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EMPREENDEDORISMO

O QUE É
EMPREENDEDORISMO
?
Autoria: Me. Marcelo Telles de Menezes
Revisão técnica: Dr. Leandro Trigueiro Fernandes

Introdução

Os empreendedores são admirados e às vezes invejados. São


responsáveis pelo lançamento de produtos e serviços revolucionários,
pela criação de empresas seculares e pela geração de empregos. Mas o
que é empreendedorismo? O que é ser empreendedor? Podemos dizer
que o empreendedorismo é o motor da economia e ao longo da história
foi responsável por grandes mudanças. E o que o empreendedor tem de
diferente das outras pessoas? Ele nasce pronto, sendo algo somente
diferente das outras pessoas? Ele nasce pronto, sendo algo somente
para predestinados ou qualquer um pode ser empreendedor? Como ele
afeta a economia? Muitas pessoas têm medo de empreender. Será que
realmente é difícil ser empreendedor? Quais são os fatores que
inJuenciam o empreendedorismo?
Ao longo deste capítulo, você vai conhecer uma breve história do
empreendedorismo e entender a sua deMnição, analisar o impacto do
empreendedor na economia e examinar os fatores que inJuenciam o
empreendedorismo. Acompanhe essa jornada.
Bons estudos!

Tempo estimado de leitura: 52 minutos.

1.1 Quem é o empreendedor?

Imagine que você está participando de um evento - uma festa, um jantar


ou um congresso – com a oportunidade de conhecer e conversar com
pessoas diversas. E durante aquela conversa básica, que geralmente
inclui a pergunta “o que você faz?”, o seu interlocutor responde: “Eu sou
empreendedor.”
Qual a primeira imagem que vêm na sua cabeça? Seria a de um
empresário bem- sucedido, que começou o seu negócio do zero e hoje é
dono de uma fortuna? Ou daqueles vendedores de pipoca que Mcam na
porta de escolas? Seria um funcionário dedicado de uma empresa ou de
um gerente desta mesma empresa? Será que você imaginaria que ele é
um funcionário público ou o voluntário de uma ONG?
A maioria das pessoas associa a imagem do empreendedor com a do
empresário, como sendo uma pessoa que cria novos negócios, mas a
grande verdade é que qualquer uma das pessoas descritas no
parágrafo anterior, desde o vendedor de pipoca, passando pelo
funcionário de uma empresa e o servidor público, podem sim ser
empreendedores. Sendo assim, vamos conhecer os pontos principais
que deMnem um empreendedor.
que deMnem um empreendedor.

1.1.1 O papel do empreendedor


Numa visão mais ampla, o empreendedor é a pessoa que identiMca
oportunidades, as explora e as desenvolve, seja na criação de um
negócio, na construção de uma carreira como empregado ou até mesmo
em outras áreas ou outros aspectos da vida (RAE, 2007).

VOCÊ O CONHECE?
Marco Polo (1254-1341) pode ser considerado um dos
primeiros exemplos de empreendedor. Ele vislumbrou uma
oportunidade de comercializar as mercadorias orientais, em
especial da China, em Veneza, sendo um dos primeiros a
percorrer a Rota da Seda. Ele correu grandes riscos, mas virou
uma referência para os grandes comerciantes da época
(MANDUCA; CANDIDO; PATRÍCIO, 2016).

Outra imagem muita associada ao empreendedor é de que algumas


pessoas nascem para serem empreendedores. Mas ao contrário do que
se pensa, as habilidades, comportamentos e características do
empreendedor podem ser aprendidas e desenvolvidas, por qualquer
pessoa que assim desejar.
Figura 1 - O empreendedor não tem superpoderes, mas é uma pessoa qualquer que pode
aprender e desenvolver as habilidades, comportamentos e características do empreendedor
Fonte: Halfpoint, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia de um homem
com capa vermelha e carregando um
notebook com uma das mãos, enquanto a
outra mão está para cima, como em sinal
de ter vencido algo. Ele está "correndo".
Abaixo, encontramos algumas ilustrações
em tom de preto, como gráficos,
ferramentas e outros utensílios.

O empreendedor tem um papel crucial no desenvolvimento da economia


e da sociedade como um todo. Aqueles que abrem seu próprio negócio
geram empregos e melhoram a distribuição de renda, já os
empreendedores que são funcionários, são responsáveis por auxiliar as
empresas ou o governo a atingirem seus objetivos. Os empreendedores
fazem a história e mudam o mundo em redor deles com as suas ações,
criam modelos de negócios novos e inovadores, como, por exemplo, o
Google.
Ao longo da história, os empreendedores sempre existiram e foram
destaques na sociedade, acumulando grandes fortunas e atraindo a
atenção das pessoas. Porém, recentemente, cada vez mais pessoas
estão buscando a opção pelo empreendedorismo. E qual será o motivo
dessa procura? Alguns fatores parecem estar diretamente relacionados
com isso, como nos apontam Baron e Shane (2007):

Grande destaque na mídia de empreendedores de


sucesso com uma imagem bastante positiva e
atraente, fazendo com que estes empreenderes
assumam um papel de herói (ou heroína) numa
assumam um papel de herói (ou heroína) numa
época que existem poucas Mguras de destaque, ao
contrário do que foi no passado.

Mudança no entendimento entre patrões e


empregados com relação ao vínculo trabalhista.
Antes, ser um funcionário que desempenhasse
bem sua função garantia uma estabilidade
empregatícia. Hoje com as crises econômicas e os
cortes e reestruturações nas empresas, os
empregados são menos Meis aos seus empregos e
passam a questionar se não estariam melhores
trabalhando por conta própria.

A segurança de um emprego, com o salário


garantido na conta, deixou de ser um valor
importante, especialmente para os mais jovens.
Muitos passam a preferir um estilo de vida mais
independente em detrimento da segurança o
emprego.

