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SUMÁRIO
1. Considerações iniciais
5. Metodologia
5.1 Eixos Temáticos
5.1.1 Autoconhecimento
5.1.2 Empreendedorismo Social
5.1.3 Gerenciamento das Finanças Pessoais
5.1.4 Consumo Consciente, Responsável e Sustentável
5.1.5 Participação no Controle Social dos Gastos Públicos
5.1.6 Empreendedorismo de Negócios
7. Referências
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nesse sentido, o Programa Mais Educação surge como um projeto inédito viável capaz
de agregar uma série de iniciativas pedagógicas que, atuando em sinergia, tem
transformado a Educação Pública no País. Em vista do direito de aprender dos
estudantes, governos municipais e estaduais têm atuado em parceria com o governo
federal, almejando ampliar as possibilidades de aprendizagens dos educandos. Ao
mesmo tempo, redes educativas são tecidas nas cidades por meio de parcerias entre
instituições e cidadãos.
Inserido nessa ambiência, este caderno quer oferecer uma tecnologia didática para dar
vazão a uma Educação Econômica pelo Empreendedorismo na Escola Pública.
Educação Econômica é um dos macrocampos constituídos do Programa Mais
Educação. Sabemos que se trata de um tema amplo, por isso mesmo, escolhemos um
caminho didático que primasse pela possibilidade criadora, inventiva, agregadora e
intersetorial de ações envolvidas no Programa Mais Educação.
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Acreditamos que, promovendo o empreendedorismo social, estaremos incentivando as
atividades oportunizadas pelo Programa Mais Educação, para que possam, de alguma
forma, continuar ecoando na vida dos educandos e de suas comunidades através dos
anos. Urge aprendermos novas formas de sistematizarmos os sonhos e esperanças
brotados pelo Programa Mais Educação, a fim de que os protagonistas desse processo
possam torná-lo realidade.
Empreendedorismo não é um tema novo ou modismo: existe, desde que o homem deu
seus primeiros grandes passos em direção ao desenvolvimento e à sobrevivência. Os
períodos foram marcados por descobertas, invenções e técnicas que aumentam a
possibilidade de sucesso dos grupos dominantes. A descoberta do fogo, por exemplo,
bem demonstrou a capacidade evolutiva do ser humano. Podemos chamá-la também de
uma ação inovadora realizada pelo homem. Com o fogo, os homens poderiam
espantar os animais, cozinhar, iluminar as residências, enfim, a descoberta trouxe
resultados para comunidade. Foi a partir dele que as pessoas puderam usufruir
coletivamente de seus benefícios. A domesticação dos animais, o aparecimento da
agricultura, a divisão do trabalho também são exemplos inovadores de uma dada época.
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A criatividade, a capacidade de estabelecer e
atingir objetivos e metas, além da acentuada
O Desenvolvimento sustentável é
um conceito sistêmico, consciência em relação ao desenvolvimento
traduzindo um modelo de
sustentável do ambiente no qual se insere,
desenvolvimento global que
incorpora os aspectos de são pontos fundamentais de um perfil
desenvolvimento ambiental
empreendedor. Sabemos que nem todos os
capaz de suprir as necessidades
da geração atual, sem empresários apresentam consciência dentro
comprometer a capacidade de
de uma lógica que inclua o desenvolvimento
atender as necessidades das
futuras gerações. É o de seus empreendimentos sem causar
desenvolvimento que não esgota
impactos negativos ao meio ambiente. Por
os recursos para o futuro. Foi
usado pela primeira vez, em isso acreditamos que, por meio de uma
1987, num relatório elaborado
Educação Econômica Sustentável, poderemos
pela Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e construir outros modos de gerenciar os
Desenvolvimento, criado em 1983
recursos finitos de nosso planeta.
pela Assembléia das Nações
Unidas.
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2. BREVE COMENTÁRIO DA EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE
EMPREENDEDORISMO
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Os empreendedores foram, mais uma vez, comparados com os gerentes ou
administradores, sendo analisados unicamente pelo aspecto econômico. Aqueles que
organizavam uma empresa pagavam salários e impostos, planejavam, dirigiam e
controlavam as organizações na perspectiva da acumulação e concentração do capital.
Ainda hoje, esse pensamento exerce uma influência marcante na construção conceitual
do termo empreendedorismo. Os aspectos empresariais, geração de riquezas e o
desenvolvimento econômico exercem papel relevante, no momento em que as pessoas
procuram definir o empreendedor, associando-o, diretamente, à figura do
empresário/proprietário da empresa.
Instituições como a família, a educação formal (escola em todos os seus níveis), religião,
a mídia e os “ditados populares” sempre desempenharam um papel importante no
desenvolvimento dos indivíduos. A existência de um contexto empreendedor propiciaria
o surgimento de novos empreendedores.
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Imaginemos, por exemplo, um grupo de indivíduos que tivesse, na pirataria, sua
organização social, nas guerras e nas conquistas o seu modo de existir; cuidaria,
certamente, para que a provesse, continuamente, dos elementos de que necessitasse. A
organização pirata seria também condizente com suas necessidades. O protótipo do
cidadão, ou “cidadão padrão” seria aquele que desempenhasse, com brilhantismo, o
ofício pirata; por exemplo, o mais forte, o mais destemido e o mais corajoso. Isso
determinaria as habilidades que seriam cultivadas nos jovens. Nesse contexto, o papel
da mulher e o da criança, possivelmente, seria definido como periféricos dentro do
grupo, sem atuação na atividade produtiva principal da sociedade.
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Este tema é muito instigante, pois influencia, diretamente, no modo como vivemos. Para aprofundar este
tema, sugerimos uma leitura atenta do Caderno de Educação e Uso de Mídias do Programa Mais
Educação.
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2.3 Enfoque comportamental
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O caso do Banco Comunitário do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza (CE), é um exemplo
real. Trata-se de uma associação de moradores, que vem construindo um círculo
virtuoso do desenvolvimento local por meio da prática socioeconômica solidária. Essa
prática originou o Banco Palmas, que tem como missão implantar programas e projetos
de trabalho e geração de renda, utilizando sistemas econômicos solidários, na
perspectiva de superação da pobreza urbana. O banco agrega produtos e serviços
essenciais para o desenvolvimento sustentável do bairro.
