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(Filosofia da Ciência)
TEMAS A ESTUDAR
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1. CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA MODERNA (CONCEÇÃO CLÁSSICA DE CIÊNCIA)
O método científico passou, assim, a ser usado pela ciência para comprovar ou validar as
suas hipóteses ou teorias. Iniciando-se com a observação de um problema, coloca uma hipótese, que
é uma tentativa de explicar o fenómeno (efeito) através da sua relação com um outro fenómeno que
lhe dá origem (causa). Dizemos, assim, que procura estabelecer relações causais. Depois testam-se
as hipóteses através da experimentação ou conjunto de testes que assentam no uso da indução:
verificam se tal fenómeno se dá em certas condições muitas vezes, para se poder estender essa
explicação a todo os casos do mesmo género. Uma vez comprovada a hipótese, generalizam-se os
resultados da experimentação, de forma a criar uma lei universal.
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Tradicionalmente conhecido com o nome de método científico, método experimental ou
método indutivo, pode analisar-se segundo as seguintes fases:
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2. O FALSIFICACIONISMO DE KARL POPPER
Nasceu em Viena de Áustria. Fez os seus estudos em matemática, física, filosofia, psicologia
e história da música. Foi professor do ensino secundário. Em 1934 conclui a primeira versão da sua
mais importante obra A Lógica da Descoberta Científica. Devido à sua origem judaica foi vítima da
perseguição dos nazis, conseguindo apenas em 1937 refugiar-se na Grã-Bretanha. Entre 1938 e
1946 ensina Filosofia na Universidade da Nova Zelândia, onde escreve duas obras de conteúdo
político: a "Pobreza do Historicismo" e "A Sociedade Aberta e os seus Inimigos". Após regressar a
Inglaterra prossegue a carreira universitária, tendo-a abandonado em 1969, para se concentrar nos
seus estudos e conferências.
Estas considerações conduziram-me, no inverno de 1919-20, a conclusões que posso agora reformular
da seguinte maneira:
1. É fácil obter confirmações ou verificações para quase todas as teorias – desde que procuremos confirmações.
2. Toda a «boa» teoria científica é uma interdição: proíbe que determinadas coisas aconteçam. Quanto mais uma
teoria proibir, melhor será.
3. Uma boa teoria que não seja refutável por nenhum acontecimento concebível será uma teoria não-científica. A
irrefutabilidade não é uma virtude da teoria (como as pessoas muitas vezes julgam), mas sim um defeito.
Talvez possa agora exemplificar o que acaba de ser dito com a ajuda das várias teorias até agora
mencionadas. A teoria da gravitação de Einstein satisfaz claramente o critério de falsificabilidade. Mesmo se, na
época, os nossos instrumentos de medição não permitiam que nos pronunciássemos com inteira segurança
sobre os resultados dos testes, havia uma clara possibilidade de refutar a teoria.
A astrologia não passou no teste. Os astrólogos foram muito influenciados e iludidos pelo que acreditavam ser
provas confirmativas – tão influenciados que não se deixavam abalar por quaisquer provas de sinal contrário.
Além disso, formulando as suas interpretações e profecias de um modo suficientemente vago, tornam-se
capazes de apresentar uma explicação satisfatória para tudo quanto poderia ter constituído uma refutação da
teoria, caso estas e as profecias tivessem sido enunciadas de uma forma precisa. Para se furtarem à falsificação,
destruíram, assim, a testabilidade da sua prova.
Karl Popper, Conjeturas e Refutações, Almedina, pp.59-60
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Texto 2: O método científico segundo a perspetiva falsificacionista
Partimos (…) de um problema, de uma dificuldade. Pode ser prático ou teórico. Seja o que for, quando
primeiro encontramos o problema não podemos, obviamente, saber muito a seu respeito. No máximo temos só
uma vaga ideia daquilo em que, realmente, consiste o nosso problema. Como podemos então produzir uma
solução adequada? (…)
A minha primeira resposta é muito simples, produzindo uma solução inadequada e criticando-a. Só
deste modo podemos chegar a compreender o problema.
Karl Popper, Conhecimento Objetivo
A crença de que a ciência procede da observação para a teoria é ainda tão larga e firmemente adotada
que a minha recusa em admiti-la é recebida com incredulidade. Cheguei mesmo a ser suspeito de insinceridade
– de negar o que ninguém no seu juízo pode pôr em causa.
Mas, de facto, a crença de que podemos começar apenas com puras observações, sem qualquer coisa
como uma teoria, é absurda. (…) A observação é sempre seletiva. Precisa de um objeto escolhido, de uma tarefa
precisa, um interesse, um ponto de vista, um problema.
Karl Popper, Conjectures and Refutations Londres, Routledge, 1962, p.46
Sem esperar, passivamente, por repetições que agravam ou impõem regularidades em nós, ativamente
tentamos impor regularidades no mundo. Tentamos descobrir similaridades nelas e interpretá-las em termos de
leis por nós inventadas. Sem esperar por premissas, saltamos para as conclusões. Estas podem ter de ser
descartadas mais tarde, caso a observação mostre que estão erradas.
