972, p. 24), Kerlinger (1980, p. 38) apud Koche (2014, p. 109), destacam
três características principais de uma hipótese:

A primeira é a de ser um enunciado de redação clara, sem ambiguidades e em forma


de sentença declarativa: neste sentido é interessante observar que a produção
científica e o avanço do conhecimento teórico se dão a partir das construções em
torno de uma hipótese, de modo que, o(a) pesquisador(a) que a formulou, ainda
durante a elaboração, se apoiou em hipóteses e resultados de pesquisas anteriores
durante seu levantamento bibliográfico, da mesma forma que futuros pesquisadores
também recorrerão ao seu trabalho para aprofundamento temático.

A segunda é a de estabelecer relações entre duas ou mais variáveis. A relação entre as


variáveis pode ser sistematizada de inúmeras maneiras, dentre os elementos mais
utilizados, no que se refere a procedimentos de pesquisa na física, sociologia e
economia, encontram-se:

46
,

Massa, peso, velocidade, energia, força, impulso, atrito, são as variáveis


mais comuns que são trabalhadas na física; na sociologia e na psicologia:
inteligência, status social, sexo, salário, idade, ansiedade, classe social,
preconceito, motivação, agressão, frustração; na economia: custo, tempo,
qualidade, produtividade, eficiência e eficácia (KOCHE, 2014, p. 112).

A terceira característica é que a hipótese deverá ser testável, neste sentido podemos
afirmar que ela precisa ser submetida a testes de aplicabilidades, como estratégias de
confrontações empíricas, questão que irá direcionar toda a série de abordagens no
decorrer das demais etapas do processo de investigação científica.

4.4 Tipo de hipóteses

As hipóteses podem ser elaboradas a partir de determinado conjuntos de sistemas,


composto, como vimos no item acima, de elementos como a imaginação e criatividade
do pesquisador, com todo o conhecimento prévio a respeito do tema em questão e
por fim, de uma mediação coesa em relação à aplicabilidade de sua suposição e da
própria dimensão teórica que fundamenta o processo de investigação.

Inúmeros autores se propõem a sistematizar este movimento intelectual e criativo,


para uma maior compreensão do leitor, iremos apresentar neste item, quatro níveis de
hipóteses, classificadas por Bunge (1969, p. 283-284), apresentadas por Koche (2014,
p.110), são elas: ocorrências, empíricas, plausíveis e convalidadas.

47
,

Tabela 4.1 – Quatro níveis de hipótese

NÍVEIS DE HIPÓTESE
Ocorrência: Hipóteses que não encontram apoio nas evidências, empíricas dos
fatos ou fenômenos e nem na fundamentação do conjunto das teorias
existentes. São palpites lançados sem justificativa alguma ou, no máximo,
amparados por conhecimentos muito obscuros e experiências ambíguas.
Empíricas: São hipóteses que têm a seu favor algumas evidências empíricas
preliminares que justificam a escolha das suposições e das correlações por elas
estabelecidas. As hipóteses empíricas, porém, não gozam de consistência
lógica.
Plausíveis: São as hipóteses que se inter-relacionam com as teorias existentes
de forma consistente, coerente e lógica. As hipóteses plausíveis são produto
ou dedução lógica do conhecimento corroborado e acumulado pela ciência ou
de modificações introduzidas nas teorias existentes quando falseadas.
Convalidadas: São as que se sustentam em um sistema de teorias, assim como
as plausíveis, e, ao mesmo tempo, encontram apoio em evidências empíricas
da realidade, tal qual as hipóteses empíricas. As hipóteses convalidadas
representam um nível ótimo, pois oferecem condições de se alcançar os dois
ideais da ciência: o da racionalidade e o da objetividade.
Fonte: KOCHE, 2014, p.110. Adaptado.

Uma vez que a ciência não se constitui apenas de observações e classificações dos
fenômenos, podemos constatar, em relação aos tipos de hipóteses, que quanto mais
estas se aproximam das teorias e demais produções científicas, maior será seu rigor e
pertinência, no que se refere à produção de conhecimento, uma vez que haverá neste
sentido, a ênfase na integração de um referencial teórico consistente e também das
possibilidades de testabilidade, ou seja, da capacidade empírica de sua produção.

48
,

4.5 A justificativa da pesquisa: Defesa de uma relevância científica

O planejamento de uma pesquisa envolve, para além da elaboração do projeto no qual


serão explicitadas as ações do processo de investigação e seus objetivos, uma série de
outros elementos que serão abordados nos blocos seguintes.

Neste bloco, discorremos a respeito do processo de delimitação do tema, definição do


problema de pesquisa e da formulação de uma hipótese. Em proveito desta ordem de
discussão, pretendemos acrescentar ainda elementos a respeito da justificativa da
pesquisa, uma vez que estas informações dizem respeito à própria sequência deste
aprofundamento, ou seja, o processo de formulação inicial de uma produção científica,
na perspectiva da pesquisa social.

Entendemos como justificativa, o conjunto de motivações dos pesquisadores reunidos


em torno de uma elaboração teórico-metodológica, na qual serão apresentadas e
defendidas a pertinência científica de seu processo de investigação. Gil (2002, p. 162)
destaca os seguintes fatores que devem ser considerados relevantes em uma
justificativa:

fatores que determinaram a escolha do tema, sua relação com a experiência


profissional ou acadêmica do autor, assim como sua vinculação à área
temática e a uma das linhas de pesquisa do curso de pós-graduação.

Neste sentido, cabe aos pesquisadores se debruçarem em torno de suas motivações


pessoais para a escolha de um aprofundamento em determinado eixo temático. Sua
experiência profissional e acadêmica são frutos de um processo também singular e
intransferível, que se tornam relevantes nesta etapa, uma vez que a própria pesquisa
deve partir de um movimento de curiosidade inicial em relação ao tema.

