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1. Introdução
Nos últimos dez anos, tem-se observado um crescente e significativo interesse pelo
empreendedorismo, um fenômeno que modifica as condições correntes do mercado através da
introdução de algo novo e diferente em resposta a necessidades percebidas. No Brasil, a
preocupação com a criação de empresas que consigam subsistir e reduzir o alto índice de
falência de novos negócios pode ser a razão pela qual o tema do empreendedorismo assume
uma abrangência crescente no âmbito do governo, das entidades de classe, de instituições de
apoio e da própria academia (Drucker, 1987; Filion, 1999; Dornelas, 2001).
Diante da nova realidade por que passa o mercado de trabalho com o fenômeno
denominado “fim do emprego”, resultado do processo de globalização, downsizing e
reengenharia, observados fortemente nos anos 90, novas formas de tecnologia gerencial são
buscadas como alternativas de empregabilidade (Paiva e Barbosa, 2001). O
empreendedorismo surge neste cenário como mais um caminho a ser ofertado para solução
deste problema.
Nesse contexto surge o interesse pelo estudo do empreendedorismo como mais uma
alternativa para geração de empregos e formação de uma classe empresarial local sólida com
uma visão globalizada. Além disso, os pequenos empreendimentos são vitais para a criação de
novas empresas, e essas executam uma multiplicidade de novos serviços e proporcionam uma
diversificação de opções no mercado. Essas iniciativas individuais são desenvolvidas em
paralelo com uma predisposição natural para a inovação, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida na comunidade.
O desenvolvimento de um processo de entrepreneurship, enquanto fenômeno de
surgimento de novos empreendedores e novos negócios é um desafio para os organismos de
1
intervenção, tanto governamentais como empresariais ou de demais setores ligados a ações de
desenvolvimento (Lima, 2000).
Na literatura sobre empreendedorismo, há muita confusão a respeito da definição do
termo "empreendedor" (Filion, 1999). Pode-se aceitar que o empreendedorismo consiste no
fenômeno da geração de negócio em si, relacionado tanto com criação de uma empresa,
quanto com a expansão de alguma já existente, a exemplo do desenvolvimento de uma
unidade de negócio no contexto da grande corporação. Tanto no ato da criação de negócios
como nas empresas já existentes, o empreendedorismo voltado para a busca e exploração de
oportunidades tende a acelerar a expansão dos empreendimentos, o progresso tecnológico e a
geração de riqueza (Degen, 1989; Singh et al, 1999; Meyer e Allen, 2000).
Segundo Dornelas (2001), uma pesquisa internacional sobre o empreendedorismo, que
entrevistou 43.000 pessoas em 21 países, durante o ano de 2000, chegou à conclusão de que o
Brasil é o país que apresenta a maior parte de empreendedores. Para cada oito brasileiros em
idade adulta, um está abrindo ou pensando em abrir um negócio. Em segundo lugar vem os
Estados Unidos, onde a proporção é de 10 para 1. Em 3º é a Austrália que é de 12 para 1.
Porém, nesta mesma pesquisa, constatou-se que no Brasil, a oportunidade de criar e manter
um negócio não é tão freqüente.
Segundo o COSINEXP (1998) isto se dá pela falta de informação e orientação aos micro
e pequenos empresários.Num estudo que tenta descrever as experiências do empreendedor
Jeff Hawkins nas empresas Palm Computing e Handspring, Brush et al(2002) descrevem as
condições iniciais e as abordagens de geração de recursos para agregar valor ao seu negócio.
Por isso, já existem alguns programas de orientação ao crédito e consultorias de baixo custo e
ainda incubadoras de empresas, incentivadas pelo governo federal e entidades filantrópicas, a
fim de minimizar este quadro (Botelho e Souza, 2001).
Em situações de crise, uma organização também tende a adotar uma configuração
empreendedora na medida em que necessita de um líder forte, que imponha sua visão
integrada e seu controle personalizado para colaborar na salvação da empresa, em uma
tentativa de efetuar uma reviravolta estratégica (Mintzberg, 2000).
A tomada de decisão é também flexível, com uma alta concentração de poder permitindo
rápida reação. A criação de estratégia é responsabilidade dos executivos principais e o
processo tende a ser altamente intuitivo, com freqüência, orientado para a procura agressiva
de oportunidades. Nesse contexto, observa-se que a estratégia resultante tende a refletir a
visão implícita que esses indivíduos têm do mundo (Mintzberg, 2000).
