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GESTÃO EMPREENDEDORA E

INOVAÇÃO
Marcia Maria da Graça Costa
,

1 EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR

O Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo. Em 2017,


36,4% dos brasileiros com idade entre 18 e 64 anos conduziam atividades
empreendedoras. Isso significa que 36 em cada 100 brasileiros estavam envolvidos em
um negócio próprio. É um contingente de quase 50 milhões de brasileiros
empreendendo ou realizando ações para criação de um negócio futuro (GEM, 2018).

O que torna o nosso país tão favorável às atividades empreendedoras? E qual é o


resultado do esforço desses milhões de empreendedores?

Para responder essas questões, precisamos compreender a história do


empreendedorismo, como ele teve início no Brasil, e o seu cenário atual.

1.1 Análise histórica do empreendedorismo

O empreendedorismo, como um conceito, existe desde que surgiu a necessidade de


realização de grandes projetos, tais como a construção das pirâmides do Egito, os
jardins suspensos da Babilônia, o Farol de Alexandria, a cidade Maia de Chichen Itzá e
outras obras grandiosas que estão distribuídas pelo mundo afora. Até meados da
Idade Média, os empreendedores ainda não eram conhecidos por assumir riscos, mas
exerciam o papel de gerenciar grandes projetos. O marco inicial teria sido a assinatura
de um contrato entre o explorador Marco Polo (1254-1324)1 e um comerciante de
tecidos e especiarias para vender seus produtos na chamada Rota do Oriente2. Dessa
forma, ele assumiu grandes riscos, pois a carga poderia ser roubada e ele teria que

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Marco Polo foi um mercador, embaixador e explorador veneziano cujas aventuras estão registradas
em As Viagens de Marco Polo, um livro que descreve para os europeus as maravilhas da China, de sua
capital Pequim e de outras cidades e países da Ásia. (WIKIPEDIA, s.d.).
2
A Rota do Oriente, também conhecida como rotas das especiarias, foram percursos comerciais gerados
pelo comércio de especiarias provenientes da Ásia, interligando diversos povos ao longo do tempo, da
Europa à Ásia. (WIKIPEDIA, s.d.).

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reembolsar os comerciantes. Mas, as expressões empreendedorismo e empreendedor


ainda não eram utilizadas (CHIAVENATO, 2012; FABRETE, 2019).

Segundo Chiavenato e Fabrete, derivada da palavra francesa entrepreneuer, que


significa o “indivíduo que assume riscos”, a palavra empreendedor começou a ser
utilizada no século XVIII pelo economista Richard Cantillon (1680-1734). A palavra foi
utilizada para diferenciar o capitalista do empreendedor. Segundo Cantillon, o
capitalista apenas investia recursos financeiros em um negócio, correndo apenas riscos
financeiros. Por outro lado, era o empreendedor que assumia papel ativo, correndo
riscos físicos e emocionais, viajando pelo mundo para realizar o comércio.

O uso da palavra evoluiu com outro economista, dessa vez Jean-Baptiste Say (1767-
1832), que passa a associar o empreendedor ao aumento da produtividade. Seria
alguém que transfere recursos econômicos entre atividades com baixa e elevada
produtividade, tornando-se um elemento essencial no sistema econômico. Por fim,
mais um economista se envolve na definição do empreendedor. Dessa vez, Carl
Menger (1840-1921), que definiu o empreendedor como alguém que antecipa ações e
realiza previsões sobre as necessidades futuras do negócio. O papel e o perfil do
empreendedor continuaram a ser estudados e definidos pelos economistas. Já no
século XX, Ludwig von Mises (18881-1973) afirmava que o empreendedor é alguém
que toma decisões; enquanto Friedrich von Hayek (1899-1992) ampliou o conceito,
extrapolando o fator “assumir riscos” para alguém que identifica oportunidades de
mercado (CHIAVENATO, 2012; FABRETE, 2019).

Finalmente, nos anos 1950, Joseph Schumpeter (1883-1950) introduz a ideia de


“destruição criativa” ao comportamento do empreender. Para o economista, o
empreendedor é uma pessoa capaz de converter uma ideia em uma inovação bem-
sucedida, com a substituição de produtos. Dessa forma, surge a associação do
empreendedor com criação de novas empresas ou revitalização de empresas já
maduras, sempre com base no conceito de novos negócios em resposta à identificação
de oportunidades. É por isso que, por meio da destruição criativa, o empreendedor se
torna responsável pelo dinamismo do mercado, contribuindo para o crescimento
econômico.
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O tema empreendedor e empreendedorismo continuou a ser estudado por diversos


pesquisadores, de várias áreas, que contribuíram muito para a compreensão do
assunto. Confira uma síntese desses estudos no quadro a seguir.

