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O Desenvolvimento das Ciências da

Natureza e Humanas
Universidade de Mogi das Cruzes – UMC
Bruno Vieira de Macedo Cortes
O que veremos hoje:
A ciência
Ciências naturais
Ciências humanas
Pseudociência
Filosofia da ciência
Psicologia baseada em evidências

Discussão: neutralidade científica?


O senso comum
✘ A ciência distingue-se do senso comum
porque este é uma opinião baseada em
hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas,
enquanto a primeira baseia-se em pesquisas,
investigações metódicas e sistemáticas e na
exigência de que as teorias sejam
internamente coerentes e digam a verdade
sobre a realidade.
Cada gênero e espécie
de animal já surgiram
tais como os
conhecemos. Alguém
poderia imaginar um
Sonhar com cobra
peixe tornar-se réptil ou
é sinal de traição
um pássaro?

Passa pasta de
dente na Que nada! Sonhei,
queimadura que apostei na cobra e
ajuda... ganhei 5 mil

“dize-me com
quem andas e te
direi quem és”
Senso comum
✘ Certezas como essas, que formam nossa vida
e o senso comum de nossa sociedade,
transmitem-se de geração em geração, e,
muitas vezes, transform-se em crença
religiosa, em doutrina inquestionável.
✘ Antes de qualquer coisa, a ciência desconfia
da veracidade de nossas certezas, de nossa
adesão imediata às coisas, da ausência de
crítica e da falta de curiosidade.
Ciência X Senso comum
✘ A ciência carrega um progresso cumulativo.

✘ "A ciência é uma disposição a aceitar os fatos


mesmo quando eles são opostos aos desejos”.

✘ "É característica da ciência que a falta de


honestidade acarreta imediatamente em
desastre
A falseabilidade
✘ Karl Popper (1902 – 1994)

✘ A reelaboração científica decorre do fato de


ter havido uma mudança no conceito
filosófico-científico da verdade.
A falseabilidade
✘ No século XIX, foi proposta uma teoria da
verdade como coerência interna entre
conceitos.

✘ O falso é a perda da coerência de uma teoria, a


existência de contradições entre seus
princípios ou entre estes e alguns de seus
conceitos.
A falseabilidade
✘ Popper propõe que uma teoria científica seja
avaliada pela possibilidade de ser falsa ou
falsificada.

✘ A falseabilidade seria o critério de avaliação


das teorias científicas e garantiria a ideia de
progresso científico, pois é a mesma teoria
que vai sendo corrigida por fatos novos que a
falsificam.
Críticas ao critério de
falseabilidade
✘ A maioria dos filósofos da ciência, entre os
quais Thomas Khun (1922 – 1996),
demonstrou o absurdo da posição de Popper

✘ Jamais houve um único caso em que uma


teoria pudesse ser falsificada por fatos
científicos.
Críticas ao critério de
falseabilidade
✘ O aparente progresso científico, tal qual
descrito por Popper é ilusório;

✘ Cada vez que fatos provocaram verdadeiras e


grandes mudanças teóricas, essa mudanças
não foram feitas no sentido de “melhorar” ou
“aprimorar” uma teoria existente, mas no
sentido de abandoná-la por uma outra.
Críticas ao critério de
falseabilidade
✘ papel do fato científico não é o de falsear ou
falsificar uma teoria, mas de provocar o
surgimento de uma nova teoria verdadeira.
Falseabilidade X Revolução científica

✘ Popper defendia a ideia de progresso


científico;

✘ Descontinuidade e diferença temporal entre


teorias;

✘ Com base nisso, Kuhn defende a ideia de


revolução científica
“Evolução é só uma Teoria”
A teoria científica
✘ Teoria científica:

✘ É um sistema ordenado e coerente de


proposições ou enunciados baseados em um
pequeno número de princípios, cuja finalidade
é descrever, explicar e prever do modo mais
completo possível um conjunto de
fenômenos, oferecendo suas leis necessárias.
Da hipótese à teoria: dá muito trabalho!!!