Embora seja uma alternativa recente no país, a Economia Solidária firma-se como um
processo de organização social, econômica e sustentável dos trabalhadores na geração
de renda, trabalho e inclusão social (CANÇADO et al, 2009). A constituição de
empreendimentos econômicos solidários articulados com redes de cooperação pode ser
uma das contribuições da Economia Solidária para o desenvolvimento local. O mesmo
autor, em 2007, já considerava a Economia Solidária como um “outro modo de vida”, em
que valores percebidos vão muito além da competição característica da sociedade
capitalista.
A economia solidária é uma forma diferente de olhar para o futuro das relações sociais,
uma estratégia de um novo modelo de desenvolvimento. São inúmeras as contribuições
da economia solidária para a sociedade brasileira, entre elas:
i) estratégias criativas de organização do trabalho e da relação da atividade
produtiva com a natureza, por meio de sistemas produtivos sustentáveis;
ii) consumo ético, consciente e responsável, considerando os impactos sociais na
produção de bens e serviços para a mudança do comportamento do consumismo;
iii) sistema financeiro solidário, não especulativo direcionado para dinamização da
economia local e autogestionária;
iv) redução da disparidade de renda e riqueza;
v) valorização social do trabalho humano, superando a subalternidade;
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vi) valorização e inclusão de todas as pessoas no desenvolvimento, contra todas as
formas de preconceito e de discriminação por cor de pele, sexo, idade, etnia,
cultura, religião, etc.
Os exemplos revelados aqui e muitos outros existentes pelo Brasil afora ajudaram
pessoas em situação de vulnerabilidades socioeconômicas a resolverem seus próprios
problemas com criatividade, inovação e, acima de tudo, sede de realização e
superação de obstáculos.
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acreditava que o empreendedor era inato, ou seja, as pessoas já nasciam
predestinadas ao sucesso. Já nasciam prontas ou eram portadoras de genes especiais
herdados de pais empresários. Isso tudo não passa de um mito.
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um problema na escola, por exemplo, e, a partir da situação encontrada, pode tentar
resolvê-la, aplicando seus conhecimentos adquiridos. Adiante, aprofundaremos mais tal
metodologia (Capítulo 5), dando exemplos de ações empreendedoras na escola pública
(Capítulo 6).
, a partir de suas
realidades, contextualizando-as com uma visão multi e interdisciplinar.
, ao lidarem com
conflitos, encorajando-os a fazer escolhas e assumir compromissos em condições de
estresse e incerteza.
Ao mesmo tempo, é muito importante ressaltar que a escola não é uma ilha. Há uma
inteligência geral sendo produzida, coletivamente, e a internet é um bom exemplo disso.
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Há novos modos de produção de conhecimentos e riquezas sendo constituídos, ao
mesmo tempo em que novas formas de exploração do trabalho têm gerado novas
patologias individuais e coletivas (BIFO, 2007). As relações de trabalho, hoje, tendem à
conectividade, à simultaneidade e à virtualidade. Não se trata de valorar nosso tempo
simplificando-o como bom ou mau. O importante é saber ler o mundo com os educandos
e a comunidade, a fim de criar empreendimentos capazes de garantir e oportunizar
modos de vida saudáveis e sustentáveis a todos.
1º) Não se nasce empreendedor, e sim, se torna empreendedor, por meio do convívio
com pessoas empreendedoras, da permanência em locais que possibilitem ser e do
exercício cotidiano.
2º) Fatores culturais adversos, quando associados à mobilidade social podem facilitar ou
dificultar a manifestação e o desenvolvimento desse espírito empreendedor.
A Autoestima é a opinião e o sentimento que cada pessoa tem por si mesma. É ser
capaz de respeitar, confiar e gostar de si. Ela começa a formar-se na infância, conforme
as outras pessoas nos tratam. Quando criança, pode-se alimentar ou destruir a
autoconfiança.
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capaz de realizar nada, depressão, não se permitir errar, necessidade de agradar,
necessidade de aprovação, carências afetivas, sentimento de rejeição e de abandono.
Com a elevação de sua autoestima, podemos perceber como resultados: maior vontade
em oferecer e receber elogios, expressões de afeto; diminuição de sentimentos de
ansiedade e insegurança; harmonia entre o que sente e o que diz; necessidade de
aprovação diminui; maior flexibilidade aos fatos; autoconfiança elevada; amor-próprio
aumenta; satisfação pessoal; relações saudáveis; paz interior.
As realizações das atividades escolares, na sala ou fora da sala, devem seguir com
situações didáticas capazes de oferecerem atitudes desafiadoras e investigativas, tendo
em vista despertar o prazer de realizar tarefas e atingir objetivos.
E, como toda ação educativa, a postura do educador precede seu discurso. O primeiro
passo, em prol da ação educativa empreendedora, que propomos, passa pelo estímulo à
autoconfiança, perseverança e tenacidade, capacidade de inovar e gerar riquezas
econômicas e sociais, conscientizando os educandos da sua condição de cidadão,
porque são essas habilidades e aptidões, que serão necessárias para o enfrentamento
das condições reais do ambiente para o desenvolvimento de seu território.
O aluno, que ainda não despertou seu perfil empreendedor, poderá aprender dentro dos
mesmos padrões em que o empreendedor real aprende, seja ele de negócios ou social:
de forma a promover a autonomia, desenvolvendo o seu próprio método de
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aprendizagem, fazendo e errando, definindo visões, buscando o conhecimento de forma
pró-ativa, tudo isso dentro de uma cultura favorável em que o contexto emocional é
importante. Portanto, a identificação das características empreendedoras, desde a mais
tenra idade, é fundamental para que a capacidade empreendedora possa ser
estimulada.
Propõe-se que a escola forme empreendedores. Mas isso não significa que estamos
propondo que influenciemos os alunos a competir, desenfreadamente, imersos em uma
livre iniciativa sedenta por lucros inescrupulosos, insensíveis ao meio ambiente e
promotora de desigualdade social. É de outro empreendedorismo que estamos falando.
Sonhamos com uma educação que promova a criatividade e a organização social,
oferecendo formação aos estudantes, para que eles possam criar outros modos de gerar
renda e gerenciar os recursos do planeta de maneira solidária e sustentável.
Também é importante lembrar que trabalhamos por uma economia que funcione
articulada em uma rede colaborativa. Sendo assim, é muito importante o grupo, em
questão, se perguntar quais são seus parceiros e quão organizadas são as pessoas de
seu entorno. Cresce melhor quem sabe crescer e aprender juntos.
