Você está na página 1de 9

1

FACULDADE CATÓLICA DE FORTALEZA


FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA II – 23/02/23
PROFA. DRA. MARIA CELESTE DE SOUSA
UNIDADE II: HISTÓRIA DA FENOMENOLOGIA

Objetivo: compreender as razões que levaram Edmund Husserl a desenvolver


a ideia de Fenomenologia.

01-Introdução: a Fenomenologia e a Filosofia do século XX

A) Relação Filosofia e Ciência: Nos últimos anos do século XIX deu-se a


derrocada dos grandes sistemas filosóficos tradicionais com a crítica à filosofia
hegeliana, o declínio da filosofia de Schoupenhauer e o desconhecimentos das
filosofias de Marx, Freud e Nieztsche.

A Ciência ocupa o espaço vazio da Filosofia Especulativa e, sobre o seu


fundamento o positivismo, para o qual o conhecimento objetivo parece estar
definitivamente ao abrigo das construções subjetivas da metafísica. A
Psicologia e a Matemática se destacam. A matemática afasta-se das intuições
e criam sistemas formais, unindo em uma só suas diversas disciplinas. Ex.
Cantor e a teoria dos conjuntos. A Psicologia busca de acordo com a tendência
positivista, constituir-se como ciência exata conforme o modelo das ciências da
natureza, eliminando os aspectos subjetivos, aparentemente não científicos.

Crítica à Ciência: a partir de 1880, inicia-se um movimento de crítica à ciência:


suas leis são universais? “Neokantismo”, que pressupõe a ideia de uma
filosofia como reflexão. O que dizer do sujeito concreto em sua vida psíquica
imediata e em seu engajamento histórico que o pensamento objetivo não
consegue explicar? Dilthey e o Historicismo alemão. Os críticos ensaiam a
volta ao sentimento da Vida, que é mais fundamental do que os dados da
ciência. Ex: James (EUA) e Bergson (França), Fran Brentano (Alemanha)
analisam a corrente da consciência ou os dados imediatos da consciência,
dando início ao movimento da Filosofia científica.

B) Franz Brentano (1838- 1917) – professor na universidade de Viena frei


dominicano, visto como antecessor da fenomenologia e da analítica
heideggeriana. Reintroduz a noção de intencionalidade medieval no contexto
do século XIX. Sua preocupação foi fundar uma Psicologia como ciência
autônoma. Estuda Aristóteles e a Escolástica. Por sua crítica à infabilidade
papal perde o seu cargo de professor na universidade e se afasta da Igreja.
Obra: Psicologia do ponto de vista empírico (1874) e sua psicologia descritiva
(1905) – Ele afirma o caráter intencional da consciência.

Sua importância no século XIX: participa do movimento de reação ao Idealismo


alemão. Ligado à Filosofia científica. Tenta reatar o vínculo positivo da filosofia
com a ciência em reação à especulação hegeliana. Exigência de um objeto e
de um método próprios à filosofia. Foge ao Psicologismo como método da
Psicologia. Crítico do relativismo adere ao realismo. Do seu método psicológico
2

surge o movimento fenomenólogo Enquanto ciência a filosofia não é uma


questão de originalidade, mas de verdade.

Adere à filosofia de Aristóteles rompendo com alguns pontos. É influenciado


pelo empirismo de Stuart Mill e o positivismo de Comte, especialmente em um
ponto comum, isto é, o caráter antiespeculativo, em defesa da clareza e
precisão conceitual, adesão à experiência e uma aspiração científica. O grande
ausente é Kant. Qualquer Idealismo é um desvio de princípio.

Brentano está na origem da filosofia contemporânea em sua duas grandes


vertentes do século XX: a Fenomenologia e a Filosofia Analítica que nascem
de fontes não muitos distantes e desaguam em universos diferentes. Para
Russel, Moore e Frege, bem como Husserl e Heidegger a filosofia de Brentano
é essencial.