Convém explicitar ao estudante que, ao se referir à linha de pesquisa de um eventual


curso de pós-graduação, o autor diz respeito ao enquadramento de determinadas
instituições de pós-graduação, em relação a delimitações e pressupostos teóricos que
orientam os processos de investigação. Naturalmente, os alunos de determinada
graduação que iniciam sua aproximação com pesquisa científica a partir do presente
texto, precisarão submeter suas futuras produções para o(a) professor(a) ou eventual
49
,

grupo de estudos de sua universidade, para que sejam abordados os enquadramentos


possíveis de determinada linha de pesquisa, ou seja, uma guia de condução e
orientação de seu processo investigativo.

Gil (2002, p. 162) também aponta para “argumentos relativos à importância da


pesquisa, do ponto de vista teórico, metodológico ou empírico”. Neste item, convém
aos pesquisadores a defesa da relevância científica de sua pesquisa, para tanto,
ressaltamos, novamente, a importância de um levantamento bibliográfico temático e
minucioso, de modo que sejam evitadas quaisquer possibilidades de reprodução de
pesquisas que apresentem resultados redundantes e sem efeitos. Para além da revisão
teórica, é relevante que na justificativa estejam bem esclarecidos os pontos de análise
que fizeram o pesquisador adotar determinado recurso metodológico. Convém
também neste momento, apresentar argumentos de defesa em relação à capacidade
de retorno do conhecimento produzido para os sujeitos pesquisados, uma vez que
estamos tratando neste conteúdo sobre pesquisa social.

Outro ponto abordado por Gil (2002, p. 162) é a “referência a sua possível contribuição
para o conhecimento de alguma questão teórica ou prática ainda não solucionada”. Da
mesma maneira com a qual o pesquisador defende a importância da pesquisa em
questão em seus aspectos teóricos, metodológicos e empíricos, faz parte também
deste momento de sua produção, justificar as contribuições de seu trabalho para a
ciência, especialmente dentro do segmento de pesquisa, em contato com o referencial
bibliográfico. Supõe-se que o pesquisador tenha encontrado, possíveis desafios e
limitações vivenciadas por outros pesquisadores em relação ao mesmo tema. Neste
caso, a importância se vale tanto na dimensão teórica quanto nas possibilidades
empíricas ou interventivas de sua investigação, que de maneira complementar, servirá
como referencial para futuros pesquisadores, aprofundando desta forma a produção
de conhecimento em relação ao tema de seu objeto de pesquisa.

50
,

4.6 Relação entre o problema, hipóteses e justificativa no contexto da pesquisa social

Os leitores mais atentos que chegaram até este item poderão acompanhar a discussão
a partir de um exemplo prático de elaboração de pesquisa, contudo, talvez seja
necessário retomar os conceitos separadamente: problema, hipóteses e justificativa.

Podemos considerar como problema, o ponto de partida de uma pesquisa científica,


neste caso, lembremos que a elaboração de um problema de pesquisa, parte
incialmente da própria curiosidade do pesquisador em relação a determinado tema.
Esta elaboração é estimulada principalmente por duas dimensões, a criativa e a
intelectual, na primeira, com base em seu próprio contexto de conhecimentos e
indagações, o investigador levantará um objeto de pesquisa com o qual se pretenda
trabalhar. Na segunda dimensão, identificamos como intelectual todo o conhecimento
acumulado em relação ao tema, do qual o pesquisador teve acesso. A união destas
duas dimensões promove a elaboração de um problema de pesquisa pertinente, tanto
em relação à relevância do assunto, quanto aos esclarecimentos relacionados ao
método e instrumentos a serem utilizados. O exemplo abaixo apresenta o seguinte
problema de pesquisa:

Exemplo: A graduação em Serviço Social na modalidade EAD, produz impactos em


relação à formação profissional e na sua produção intelectual?

Como hipótese, podemos compreender, de maneira prática, como uma suposição, ou


resposta temporária em relação à pergunta. Isto significa que, a partir da formulação
da hipótese, poderão ser planejadas a forma de abordagem na qual o processo
investigativo será realidade, assim como as próprias variáveis a serem relacionadas. A
partir do exemplo apresentado acima, podemos formular a seguinte hipótese:

Exemplo: A formação em Serviço Social na modalidade EAD, cumpre com todos os pré-
requisitos do MEC e diretrizes curriculares para o curso de Serviço Social defendidos
pela categoria profissional, ou seja, sua operacionalização é legítima e não produzirá
impactos na formação e tampouco na sua produção intelectual.

51
,

No que se refere à justificativa, é a partir dela que o pesquisador irá apresentar as


motivações que perpassam seu processo de elaboração da pesquisa. Importante
considerar a relevância das contribuições teóricas da pesquisa dentro do assunto a ser
investigado, em relação ao conteúdo já publicado, além disso, considera-se relevante
também justificar as condições empíricas que poderão ofertar constatações mediante
avaliação das variáveis articuladas no processo de elaboração da hipótese. Dando
continuidade ao exemplo apresentado, temos a seguinte possibilidade de justificativa.

Exemplo: A formação profissional tem como característica um posicionamento


político, dado o conteúdo teórico-metodológico abordado no curso de serviço social e
a qualidade das interações e mediações possíveis no contexto da sala de aula,
presencial. Neste sentido é importante discutir se a modalidade EAD impactaria neste
processo.

Categorizamos os conceitos acima, ilustrando, com o exemplo em questão, uma


aproximação da dimensão prática no que se refere à elaboração de uma pesquisa
científica. Neste sentido, a temática escolhida para exemplificar o caso, também se
constitui como um elemento explicativo da capacidade crítica da investigação
científica, característica principal da pesquisa social e da própria busca humana por
explicações a respeito das transformações econômicas, políticas e históricas de seu
tempo.

Conclusão

O conteúdo apresentado elucida os primeiros movimentos de sistematização de um


projeto de pesquisa, de fundamental importância para o desencadeamento das etapas
seguintes do processo investigativo, deste modo, compreendemos que a maneira
como foram expostos os conceitos e estabelecidas as correlações práticas da
formulação de um problema, hipóteses e justificativa, dentre outros, contribuiu para
uma aproximação dos leitores às concepções práticas e teóricas que motivam e
direcionam o processo de construção de conhecimento científico.

52
,

Observamos também que é imprescindível assegurar a legitimidade da pesquisa social,


no que se refere à sua relevância científica assim como na contribuição deste
conhecimento para o desenvolvimento de uma leitura crítica da sociedade, tanto do
pesquisador quanto dos futuros leitores da pesquisa.