✘ Hipótese - É um conjunto estruturado de


argumentos e explicações que possivelmente
justificam dados e informações, mas, que
ainda não foram confirmados por observação
ou experimentação. É a afirmação positiva,
negativa ou condicional (ainda não testada)
sobre determinado problema ou fenômeno
Da hipótese à teoria: dá muito trabalho!!!

✘ As hipóteses, respostas possíveis e provisórias


em relação às questões de pesquisa tornam -
se também instrumentos importantes como
guias na tarefa de investigação (LAKATOS e
MARCONI, 1995).
Da hipótese à teoria: dá muito trabalho!!!

✘ Lei - Uma proposição que vai enunciar


relações entre grandezas que descrevem um
fenômeno. Porém, ela surge a partir da
experimentação, conforme hipóteses se
demonstrem válidas.

✘ Lei da gravitação,
Da hipótese à teoria: dá muito trabalho!!!

✘ Lei - Uma relação entre fenômenos, uma


seqüência de acontecimentos, um mecanismo
natural, que se manifesta sempre da mesma
forma em inúmeros estudos independentes,
com grande precisão e sem exceções. É o
objetivo máximo, a suprema realização, da
Ciência.
As ciências da natureza:
✘ As ciências da Natureza estudam duas ordens
de fenômenos: os físicos e os vitais, ou as
coisas e os organismos vivos.
As ciências da natureza:

✘ Estudam fatos observáveis que podem ser


submetidos aos procedimentos de
experimentação;
As ciências da natureza:

✘ Estabelecem leis que exprimem relações


necessárias e universais entre os fatos
investigados e que são de tipo causal;
As ciências da natureza:

✘ Concebem a Natureza como um conjunto


articulado de seres e acontecimentos
interdependentes, ligados ou por relações
necessárias de causa e efeito, subordinação e
dependência, ou por relações entre funções
invariáveis e ações variáveis;
As ciências da natureza:

✘ Desde Aristóteles, as ciências da Natureza


desenvolveram se graças ao papel conferido
às observações e, mais tarde, à observação
controlada, isto é, à experimentação (o
laboratório com seus instrumentos
tecnológicos de precisão e medida).
As ciências da natureza:

✘ A experimentação é a decisão do cientista de


intervir no curso de um fenômeno,
modificando as condições de seu
aparecimento e desenvolvimento, a fim de
encontrar invariantes e constantes que
definem o objeto como tal.
O método experimental é hipotético
indutivo e hipotético dedutivo.
✘ Hipotético indutivo: o cientista observa
inúmeros fatos variando as condições da
observação; elabora uma hipótese e realiza
novos experimentos ou induções para
confirmar ou negar a hipótese; se esta for
confirmada, chega se à lei do fenômeno
estudado.
O método experimental é hipotético
indutivo e hipotético dedutivo.
✘ Hipotético dedutivo: tendo chegado à lei, o
cientista pode formular novas hipóteses,
deduzidas do conhecimento já adquirido, e
com elas prever novos fatos, ou formular
novas experiências, que o levam a
conhecimentos novos. A lei científica obtida
por via indutiva ou dedutiva permite
descrever, interpretar e compreender um
campo de fenômenos semelhantes e prever
novos, a partir dos primeiros.
✘ Os objetos técnicos que usamos em nossa
vida cotidiana são ciência aplicada ou
resultado prático xde ciências naturais
teóricas.
São possíveis ciências humanas?

✘ Embora seja evidente que toda e qualquer


ciência é humana, porque resulta da atividade
humana de conhecimento, a expressão
ciências humanas refere-se àquelas ciências
que têm o próprio ser humano como objeto.
São possíveis ciências humanas?

