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claro que nos seus pólos e núcleos centrais elas são bem dife-
rentes, já que a característica original da ciência é, principal-
mente, a obsessão verificadora, falsificadora e a obsessão cen-
tral da filosofia é a reflexividade e a introspecção do sujeito.
Mesmo assim, é preciso dizer que na atividade científica há
muita reflexividade, há pensamento, e que a filosofia — por
natureza — não despreza a verificação ou a experimentação.
Creio que a ciência tem necessidade de introduzir nela mesma
não a reflexão dos filósofos, mas a reflexividade. É curioso,
pois muitas vezes achamos que é próprio da ciência se auto-
afirmar rejeitando a filosofia. Mas reparem como os grandes
cientista são filósofos selvagens, desde o início do século.
Quando digo selvagens, é porque partiu deles próprios abordar
os problemas filosóficos fundamentais. Isso aconteceu com
Poincaré, com Einstein, com Niels Bohr, com Born, com
Heisenberg e continua atualmente com Lévy-Leblond, com
Prigogine, com Espagnat, com Costa de Beauregard. É incrível:
existe uma atividade especulativa e filosófica que nasce da
ciência. (Atualmente, alguns jovens neotecnocratas da ciência
desprezam-na como especulações senis e discussões de fundo.
Mas eles envelhecerão.) Certamente, deve-se fazer uma distin-
ção desses domínios. Logicamente, eles são diferentes um do
outro, porém devem se comunicar e, além disso, precisam ter
uma comunicação interna. É preciso dizer, também, que, infe-
lizmente, devido à hiperespecialização, à clausura e ao esote-
rismo disciplinar, os filósofos não podem mais se alimentar de
conhecimentos científicos, eles se fecham com frieza e vivem
nesse universo abstrato da pura especulação.
Por fim, a última idéia é que a ciência deve ser considerada
como um processo recursivo auto-ecoprodutor. Vou explicar
essa fórmula cruel: uma vez que a objetividade remete ao con-
senso, e que este remete à comunidade/sociedade que remete
à tradição crítica etc, isso quer dizer que a cientificidade se
constrói, se desconstrói e se reconstrói sem cessar, já que
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2 Cro-Magnon — sítio da Dordogne, França, que deu seu nome a uma raça humana
pré-histórica. (N.T.)
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