C) A influência de Brentano em Edmundo Husserl - lógico e matemático


Husserl abandona o estudo da Matemática em 1884 e volta-se para a Filosofia,
com intento de resolver o problema entre Ciência e Filosofia. Ele encontra-se
com Franz Brentano, um psicólogo aristotélico, que estudava os diversos
sentidos dos entes e busca reatar as relações entre Filosofia e Ciência, lutando
por uma filosofia científica em contraposição ao Idealismo e ao Materialismo.
Ele compreende que a Filosofias como ciência deva se constituir sobre a base
do método psicológico, mas que não se reduza à mera descrição de eventos
psíquicos, mas que ela deve relacionar-se com a ontologia, a lógica e a
semântica. Na obra Psicologia do ponto de vista empírico propõe um novo
método de conhecimento do psiquismo. Ele distingue os fenômenos psíquicos
que compõem uma intencionalidade, a visada de um objeto, dos fenômenos
físicos. Afirma que estes fenômenos podem ser percebidos e que o modo de
percepção original que deles temos constitui o seu conhecimento fundamental.
Afirma que ninguém pode duvidar de que o estado psíquico que em si mesmo
percebe não existe e não existe tal como o percebe.

Segundo Mário Ariel Porta, este argumento é forte, já que a descrição do


fenômeno tal como ele é, obedece as exigências do positivismo reinante, que
exclui todo conhecimento que não venha da experiência e permite, e, por outro
lado, aceder ao concreto e à vida, que a ciência tinha a tendência a esquecer.
A exploração dos campos da consciência e dos modos de relação ao objeto da
escola de Brentano delimita o que se tornará o campo da análise da
Fenomenologia de Husserl.

Brentano e sua escola fica, porém, na descrição dos fenômenos psíquicos e


não responde às questões fundamentais de Husserl: poderá um conceito lógico
ou matemático, como um número, se reduzir à operação mental que o constitui,
por exemplo, a numeração? E se ele não se reduz a isto, não será o estudo da
operação mental mais do que uma simples descrição do psiquismo?

Husserl em 1884 abandona as matemáticas para se dedicar a estas questões.


Ele entra em contato com Franz Brentano (Psicologia do ponto de vista
empírico) e percebe a novidade contida na Filosofia de Brentano na proposta
de um novo método para o conhecimento empírico da Psicologia. Brentano
3

distingue: 1) os fenômenos psíquicos que comportam uma Intencionalidade –


(a visada de um objeto) dos fenômenos físicos, este fenômenos podem ser
percebidos e a forma original da percepção que o sujeito tem deles constitui o
seu conhecimento fundamental. Ele afirma: “ Ninguém pode duvidar que o
estado psíquico que em si mesmo percebe não existe e não existe tal como o
percebe.”

Husserl percebeu que a descrição do fenômeno tal qual ele é, obedece às


exigências do positivismo reinante, que exclui todo conhecimento que não
venha da experiência, todavia, a posição de Brentano permite, por outro lado,
aceder ao concreto e à vida que a ciência tinha a tendência de esquecer. Por
conseguinte, a exploração do campo da consciência e dos modos de relação
desta com o objeto que Brentano persegue, delimitará o campo de análise da
Fenomenologia de Husserl. Como a escola de Brentano fica na descrição dos
fenômenos psíquicos, e não avança para questões fundamentais de Husserl,
como: 1) Poderá um conceito lógico ou matemático, como um número, se
reduzir à operação mental que o constitui, por exemplo, a numeração? E se ele
não se reduz a isto 2) não será o estudo da operação mental mais que uma
simples descrição do psiquismo? Husserl se sente motivado a responder
filosoficamente estas questões com a construção de seu método
fenomenológico.

Segundo Urbano Zilles “Panorama das Filosofias do século XX”, no final do


século XIX o impulso transformador não parte da Razão (Hegel), nem da Moral
(Kant), mas da luta de classes (Marx) da Vontade Cega (Schoupenhauer) ou
da Vontade de Poder (Nietzsche). Auguste Comte já tinha declarado guerra à
metafísica em prol do Positivismo científico e os neokantianos, p.e. Ernst
Cassirer reduziram a filosofia à teoria do conhecimento e a aspectos lógicos e
epistemológicos.