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2. O processo de iniciar e gerir empreendimentos: (enfoque no “saber”). Uma
metodologia a ser aprendida.
Além disso, o processo de gestão escolar deverá ser pautado na participação ativa de
toda a comunidade, incluindo alunos, pais, professores, funcionários e todos os demais
atores, que compõem a ambiência educacional da instituição. A participação nas
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decisões da vida da escola é parte de uma postura empreendedora social. Espera-se
que os gestores das redes de ensino, das escolas e os Conselhos Escolares percebam
o caráter educativo, emancipador e empreendedor de uma gestão democrática.
Este Caderno quer incentivar que integremos ações pedagógicas por meio de uma
cultura empreendedora, gerando nos envolvidos neste processo:
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promovermos conhecimentos matemáticos, demonstraremos como aplicar esses
conteúdos aprendidos em sala de aula, como porcentagem e juros, para melhorar e
desenvolver práticas do cotidiano. Uma noção do espaço geográfico, tanto no aspecto
físico quanto no populacional será desenvolvido, quando trabalhamos o mix do
marketing, onde buscamos caracterizar o nosso cliente, fazendo um levantamento das
características etárias e econômicas do nosso público alvo, assim como as
características do espaço que ocupam.
5. METODOLOGIA
5.1.1 AUTOCONHECIMENTO
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construir uma espécie de roteiro, descrevendo seus sonhos e como irão transformá-los
em realidade. Nesse “roteiro”, o estudante vai descrever todas as etapas, por ele
percorridas, iniciando com a definição do sonho, que é o momento do educando,
individualmente, identificar o seu sonho, indo, desde a compra de um brinquedo, até a
construção de sua própria casa; ingressar numa universidade ou ajudar um amigo a
resolver um problema pessoal. Enfim, é um momento muito especial onde o monitor
precisa dar essa oportunidade e criar condições didáticas, para que o educando, com
muita criatividade, possa conceber o seu próprio sonho.
A rede social é a próxima etapa do roteiro dos sonhos. É importante que o aluno
perceba a necessidade de organizar uma espécie de rede, para que ele possa inserir
parentes, amigos, professores, membros da comunidade, livros, instituições,
informações, internet, ou seja, todos os recursos possíveis, úteis e disponíveis, que
utilizará para se aprofundar em seu sonho.
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Em uma rede, há caminhos múltiplos, várias opções para se obter uma informação,
adquirir um recurso. O empreendedor não age de forma isolada, mas sim, norteado de
parcerias estratégicas, que o levarão a alcançar seus objetivos. Os atores poderão
modificar a cada fase da caminhada empreendedora; por isso, é preciso ter consciência
para essa renovação constante da rede. Esses atores sempre desenvolverão um papel
importante no processo.
Após o cumprimento de todas essas etapas, é hora de uma revisão crítica do processo.
Essa revisão crítica permitirá ao educando analisar a viabilidade de seu projeto. É o
momento decisivo para a continuidade ou a concepção de um novo sonho, oportunidade
para cada aluno ou grupos de alunos refletirem sobre a definição do sonho, suas
características pessoais, seus pontos fortes e fracos, se ele possui condições de
estabelecer uma rede social e se tem energia suficiente para enfrentar os desafios e os
obstáculos do ambiente.
Uma vez superada essa fase, é hora de buscar e gerenciar recursos necessários para
a realização dos objetivos estabelecidos e definidos na revisão crítica. Esses recursos
estão divididos em diversas formas:
Econômicos.
Humanos.
Físicos.
Ambientais.
Tecnológicos.
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os recursos financeiros, objetos e outros, que possam receber tal conceituação; já os
imateriais são de caráter mais intrínseco e abstrato, como energia, força de vontade,
comprometimento, inteligência, entre outros.
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A caminhada em direção ao sonho é a fonte de geração e manutenção do nível
emocional, que dá ao indivíduo a capacidade de persistir e de continuar sua trajetória,
apesar de obstáculos, erros e fracassos. A habilidade de tentar, de aprender com os
erros e, portanto, de evoluir, constitui a própria construção do saber empreendedor.
Não há uma fórmula científica que ensine uma receita estratégica pronta e de caráter
padrão. Cada sonhador ou empreendedor social irá desenvolver, organizar, planejar e
direcionar suas ações da forma que julgar correta para o alcance de seu objetivo,
pessoal ou profissional. Qualquer projeto de vida necessita de ações bem direcionadas e
planejadas de forma minuciosa, para que se tenha êxito no que se pretende alcançar.
Para encerrar o período letivo, é importante criar um ambiente propício para a realização
de um evento cujo objetivo seja mostrar, mediante exposição, os trabalhos
desenvolvidos e construídos, durante o período, oportunizando ao aluno uma
sistematização e contabilização de sua trajetória e resultados.
As feiras devem ter, como foco principal, trabalhar as questões que envolvam o
empreendedorismo como elemento propulsor de crescimento e desenvolvimento
econômico, social e cultural de um território, utilizando suas diversas abordagens
conceituais e compreendendo-o como ação transformadora de visões, projetos e sonhos
individuais e ou coletivos em realidade.
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A abordagem é feita em sete etapas que convergem para um caminho: o do
desenvolvimento de habilidades empreendedoras em crianças e adolescentes, por meio
do planejamento, organização e execução de projetos sociais.
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Nesse momento, os problemas são transformados em oportunidades e desafios
estimulantes para atitudes criativas e inovadoras.
Na segunda fase, inicia-se o processo seletivo das propostas apresentadas. Nessa fase,
ocorrerá a validação de ideia. É o momento para conferir as possibilidades de
concretizar as ideias geradas no grupo e trabalhar as habilidades para a fixação dos
objetivos e das metas.
Embora a avaliação conste como sexto passo do procedimento metodológico junto com
a organização das informações disponíveis no ambiente, é importante ressaltar que, na
sequência lógica dos passos e na didática da aplicação, os procedimentos são
organizados de maneira a enfatizar a dialética da ação com a representação da
realidade.
O processo avaliativo não é estático e não deverá ocorrer, apenas, no momento final,
mas durante todo o processo de aplicação da metodologia.
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A última fase é o recomeço. Indica que o processo é interminável, ou que o final de um
empreendimento caracteriza-se pela sensibilização dos alunos para perceberem novas
oportunidades.