✘ Em primeiro lugar, porque seu objeto é


bastante recente: o homem como objeto
científico é uma idéia surgida apenas no
século XIX. Até então, tudo quanto se referia
ao humano era estudado pela Filosofia.
São possíveis ciências humanas?
✘ Em segundo lugar, porque surgiram depois
que as ciências matemáticas e naturais
estavam constituídas e já haviam definido a
idéia de cientificidade, de métodos e
conhecimentos científicos, de modo que as
ciências humanas foram levadas a imitar e
copiar o que aquelas ciências haviam
estabelecido, tratando o homem como uma
coisa natural matematizável e
experimentável.
São possíveis ciências humanas?
✘ Em outras palavras, par a ganhar
respeitabilidade científica, as disciplinas
conhecidas como ciências humanas
procuraram estudar seu objeto empregando
conceitos, métodos e técnicas propostos pelas
ciências da Natureza.
São possíveis ciências humanas?
✘ Em terceiro lugar, por terem surgido no
período em que prevalecia a concepção
empirista e determinista da ciência, também
procuraram tratar o objeto humano usando os
modelos hipotético indutivos e experimentais
de estilo empirista, e buscavam leis causais
necessárias e universais para os fenômenos
humanos.
São possíveis ciências humanas?
✘ Como, entretanto, não era possível realizar
uma transposição integral e perfeita dos
métodos, das técnicas e das teorias naturais
para os estudos dos fatos humanos, as
ciências humanas acabaram trabalhando por
analogia com as ciências naturais e seus
resultados tornaram se muito contestáveis e
pouco científicos
São possíveis ciências humanas?
✘ Como, entretanto, não era possível realizar
uma transposição integral e perfeita dos
métodos, das técnicas e das teorias naturais
para os estudos dos fatos humanos, as
ciências humanas acabaram trabalhando por
analogia com as ciências naturais e seus
resultados tornaram se muito contestáveis e
pouco científicos
O humano como objeto de investigação

✘ Embora as ciências humanas sejam recentes,


a percepção de que os seres humanos são
diferentes das coisas naturais é antiga. Sob
esse ponto de vista, podemos dizer que, do
século XV ao início do século XX, a
investigação do humano realizou se de três
maneiras diferentes:
✘ 1. Período do humanismo: inicia-se no século
XV com a ideia renascentista da dignidade do
homem como centro do Universo, prossegue
nos séculos XVI e XVII com o estudo do
homem como agente moral, político e
técnico-artístico, destinado a dominar e
controlar a Natureza e a sociedade, chegando
ao século XVIII, quando surge a ideia de
civilização, isto é, do homem como razão que
se aperfeiçoa e progride temporalmente
através das instituições sociais e políticas e do
desenvolvimento das artes, das técnicas e dos
ofícios.
✘ 2. Período do positivismo: inicia se no século
XIX com Augusto Comte, para quem a
humanidade atravessa três etapas
progressivas, indo da superstição religiosa à
metafísica e à teologia, para chegar,
finalmente, à ciência positiva, ponto final do
progresso humano. Comte enfatiza a idéia do
homem como um ser social e propõe o estudo
científico da sociedade: assim como há uma
física da Natureza, deve haver uma física do
social, a sociologia, que deve estudar os fatos
humanos
✘ usando procedimentos, métodos e técnicas
✘ 3. Período do historicismo: desenvolvido no
final do século XIX e início do século XX por
Dilthey, filósofo e historiador alemão. Essa
concepção, herdeira do idealismo alemão
(Kant, Fichte, Schelling, Hegel), insiste na
diferença profunda entre homem e Natureza
e entre ciências naturais e humanas,
chamadas por Dilthey de ciências do espírito
ou da cultura.
✘ Os fatos humanos são históricos, dotados de
valor e de sentido, de significação e finalidade
e devem ser estudados com essas
características que os distinguem dos fatos
naturais. As ciências do espírito ou da cultura
não podem e não devem usar o método da
observação experimentação, mas devem criar
o método da explicação e compreensão do
sentido dos fatos humanos, encontrando a
causalidade histórica que os governa.
Pseudociência
Pseudociência
✘ A pseudociência é o conjunto de teorias,
métodos, conjecturas e afirmações com
aparência científica sobre fenômenos, fatos,
testes e / ou experimentos, contudo,
embasada em erros de raciocínio e falsas
premissas, sem aplicação de procedimento
rigoroso de pesquisa e comprovação dos
resultados.
Pseudociência
✘ Segundo Pilati (2018, p.73) a pseudociência se
baseia em “sistemas de crença que buscam se
validar por meio de confirmação de suas
afirmações, nunca ou raramente produzindo
afirmações passíveis de falseamento”.