REFERÊNCIAS

CASARIN, Helen de Castro Silva e CASARIN, Samuel José. Pesquisa Científica: Da teoria
à prática. Curitiba: Editora Intersaberes, 2012.

DIHEL, Astor Antonio e TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em Ciências Sociais


aplicadas. São Paulo: Editora Pearson, 2004.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas,
2002.

KOCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica. Petrópolis, RJ: Editora


Vozes, 2014.

MOROZ, Melania; GIANFALDONI, Mônica Helena. O processo de pesquisa: iniciação.


Campinas, SP: Editora Autores Associados, 2006.

53
,

5 DELINEAMENTOS DA PESQUISA SOCIAL

Bem-vindo(a) ao quinto bloco de estudo! A proposta desse bloco é apresentar algumas


possibilidades metodológicas de acesso a fontes a partir de delineamentos da pesquisa
social.

Deste modo, o conteúdo apresentado irá indicar os caminhos para a construção da


pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental, como fontes importantes para a
construção da pesquisa e das reflexões vinculadas aos processos investigativos, assim
como a pesquisa experimental, a pesquisa survey e a pesquisa de campo, enquanto
possibilidades de procedimentos técnicos a serem utilizados por pesquisadores no
caminho de produção de conhecimento sobre processos sociais na formação e atuação
profissional.

Bons estudos!

5.1 Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica se desenvolve a partir de um conteúdo já elaborado,


sobretudo através de mídias como livros e artigos científicos. Inúmeras pesquisas de
carácter exploratório utilizam exclusivamente este acervo documental para produzir
suas reflexões e processos investigativos, contudo, este recurso pode ser utilizado em
outros métodos de pesquisa. Em relação aos materiais e suportes disponíveis para o
processo de levantamento de dados bibliográficos, Gil (2002, p. 44), apresenta a
seguinte esquematização:

54
,

Figura 5.1 – Processo de levantamento bibliográfico

Fonte: GIL (2002, p. 44). Adaptado.

De uma maneira geral, os livros continuam sendo a principal fonte de referência para a
produção de uma pesquisa bibliográfica, de modo que esta abordagem é classificada
de duas formas: leitura corrente e leitura de referência. No caso da primeira, podemos
incluir obras de variados gêneros literários, como peças de teatro, revistas
especializadas e técnicas, bem como jornais e até mesmo livros de poesia. Em relação
a leitura de referência, estes podem ser identificados como livros informativos,
dicionários e periódicos, em uma perspectiva informativa. A leitura de referência
também pode ser nomeada como remissiva, quando utiliza como referencial
determinado grupo de catálogo com informações globais, ou determinada coleção,
tanto pública quanto particular.

A amplitude do recorte e enquadramento que podem ser utilizados em uma pesquisa


bibliográfica é uma das qualidades deste procedimento, pois, em uma pesquisa direta,
ou de campo, há uma grande dificuldade de coletar os dados necessários para a
investigação, por conta da disposição destes elementos, que muitas vezes encontram-
se dispersos em determinado território.

As pesquisas bibliográficas são fundamentais em estudos históricos, também podem


ser utilizadas para aprofundar o conhecimento em determinada área e com isso,
eventualmente, serem formuladas novas e mais qualificadas hipóteses. Convém

55
,

também a utilização da pesquisa bibliográfica para descrever ou sistematizar


determinado fenômeno.

Contudo, cabe neste momento precaver o leitor com a seguinte advertência: Cuidado
com a veracidade das informações coletadas, pois as contradições ou inverdades
contidas nelas podem prejudicar não só sua pesquisa como também a própria fonte
utilizada. Levantamos este aspecto, pois, atualmente, para além das fontes citadas
acima, temos também fontes digitais. Conteúdos produzidos e divulgados na internet
em larga escala. Nesse sentido, no caso de uma pesquisa científica, é importante
utilizar fontes (mesmo que digitais) que sejam cientificamente confiáveis.

5.2 Pesquisa Documental

Semelhante a pesquisa bibliográfica, a documental também possui como característica


o levantamento de dados a partir de documentos. Contudo, levamos em consideração,
para diferenciar a pesquisa documental, o uso de fontes documentais com as seguintes
procedências: correspondências pessoais, documentos oficiais, registros de cartório,
documentos institucionais, documentos oriundos de hospitais, igrejas e partidos
políticos etc. Interessante observar neste sentido que toda pesquisa que se baseia em
documentos e textos, pode ser considerada uma pesquisa bibliográfica, como ilustra
Gil (2002, p 46):

Nem sempre fica clara a distinção entre pesquisa bibliográfica e pesquisa


documental, já que, a rigor, as fontes bibliográficas nada mais são do que
documentos impressos para determinado público. Além do mais, boa parte
das fontes usualmente consultada nas pesquisas documentais, tais como
jornais, boletins e folhetos, pode ser tratada como fontes bibliográficas.
Neste sentido é possível até mesmo tratar a pesquisa bibliográfica como um
tipo de pesquisa documental, que se vale especialmente de material
impresso para fins de leitura.

Vemos portanto que o conceito que define ambas as pesquisas (documental e


bibliográfica), encontram-se em um limiar bastante estreito, contudo, cabe ao
presente texto propor uma sutil diferenciação, em que no caso da pesquisa
documental, podemos encontrar uma maior variedade de fontes, explorando também

56
,

recursos informais que possam colaborar com o processo investigativo. Por conta
destes elementos, inclusive, a pesquisa documental pode ser considerada como uma
atividade de baixo custo, em comparação aos demais tipos de pesquisa, pois o acesso
às fontes e informações, muitas vezes, pode ser feito através de bibliotecas públicas,
diretamente em instituições de acordo com o objeto de pesquisa e também por meio
de sites da internet.

Além do mesmo cuidado em relação à credibilidade das fontes, convém ao


pesquisador adotar os procedimentos investigativos da pesquisa documental, uma
importância dedicada ao processo de coleta de dados, bem como da amostragem
disponível em relação ao conteúdo estudado. Como exemplo, há uma cultura própria
daquele que realiza pesquisas documentais, em acumular grande quantidade de
informações a respeito do tema em questão, para que consiga selecionar as
referências com determinados critérios de amostragem.