Esta era uma teoria da tentativa e erro – de conjeturas e refutações. (…)
Pensei que ela se aplicaria, também, à ciência; que as teorias científicas não eram o resumo de
observações, mas invenções – conjeturas ousadamente postas à prova, para serem eliminadas se entrassem
em conflito com as observações; observações que eram raramente acidentais, mas um procedimento adotado
com a intenção definida de testar uma teoria, obtendo, se possível, uma refutação. (…)
[…] que não há procedimento mais racional do que o método de tentativa e erro – de conjetura e
refutação: de ousadamente propor teorias; de tentar o nosso melhor para mostrar que estão erradas; e de as
aceitar provisoriamente se os nossos esforços críticos fracassam.
Karl Popper, Conjectures and Refutations Londres, Routledge, 1962, p.46 e 51
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Texto 5: A dedução no método científico
De acordo com a perspetiva que será aqui proposta, o método de testar teorias criticamente, e de as
selecionar em função dos resultados dos testes, consiste sempre no seguinte: a partir de uma nova ideia,
apresentada como uma conjetura e ainda sem qualquer justificação – uma antecipação, uma hipótese, um
sistema teórico ou o que quisermos –, derivam conclusões por meio da dedução lógica. Estas conclusões são
depois comparadas entre si e com outras proporções relevantes (…).
[Testa-se] a teoria por meio de aplicações empíricas das conclusões que dela podem ser derivadas.
A finalidade deste (…) género de testes é descobrir até que ponto as novas consequências da teoria – aquilo que
possa ser novo no que ela afirma – resistem às exigências da prática, sejam elas colocadas por experiências
puramente científicas ou por aplicações práticas tecnológicas. (…)
No procedimento aqui esboçado não surge nada que se assemelhe à lógica indutiva. Nunca suponho
que podemos inferir a verdade de teorias a partir da verdade de proposições singulares.
Nunca suponho que, devido à força das conclusões «verificadas», se pode estabelecer que as teorias são
«verdadeiras», nem mesmo que são meramente «prováveis».
Karl Popper, The Logic of Scientific Discovery, Unwin Hyman, pp. 23-33
Acreditava-se, até sensivelmente à primeira metade do Século XX, que a Ciência utilizava o
método indutivo para justificar as suas conclusões - teorias e leis. Era na fase da experimentação que
se faziam todos os testes possíveis, de modo a validar uma certa hipótese. Desta forma, pretendia-se
que esta se transformasse numa lei universal. Esta validação, que se julgava possível, era sobretudo
realizada usando o raciocínio indutivo ou indução.
O método indutivo, muito simplificadamente, consiste em recorrer a alguns casos observados
e testados para concluir que aquilo que se verifica nesses casos se verifica em todos os casos
possíveis. Transforma-se assim um enunciado numa lei ou teoria verdadeira (lei e teoria = uma
afirmação universal ou um conjunto de afirmações universais). Dito de outro modo, a Ciência
confirmaria as suas conclusões (as suas teorias e leis) partindo de alguns casos particulares. Assim,
seria possível confirmar o conhecimento científico e os enunciados da ciência considerados
definitivamente verdadeiros ou falsos. O critério usado para saber se uma hipótese era verdadeira
era, então, a verificabilidade dos enunciados.
Mas nós sabemos que logicamente não podemos afirmar com total certeza que, de
premissas particulares verdadeiras, se conclua necessariamente uma proposição universal
verdadeira (este é o problema da indução) - por exemplo, não posso afirmar que 'porque alguns
cisnes são brancos, todos os cisnes são brancos'. Pode haver cisnes de outra cor - pretos, por
exemplo - e continuar a ser verdadeiro que “alguns deles são brancos.”.
Popper defende que, em qualquer pesquisa, não há meios para realizar a verificação de
todos os casos e pode a qualquer momento uma nova observação trazer à luz um caso que refute a
hipótese em estudo. Assim, nunca é possível fazer a verificação de uma dada hipótese de modo
concludente. Conclusão: Popper não pode aceitar a indução como forma de verificação científica,
porque as teorias inferidas de enunciados singulares não são verificáveis empiricamente.
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O novo critério proposto pelo autor, em substituição da verificabilidade, é o da falsificabilidade
dos sistemas. A falsificabilidade é um teste à robustez de uma dada teoria. Para tal teste é necessário
criar uma hipótese falsificadora (hipótese 1) ou várias hipóteses falsificadoras (hipóteses 2, 3 ...) que
coloquem em causa a hipótese que estamos a testar (hipótese A). Se esta (hipótese A) resistir a esse
teste, ou seja, se não for provado que é uma hipótese falsa, então poderemos aceitá-la como uma
boa explicação para o fenómeno que estudávamos. Dizemos que temos uma teoria, mas o que
significa isso?