Quadro 1.1 - Contribuições para o entendimento do empreendedorismo

ANO AUTOR CONTRIBUIÇÃO


Identifica três necessidades do empreendedor: poder, afiliação e sucesso
1961 McClelland (sentir que se é reconhecido). Afirma que: “o empreendedor manifesta
necessidade de sucesso”
Identifica o locus de controle interno e externo: “o empreendedor
1966 Rotter
manifesta locus de controle interno”
O comportamento do empreendedor reflete uma espécie de desejo de
colocar sua carreira e sua segurança financeira na linha de frente e correr
1970 Drucker
riscos em nome de uma ideia, investindo muito tempo e capital em algo
incerto
“Empresário é alguém que identifica e explora desequilíbrios existentes na
1973 Kirsner
economia e está atento ao aparecimento de oportunidades”

1982 Casson “O empreendedor toma decisões criteriosas e coordena recursos escassos”

Sexton e
1985 “O empreendedor consegue ter uma grande tolerância à ambiguidade”
Bowman
“O empreendedor procura a autoeficácia: controle da ação humana através
de convicções que cada indivíduo tem para prosseguir autonomamente na
1986 Bandura
procura de influenciar a sua envolvente para produzir os resultados
desejados
William
2002 “O empreendedor é a máquina de inovação do livre mercado”
Baumol

Fonte: Chiavenato (2012, p. 7-8).

Esses estudos contribuíram para compreender melhor o papel do empreendedor na


economia, e na sociedade como um todo. Chiavenato (2012) sintetiza o
comportamento empreendedor como aquele em que alguém coloca em risco a sua
segurança pessoal e profissional para assumir riscos, investindo tempo e dinheiro para
colocar uma ideia em prática.

Em relação às contribuições do empreendedorismo para a sociedade, Maximiano


(2012) e Dornelas (2018) destacam que seu fortalecimento representa um papel
significativo e importante para o desenvolvimento econômico e social, em especial,
pela sua capacidade de gerar empregos e renda para a população. Nesse sentido, a

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ação empreendedora tem impacto relevante no desenvolvimento de um país, em


virtude do seu potencial de geração de riqueza, inovação e aumento da produtividade.

Maximiano (2012) sintetiza a importância do empreendedorismo para a sociedade em


três variáveis: inovação, padrão e qualidade de vida. A Inovação é um motor
econômico relevante, e os estudos comprovam que os pequenos negócios costumam
ser mais eficientes que as grandes empresas por apresentarem maior flexibilidade para
gerar inovações. Os fatos históricos demonstram que a maioria das inovações
importantes e impactantes da atualidade foram criadas no âmbito de pequenas
empresas.

Quanto ao padrão e à qualidade de vida, a atividade empreendedora afeta vários


aspectos sociais de maneira significativa. Considerando o Padrão de Vida como a
quantidade de produtos que podem ser comprados com a renda disponível, os
empreendedores afetam esse padrão ao permitir uma inserção social que outras
atividades não permitiriam. A Qualidade de Vida é o bem-estar geral da sociedade,
proporcionado por fatores que contribuem para o conforto e a satisfação das pessoas.
O incremento das atividades empreendedoras de uma sociedade, com o aumento do
padrão de vida, reflete de forma direta no seu bem-estar. Não é por acaso que as
principais economias mundiais, reconhecidas pela melhor qualidade de vida, são as
mesmas que estimulam o espírito empreendedor.

1.2 Conceito e caracterização do empreendedorismo

As diversas inovações e invenções surgidas ao longo do século XX têm transformado a


vida das pessoas. Novos olhares sobre elementos já existentes, e a criação de
elementos verdadeiramente novos, revolucionaram o estilo de vida da sociedade.
Sempre que essas inovações são estudadas pelos pesquisadores, percebe-se que a sua
base é o comportamento empreendedor. Veja, na figura a seguir, algumas dessas
contribuições do empreendedorismo ao longo do século XX (DORNELAS, 2018).

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Figura 1.1 – Contribuições do empreendedorismo: ideias e invenções do século XX

Fonte: Dornelas (2018, p. 2).