Mesmo com a crise econômica iniciada em 2014, empreender é o desejo


de muitos brasileiros. Em uma pesquisa recente sobre
empreendedorismo no Brasil, 36% dos entrevistados são donos de seu
próprio negócio ou realizaram alguma ação em vistas de ter seu próprio
negócio no último ano. Ter um negócio está em quarto lugar entre os
sonhos dos brasileiros, atrás de viajar pelo Brasil, ter uma casa própria
ou um carro (GEM, 2017).
Um conjunto de programas e ações estruturais tem colaborado para a
difusão do espírito do empreendedorismo no Brasil. Esse processo tem
início em 1994 com a estabilização econômica com o Plano Real,
passando pelo lançamento do Programa Brasil Empreendedor em 1999,
pela Lei Geral da Micro e Pequena Empresa de 2006 e a criação do Micro
Empreendedor Individual (MEI) em 2008 (DORNELAS, 2017).
Destaca-se também a participação do SEBRAE (Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas) na promoção da educação
empreendedora e na capacitação e orientação para os pequenos e
microempresários por todo país.
Mesmo com todo este suporte, a vida do empreendedor no Brasil não é
Mesmo com todo este suporte, a vida do empreendedor no Brasil não é
fácil. Os principais fatores limitantes estão relacionados com a
burocracia, a carga tributária e a infraestrutura. A mortalidade das
empresas nos dois primeiros anos de vida é elevada, mas tem
melhorado nos últimos anos. Esses aspectos resultam na observação
que o medo de fracassar é o mais impactante para decidir empreender
(GEM, 2016).
Melhorar o cenário do empreendedorismo no Brasil depende de uma
evolução das políticas públicas do governo, mas também de um melhor
entendimento do processo de empreender, dos fatores de sucesso, dos
tipos de empreendedorismo, entre outros. E o primeiro passo é
compreender o que é empreendedorismo, como vamos ver a seguir.

1.2 Conceituando Empreendedorismo

Podemos considerar que o ato de empreender é tão antigo quanto a


civilização, por ser um fruto do trabalho humano, seja na busca de
oportunidades de crescimento ou como uma alternativa de
sobrevivência. Contudo, a deMnição de empreendedorismo, e o seu
entendimento, evoluiu e continua evoluindo ao longo do tempo ( , 2013).
Para Filion, (1999, p. 18), um dos principais estudiosos do tema
empreendedorismo, “deMnir empreendedorismo é um desaMo perpétuo,
dada a ampla variedade de pontos de vista para estudar o fenômeno”.
Por isso, para entender melhor o conceito de empreendedorismo, é
necessário estudar a sua origem e evolução.

1.2.1 Breve histórico do empreendedorismo


O primeiro registro de uso do termo “empreendedor” é atribuído ao
economista de origem franco-irlandesa Richard Cantillon, em 1755, que
deMniu como sendo um indivíduo que assume riscos. Esta deMnição
diferenciava o empreendedor do capitalista, aquele que fornecia o
capital (DORNELAS, 2017).
VOCÊ SABIA?
Podemos considerar que o ato de empreender é tão antigo
quanto a civilização, por ser um fruto do trabalho humano, seja
na busca de oportunidades de crescimento ou como uma
alternativa de sobrevivência. Contudo, a deMnição de
empreendedorismo, e o seu entendimento, evoluiu e continua
evoluindo ao longo do tempo ( , 2013). Para Filion, (1999, p.
18), um dos principais estudiosos do tema empreendedorismo,
“deMnir empreendedorismo é um desaMo perpétuo, dada a
ampla variedade de pontos de vista para estudar o fenômeno”.

Nesse período, meados do século XVIII, a Inglaterra estava iniciando o


processo da Revolução Industrial que acabou se alastrando pela Europa,
surgindo os primeiros empreendedores segundo este conceito: pessoas
que pegavam os recursos emprestados com os capitalistas para
produzir algo novo. Antes disso, os empreendedores era basicamente os
comerciantes, principalmente, aqueles que se aventuravam pelos mares
em busca de novas rotas de comércio, como Cristóvão Colombo
(MANDUCA; CANDIDO; PATRÍCIO, 2016).
Já em 1814, outro economista francês, Jean-Baptiste Say (1767-1832)
utilizou a palavra empreendedor se referindo ao indivíduo que transfere
recursos de um setor cuja produtividade é baixa para outro de
produtividade maior, sendo muito importante para o funcionamento do
sistema econômico. Nesse sentido, o empreendedor era o intermediário
entre as classes produtoras e entre estas e os clientes (MARIANO;
MAYER, 2011). No ano de 1871, o economista austríaco Carl Menger
(1840 – 1921) agregou à deMnição de empreendedor a ideia de que seria
aquele que se antecipa às necessidades futuras (MANDUCA; CANDIDO;
PATRÍCIO, 2016).
No Mnal do século XIX e início do século XX, com a produção em massa
e a linha de montagem, o termo empreendedor passou a ser associado
e a linha de montagem, o termo empreendedor passou a ser associado
com imaginação e inovação. O empreendedor percebe as oportunidades
relacionadas à inovação e aliado com sua capacidade de realização,
desenvolve novos produtos e serviços que são oferecidos para a
sociedade (MARIANO; MAYER, 2011).
Saiba que esse período é marcado pelo surgimento de grandes
empreendedores, que arriscaram tudo e conseguiram enriquecer e
montar empresas que prosperam até os dias de hoje. O fundador da
Ford Motor Company, Henry Ford (1863-1947), se destaca não só pelo
sucesso da sua empresa, mas também por ser o expoente de uma nova
produção em massa e da linha de montagem. Outro que se destacou
mais por sua habilidade de inovação e criação de novos produtos foi
Thomas Edison (1847–1931), fundador da Edison General Electric
Company, que deu origem a General Electric Company (GE). Entre
suas invenções se destacam: lâmpada elétrica incandescente, câmera
cinematográMca, fonógrafo e bateria de (MARIANO; MAYER, 2011;
MANDUCA; CANDIDO; PATRÍCIO, 2016).

Figura 2 - Empreendedores cujas empresas existem até hoje e suas principais inovações: Henry
Ford e o modelo Ford T, Thomas Edison e a lâmpada elétrica
Fonte: Jovanovic Dejan / aradaphotography / Marzolino / Everett Historical, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
Na figura, temos uma montagem com
quatro imagens. Na parte superior,
encontramos a fotografia do modelo Ford T
ao lado da foto de Henry Ford, inventor do
ao lado da foto de Henry Ford, inventor do
item. Já na parte inferior temos uma
ilustração de quatro modelos de lâmpadas
elétricas ao lado da foto de Thomas Edison,
inventor do item.