5.3 Pesquisa Experimental

A pesquisa experimental tem como característica o processo de investigação, o


método orgânico de um laboratório, apesar de não estar vinculado a este espaço
físico, comumente imaginado como salas médicas em que se encontram a disposição
variados instrumentos técnicos. No caso da pesquisa experimental, laboratório se
refere ao significado da palavra, atribuído no próprio dicionário da língua portuguesa,
que define “Laboratório” como: “Atividade que envolve observação, experimentação
ou produção num campo de estudo”.

Neste sentido, destacamos as palavras de Gil (2002, p. 48), que definem a pesquisa
experimental como uma prática na qual:

Consiste essencialmente em determinar um objeto de estudo, selecionar as


variáveis capazes de influenciá-lo e definir as formas de controle e de
observação dos efeitos que a variável produz no objeto. Trata-se, portanto,
de uma pesquisa em que o pesquisador é um agente ativo, e não um
observador passivo.

57
,

Este trabalho de manipulação, como o leitor pode imaginar, vem sendo utilizado na
maioria das pesquisas das ciências naturais, com objetos de pesquisa absolutamente
manipuláveis, por exemplo: o estudo de bactérias, líquidos, vírus etc. Contudo, no que
se refere a pesquisas sociais, o processo investigativo não é semelhante, justamente
pelo fato de que a natureza humana, no âmbito da pesquisa social, não pode estar
relacionada a uma simples dimensão de causa e efeito, como nas bactérias, por
exemplo, em que o pesquisador possui o controle de todas as possíveis variáveis.

O que pretendemos ilustrar com este argumento, está bem sintetizado por Gil (2002,
p. 49), trecho em que ele afirma que:

Muitas variáveis que poderiam ser tecnicamente manipuladas estão sujeitas


a considerações de ordem ética que proíbem sua manipulação. Não se pode
por exemplo, submeter pessoas a atividades estressantes com vistas a
verificar alterações em sua saúde física ou mental. Ou privá-las de convívio
social para verificar em que medida este fator é capaz de afetar sua
autoestima.

Apesar disto, há possíveis arranjos para viabilizar pesquisas experimentais nas


investigações sociais, para tanto, é fundamental observar as discussões relacionadas às
propriedades da pesquisa experimental, de modo que, com esta informação, haverá
maior domínio do pesquisador em relação aos possíveis instrumentos e métodos para
sua abordagem, de acordo com o objeto de pesquisa a ser investigado.

Figueiredo (2008, p. 100) apresenta os respectivos conceitos: randomização, controle


e manipulação, considerados como propriedades da pesquisa experimental:

Randomização: Na randomização ocorre a seleção de indivíduos ou sujeitos do estudo,


a distribuição entre os grupos experimentais e o controle de forma aleatória.

Controle: “Significa a introdução de uma ou mais constantes na situação experimental.


A partir do estabelecimento do controle, determina-se o grupo controle como o grupo
de comparação do estudo”.

Manipulação: Ocorre quando o grupo experimental é submetido à variável


independente (pode ser um tratamento, plano de ensino, medicação etc.), de forma

58
,

que o efeito dessa manipulação seja medido para determinar o resultado do


tratamento experimental.

5.4 Pesquisa Survey

A pesquisa survey muito se assemelha ao trabalho de censos, como as pesquisas


realizadas e divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tendo
como principal diferença o fato de a primeira examinar apenas uma amostra da
população, de maneira que o material produzido e analisado por este tipo de pesquisa
favorece um fluxo de interpretação lógica em relação ao objeto estudado. Um
exemplo muito utilizado para ilustrar este tipo de abordagem é a pesquisa sobre
opinião política, na qual, a partir de uma amostragem populacional, determinam-se
inclinações favoráveis a este ou aquele(a) candidato(a).

Não é de se espantar que survey seja um procedimento de investigação adotado por


inúmeras empresas desenvolvedoras de pesquisas de opinião, nas quais o processo de
análise se pauta em informações sobre a prevalência de determinada resposta em
relação à outra. Contudo, para além disso, as análises das pesquisas survey podem

contar também com combinações de diferentes fatores, a medida das possibilidades


inscritas em determinado formulário ou questionário a ser aplicado, em que,
eventualmente, pode-se sistematizar correlações como: opinião política; fatores
demográficos e econômicos de determinado grupo. No entanto, sua perspectiva será
frequentemente apresentada através de uma perspectiva mais generalizada, como
explica Babbie (1998, s.p.):

Surveys amostrais quase nunca são realizados para descrever a amostra


particular estudada. São realizados para se entender a população maior da
qual a amostra foi inicialmente selecionada (...). Do mesmo modo, análises
explicativas em pesquisas de survey visam desenvolver proposições gerais
sobre comportamento humano.

A autora acrescenta ainda que há duas características principais na pesquisa survey


que permitem acessar esta dimensão generalista, em oposição a amostras

59
,

particulares. Na primeira característica, Babbie (1998) afirma que, com o grande


número possível de amostra, há disponibilidade de criação de subconjuntos, onde,
caso seja encontrada uma correlação, estas poderão ser aglutinadas ou repartidas
inúmeras possibilidades e recortes para tratamento destes dados. Em segundo lugar, a
dimensão generalista contida na pesquisa survey facilita também a replicação deste
processo de investigação, que pode ser realizado por outros pesquisadores em outras
amostras e subgrupos, de modo que a própria dimensão generalista pode ser testada,
contestada e testada novamente.

5.5 Pesquisa de campo

A pesquisa de campo é um procedimento técnico de pesquisa muito utilizado na


pesquisa social. Nela os pesquisadores irão buscar o aprofundamento no seu tema a
partir do contato com a realidade específica estudada. Nesse sentido, é uma técnica
que atrai a atenção de pesquisadores da graduação (mas não somente), pois é uma
possibilidade que ele encontra de exercitar as possíveis reflexões teóricas alinhadas a
espaços práticos de trabalho profissional, onde começa a ter acesso nos campos de
estágio, por exemplo, com a leitura teórica e discussões vividas no contexto da sala de
aula e no processo de construção da pesquisa.