Uma criança que aprende que doar é importante vai saber ser solidária e a criança que
aprendeu a poupar vai saber também poupar os recursos da natureza.
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O orçamento pessoal e familiar, os alunos são alertados a terem cautela nos seus
gastos e no orçamento familiar e reconhecer a importância de se fazer um orçamento.
As famílias precisam administrar receitas e despesas para ter saúde financeira no lar.
O encontro “gastando com sabedoria” tratará dos fatores que influenciam o nosso
comportamento de compra (mídia, referências, preço, garantia etc.). Os educandos
percebem a importância de considerar “n” fatores no momento da compra, para que
possam sentir-se satisfeitos posteriormente. Conhecer as vantagens e desvantagens do
uso do crédito e as oportunidades de investimento.
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Sugerimos aos educadores que construam
O trabalho surgiu, desde que o com os estudantes um “Baralho do
homem começou a transformar
a natureza e o seu ambiente, Trabalho”, criando cartas com as mais
mesmo que de forma artesanal. variadas profissões. O jogo estimula os alunos
Com a revolução industrial e os
princípios capitalistas surgiu a identificarem-nas por meio de pesquisa e
então a necessidade de contatos com profissionais de diversas áreas,
organizar os trabalhadores, os
processos e os instrumentos auxiliando-os na escolha de suas carreiras,
surgindo a ideia de emprego. identificando ocupações que se relacionem
Carreiras.
Inventário de Interesses das profissões.
Pontos fortes e pontos fracos da pessoa.
Oportunidades interessantes de trabalho.
Trajetória de vida (acadêmica e pessoal).
Importância de pensar no futuro
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5.1.4 CONSUMO CONSCIENTE, RESPONSÁVEL E SUSTENTÁVEL
Há um Caderno específico sobre Educação Ambiental, nesta coleção, que pode ser um
excelente subsídio para ajudar o educador a desenvolver esse eixo temático. Contudo,
também ressaltamos a dimensão do Consumo Consciente, Responsável e Sustentável
neste Caderno de Educação Econômica, a fim de ressaltar que há uma estrita relação
entre os modos de produção e o meio ambiente. Afinal, não há crescimento de riqueza
ou da economia. Apenas há transformação de recursos finitos do planeta. Economia é a
gestão da nossa casa maior, nosso mundo.
O meio ambiente não pode ser reduzido a preocupações com a ecologia ou com a
natureza. Os seres humanos nem sabem mais o que é “natureza”, pois o meio ambiente
já está tão completamente penetrado e reordenado pela vida sociocultural humana, que
nada mais pode ser chamado de apenas natural ou social. A natureza transformou-se
em áreas de ação nas quais precisamos tomar decisões políticas, práticas e éticas.
(BRASIL, 2008)
Primeiramente, sugerimos que cada estudante faça uma lista de todos os recursos
naturais e materiais que utiliza para viver ao longo de um dia. Da onde vêm esses
recursos? Como são gerados? Como são consumidos? Que finalidade dá para suas
sobras? Será que não estamos sendo consumidos pelo nosso consumismo?
Desejamos, de fato, tudo o que queremos comprar? Nossos desejos são autenticamente
nossos ou criados por uma indústria cultural?
Depois disso, sugerimos que o grupo faça um mapeamento dos recursos naturais do
território onde a escola se insere. Da onde vem a água que utilizamos? Como a
utilizamos? Como é a terra que habitamos? Como a tratamos? Da onde vêm nossos
alimentos? E o ar que respiramos? E a energia que movimenta nossas máquinas e
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ilumina nossa noite? Como é gerada? É bem aproveitada? Como gerenciamos esses
recursos naturais? De quem é a responsabilidade de cuidar desses recursos?
Por fim, indicamos que, individual e coletivamente, faça-se uma relação entre os
empreendimentos que queremos realizar em nossas vidas e na comunidade com os
recursos naturais e materiais necessários. É importante trabalhar com os educandos a
indissociabilidade entre qualquer empreendimento e seus impactos ambientais.
Relembramos: não criamos nada, apenas transformamos os recursos existentes. Assim
sendo, quais são os impactos ambientais de nossa ação empreendedora?
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de uma participação mais equilibrada de todos na produção e no usufruto da riqueza
gerada em cada cidade do Brasil. O indivíduo torna-se contribuinte, não só quando paga
impostos, mas também quando contribui com sua parcela de trabalho social para gerar
riquezas e passar a exigir a sua justa distribuição.
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professor responsável deverá desenvolver atividades pedagógicas para adequar os
conhecimentos adquiridos às situações da vida real.
Essas atividades integradas poderão ser desenvolvidas de diversas formas como: jornal,
portfólio, mostra de História em Quadrinhos, gincanas, oficinas de jogos, gerenciando os
recursos públicos, fórum de pais; a família na construção da cidadania, campanha da
nota fiscal; exercício de direito, pleitos eleitorais simulados, visitas programadas às
instituições de fiscalização, como as Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e o
Congresso Nacional, Seminários e Eventos de culminância do projeto. Essas são
algumas sugestões que poderão ser trabalhadas, transversalmente, com todas as outras
disciplinas da matriz curricular da escola.
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A Estrada da Vida é uma ferramenta semelhante a um plano de ação. Nela serão sistematizadas todas
as metas e os objetivos definidos pelo aluno, assim como os prazos, as ações e os responsáveis.
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Na primeira oficina, trabalha-se a importância do empreendedorismo de negócios para o
desenvolvimento do país, geração de impostos, controle social e transparência pública.
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Um penúltimo passo busca avaliar a situação financeira da empresa. A partir dos
conceitos aplicados na etapa anterior, podem-se calcular os lucros e prejuízos.
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A contribuição individual de cada disciplina, durante o processo de fabricação do vinagre
e do licor, foi importante sob o ponto de vista do processo de ensino-aprendizagem das
crianças; o professor de matemática interagiu com os conceitos de proporcionalidades,
porcentagens, equações, etc. A Química, com a composição de fórmulas, a Língua
Portuguesa, com a construção de textos explicativos e a própria disciplina de
empreendedorismo, que organizou todos esses conteúdos curriculares, tornando a
busca do conhecimento em algo prazeroso e divertido.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
___. Educação integral: texto referência para o debate nacional. Brasília: MEC,
2009.
___. A ponte mágica: como Luísa, aos 11anos, cria sua primeira empresa para
realizar seu sonho. São Paulo: Mirian Paglia Editora de Cultura, 2004.