✘ Buscam creditar suas afirmações como sendo


científicas, mesmo não sendo.
Pseudociência - Exemplos
✘ Homeopatia;
✘ Aromaterapia
✘ Constelações familiares
A Psicologia baseada em evidências

✘ A prática da psicologia baseada em evidências é uma abordagem que tem como princípio,
que as decisões clínicas devem ser guiadas por dados de pesquisa;

✘ Um processo, de avaliar criticamente as intervenções, considerando dados empíricos que a


sustentem e características relativas à expertise do terapeuta e a vontade/necessidade do
cliente;

Melink, 2014
Maciel, 2017
Os usos inadequados das PBE
✘ Demanda crescente pelas práticas baseadas em evidências;

✘ Importante considerar que as abordagens não são um conjunto de


técnicas, que podem ser utilizadas nos clientes sem um estudo cuidadoso
da teoria que sustenta tais técnicas;

✘ O uso puramente tecnicista dos materiais de podem gerar uma prática


pouco eficaz, ou ter efeitos prejudiciais para o cliente e para a sociedade;

Falcone e Oliveira, 2012


O QUE VOCÊ PENSA QUANDO SE FALA EM
NEUTRALIDADE CIENTÍFICA?
Segundo Watson (1924), “não é função do
behaviorista discutir se essas coisas que a
sociedade prescreve ajudam ou atrapalham o
desenvolvimento ou ajustamento de um indivíduo.
. . . Você encontrará, então, o behaviorista
trabalhando como qualquer outro cientista. Seu
único objetivo é recolher fatos sobre o
comportamento” (p. 7).
O QUE VOCÊ PENSA QUANDO SE FALA EM
NEUTRALIDADE CIENTÍFICA?
O QUE VOCÊ PENSA QUANDO SE FALA EM
NEUTRALIDADE CIENTÍFICA?
✘ Holland (1978) aponta que as práticas dos
psicólogos comportamentais ao longo dos anos 60
e 70 eram caracterizadas pelo uso de controle
aversivo para comportamentos que a sociedade
julgava como “desprezíveis”: Consumo de drogas,
comportamento de pessoas obesas, crianças em
conflito com a lei, ou, chamadas na época de “Pre-
delinquents”, entre outros, de forma que a
psicologia comportamental tem uma capacidade
de atender a demandas de cunho higienista.
O QUE VOCÊ PENSA QUANDO SE FALA EM
NEUTRALIDADE CIENTÍFICA?

✘ Skinner ao longo de sua carreira


como cientista se posiciona em
relação a várias formas de controle
social, discutindo também a forma de
controle exercida pelo governo sobre
a sociedade (Skinner, 1953, 1971,
1987).
O QUE VOCÊ PENSA QUANDO SE FALA EM
NEUTRALIDADE CIENTÍFICA?

✘ “Um segundo princípio em tornar o controle das pessoas pelas


pessoas mais eficaz é evitar reforçadores artificiais. Aqui,
novamente, há uma longa história. Todos nós vivemos em uma
economia simbólica. [...] Mas o comportamento é moldado e
mantido com mais rapidez por suas consequências naturais.
[...] A separação dos trabalhadores dos produtos finais de seu
trabalho era, obviamente, o que Marx queria dizer com
"alienação". (Skinner, 1978, pp. 11-12)
O QUE VOCÊ PENSA QUANDO SE FALA EM
NEUTRALIDADE CIENTÍFICA?

✘ Toda prática de um cientista tem consequências, podemos citar,


por exemplo, duas grades guerras apoiadas na racionalidade
científica, em que várias práticas desumanas foram cometidas
(Skinner, 1953, Lopes e Laurenti, 2016).

✘ Do mesmo modo, a ciência possibilita que as pessoas lidem com


problemas cotidianos (vide a vacina para a covid-19).