O capitalismo no início do século XX é então impulsionado pela inovação


e progresso tecnológico resultado do trabalho dos empreendedores. Os
principais economistas nesse período voltam a discutir o conceito de
empreendedorismo. Com isso são identiMcadas três teorias dinâmicas
do empreendedorismo (RAE, 2007):

1
Kirzner (Escola Austríaca)
O empreendedor reativo é um agente de
ajuste na economia de mercado.

2
Schumpeter (Escola Alemã)
O empreendedor inovador é uma agente
das mudanças econômicas.

3
Leibenstein (Escola de Chicago)
O empreendedor causa mudança
incremental e gradual por meio da gestão
da empresa.
Schumpeter é um dos principais autores da deMnição moderna do
empreendedorismo, descrevendo o empreendedor como um inovador e
não alguém que busca somente o lucro, que está engajado na destruição
criativa rompendo o Juxo circular da economia de mercado baseada na
produção e consumo, que tende a um equilíbrio de preços, por meio da
introdução de novos produtos e processos que substituem os produtos e
empresas existentes que se tornam marginais ou não competitivas.

Para Schumpeter, o empreendedor é um líder que possui


qualidades como intelecto, determinação, iniciativa,
visão de futuro e, especialmente, intuição. Aqui vale
destacar intuição como sendo a capacidade de ver
coisas numa forma que depois de um tempo se
provam verdadeiras, aprendendo no seu mundo natural e
social de maneira que suas ações podem ser calculadas
de forma simples e conMável (RAE, 2007; CHIAVENATO,
2012).

Para Kirzner, o empreendedor é como um oportunista


alerta, que está sempre atento a oportunidades de lucro
no curto prazo que ocorrem devido a um desequilíbrio
no mercado, onde as habilidades de velocidade do
movimento e de tomada de decisão astuta são
essenciais. A atividade do empreendedor envolve ações
criativas de aprendizagem de descoberta e que o
empreendedor supera outros no mercado, pois possui
uma habilidade superior para perceber e agir nas
oportunidades (RAE, 2007).
oportunidades (RAE, 2007).

Já Druker considera que a introdução e aplicação da


inovação é um aspecto vital do empreendedorismo.
Segundo ele, o empreendedorismo está diretamente
relacionado a assumir riscos, e o comportamento do
empreendedor é de geralmente abrir mão de sua carreira
e segurança em nome de uma ideia, investindo tempo e
dinheiro em um futuro incerto (CHIAVENATO, 2012).

Na segunda metade do século XX, começaram os primeiros estudos


apontando que poderia existir o empreendedorismo dentro de uma
organização, que foi denominado de intraempreendedorismo. Este
conceito passou a ter grande destaque principalmente devido ao papel
que as atividades desenvolvidas nas organizações têm na sociedade.
Percebeu-se que o empreendedor coorporativo tem características e
habilidades similares ao empreendedor que cria um negócio (MARIANO;
MAYER, 2011).
A partir da década de 1980, o estudo do empreendedorismo expandiu e
espalhou para outras disciplinas, principalmente, na busca de outras
formas de abordagem que incorporassem as rápidas mudanças
tecnológicas à sua dinâmica. Tal interesse resultou numa série de
instituições de ensino oferecendo cursos sobre o assunto (FILION,
1999).
Leite (2008) considera os anos 80 como a década do
empreendedorismo, com a percepção pela sociedade da importância do
empreendedor para o desenvolvimento das nações.
Com os avanços no campo da tecnologia da informação, a partir da
década de 1990, aumentaram as possibilidades de criação de novos
produtos e serviços, fazendo surgir uma grande quantidade de
empresas de sucesso. Surge então um novo perMl de empreendedor, em
que se destacam Bill Gates (1955-) fundador da Microsoft e Steve Jobs
(1955-2011) da Apple, e mais recentemente Larry Page e Sergey Brin
(ambos 1973-) do Google e Mark Zuckerberg (1983-) do Facebook
(ambos 1973-) do Google e Mark Zuckerberg (1983-) do Facebook
(MARIANO; MAYER, 2011).

Figura 3 - Empreendedores de sucesso como Larry Page, Sergey Brin, Mark Zuckerberg, Steve
Jobs e Bill Gates tiveram suas trajetórias contadas em livros e filmes
Fonte: JStone / aradaphotography / Paolo Bona / Annette Shaff, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
Na figura, temos cinco fotografias, estando
três dispostas uma do lado da outra na
parte superior, e duas dispostas uma do
lado da outra na parte inferior. Da
esquerda para a direita e de cima para
baixo, encontramos as fotos de Larry Page,
Sergey Brin, Mark Zuckerberg, Steve Jobs e
Bill Gates.

Outro fenômeno ainda mais recente é a criação das startups, pequenas


empresas de tecnologia que buscam desenvolver produtos e serviços
escaláveis, que tem atraindo ainda mais pessoas para o
empreendedorismo (MANDUCA; CANDIDO; PATRÍCIO, 2016).
Filion (1999) considera o empreendedorismo como um passo em
direção à conquista da liberdade. Se antes era expresso na criação (ou
no intraempreendedorismo) de grandes corporações, hoje se observa
no intraempreendedorismo) de grandes corporações, hoje se observa
a força empreendedora nos pequenos negócios. Com isso, a partir da
década de 90, um número cada vez maior de pessoas tem escolhido o
autoemprego.
As discussões sobre o empreendedorismo e sua deMnição seguem nos
dias de hoje, e Chiavenato (2012) procura resumir as contribuições dos
diversos autores da área sobre o tema, como você pode observar na
Mgura abaixo.

Quadro 1 - Contribuições de diversos autores para o entendimento e a definição do


empreendedorismo
Fonte: CHIAVENATO, 2012, p. 20.

