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Epistemologias e Educação – professora Maria Amélia Dalvi

Síntese para aula 5

BOLSHAW, 2015

Desde Aristóteles:

• Método como relação entre sujeito e objeto, por meio da qual se distingue o que é subjetivo e relativo a cada
um e o que é objetivo, geral, universal, comum a todos.
• Método científico é entendido como um conjunto de regras e procedimentos para produção do conhecimento
científico ou objetivo novo ou adicional.
• Epistemologia ciência (não seria ramo da filosofia?) que estuda a produção do conhecimento científico (regras
lógicas, problemas e relação com o contexto histórico-social).

Paradigma mecanicista-determinista:

• O universo é uma grande máquina que precisa ser descrita e explicada em suas regularidades e irregularidades.
• Racionalismo e empirismo se alternam, relacionam e complementam como movimentos, dimensões ou
possibilidades do “método científico” (concepção estrita – ou estreita - de ciência e de método).
• Racionalismo / Método Hipotético-Dedutivo (do geral para o particular): chega-se à verdade; dúvida sistemática;
método científico; 21 regras do método científico; 4 etapas: evidência, análise, síntese, enumeração /
classificação.
• Empirismo / Método Indutivo-Experimental (do particular ao geral): determinação das causas dos fenômenos a
partir da experimentação (observação, elaboração da experiência de modo que seja controlável, registrável e
repetível, teste, comparação, generalização).

Paradigma (neo)positivista:

• Acréscimo, ao método indutivo, da necessidade de verificação lógico-formal.


• Postura radicalmente antimetafísica.
Obs.: Antimetafísica opõe-se à metafísica. Metafísica: “Teoria filosófica que busca entender a realidade de modo
ontológico (natureza do ser), teológico (essência de Deus e da religião) ou suprassensível (além dos sentidos).
[Figurado] Teoria geral e abstrata; explicação filosófica: a metafísica da linguagem. Aristotelismo. Subdivisão da
filosofia, definida pela análise detalhada das realidades que se transpõem à experiência sensível, embasando
todas as ciências, através da investigação sobre a essência do ser; filosofia primária. Etimologia (origem da
palavra metafísica). Do latim metaphysica; pelo grego metaphysiká. [...] Citação: ‘O estudo da metafísica consiste
em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá.’ (Voltaire)” [...]. (Disponível em:
https://www.dicio.com.br/metafisica/. Acesso em 10 mai. 2023).
• Empirismo lógico, filosofia analítica.
Obs.: Empirismo: “[Filosofia] Doutrina filosófica que afirma ser o conhecimento resultado da experiência,
restringindo-se ao que pode ser apreendido através dos sentidos ou da introspecção, opondo-se ao racionalismo
e à metafísica. Comportamento da pessoa que se pauta em conhecimentos de ordem prática. Procedimento
médico que se baseia na experiência sem a utilização de metodologia científica. [Por Extensão] Pej. Dito ou
comportamento de charlatão (curandeiro); charlatanismo. Etimologia (origem da palavra empirismo). Do
francês empirisme”. (Disponível em: https://www.dicio.com.br/empirismo/. Acesso em 10 mai. 2023).
Empirismo lógico: “[...] união do empirismo (um enunciado é visto como ciência a partir de comprovações
experimentais) com o logicismo (um enunciado só é tido como válido se obtiver uma exata formulação lógica)”.
(Disponível em: https://eventoscientificos.ifsc.edu.br/index.php/sictsul/6-sict-sul/paper/download/2108/1826.
Acesso em 10 mai. 2023).
Filosofia analítica: Surge como proposta de superação da Filosofia Sintética no séc. XIX. Existiram distintas
correntes em seus inícios. Originariamente, grosso modo, entende que o objeto da filosofia seria o
esclarecimento lógico do pensamento e que o esclarecimento do pensamento só poderia ser atingido pela
análise da forma lógica das proposições filosóficas. Assim, recusa-se a produzir filosofia a partir de sistemas
filosóficos gerais, preferindo investigações mais restritas afirmadas com rigor ou utilizando a linguagem
ordinária. A Filosofia Analítica desenvolveu-se em duas correntes: o Empirismo (ou positivismo) lógico e a
Filosofia da linguagem ordinária. 1) O Positivismo lógico proclama rejeitar toda e qualquer metafísica (Círculo
de Viena, de corte neopositivista; suas teses foram proclamadas num manifesto, “Concepção científica do
mundo, de 1929). Com a Segunda Guerra Mundial, integrantes do Círculo de Viena fugiram para os Estados
Unidos, e da síntese de sua filosofia – o positivismo lógico – com a cultura americana nasceu uma nova corrente
filosófica, o chamado Pragmatismo ou Pragmatismo moderno. 2) A Filosofia Analítica desenvolvida
posteriormente será vista como um método de análise do significado das proposições da ciência; ou como uma
tentativa de se descrever alguns dos conceitos fundantes do nosso esquema conceitual: assim nasce a chamada
Filosofia da linguagem ordinária. Atualmente, ela é mais bem caracterizada por seu espírito científico (em
sentido amplo): os problemas filosóficos são tratados como questões factuais a serem resolvidas
argumentativamente. É muito comum o uso de ferramentas das ciências formais (como matemática,
computação, lógica) e resultados das ciências naturais (como física, biologia, neurociência, psicolinguística,
antropologia). Como prática filosófica, é caracterizada pela valorização da clareza e precisão argumentativa,
utilizando-se da lógica formal e da análise conceitual e, em alguns casos, recorrendo à formalização matemática.