É por isso que Jeffry Timmons afirmou que “o empreendedorismo é uma revolução
silenciosa, que será para o século 21 mais do que a revolução industrial foi para o
século 20” (TIMMONS, 1990 apud DORNELAS, 2018, p.1).

Para compreender a forma como o empreendedorismo vem revolucionando o mundo,


o empreender se tornou objeto de estudo em diversas áreas, no entanto, nota-se um
aumento da preocupação em entender o empreendedorismo e como ele pode ser
ensinado e aplicado. Ainda que os estudos já aconteçam há séculos, o avanço
tecnológico, e seus impactos nos meios de produção, têm exigido um número maior
de empreendedores. Assim, a formalização dos conhecimentos sobre o
empreendedorismo, que permita sua aplicação nos diversos níveis de educação
escolar, tornou-se fator crítico de sucesso (DORNELAS, 2018).

E como é possível conceituar empreendedorismo? A própria origem da palavra já


permite alguma conceituação, uma vez que o termo “entrepreneuer” identifica alguém

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que corre riscos para iniciar algo novo. A partir desse conceito inicial, Dornelas (2018,
p. 30) amplia o conceito para a definição que utilizaremos ao longo da disciplina,
quando afirma “que o processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e
ações associadas à criação de novos negócios, não se limitando à abertura de
empresas”. Indo além, e desdobrando o conceito inicial, segundo o autor,

Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve o processo de criação de


algo novo, de valor. Em segundo, requer a devoção, o comprometimento de
tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer. Em terceiro, que
riscos calculados sejam assumidos, e decisões críticas, tomadas; é preciso
ousadia e ânimo, apesar de falhas e erros. (DORNELAS, 2018, p. 30).

Por essa conceituação, é possível perceber que o empreendedorismo não é uma


característica de personalidade, ou seja, não se nasce empreendedor, como era o
pensamento vigente há alguns anos. Por se tratar de um processo que envolve
metodologias e técnicas, o aprendizado não só é possível, como tem sido praticado em
diversas instituições de ensino, inclusive aqui no Brasil. Até mesmo porque o sucesso
de um empreendimento não depende apenas da vontade do empreendedor, mas
também de diversos fatores internos e externos (que devem ser considerados na
análise do negócio) e da maneira como o negócio é administrado. Tudo isso requer o
desenvolvimento de competências que envolvem os conhecimentos originados de
diversas áreas, tais como contabilidade, administração, finanças, dentre outras
(DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019).

Dornelas (2018) alerta para o fato de que o ensino de empreendedorismo pode sofrer
alterações em virtude da instituição no qual é aplicado. Por isso, ele recomenda que
qualquer curso deve conter os itens a seguir.

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Figura 1.2 – Conteúdos para cursos de empreendedorismo

Fonte: Dornelas (2018, p. 31).

É claro que o ensino do empreendedorismo não garante que todos se tornarão mitos,
tais como Steve Jobs e Bill Gates, ou Luiza Trajano, Olavo Setúbal, Samuel Klein e Abílio
Diniz (para citar alguns brasileiros). Mas, certamente, proporcionará uma preparação
melhor para os empresários, resultando em empresas mais bem preparadas para gerar
empregos, renda e riqueza (DORNELAS, 2018).

Esses aspectos são relevantes tendo em vista que a compreensão do


empreendedorismo depende do entendimento do seu ambiente. Conforme Salim e
Silva (2010), os principais componentes desse ambiente estão descritos a seguir.

• Inovação: é a essência do ambiente, composta por invenções e novidades


tecnológicas;

• Comunicação: as ferramentas de comunicação virtual tornam os processos de


comunicação mais simples, ágeis e baratos;

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• Informação: o avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)


permitem o acesso a um grande volume de informações, sobre diversas áreas,
muitas delas em tempo real;

• Distribuição: o crescimento do comércio internacional traz novos desafios


logísticos com a distribuição de clientes, fornecedores e da produção em vários
países;

• Tecnologia: o aumento contínuo das novas tecnologias, em uma velocidade


muito maior que em um passado recente, representa novas oportunidades,
mas também novos desafios;

• Globalização: a velocidade com a qual os negócios tem se espalhado pelo


mundo, a conexão entre pessoas e empresas de vários países, traz novas
maneiras de avaliar os negócios existente nesse cenário;

• Novos conceitos: a evolução da sociedade tem refletido na gestão dos


negócios, temas como responsabilidade social e ambiental têm sido cobrados
das empresas por consumidores; além disso, o comércio virtual tem se
expandido para diversos produtos e serviços, exigindo respostas rápidas e
adequadas.

