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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Escola Superior de Negócios e Empreendedorismo de Chibuto – ESNEC

Cadeira – EMPREENDEDORISMO I
Cursos: Finanças, Agro-negócios, Gestão & Liderança e Comércio

UNIDADE I – O EMPREENDEDOR E O EMPRENDEDORISMO

Etimologia
O termo empreendedor é de origem francesa – entrepreneur. Originalmente abrangia as funções do
inventor, do planificador, do construtor, do administrador e do empregador, mas não as de provedor
do capital nem as de quem corre risco.

A distinção clara entre aqueles que executavam funções técnicas e os que se ocupavam de funções
empresariais surgiu somente com o capitalismo liberal.
Foi Richard Cantillon, homem de negócios do século XVIII, quem empregou pela primeira vez o
conceito de forma específica, atribuindo-lhe um conteúdo económico preciso.

CANTILLON, sugeriu que o empreendedor é um agente económico dotado de capacidade da


previsão e de disposição para assumir riscos, executando acções convergentes à obtenção de lucros.
Nesta concepção, (1) o empreendedor surgia como um agente do equilíbrio, em uma economia liberal
de mercado; (2) a actividade em si era tida como ousada e fundamentada no interesse próprio.

Outros franceses da época, como Quesnay, Turgot e o abade Budeau, também descreveram o
empreendedor como peca fundamental do sistema de mercado, embora divergissem em suas
avaliações sobre a natureza de sua acção.

No inicio do XIX, Jean Baptista Say deu um passo a frente ao dividir o processo produtivo em três
estágios: (1) o da pesquisa, (2) o da inovação e (3) o da produção propriamente dita.
O papel do empreendedor seria o de articular esses três estágios, tendo em especial a capacidade para
estimar, com alguma exactidão, a importância dos produtos e sua provável demanda. Segundo este
conceito o acto de empreender não incluía necessariamente a propriedade do capital.

Os clássicos Ingleses pouco acrescentaram a este quadro conceptual dos economistas franceses. Adam
Smith, por exemplo, nao distinguiu o empreendedor das varias categorias de agentes económicos,

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como se cada negócio fosse levado a cabo por si só. Somente Stuart Mill contribuiu nesse campo,
destacando que a renda dos empreendedores era de natureza diferente da dos demais agentes
económicos: seus ganhos foram atribuídos em parte a sua destreza e a sua capacidade, em parte à
remuneração do seu próprio capital, em parte ainda à sua disposição em correr riscos. Esse legado
clássico transmitido a Marx, o levou a não distinguir os conceitos e as funções do capitalista e do
empreendedor. Sua finalidade maior seria a acumulação e o comando do factor capital.

No final do sec. XIX historiadores e sociólogos alemães influenciaram o estudo do papel do


empreendedor destacando que o espírito empresarial é que dava ânimo à toda a economia, através
da inovação criativa. E Webber foi além, ao evidenciar que o empreendedor era um agente que se
desviava dos padrões normais, destacando-se pela criação de novos métodos de produção.

No inicio do sec. XX, novas contribuições teóricas ajudaram a definir melhor os papéis do
empreendedor. Schumpter passou a fixar os papeis do empreendedor em três bases: a inovação, a
assunção de riscos e a permanente exposição da economia ao estado de desequilíbrio, rompendo-se a
cada momento, paradigmas que se encontravam estabelecidos.

FONTE: BIRCHAL1, Sergio de Oliveira. Entrepreneurship and the formation of a business environment in nineteenth-
century Brazil. London school of Economics and Political Science, mimeo, 1994.

A capacidade empresarial
A capacidade empresarial, ou capacidade de empreendimento, ou empreendedorismo, pressupõe,
segundo ROSSETTI (2003:140) a mobilização, a aglutinação, e a combinação dos demais factores
de produção.