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DORNELAS, J. C. ASSIS. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios, 3
ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
SANTOS, José Filho Carvalho dos. Manual de direito administrativo. 20 ed. Lumen
Juris: Rio de Janeiro, 2008.
SCHUMPETER, Joseph A. (Editado por George Allen e Unwin Ltd., traduzido por Ruy
Jungmann). Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961.Tradução do original inglês
Capitalism, Socialism and Democracy.
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CADERNO MACROCAMPO ECONOMIA
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CADERNO MACROCAMPO ECONOMIA
Justificativa do programa
Um conjunto de pesquisas realizadas pela Data Popular (2008) sobre a organização financeira das
famílias brasileiras indica alguns problemas que merecem ser considerados com bastante cuidado.
Dentre as pessoas pesquisadas, 54% informaram que, ao menos, uma vez na vida não conseguiram
honrar suas dívidas. Além disso, pouco mais de um terço (36%) declarou ter um perfil gastador e
apenas 31% poupam, regularmente, para a aposentadoria. A pesquisa também apontou uma
tendência: as famílias têm destinado parte crescente de sua renda para o consumo, o que torna as
taxas de poupança atuais demasiadamente baixas.
Por que isso acontece? A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE,
2005) constatou que muitas pessoas em diferentes países não só carecem dos conhecimentos e
competências necessários para lidar de modo adequado com suas finanças pessoais como também
desconhecem a própria necessidade de tais conhecimentos.
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entre o comportamento financeiro individual e o familiar. Famílias gastadoras geram filhos
gastadores, da mesma forma que filhos poupadores vêm de famílias poupadoras. Ou seja, as
pessoas tendem a se comportar em relação ao dinheiro conforme aprenderam a fazê-lo em casa.
É nesse contexto que este macrocampo pretende dar sua contribuição, trazendo informação e
formação necessárias para o desenvolvimento de um programa bem delineado de Educação
Financeira nas escolas brasileiras. Por meio de informação, trata de prover fatos e dados para que
as pessoas se tornem mais atentas e conscientes em suas escolhas financeiras, compreendendo as
consequências de suas decisões. A formação, por outro lado, refere-se ao desenvolvimento dos
valores e das competências necessárias para o bom uso dos conhecimentos obtidos. Há tempos já
se sabe que não basta fornecer informação, para que as pessoas mudem seus hábitos. É preciso
criar um novo posicionamento, uma nova atitude mental, para que os conhecimentos adquiridos
sejam usados adequadamente, ou seja, para que haja, de fato, uma nova postura que contribua,
para atingir suas metas de vida. Neste ponto, os macrocampos Educação Econômica e Educação
Ambiental, aproximam-se, ressaltando a importância de uma mudança de atitude, para que seus
objetivos sejam alcançados. Não basta saber, é preciso agir. Acreditamos que a combinação das
vertentes de informação e formação seja importante, dentro de uma proposta de Educação Integral,
em que os alunos são preparados a exercer uma postura crítica e uma ação transformadora diante
da realidade.
Com essa iniciativa, almeja-se que o aluno possa levar conhecimentos e atitudes financeiras
saudáveis para sua família e para seu entorno social, revertendo-se, assim, a tendência apontada
pela pesquisa da Data Popular. Para viabilizar, com sucesso, seus propósitos, o programa inspirou-
se na experiência dos países que haviam desenvolvido iniciativas de Educação Financeira em
escolas de educação básica. Ao estudá-las, ficou patente que aquelas que se voltaram para
situações da vida cotidiana dos alunos foram as mais bem sucedidas.
Com isso em mente, a indicação é que a Educação Financeira seja abordada, a partir de questões
reais com que nos defrontamos no mundo de hoje, questões essas marcadas por crescente
complexidade no mundo financeiro. Agindo dessa forma, estaremos oportunizando a valorização
dos saberes comunitários por meio dos quais as pessoas resolvem muitas das questões do seu dia a
dia. O simples ato de fazer compras implica em algum nível de planejamento, de elaboração de
um orçamento. Toda família tenta equilibrar suas receitas com suas despesas. Essa vivência deve
ser aproveitada em um diálogo produtivo com os saberes sistematizados da Educação Financeira,
propiciando ao aluno interagir como membro ativo de sua comunidade, combinando ambos os
grupos de saberes em uma formação a mais completa possível.
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O primeiro passo, pois, é determinar como as questões reais de vida (aqui chamadas de “conteúdos
sociais”) e os conteúdos formais de Educação Financeira poderiam dialogar e compor uma
estratégia didática interessante para o aluno. Como contextualizar conceitos como taxa de juros,
sistema financeiro nacional, orçamento, receitas e despesas, dentre tantos outros?
“Contextualizar” pode ser, justamente, a palavra-chave para isso. Ela remete a contexto, ou seja, à
situação real. Todo ser humano vive em um contexto balizado pelas dimensões espacial e
temporal. Vivemos em um determinado local que é englobado por outros: a rua está inserida no
bairro, o bairro na cidade, a cidade no estado, o estado no país, o país no mundo. Essas inter-
relações espaciais, às vezes, são nítidas, às vezes não tão óbvias, mas sempre presentes. Na
dimensão espacial, enfatiza-se para os alunos a noção de que vivemos em um sistema, um
conjunto em que as ações das partes influenciam-se mutuamente, ou seja, há conexões das partes,
entre si, e destas em relação ao todo. Assim, as ações individuais têm impacto sobre o contexto
social e vice-versa. Os problemas de um indivíduo não devem afetar os demais, o consumo de
uma pessoa não deve comprometer o orçamento da família. Essas questões devem ficar
circunscritas ao espaço individual. Por outro lado, ninguém é uma ilha, portanto deve haver
mobilidade suficiente para se compreender as relações sociais, ou seja, os já mencionados laços
entre as partes e o todo, que permitem a compreensão de interesses comuns e ações em conjunto.
Esta compreensão já se encontra presente na vida em comunidade, em que uma rede de
solidariedade e deveres permeia a vida dos indivíduos. Podemos, então, aproveitar esse
conhecimento comunitário, já existente, para facilitar a contextualização dos conceitos de
Educação Financeira.