1.3 O empreendedorismo no Brasil

De um ponto de vista conceitual, ou seja, a partir do conceito do empreendedorismo


como uma forma de assumir riscos para colocar em prática novas ideias, essa atividade
pode ser identificada no Brasil a partir do século XVII. Nessa época, quando o país
ainda era uma colônia, o governo português realizou a doação de grandes extensões
de terra para os cidadãos. Esses novos proprietários assumiram, então, o risco de
navegar por meses até o novo continente e desenvolver a propriedade recebida
(SALIM; SILVA, 2010).

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No século XIX, com o Brasil na condição de império, destaca-se a atuação pioneira de


Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Visconde de Mauá. Ele foi empresário,
industrial e banqueiro e sua atuação sempre se direcionou ao desenvolvimento do
país. São inúmeros os projetos que servem de exemplo a essa ação empreendedora: as
companhias de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas; a primeira
ferrovia brasileira ligando Petrópolis ao Rio de Janeiro; a companhia de gás para a
iluminação pública do Rio de Janeiro e primeira rodovia pavimentada do país,
interligando as cidades de Petrópolis (RJ) à Juiz de Fora (MG) (DORNELAS, 2018; SALIM;
SILVA, 2010).

A longo do século XX, diversos empreendedores se tornaram pioneiros nas suas áreas
de atuação, deixando um extenso legado social e para a economia do país. Confira
alguns deles no quadro a seguir.

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Quadro 1.2 – Pioneiros do empreendedorismo no Brasil

PIONEIRO LEGADO

Francisco Matarazzo • Indústrias Matarazzo (Início da


industrialização do país).

Nami Jafet • Comércio no interior de São Paulo;

• Clube Monte Líbano;

• Hospital Sírio e Libanês.

Ramos de Azevedo • Reurbanização de São Paulo;

• Teatro Municipal;

• Prédio da Faculdade de Medicina da


USP.

Júlio Mesquita • Jornal O Estado de S. Paulo.

Leon Feffer • Suzano Papel e Celulose;

• Início da produção de papel e celulose;

• Clube A Hebraica;

• Hospital Albert Einstein.

Antônio Ermírio de • Grupo Votorantim.


Moraes

Jorge Gerdau • Setor siderúrgico;


Johannpeter
• Indústrias Gerdau.

Fonte: adaptado de Salim e Silva (2010, p. 41-47).

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Esses pioneiros desenvolveram suas atividades empreendedoras quando o tema


empreendedorismo ainda não era discutido no país de forma consistente. A economia
fechada e o cenário político não estimulavam a ação de empreendedores, muito
menos a abertura de pequenas empresas. A grande maioria dos pequenos negócios
funcionava de maneira informal.

Nos anos 1990, com a abertura da economia promovida pelo Presidente Fernando
Collor (1949-) e a criação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) e da Sociedade Brasileira para Exportação de Software (Softex). O Sebrae é
reconhecido como o principal órgão de apoio ao pequeno empresário, fornecendo
suporte para a formação de empreendedores, apoio para obter soluções para as
dificuldades e problemas dos negócios e consultoria especializada. A Sofitex contribuiu
para a expansão do segmento de softwares, capacitando os empresários de
informática em gestão e tecnologia, e apoiando a nascente indústria de tecnologia
nacional. Além desses exemplos, o programa Brasil Empreendedor, criado pelo
Governo Federal em 1999, proporcionou capacitação a mais de seis milhões de
empreendedores em todo o país, com investimento de R$ 8 bilhões (DORNELAS, 2018;
FABRETE, 2019).

A partir do ano 2000, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), instituição destinada


à pesquisa sobre o empreendedorismo no mundo, em parceria com o Instituto
Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), começou a realizar pesquisas sobre o
empreendedorismo no Brasil. A pesquisa é feita com um grande número de
empreendedores, que fornecem os dados e informações para consolidar o Relatório
GEM de Empreendedorismo no Brasil (GEM, 2018). É desse relatório, da edição de
2017, as informações a seguir.

Vamos começar com o volume total de empreendimentos captado pela pesquisa em


2017, que você observa na tabela abaixo.