EPISTEMOLOGIA RACIONALISTA - os fatos não são “descobertos”, mas a ciência se reformula para melhor compreendê-
los. A observação, a experiência e a experimentação não são mais a fonte de conhecimento por excelência; a ciência
explica os fatos formulando hipóteses (proposições) e sistemas de hipóteses (teorias) e sistemas de teorias, em um
processo cada vez mais abstrato. A observação, experiência e experimentação não desaparecem, mas o empirismo e o
método indutivo parecem superados.

Karl Popper, 1982:

• Apresenta-se como crítica ao (Neo)positivismo.


• Nem a verificação, nem a indução são suficientes para a construção da objetividade científica.
• Falseabilidade das hipóteses: não apenas tentar provar a correção de suas hipóteses, mas procurar evidências
de que ela esteja errada.
• Não é possível afirmar a veracidade de uma teoria pelo simples fato de que os resultados de uma previsão
teórica se verificaram. Outros elementos podem explicar esses resultados que não apenas a correção da teoria
e das hipóteses. Trata-se tão somente de uma teoria AINDA não negada ou contrariada pelos fatos. Uma teoria
científica pode ser falseada por uma única observação negativa, mas nenhuma quantidade de observações
positivas poderá garantir que a veracidade de uma teoria será eterna e imutável.

Imre Lakatos, 1993:

• A filosofia de Lakatos foi inspirada/provocada pela dialética de Hegel e de Marx, pela teoria do conhecimento
de Karl Popper.
• Programas de investigação científica podem ser progressivos (fazem avançar) ou regressivos (fazem recuar /
suspender) e são conjuntos de regras metodológicas a serem seguidas ela investigação (heurística positiva) e
rotas a serem evitadas (heurística negativa). São formados pelo núcleo duro (teoria principal, irrefutável) e
cinturão protetor (teorias correlatas, auxiliares).
• Lakatos, diferenciando de Popper, diz que teorias que possuem muito conteúdo corroborado em relação às
anteriores e que conseguem antecipar fatos sobrevivem e se mostram válidas.

Stephen Toulmin, 1977:

• As disciplinas ou programas de investigação são responsáveis pela transmissão intelectual intergeracional. Tais
disciplinas ou programas são formados por populações de conceitos com capacidade explicativa e por
populações de cientistas com ideais explicativos. A diferença entre a capacidade explicativa dos conceitos e o
desejo/ideal explicativo dos cientistas dá origem aos problemas científicos que levam a mudanças conceituais,
à solução de problemas e à identificação de outros. As disciplinas ou programas de investigação estão
continuamente se transformando por razões internas ou externas (sociais, políticas e econômicas).
• Rechaça tanto a tese de um único sistema lógico universal válido para todas as disciplinas e programas de
investigação quanto o relativismo de que cada disciplina ou programa forja conceitos e sistemas lógico-
proposicionais localmente soberanos.
CONTRACULTURA EPISTÊMICA- Com a teoria da relatividade, a mecânica quântica e outras descobertas da física teórica,
as teorias epistemológicas se tornam relativistas, sem pretensões à universalidade e põem a ênfase na sincronia (e não
na diacronia). Pluralismo cultural, democratização de saberes, saberes de diferentes locais e origens, superação do
etnocentrismo científico ocidental, outras formas de pensar o mundo. Relativismo.

• Simultaneidade do tempo e distribuição arqueológica dos saberes de forma espacial: Gaston Bachelard (sob
influência da psicanálise e fenomenologia, embora entenda a ciência como racional, critica o positivismo e o
neopositivismo e alinha-se ao construtivismo – não como teoria educacional, mas como teoria de que o
conhecimento é fruto de uma construção com obstáculos epistemológicos; o avanço da ciência ocorre quando
delimitamos, descrevemos e superamos esses obstáculos; o conhecimento científico é sempre a reforma de
uma ilusão) e Thomas Kuhn (oscilação entre períodos de ciência normal, no qual comunidade científica adere a
um mesmo sistema de pensamento ou paradigma; à medida que surgem paradoxos e anomalias, há crise
conceitual e rupturas teóricas, que impulsionam uma revolução científica e a instituição de um novo paradigma).
• Condicionamento estrutural externo, regras lógicas internas de cada disciplina: Umberto Maturana (a ciência
avança como permanente reformulação das experiências; o fazer do cientista está no cotidiano; objetividade
sem parênteses, onde a realidade independe do observador x objetividade entre parênteses, não nega a
existência da realidade, mas entende que podem existir tantas realidades quantos forem os domínios
operacionais).
• Anarquismo epistemológico: Paul Feyerband (defende a necessidade de violação das regras epistemológicas de
dos métodos, pois essa violação permite formular hipóteses que não “cabem” nas teorias aceitas a cada
momento; defende admitir alternativas incompatíveis, confrontar ideias de temporalidades diferentes, levar em
conta as discrepâncias entre hipóteses, observações e experimentos; defende o pluralismo de teorias; ciência
como empreendimento anárquico, resultante de um processo histórico, heterogêneo e complexo, misto de
fatores psicológicos e individuais, com econômicos, políticos e sociais).
• Pensamento sistêmico (Fritjof Capra), pensamento integral (Ken Wilber) e pensamento complexo (Edgar Morin):
o todo é indissociável, o estudo das partes não permite entender e articular o todo; não há um único universo
dividido em partes conexas, nem uma complexidade múltipla sem possibilidade de totalização ou síntese, mas
um Kosmo em que uma totalidade é parte de uma outra totalidade mais abrangente (castelo de conceitos;
combinação de diferentes teorias e modelos); reunificação transdisciplinar dos saberes, três operadores
epistemológicos-éticos: princípio dialógico (dualidade dentro da unidade) + recursividade organizacional
(causalidade circular de retroalimentação múltipla) + representação hologramática (o todo está contido em cada
parte e cada parte contém o todo).

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