#PraCegoVer
No quadro, temos nove linhas e três
colunas retratando as contribuições de
autores para o entendimento e a definição
do empreendedorismo. Na primeira
coluna, encontramos os anos (1961, 1966,
1970, 1973, 1982, 1985, 1986 e 2002). Já na
segunda coluna, temos os autores
(McClelland, Rotter, Drucker, Kirsner,
Casson, Sexton e Bowman, Bandura e
William Baumol). Por fim, na última coluna,
William Baumol). Por fim, na última coluna,
temos as contribuições dos autores
apresentados.

Na busca de uma deMnição Mnal para o empreendedorismo, RAE (2007)


considera que os conceitos tradicionais de empreendedor incluem: uma
pessoa que cria organizações e uma pessoa que conhece e age para
explorar uma oportunidade, porém não incluem a criatividade, as
mudanças e as incertezas envolvidas na atividade do empreendedor. As
teorias processuais ou dinâmicas assumem que a incerteza existe e dão
ao empreendedor a chance de criar e explorar as oportunidades de
inovação e lucro.
A concepção dinâmica do papel do empreendedor é de um agente que
cria, reconhece e age nas oportunidades. Isso inclui o uso da inovação
para fazer coisas novas, operar com Jexibilidade e se adaptar a um
contexto mais amplo, trabalhar em condições de risco e incerteza,
realizar mudanças e ganhar a recompensa a partir dos lucros. Se o
empreendedorismo é visto como um processo, ele consiste de uma
pessoa, da busca por oportunidades de mercado, comportamento
inovador e da junção dos recursos necessários para explorar essas
oportunidades (RAE, 2007).
Filion (1999) constrói uma deMnição completa do que é o empreendedor
a partir da contribuição dos mais diversos autores das diferentes
épocas, chegando ao seguinte resultado:

o Empreendedor é uma
pessoa criativa marcada
pela capacidade de
estabelecer e atingir
objetivos que mantém alto
objetivos que mantém alto
nível de consciência do
ambiente em que vive,
usando-se para detectar
oportunidades de negócios.
Um empreendedor continua
a aprender a respeito de
possíveis oportunidades de
negócios e a tomar
decisões moderadamente
arriscadas que objetivam a
inovação, continuará a
desempenhar um papel
empreendedor (FILION, 1999,
p. 19).

Dolabela (2006, p. 29), reconhecido como um dos principais professores


brasileiros de empreendedorismo, apresenta uma deMnição bem mais
simples: “o empreendedor é alguém que sonha e busca transformar seu
sonho em realidade”.
Agora que você já sabe a história do empreendedorismo e sua deMnição,
vamos dar uma olhada no histórico do empreendedorismo no Brasil.

1.2.2 Breve histórico do empreendedorismo no Brasil


Inicialmente, o empreendedorismo no Brasil no período colonial era
baseado na agricultura e no extrativismo. Caldeira (2009) demonstra que
durante os três primeiros séculos do Brasil colônia havia um forte
mercado interno, independente de Portugal, bastante dinâmico e em
crescimento.
crescimento.
Provavelmente o primeiro grande empreendedor brasileiro seja Irineu
Evangelista de Souza (1813-1889), mais conhecido com Barão de Mauá.
Após observar o impacto da Revolução Industrial na Inglaterra, ele
retornou ao Brasil decidido a investir na industrialização do país. Barão
de Mauá investiu em negócios diversos, tendo construído a primeira
ferrovia brasileira, a primeira fundição de ferro e o primeiro estaleiro,
além de ter sido banqueiro. Em seu auge, teve sob seu controle 8 das 10
maiores empresas brasileiras na época (LOH, 2016).
No Mnal do século XIX, tem início o período industrial, que abre espaço
para muitos empreendedores, imigrantes ou nacionais, que têm a
oportunidade de atingir um novo status na sociedade. O
empreendedorismo brasileiro é marcado pela criação e crescimento de
empresas originadas em grupos familiares, como a família Matarazzo,
das Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo (MANDUCA; CANDIDO;
PATRÍCIO, 2016).

VOCÊ QUER VER?


A série Os Gigantes do Brasil (MELLO, 2016) narra a saga de 4
grandes empreendedores brasileiros que mudaram o país no
Mnal do século XIX e início do XX, principalmente no urbanismo
e na industrialização. São eles: Francisco Matarazzo (1854-
1937), Guilherme Guinle (1882-1960), Giuseppe Martinelli
(1870-1946) e Percival Farquhar (1864-1953).

Outros grupos familiares se destacaram ao longo dos anos, como é o


caso da Família Klabin-Lafer, na indústria de papel, de José Ermírio de
Moraes (1900-1973), criador do grupo Votorantim, e de Roberto P.
Marinho (1904-2003), das Organizações Globo (MANDUCA; CANDIDO;
PATRÍCIO, 2016). Um dos brasileiros que se destacaram por seu espírito
empreendedor é o apresentador Silvio Santos (1930-), dono do Sistema
Brasileiro de Televisão (SBT), que começou como ambulante. O Grupo
Silvio Santos é formado por mais de 30 empresas, nos mais diversos
ramos, e seu fundador segue empreendendo, e com mais de 70 anos de
idade, entrou recentemente para o mercado de cosméticos com a
empresa Jequiti. (MANDUCA; CANDIDO; PATRÍCIO, 2016).
O homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann (1939), juntamente
com seus sócios, Carlos Alberto Sicupira (1948-) e Marcel Herrmann
Telles (1950-), talvez sejam hoje os empreendedores brasileiros de maior
sucesso internacional. São os donos da maior cervejaria do mundo, a
Anheuser-Busch InBev, além do Burger King, da Kraft Heinz (conhecida
por seu ketchup), das Lojas Americanas e da B2W do ramo de e-
commerce (GRADILONE, 2017).
Mesmo com esse histórico de empreendedores brasileiros de sucesso,
Dornelas (2017) aMrma que somente na década de 1990 o movimento
do empreendedorismo começou a ganhar forma, com o lançamento do
Empretec pelo SEBRAE e a criação da Sociedade Brasileira para
Exportação de Software (Softex).
Fernandes (2013) pontua que o ensino do empreendedorismo no Brasil
começou apenas em 1981, num curso de especialização da Escola de
Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da FGV, e que em
1989 foi lançado o primeiro livro no Brasil em língua portuguesa sobre
empreendedorismo.