A pesquisa de campo envolve a observação direta a determinado contexto e/ou


grupos de pessoas relacionados ao tema da pesquisa, assim como a aplicação de
entrevistas, questionários e/ou formulários com informantes para entender a
percepção deles em relação a determinada realidade pesquisada.

Gil (2002, p.130), ao explicar sobre a pesquisa de campo, levanta a seguinte


observação: “a especificidade de cada estudo de campo acaba por ditar seus próprios
procedimentos”. Nesse sentido, podemos dizer que a escolha dos instrumentos a
serem utilizados na pesquisa de campo irá depender dos objetivos dessa pesquisa.

Outro ponto importante colocado pelo autor é que esses procedimentos precisam ser
testados antes de aplicados. De acordo com Gil (2002, p. 132) estes testes ajudarão o

60
,

pesquisador a: “(...) (a) desenvolver os procedimentos de aplicação; (b) testar o


vocabulário empregado nas questões; e (c) assegurar-se de que as questões ou as
observações a serem feitas possibilitem medir as variáveis que se pretende medir”.

Depois de definidos e testados os procedimentos a serem utilizados, é interessante


considerarmos o processo de abordagem aos participantes da pesquisa. Além dos
cuidados éticos orientados por normativas, que trataremos mais adiante no nosso
texto, não podemos nos esquecer que estamos lidando com pessoas nos seus mais
diferentes contextos de vida, trabalho, relações. Quando o pesquisador se insere nesse
contexto para a realização da pesquisa, precisa estar atento, respeitando os limites
colocados pelos sujeitos que fazem parte da pesquisa, a fim de não serem invasivos.
Nesse caso, o contato inicial com o campo de pesquisa permite que nos aproximemos
daquela realidade, possibilitando a cooperação desses sujeitos.

Katz (1974, p. 85-87 apud Gil, 2002, p. 132) sugere algumas práticas que podem ser
adotadas pelo pesquisador, ajudando essa aproximação com o campo de pesquisa:

a) buscar apoio das lideranças locais. Isto é especialmente


importante quando se está lidando com uma estrutura hierárquica, como a
de uma indústria, em que as pessoas situadas em níveis inferiores são
sempre dependentes dos superiores e sentem-se inseguras com
pesquisadores vindos de fora;

b) aliar-se a pessoas ou a grupos que tenham interesse na pesquisa.


Dessa forma, os interessados em algum tipo de reforma na comunidade ou
os dirigentes de uma empresa que procuram informações sobre deficiências
de seus empregados poderão receber muito bem os pesquisadores e
oferecer-lhes apoio;

c) fornecer aos membros da comunidade as informações obtidas.


Manter as informações em segredo não é conveniente, já que pode
provocar rumores e suposições nem sempre favoráveis, além de dificultar
eventuais contatos futuros com a comunidade. O maior problema em
relação a esse aspecto é que algumas revelações poderão prejudicar a
pesquisa. Assim, o mais conveniente costuma ser a apresentação da
pesquisa em suas linhas "gerais, fornecendo alguns exemplos de um ou
outro item, sem descer a considerações profundas;

d) preservar a identidade dos respondentes. A análise dos materiais


obtidos não deve ser conduzida a ponto de possibilitar a identificação dos
respondentes. Se as pessoas forem prevenidas de que sua identidade será
preservada, deverão de fato permanecer anônimas. Isso corresponde a uma
importante obrigação moral dos pesquisadores.

61
,

Além das dicas apontadas por Katz (1974, p. 85-87 apud Gil, 2002, p. 132) é importante
também que o pesquisador, em contato com o campo de pesquisa e os sujeitos que
fazem parte deste contexto, esteja atento para que possa deixar de lado os
preconceitos, não deixando que eles interfiram na escuta e observação da realidade,
respeitando aqueles que farão parte da pesquisa enquanto narradores daquela
realidade.

5.6 A pertinência da definição da pesquisa a partir do problema proposto

Estamos chegando ao final desse bloco, em que tratamos algumas possibilidades no


delineamento da pesquisa e o acesso às fontes a ser utilizadas por nós enquanto
pesquisadores(as). Nesse sentido, não podemos deixar de reforçar sobre a importância
de uma boa definição da pesquisa, vinculado ao problema e objetos que vislumbramos
nos debruçar.

Nesse momento, é importante lembrar que, quando falamos de pesquisa dentro do


contexto de formação e trabalho profissional do assistente social, estamos nos
referindo a produção de conhecimento sobre processos sociais, tendo a possibilidade
de olhar com mais atenção para o objeto da ação profissional. Dessa forma, podemos
dizer que o problema da pesquisa surge nas mediações desse estudante e/ou
profissional na realidade social, e seus questionamentos e reflexões a partir desta.
Identificado o problema proposto e o objeto de observação e análise nessa realidade,
é que vamos pensar e definir a maneira mais adequada de decifrar essa realidade a
partir da definição de metodologias e instrumentos de pesquisa pertinentes a serem
utilizados.

Conclusão

No bloco apresentado dialogamos sobre possibilidades de acesso a fontes de


informação relacionadas ao objeto de nossa pesquisa, sendo possível a partir daí traçar

62
,

o que chamamos de delineamento de pesquisa. Falamos sobre o uso das pesquisas


bibliográficas e documentais, assim como a pesquisa survey e pesquisa de campo.

Ao final do desse bloco reforçamos sobre a pertinência da definição da pesquisa a


partir do problema e a importância desse processo na construção de pesquisas no
âmbito do serviço social.

REFERÊNCIAS

BABBIE, Earl. Métodos de Pesquisas de Survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de. Método e metodologia na pesquisa científica.


Editora Yendis, 2008.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. Editora Atlas, 2002.