✘ Dessa forma, podemos ampliar o que Holland (1978) diz sobre a


psicologia comportamental para outras práticas científicas: Podem
ser parte do problema ou parte da solução.
A função Social do psicólogo

✘ Campos (2010) discute a função social do psicólogo a partir de dois


focos:

✘ 1 – O lugar do Psicólogo na divisão social do trabalho

✘ 2 – O Psicólogo teria algum compromisso com a sociedade em que


está inserido?
O lugar do psicólogo na divisão social do
trabalho

✘ A psicologia no Brasil tem muita influência de teorias


produzidas a partir de outros contextos;

✘ O Psicólogo é um profissional liberal?


✘ 42% dos psicólogos (as) trabalham de forma autônoma
(DIEESE, 2016);
O lugar do psicólogo na divisão social do
trabalho

✘ Campos (2010) relaciona a evolução das técnicas da psicologia com


as demandas a que elas serviam:

✗ Associa o surgimento do profissional encarregado do estudo do comportamento


humano nas sociedades capitalistas da Europa do final do Século XIX.

✗ Em uma sociedade em que variáveis determinantes para o comportamento


humano são mascaradas por uma ideologia que prega a liberdade individual e
igualdade de oportunidades.

✗ Naturalização de posições ocupadas pelo ser humano;

✗ Psicólogo, neste momento atendia a demandas de uma classe dominante;


O lugar do psicólogo na divisão social do
trabalho

✘ Noção de normal e Excepcional

✘ “[...] a Psicologia Científica não construiu o conceito de inconsciente.


Pelo contrário, a ela ficou reservado o espaço ideológico do
desconhecimento da exploração, pois sua função resultou em ser
exatamente o lugar da elaboração das práticas destinadas a adaptar
o homem a esta nova realidade do trabalho parcelado, no interior
da divisão do trabalho em manual e intelectual (Campos, 2010,
p.212)”.
O lugar do psicólogo na divisão social do
trabalho

✘ Campos (2010) defende que a psicologia se encontra em um


momento de crise, em que os trabalhos com população de alta
renda estão saturados;
✘ O que leva os profissionais a procurarem trabalhos em serviços que
atendam à população de baixa renda;

✘ Insuficiência dos modelos elaborados em outros contextos no


contexto social;
✘ Possibilidade de rever algumas práticas
A Função social do psicólogo

✘ Holland (1978) – traz uma crítica aos analistas do comportamento


da sua época

✘ Foi identificado que os estudos e intervenções realizadas na época,


predominantemente utilizavam punição para comportamentos que
a sociedade julgava “desprezíveis”.

✘ Fumar e beber;
✘ Comer em pessoas obesas;
✘ Gagueira;
✘ Jovens em conflito com a lei;
A Função social do psicólogo

✘ Holland (1978) defende que a prática do psicólogo analista do


comportamento pode ser uma ferramenta de transformação
importante;

✘ Contudo, sua aplicação pode servir a interesses de classes


dominantes, favorecendo práticas de “culpabilização da vítima” e a
manutenção do status quo;

✘ O Conselho Federal de Psicologia atualmente traz normas a


respeito da atuação do psicólogo, proibindo algumas práticas e traz
diretrizes alinhadas à Declaração Universal dos Direitos Humanos;
Resolução Nº 1, DE 29 DE JANEIRO DE 2018 do CFP

✘ Estabelece normas de atuação para as psicólogas e os psicólogos em relação às pessoas


transexuais e travestis.

✘ Art. 1º - As psicólogas e os psicólogos, em sua prática profissional, atuarão segundo os


princípios éticos da profissão, contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão
voltada à eliminação da transfobia e do preconceito em relação às pessoas transexuais e
travestis.
✘ Art. 2º - As psicólogas e os psicólogos, no exercício profissional, não exercerão qualquer
ação que favoreça a discriminação ou preconceito em relação às pessoas transexuais e
travestis.
✘ Art. 3º - As psicólogas e os psicólogos, no exercício profissional, não serão coniventes e
nem se omitirão perante a discriminação de pessoas transexuais e travestis.
Resolução Nº 1, DE 29 DE JANEIRO DE 2018 do CFP

✘ Art. 4º - As psicólogas e os psicólogos, em sua prática profissional, não se


utilizarão de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou
reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminações em
relação às pessoas transexuais e travestis.

