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A terceira tese diz que é tarefa fundamental de toda teoria do conhecimento esclarecer
as relações entre o aumento do conhecimento e o aumento da ignorância. A quarta
tese assevera que o conhecimento científico não começa com observações, mas sim
com problemas. Sem problemas, sem conhecimento científico. Porém, da mesma forma,
se não há ignorância, não há problemas. O problema nasce da consciência de que não
sabemos algo que julgávamos saber, pois nossas teses foram refutadas pela experiência
em algum momento.
Como todas as ciências, afirma a quinta tese, as ciências sociais serão bem-sucedidas
ou mal-sucedidas, interessantes ou desinteressantes, frutíferas ou infrutíferas na exata
proporção da importância ou do interesse dos problemas com os quais elas lidam e na
exata proporção da honestidade, franqueza e simplicidade com as quais esses
problemas são tratados. E isso vale tanto para problemas teóricos como para problemas
práticos. O ponto de partida é sempre um problema. As observações são valiosa na
medida em que mostram um problema nas teorias e expectativas aceitas,
conscientemente ou inconscientemente.
c) Se ela for refutada pela crítica, deve ser abandonada e outra tentativa deve ser
formulada em seu lugar;
e) Assim, o método científico se dá pela crítica severa das tentativas de solução a certos
problemas. É o método de tentativa e erro conscientemente desenvolvido;
A partir de tudo o que foi dito até aqui, conclui-se na sétima tese que a tensão entre
ignorância e conhecimento conduz à busca de soluções aos problemas. Todavia, essas
:
soluções são sempre tentativas, jamais definitivas. A única justificação do conhecimento
científico é a admissão de que, até o momento, certas teorias não foram refutadas.
Geralmente é ensinado aos cientistas sociais que a objetividade científica das ciências
naturais nasce de seu método: início da pesquisa com observações e medições,
generalização dos resultados por meio da indução, e posterior formulação de teorias
livres de quaisquer juízos valorativos. Essa compreensão naturalista ou cientificista das
ciências naturais é completamente errônea, afirma Popper. O seu erro está na confiança
nos métodos indutivos de inferência.
A oitava tese indica que mesmo as ciências sociais sofreram a influência dessa
perspectiva naturalista sobre o método científico. Isso é manifestado no modo como,
segundo Popper, após a Segunda Guerra, a antropologia, como um disciplina descritiva
aplicada, tomou o lugar da sociologia como a principal ciência social teorética. A nona
tese é a de que o objeto de uma ciência constitui-se de um conglomerado de problemas
e de soluções tentativas demarcado de forma artificial.
Na décima tese, Popper defende que a vitória da antropologia sobre a sociologia foi a
vitória de uma ciência pretensamente observacional e descritiva, com um método
alegadamente mais objetivo e que se aproxima do método das ciências naturais. É a
vitória de um método pseudocientífico. Com isso Popper não está negando o interesse e
as inúmeras descobertas da antropologia, mas somente pondo em questão a idéia
mesma de sua maior objetividade em comparação com as outras ciências sociais.
Para ilustrar a sua tese, o filósofo conta uma experiência pela qual passou em um
congresso que reuniu filósofos, biólogos, antropólogos e físicos. A certa altura do debate,
o antropólogo afirmou que não seguira o conteúdo da discussão até aquele momento,
mas tão somente o comportamento verbal dos participantes. Como antropólogo, afirmou,
sua visão era mais objetiva, pois havia testemunhado e observado muitos debates
daquele tipo e percebido que o que mais importa não é o assunto em debate ou os
argumentos apresentados a favor ou contra as teses, mas sim os rituais de verbalização
que conduzem os debates.
Houvesse ele ouvido com atenção os argumentos, perderia sua "objetividade", pois faria
juízos de valor acerca do que estava sendo dito e, por conseguinte, tornar-se-ia um dos
debatedores. Seu interesse, entretanto, não era na validade objetiva dos argumentos
apresentados e sim na dinâmica social que fazia com que certas pessoas ganhassem
influência sobre outras por conta do uso de certas palavras. Os argumentos são somente
um aspecto do comportamento verbal e distinguir uma argumentação válida de um
inválida é uma ilusão subjetivista, já que o que é considerado como válido ou não em
certos grupos depende do tempo.