Os teóricos Lumpkin e Dess (1996) atribuem à concepção de espírito empreendedor a
conceituação de orientação empreendedora (OE), buscando esclarecer o tema do
empreendedorismo. A orientação empreendedora é definida pelos autores como um processo
associado a métodos, estilos e escolhas estratégicas. Uma interrogante sobre a discussão da
ação empreendedora reside no questionamento da real contribuição do estudo da orientação
empreendedora do executivo para explicar os empreendimentos que conseguem sobreviver e
crescer, embora encarando os cenários hostis e competitivos do mercado.
Do ponto de vista do comportamento do empreendedor, o empreendedorismo pode ser,
ainda, considerado um fenômeno regional, ou melhor, a visão deste fenômeno não deve estar
desprovida de uma análise contextualizada das peculiaridades regionais (Teixeira, 2001;
Greber, 1990). As culturas, necessidades e hábitos de uma região determinam
comportamentos uma vez que empreendedores integram, assimilam e interpretam esses
comportamentos e este fato tem reflexos sobre o modo como formam novos negócios.
Empreendedores locais podem refletir a cultura de sua própria comunidade e, assim,
concentrarem-se na busca de nichos de mercado e satisfação de necessidades específicas do
local.
2
Assim, o propósito principal deste artigo reside em averiguar como os estudos de
empreendedorismo estão sendo discutidos nos fóruns nacionais de Administração. O recorte
específico nos ENANPAD’s de 1998 a 2001 justifica-se pela reputação desse encontro como
de amplitude nacional entre os principais programas de pós-graduação nas áreas de
Administração.
No tópico seguinte será apresentada uma exposição sobre a gênese do pensamento sobre
o empreendedorismo, considerando os registros de três visões sobre a expansão do fenômeno,
quais sejam a escola dos economistas, a dos behavioristas (comportamentalistas) e a dos
precursores da teoria dos traços de personalidade.
3
O conceito de empreendedorismo tem sido aplicado a diferentes níveis, por exemplo,
indivíduos, grupos e “organizações como um todo”. Uma das razões que tem gerado pouca
concordância sobre a natureza do empreendedorismo e sobre sua influência no desempenho é
que o termo é utilizado em vários níveis de análise, conforme se discute no próximo tópico.
4
cenários ambientais, as quais poderiam monitorar a compreensão das tendências e formas de
crescimento do mercado (COSINEXP, 1998; Gimenez, 2000).
Drucker (1987) e Mintzberg (2000) associam o espírito empreendedor com a sua
caracterização por situações nas quais uma pessoa com visão clara de propósitos dirige uma
organização para ser mais adaptada aos seus objetivos estratégicos. Os autores concebem as
organizações, nas quais são observados aspectos do espírito empreendedor de seus executivos,
como empresas jovens e inovadoras de setores industriais novos e emergentes. Mintzberg
(2000) define a chamada Escola Empreendedora como uma linha da formação estratégica de
característica visionária e pró-ativa. No entanto, o autor critica essa corrente da administração
estratégica por acreditar que ela está centrada na pessoa de um único indivíduo, fato que às
vezes impede de manifestar-se claramente o processo organizacional como um todo.
Quando se comparam as características do empreendedor bem sucedido com os estudos a
respeito do papel e funções do administrador, nota-se que existem muitos pontos em comum,
ou seja, o empreendedor é um administrador, mas com diferenças consideráveis em relação
aos gerentes ou executivos de organizações tradicionais, já que o gerente é voltado para a
organização de recursos, enquanto o empreendedor é voltado para a definição de contextos
(Dornelas, 2001).
Lumpkin e Dess (1996) propõem cinco dimensões– autonomia, inovatividade, risco,
proatividade e agressividade competitiva – que buscam identificar e distinguir os processos
empreendedores chaves, ou seja, a orientação empreendedora da firma (OE). Tais dimensões,
contudo, não representam empreendedorismo: o aspecto essencial do empreendedorismo “é
criação de negócio”, ou seja, é o ato de formar novos negócios.
Os fatores propostos pelos teóricos podem estar presentes quando uma empresa se engaja
na criação do negócio. Por outro lado, um novo negócio bem sucedido também pode ser
encontrado quando apenas alguns desses fatores são operacionais. Esta visão é condizente
com a percepção de Gartner (1985: 697) com relação à formação de novo negócio:
5
A organização pode ser considerada um sistema para tomada de decisões. Ao abordar a
firma de negócios como uma organização que toma decisões sobre preço, resultados,
investimentos ou estratégia de marketing, Cyert e March (1963) se voltam para o interesse no
desenvolvimento de uma teoria que examina os mecanismos utilizados pelas organizações
humanas para resolver conflitos e fazer escolhas, permeadas por um enfoque comportamental
que os autores denominam “teoria comportamental da tomada de decisão”.