Na virada do século surge a Filosofia da Vida. Henri Bergson elaborou uma


teoria da autoexperiência da vida, Dilthey tematiza a significação da
subjetividade e da experiência da vida. Edmundo Husserl cria Fenomenologia.

D) Evolução no pensamento de Husserl:


1- Momento Psicológico- 1900 (Investigações Lógicas I)- Refutação ao
Psicologismo na Lógica. Pensamento e conhecimento não se funda na
Psicologia.
2- Momento Formal-Lógico: 1901- Descrição dos Atos básicos para a
edificação do conhecimento, supunha uma psicologia. Nem lógica? E nem
psicologia?
3- Momento constitutivo transcendental 1907: crise existencial: tarefa de ser um
filósofo. A Ideia da Fenomenologia.
4- Momento de metafísica da consciência: 1913: Ideias para uma
fenomenologia pura e filosofia fenomenológica: A fenomenologia pura é a
ciência básica da filosofia. Pura: significa fenomenologia transcendental.
Transcendental: tem como ponto de partida a subjetividade do sujeito que
conhece, age e valora. Subjetividade e transcendental: modernidade- mas com
uma determinação mais originária e universal através da Fenomenologia=
descrever as vivências da consciência- na exploração da estrutura dos Atos de
4

Vivência a exploração dos objetos vivenciados nos Atos sob o ponto de vista
de sua objetividade.
5- Momento histórico-crítico: Filosofia na crise da Humanidade Européia. 1935.
1936: A crise das Ciências filosóficas e a Fenomenologia Transcendental: uma
introdução à Filosofia Fenomenológica. – a ciência é uma parte integrante da
origem e do destino da humanidade europeia. Não é uma crise epistemológica,
mas espiritual e existencial- pela europeização- crise da humanidade universal.
É preciso Escolher e Decisão: qual o sentido? Qual a ideia de ciência? Qual a
ideia de ciência como razão filosófica? É uma autorreflexão sobre o êxito
galopante das ciências positivas. As ciências perderam rapidamente o seu
fundamento de sentido. Qual o sentido da história? A Fenomenologia
Transcendental: quer fornecer os meios para uma reflexão e uma
responsabilidade integrais pelo significado da humanidade que domina e usa a
técnica.

02- Husserl e a Ideia de Fenomenologia

a) Etimologia: estudo ou ciência do fenômeno. Como tudo o que aparece é


fenômeno, seu campo é ilimitado.

b) História: A história do termo limita-lhe o sentido e configura um momento na


história da filosofia. O primeiro texto em que figura este termo é o “Novo
Órganon” de J. H.Lambert (1764)-teoria da ilusão sobre as suas diferentes
formas. Kant influenciado por Lambert a chama de fenomenologia geral
propedêutica à metafísica. Ela está presente na “Crítica da Razão Pura” (1791)
sob o nome de Estética Transcendental – investigação da estrutura do sujeito e
das funções do espírito e se dá por tarefa circunscrever o domínio do aparecer
ou “fenômeno”. O conhecimento não pode conhecer o ser ou o absoluto. Hegel
escreve uma “Fenomenologia do Espírito” (1807). Ele muda as relações entre
Ser e Fenômeno. O absoluto sendo cognoscível pode ser qualificável como SI
ou como Espírito, de forma que a fenomenologia é de imediato uma
fenomenologia do Espírito. O absoluto não está fora da história humana, mas
se faz presente em cada momento dessa experiência, seja ela religiosa,
estética, jurídica, política ou prática. O Trágico, o Negativo é o motor do
movimento da história, sem as quais o Espírito não poderia se enriquecer com
suas figuras ou manifestações. A fenomenologia é uma propedêutica à
ontologia, ciência sistemática do ser, ela revela o material ao filósofo que deve
pensar sua ordem oculta e dizer sua significação absoluta.