Os agentes dotados dessa capacidade geralmente possuem atributos que os diferenciam dentro dos
contingentes economicamente mobilizáveis. Geralmente, eles têm baixa aversão a riscos, espírito
inovador, sensibilidade para farejar oportunidades de negócios, energia para implantar projectos,
capacidade para organizar o empreendimento e visão estratégica orientada para o futuro
(ROSSETTI, 2003:152).

Empreendedorismo
O empreendedorismo pode surgir, segundo ESPERANÇA e MATIAS (2005:24), em qualquer sector
de actividade económica, tecnológico ou tradicional. Em complemento das empresas já instaladas, o

1
Citado por ROSSETTI (2003:141-152)

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espírito empreendedor contribuirá para criar emprego 2, estimular a actividade económica e aumentar a
produtividade através da pressão competitiva que naturalmente gera.

Estes autores apresentam-nos a seguinte diversidade de definições:

I. Empreendedorismo é o conjunto de esforços de inovação (por um individuo ou grupo)


destinado a reunir recursos que permitam criar e explorar oportunidades económicas, através
do fornecimento de produtos ou serviços novos ou melhores do que os existentes e de
processos mais eficientes;

II. Empreededorismo é a capacidade de criar ou identificar uma oportunidade de mercado


viável, através da criação de uma nova organização ou da transformação de uma já em
actividade para atingir os novos objectivos de forma eficaz e eficiente;

III. Empreendedorismo é uma atitude mental que engloba a motivação e capacidade de um


indivíduo, isolado ou integrado num organismo, para identificar uma oportunidade e para a
concretizar com objectivo de produzir um novo valor ou um resultado económico.

Estas definições levam-nos a concluir que o empreendedorismo desempenha um duplo papel, privado
e social, de grande relevância para a colectividade.

Ambiente de actuação do empreendedor


• Físico geográfico: recursos naturais, clima, etc;
• Social: crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais; habilidades; atitudes, etc;
• Político administrativo: normas, procedimentos administrativos, etc;
• Económico: nível de renda, estradas, redes de energia e água, telecomunicações, serviços, etc;
• Tecnológico: nível de conhecimento científico, investigação, disponibilidade de meios
tecnológicos, etc.

Perfil e Qualidades do empreendedor


Perfil
Segundo ESPERANÇA e MATIAS (2005:24), é comum ver-se o empreendedor como um jovem
visionário que não quer acabar os estudos porque descobre oportunidades a explorar de imediato.
2
Aqui encontramos o papel social do empreendedorismo.

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Afinal, foi isso que fez o Sr. Bill Gates, hoje um dos homens mais ricos do mundo. No entanto, a
realidade e o mito nem sempre coincidem. O empreendedor é, com frequência, um empresário com
experiencia no seu sector de actividade e menos jovem que o sugerido pelo mito.

Segundo o observatório de das PMEs Europeias, a idade media dos novos empreendedores é de 35
anos, o que revela que a decisão de criar uma empresa é normalmente tomada vários anos após a
conclusão dos estudos e com experiencia de trabalho por conta de outrem 3.

Assim, o empreendedor, em geral, apresenta experiência no seu sector de actividade e cria a sua
empresa vários anos após o término dos estudos. Deve reunir competências pessoais de gestão para
lançar e desenvolver com sucesso a empresa criada.
São múltiplos os determinantes do nível de empreendedorismo de um pais, nomeadamente, as suas
características pessoais, culturais e administrativas.

Qualidades
Segundo ROSSETTI (2003:141) os agentes dotados de capacidade empresarial reúnem um conjunto
de qualidades que os diferenciam em relação aos contingentes economicamente mobilizáveis. As
principais, destacadas por Leibenstein, são as seguintes:
 Ter visão estratégica, orientada para o futuro, capaz de antever novas realidades e seus
desdobramentos;
 Ter baixa aversão aos riscos inerentes ao ambiente de negócios;
 Ter espírito inovador, quebrando paradigmas, abrindo novas fronteiras, propondo novas
soluções para satisfazer as ilimitáveis necessidades humanas;
 Ter sensibilidade para farejar oportunidades de investimento ou de reunir e processar
informações que os levem a descobri-las;
 Ter energia suficiente para implantar projectos de empreendimento, animando tantos
investidores quantos sejam necessários para sua execução;
 Ter acesso aos outros quatro factores de produção, bem como capacidade de combiná-los,
levando adiante os projectos implantados;
 Ter capacidade de organizar o empreendimento, adquirindo ou contratando os factores
necessários, transferindo subsequentemente a gestores competentes a coordenação
permanente das operações.