Desse modo, pode-se acreditar que a ação empreendedora de reconhecimento de
oportunidade de negócios, definido por Hills (1996) como sendo "a percepção da
possibilidade de potencial para novos lucros através da fundação e aperfeiçoamento de um
novo empreendimento ou da melhoria significativa de um negócio já existente", é uma
atividade que pode ser desenvolvida a partir do estabelecimento de uma estrutura
organizacional que garanta desempenhos satisfatórios durante a vida efetiva da firma;
entretanto, adverte o autor que pouco se sabe sobre a maneira como os empreendedores
tenderão a racionalizar o processo de decisão para identificar as oportunidades emergentes
num ambiente repleto de complexidades e incertezas.
O fenômeno do empreendedorismo associado a questões de gênero também merece
destaque na medida em que a figura da mulher imprime à gestão empreendedora traços
evidentes nos seus modelos comportamentais e sinalizam para as contribuições do perfil
feminino nos âmbitos da subjetividade, da identidade gerencial e de uma tomada de decisão
com estilo mais democrático. Machado (1999) revela em seus estudos que a mulher
empreendedora têm um estilo gerencial próprio. Os resultados do estudo assinalam uma
tendência no comportamento gerencial das mulheres caracterizado por objetivos claros,
comportamento estratégico inovativo, estilos cooperativos de liderança e grande ênfase em
qualidade.
È imperativo salientar a ausência dos de autores brasileiros no sentido de configurar o
perfil empreendedor no espectro brasileiro, onde fica evidente a diversidade de visões
acadêmicas e emergem tentativas de agregar esforços compartilháveis a fim de se
compreender o fenômeno da geração e expansão de negócios privados e ações públicas por
um prisma mais nacional.
A seguir, será desenvolvida uma breve descrição do procedimento metodológico adotado
para se desenvolver o levantamento de aspectos relevantes registrados nos anais dos
ENANPADs, onde foram dispostos os instrumentos bibliográficos escolhidos para se compor
o estudo.
6. Metodologia
A metodologia para elaboração do artigo consistiu de um levantamento de artigos
científicos sobre a produção acadêmica brasileira de empreendedorismo e espírito
empreendedor. O estudo consiste na averiguação de trabalhos publicados nos Encontros
Anuais da ANPAD, cujo recorte de levantamento abrange o intervalo de 1998 a 2001. As
verificações estão relacionadas tanto ao tema do empreendedorismo, como com a sua inserção
no bojo de outros assuntos presentes nos estudos organizacionais, a exemplo da cultura
corporativa (Pardine, 2000), Comportamento gerencial e gênero (Pelisson et al, 2001) e
tomada de decisão (Chagas e Freitas, 2001). O levantamento compreende uma averiguação de
áreas temáticas, instituições, autorias, cuja inspiração remonta a Randall et al (1999),
Rodrigues e Carrieri (2000); Lima (2000) e Bignetti e Paiva (2001).
7. Empreendedorismo no Brasil
A visão antropológica sobre o empreendedor brasileiro não encerra nem limita a
discussão sobre o tema. Sua virtude está, exatamente, em permitir uma leitura diferenciada,
fora dos padrões tradicionais. Se os administradores brasileiros se submeterem acriticamente
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ao movimento político e cultural, pouco espaço sobrará para o resgate do empreendedor. Isso
significará o reforço da politicagem, mais subdesenvolvimento e estagnação da economia.
Ao tratar do empreendedorismo no escopo do setor público, Carbone (1996) afirma que
aparecem movimentos de ruptura e alijamento por adotarem uma postura contrária às
relações político-fisiológicas, e eles acabam sendo encarados como pessoas “sem jogo de
cintura”, ingênuas ou tecnicistas. O autor, acrescenta que as organizações esquecem que, para
empreender, é necessário capacidade técnica, visão de futuro e vontade de mergulhar no
trabalho. Para trabalhar a mudança de paradigmas culturais, é necessário profundo
conhecimento das relações estabelecidas. O risco de se tentar mudar sem conhecer, numa
cultura complexa como essa, resulta numa paralisia.