c) E. Husserl é o fundador da Fenomenologia enquanto movimento filosófico


no século XX. Kant concebe o Ser e limita a pretensão do Fenômeno, ao
mesmo tempo em que ele permanece fora de seu alcance. Hegel O Fenômeno
é reabsorvido num conhecimento sistemático do Ser Husserl: Terceira via. O
Fenômeno é Ser (ontologia). Fenomenologia é ciência do Ser. Daí o seu rigor.
Ela não é mais uma apresentação popular de opiniões de convicções, mas tem
uma perspectiva filosófica. Não basta descrever um objeto qualquer. É uma
Ideia de Fenomenologia inovadora.

Husserl aos 70 anos rememorando o seu processo filosófico afirma: Aos 70


anos afirma Husserl: “Talvez a filosofia não seja, com efeito, senão a busca do
5

seu fundamento, do “terreno absoluto” sobre a qual ela poderia enfim,


seriamente começar.”

Em 1907 – passa por uma crise de ceticismo e escreve as Cinco Lições sobre
a Ideia da Fenomenologia. À superação da psicologia descritiva de Brentano,
Husserl chama de Fenomenologia – a vida psíquica é um dado imediato que
não exige reconstrução, só descrição. Nós explicamos a natureza, mas
compreendemos a vida psíquica. Como admitir que se possa calcular sobre a
sensação, a percepção e a memória? Isto exige um outro procedimento,
Husserl rejeita o naturalismo destas ciências.

Segundo André Dartigues, Husserl propõe uma via média entre dois escolhos:
como pensar segundo a sua natureza e em cada uma de suas nuanças – e,
portanto, sem jamais ultrapassá-los – os dados da experiência em sua
totalidade? Todo o fenômeno e nada mais que o fenômeno, se poderia dizer. O
fenômeno está penetrado no pensamento, de logos e que por sua vez o logos
se expõe e só se expõe no fenômeno. – Somente assim é possível uma
fenomenologia.

Se o Fenômeno não é construído, mas acessível a todos, o pensamento


racional, o Logos, deve sê-lo também. – Filosofia Nova: uma filosofia rigorosa,
não pautado nas opiniões dos filósofos, mas na Realidade.- nasce de um solo
de uma experiência comum.

d) Recomeço e Retorno às coisas mesmas- Entre o discurso especulativo da


metafísica e o raciocínio das ciências positivas, uma terceira via: antes de
todo raciocínio, nos colocaria no mesmo plano da realidade – COISAS
MESMAS! Esta via foi iniciada por Descartes que coloca como fundamento o
Eu penso. Intuição originária. Mas ele age de tal forma que as outras intuições
são duvidosas e recorre a Deus para garantir a sua verdade.
O discurso filosófico deve sempre em contato com a intuição-fonte de direito
para o conhecimento. Husserl chama de princípio dos princípios- voltar às
coisas mesmas! Isto não significa afundar-se nas impressões sensíveis como
Hume, pois se é verdade que os fenômenos se dão a nós por intermédio dos
sentidos, ele se dá sempre como dotados de um sentido ou de uma essência.
Para além dos sentidos, a intuição da essência.

e) A intuição das essências: o fenômeno é logos. Visão das essências não é


contemplação mística, mas ressaltar que o sentido do fenômeno lhe é
imanente e pode ser percebido de alguma maneira por transparência.
Tradicionalmente a essência responde à questão: o que é que é? – O
fenômeno não pode ser reduzido a sua simples função de fato, ele nele é
sempre visado um sentido. Ex: a Nona sinfonia. A sua essência permanece
independente das partituras, do regente e dos músicos, como pura
possibilidade que me permite distingui-la de outra sinfonia. A intuição da
essência difere da percepção de fato, ela é a visão do sentido ideal que
atribuímos ao fato materialmente percebido e que nos permite identifica-lo.
A essência é sempre idêntica a si mesma, não importando as circunstâncias
contingentes de sua realização.. Ex: apesar dos diferente triângulos, é sempre
o mesmo triângulo que se trata. Esta identidade da essência consigo mesma,
6

ou seja, a impossibilidade. De ser outra coisa que o que é. Caráter de


necessidade que se opõe à facticidade. Mas de que há essências?