Cabe acrescentar que a contextualização espaço-temporal, porém, não tem como propósito,
apenas, facilitar a compreensão dos conceitos. Antes, busca fornecer dados e condições para que
os alunos transformem os conhecimentos em comportamentos financeiros saudáveis. Este diálogo
entre os saberes da comunidade e os sistematizados na escola encaixa-se dentro da perspectiva da
educação integral em que se visa não apenas a expandir o horário na escola, ou mesmo hiper-
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escolarizar conteúdos específicos, mas sim, estabelecer uma rede de aprendizagem com a
comunidade, que é o território espaço-temporal no qual os alunos estão inseridos, tornando o lar,
as praças, mercados, dentre outros locais, também espaços de aprendizagem dentro de uma
proposta protagonizada pela escola.
É, pois, nessa perspectiva de inter-relações de ideias e fenômenos, inaugurada pela Ecologia, que
se propõe a introdução da Educação Financeira nas escolas. Por meio dela, as escolas poderão
desenvolver valores, conhecimentos e competências importantes para a condução autônoma de
uma vida financeira, contribuindo para complementar a formação do cidadão.
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Princípios e metodologia
Foco na aprendizagem, protagonismo, diversidade e religação de saberes – esses são os princípios
do programa. Pretende-se, com eles, que a Educação Financeira possa, através da assimilação de
seus conceitos e da construção das competências necessárias para bem utilizá-los, trazer sua
contribuição para a formação de cidadãos atentos, conhecedores da linguagem e funcionamento do
sistema financeiro, conscientes do peso de suas decisões sobre a vida das outras pessoas e sobre o
seu próprio futuro, autônomos e protagonistas do seu próprio caminhar. Pretende-se, também, que
os alunos, assim financeiramente educados, tornem-se multiplicadores desses conhecimentos para
benefício de seus familiares e, consequentemente, da nação.
Solicita-se que os alunos pesquisem os preços de compra de um objeto de seu interesse (celular,
skate, par de tênis etc.) à vista e a prazo. Dessa forma, ao se comparar o custo final de cada
compra fica evidente a presença de juros embutidos na opção de compra a prazo. Esta situação
permite trabalhar as diferenças entre juros simples e compostos e os ganhos financeiros de se
poupar o dinheiro antes. Isso demonstra aos alunos que comprar a prazo não amplia o seu poder
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aquisitivo, apenas adia a despesa. Diferentes variações desse tema podem ser trabalhadas em SDs
diferentes para enfatizar um dos aspectos citados.
O comportamento consumista versus o poupador é um tema bastante importante por sua forte
relação com a ecologia. Aqui, é importante enfatizar que o comportamento poupador evita
desperdícios tanto econômicos quanto ambientais.
Outra opção interessante é trabalhar orçamentos. Os alunos podem ser solicitados a anotar suas
despesas diárias em um caderno, por uma semana, e, depois, por um mês, para terem uma noção
de seus gastos, o que, normalmente, gera algumas surpresas. Outras SDs mais elaboradas podem
ser criadas com diferentes situações orçamentárias, como a comparação entre duas famílias
fictícias, sendo uma gastadora e outra poupadora, ou mesmo compras em mercado ou orçamentos
para conserto da casa. O planejamento para uma compra, em longo prazo, ou para um evento,
como uma viagem ou uma festa, é um desdobramento natural das SDs sobre orçamentos.
Os direitos do consumidor podem ser o foco de diferentes SDs, abordando-se cuidados de compra,
a atuação do PROCON, garantias, reclamações etc.
Enfim, são diversos os temas e as inter-relações que podem ser trabalhadas nas SDs de Educação
Financeira, podendo-se incluir temas tão complexos quanto Produto Interno Bruto (PIB),
desenvolvimento econômico, MERCOSUL e temas simples, como uma lista de compras para o
mercado.
A linguagem utilizada, tanto em seus aspectos verbal quanto imagético, deve remeter ao universo
das crianças, adolescentes e jovens, tornando o aprendizado mais atrativo, e obedecendo as
recomendações do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), para favorecer a legibilidade
dos textos, utilizando-se vocabulário, morfologia verbal e nominal, colocação pronominal e
estrutura de frase compatível com a condição de “leitor em formação” do alunado.
Recomenda-se que o planejamento seja elaborado de forma participativa para que os professores
possam se articular entre si. Essa estratégia favorece a realização de atividades interdisciplinares
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em que conceitos de Matemática (cálculo de juros, percentagem, estimativas, leitura e
interpretação de gráficos e tabelas), Língua Portuguesa (leitura e interpretação de textos
financeiros, jornalísticos, publicitários etc.), História e Geografia (contextualização dos conteúdos
no tempo e espaço), Biologia (impactos ambientais), Sociologia (impactos sociais), Filosofia
(questionamentos éticos), dentre outros, possam ser trabalhados de forma articulada pelos
educadores da instituição de ensino.
O estudo de situações de vida real que demandem conteúdos de Educação Financeira, em suma,
apresenta uma ótima possibilidade de trazer para nossos alunos uma gama de conhecimentos
sociais e formais articulados com competências que podem, de fato, trazer uma grande diferença
para suas vidas e as de suas famílias.
A constituição brasileira assegura a todos os cidadãos de nosso país uma série de direitos para os
quais o Estado tem um papel preponderante.
O atendimento dos direitos constitucionais demanda que o Estado possua amplos programas de
redução de pobreza e garantia da qualidade de vida da população (como saúde, educação,
segurança etc.). Atingido este ideal, os cidadãos terão, então, a consciência de que eles e seus
filhos têm assegurados direitos, como educação e saúde pública de qualidade, moram em um país
seguro etc., ou seja, há uma situação de bem-estar social. Esta situação configura um tipo de
organização política e econômica em que o Estado desempenha um papel central na organização
das atividades econômicas, objetivando assegurar elevados níveis de progresso social.
Na maior parte da nossa História, bem como na história do mundo, o Estado não se sentia
obrigado a fornecer à população um relatório sobre as finanças públicas em que fossem
demonstradas a arrecadação dos tributos, os gastos feitos com as verbas obtidas, suas justificativas
e utilidades para a população em geral. Isso já mudou, mas ainda são muitas as pessoas que
possuem certo sentimento de aversão em relação às taxas, impostos e contribuições, gerando um
antagonismo desnecessário entre os contribuintes e o Estado arrecadador. Essas pessoas,
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geralmente, sentem-se desobrigadas de contribuir para o combate à evasão fiscal e também não
exercem seus direitos de fiscalizar os gastos públicos.
