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O Ensino de Empreendedorismo e
a Práxis no CEFET-PB
Para Schumpeter (1978), a essência do economistas têm, lançado mão da língua francesa
empreendedorismo está na percepção e no por uma palavra para designar a pessoa ou grupo
aprimoramento das novas oportunidades no âmbito de pessoas que assumem a tarefa e a
dos negócios, sempre tem a ver com criar uma nova responsabilidade de combinar fatores de produção
forma de uso dos recursos nacionais, em que eles dentro da organização empresarial e manter essa
sejam deslocados de seu emprego tradicional e organização em funcionamento. Eles são chamados
sujeitos a novas combinações. empreendedores...
Adota-se, em português, o termo espírito Para Fillion (1999 p.38), o empreendedor é
empreendedor para o termo entrepreneurships. pessoa criativa, marcada pela capacidade de
Drucker (1998), explica que os termos estabelecer e atingir objetivos e que mantém um alto
entrepreneurship e entrepreuner têm problemas de nível de consciência do ambiente em que vive
definição até mesmo na língua francesa na qual o usando-a para detectar oportunidades de negócios.
primeiro termo teve origem. O autor afirma também Um empreendedor que continua a aprender a
que entrepreneurships não é arte nem ciência, mas respeito de possíveis oportunidades de negócios e a
sim uma prática e uma disciplina. tomar decisões moderadamente arriscadas que
Já em Dolabela (1999 p.16), vê-se que O objetivam a inovação, continuará a desempenhar
empreendedorismo é um fenômeno cultural. um papel empreendedor.
A seguir algumas definições básicas são Em Gerber (1996 p.43), vê-se que: empreendedor
elencadas, seguindo diversos autores: Segundo é o inovador, o grande estrategista, o criador de
Lezana e Tonelli (1996), um dos principais motores novos métodos para penetrar ou criar novos
da sociedade moderna é o empreendedorismo. mercados; é a personalidade criativa; sempre
Através dele, com seus negócios, que se gera riqueza lidando melhor com o desconhecido, perscrutando o
e bem-estar, além de empregos. futuro, transformando possibilidades em
Argumenta Drucker (1987 p.63), que o trabalho probabilidades e caos em harmonia.
específico do empreendedorismo numa empresa de Guilhon e Rocha (1999 p.45), apresentam o
negócios é fazer os negócios de hoje, capazes de empreendedor como aquele que objetiva o sucesso,
fazer o futuro, transformando-se em um negócio que possui controle do seu negócio e visão holística
diferente. do mesmo. É independente e toma suas decisões de
Para Barreto (1998 p.75), Empreendedorismo – acordo com a sua vontade e visão dos fatos. É
habilidade de criar e constituir algo a partir de muito flexível para se adaptar às repentinas mudanças no
pouco ou do quase nada. Fundamentalmente, o mercado, aprendendo com suas próprias
empreender é um ato criativo. É a concentração de experiências.
energia no iniciar e continuar um empreendimento. Segundo McClelland, citado por Fillion, (1999
É o desenvolver de uma organização em oposição a p.73), um empreendedor é alguém que exerce
observá-la, analisá-la ou descrevê-la. Mas é também controle sobre uma produção que não seja só para o
a sensibilidade individual para perceber uma seu consumo pessoal.
oportunidade quando outros enxergam caos, Schumpeter (1978), afirma que empreendedor é o
contradição e confusão. É o possuir de competências responsável pelo processo de destruição criativa,
para descobrir e controlar recursos aplicando-os da sendo o impulso fundamental que aciona e mantém
forma produtiva. em marcha o motor capitalista, constantemente
Todas essas definições remetem o perfil do criando novos produtos, novos métodos de
profissional exigido pela globalização a uma outra produção, novos mercado e implacavelmente,
formatação. Pode-se observar que as organizações sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes
estão substituindo nomenclaturas, por exemplo, e mais caros.
chefe para líder, empregados para colaboradores.
Encontra-se também quem seja mediador, 3. O ensino do empreendedorismo e as práticas
facilitador, porém hoje é comum ouvir o nome de pedagógicas
empreendedor ou intraempreendedor.