Significa que a comunidade científica aceita a explicação apresentada por essa teoria como
possível, como verosímil. Mas antes, esta teoria deve conseguir resistir, também, às refutações e
críticas da comunidade científica – através do método crítico - para que possa, então, ser aceite
provisoriamente.
Não sendo uma teoria verificada ou confirmada, mas apenas infirmada (testada na sua
robustez), ela é a teoria que num dado momento mais se aproxima da verdade. Diz-se, por isso, que
é uma teoria corroborada (aceite acordadamente por todos ou por grande parte da comunidade
científica).
Classicamente, o momento da experimentação era o mais importante do método científico,
pois se julgava que aí, por indução, se verificavam as hipóteses. Mas, a partir da teoria de Popper,
passou a valorizar-se mais o momento da criação da própria hipótese e da dedução das suas
consequências. É aí que tudo se joga. São as boas hipóteses, fruto da imaginação e criatividade dos
cientistas que permitem encontrar a relação entre os fenómenos e, dessa maneira, descobrir a
explicação para os acontecimentos. Ora, a dedução das consequências de uma hipótese vai permitir
orientar corretamente as experimentações. Então, é por dedução que se vai estabelecer o progresso
da ciência. Assim, Popper propõe que o método científico seja analisado de um modo novo e que
tome o nome de método hipotético-dedutivo em vez de método experimental ou indutivo, como
classicamente se chamava.
NOTA: Uma teoria científica é tanto melhor quanto mais falsificável, ou seja, se possa sujeitar a
testes de falsificabilidade. Para isso devem ser muito informativas e objetivas. Exemplo:
A. Se há instabilidade política no Reino Unido, os preços das ações na bolsa de Londres
caem.
B. Se há instabilidade política no Reino Unido, os preços das ações na bolsa de Londres
alteram-se.
Ex. entre A e B, a melhor hipótese científica é a A.
Porquê? Porque
- tem mais informação,
- é menos vaga,
- é mais objetiva.
Sempre que falsificar B) também se falsifica A), basta que os preços não se alterem, apesar da
instabilidade política, mas pode ser que se falsifique A) sem se falsificar B), como nos casos em
que há instabilidade e os preços sobem.
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Karl Popper
ttt
É utilizada
Defende que a
A dedução
A falsificabilidade
o qual usa
Que conduz a
uma
Hipóteses falsificadoras
para
É submetido ao É abandonado
pelo método crítico
a novas refutações e
críticas
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Consequências do pensamento popperiano
Chama a atenção para os limites da ciência;
Tais teorias têm necessariamente um carácter temporário.
Apresenta uma forte crítica ao indutivismo;
Critica o dogmatismo positivista e neopositivista;
Lembra que as regras metodológicas da ciência não passam de convenções;
Afirma que o progresso científico não resulta exclusivamente de um processo cumulativo,
mas da superação dos erros;
Defende que as teses e teorias não passam de conjeturas que não podem ser confirmadas,
mas devem ser infirmadas (testadas na sua força);
Só as teses que resistem ao processo de falsificabilidade passam a ser corroboradas pois
são as que estão mais próximas da verdade, por isso é importante que uma hipótese seja
altamente falsificável, isto é, passível de ser testada através de várias hipóteses
falsificadoras;
São mais falsificáveis as teorias com grande grau de informação;
As teorias que resistem a todos os testes de falsificabilidade são aceites como as mais
fortes, mas têm, ainda assim, um caráter temporário;
A ciência faz-se pela procura do erro. A descoberta do erro permite abandonar as teorias
fracas ou que foram falsificadas.
O MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
- Popper apresenta uma revisão do método experimental alterando-lhe algumas fases e desviando
a importância de umas para outras:
1. Colocação do problema ou facto-problema, o qual é já formado a partir das teorias que o cientista
possui;
2. Formulação da hipótese ou conjetura (o momento criativo do método) e dedução das consequências
(as quais permitem pensar o plano da experimentação);
4. Experimentação através da falsificabilidade (a procura do erro e da falha muito mais do que a procura da
verdade absoluta ou confirmada);
5. Generalização/ Corroboração (as leis continuam a ser simples conjeturas, tal como o eram as hipóteses.
Só que agora estas conjetura passaram por testes que as fortaleceram).
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Síntese Popper: https://www.youtube.com/watch?v=ztmvtKLuR7I
Excerto 1: Paradigma
4- “Ciência normal significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas
passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade
científica específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior.”
5- “A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenómenos [pois] a
pesquisa da ciência normal está dirigida para a articulação daqueles fenómenos.”
Excerto 3: Anomalia
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6- “Quase sempre os homens que fazem essas invenções fundamentais (que dão origem a novos
paradigmas científicos) são muito jovens ou são novos na área de estudos cujo paradigma
modificam”
Excerto 4: Crise
7. “[...] as crises são uma condição necessária para a emergência de novas teorias [...]” ou seja a
quebra de um paradigma envolve a necessidade de novas teorias para resolver as anomalias que o
anterior paradigma não conseguiu resolver. Neste período faz-se uma nova espécie de ciência “a
ciência extraordinária”.