A escola pode ter um papel fundamental para mudar essa situação mobilizando seu poder para
construir conhecimentos, modificar atitudes e formar multiplicadores. Nesse contexto, o Programa
Mais Educação traz a proposta de trabalhar os conhecimentos fiscais dentro de um contexto de
educação integral na rede escolar. Não se trata, aqui, de, simplesmente, expandir o horário escolar,
mas sim, de buscar uma formação integral, em que os saberes comunitários do contexto social dos
estudantes e os saberes sistematizados da escola se encontrem em um diálogo produtivo. Este
enfoque cria uma rede de aprendizagem em que os diversos ambientes vivenciados pelo aluno,
escola, praças, mercados, seu próprio lar, se tornam espaços de aprendizagem protagonizados pela
escola. As questões fiscais estão presentes no cotidiano dos alunos e seus familiares, nas
contribuições pagas, nos impostos presentes nos produtos adquiridos, no hábito de exigir ou não a
nota fiscal. Justamente, por isso, trabalha-se essa relação escola/cotidiano comunitário para
demonstrar o que cada um pode fazer em seu dia a dia, para que alcancemos a situação social
desejada pelos brasileiros. Desta forma, o Programa Mais Educação busca contribuir para a
formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, dispostos a uma relação participativa
e consciente entre o Estado e o cidadão para a defesa permanente das garantias constitucionais.
Uma referência importante para a Educação Fiscal é o Programa Nacional de Educação Fiscal
(PNEF). Este programa apresenta uma abordagem didático-pedagógica que visa a capacitar
docentes e discentes a entender os processos de arrecadação de tributos e dos gastos públicos. Para
saber mais sobre o PNEF acesse: http://www.esaf.fazenda.gov.br/esafsite/educacao-fiscal/programa.htm
Para atingir os objetivos da Educação Fiscal de tornar os alunos mais conscientes desse aspecto da
cidadania, é sugerido o estimulo de uma reflexão, partindo do próprio contexto social vivenciado
por eles. As ruas precisam ser asfaltadas, a iluminação pública demanda manutenção, as
campanhas de vacinação pública atingem milhões de brasileiros, escolas públicas e instituições de
saúde pública estão disponíveis para os brasileiros, a segurança pública patrulha as ruas. São
muitos os serviços públicos usufruídos pelos brasileiros, tudo isso tem um custo. Quem paga essa
conta? Todos nós!
Deve ficar claro para a turma que, sem recursos, ou seja, sem arrecadar tributos, o Estado não tem
como atender as demandas da população. Com base neste entendimento, estimula-se uma nova
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compreensão nos alunos do seu dever de contribuir, solidariamente, para o bem-estar da sociedade
como um todo e motivar os demais a fazer o mesmo.
Em seguida, sugere-se motivar os alunos a compreenderem que, da mesma forma que contribuir é
nosso dever para com o bem-estar social, também é seu direito acompanhar a aplicação dos
recursos arrecadados, sendo este um papel de fundamental importância para assegurar que esta
aplicação seja feita com justiça, transparência, honestidade e eficiência.
Uma opção interessante é analisar um orçamento público, com suas receitas e despesas. Deste
modo, o porquê dos tributos torna-se claro para os alunos: eles são partes de um todo. Com isso,
se desperta uma consciência crítica de visão global e ação local, a qual minimiza possíveis
conflitos de relação entre o cidadão contribuinte e o Estado arrecadador. Oportunidades, na escola,
de se refletir sobre o orçamento público, contribuem, para que o aluno se torne um cidadão
conhecedor de seus deveres e direitos, apto a buscar melhorias para todos, verificando e cobrando
dos governantes como os seus tributos são utilizados para cobrir despesas públicas. O cidadão
consciente sabe que, para cobrar seus direitos, deve também fazer sua parte.
Nesse contexto, a Educação Fiscal deve ser entendida como um instrumento de construção de uma
nova cultura cidadã, fundada nos seguintes pressupostos:
Com esses pressupostos, forma-se um novo entendimento da relação entre arrecadação de tributos
e gastos públicos, que contribui para mobilizar ações de responsabilidade cidadã, por parte de
docentes e alunos, cobrando-se ações mais eficientes na execução do orçamento público. Em
outras palavras: ao compreender que o dinheiro arrecadado nos tributos retorna para o cidadão,
sob a forma de bens públicos, como a iluminação nas calçadas, escola pública, posto de saúde,
dentre outros, o aluno torna-se mais disposto a exigir a nota fiscal, quando faz uma compra. Da
mesma forma, a turma pode ser motivada a acompanhar reuniões abertas sobre o orçamento
público, para assegurar que as verbas obtidas sejam gastas nos itens que a população considera
prioritários.
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É importante que os alunos tenham uma visão do sistema de arrecadação fiscal e a utilização dos
recursos arrecadados pelo governo. A compreensão da relação entre a Sociedade e o Estado é
fundamental para se entender a origem dos tributos. Ao se trabalhar essa questão em sala, pode ser
interessante apresentar um breve panorama histórico dessa relação, trazendo os conceitos de
constituição e cidadania. Por exemplo, no Império Romano e na Idade Média, os cidadãos
contavam com poucos serviços públicos, mas tinham que pagar impostos. Na História do Brasil, a
relação muitas vezes foi também injusta, levando a revoltas como a Conjuração Mineira de
Tiradentes. Demonstra-se, assim, o processo longo e árduo até se atingir o Estado Democrático de
Direito e os direitos previstos na constituição, bem como uma reflexão sobre sua organização e a
própria cidadania. Podem-se abordar, também, as relações entre Estado e desenvolvimento social e
econômico, muito evidenciada na Era Vargas e na fase de substituição das importações, bem como
a importância da ética em tais relações.
Compreendido o papel social do Estado, não é difícil perceber que ele precisa de recursos, para
poder realizar seus propósitos, ser instrumento de distribuição de renda e indutor do
desenvolvimento social do país e contribuir para minimizar as diferenças regionais. A principal
fonte de financiamento sustentável do Estado brasileiro são os tributos, os quais são
regulamentados pelo Sistema Tributário Nacional, de acordo com a constituição.
Com este intuito, diversas atividades podem ser realizadas, tais como:
Leitura e interpretação de textos sobre a importância dos tributos, sua origem e aplicação.
Pesquisa de campo, por meio de entrevistas sobre comportamentos cidadãos, tais como a
exigência de notas fiscais.