O SEBRAE teve origem em 1972, sobre a alcunha de


CEBRAE (Centro Brasileiro de Apoio Gerencial às
Pequenas e Médias Empresas), tendo passado por uma
reformulação em 1990, quando recebeu a denominação
atual, se transformando num serviço social autônomo e
passou a fazer parte do chamado sistema S, juntamente
com SENAC, SESI e SENAI (MELO, 2008).

A missão do SEBRAE é “(...) promover a competitividade


e o desenvolvimento sustentável das micro e pequenas
empresas (MPE) e fomentar o empreendedorismo no
empresas (MPE) e fomentar o empreendedorismo no
Brasil” (MARIANO; MAYER, 2011, p. 81). Este é um dos
órgãos do governo mais conhecido do empreendedor
brasileiro, que encontra o apoio para iniciar sua
empresa, além de consultorias e treinamentos para
desenvolvimento do empreendedor e da empresa, nos
mais diversos aspectos de gestão da empresa, como o
controle Mnanceiro, marketing, gestão de pessoas,
vendas, entre outros (DORNELAS, 2017).

A Softex foi criada para apoiar o desenvolvimento das empresas de


software do país com foco no mercado externo, com ações de
capacitação para o empresário de informática em gestão e tecnologia.
Para Dornelas (2017), a história da Softex e do empreendedorismo no
Brasil na década de 1990 seguem juntas. Foram os programas que esta
instituição desenvolveu junto a incubadoras de empresas e
universidades em todo país que despertou o interesse pelo tema
empreendedorismo. A empresa foi reformulada, mas continua apoiando
o empreendedorismo relacionado à tecnologia de informação e
às startups.

VOCÊ QUER LER?


O livro O Segredo de Luísa (DOLABELA, 2006) conta a história
de uma empreendedora Mctícia em sua saga para abrir e
gerenciar uma empresa no interior de Minas Gerais. O livro
lançado em 1999, do professor Fernando Dolabela, é um dos
mais utilizados para o ensino do empreendedorismo,
fornecendo uma metodologia para o aprendizado adequado do
tema para qualquer pessoa.
O Empretec, um acrônimo de empreendedores e tecnologia, é o principal
treinamento de empreendedorismo do SEBRAE e foi lançado em 1993. É
uma metodologia de ensino de empreendedorismo da ONU
(Organização das Nações Unidas), sendo promovido em cerca de 40
países. O treinamento tem como foco a capacitação na identiMcação de
novas oportunidades de negócio e no desenvolvimento das
características comportamentais do empreendedor, utilizando uma
metodologia vivencial (MELO, 2008; MARIANO; MEYER, 2011). Percebe-
se que apesar do desenvolvimento tardio de programas de educação
empreendedora no país, hoje o Brasil tem o potencial para desenvolver o
ensino de empreendedorismo, num tamanho e abrangência comparável
apenas aos Estados Unidos (DORNELAS, 2017).
Nesse breve histórico de alguns importantes empreendedores
brasileiros é possível perceber a importância do empreendedor para o
crescimento do país. A seguir, vamos examinar a relação entre o
desenvolvimento econômico e o empreendedorismo.

1.3 Perspectiva econômica

Baron e Shane (2007) são categóricos ao aMrmarem que o


empreendedorismo é um motor para o desenvolvimento econômico.
Eles se baseiam em uma série de dados estatísticos dos Estados
Unidos, que mostram o impacto do empreendedorismo nas economias
da sociedade, como por exemplo:

Elevado corte de vagas de emprego nas grandes


corporações americanas e, mesmo assim, queda
na taxa de desemprego.
A cada ano mais de 600 mil empresas são abertas
e este número duplicou nos últimos 20 anos.

Uma em cada oito pessoas trabalham por conta


própria nos EUA.

Crescimento no número de cursos de


empreendedorismo no país.

Dolabela (2006) concorda que o empreendedor é o motor da economia,


com sua percepção de novas oportunidades e sua característica de
agente de mudança contribui para o desenvolvimento econômico e para
a inovação.
Esse fato já era percebido desde os tempos de Schumpeter, que em seu
livro “Teoria do Desenvolvimento Econômico”, de 1911, argumentou a
força motriz do crescimento econômico como sendo o empreendedor,
que introduz inovações no mercado que tornam os produtos e
tecnologias existentes obsoletos, característica do processo de
destruição criativa (BARROS; PEREIRA, 2008).
Essa percepção quanto à importância do empreendedorismo não
encontra eco na Teoria Econômica Neoclássica, que considera a
acumulação do capital físico (equipamentos, máquinas etc) e humano,
progresso tecnológico e expansão de mercados como sendo os
principais determinantes do crescimento econômico (BARROS; PEREIRA,
2008).
Fontanele (2010) considera que essa ausência do empreendedor do
paradigma neoclássico se deve às diMculdades teóricas, o que resulta
em lacunas no entendimento dos mecanismos básicos de
funcionamento da economia.
Voltando a Barros e Pereira (2008), os autores apresentam outra teoria
que procura explicar o papel do empreendedor no crescimento
que procura explicar o papel do empreendedor no crescimento
econômico, a Teoria do Empreendedorismo pelo Transbordamento do
Conhecimento. Ela pressupõe que quando uma nova ideia ou novo
conhecimento, criados nos centros de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) de grandes empresas ou de universidades, não são aproveitadas
pela instituição que a criou, elas podem resultar em oportunidades para
o empreendedor.
A partir dessa teoria, uma pesquisa empírica conduzida na Alemanha
procurou testar uma hipótese de crescimento econômico: uma maior
atividade empreendedora deve gerar níveis mais altos de crescimento
econômico, já que o empreendedorismo é este mecanismo de
transbordamento e comercialização de conhecimento. O resultado
conMrmou a hipótese, pois nas regiões onde havia mais
empreendedorismo tanto o Produto Interno Bruto (PIB) quanto a sua
variação eram maiores. O empreendedorismo é, portanto, um elemento
importante para explicar o desempenho econômico regional (BARROS;
PEREIRA, 2008). Sendo assim, vamos avançar nosso estudo e conhecer
as consequências do empreendedorismo sob o ponto de vista da
economia.