13- “As divergências realmente desaparecem num grau considerável e então, aparentemente, de uma
vez por todas”,
sendo que
14- “[...] em geral seu desaparecimento é causado pelo triunfo de uma das escolas pré-
paradigmáticas (o início de um novo paradigma).” Há lugar à alteração da teoria, dos métodos e das
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aplicações envolvidas, como parte do processo revolucionário. A ciência evolui de forma acumulativa,
nos períodos de ciência normal, por “saltos “qualitativos, quando ocorrem as revoluções científicas.
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Conceitos estruturantes da teoria epistemológica de Kuhn:
Pré-ciência: um tipo de atividade desorganizada que tenta fundamentar ou explicar os
fenómenos ainda num estado mítico ou irracional.
Comunidade científica: conjunto de cientistas que partilham um mesmo paradigma.
Paradigma: conjunto de procedimentos, técnicas, métodos, modos de ver, pensar e agir,
partilhado por uma dada comunidade científica.
Ciência normal: período de tempo em que a comunidade científica atua com base no
paradigma instituído e procura mostrar que este está correto. Todas as ações e descobertas
tentam reforçar a crença nesse paradigma.
Anomalia: problema que não encontra resolução dentro de um dado paradigma.
Crise: período de tempo provocado pelo acumular de anomalias e no qual se põe em causa
o paradigma vigente (que está em vigor).
Ciência extraordinária: ciência produzida nos períodos de crise. Ciência inovadora que testa
novas soluções para os problemas que não encontraram solução nos paradigmas anteriores.
Revolução científica: mudança ou revolução resultante da criação de um novo paradigma
que substitui ou se sobrepõe ao anterior. Faz-se uma nova ciência que com o tempo e
aceitação será transformada, de novo numa ciência normal.
SISTEMATIZANDO:
Thomas Kuhn expõe a ideia de um desenvolvimento histórico efetuado, não por uma
progressiva evolução, mas por revoluções ou mudanças de paradigma 1. Um paradigma pode
ser considerado um conjunto de teorias, princípios ou explicações, regras e metodologias
aceites por uma comunidade de cientistas. Na fase em que todos trabalham com base no
paradigma em vigor faz-se ciência normal. Esta fase ocupa a maior parte da comunidade científica,
consistindo em trabalhar para mostrar ou pôr à prova a solidez do paradigma no qual se baseia todo o
seu trabalho. A mudança de paradigma só toma lugar quando aquele que estava em vigor se
torna incapaz de responder ou explicar alguns problemas, diz-se, então, que surgiram
anomalias no paradigma.
1
A noção de paradigma é fundamental e não é mais do que uma macro teoria, uma perspetiva que é aceite de
forma geral por toda a comunidade científica e a partir do qual se realiza a atividade científica, cujo objetivo é
esclarecer as possíveis falhas do paradigma ou extrair dele todas as suas consequências. Um paradigma pode
ser um conjunto de teorias, princípios ou explicações, regras e metodologias aceites por uma comunidade de
cientistas. Etimologicamente significa um modelo, mas, em ciência, é um conjunto de hábitos científicos. Ele
define o modo de pensar, de falar e de agir do cientista. Os paradigmas são aprendidos durante um longo
período de formação científica. Normalmente, esta formação baseia-se em livros nos quais são apresentadas as
maiores e as mais bem-sucedidas realizações científicas.
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em que se experimentam novas soluções e se ensaiam novas teorias e procedimentos. A esta fase
damos o nome de ciência extraordinária. Ela poderá fornecer uma nova maneira de ver o mundo.
Como diz, Kuhn, “[...] as crises são uma condição necessária para a emergência de novas
teorias [...]. Kuhn argumenta que os períodos de acumulação gradativa de conhecimento,
denominados por ele de ciência normal, são interrompidos ou intercalados por períodos de ciência
extraordinária, quando os “paradigmas” científicos são questionados e revistos através das
“revoluções científicas” ocorridas para dar resposta à crise instalada. Neste caso, a ciência evolui
tanto de forma cumulativa, nos períodos de ciência normal, como por ruturas, quando ocorrem
as revoluções científicas.
Kuhn mostra que a ciência não é só um contraste entre as teorias e a realidade, mas
que também há diálogo, debate, tensões e até lutas entre os defensores de distintos
paradigmas. E é precisamente nesse debate ou luta onde se demonstra que os cientistas não são
absolutamente racionais, não são exclusivamente objetivos, pois nem a eles é possível afastar-
se de todos os paradigmas e compará-los de forma objetiva. Cada cientista ou comunidade de
cientistas está imerso num paradigma e interpreta o mundo, formatado por esse paradigma. Isto
demonstra que a atividade científica sofre a influência tanto de interesses científicos (ex.: a
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aplicação prática de uma teoria), como subjetivos como, por exemplo, a existência de coletividades
ou grupos sociais a favor ou contra uma teoria concreta, ou a existência de problemas éticos, de tal
maneira que a atividade científica vê-se influenciada pelo contexto histórico-sociológico em que se
desenvolve. A verdade e a objetividade são relativas ao paradigma e a argumentação torna-se
necessária para escolher entre teorias. Escolher uma teoria implica obedecer a critérios
individuais e critérios partilhados. Então, devemos falar de intersubjetividade mais do que de
objetividade. Por outro lado, se a verdade é relativa a cada paradigma (pois o que é verdade num
pode não o ser noutro) não devemos comparar paradigmas porque eles são incomensuravelmente
diferentes.