3
Porém, a realidade moçambicana pode tomar um sentido diferente visto que é um país maioritariamente
Jovem e muitas organizações são geridas por pessoas abaixo de 35 anos de idade. Mesmo assim, é comum a
exigência de primeiro terminar os estudos.

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A capacidade empresarial é um factor de produção. É o mais importante factor de produção. O
processo de produção, em seus fundamentos, dá-se pela mobilização combinada dos factores terra,
trabalho e capital, sob determinado padrão tecnológico. E o factor mobilizador e a capacidade
empresarial.
Instrumentos e Factores de sucesso de bom negócio
O primeiro instrumento fundamental para que um negócio seja conduzido com sucesso é a
planificação. Esta ressurgiu nos anos 90, não apenas como um processo de gestão fundamental, mas
como instrumento de programação e avaliação de novos negócios, dando origem ao plano de
negócios: business plan4.

O Business plan serve um duplo propósito: estruturar e dar consistência à ideia-chave do


empreendedor e convencer as entidades externas (principalmente os financiadores) da validade do
negócio.

Para melhor compreendermos os factores de sucesso de um negócio temos que partir de uma premissa
básica no contexto do empreendedorismo: tendo em consideração que qualquer empreendimento está
sujeito, ou ao sucesso, ou ao insucesso, é desejável procurar minimizar o risco do insucesso. A
experiência no mundo de negócios sugere que o risco de insucesso pode ser reduzido (não sendo, no
entanto, eliminado) se forem garantidas as seguintes condições:

1) Existência de uma equipe de gestão experiente e conhecedora do sector de actividade;


2) Identificação de uma necessidade real por parte dos consumidores;
3) Definição de metas quantificadas e realistas;
4) Empenho total por parte do empreendedor;
5) Avaliação adequada da estrutura de custos interna e das condições de mercado, incluindo
reacções de concorrência.

O Espírito empreendedor
É característica distinta da pessoa ou instituição, não é um traço de personalidade. Qualquer
pessoa que precise tomar uma decisão pode aprender a ser um empreendedor. O
empreendimento é um comportamento, não é um traço de personalidade. As bases do espírito
empreendedor são o conceito e a teoria e não a intuição. Para Schumpeter, O empreendedor

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Sobre o plano de negócios falaremos com mais detalhes nas próximas unidades temáticas.

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vê a mudança como norma. Ele sempre está buscando a mudança, reage a ela e a explora
como sendo uma oportunidade.
Inovação tecnológica
O que é a inovação tecnológica?
 É a introdução de novo produto ou variação de produto já existente. Por exemplo,
numa indústria alimentar, o lançamento de uma versão light ou diet de um produto;
 É a introdução de um determinado insumo que optimiza ou reduz custos de uma
determinada produção, no todo ou em parte;
 É adequação de produtos às exigências das leis;
 É a criação de uma linha voltada para um segmento de mercado não explorado
anteriormente. Por exemplo, uma indústria têxtil de artigos infantis que lança uma
linha de roupas para adolescentes;
 É a introdução de melhorias na logística de armazenamento, transporte e
distribuição dos produtos;
 É aplicação de novos softwares que requerem mudanças também no hardware ou
optimiza a produção e/ou o produto ((Pintec, 2008).

Responsabilidade social
Responsabilidade Social de Empresas é uma das temáticas mais faladas actualmente. Mas o
que é esse conceito? O que ele engloba? O que influenciou o seu surgimento?