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Tabela 1.1 – Empreendimentos por classificação – Brasil 2017

Fonte: GEM (208, p. 8).

A classificação dos empreendimentos é feita com os seguintes parâmetros:

• Nascentes: negócio novo que ainda não pagou salários, pró-labores ou outra
forma de remuneração aos proprietários por mais de três meses;

• Novos: empreendimento que já remunerou de alguma forma os seus


proprietários em período superior a três meses e inferior a 3,5 anos;

• Estabelecidos: negócios que já remuneraram os proprietários de alguma forma


(salário, pró-labore ou outra) em período superior a 3,5 anos.

A evolução do número de empreendedores, no período de 2002 a 2017, mostra que


houve crescimento de 21% para 36%, com o maior percentual em 2015. A maior
participação, durante a maior parte do período, é de negócios iniciais. Em 2017, esses
negócios representaram 20%, enquanto os estabelecidos registraram 17%.

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Figura 1.3 – Evolução dos tipos de empreendedores – Brasil 2002-2017

Fonte: GEM (2018, p. 8).

Para compreender essa expansão contínua da atividade empreendedora, os motivos


pelos quais as pessoas optaram pela abertura de um negócio também são objeto da
pesquisa. Nesse sentido, o relatório realiza a classificação de duas formas:
empreendedorismo por oportunidade e por necessidade.

• Oportunidade: iniciaram o negócio pela percepção de uma oportunidade no


ambiente;

• Necessidade: o negócio foi iniciado pela falta de opções para gerar ocupação e
renda.

Figura 1.4 – Motivos para empreender – Brasil 2002-2017

Fonte: GEM (2018, p. 10).

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De acordo com as análises do instituto, a participação desses tipos de


empreendedores tem relação com a situação econômica do país. De maneira geral,
quando a economia está estável e oferece boas chances de empregabilidade, o
empreendedorismo por necessidade tende a cair, pelas oportunidades de obter
emprego e renda. Nesse cenário, a maior participação é a de empreendedorismo por
oportunidade. Entre 2008 e 2014, percebe-se o grande crescimento de
empreendedorismo por oportunidade, confirmando a análise do instituto, pois nesse
período houve grande crescimento econômico no Brasil.

A partir de 2015, com a desaceleração da economia, a linhas começam a se encontrar,


o que significa aumento do empreendedorismo por necessidade e queda das
oportunidades de novos negócios.

Se você quiser explorar mais o perfil do empreendedorismo no Brasil, acesse o


relatório completo através do link que está disponível nas referências ao final deste
texto.

1.4 O comportamento empreendedor

Muitas pesquisas foram realizadas, ao longo do tempo, para identificar as


características que definem o comportamento empreendedor, uma vez que os
resultados obtidos estão relacionados com seu perfil comportamental. Nesse sentido,
Maximiano (2012), sintetiza os principais traços do comportamento empreendedor na
figura a seguir.

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Figura 1.5 – Traços do comportamento empreendedor

Fonte: Maximiano (2012, p. 17).

Vamos explorar um pouco mais esses traços, a partir de Maximiano (2012).

Criatividade: é um dos traços principais do empreendedor, que está sempre envolvido


na busca de soluções inovadoras.

Disposição para assumir riscos: é o traço básico da personalidade citado pelos


pesquisadores, desde a origem dos estudos sobre empreendedorismo. Significa a
capacidade de lidar com as incertezas associadas a um novo negócio.

Capacidade de implementação: além do seu potencial de gerar inovações, o


empreendedor se destaca por levar as ideias até a sua consecução, ou seja, finaliza o
que imagina.

Senso de independência: ter forte senso de independência significa que os


empreendedores não dependem do suporte ou da opinião de outras pessoas. Eles
confiam na própria capacidade para realizar o que muitos podem considerar
irrealizável, têm autonomia e trabalham para si mesmos.

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Perseverança: criar um negócio implica em investir e fazer grandes esforços para


superar os obstáculos. Por isso, ter perseverança significa não desistir e investir tempo
e energia para obter a realização.

Otimismo: o empreendedor consegue formar uma visão de futuro na qual não


considera a possibilidade de fracasso. E se fracassar, compreende o fato como uma
chance de aprender e ter sucesso na próxima tentativa.

Chiavenato (2012) também apresenta uma síntese do conjunto de características que


integram o espírito empreendedor, como poder ser observado na figura a seguir.