✘ Art. 5º - As psicólogas e os psicólogos, no exercício de sua prática


profissional, não colaborarão com eventos ou serviços que contribuam
para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias em
relação às transexualidades e travestilidades;
Resolução RESOLUÇÃO Nº 1, DE 29 DE JANEIRO DE
2018 do CFP

✘ Art. 6º - As psicólogas e os psicólogos, no âmbito de sua atuação


profissional, não participarão de pronunciamentos, inclusive nos meios
de comunicação e internet, que legitimem ou reforcem o preconceito em
relação às pessoas transexuais e travestis.

✘ Art. 7º - As psicólogas e os psicólogos, no exercício profissional, não


exercerão qualquer ação que favoreça a patologização das pessoas
transexuais e travestis. Parágrafo único: As psicólogas e os psicólogos, na
sua prática profissional, reconhecerão e legitimarão a autodeterminação
das pessoas transexuais e travestis em relação às suas identidades de
gênero.
Resolução RESOLUÇÃO Nº 1, DE 29 DE JANEIRO DE
2018 do CFP

✘ Art. 8º - É vedado às psicólogas e aos psicólogos, na sua prática


profissional, propor, realizar ou colaborar, sob uma perspectiva
patologizante, com eventos ou serviços privados, públicos, institucionais,
comunitários ou promocionais que visem a terapias de conversão,
reversão, readequação ou reorientação de identidade de gênero das
pessoas transexuais e travestis.

✘ Art. 9º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.


Resistências à resolução
✘ Dois dias depois da publicação do documento, o Ministério público de
Goiás lançou um ação civil pública, objetivando:
✘ “[...] apurar ações ou omissões ilícitas do Conselho Federal de Psicologia –
CFP, concernentes a impedimentos à atividade profissional de psicólogos,
consubstanciados na resolução CFP n° 1, de 29/1/2018 (Brasil, 2018)”.

✘ [...] lograr provimento judicial que assegure a observância do princípio da


legalidade, bem assim da liberdade de exercício profissional e de
expressão intelectual, científica e de comunicação dos psicólogos (Brasil,
2018)”.
Resistências à resolução
✘ [...] essa resolução extrapolou os limites do dever-poder regulamentar e,
ainda, feriu a liberdade do exercício profissional e de expressão
intelectual , científica e comunicativa dos psicólogos, protegidos pela
Constituição da República.”

✘ É insofismável, pois, que a resolução em testilha é autoritária, arbitrária,


ilegal, inconstitucional.
✘ O dever-poder normativo do CFP restringe-se a aplicar a sua lei
instituidora, não lhe cabendo criar, modificar ou suprimir direitos, senão
agiria, como é o caso, de forma persecutória, intimidadora, desarrazoada,
desvirtuada etc.
✘ A Chapa que concorreu no ano de 2019 para a presid~encia dos os
conselhos Federais de Psicologia “Psicólogos em Ação” defendia a utilização
de terapias de reversão sexual;

✘ Esta chapa teve 5.458 votos, de um total de 101.377 votos (5,38%);


✘ Em 2009, Rozangela Alves foi punida pelo CRP por oferecer terapias que
objetivavam “curar” a homossexualidade;

✘ Em setembro de 2017, o juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho acolheu um


pedido da psicóloga Rozangela Alves Justino, segundo o qual a Resolução do CFP
restringia a liberdade científica.

✘ O juiz disse entender que os profissionais não poderiam ser censurados por
fornecer o atendimento.