Corrêa et al (2004) cita que o despertar da responsabilidade social das empresas não tem um
histórico cronologicamente definido. Há, na verdade, uma evolução da postura das
organizações em face da questão social, provocada por uma série de acontecimentos sócio-
políticos determinantes e, também, por aqueles que foram conseqüência da inovação
tecnológica.
Para Oliveira (2005), não existe uma lista rígida de acções que uma empresa deve fazer para
ser socialmente responsável, ou seja, não existe uma definição consensual. Responsabilidade
social envolve uma gestão empresarial mais transparente e ética e a inserção de preocupações
sociais e ambientais nas decisões e resultados das empresas.   

Responsabilidade social - relacionamento ético e transparente da organização com todas as


partes interessadas, visando o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando

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recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais (FPNQ, 2005).

Responsabilidade Social das Empresas consiste na sua “decisão de participar mais


directamente nas acções comunitárias da região em que está presente e minizar possíveis
danos ambientais decorrente do tipo de actividade que exerce” (Melo at all, 2001:78).

Para Ashley (2003:56) a responsabilidade social empresarial pode ser definida como:
“O compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de
actos e atitudes que afectem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de
modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que toca ao seu papel específico
na sociedade e na prestação de contas para com ela”.

O termo Responsabilidade Social implica que as empresas conduzam seus negócios “de tal
maneira que as tornem parceiras e co-responsáveis pelo desenvolvimento social” (Instituto
Ethos: 2002).
A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses
das diferentes partes envolvidas no negócio (stakeholders): accionistas, funcionários,
fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente, de forma a conseguir
incorporá-los no planeamento de suas actividades, buscando atender às demandas de todos.

Módulo II
Oportunidades de Negócios

Oportunidades de negócios
2.1. Conceito:

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 É uma situação na qual mudanças na tecnologia ou nas condições políticas, sociais e
demográficas geram o potencial para criar algo novo;
 De acordo com os conceitos já transmitidos, uma oportunidade de negócios pode ser
explorada mediante a criação de um produto ou serviço, a abertura de um novo
mercado, desenvolvimento de uma nova maneira de organização ou uso de um novo
material ou ainda introdução de um novo processo de produtivo (Baron,2007:34).

Onde existem tais oportunidades? FONTES


Muitos empreendedores iniciam seus negócios em reposta às três fontes de oportunidades de
negócios:
 Mudança tecnológica;
 Mudança política ou de regulamentos;
 Mudança social e demográfica: ( Shane,1996,como citado em Baron,2007:35)

Mudança tecnológica
 Possibilita que as pessoas façam as coisas de forma nova e mais produtiva;
 Grandes mudanças tecnológicas são maiores fontes de oportunidades de negócios do
que pequenas mudanças tecnológicas;
 Quanto importante for o avanço tecnológico representado por uma inovação,mais
fácil é alguém criar uma nova empresa para explorá-la.

Mudança política e regulamentar


 Permite o desenvolvimento de ideias de negócios para utilizar recursos de maneiras
novas;
 A desregulamentação torna mais fácil para os empreendedores começarem promover
novos negócios;
 Por outro lado, regulamentos podem proteger tipos específicos de actividades de
negócios encorajando empreendedores a tirarem vantagens nesses sectores.

Mudança social e Democrática


 Mudanças nas preferências das pessoas possibilitam que empreendedores atentos
ofereçam produtos e serviços que esses consumidores precisam
 As mudanças sociais e demográficas alteram a procura de produtos e serviços em
qualquer mercado;

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 As mudanças sociais e demográficas impõem a criação de soluções para as
necessidades dos clientes, isto é, criam oportunidades de produzir coisas diferentes;

Riscos de oportunidades de negócios


 Os novos produtos podem ser facilmente copiados pelos concorrentes;
 Ideias para exploração de novos métodos de produção são melhores formas de
exploração de oportunidades porque podem ser mantidas em segredo;
 Leva-se mais tempo, é mais difícil e custa muito mais aos concorrentes imitar ideias
de negócios sob a forma de novos processos do que sob forma de novos produtos ou
serviços.

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