Levantar e identificar siglas: COFINS, IPI, IOF, PIB, ISS, ICMS etc.
Identificar os itens mais consumidos pelos alunos e verificar sua carga tributária.
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Debate sobre a aplicação dos recursos públicos da escola, por exemplo, o Fundo Rotativo.
Gincana em que diferentes grupos competem para ver quem melhor administra os recursos
públicos.
Estas atividades, dentre outras, podem ter sua culminância em gincanas, feiras culturais, ou
mesmo, organização de atos de cidadania.
Tendo sido bem compreendida a relação entre as receitas e as despesas públicas em termos
teóricos, torna-se necessário levar esse conhecimento, pelo menos, em parte, para a prática,
abordando-se a questão da gestão dos recursos públicos. Com este intuito, os alunos são
motivados as seguintes ponderações: o que é orçamento? O que são planejamento e orçamento
públicos? Afinal, quem decide onde os recursos públicos serão gastos? Como isso é controlado?
Entre os assuntos a serem apresentados, sugere-se o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), a Lei do Orçamento Anual (LOA), os princípios de execução orçamentária
e contabilidade do orçamento (com as classificações de receitas e despesas) e a conceituações
sobre a natureza dos gastos.
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articulado com a compreensão dos mecanismos de controle da execução do orçamento público.
Pode-se tratar do processo de compras no setor público, de mecanismos de controle social como a
Lei de Responsabilidade Fiscal e o Portal da Transparência www.portaldatransparencia.gov.br,
enfatizando a importância da participação de todos para o controle social o qual é entendido como
participação do cidadão na gestão pública, na fiscalização, no monitoramento e no controle das
ações da administração pública. Trata-se de importante mecanismo de prevenção da corrupção e
de fortalecimento da cidadania. Destaca-se, assim, a importância de se acompanhar as contas
públicas.
Princípios e metodologia
O Programa Mais Educação trabalha com a perspectiva de que a escola existe em um contexto, em
um meio social com o qual deve estabelecer uma relação de diálogo, para construir um elo entre o
conhecimento escolar, a necessidade social e a qualidade de vida dos cidadãos. As questões da
realidade na qual ela se insere são investigadas pela escola, o que a mantém dinâmica e antenada
com as demandas de seu público. Assim, o conhecimento gerado é facilmente percebido pelos
alunos como sendo de importância para sua realidade cotidiana, aplicável em seu dia-a-dia. A
temática da Educação Fiscal, portanto, pode ser perfeitamente inserida dentro do programa, pois
traz clara relação com o cotidiano dos alunos, tanto por meio dos serviços e bens sociais que
recebem, como dos tributos que eles e/ou seus familiares pagam direta e indiretamente.
Isso dito, sugere-se a adoção do sistema de projetos proposto por Hernández e Ventura (1998), em
que se realizam atividades de pesquisa, partindo-se de problemas próximos da realidade e dos
interesses dos alunos e da comunidade. A partir da problematização inicial, em que se trabalham
as ideias e conhecimentos prévios dos alunos sobre a questão, são realizadas as intervenções
pedagógicas que podem seguir diversos caminhos, respeitando os diferentes olhares e as
especificidades locais. O Caderno Macrocampo Acompanhamento Pedagógico explora este
sistema, sendo por isso aconselhável a leitura deste material.
Estratégias são definidas para se atingir os objetivos dos grupos de trabalho e, depois, colocadas
em prática. As informações coletadas são organizadas e sintetizadas, para que depois seja feita
uma reflexão sobre elas. É importante que os alunos sejam solicitados a dar sua contribuição
participando de algumas das decisões, para que também aprendam a analisar situações, tomar
decisões e ter a experiência de pôr em prática o que foi planejado. Mesmo as resoluções que são
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tomadas, previamente, pelo professor devem ser explicadas e justificadas, para que os educandos
não se sintam alijados do processo.
Os projetos devem abordar questões bem próximas da realidade e do interesse dos educandos e da
comunidade. Assim, traz uma flexibilidade que permite incorporar acontecimentos recentes,
trazendo dinamismo à sala de aula. Os projetos podem ser de uma única disciplina ou se
desenvolver a partir de um tema que envolva professores de diferentes áreas, ou mesmo a escola
como um todo, promovendo ações interdisciplinares.
O Projeto Político-Pedagógico da escola pode ser o meio ideal para a gestão de um programa de
Educação Fiscal na instituição, viabilizando a metodologia de projetos para trabalhar o tema.
A construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em que o combate à pobreza e à exclusão
social seja uma prioridade demanda que o Estado tenha os recursos necessários para tal e aplique-
os adequadamente. A compreensão da importância socioeconômica dos tributos e da participação
de todos no acompanhamento da elaboração e execução dos orçamentos públicos é vital para que
esses objetivos sejam alcançados. É nesse contexto que a Educação Fiscal vem apresentar sua
contribuição e um bom material de apoio pode ser encontrado em:
http://www.esaf.fazenda.gov.br/esafsite/educacao-fiscal/Edu_Fiscal2008/cadernos.htm
O Programa Mais Educação, por sua proposta de integrar, dialogicamente, diferentes saberes em
uma rede de aprendizagem ampla, que envolve diversos espaços de aprendizagem protagonizados
pela escola, numa perspectiva de formação completa para o pleno exercício da cidadania, é um
ambiente mais do que adequado para se trabalhar a Educação Fiscal com os nossos alunos. A
temática da Educação Fiscal é estudada, então, dentro de uma perspectiva em que os alunos são
motivados a refletir sobre a presença dos tributos e efeitos da gerência dos recursos do Estado no
seu cotidiano para depois ponderar sobre a relação entre sociedade e Estado, obtendo uma visão
mais ampla das questões fiscais e seu papel como cidadãos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montsserat. A Organização do Currículo por Projetos
de Trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
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MACROCAMPO EDUCAÇÃO ECONÔMICA
Realização:
Sítio: portal.mec.gov.br/secad
E-mail: educacaointegral@mec.gov.br
Organização:
Jaqueline Moll
Coordenação Editorial:
Revisão Pedagógica:
Danise Vivian
Revisão Final:
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Cadernos Pedagógicos Mais Educação
Educação Econômica
Alexsandro Machado
Laura Coutinho
Heloísa Padilha
Revisão de textos:
Ellen Neves
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