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CAPÍTULO 9
Empreendedorismo e inovação em startups
Francisco Duarte | Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Jaime Frenkel | Rafael Clemente
INTRODUÇÃO
Este capítulo discute o processo de inovação em startups. Uma primeira leitura poderia
sugerir que inovar em organizações recém-criadas é mais fácil, pois têm equipe pequena, maior
comunicação, processo menos burocratizado, flexibilidade gerencial e maior aceitação do risco.
No entanto, ao contrário do que o porte e o estágio de desenvolvimento de negócio possam
sugerir, inovar em startups é um dos mais desafiadores e complexos problemas presentes na
literatura de inovação. Em alguns casos, startups estão associadas a inovações mais radicais, à
forte restrição de recursos, a negociações de ativos novos com grande incerteza.
Empreendedores não são apenas inovadores singulares, são inovadores seriais em múltiplas
dimensões, e o produto é apenas uma das dimensões em que eles inovam.
Neste capítulo, apresentamos a área de pesquisa consagrada à inovação em novas firmas,
a gestão estratégica empreendedora. Procuramos enfocar uma das questões centrais dessa
área, que desafia tanto pesquisadores quanto empreendedores e investidores: o dilema de
planejar ou não planejar. Apresentamos os dois lados do debate e por fim oferecemos uma
alternativa reconciliadora para o dilema, que caminha para um entendimento contingencial do
planejamento em startups.
Para compreender como esses dois campos podem ser articulados, é importante entender
bem os limites entre ambos. Para Cooper, Markman e Niss (2000), a “Gestão estratégica coloca
forte ênfase no exame dos fatores que influenciam o desempenho da firma, incluindo a estratégia
e o ambiente, e as fontes de vantagem competitiva”. Já o Empreendedorismo concerne à criação
da nova firma. Empreendedorismo estratégico corresponde à integração entre o comportamento
de se perseguir oportunidades e a perspectiva estratégica de desenvolver e realizar ações para
criar riqueza (Hitt et al., 2001; Kuratko; Audretsch, 2009) .
Mas como esses campos podem ser integrados? Quando se menciona gestão estratégica,
é comum limitar o campo ao planejamento estratégico, que consiste na formulação de planos de
longo prazo para efetivo gerenciamento das oportunidades do ambiente e as ameaças à luz das
forças e fraquezas das organizações (Kuratko; Audretsch, 2009), e inclui a definição dos objetivos
da organização, a missão, o desenvolvimento de estratégias e a estruturação de ações. Mas o
campo da gestão estratégica vai além das abordagens de planejamento estratégico, ele é
constituído por outras áreas que podem oferecer novos quadros conceituais e metodológicos para
os desafios enfrentados pelos empreendedores.
• Empreendedores que fundam novas firmas de base tecnológica com a visão de desenvolver um
negócio de alta escalabilidade. Tais empreendedores normalmente ambicionam construir
negócios milionários ou vendê-los a empresas maiores.
• Equipes de intraempreendedores de grandes organizações estabelecidas criadas para
desenvolver novos negócios pouco compatíveis com os valores, cultura e competências centrais
da sua criadora. Quando amadurecem, essas startups podem ter diferentes destinos, incluindo:
se tornar um spin-off, dar origem a uma nova unidade de negócio da organização mãe ou ser
reabsorvida como uma nova oferta de uma das unidades de negócio existentes.
• Empreendedores sociais que criam organizações sem fins lucrativos com o objetivo de gerar
uma contribuição de forte impacto capaz de tornar o mundo melhor.
1. Modelos de negócio: um modelo de negócio é uma descrição do valor que a empresa oferece a
um ou a vários segmentos de clientes e uma arquitetura da firma e sua rede de parceiros para
criar, comercializar e entregar esse valor e capital relacional, com o objetivo de gerar fluxos de
receita lucrativos e sustentáveis (Osterwalder, 2004). Inovar no modelo de negócio significa
realizar uma alteração sistêmica desses vários elementos.
2. Mercado: refere-se à criação ou à ampliação de um mercado existente.
3. Produto e serviço: desenvolvimento de um produto, serviço ou sistema produto-serviço.
4. Processo produtivo: projeto e implementação de todo o processo produtivo necessário para a
produção do produto.
5. Firma: spin-offs acadêmicos, spin-offs corporativos e empresas nascentes de base tecnológica
em geral.
O processo se inicia com o mapeamento que o empreendedor faz para identificar os meios
a sua disposição. Esse mapeamento inclui as suas próprias aptidões, vocações e aspirações; os
seus conhecimentos e competências; e a sua rede de contatos com os quais pode cooperar para
desenvolver o novo negócio. No final dessa etapa, o empreendedor se pergunta sobre quais
efeitos ou resultados poderia alcançar para, então, traçar metas amplas para o seu
empreendimento. Essas ideias amplas do que poderia vir a ser o negócio são apresentadas pelo
empreendedor a todos aqueles que poderiam se dispor a cooperar com o novo empreendimento.