63
,

6 ESTRUTURA E ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA

Bem-vindo(a) ao último bloco dessa disciplina! Até aqui falamos sobre vários
elementos que compõe uma pesquisa social, tentando aproximar esse exercício de
pesquisa a nossa caminhada enquanto estudantes pesquisadores(as) e, também, como
assistentes sociais. Nesse percurso, introduzimos a importância da pesquisa no âmbito
do serviço social, refletindo sobre a relevância desta na construção do conhecimento e
intervenção profissional. Falamos também sobre o processo de definição do método,
que aponta para nosso posicionamento e perspectiva enquanto pesquisadores, assim
como o delineamento da pesquisa, considerando as possibilidades de instrumentos a
serem utilizados e como a pesquisa será conduzida. Por fim, começamos a caminhar
para a etapa de definição do tema a partir do problema de pesquisa, apontando
também para hipóteses e justificativas, além dos delineamentos possíveis a serem
usados.

Dito isso, aqui neste bloco, vamos exercitar tudo o que aprendemos até agora,
podendo construir juntos os elementos que irão compor um Projeto de Pesquisa em
sua estrutura. Vamos lá?

6.1 Elementos do Projeto de Pesquisa


escopo daquilo que almejo realizar na
minha pesquisa
Um projeto de pesquisa é composto por elementos que apresentam, em linhas mais
gerais, onde se pretende chegar no percurso de desenvolvimento da pesquisa, assim
como se pretende alcançar seu objetivo inicial, que foi desenhado a partir da
construção do tema, da pergunta de pesquisa e da(s) hipótese(s), como vimos
anteriormente.

Esse é um momento muito importante no processo de construção de pesquisa, pois o


projeto determina o planejamento de suas ações enquanto pesquisador(a). Nesse
processo de planejamento você fará uma aproximação com a situação definida como

64
,

objeto de pesquisa, consubstanciando o método utilizado, delineamentos e o caminho


a ser seguido no percurso da pesquisa.

Quando construímos um projeto de pesquisa e posteriormente o trabalho de pesquisa


em si, precisamos pensar também na linguagem que iremos usar no texto. É
importante ter o cuidado de expor nossas ideias de maneira clara e coesa. A redação
de um trabalho acadêmico pressupõe a utilização de uma linguagem mais formal, que
deixem explícitas a racionalidade e objetividade do processo.

Ao iniciarmos um projeto de pesquisa, o primeiro ponto então seria a introdução. Nela


nós apresentamos o que pretendemos pesquisar, indicando o percurso que nos levou
até o objeto de pesquisa. É na introdução também que apresentamos a formulação do
problema, delimitando nosso tema e a maneira como vamos nos aproximar dele. Essa
é uma oportunidade interessante para falarmos sobre a relevância do estudo do tema,
problematizando, a partir de uma breve pesquisa bibliográfica inicial do pesquisador, a
importância científica e social relacionada a discussão que se pretende construir no
seu trabalho de pesquisa.

Dando continuidade, passaremos para o segundo ponto, a justificativa. Nessa parte o


autor apresenta os argumentos que possam justificar porque sua proposta de pesquisa
é importante. De maneira geral, podemos começar dizendo os motivos que levaram a
realização da pesquisa, ponderando a importância do tema, como falamos
anteriormente. Nesse momento retomamos alguns pontos já explanados na
introdução e justificamos a escolha do tema, nosso problema de pesquisa e o porquê
da delimitação escolhida. Nesse contexto, é também oportuno apontarmos para
pesquisas anteriores (caso houverem) sobre o tema escolhido, e o quanto
pretendemos avançar na proposta desse tema.

Outro ponto importante a ser colocado no projeto de pesquisa seriam os objetivos.


Normalmente, na apresentação de uma pesquisa social de cunho científico, nós
determinamos um objetivo geral da pesquisa e os objetivos específicos.

O objetivo geral se refere a aquilo que pretendemos atingir ao final do trabalho de


pesquisa, de maneira mais global. Ele deve estar alinhado com o nosso
65
,

problema/pergunta de pesquisa, que será respondida ao longo da trajetória do


trabalho.

Já os objetivos específicos, se referem aos objetivos que o pesquisador gostaria de


alcançar em cada etapa do processo de pesquisa. Nesse caso, o pesquisador já deve
ter clara uma ideia de como irá conduzir o estudo do tema escolhido, tendo já um
desenho da pesquisa, no que diz respeito ao método e instrumentos a serem
utilizados. No entanto, é importante ressaltar que como o projeto de pesquisa é um
planejamento de ações do pesquisador, eventualmente, pode haver a necessidade de
alguma alteração no decorrer da execução da pesquisa.

Os objetivos, gerais e/ou específicos, se apresentam corpo do texto do projeto de


pesquisa, em formato de tópicos e sempre se iniciam com verbos no infinitivo.

Definidos os objetivos, vamos trabalhar em outra parte importante do projeto de


pesquisa que são as hipóteses. Nas hipóteses precisamos apontar para respostas
possíveis para o nosso problema de pesquisa. Serão então sugestões de respostas
formuladas a partir de observação, de leituras prévias sobre o tema pesquisado que
nos remetem a pesquisas anteriores e/ou teorias e reflexões já formuladas sobre o
tema. No entanto, é interessante ressaltar que chegar as respostas só é possível no
desenvolvimento da pesquisa.

Para o desenvolvimento da pesquisa é necessário também definir os procedimentos


metodológicos a serem utilizados. Como já trabalhamos em outros momentos dessa
disciplina, os procedimentos metodológicos dizem respeito a um conjunto de técnicas
que irão garantir a operacionalidade da pesquisa e a qualidade das informações
obtidas. Além disso, podemos dizer que o método também irá definir o olhar, a análise
que faremos a partir da realidade encontrada no processo da pesquisa. Podemos dizer
que o método da base a nossa pesquisa. Assim, vale lembrar que a pesquisa no âmbito
do serviço social cabe ao pesquisador a execução da pesquisa apoiada no projeto
ético-político da profissão.

Alinhado ao método, é importante também no projeto de pesquisa que deixemos claro


o referencial teórico que iremos utilizar no desenvolvimento do trabalho de pesquisa.
66
,

O referencial teórico aponta para a forma como iremos dialogar com o tema escolhido
e o problema elaborado, apresentando um levantamento de autores que estudam ou
já estudaram o tema proposto a partir de determinados processos históricos, aqui
também já podemos levantar problematizações possíveis no diálogo com esses
autores de referência.

