Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Quando surgiu, na França do século XVI, a palavra entrepreneur carregava um sentido que, até
hoje, possui um significado heterogêneo e dinâmico. Nas primeiras formulações, o empreendedorismo
estava associado à aceitação de risco. Cantillon (1950), em documento intitulado “Ensaio sobre a
Natureza do comércio em geral” e escrito em 1730, utilizou explicitamente o termo empresário para se
referir ao indivíduo que assume riscos em condições de incerteza, na relação comercial entre
compradores e vendedores. Além de assumir riscos, o empreendedor prevê, avalia racionalmente os
projetos e mobiliza recursos (Rodriguez & Jiménez, 2005).
Cantillon distinguiu três classes de agentes econômicos: os proprietários de terras, que eram
independentes financeiramente; os empreendedores, que se engajavam na realização de trocas no
mercado, assumindo riscos para obter lucros e, por fim, os assalariados. Ele considerava o
empreendedor como alguém dono de seu próprio trabalho, que não precisava de capital para se
estabelecer. Posteriormente, Jean Baptiste Say (1767-1832) salientaria o papel de coordenação entre
produção e distribuição, exercido por empreendedores. Para Say, o empreendedor necessitaria
encontrar um mercado e suas ações precisariam ser direcionadas para “criar valor ou utilidade”.
Drucker (1986) argumenta que o empreendedorismo se expressa concretamente em termos da
criação de empresas, sejam elas inovadoras ou não, e qualquer setor da economia, mesmo sem fins
lucrativos.
Assim, há distintas compreensões sobre o que é o empreendedorismo, entre outras: geração de
resultado (ex.: criação de uma nova empresa); descoberta e exploração de uma oportunidade; e ação
ou processo original. Eckhardt & Shane (2003) entendem que se refere à geração de novos bens e
serviços, matérias-primas, mercados e métodos de produção. Já Rindova, Barry & Ketchen (2009) veem
o empreendedorismo como um meio de transformação substancial na esfera social.
Apesar de várias interpretações sobre múltiplas formas de compreensão do empreendedorismo,
duas definições são mais utilizadas e aceitas:
EMPREENDEDORISMO NO BRASIL
No Brasil, o empreendedorismo vem sendo difundido desde os anos 90, contudo já é um tema
amplamente difundido em vários outros países, principalmente, aqueles que mais geram riqueza com
maior cultura de encorajamento a vida empresarial com o fomento de um ambiente propício a negócios
e inovação. A preocupação com a criação de pequenas empresas duradouras e a necessidade da
diminuição das altas taxas de mortalidade desses empreendimentos são, sem dúvida, motivos para a
popularidade do termo empreendedorismo, que tem recebido especial atenção do governo (DORNELAS,
2008). E, devido ao desemprego, muitos ex-funcionários tornam-se empreendedores por necessidade,
às vezes mesmo sem experiência no ramo, utilizando poucos recursos e quase nenhum conhecimento.
Muitos desses empreendedores ficam na economia informal, motivados pela falta de crédito e excesso
de tributos e encargos.
O movimento de empreendedorismo no Brasil começou a tomar forma na década de 90, quando
entidades, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), foram criadas.
Antes disso, praticamente não se falava de empreendedorismo e em criação de pequenas empresas.
Dornelas (2008) comenta que é oportuno o estudo sobre o conceito e formas de
empreendedorismo no Brasil, tendo em vista que a maior parte dos negócios criados no país é concebida
por pequenos empresários. Esses nem sempre possuem conhecimento em gestão, atuando geralmente
de forma empírica e sem planejamento, refletindo diretamente nos altos índices de mortalidade de
negócios de até 2 anos.
Contudo, já em seu primeiro relatório executivo, a Global Enterpreneurship Monitor (GEM, 2000)
demonstrou que o Brasil possuía a melhor relação entre o número de habitantes adultos que começam
um novo negócio e o total dessa população: 1 em cada 8 adultos.
Como explica Dornelas (2008), a criação de empresas por si só não leva ao desenvolvimento
econômico, a não ser que esses negócios estejam focando oportunidades no mercado. Assim, o
“empreendedorismo de oportunidade”, em que o empreendedor visionário sabe o lugar que almeja
chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em mente o crescimento do negócio e visa
geração de lucro, empregos e riqueza, está totalmente ligado ao desenvolvimento econômico, com forte
correlação entre os dois os dois fatores. Já o “empreendedorismo de necessidade”, em que o candidato
a empreendedor se aventura na jornada empreendedora mais por falta de opção, por estar
desempregado e não ter alternativas de trabalho. Nesse caso, os negócios costumam ser criados
informalmente, não são planejados de forma adequada e muitos fracassam e agravam as taxas de
mortalidade de negócios.
O segundo tipo de empreendedorismo é mais comum em países em desenvolvimento, como
ocorre no Brasil. Historicamente, o índice de empreendedorismo de oportunidade tem estado abaixo do
índice de empreendedorismo de necessidade, com gradual aproximação entre os dois índices nos
últimos anos.
A pesquisa da Global Enterpreneurship Monitor (GEM) de 2019/20 demonstra que o Brasil atingiu
em 2019 a segunda maior taxa de empreendedorismo total dentre os países que fizeram parte da
pesquisa. Isso significa que 38,7% da população adulta estava envolvida de alguma forma com a
atividade empreendedora – maior taxa desde o início dos estudos em 1999. Empreender no Brasil é uma
atividade tipicamente “solitária”. Em 2019 três quartos dos empreendedores foram identificados como
sendo os únicos proprietários do negócio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACKER, T., & NELSON, R. E. Creating something from nothing: resource construction through
entrepreneurial bricolage. Administrative Science Quarterly, 50(3), 329-366, 2005.
CANTILLON, Richard. Ensayo sobre la naturaleza del comercio en general. Fondo de Cultura
Económica. México-Buenos Aires, 1950.