1.3.1 Impactos e resultados do empreendedorismo


As transformações ocorridas com o lançamento de novos produtos no
mercado, com as mudanças tecnológicas e nos processos produtivos
são formas que avaliar a contribuição do empreendedor para o
crescimento econômico. As iniciativas empreendedoras têm como
impactos o aumento da eMciência, que resulta num aumento na
concorrência, além de alterações no comportamento do consumidor. A
descoberta de novos produtos é potencializada e acelerada por uma
cultura empreendedora, sendo que sua disseminação tem um
importante papel no processo de aprendizagem (FONTENELE, 2010).
Quanto mais ocorrem entradas de novos competidores, mais inovação é
gerada e há aumento da produtividade, resultados da inovação em si e
também das ações das empresas para impedir a entrada de novos
concorrentes. Barros e Pereira (2008) apresentam o estudo de Aghion e
Howitt que conclui que este efeito de entrada de novos concorrentes é
mais positivo e signiMcativo em países mais desenvolvidos em termos
de tecnologia. Pode-se entender que os novos negócios são introduzidos
nos mercados pelos empreendedores a partir de uma inovação, seja ela
um novo produto ou serviço, uma nova qualidade de produto ou serviço,
uma nova forma de produção, a abertura de um mercado novo, uma
fonte nova de matéria-prima ou uma nova forma de organização. A
criação de um novo negócio, com ou sem inovação, aumenta a
concorrência e tem o potencial de provocar a saída de empresas do
mercado, ou uma reação das empresas estabelecidas seja com outra
inovação ou por fusões e aquisições (BARROS; PEREIRA, 2008). Esse
processo tem como resultado uma nova estrutura de mercado mais
eMciente e com maior dinamismo econômico. Isso se traduz nos
indicadores de valor adicionado, como o PIB e de níveis de emprego.
Veja na Mgura a seguir a relação entre o empreendedorismo e o
desempenho econômico.

Figura 4 - A relação entre empreendedorismo e desempenho econômico a partir da


concorrência e/ou da inovação
Fonte: BARROS; PEREIRA, 2008, p. 984.

#PraCegoVer
Na figura, temos um esquema com a
Na figura, temos um esquema com a
relação entre empreendedorismo e
desempenho econômico a partir da
concorrência e/ou inovação. De cima para
baixo, encontramos novos negócios
(empreendedores), os quais se dividem em
concorrência (saídas, fusões e inovações
nas firmas existentes) e inovação. A
concorrência passa por nova estrutura do
mercado, mais eficiência. A inovação passa
por desempenho da firma. Ambas chegam
ao desempenho econômico (crescimento
do PIB e emprego).

Fica claro que a capacidade empreendedora de uma nação tem relação


com o seu desenvolvimento econômico e por isso, nada mais natural
que haja um grande interesse em se medir o quão empreendedor é um
país. Nesse sentido, foi criada em 1999 o projeto Global
Entrepreneurship Monitor (GEM), ou Pesquisa Global sobre
Empreendedorismo (MARIANO; MAYER, 2011).

VOCÊ QUER LER?


O relatório de pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM,
2017) foi criado por duas instituições que estudam o tema
empreendedorismo: a Babson College, de Boston, EUA, e a
London Business School, de Londres, Inglaterra. Realizado
anualmente é uma referência mundial nos estudos de
empreendedorismo. Você pode acessar a versão de 2016,
clicando no botão a seguir.

Acesse (https://www.gemconsortium.org/report/gem-2016-
2017-global-report)
Na pesquisa realizada em 2016, participaram 65 países, dos cinco
continentes, o que representa 70% da população mundial e 83% do PIB.
O Brasil participa do desde o ano 2000, sendo a pesquisa realizada pelo
Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ) em parceria com
o SEBRAE.
Conduzida por meio de uma amostragem estatística da população, a
pesquisa tem como objetivo: “identiMcar as atitudes da população em
relação à atividade empreendedora, as taxas de empreendedorismo, as
motivações e as características dos empreendedores e de seus
empreendimentos, além das condições para empreender” (GEM, 2017, p.
17).
Nesse ponto, é importante conhecer a deMnição de empreendedorismo
adotado pelo GEM, como sendo:

qualquer tentativa de
criação e desenvolvimento
de novos negócios ou
criação de novas empresas,
como o trabalho por conta
própria, uma nova
organização empresarial, ou
a expansão de uma
empresa já existente, por
um indivíduo, uma equipe
de pessoas, ou um negócio
estabelecido” (GEM, 2017, p.
estabelecido” (GEM, 2017, p.
17).

Observe que a deMnição adotada, apesar de bastante ampla, não vincula


o empreendedorismo à inovação, algo que foi bastante destacado ao
longo deste capítulo, sendo o simples fato de se criar um
empreendimento ser suMciente para caracterizar o empreendedorismo.
Além disso, como inclui a expansão de uma empresa já existente, esta
deMnição também engloba o intraempreendedorismo.
Com o estudo anual do GEM Mcou claro que a criação de empresas por
si só não resulta num maior desenvolvimento econômico, pois isso só
ocorre se os novos negócios foquem em oportunidades de mercado. Por
conta disso, faz-se necessário duas novas classiMcações de
empreendedorismo trazidas por Dornelas (2017):

Empreendedorismo de oportunidade

A empresa é criada com um planejamento prévio, em que


o empreendedor tem claro aonde quer chegar, visando
sempre à geração de lucros, empregos e riqueza.

Empreendedorismo de necessidade

Os negócios são geralmente criados informalmente, por


falta de opção do empreendedor por estar desempregado
e não encontrar trabalho.

O empreendedorismo de oportunidade está diretamente relacionado ao


O empreendedorismo de oportunidade está diretamente relacionado ao
desenvolvimento econômico e é muito mais presente em países
desenvolvidos. Já o de necessidade, normalmente fracassa e agrava os
índices de mortalidade de negócios, sem gerar desenvolvimento
econômico, sendo mais comum em países em desenvolvimento
(DORNELAS, 2017).