✘ “apenas alguns de seus dispositivos, quando e se mal interpretados, podem levar à


equivocada hermenêutica no sentido de se considerar vedado ao psicólogo
realizar qualquer estudo ou atendimento relacionados à orientação ou
reorientação sexual”.
✘ “Digo isso porque a Constituição, por meio dos já citados princípios
constitucionais, garante a liberdade científica bem como a plena realização
da dignidade da pessoa humana, inclusive sob o aspecto de sua
sexualidade, valores esses que não podem ser desrespeitados por um ato
normativo infraconstitucional, no caso, uma resolução editada pelo CFP”

✘ A fim de interpretar a citada regra em conformidade com a Constituição, a


melhor hermenêutica a ser conferida àquela resolução deve ser aquela no
sentido de não provar o psicólogo de estudar ou atender àqueles que,
voluntariamente, venham em busca de orientação acerca de sua
sexualidade, sem qualquer forma de censura preconceito ou discriminação.
Até porque o tema é complexo e exige aprofundamento científico
✘ Em Abril de 2019, a ministra Carmen Lúcia, do STF suspendeu a limiar que
abria brechas para a prática de terapias de reversão sexual (O Estadão,
2019);
Terapias de reversão sexual
✘ Segundo Costa, Silva e Júnior (2017), o motivo de uma pessoa procurar uma
terapia de reversão sexual não estão ligados à sua orientação sexual em si, mas é
um produto de contingências de controle aversivo que a pessoa é exposta por não
ser heterossexual.

✘ Possíveis motivos para que o comportamento que não se enquadra nos padrões
heteronormativos pode levar uma pessoa a procurar a terapia:
✘ 1) não aceitação de si;
✘ 2) medo dos efeitos leves e extremos da LGBTfobia;
✘ 3) busca por interromper a ocorrência de encobertos relacionados ao desejo sexual por pessoas do
mesmo sexo;
✘ 4) intenção de modificar a orientação sexual em si, de procurar pela “cura gay” em outras palavras.
(Comporte-se, 2017)
Terapias de reversão sexual
✘ Segundo Garcia e Mattos (2019), os autores que defendem tal prática
considerem a homossexualidade uma patologia ou uma “falha
ambiental” e muitas práticas predominantemente de abordagens
psicanalítica ou comportamental se disseminaram.

✘ Alguns profissionais consideravam o comportamento homossexual


resultaria em de um medo grande da expressão dos impulsos
heterossexuais, sendo resultado de uma relação entre pais e filhos, sendo
assim um “problema” que poderia ser resolvido por meio da psicoterapia.
✘ “taxas de sucesso” de 27% (Haldemann, 1991)
Terapias de
reversão sexual
✘ Condicionamento da masturbação para
estímulos progressivamente mais “masculinos”
ou “mais femininos”.

✘ Associação de estímulos sexuais a choques nas


mãos ou órgãos sexuais;
✘ Administração de drogas que causam náuseas
associadas a estímulos sexuais (Haldemann,
1991)

✘ Baixa efetividade
Terapias de reversão sexual

✘ Efeitos colaterais dessas terapias:

✘ Aumento dos sentimentos de ansiedade e culpa;


✘ Depressão;
✘ Desenvolvimento do comportamento assexual;
Terapias de reversão sexual
✘ Os defensores desta prática assumem que a homossexualidade seja uma
psicopatologia decorrente do ambiente da pessoa, mas, será?

✘ Segundo neurologistas, o hipotálamo de um homossexual é menor do


que do heterossexual .
✘ Comportamento homossexual em espécies de animais
✘ Influência genética, comportamentos julgados como “homossexuais”
desde a mais tenra idade
Extraído de:

✘ CHAUÍ, M. Convite à filosofia. Ática: São Paulo, 2000.


✘ Falcone, E. D. O. (2012). História, bases conceituais e prática da
terapia cognitivo-comportamental. Terapia Cognitivo-
comportamental, 17-39.
✘ Hothersall, David. História da Psicologia. Tradução de Elaine Pepe e
Eliane Fittipaldi. 4ed., Porto alegre, RS: AMGMH, 2019, pp. 89-101,
127-156
✘ Melnik, T., de Souza, W. F., & de Carvalho, M. R. (2014). A importância
da prática da psicologia baseada em evidências: aspectos
conceituais, níveis de evidência, mitos e resistências. Revista
Costarricense de Psicología, 33(2), 79-92.

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