Figura 1.6 – As três características básicas do empreendedor

Fonte: Chiavenato (2012, p. 14).

Com base no autor, e em Fabrete (2019), iremos explorar essas características a seguir.

Necessidade de realização

Os indivíduos possuem necessidade de realização em níveis diferentes. Aqueles que a


tem em nível mais elevado costumam ser mais competitivos, buscam um alto padrão
de excelência e realizam as próprias tarefas. Essa alta necessidade de realização
caracteriza os empreendedores.

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Disposição para assumir riscos

Empreendedores, como já comentado, tem tendência a assumir diversos tipos de


riscos. Muitos abandonam posições estáveis no mercado de trabalho para explorar
oportunidades identificadas, nas quais realizam investimentos. No entanto, é
importante destacar que eles assumem riscos calculados, ou seja, aqueles nos quais
podem exercer certo domínio.

Autoconfiança

O indivíduo empreendedor é seguro em relação aos seus objetivos, bem como de sua
capacidade para enfrentar e superar os obstáculos e desafios. Acredita em suas
habilidades pessoais, e também no fato de que o sucesso depende do seu esforço.

1.5 Características do empreendedor de sucesso

Os estudos realizados sobre a atuação de inúmeros empreendedores de sucesso


revelam que eles desenvolvem características que os tornam diferenciados em relação
aos demais. Para Dornelas (2018), são as características a seguir que devem ser
buscadas por empreendedores para alcançar o sucesso.

São visionários

Conseguem estabelecer uma visão de como será o futuro de seu negócio e têm a
habilidade de implementar seus sonhos.

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Sabem tomar decisões

Têm capacidade para tomar as decisões corretas na hora certa, especialmente em


situações de adversidade, o que é um fator-chave para seu sucesso. Também
conseguem colocar em prática suas ações rapidamente.

São indivíduos que fazem a diferença

Isso acontece porque eles, de acordo com Dornelas (2018, p. 24), “transformam algo
de difícil definição, uma ideia abstrata, em algo concreto, que funciona, transformando
o que é possível em realidade.” Dessa forma, pode-se afirmar que eles fazem a
diferença por transformar sonhos em realidades.

Sabem explorar ao máximo as oportunidades

Perceber e explorar oportunidades está na essência do empreendedorismo. E o


empreendedor de sucesso consegue identificar boas ideias aonde ninguém mais vê, ou
não percebem o seu potencial. É por isso que são considerados excelentes nas ações
de identificar e explorar oportunidades.

São determinados e dinâmicos

Seu dinamismo supera as adversidades e obstáculos, especialmente pela determinação


e pelo comprometimento aplicados na implementação das suas ações. É por esse
dinamismo que costumam não se conformar com a rotina.

São dedicados

Dedicam-se integralmente ao seu negócio, com muita energia e sem restrição de


tempo, o que muitas vezes cria problemas de relacionamento com amigos e família,
podendo até mesmo causar-lhes problemas de saúde. Costumam ser incansáveis e
loucos pelo trabalho.
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São otimistas e apaixonados pelo que fazem

São otimistas, pois não consideram o fracasso, só enxergando o sucesso. E fazem isto
de maneira apaixonada, pois adoram o que fazem. É dessa forma que obtém a energia
que os mantem animados e autodeterminados.

São independentes e constroem o próprio destino

Não querem ficar presos ao modelo de emprego tradicional, mas, ser seu próprio
patrão e assim determinar por si próprio seu caminho. Procuram a independência a
partir da criação de algo novo, que também gere empregos.

Ficam ricos

Empreendedores de sucesso não têm como meta central ficarem ricos. Eles
compreendem que o dinheiro é consequência de um bom trabalho e do sucesso dos
negócios.

São líderes e formadores de equipes

O empreendedor de sucesso sabe que não pode fazer tudo sozinho e, portanto,
depende de outros para chegar ao sucesso. Por isso, estudam e exercitam a liderança
para manter seus colaboradores motivados e valorizados, obtendo, em contrapartida,
forte comprometimento e respeito de todos.

São bem relacionados (networking)

Valorizam sua rede de contatos externos à empresa, não só com clientes e


fornecedores, mas com todos que podem influenciar seus resultados, tais como
entidades de classe e autoridades.

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São organizados

Sabem como otimizar a alocação dos recursos, utilizando instalações, máquinas e


equipamentos, bem como capital humano e recursos financeiros, de maneira racional
e centrada na produção de resultados para o negócio.