A neutralização temporária das atividades do empreendedor no setor público brasileiro,
gerando uma descontinuidade de seus serviços, é comum no Brasil. Assim, os
empreendedores ficam restringidos a poucos caminhos: renunciam e ficam olhando o “barco
pegar fogo” ou então partem para seus negócios particulares, usando a empresa estatal ou o
órgão público apenas como retaguarda econômica e garantia da segurança familiar (Carbone,
1996).
As oportunidades podem ser crescentes para as iniciativas empreendedoras calcadas nos
estudos de redes organizacionais, compreendendo estes espaços cooperativos como
ecossistemas benignos para o florescimento saudável do espírito empreendedor, uma vez que
numa rede de fornecimento suas organizações são o beneficiadas pelo relacionamento com as
grandes empresas na pirâmide de sub-contratação. O fluxo de informação ao longo da
pirâmide é mais fluído do que no sistema de pura competição existente no ocidente, onde tais
empresas enfrentam problemas que às vezes as conduzem à falência antes de concluir seu
primeiro ano de operação (Zilber, 2000; Paiva e Barbosa, 2001).
Em estudo baseado na pesquisa de Collins e Porras (1994) que atribui à liderança
visionária dos sócios empreendedores a responsabilidade de imprimir os traços culturais da
empresa, Pardine (2000) menciona que os princípios atrelados à cultura preservada e revestida
pela idealização de seus líderes, a exemplo do Bradesco (Amador Aguiar), do Grupo
Votorantin (José Ermírio de Moraes) e do Grupo Gerdau (Curt Johannpeter), personificam os
atores principais como a firmeza, a coragem e o heroísmo que são qualidades freqüentemente
valorizadas dentro das organizações.
7
empreendedora, enquanto que, em 2001, o pesquisador publicou, junto com Machado, um
artigo que trata da questão de gênero e empreendedorismo, assim como das características
gerenciais dos empreendedores. Em 1999, Machado publicou, conforme Tabela 2, artigo
ligado ao tema 8.
Como pode ser observado na Tabela 3, a afiliação institucional mais comum foi a da
UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), com 8 artigos publicados nos
ENANPAD’s de 1998 (6 artigos publicados), 2000 (1 artigo publicado) e 2001(1 artigo
publicado). Em seguida, com o mesmo número de publicações estão a Universidade de São
Paulo (4 artigos publicados) e a Universidade Estadual de Maringá. Outras instituições (16 no
total) publicaram apenas 01 (um) artigo cada nos ENANPAD’s de 1998 a 2001.
Tabela 2 – Autoria (1º autor) dos artigos publicados nos ENANPAD’s (1998 a 2001)
Tema 1998 1999 2000 2001 Total
1 Guimarães, T. R. da Ramos, R. E. B. Pérola, A. C. Marques, D. B. 12
C. Cherubin, P. F. Vasconcelos, F.
Gimenez, F. A. P. Rossetto, C. Cancellier, E. L. P.
Martins, G. M. Barros Neto, J. de P. Oliveira, L. A. G. de
2 Santos, F. de A. Zilber, S. N. Castro, L. C. 7
Echeveste, S. Carvalho, L. C. de S. Chagas, J. de O.
Ayres, K. V.
3 Peci, A. Carvalho, M. R. de O. 4
Farias Filho, J. R.
Santos, L. C.
4 Echeveste, S. Melo, M. C. O. L. Pelisson, C. 3
5 Campos, L. J. de Gueiros, M. B. Castro, L. C. 3
Bortoli Neto, A. de
6 Pinho, J. A. G. de Souza, E. C. L. de 3
Oliveira M. I. de
7 Oprime, P. C. Silva, J. S. 2
8 Machado, H. V. Pelisson, C. 2
9 Zanela, A. C. Pardini, D. J. 2
10 Lemos, A. D. 1
11 Almeida, M. I. R. de 1
12 Cherubin, P. F. 1
13 Carvalho, M. R. de O. 1
14 Ayres, K. V. 1
15 Carvalho, L. C. de S. 1
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Tabela 3 – Artigos publicados por instituições (1998 – 2001)
Ranking Instituição Artigos publicados/ Total de
Ano artigos
1 UFRGS 6 (98); 1(00); 1 (01) 8
2 USP 1(98);2(00);1(01) 4
3 UEM 1(98);1(00);2(01) 4
4 UFRN 1(99); 1(00) 2
5 UFPE 1(00); 1(01) 2
6 UFSC 2 (99) 2
7 UFMG 1(99); 1(00) 2
8 FGV- SP 2(01) 2
9 FGV – RJ 1 (99); 1(00) 2
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