Popper vs Kuhn
Popper Kuhn
VERDADE
OBJETIVIDADE
O crescimento ou progresso do conhecimento
A mudança de paradigma não é determinada por
é objetivo porque a nova teoria superou
critérios estritamente objetivos, mas por uma
testes rigorosos. Contudo, as teorias
combinação de fatores subjetivos. A ciência não é
científicas são sempre conjeturas -
imune à subjetividade.
sobrevivem enquanto puderem ser
corroboradas.
Objetividade fraca Intersubjetividade
RACIONALIDADE
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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE OBJETIVIDADE CIENTÍFICA DESDE A CIÊNCIA MODERNA
CIÊNCIA MODERNA
CIÊNCIA PÓS-MODERNA
Os paradigmas são
incomensuravelmente distantes.
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TÓPICOS DE RESUMO POR OBJETIVOS
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Conjetura: possível explicação dos fenómenos, que depois de testada poderá ser aceite como a
melhor possível.
Teoria falsificável: teoria que permite a criação de hipóteses falsificadoras, ou seja, de hipóteses
que a contradigam, de modo a podermos fazer testes e ver a sua resistência às tentativas de
falsificação. Uma teoria que não permite a criação de hipóteses falsificadoras não é uma boa
hipótese científica, porque não pode ser testada, possivelmente nem é uma hipótese científica. É
o que acontece por exemplo com as afirmações dos que fazem horóscopos.
Teoria falsificada: teoria que foi provada como falsa e por isso deve ser abandonada ou
reformulada.
Refutação: crítica, contra-argumento ou tentativa de contradizer uma certa teoria. As refutações
permitem apresentar falhas nas teorias científicas para ver se elas resistem a essas críticas ou
não.
Corroboração: aceitação partilhada por várias pessoas de um determinado enunciado como
aquele que explica um certo fenómeno.
Compreender em que medida apenas podemos mostrar a verosimilhança de uma dada teoria:
Uma vez que não pode ser comprovada, mas apenas é aceite porque não foi falsificada, esta teoria é
aquela que mais sentido faz na explicação de um certo fenómeno, assim, corroboram-se as teorias
mais verosímeis.
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Caracterizar a mudança verificada entre paradigmas:
A mudança de paradigma dá.se a partir de grandes ruturas. A evolução da ciência dá-se, nestes
períodos através de saltos qualitativos e não de forma lenta e gradual.
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Atividades
Ficha de trabalho 1
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4. Leia com atenção o texto que se segue.
«Os problemas em ciência não são problemas no sentido de serem coisas que exigem
resposta. (…) São enigmas, na medida em que um cientista que faça ciência normal pressupõe que
uma resposta pode ser encontrada. (…)
De vez em quando, as coisas começam a desintegrar-se. Os enigmas que necessitam de resolução
parecem multiplicar-se além do normal ou do esperado. As anomalias abundam, o paradigma começa
a falhar.»
Thomas. Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, Lisboa, Guerra e Paz, 2009, p.121
4.1 Ao afirmar que «um cientista que faça ciência normal pressupõe que uma resposta pode
ser encontrada», Kuhn refere um dos aspetos da sua conceção do desenvolvimento da
ciência. Partindo desta afirmação, exponha as linhas gerais da conceção de Kuhn.
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Ficha de Trabalho 2
B – OBJETIVIDADE FRACA
2. A escolha entre teorias científicas rivais obedece a critérios partilhados por toda a comunidade
científica e a critérios individuais.
3. A verdade e a objetividade das teorias científicas são relativas ao paradigma em que se inserem.
4. Uma teoria é tanto mais forte quanto conseguir resistir às tentativas da sua falsificabilidade.
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3. Considerando a perspetiva de Kuhn sobre o conhecimento científico, estabeleça a
correspondência entre os termos da coluna B e os enunciados da coluna A.
A B
“A história da ciência mostra claramente que as inovações conceptuais radicais não são
aceites enquanto não tiverem falhado todas as interpretações ortodoxas 2. (…) Cada geração de
cientistas (…) resiste à modificação dos seus paradigmas, exceto em face de factos materiais e de
necessidade lógica.”
John Ziman
“O decurso da Ciência Normal não é feito só de êxitos, pois, se tal fosse o caso, não eram
possíveis as inovações profundas que têm tido lugar ao longo do desenvolvimento científico. Ao
cientista “normal” pode suceder que o problema de que se ocupa, não só não tenha solução no
âmbito das regras em vigor, como tal facto não possa ser imputado à impreparação ou inépcia do
investigador. Esta experiência pode, em certo momento, ser partilhada por outros cientistas e pode
suceder, além disso, que por cada problema resolvido, ou por cada incongruência eliminada outros
surjam em maior número (…) ou de impossível solução.”