A partir dessa interação, ele eventualmente consegue fazer com que outros stakeholders decidam
se comprometer com a empreitada. Tal comprometimento é uma via de mão dupla, os
stakeholders colocam alguns de seus meios à disposição do novo empreendimento, aumentando
a disponibilidade de recursos e, por outro lado, restringem a amplidão das metas, já que as
mesmas precisam agora estar alinhadas com os seus próprios interesses.
Em outras palavras, quem aceita participar do novo empreendimento é que determina o
que ele será, e não o contrário. O resultado desse processo é a criação de uma rede efetual de
indivíduos comprometidos com a construção de uma visão comum e de um novo mercado no
qual os membros da rede efetual irão operar os seus novos negócios.
Vale frisar que, ao realizar o processo de efetuação, o empreendedor não sabe nem se
preocupa em saber o resultado final da sua ação, apenas o efeito do seu próximo passo
(Sarasvathy, 2008). Dessa forma, o processo de efetuação é incompatível com as abordagens
tradicionais de planejamento que buscam desdobrar, a partir de uma meta predefinida, passos
para sua execução.
É importante deixar claro que a efetuação não é um conjunto de traços de personalidade
compartilhados pelos empreendedores de sucesso. Trata-se de uma lógica que pode ser
desenvolvida ao longo do tempo (Dew et al., 2009) e utilizada pelo empreendedor quando
necessário.
A lógica efetual também não é uma solução perfeita. O empreendedor deve ser capaz de
alternar entre ela e a lógica causal tradicional. De acordo com Sarasvathy (2008), a lógica efetual
é aplicável em situações extremamente caóticas marcadas por três características:
Milestone approach
Um dos primeiros trabalhos a propor conceitos, processos e técnicas para lidar com
elementos imprevisíveis no planejamento de startups foi o de Block e MacMillan (1985), em que
foi proposta a abordagem de milestones para o planejamento. Essa abordagem pode ser utilizada
para mensurar o desempenho gerencial ao analisar o que foi aprendido e como os planejadores
do negócio podem modificar os planos para responder às novas informações. A ideia básica do
planejamento milestones é adiar o comprometimento de recursos até que evidências obtidas no
momento de eventos importantes (milestones) justifiquem a assunção de determinados riscos
(Block; MacMillan, 1985).
Selecionismo e aprendizado
Sommer, Loch e Dong (2009) avançam em pelo menos dois aspectos em relação aos
trabalhos anteriores. O primeiro é qualificar o que é incerteza em uma perspectiva mais ampla do
que tipos de incertezas (ex: técnicas, mercadológicas, organizacionais e de recursos). Esses
autores propõem uma divisão entre incertezas previsíveis e imprevisíveis, a saber: variação como
primeira dimensão e caos como a última das quatro dimensões. Variação corresponde ao cenário
em que a natureza e a sequência das atividades relevantes, assim como os objetivos do projeto,
são bem conhecidos, o plano do projeto é detalhado e estável, mas o sequenciamento do projeto
e o orçamento exibem variações em torno de valores projetados. Incertezas previsíveis são
incertezas que podem ser identificadas, mas influem de maneira incerta no projeto. Para essa
dimensão, gestores podem aplicar abordagens tradicionais de gerenciamento de risco. Já o caos
e a turbulência se referem a uma fundamental incerteza sobre uma estrutura básica do projeto em
si (Sommer; Loch; Dong, 2009).
O segundo aspecto que esses autores discutem é a proposição de abordagens de
gerenciamento específicas segundo o tipo de incerteza, especialmente a incerteza imprevisível e
o caos. Para o primeiro caso, propõem a abordagem de aprendizado do tipo tentativa e erro
(planeja-se apenas até o próximo milestone) e o selecionismo, que consiste na condução de
várias opções em paralelo em um processo de tomada de decisão ex post. Para o caos e a
turbulência, os autores sugerem abordagens flexíveis de planejamento e constante aprendizado
por meio de feedbacks.
O uso mais comum do Business Model Canvas é a impressão em uma grande folha de
papel dos nove blocos para a realização de uma reunião de discussão (Figura 9.6). Nessa
reunião, os participantes usam post-its para representar possíveis componentes de cada um dos
nove elementos do modelo de negócio em discussão. Dessa forma, os participantes podem
experimentar e discutir, em relativamente pouco tempo, diversas possibilidades de modelo de
negócio e avaliar aquelas que se mostram mais promissoras (Osterwalder; Pigneur, 2010).