ESTUDO DE CASO
Com o objetivo de se veriMcar se o empreendedorismo
realmente afeta positivamente o desenvolvimento econômico
de uma região, foi desenvolvida uma pesquisa em Minas
Gerais, que procurava investigar a relação entre a taxa de
desemprego e o empreendedorismo em cada região do
estado. Para cada um dos 853 municípios do estado foram
avaliados:

- Taxa de Desemprego (TDE): a proporção de desocupados em


relação à população economicamente ativa, com base no
censo demográMco do IBGE.

- Taxa de Empreendedorismo (TE): a proporção dos


trabalhadores por conta própria em relação à população
economicamente ativa, utilizando a mesma base de dados.

O resultado mostrou que nos municípios com maior taxa de


empreendedorismo, a taxa de desemprego era menor. Porém
um TE maior não resulta em um aumento no PIB, indicador de
melhor desempenho econômico. Provavelmente, a maior
quantidade de pessoas trabalhando por conta própria deve ser
em atividades alternativas ao desemprego, com baixa
produtividade e renda, o que realmente não se reJete em
crescimento econômico. Esse resultado mostra a importância
de políticas públicas que favoreçam o empreendedorismo que
gere emprego e renda, e não aquele que existe como
alternativa ao desemprego. Tais políticas terão impactos
positivos tanto sociais quanto econômicas (BARROS; PEREIRA,
2008).
Em 2016, o empreendedorismo de oportunidade foi de 57% (por
necessidade 43%) do total de negócios na fase de empreendedorismo
inicial, um dos menores índices entre os países pesquisados. Chama a
atenção o fato que em 2014 a taxa de empreendedorismo por
oportunidade chegou a um ápice histórico de 71%. A queda nos últimos
anos deve-se à crise econômica no país (GEM, 2017). Esse resultado
corrobora o de outras pesquisas que indicam que em países ricos a
atividade empreendedora é associada a uma maior taxa de crescimento
econômico, e em países pobres, ou em desenvolvimento, incluso na
lista o Brasil, esta relação é inversa. Ou seja, o empreendedor por
necessidade tem pouca contribuição sobre o dinamismo da economia
local (BARROS; PEREIRA, 2008)..
Para alterar esse quadro e tornar o empreendedorismo uma mola
propulsora do desenvolvimento econômico no Brasil é importante
entender os fatores que inJuenciam o desenvolvimento do
empreendedor, como vamos abordar a seguir.

1.4 Fatores positivos e negativos para o


desenvolvimento do empreendedor

O relatório GEM, além de medir a atividade empreendedora, auxilia na


identiMcação dos fatores responsáveis pelas diferenças no nível de
empreendedorismo entres os países, o que pode facilitar a identiMcação
das políticas públicas que podem ser eMcazes para o desenvolvimento
de novos negócios (DORNELAS, 2017).
O empreendedorismo é um fenômeno complexo condicionado a
fatores culturais, mas que também é inJuenciado por questões políticas
e econômicas, sendo resultado dos hábitos, práticas e valores das
pessoas. Em países desenvolvidos, com economia estável, os
empreendedores agem de forma diferente daqueles num país pobres e
com população carente. O fato é que o empreendedor é inJuenciado
diretamente pelo meio onde vive, sendo um fenômeno cultural
(DOLABELA, 2006).
(DOLABELA, 2006).

VOCÊ SABIA?
A taxa de empreendedores nascentes ou novos tem crescido
desde 2012, mesmo num cenário econômico adverso,
marcado pela queda do PIB e recessão. Este crescimento pode
ser explicado por fatores sociais, como o aumento do nível de
escolaridade da população, pela política governamental, com a
criação do MEI (Micro Empreendedor Individual), e por
mudança na cultura, com o brasileiro a cada dia mais propenso
a empreender (GEM, 2017).

A pesquisa do GEM avalia o contexto social, cultural e político para


tentar explica as diferenças na taxa de empreendedorismo entre os
países, com o seguinte modelo (GEM, 2017):

1
Requisitos básicos
Instituições, infraestrutura, estabilidade
macroeconômica, saúde e educação
fundamental.

2
Catalisadores de eficiência
Educação Superior e capacitação,
mercado de bens de serviço, mercado de
trabalho, mercado Mnanceiro, prontidão
tecnológica e tamanho do mercado.
tecnológica e tamanho do mercado.

3
Inovação e empreendedorismo
Apoio Mnanceiro, políticas
governamentais, programas
governamentais, educação e capacitação,
infraestrutura comercial e proMssional,
acesso ao mercado, acesso à
infraestrutura física e normas culturais e
sociais.

Assim, é preciso ter condições favoráveis para empreender, seja em


relação ao âmbito pessoal, seja a partir das políticas públicas de
incentivo. Assim, vamos abordar essas condições no item a seguir.

1.4.1 Condições para empreender


Para Fontenele (2010), a criação de empresas nos diferentes países é
inJuenciada pelo apoio do governo ao empreendedorismo, por
incentivos de leis e instituições, pela disponibilidade de facilidades para
gestação de novas empresas, infraestrutura e cursos de formação e pelo
apoio ao crescimento e sobrevivência das startups.
A educação para o empreendedorismo é fundamental para o
desenvolvimento de uma cultura empreendedora, sendo que muitos
lugares, como no Reino Unido, falharam em criar tal cultura, apesar do
forte discurso político destacando a importância do empreendedorismo.
As políticas geralmente estão relacionadas com incentivo Mnanceiro de
curto prazo, que é relativamente fácil de ser feito, ao invés de estarem
relacionadas com mudanças culturais de longo prazo, que são mais
difíceis. Tais políticas não são desenvolvidas a partir do diálogo com os
empreendedores, e apesar das mensagens encorajadoras do governo, os
empreendedores encontram diMculdades práticas para acessar os
recursos, o apoio e as oportunidades necessárias para começar e
recursos, o apoio e as oportunidades necessárias para começar e
administrar seus negócios (RAE, 2007).
Ainda segundo RAE (2007), há quatro fatores que devem ser
considerados com relação ao papel do empreendimento na sociedade:

os objetivos políticos devem ser claramente


entendidos no contexto nacional, para cada objetivo
(reduzir a pobreza, criar empregos, reduzir as
atividades estatais, por exemplo) são necessárias
estratégias e diretrizes em ambientes diferentes;

a natureza do empreendimento e do
empreendedorismo deve ser considerada, como o
modelo americano de “livre” economia de mercado;
subsídios agrícolas; economia comunitária;
negócios familiares etc.;

quão inclusiva ou exclusiva será a abordagem, como


o incentivo à formalidade. Para muitos países, a
economia informal é substancial e importante.
Problemas relacionados ao racismo ou
preconceitos;

qual o papel do governo em criar e implementar


políticas para empreender. A maioria dos
governantes e ministros não possui experiência de
empreendedorismo. Muitos argumentam que a
melhor contribuição que o governo pode dar para a
criação de uma cultura de empreendedorismo é não
interferir.