Boaventura Sousa Santos, Introdução a uma ciência Pós-Moderna
2
Ortodoxo: que está de acordo com as regras e os modelos tradicionais, poe exemplo, as regras de um paradigma.
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7. Partindo dos conceitos de objetividade forte, objetividade fraca e intersubjetividade,
apresente a sua posição sobre o valor do conhecimento científico.
Ficha de trabalho 3
DOC. 1
“(…) Alguma base tem de haver também que explique a fé no candidato escolhido, embora
ela não tenha de ser nem racional nem, em última análise correta. Alguma coisa há de levar pelo
menos alguns cientistas a sentir que a nova proposta está no caminho certo, e algumas vezes só
considerações pessoais e estéticas, impossíveis de expressar claramente, podem explicar esse
comportamento. Vários homens foram convertidos por estes fatores em alturas em que a maioria dos
argumentos técnicos bem estruturados apontavam na direção contrária. Quando pela primeira vez
introduzidas, nem a teoria astronómica de Copérnico, nem a teoria de De Bloglie, apresentavam
grandes atrativos. Mesmo nos dias que correm, a teoria da relatividade geral de Einstein atrai muita
gente apenas pelo seu encanto estético (…).”
Thomas Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, Guerra e Paz, 2009, p. 214.
DOC. 2
“É agora altura de notar que até estas últimas páginas o termo «verdade» só tinha aparecido
neste ensaio uma única vez, numa citação de Francis Bacon. (…) O processo de desenvolvimento
descrito neste ensaio é um processo evolutivo a partir de uma origem primitiva – um processo cujos
sucessivos estádios se caracterizam por uma compreensão da natureza cada vez mais detalhada e
sofisticada. Mas nada do que foi ou será dito faz dele um processo em vista de algo. Esta lacuna terá
de certeza perturbado muitos leitores. Todos nós estamos muito acostumados a ver a ciência como a
empresa que se acerca cada vez mais de um fim estabelecido antecipadamente pela natureza.”
Thomas Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, Guerra e Paz, 2009, p. 230.
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Ficha de trabalho 4
1. Associe cada uma das afirmações seguintes às conceções de Popper (P) ou de Kunh (K).
2.2 O método defendido por Popper, para uso nas investigações científicas é…
A. o método indutivo clássico.
B. o método dedutivo.
C. o método próprio de cada cientista ou grupo de cientistas.
D. o método hipotético-dedutivo.
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2.4 Analise as afirmações seguintes.
1.O conhecimento metodicamente construído, subordinado a linguagem rigorosa e a critérios de
verdade lógica e experimental.
2.O conhecimento usado para resolver os problemas do nosso dia-a-dia.
3.O conhecimento que nos orienta na vida, adquirido na vivência quotidiana.
4.O conhecimento construído nos laboratórios e nos centros de investigação, que usa uma
linguagem própria e meios técnicos sofisticados.
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3. Leia com atenção os textos que se seguem.
TEXTO A
«Naturalmente, a ciência é vítima da falibilidade humana. (…) Apesar de fazermos todo o
possível para detetarmos os nossos erros, não podemos ter certezas nos nossos resultados. Mas
aprendemos com os erros: os cientistas transformam a nossa falibilidade em conhecimento conjetural
objetivamente testável. (…)
Os resultados da ciência permanecem hipóteses que podem ter sido testadas, mas não foram
estabelecidas: não se mostrou que fossem verdadeiras. Evidentemente, podem ser verdadeiras.»
Karl Popper, Em Busca de um Mundo Melhor, Lisboa, Editorial Fragmentos, p.121
TEXTO B
«Independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso não
justifica a conclusão de que «todos os cisnes são brancos». (…) A teoria que defendo (…) opõe-se
frontalmente a todas as tentativas de utilizar as ideias da lógica indutiva. Ela poderia ser chamada
teoria do método dedutivo de prova, (…) O trabalho do cientista consiste em elaborar teorias e pô-las
à prova (…).»
Karl Popper, Lógica da Pesquisa Científica, S. Paulo, Cultrix, 2001 p.27
3.1 Após a análise dos textos A e B, esclareça o significado das frases sublinhadas no texto A.
3.2 Explique por que razão, segundo o critério da falsificabilidade, «A carne de ave não contribui
para o aumento do nível de “mau” colesterol» é um enunciado científico.
«Sir Karl Popper nega a existência de quaisquer processos de verificação. (…) Sem dúvida o
papel assim atribuído à falsificação é semelhante (…) às experiências anómalas, isto é, às
experiências que suscitando crises preparam o caminho para uma nova teoria. No entanto, as
experiências anómalas não podem ser identificadas com as experiências falsificadoras.
Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, Lisboa, Guerra e Paz, 2009, p.31
5.1 A partir do texto apresentado, elabora um texto expositivo em que confronte as diferentes
perspetivas de Popper e Kuhn quanto…
a) ao conceito de ciência;
b) ao progresso de ciência;
c) à objetividade científica
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Ficha de trabalho 5 (Popper)
GRUPO I
6. Popper considera que as teorias científicas podem apenas ser corroboradas. Isto significa que
A. as teorias científicas só poderão ser verdadeiras caso sejam falsificáveis.
B. o progresso científico não segue uma linha de continuidade.
C. as teorias científicas não garantem a verdade, apenas são adotadas por resistirem às tentativas de
refutação.
D. não é possível determinar o valor de verdade das teorias científicas.
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GRUPO II
1. Considere a seguinte ideia:
A expressão «H2O» está de tal forma divulgada na sociedade que todos sabem que se refere à
composição da água. Sem dúvida que este enunciado é científico, mas saber isto não é já algo do
domínio do senso comum?
1.2 Considera que a questão colocada se refere ao problema da demarcação científica? Justifique.
GRUPO III
Leia o seguinte excerto de uma entrevista a Edgar Morin.
«A pandemia do coronavírus trouxe brutalmente a ciência de volta ao centro da sociedade. Será que
ela irá sair transformada?
Edgar Morin: O que me impressiona é que grande parte do público considerava a ciência o repertório de
verdades absolutas, de afirmações irrefutáveis. E todos ficaram tranquilos ao ver que o presidente
[francês] estava rodeado por um conselho científico. Mas o que aconteceu? Rapidamente, percebemos
que esses cientistas defendiam pontos de vista muito diferentes e por vezes contraditórios, seja nas
medidas a serem adotadas, nos possíveis novos remédios para responder à emergência, na validade
deste ou daquele medicamento, na duração dos ensaios clínicos a realizar... Todas estas controvérsias
permitem colocar dúvidas nas mentes dos cidadãos.
Com isso quer dizer que o público corre o risco de perder a fé na ciência?
Edgar Morin: Não, se ele entender que as ciências vivem e progridem através de controvérsias.»
Edgar Morin, entrevistado por Francis Lecompte in CNRS, Le Journal (06.04.2020)
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2. Esclareça em que medida Popper concordaria com esta posição.
Ficha de revisões
DOC. 1
“Foi só depois do meu exame de doutoramento que somei dois e dois e as minhas ideias
anteriores se arrumaram. Percebi a razão por que a teoria errada da ciência que tinha ditado a lei
desde Bacon – a teoria de que as ciências naturais eram as ciências indutivas e a indução era um
processo de estabelecer ou justificar teorias através de observações ou experiências repetidas –
estava tão profundamente arreigada. A razão era que os cientistas tinham de demarcar as suas
atividades das atividades da pseudociência, bem como da teologia e da metafísica, e tinham adotado
o método indutivo de Bacon para critério de demarcação. (…) Mas eu detivera, nas minhas mãos, por
muitos anos, um critério melhor de demarcação: testabilidade ou falsificabilidade.
Assim, podia pôr de parte a indução sem ficar atrapalhado com a demarcação. E podia
aplicar os meus resultados respeitantes ao método de tentativa e erro de maneira a substituir toda a
metodologia indutiva por uma metodologia dedutiva. A falsificação ou refutação de teorias através da
falsificação ou refutação das suas consequências dedutivas era, claramente, uma inferência dedutiva
(modus tollens). Este ponto de vista implicava que as teorias científicas, se não são falsificadas,
permanecem para todo o sempre hipóteses ou conjeturas.
Portanto, todo o problema do método científico se clarificou e, com ele, o problema do
progresso científico. O progresso consistia em caminhar em direção a teorias que nos digam mais e
mais – teorias de conteúdo cada vez maior. Mas quanto mais uma teoria diz, mais exclui ou proíbe, e
maiores são as oportunidades de falsificá-la. Portanto, uma teoria com maior conteúdo é uma teoria
que pode ser mais severamente testada. Esta consideração levou a uma teoria em que o progresso
científico se revelou consistir, não na acumulação de observações, mas no derrube de teorias menos
boas e sua substituição por teorias melhores, em particular por teorias com maior conteúdo. Assim,
havia uma competição entre teorias – uma espécie de luta pela sobrevivência darwiniana.
É claro que as teorias que reclamam não ser mais do que conjeturas ou hipóteses não precisam de
justificação (e menos ainda de uma justificação por um inexistente “método de indução”, de que
ninguém ainda deu uma descrição razoável). Todavia, podemos, por vezes, dar razões para preferir
às outras uma das conjeturas em competição, à luz da sua discussão crítica. (…)
O ponto decisivo em tudo isto, o caráter hipotético de todas as teorias científicas, era, para o
meu espírito, uma consequência bastante banal da revolução einsteiniana, que tinha mostrado que
nem sequer a teoria mais bem-sucedida nos testes, como a de Newton, devia ser olhada como mais
do que uma hipótese, como mais do que uma aproximação da verdade.