f) Há uma essência de cada objeto que percebemos: árvore, mesa, casa, etc.
e das qualidades que atribuímos a estes objetos verde, rugoso, confortável,
mas se a essência não é a coisa ou a qualidade, se ela é somente o SER da
coisa ou da qualidade, isto é, um puro sensível para cuja definição a existência
não entra em conta, poderá haver tantas essências quantas significações
nosso espírito é capaz de produzir. Isto é tantos quantos objetos nossa
percepção, nossa memória, nossa imaginação, nosso pensamento podem se
dar. As essências constituem como que a armadura inteligível do ser, tendo
sua estrutura e suas leis próprias.
Elas são a racionalidade imanente do ser, o sentido a priori no qual se deve
entrar todo mundo real e possível.

g) Tarefa da fenomenologia: elucidar esse puro reino das essências, segundo


os diversos domínios ou regiões: “natureza” – fenômenos reais ou possíveis.
“Consciência” compreendendo “Espírito” – compreendendo os fenômenos que
tratam as ciências humanas. “Consciência” compreendendo todos os atos da
consciência – sem os quais, como teremos a dizer, nenhum acesso nos teria
dado às outras regiões. È possível assim alcançar uma compreensão a priori
do ser, independente da experiência efetiva, sem com isto abandonar a
intuição, já que a intuição das essências é a intuição de possibilidades puras. É
ao mesmo tempo possível ter um conhecimento a priori dos diferentes
domínios aos quais se aplicam as ciências experimentais, portanto, saber de
antemão o que é o objeto de que vão tratar. Pode-se assim conceber que elas
sejam precedidas e acompanhadas em seu trabalho por ciências de essências,
ou ciências eidéticas.

03- compreendendo os conceitos husserlianos:


Fenomenologia: ciência descritiva das essências da consciência e de seus
atos. É um método de evidenciação.

Intuição das Essências: percepção do sentido da experiência= Fenômeno-


compreensão da vivência intencional. – Investigação eidética (Eidos) A
fundação é uma relação significativa. Fonte originária do verdadeiro
conhecimento (abandona todos os saberes anteriores) para se fixar nas coisas
e nos seus problemas de forma imediata. Fica nos objetos ideais. Ex: a
orquestra. Onde se situam as essências? No mundo inteligível ou no mundo
sensível? (Platão). Na Consciência, diz Husserl.

Intencionalidade: Intentio: dirigir-se a... consciência de alguma coisa.


Consciência é Ato Intencional – objeto-para-um-sujeito.
Não há Essência................. Há ATO DE CONSCIÊNCIA......... Não há objeto.
Tudo o que existe é Fenômeno e só existe em Fenômeno: presença real de
coisas reais na consciência. Busca os elementos constitutivos e suas leis.
A Intencionalidade não é uma representação na vivência mental, mas uma
afirmação de validade, normativamente orientada, estrutura normativa ou
inferencial e não psíquica. Ao analisar os atos cognitivos ela visa a essência e
suas relações essenciais. É uma ciência eidética e não factual.
7

É Ato de Consciência: dinamismo do espírito que dá ao mundo o seu sentido


– correlação entre consciência e objeto. Fenômeno= vivência intencional.
Original: a percepção da “Coisa Mesma”.

A análise intencional quer perceber como aí se produz o sentido dos


fenômenos e desse fenômeno global que se chama mundo. Distender o
conteúdo da consciência para fazer aparecer os seus fios complexos. Ex: vejo ,
imagino, idealizo e lembro a árvore. A árvore percebida não existe- senão
enquanto percebida ou por meio da união ideal de todos os elementos
sensíveis. A realidade, a exterioridade, a existência do objeto percebido e o
próprio objeto dependem da estrutura da consciência intencional.

