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GRANDE DO SUL
A ABORDAGEM DO EMPREENDEDORISMO
NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DAS REGIÕES
PLANALTO E NORTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
The entrepreneurship approach in graduation courses of the norht and
plateau regions in the state of Rio Grande do Sul
Silvan Carlos Puerari1; Milena Carla Spazzini1; Gabriel Henrique dos Santos Jorosczniski1;
Fernando Sergio Mazon2
1
Acadêmicos do Curso de Administração da URI Erechim. E-mail: silvanpuerari@hotmail.com
2
Professor do Curso de Administração da URI Erechim. E-mail: fernando.mazon@yahoo.com.br
three areas of knowledge and that more than half of the courses do not offer
any discipline of entrepreneurship to the academics.
Keywords: Entrepreneurship. Entrepreneur. Graduation Courses.
devem ter potencial para gerar valor econô- (DORNELAS, 2001). No entendimento do
mico, pois é muito valorizado na sociedade autor, estes seriam temas (ou disciplinas)
atual. (BARON; SHANE, 2011). que deveriam ser abordados para a formação
Dolabela (1999) defende que o empreen- empreendedora em escolas e universidades.
dedorismo deve ser estimulado em virtude do O contexto atual é propício ao surgimento
decréscimo contínuo de postos de trabalhos cada vez maior de empreendedores e por isso
no mundo inteiro. Para que isso seja possível, a capacitação para tal é prioridade em vários
Dornelas (2001) cita que uma das soluções países. No Brasil, por exemplo, é crescente o
pode ser encontrada no sistema educacional, número de disciplinas de empreendedorismo
por meio da oferta de cursos e matérias de nos ensinos técnico e universitário. (DOR-
empreendedorismo. Esta seria uma alterna- NELAS, 2008).
tiva principalmente aos jovens, que estão Dolabela (1999) descreve, para o caso
iniciando sua carreira profissional. brasileiro, alguns motivos para o ensino do
Com isso, as escolas e universidades empreendedorismo. Os principais seriam: as
assumem um papel central na difusão do grandes mudanças nas relações de trabalho;
empreendedorismo, sendo responsáveis pela a não adequação do ensino tradicional para
criação e preparação de empreendedores, a formação de empreendedores; as relações
dando a eles o conhecimento e o suporte universidade-empresa ainda incipientes
adequados. Os objetivos, neste caso, seriam no Brasil; a insuficiente percepção da im-
de mostrar ferramentas que auxiliem no portância das PME’s (pequenas e médias
alcance do sucesso, contribuindo para o empresas) para o desenvolvimento econô-
crescimento do país, além de incentivar as mico; e, a necessidade das organizações por
pessoas (especialmente os jovens) a criarem profissionais empreendedores e a cultura da
seu próprio negócio ou empreenderem nas “grande empresa” que predomina no ensino
organizações em que atuam, o que Dolabela profissionalizante e universitário.
(2003) denomina de intraempreendedorismo. Para Jones e English (2004), o ensino de
Jones e English (2004) entendem que é empreendedorismo é uma inovação educa-
necessário que as pessoas detenham habili- cional importante que estimula um processo
dades empresariais e capacidade para lidar de aprender a empreender. Dolabela (1999)
com os desafios atuais da vida e um futuro destaca, ainda, que é necessário criar uma
incerto. Seja na escolha da carreira ou outras cultura empreendedora na sociedade, e, para
situações pessoais, os indivíduos podem se isso, o tema empreendedorismo precisa ser
beneficiar do aprendizado do empreendedo- apresentado e discutido desde os primeiros
rismo, habilitando-se a resolver problemas, níveis da educação. Os alunos devem ser
adaptando-se mais facilmente às mudanças. educados com base em valores de autono-
Para formar novos empreendedores, é mia, de independência, capacitando-os para
importante focar na identificação e no en- inovar, assumir riscos e atuar em ambientes
tendimento das suas habilidades. Em uma de instabilidade, como os que a sociedade
concepção mais empresarial, a mesma ênfase vivencia na atualidade.