A mentalidade empreendedora é um dos fatores que inJuenciam o


surgimento de uma cultura empreendedora e a criação de novos
negócios. Esse conceito está associado à avaliação da pessoa quanto
ao ambiente em que está inserida e as condições que inJuenciam sua
decisão de empreender, com os seguintes resultados (GEM, 2017):
decisão de empreender, com os seguintes resultados (GEM, 2017):

Convivência com empreendedores

Está relacionado com conhecer pessoalmente alguém


que começou um negócio nos últimos 2 anos, como é o
caso de 41,3% da população brasileira. Sendo o segundo
maior índice entre os BRICS (conjunto de países
formados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Oportunidades de novos negócios

O Brasil é um dos países que mais acredita na existência


de boas oportunidades de negócio em curto prazo;
Conhecimento, habilidade e experiência para gerenciar
um novo negócio: Brasil e Estados Unidos são os países
cuja população se sente mais preparada para
empreender.

Medo de fracassar

Não é um impeditivo para abrir um novo negócio, como


aMrmam 57,6% da população do Brasil.

Com relação às condições para empreender no Brasil, relacionados aos


aspectos econômicos, sociais, culturais e institucionais, a pesquisa GEM
de 2016 identiMca como os cinco principais fatores favoráveis e
limitantes ao empreendedorismo, conforme mostra a a Mgura a seguir.
Chama atenção a presença dos programas governamentais tanto como
fator favorável quanto como fator limitante, porém o percentual de
entrevistados que considerou como limitante (77%) é amplamente
superior aos que considera favorável (25%) (GEM, 2017).

Figura 5 - Os cinco principais fatores favoráveis e limitantes ao empreendedorismo no Brasil,


segundo especialistas entrevistados para o relatório GEM de 2016
Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de GEM, 2017.

#PraCegoVer
Na figura, temos um esquema retratando
os cinco principais fatores favoráveis e
limitantes ao empreendedorismo no Brasil.
Entre os favoráveis, menciona-se a
abertura do mercado (52%), a capacidade
empreendedora (42%), os programas
governamentais (25%), as normas culturais
e sociais (20%) e a pesquisa e o
desenvolvimento (18%). Já entre os fatores
limitantes, temos as políticas
governamentais (77%), o apoio financeiro
(31%), a educação e capacitação (31%), as
características da força de trabalho (17%) e
as normas culturais e sociais (16%).
Outro aspecto curioso, é que a corrupção é considerada um fator
limitante para apenas 2% dos entrevistados mesmo no atual cenário
brasileiro, em que os escândalos de corrupção fazem parte do noticiário
diário.
A importância das políticas públicas de apoio ao empreendedorismo e
às micro e pequenas empresas são reforçadas pelas pesquisas sobre o
empreendedorismo no Brasil. Mostram também que é necessário reduzir
a carga tributária e a taxa de juros, e também melhorar o ambiente de
negócios e reduzir da burocracia. Tais ações podem ter impactos
sociais signiMcantes ainda mais numa economia de elevada taxa de
desemprego. Iniciativas como a criação de incubadoras de empresas e o
estimulo às cooperativas são favoráveis à criação de oportunidades de
trabalho (BARROS; PEREIRA, 2008).
Na opinião de Dornelas (2017), ainda faltam políticas públicas
duradouras para consolidação do empreendedorismo no país, mesmo
com os avanços recentes nas políticas do Governo Federal de apoio ao
empreendedorismo.
Espera-se que o governo atue de forma efetiva para melhorar o ambiente
para o empreendedorismo no país e que cada vez mais pessoas estejam
dispostas a empreender com foco em oportunidades (e não por
necessidade) para que o Brasil tenha um maior desenvolvimento
econômico e social.

CONCLUSÃO

Chegamos ao Mm deste capítulo, e você pode conhecer o que é


empreendedorismo e a suas deMnições, entendeu como este conceito
evoluiu ao longo dos anos e descobriu a importância do
empreendedorismo para o desenvolvimento econômico dos países e os
fatores que facilitam ou diMcultam a ação empreendedora.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

aprender sobre quem é o empreendedor;

compreender o conceito de empreendedorismo;


compreender o conceito de empreendedorismo;

conhecer um pouco da história de importantes


empreendedores do Brasil e do mundo;

relacionar o desenvolvimento econômico com o


empreendedorismo;

identiMcar as condições culturais e estruturais para


o desenvolvimento do empreendedorismo.

Clique para baixar conteúdo deste tema.

Referências
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DOLABELA, F. O segredo de Luísa. 30. ed. São Paulo: Editora de
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Podemos considerar que o ato de empreender é tão antigo


quanto a civilização, por ser um fruto do trabalho humano, seja
na busca de oportunidades de crescimento ou como uma
alternativa de sobrevivência. Contudo, a deMnição de
empreendedorismo, e o seu entendimento, evoluiu e continua
evoluindo ao longo do tempo ( , 2013). Para Filion, (1999, p. 18),
um dos principais estudiosos do tema empreendedorismo,
“deMnir empreendedorismo é um desaMo perpétuo, dada a ampla
“deMnir empreendedorismo é um desaMo perpétuo, dada a ampla
variedade de pontos de vista para estudar o fenômeno”.

LEITE, E. O Fenômeno do Empreendedorismo. 1. ed. São Paulo:


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