Décima quarta tese: em uma discussão crítica, é possível distinguir (1) a questão da
verdade de uma asserção e (2) a questão da relevância, interesse e significado da
asserção para vários problemas extra-científicos como o bem-estar humano, a defesa
nacional, a expansão da indústria ou o enriquecimento pessoal. É impossível eliminar
esses fatores ou impedí-los de influenciar o curso da pesquisa científica. Há valores
puramente científicos (como verdade, relevância, interesse, significado, poder explicativo,
simplicidade e precisão) e valores extra-científicos, e, embora seja impossível evitar
totalmente a influência destes sobre a pesquisa científica, é dever da crítica científica
evitar a confusão entre as esferas de valores.
A ciência completamente pura pode ser um ideal inalcançável, mas deve ser perseguido
continuamente por meio da crítica. O cientista não pode ser destituído de seus valores
extra-científicos sem destituí-lo de sua humanidade. O cientista livre de paixão,
puramente objetivo e livre de valores dificilmente é um cientista ideal. Objetividade é
também um valor e a exigência de um cientista completamente apartado de valores é
incoerente. A exigência deve ser a de critica livre a fim de separar valores científicos de
valores extra-científicos.
A décima quinta tese afirma que a função mais importante da lógica dedutiva é ser um
órganon da crítica e a décima sexta tese afirma que a lógica dedutiva é a teoria da
validade das inferências, isto é, a dedução é a teoria da transmissão da verdade das
premissas à conclusão. Por isso, como faz a décima sétima tese, podemos afirmar que
se todas as premissas são verdadeiras em uma forma inferencial válida, então a
conclusão necessariamente será verdadeira. Mas também, por uma retransmissão da
falsidade da conclusão às premissas, podemos dizer que se uma conclusão e falsa,
então alguma das premissas é falsa.
A dedução lógica é a teoria da racionalidade crítica, diz a décima oitava tese, pois tudo
o que fazemos na crítica é identificar consequências inaceitáveis inferidas das teorias
que criticamos. A décima nona tese assevera que na ciência são utilizadas teorias e que
teorias são sistemas dedutivos que podem ser criticados por suas consequências lógicas.
A vigésima tese é a de que a idéia reguladora da verdade é indispensável à postura
crítica defendida até aqui. Só criticamos uma teoria por causa de sua pretensão à
verdade. E verdade é entendida nos termos definidos pelo lógico polonês Alfred Tarski: a
:
proposição é verdadeira se corresponde aos fatos enunciados por ela.
Vigésima primeira tese: não há teoria científica puramente observacional, seja nas
ciências naturais ou nas ciências sociais. A psicologia é uma ciência social, afirma a
vigésima segunda tese, pois pensamentos e ações dependem largamente das
condições sociais. Imitação, linguagem e família são idéias sociais, bem como a
psicologia do aprendizado e do pensamento não podem existir sem idéias sociais. Não é
possível explicar a sociedade em termos exclusivamente psicológicos. Assim, a
psicologia não pode ser a base das ciências sociais. A psicologia não pode explicar o
ambiente social.
Finalmente, a vigésima sétima tese afirma que a lógica situacional assume a existência
do mundo físico, com seus recursos e seus obstáculos, o mundo social, habitado por
:
pessoas cujos objetivos conhecemos algo, e instituições sociais. Estas determinam o
caráter peculiar de nosso ambiente social e consistem de todas as realidades sociais,
como lojas de doces, universidades, polícia, igrejas, casamentos, costumes e leis.
Popper, então, encerra a sua participação com uma sugestão. Poderíamos aceitar
provisoriamente que os problemas fundamentais de uma sociologia puramente teórica a
lógica situacional geral das tradições e das instituições. Isso conduz a dois problemas:
1) Instituições não agem. Somente indivíduos agem: nas instituições, para instituições ou
por meio delas. A lógica situacional geral dessas ações será uma teoria das quase-ações
das instituições;
2) É possível construir uma teoria das consequências institucionais pretendidas e não-
pretendidas das ações intencionais. Isso poderia conduzir à uma teoria da criação e do
desenvolvimento das instituições.
...
Leia também:
https://oleniski.blogspot.com/search/label/Karl%20Popper
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4 comentários:
Abraço!
Responder
:
João Paulo 15 de abril de 2020 às 00:50
Eu fiquei de honrado se eu pudesse manter algum tipo de contato com o Senhor seja pelo
Facebook ou pelo WhatsApp.
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