deve ser dada à inovação e sua importância Este artigo foi elaborado com a utiliza-
no processo empreendedor, à utilização de ção de pesquisas descritiva, bibliográfica e
um plano de negócio, identificação de fontes exploratória. A primeira pesquisa descreve
para obter financiamentos, na gestão pro- as características de determinada população
mover o crescimento orgânico da empresa ou fenômeno ou então, estabelece relações
entre variáveis (GIL, 2006). De acordo com (Erechim e Getúlio Vargas) e três do Corede
Vergara (2009), tal tipologia não objetiva Produção (Carazinho, Marau e Passo Fundo).
explicar os fenômenos que descreve, embora O passo seguinte foi identificar se as insti-
sirva de base para a explicação. tuições são públicas (mantidas com recursos
O trabalho utiliza-se de parte da Pesquisa do governo federal ou estadual) ou privadas
Endeavor/SEBRAE sobre o “Empreende- (instituições particulares e comunitárias).
dorismo nas Universidades Brasileiras”, Posteriormente, os cursos foram classifica-
edição do ano de 2016 (quarta edição). Tal dos por área do conhecimento sendo que,
pesquisa se constitui no mais completo e para isso, foi utilizada a Tabela de Áreas
atualizado estudo identificado no gênero e do Conhecimento, versão 2016, disponível
tem como principal objetivo conscientizar no sítio do CNPq (Conselho Nacional de
as instituições de ensino superior sobre seu Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
poder de contribuir com o desenvolvimento Para conhecer a estrutura dos cursos, bus-
econômico e social do Brasil, atuando como cou-se identificar a quantidade de semestres
agentes-chave do desenvolvimento do ecos- (duração) dos mesmos, o número de discipli-
sistema empreendedor local. Neste trabalho, nas relacionadas ao empreendedorismo e o(s)
a Pesquisa Edeavor/SERAE é utilizada como estágio(s) do curso em que são oferecidas,
subsídio para a descrição e análise compara- se no início (do 1º ao 3º semestre), no meio
tiva das informações coletadas. (4º ao 6º semestre) ou no final do curso (7º
O estudo da Endeavor/SEBRAE contem- semestre em diante). A figura a seguir apre-
plou instituições públicas e privadas e foram senta a sistematização da pesquisa.
entrevistados acadêmicos e professores de
todo o território nacional. A realização deste Figura 1 - Sistematização da pesquisa
trabalho abordou apenas os itens considera- Pesquisa Endeavor/SEBRAE
dos relevantes para a replicação da pesquisa Etapa 1 Empreendedorismo nas
Universidades Brasileiras 2016
original, além da realização de um recorte
Etapa 2 Delimitação da Região de estudo
regional e da utilização de dados secundários.
A escolha da região do estudo se deu pela Identificação das Universidades
Etapa 3 e Faculdades que ofertam cursos
proximidade geográfica e buscou contemplar presenciais de nível superior
todos os cursos de graduação presenciais Classificação das instituições quanto
existentes na região de abrangência. Etapa 4 sua forma de atuação: pública ou
privada
A pesquisa descritiva foi utilizada para
Classificação dos cursos por área do
a caracterização da região de estudo, que Etapa 5
conhecimento
contemplou dois COREDES (Conselhos Pesquisa das grades dos cursos
Etapa 6 ofertados com relação às disciplinas
Regionais de Desenvolvimento) do Rio de empreendedorismo
Grande do Sul, sendo eles os Coredes Norte e
Produção, compostos respectivamente por 32
e 23 municípios. A partir desta classificação Relacionado às disciplinas de empreende-
regional, foram identificados os municípios dorismo, considerou-se apenas a denomina-
em que há instituições que oferecem cursos ção (nome) da disciplina, sem avaliação das
de graduação presenciais, com no mínimo ementas. Da mesma forma que a pesquisa
três anos de duração. Identificou-se a oferta Endeavor/SEBRAE, considerou-se como
deste tipo de curso em instituições de ensino disciplinas de empreendedorismo as que
superior de dois municípios do Corede Norte contivessem a palavra “empreendedorismo”
cursos (do 1º ao 3º semestres), 6% na metade Das instituições privadas, 46% das grades
(4º ao 6º semestres) e 76% são ministradas curriculares contêm disciplinas de empre-
no fim dos cursos (7º semestre em diante). endedorismo.