A Consciência – é uma atividade constituída por atos: Percepção, Imaginação,


Volição, Paixão, etc visando algo. O Percebido, o Imaginado, o Desejado, etc.

É uma estrutura normativa: a relação entre os atos não podem ser em termos
causais, mas funções de sentido (Sinn) – ato de preenchimento entre o
percebedor e o percebido – a Evidência: autoapresentação da coisa mesma.
O seu dar-se de acordo com o seu tipo = hierarquia intencional e teleológica
entre os níveis do conhecimento, ele tende para um fundamento apodítico e
necessário.

Etapas do método fenomenológico:

1.Teoria da Epoqué: suspensão de juízo dos elementos naturais. Abster-se de


julgar “por entre parênteses” o objeto. Visa à esfera da correlação intencional
entre ATO (NOESE) e OBJETO (NOEMA). Diferença entre: Imanente e
Transcendente.

2.Teoria da Redução: mudança de atitude na análise do Fenômeno Puro.


- Redução Fenomenológica: passagem do fenômeno empírico ou
existencial à sua essência. Suspende a crença no mundo exterior e se coloca
numa atitude transcendental, condição de aparição desse mundo e doadora do
mundo.
- Redução eidética: transição da atitude natural (fatos) para atitude eidética
(essencial), em busca dos objetos gerais intuitivos. Não se trata de comparar e
concluir, mas de reduzir, purificar o fenômeno. NNão nega o objeto natural e
nem coincide com ele. Fixa-se na essência da vivência – análise mental –
dando-lhe a certeza de ser impossível pensar de outro jeito – define-se a
essência dos objetos da espécie. A essência é o sentido ideal do objeto
produzido pela atividade da consciência. É um esforço do pensamento (Noese)
em busca do sentido ou do ser fundamental do Fenômeno, a verdade
universal.

-redução transcendental –consciência do mundo como fenômeno puro.


Suspensão do caráter existencial do sujeito cognoscente e de seus atos
psicológicos – Eu absoluto, apodítico, apreensão em si mesma do caráter
absoluto, cuja existência não pode ser contestada – o imediato das coisas –
8

Fenômeno – objeto intencional. Puro aparecer do ser. Reflexão sobre o ato


estrutural em suas formas constitutivas, ou estruturas transcendentais:

1-Noese (Ato Conhecedor) – atividade da consciência. Parte do Eu e informa


os “dados materiais” em ordem à constituição ou designação do objeto como
puramente significado na e para a consciência. É uma vivência subjetiva: o
Perceber, o Imaginar, o Lembrar, o querer, etc. ),

2-Noema (Ato conhecido - Significado) projeção dos dados para designação


do objeto – vivência objetiva, é o ato considerado pela reflexão em seus
diversos modos de ser dado. EX: O percebido, o Recordado, o Imaginado, etc.

3- Hylé (matéria) é o complexo dos predicados e dos modos de ser dados


pela experiência. Ex: Arvore verde, iluminada, alta, etc.

É a consciência-enquanto-consciência, compreensão de que o voltar-se para o


objeto consiste na interação de três elementos:
1. a experiência estruturadora do Ato: a Noese;
2. a estrutura correlata dada no Ato- Noema;
3. As experiências supridoras e restritivas – Hylé.

A consciência reflete sobre si mesma – Ego cogito cogitatum: Eu pensão


o pensamento – vivência intencional. Perceber é perceber algo. Julgar é
julgar algo. Valorar é valorar algo.

PARA APROFUNDAR
DARTIGUES, André. O que é a Fenomenologia? Editora Moraes, 1992.
PORTA, Mario Ariel G., Brentano e a sua escola. Edições Loyola, 2014.
GILES, Thomas Ransom, História do Existencialismo e da Fenomenologia.
E.P.U,2008.
HUSSERL, Edmund, A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia
Transcendental – Introdução à Filosofia Fenomenológica. Editora Forense Ltda.
1992.
9

Você também pode gostar