Percebe-se, porém, que há diferenças a respeito No atual cenário em que vive a sociedade global, a
das definições exatas, embora haja um consenso no criação de políticas específicas de apoio ao
que difere o empreendedor de pessoas comuns qual empreendedorismo, como por exemplo,
seja: a maneira de o empreendedor lidar com as instrumentos de capacitação de empreendedores e
oportunidades e perceber a mudança. Outros autores, apoio ao desenvolvimento de novos
também, discutem a definição do termo. empreendimentos, tem sido estratégia sine qua non a
Dentre eles, destacam-se: Elly e Hess citados por planos de desenvolvimento sustentável de países
Garcia (2000 p.45), o qual afirma que os desenvolvidos e não desenvolvidos. Notadamente no
Brasil, algumas iniciativas têm contribuído Pesquisas junto aos alunos demonstram,
significativamente para o fortalecimento dos surpreendentemente, que eles consideram este
pequenos empreendimentos nos últimos anos. ensino fundamental mesmo para aqueles que não
Contudo, há ainda uma carência de esforços pretendem abrir empresas, e cuja vocação é, por
voltados ao desenvolvimento da cultura exemplo, para a área acadêmica. Tais resultados
empreendedora junto à parcela mais jovem da conduziram a indagações e análises sobre o
população. conteúdo da formação profissional oferecido aos
A sensibilização e capacitação de jovens para o nossos alunos, frente às exigências do mercado. De
empreendedorismo é uma estratégia que não apenas fato, a realidade conceitual trabalhada em sala de
atende à necessidade de criação de micro e pequenas aula difere da sua aplicação no mundo não teórico
empresas com potencial de crescimento. Atende Dolabela (1999).
também a uma necessidade premente de médias e A disciplina de Empreendedorismo prioriza e
grandes empresas já estabelecidas, que para lidar aprofunda bem a base comportamental (o ser) em
com um contexto marcado por crescente relação ao saber como um fim em si mesmo. Desta
complexidade, instabilidade e incerteza, necessitam, forma, o objetivo final da disciplina não é
cada vez mais, desenvolver e atrair empregados- instrumental. A proposta não é a transmissão de
empreendedores, os chamados intraempreendedores conhecimentos, mas o esforço no desenvolvimento
Dornelas (2001). de características pessoais necessárias ao
Considerando-se o importante papel exercido empreendedor de sucesso. Não se visa a criação de
pela educação formal sobre os valores que irão empresas de sucesso, mas sim a formação de
compor a cultura do indivíduo, e considerando-se empreendedores de sucesso. Para estes últimos, o
que a capacidade empreendedora envolve eventual fracasso da empresa é visto antes como um
conhecimentos e habilidades que podem ser resultado, com o qual saberão aprender. A atividade
aprendidas e desenvolvidas, há que se investir na de empreender, representada principalmente pela
criação de propostas e estruturas educacionais que identificação e aproveitamento constante das
priorizem tais habilidades. Muito têm evoluído as oportunidades, faz parte da rotina do empreendedor.
matrizes curriculares de cursos de graduação e pós- Questões fundamentais, algumas configurando
graduação no sentido de inserir disciplinas que verdadeiros paradoxos, surgiram como desafio a
incorporem conteúdos relacionados ao uma proposta metodológica que pudesse equacioná-
empreendedorismo. Mas ainda é muito pouco o que las.
se pode verificar em nível de vivência A primeira questão diz respeito a indagações
empreendedora oportunizada a estes alunos; grande sobre como e em que condições pode se verificar o
parte das iniciativas limita-se ao desenvolvimento de ensino nesta área. O que ensinar? É possível ensinar
conteúdos e muito pouco de atitudes e experiências. alguém a se tornar empreendedor? Como fazê-lo? O
Mais raros ainda são os exemplos de iniciativas que empreendedor nasce pronto, é resultado de genes
desenvolvam ações desta natureza em nível de favoráveis? São indagações similares àquelas feitas
ensino médio, onde, deve-se ressaltar, o indivíduo em relação ao gerente, há 50 anos. Uma conclusão
começa a despertar para o assunto “trabalho” e a que decorre das pesquisas mostra que é possível
sedimentar seus valores acerca de seu futuro aprender a ser empreendedor, mas certamente sob
profissional. condições diferentes daquelas propostas pelo ensino
A introdução de disciplinas de tradicional.
empreendedorismo tem um caráter revolucionário, já A segunda questão emerge da discussão
que acresce à vocação tradicional de formação de precedente e pode ser enunciada da seguinte forma:
empregados e acadêmicos, aquela do a Universidade está preparada a ensinar o
empreendedorismo, mais adequada aos novos empreendedorismo, considerando-se os seus
formatos das relações de trabalho decorrentes da métodos tradicionais de ensino, o estágio não
reestruturação da economia mundial neste início de estruturado do ramo do conhecimento, e ainda,
século. levando em conta que o empreendimento na área de
O ensino de empreendedorismo significa uma negócios não é prática dos nossos campus
quebra de paradigmas na nossa tradição didática, universitários?
uma vez que aborda o saber como conseqüência dos A terceira questão refere-se ao perfil do professor
atributos do ser. Assim, na sala de aula, elementos desta disciplina. Qual o seu papel num programa
como atitude, comportamento, emoção, sonho, didático em que o comportamento é o alvo maior, e
individualidade, ganham vaga antes ocupada em que o conhecimento não é transmitido pelo
somente pelo saber. mestre, mas gerado pelos próprios alunos, no
processo de elaboração da sua visão de empresa, na