Em apenas 6% dos casos as disciplinas estão Importante destacar que todos os cursos
distribuídas mais uniformemente ao longo da área de ciências exatas ou da terra ofere-
dos cursos. Como se pode notar, as discipli- cem pelo menos uma disciplina de empre-
nas estão concentradas no final do ciclo de endedorismo, assim como 3/4 dos cursos da
formação. área de linguística, letras e artes. Também,
Os principais conteúdos sobre empreen- mais da metade dos cursos das áreas das en-
dedorismo que constam nas grades dos cursos genharias e das ciências biológicas oferecem
são: empreendedorismo (35,5%), inovação e conteúdos empreendedores aos seus alunos,
tecnologia (13,2%), inovação (12,4%) e ges- em respectivamente 65% e 60% dos cursos.
tão de novos negócios (10,7%). Disciplinas Em contrapartida, nos cursos da área das
relacionadas com a elaboração de planos de ciências sociais aplicadas, uma das principais
negócio, criação de novos negócios, fran- formadoras de empreendedores, 44% das
quias, negócios familiares, empreendedoris- matrizes curriculares oferecem este tipo de
mo social e gestão de pequenos negócios não conteúdo aos seus alunos. Por exemplo, em
constam nas grades curriculares dos cursos todos os cinco cursos de Direito pesquisa-
analisados. dos, em dois cursos de Ciências Contábeis
e quatro (de nove) cursos de Administração
não são disponibilizadas disciplinas de em-
Conclusão preendedorismo.
Complementando a pesquisa, os cursos
Com a pesquisa, foi possível identifi- das áreas das ciências humanas e ciências da
car que, relacionado aos cursos superiores saúde são os que menos potencializam a for-
presenciais, predominam as instituições de mação de empreendedores. Respectivamente,
ensino particulares na região estudada, uma 21% e 4% dos cursos destas duas áreas do
vez que mais de 80% dos cursos são ofertados conhecimento apresentam disciplinas de em-
por este tipo de instituição. preendedorismo em suas grades curriculares.
Percebeu-se, também, assim como ocor- Como foi possível identificar, a oferta
reu na pesquisa Endeavor/SEBRAE, que os de disciplinas de empreendedorismo no
cursos estão concentrados principalmente sistema de ensino, advogado por Dolabela
em três áreas do conhecimento, nesta ordem: (1999) e Dornelas (2001), não ocorre em
ciências sociais aplicadas, engenharias e ci- mais da metade dos cursos contemplados
ências da saúde. Em conjunto, estas três áreas nesta pesquisa. Uma maneira de ampliar
representam 67,8% dos cursos ofertados nos e democratizar o acesso às disciplinas, de
Coredes Norte e Produção do estado do Rio acordo com a Endeavor/SEBRAE (2016),
Grande do Sul. seria permitir que alunos de diferentes cursos
Nota-se, também, que mais da metade dos frequentem disciplinas abertas/sem restrições
cursos (57%) não oferece nenhuma disciplina ou de disciplinas transversais, em que alunos
de empreendedorismo e que nas instituições de diferentes cursos interagem na mesma
públicas é onde se verifica a menor oferta de sala de aula.
conteúdos empreendedores. Apenas 27% dos As disciplinas abertas/sem restrições
cursos de instituições públicas oferecem pelo dispensariam a necessidade de disponibilizar
menos uma disciplina de empreendedorismo. disciplinas apenas para um curso específico
REFERÊNCIAS
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Learning, 2011.
BARRETO, L. P. Educação para o empreendedorismo. Educação Brasileira, v. 20, n. 41, p. 189-
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BECKER, G. V.; LACOMBE, B. M. B. Colocando luz em quem tem “ideias luminosas”:
competências do empreendedor de base tecnológica. In: XXVII EnANPAD: Atibaia, SP. Anais... Rio
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DOLABELA, F. Oficina do empreendedor: a metodologia de ensino que ajuda a transformar
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______. Pedagogia Empreendedora. São Paulo: Cultura, 2003.
______. A corda e o sonho. Revista HSM Management, ed. 80, p. 128-132, 2010.
DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro:
Campus, 2001.