Chegando ao final do projeto de pesquisa, precisamos apontar para o nosso


planejamento de atividades a partir do cronograma. De acordo com Alves (2007), o
cronograma é a organização das fases e etapas do projeto. No cronograma
colocaremos de maneira mais direta as etapas do processo de pesquisa e análise do
material encontrado, assim como os prazos que estabeleceremos para a realização
desses processos. O cronograma é parte importante do planejamento do processo de
pesquisa e ele pode variar de acordo com pré-requisitos institucionais, em se tratando
de uma pesquisa científica e/ou uma pesquisa para a intervenção profissional.

Por último, temos as referências bibliográficas. Nessa parte do projeto, colocamos de


maneira organizada a partir de critérios científicos e metodológicos, baseados em
normas técnicas, todos os autores utilizados como referência para a elaboração do
projeto de pesquisa, trazendo informações mais precisas sobre suas publicações e
onde é possível localizá-las, a fim de direcionar o contato direto com a fonte. No
próximo item falaremos melhor sobre essas normas técnicas que orientam a
construção e apresentação da pesquisa.

6.2 Normas técnicas que orientam a elaboração de um projeto de pesquisa

Com o objetivo de “contribuir com o desenvolvimento do trabalho de caráter científico


e tecnológico” (ABNT, 2020) da pesquisa no Brasil, as normas técnicas que orientam a
elaboração de um projeto de pesquisa foram criadas enquanto formas de padronizar e
normalizar a forma de apresentação dessas pesquisas. A Associação Brasileira de
Normas Técnicas, também conhecida por ABNT, foi criada em 1940, enquanto uma
instituição privada, sem fins lucrativos, responsável por estabelecer os padrões e

67
,

técnicas de produção, que serão fundamentais para que a compreensão e


identificação das pesquisas seja legível.

A ABNT irá nos orientar na construção do trabalho no que diz respeito a estrutura,
composta por elementos pré-textuais, elementos textuais e elementos pós textuais
(que destrincharemos a seguir), como também os tipos de trabalho que podem ser
apresentados, a maneira como os mesmos devem ser formatados, além de nos
orientar sobre a forma de desenvolver e apresentar citações de outros autores
utilizados enquanto referência nesse processo.

A ABNT (2020) define a possibilidade três tipos de trabalhos científicos no contexto


acadêmico, que são classificados conforme seu porte, podendo ser pequeno, médio ou
grande. Os trabalhos de pequeno porte são aqueles com menor número de páginas e
assumem uma característica mais informal. São exemplos: resumos, resenhas e até
pequenas avaliações e análises. Os trabalhos de médio porte já são um pouco maiores
que o primeiro, podendo ter de 10 a 30 páginas. São exemplos: artigos científicos,
projetos de pesquisa e relatórios em geral. Por fim, os trabalhos de grande porte, são
aqueles com mais de 30 páginas e que requerem maior conteúdo de elaboração. São
exemplos: os trabalhos de conclusão de curso (TCC), dissertações e teses.

Como mencionado, a ABNT também estabelece normativas sobre a formatação dos


trabalhos desenvolvidos. As regras de formatação podem envolver maior ou menos
complexidade dependendo do tipo de trabalho que está sendo elaborado. A tabela
abaixo apresenta algumas indicações mais gerais para essa formatação:

68
,

Tabela 6.1 – Normas ABNT de formatação

MARGENS Referência papel A4: margem superior e esquerda com 3cm e a


margem inferior e direita deve ser 2cm.
PAGINAÇÃO Apresentada a partir da página de introdução.
TEXTO Fonte e tamanho padrão: Times New Roman ou Arial, tamanho 12.
Espaçamento: 1,5cm entre linhas e recuo. Deslocamento de
parágrafo: média de 1,25 cm no início de cada parágrafo.
Fonte: ABNT, 2020. Adaptado.

No que diz respeito às citações, a ABNT nos orienta em como apresentar no corpo do
texto do trabalho científico/acadêmico, as citações diretas e indiretas. As citações
diretas se referem a transcrição literal do texto de origem. Podem aparecer no corpo
do trabalho entre aspas (quando tem até três linhas), ou quando maiores de três
linhas, em um bloco com formatação específica (com início sob a linha anterior, a 4 cm
à direita da tabulação, em espaço simples). Já as citações indiretas são aquelas que
trazem uma reprodução das ideias do(a) ator(a) de referência, mas não de forma
transcrita, literal.

É importante lembrar que no uso, tanto das citações diretas, como das indiretas, é
necessário mencionar o nome do autor, o ano em que a fonte utilizada foi publicada,
assim como a página em que se localiza na publicação (no caso, específico de citações
diretas). Quando não utilizamos adequadamente as citações, de acordo com o que
normatiza a ABNT, o trabalho pode assumir características de plágio. O plágio trata-se
do descumprimento do direito autoral, sendo considerado crime no Brasil e sujeito a
punições.

6.3 Elementos pré-textuais

A partir desse tópico, vamos retomar sobre como a ABNT normatiza a estrutura do
trabalho científico e técnico. Vamos dar início falando um pouco dos elementos pré-
textuais, estes são compostos por Capa, Folha de Rosto, Folha de Aprovação,
Dedicatória, Agradecimentos, Epígrafe, Língua estrangeira, Sumário. Alguns desses

69
,

itens são obrigatórios e outros não. Aqui, vamos falar sobre os elementos obrigatórios.
No entanto, seria importante o pesquisador buscar modelos e referências nos
materiais institucionais da ABNT1, como também dessa instituição2.

De acordo com ABNT (2020), a capa é importante para a identificação do trabalho,


contendo nela o nome dos(as) autores(as), o nome da instituição de ensino em que o
trabalho está vinculado, assim como o título do trabalho, o local e o ano da produção.

A folha de rosto, que vem logo depois, também é um elemento de identificação do


trabalho científico, pois além dos elementos que constam na capa, é preciso ser
inserido também uma breve descrição do objetivo do trabalho. Por exemplo, no caso
de um trabalho de conclusão de curso, será na folha de rosto que o pesquisador irá
identificar seu/sua orientador(a) e o fato de o trabalho ser um requisito básico de
formação no curso que está finalizando.