Karl Popper, Busca inacabada – Autobiografia intelectual, Esfera do Caos, 2008, pp. 114-117.
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7. Esclareça o que se entende, segundo Popper, por teoria científica.
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DOC. 2
“(…) O livro [A lógica da pesquisa científica, 1933] tinha a intenção de providenciar uma teoria
do conhecimento e, ao mesmo tempo, ser um tratado de método – o método da ciência. A
combinação era possível porque eu olhava para o conhecimento humano como consistindo nas
nossas teorias, nas nossas hipóteses, nas nossas conjeturas; como sendo o produto das nossas
atividades intelectuais. É claro que há outra maneira de olhar para o “conhecimento”: podemos ver o
“conhecimento” como um “estado de espírito” subjetivo, como o estado subjetivo de um organismo.
Mas eu escolhi tratá-lo como um sistema de enunciados – teorias submetidas a discussão. O
“conhecimento”, neste sentido, é objetivo; e é hipotético ou conjetural.
Esta maneira de olhar para o conhecimento tornou possível que eu reformulasse o problema
da indução de Hume. Nessa reformulação objetiva o problema da indução já não é um problema das
nossas crenças – ou da racionalidade das nossas crenças – mas um problema de relação lógica
entre enunciados singulares (descrições de factos singulares “observáveis”) e teorias universais.
Nesta forma, o problema da indução torna-se solúvel: não há indução, porque as teorias universais
não são dedutíveis de enunciados singulares. Mas podem ser refutadas por enunciados singulares,
dado que podem estar em desacordo com descrições de factos observáveis.
Além disso, podemos falar de teorias “melhores" e “piores” num sentido objetivo mesmo antes
de as nossas teorias serem postas a prova: as teorias melhores são as que tem maior conteúdo e
maior poder explicativo (ambos relativos aos problemas que estamos a tentar resolver). E estas,
mostrei eu, são também as teorias melhor testáveis; e – se sobreviverem aos testes – as teorias
melhor testadas.
Esta solução do problema da indução dá origem a uma nova teoria do método da ciência, a
uma análise do método crítico, o método da tentativa e erro: o método de propor hipóteses ousadas e
de as expor à crítica mais severa, com o intuito de detetar os erros que possamos ter cometido.
Do ponto de vista desta metodologia, começamos a nossa investigação com problemas.
Somos sempre confrontados com uma certa situação problemática; e escolhemos um problema que
esperamos ser capazes de resolver. A solução, sempre provisória, consiste numa teoria, numa
hipótese, numa conjetura. As várias teorias em competição são comparadas e discutidas
criticamente, com o intuito de encontrar as suas deficiências; e os resultados da discussão crítica,
sempre em mudança, sempre inconclusivos, constituem o que se pode chamar “a ciência do dia”.
Portanto, não há indução: nunca argumentamos dos factos para as teorias, a menos que seja pela via
da refutação ou “falsificação”. Esta visão da ciência pode ser descrita corno seletiva, como
darwiniana. (…)”
Karl Popper, Busca inacabada – Autobiografia intelectual, Esfera do Caos, 2008, pp. 122-124.
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DOC. 3
“(…) Alguma base tem de haver também que explique a fé no candidato escolhido, embora
ela não tenha de ser nem racional nem, em última análise correta. Alguma coisa há de levar pelo
menos alguns cientistas a sentir que a nova proposta está no caminho certo, e algumas vezes só
considerações pessoais e estéticas, impossíveis de expressar claramente, podem explicar esse
comportamento. Vários homens foram convertidos por estes fatores em alturas em que a maioria dos
argumentos técnicos bem estruturados apontavam na direção contrária. Quando pela primeira vez
introduzidas, nem a teoria astronómica de Copérnico, nem a teoria de De Bloglie, apresentavam
grandes atrativos. Mesmo nos dias que correm, a teoria da relatividade geral de Einstein atrai muita
gente apenas pelo seu encanto estético (…).”
Thomas Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, Guerra e Paz, 2009, p. 214.
DOC. 4
É agora altura de notar que até estas últimas páginas o termo «verdade» só tinha aparecido
neste ensaio uma única vez, numa citação de Francis Bacon. (…) O processo de desenvolvimento
descrito neste ensaio é um processo evolutivo a partir de uma origem primitiva – um processo cujos
sucessivos estádios se caracterizam por uma compreensão da natureza cada vez mais detalhada e
sofisticada. Mas nada do que foi ou será dito faz dele um processo em vista de algo. Esta lacuna terá
de certeza perturbado muitos leitores. Todos nós estamos muito acostumados a ver a ciência como a
empresa que se acerca cada vez mais de um fim estabelecido antecipadamente pela natureza.
Thomas Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, Guerra e Paz, 2009, p. 230.
10. Concorda com a posição defendida por Kuhn relativamente à objetividade e progresso em
ciência? Responda fundamentadamente à questão colocada.
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Outras atividades do manual
Página 206.
Página 213.
Página 220.
Página 228 (Grupo II).
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