Planejam, Planejam, Planejam

Para ter sucesso, esses empreendedores investem no planejamento detalhado do seu


negócio. Todo o processo, que começa com um esboço do plano de negócios, até sua
demonstração a investidores, o que inclui o desenvolvimento de estratégias de
marketing para o negócio e outros aspectos relevantes. E esse planejamento sempre
considera a sua visão de negócio.

Possuem conhecimento

Eles entendem que o sucesso nos negócios depende do conhecimento obtido em


diversas fontes, e que deve ser continuamente atualizado. Assim, se mantêm
atualizados para ter domínio sobre a dinâmica do seu negócio e do ramo de atividade.
Exploram as diversas fontes de conhecimento, tais como a experiência prática, cursos
especializados, publicações especializadas e análise de negócios semelhantes.

Assumem riscos calculados

Capacidade para assumir riscos é a característica mais conhecida dos empreendedores.


No entanto, quando estudamos os empreendedores de sucesso, percebe-se que vão
além de assumir riscos calculados, pois sabem gerenciar o risco e analisar o potencial
verdadeiro de obter sucesso. Como entendem que riscos e desafios estão
relacionados, consideram a jornada empreendedora mais recompensadora quando
assumem desafios maiores.

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Criam valor para a sociedade

A própria dinâmica de negócios e o sucesso alcançado pelos empreendedores de


sucesso resultam em valor para a sociedade. Os negócios envolvem a criatividade para
solucionar problemas, ampliando o potencial de inovação. Essa combinação gera
empregos e renda, com impactos positivos na economia como um todo.

Perceba que a descrição das características dos empreendedores de sucesso inclui


conhecimentos, habilidades e competências construídos ao longo do tempo. São
resultado de um processo contínuo de aprendizado, e de alguns atributos pessoais,
que tornam possível conquistar sucesso acima da média.

Conclusão

Nesta etapa, começamos os estudos sobre o empreendedorismo avaliando sua


evolução histórica e o contexto que proporcionou sua origem e evolução. O fato de os
estudos iniciais terem sido desenvolvidos por economistas já evidencia a relação direta
entre empreendedorismo e atividade econômica. É por isso que o empreendedorismo
exerce papel significativo para a inovação, padrão e qualidade de vida da população.

Ao aprofundar a análise do empreendedorismo no Brasil, descobrimos que ele teve


início, praticamente, desde a descoberta do país, mesmo que as ações desenvolvidas
até o século XIX não tivessem esse nome. Vários pioneiros do empreendedorismo
superaram imensas dificuldades e deixaram o seu legado nacional. O impulso à
atividade empreendedora tem início nos anos 1990, com diversas ações, tais como a
criação do Sebrae e da Softex. Atualmente, o Brasil é considerado um dos países mais
empreendedores do mundo, cujo perfil de empreendedor apresenta variação ao longo
do tempo, como mostraram as pesquisas realizadas pelo GEM.

Para entender o fenômeno do empreendedorismo, estudamos a sua figura central, o


empreendedor. Vimos suas características essenciais e diferenciadores, também
pudemos entender que tudo isso pode ser aprendido, uma vez que existem

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metodologias e técnicas que contribuem para o desenvolvimento do comportamento


empreendedor.

E, por fim, observamos os resultados de estudos que avaliam os empreendedores de


sucesso, que mostram as características daqueles que criaram negócios com
resultados acima da média. Também nesse aspecto, é possível concluir que ser
empreendedor é, acima de tudo, uma escolha que envolve muito estudo e
planejamento.

REFERÊNCIAS

CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 4 ed.


Barueri, SP: Manole, 2012.

DORNELAS, J. Empreendedorismo, transformando ideias em negócios. 7 ed. São


Paulo: Empreende, 2018.

FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil,


2019.

GEM - Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil: Relatório GEM


2017. São Paulo: GEM, 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2TMqMhN>. Acesso em:
20 jun. 2020.

MAXIMIANO, A. C. A. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012.

SALIM, C. S; SILVA, N. C. Introdução ao empreendedorismo: construindo uma atitude


empreendedora. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

“Marco Polo”. In: Wikipédia. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Polo>. Acesso em: 24 jun. 2020.

“Rota das Especiarias” In: Wikipédia. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Rota_das_especiarias>. Acesso em: 24 jun. 2020.

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