A ficha catalográfica e a folha de aprovação também são elementos obrigatórios na


estrutura do trabalho e vão trazer informações mais gerais sobre este, que podem ser
utilizadas em futuras citações para referência da pesquisa, assim como, no caso da
folha de aprovação, informações sobre a data e local em que o trabalho científico foi
examinado e a banca examinadora responsável.

O resumo também é um elemento pré-textual obrigatório, este deve aparecer em


língua portuguesa e em uma língua estrangeira. No resumo, o pesquisador irá
apresentar, de maneira concisa, os pontos fundamentais do texto, considerando o
contexto da pesquisa, o objetivo e os principais resultados e conclusões. É importante
que o resumo seja bem construído, pois a partir dos elementos que ele traz, pode
capturar ou não o interesse de um possível leitor. O resumo também precisa ser
construído seguindo regras de formatação, como o número máximo de palavras, fonte
e espaço entre linhas. Junto dele também serão apresentadas palavras chave que

1
Disponível em: <http://www.abnt.org.br/>. Acesso em: set. 2020.

2
Disponível em: <http://www.unisa.br/media/Manual-Normatizacao20062018.pdf>. Acesso em: set.
2020.
70
,

dizem respeito aos principais assuntos e/ou categorias analisadas ao longo do texto
técnico/científico.

O último elemento obrigatório na estrutura pré-textual, seria o sumário. Nele o(a)


autor(a) deve apresentar o que definiu enquanto divisões, secções e outras partes do
texto. Estas divisões (capítulos, subcapítulos, tópicos, seções etc.), assim como os
respectivos títulos dados a elas, devem aparecer de forma enumerada e na ordem
como serão apresentadas no corpo do trabalho, indicando também as páginas onde
podem ser localizadas. O sumário, assim como as outras partes do texto, também deve
apresentar uma formatação adequada ao que indica as normas da ABNT.

6.4 Elementos textuais

Os elementos textuais são formados pela introdução, o desenvolvimento e a conclusão


do texto técnico/científico. Serão nos elementos textuais que encontraremos o
conteúdo central do que foi construído no trabalho. Sobre a introdução, Andrade (et.
al., 2018, p.39) descreve:

A Introdução deve expressar de forma sucinta como o trabalho irá se


desenvolver. O texto deve apresentar um referencial teórico que esclareça o
tema abordado, além da especificidade e da extensão que se pretende
abordar, ressaltar a relevância do tema e dos objetivos estabelecidos de
maneira a justificar a sua realização. Assim concebida Introdução, com as
páginas sempre numeradas, é uma apresentação de todo o trabalho não
cabendo nela em hipótese alguma, discussões teóricas, citações e gráficos.

Nesse sentido, podemos dizer que a introdução deve proporcionar ao leitor o acesso à
apresentação das principais problematizações propostas no trabalho, e como serão
desenvolvidas.

Já o desenvolvimento, é a parte do trabalho em que destrinchamos sobre a nossa


pesquisa, trazendo ali o que diz respeito ao processo de construção do trabalho.
Apresentamos todo o processo de elaboração do tema pesquisado, dialogando com
autores/as de referência. O desenvolvimento deve ser dividido em seções e subseções

71
,

para uma melhor organização e entendimento do texto. Essa divisão estará subjugada
a natureza da pesquisa (ANDRADE ET. AL., 2018).

A conclusão tem como foco trazer as avaliações finais do(a) autor(a) sobre a pesquisa.
É interessante que nesse estágio o(a) autor(a) retome o problema inicial,
apresentando as possíveis respostas encontradas no percurso de desenvolvimento do
trabalho, ou seja, suas contribuições para a temática. Nesse momento, o pesquisador
pode indicar também suas considerações finais, enquanto um desfecho possível
daquele trabalho acadêmico, indicando novos caminhos para que o tema continue a
ser debatido.

6.5 Elementos pós-textuais

Os elementos pós-textuais são compostos por: Referências Bibliográficas, anexos e


apêndices (os dois últimos, se houverem).

As Referências Bibliográficas dizem respeito a um elemento obrigatório e devem


apresentar a relação de obras, artigos científicos e documentos consultados e
utilizados para a elaboração do trabalho científico, possibilitando que o leitor possa
localizar e consultar a mesma fonte.

Os anexos e apêndices são elementos opcionais e se referem, respectivamente, a


“texto ou documento que não foi produzido pelo autor do trabalho, e que contribui
para melhor entendimento do trabalho” (ANDRADE ET.AL., 2018, p.41); e “material ou
texto elaborado pelo autor do trabalho acadêmico para complementar a sua
argumentação” (ANDRADE ET.AL., 2018, p.40).

Ressaltamos, mais uma vez, que esses elementos devem ser formatados e
apresentados no corpo do trabalho de acordo com as normas técnicas da ABNT.

72
,

Conclusão

Nesse último bloco, discutimos sobre a estrutura e elaboração do projeto de pesquisa,


assim como como se estrutura um trabalho técnico/científico, de acordo com as
normas da ABNT.

Ao fim dessa disciplina, faz-se importante concluir a importância da Pesquisa Social, no


processo de formação profissional. Consideramos ser o Serviço Social uma área
produtora de conhecimentos, que precisam estar fundamentados no seu projeto
profissional. Sendo assim, a pesquisa no Serviço Social precisa ser realizada em caráter
transversal, possibilitando que os conhecimentos teoricamente sistematizados possam
contribuir na leitura e intervenção na realidade ancorados nos valores ético-políticos
profissionais.

REFERÊNCIAS

ALVES, Magda. Como escrever teses e monografias: um roteiro passo a passo. 2. ed.
rev. atual. Rio de Janeiro: Campus, 2007.

ANDRADE, Elaine Guglielmello de Andrade... [et.al.]. Manual de normatização de


trabalhos acadêmicos / Coordenação – 3. ed. – São Paulo: Unisa, 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Disponível em:


<http://www.abnt.org.br/>. Acesso em: ago. 2020.

73

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