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2 Aula

1parte:- Psicologia como projeto científico


plural (“O que é a psicologia Canguilhem?)

Objetivos: fornecer estratégias para o entendimento dos diversos


projetos catalogados por Canguilhem, observando:
- Quais são as finalidades e objetos dos diferentes projetos,

-Quais as críticas que Canguilhem dirige a alguns desses projetos.


1-Estratégias de leitura do texto.
 Observar os diferentes sentidos doados à psicologia (ciência da alma, da subjetividade, do
comportamento).
 Ligar esses sentidos ao:
A) Período histórico em que seus objetos são delineados (ciência biológica da alma-
Antiquidade, ciência da subjetividade, século XVII, emergência da ciência moderna; ciência
do comportamento, século XIX, desenvolvimentos industriais).
B) Contexto em que aparecem: como outras disciplinas e demandas sociais convocam o estudo
de certos problemas, ditos “psicológicos”.
2-Como Canguilhem converte a questão “O que é a psicologia?”
em “Onde querem chegar os psicólogos fazendo o que fazem?”

 1 passo: Apontando a insuficiência das tentativas de unificação da psicologia,


usando como exemplo a “teoria geral da conduta” (Daniel Laguache).
 2 passo: Implicá-la pelo espanto filosófico diante do fato de haver um ser vivo
que é capaz de pensar sobre a própria vida- como podemos separar as sociedades
humanas das animais?
 3: Apontar finalidades diferentes dos projetos de psicologia, com objetos e
métodos distintos que convivem sem que um refute o outro.
Da questão “O que é a psicologia?” à questão “Onde
querem chegar os psicólogos fazendo o que fazem?”

 Primeiro Projeto: “Psicologia como ciência natural”

 1.1 Tal psicologia é denominada por Canguilhem como “ciência natural” é a que remonta a
um passado mais remoto (Aristóteles- 384-322, A. C./ Galeno- 129 d.c.- 217).
 Corresponde a dois sentidos mais recentes: a de matriz Aristotélica leva aos primeiro
tratados onde a palavra “psicologia” aparece no século XVI, e a um sentido mais
contemporâneo, ligado à psicopatologia e psicofisiologia ligados ao estudo do cérebro, no
século XIX.
 Em um primeiro sentido, o homem pode pensar, conhecer, sentir, falar porque é uma forma
do mundo natural (sentido do século XVI da palavra psicologia, derivada da Filosofia
Aristotélica), no segundo, o homem pode pensar, conhecer, sentir, falar devido ao
funcionamento de seu sistema nervoso)
Primeiro projeto: psicologia como ciência
natural
 A ideia de homem que provém da matriz Aristotélica estuda a alma, como forma viva
pertencente ao mundo físico, capaz de conhecer outras formas (causas da realidade,
forma= causa final que promove o crescimento dos seres em determinada direção).

 Trata-se de uma ideia de homem que se liga às coisas através da contemplação das formas
que organizam a realidade.

 A ideia de homem que provém da matriz Galeniana concebe as faculdades da alma


(frenologia de Gall/ localização da fala em Broca) como efeito do funcionamento cerebral.
2 Projeto: Psicologia como ciência da
subjetividade
 Todos os ramos desse projeto (ciência do sentido externo, ciência do sentido interno e ciência do
sentido íntimo) derivam de uma modificação na compreensão da relação entre mundo objetivo e
mundo subjetivo.
 A Física moderna começa, criticando a noção de causa final aristotélica, separa a mente da natureza.
 Em função do reconhecimento astronômico dos erros perceptivos (O que a percepção mostra do
movimento celeste é desmentido pelos cálculos astronômicos), o erro da observação é remetido a
uma propensão do espírito a errar.

Galileu (1564-1642): refutação do geocentrismo.


2.1 A ciência do sentido externo

 Sujeito psicológico é equivalente ao erro do conhecimento provocado pela percepção. Esse


sujeito é oposto a um conhecimento destituído de qualidades projetadas sobre o mundo
físico.
 O projeto de psicologia que surge aqui remete esses erros a um processo neurofisiológico,
no qual os estímulos físicos são transformados em excitações nervosas e convertidas em
sensações.
 O estudo desse circuito faz nascer o projeto de psicologia como ciência do sentido externo.
 Psicologia aqui tem sentido de um estudo psicofísico, ou seja, das constância entre as
variações dos sentidos externos e variações dos estímulos físicos.
 Sua finalidade é explicar à física porque a percepção engana a razão.
2.2 A ciência do sentido interno.

 Trata-se de um novo sentido para a palavra psicologia que emerge no século XVIII, na
obra do filósofo alemão Wolff. Tal sentido é o de um conhecimento direto de si mesmo.
 Canguilhem remete o projeto de Wolff às meditações cartesianas que visavam um
conhecimento imediato da alma, tomada como primeiro fundamento da existência da
realidade (se eu duvido, ainda que de tudo, o ato de pensar está presente em todo processo
de duvidar, logo o Eu pensante é a primeira realidade irrefutável).
 Esse projeto teria esvaziado de sentido pela crítica de diversos autores à possibilidade de
realizar a auto-observação ou introspecção. Autores como Comte afirmam que é
impossível pensar sobre si sem modificar o estado em que nos encontramos.
 Porém, cabe notar que a introspecção foi um método muito praticado nos primeiros
laboratórios de psicologia alemães e alguns norte-americanos.
2.3- A psicologia como ciência do sentido
íntimo
 Tal projeto tem por finalidade o conhecimento do que existe em nós que não podemos
conhecer. O objeto dessa vertente é dar conta do psiquismo em sentido abrangente,
desvinculando o mental da esfera única da consciência.
 Segundo Canguilhem, A filosofia de Maine de Biran é um ponto de apoio importante para
o projeto, estabelecendo o fundamento do eu, não no eu penso, mas no eu quero- um
cogito muscular, onde o eu se aprende a partir dos esforços de se expandir no mundo.
 Esse projeto culmina na inversão do projeto de psicologia como estudo da influência do
corpo sobre a mente (Galeno, o cérebro é a causa do pensamento) para uma
psicossomática, na qual Freud estabelece alguns princípios no estudo dos sintomas
histéricos como representação simbólica do sofrimento.
3- Psicologia como estudo do comportamento

 Esse projeto advém da aproximação da psicologia com a biologia filosoficamente em


Maine de Biran (que dá limites a esse projeto situando a dimensão humana entre o
espiritual e o mecânico), do surgimento dos estudos das relações do condicionamento da
vida animal pelo meio, e do contexto sócio-técnico de expansão industrial.
 Canguilhem destaca nesse projeto, o perigo das práticas de avaliação, que reduzem, através
dos estudos das leis de aprendizagem e da adaptação, o psicólogo a um avaliador que mede
capacidades.
 Esse projeto tende a uma instrumentalização do homem medido e do homem que mede,
sem que se pergunte sobre o valor da instrumentalidade: A que serve essa tarefa, a quem os
psicólogos atendem em um crescente processo de industrialização?
Conclusão

 Frase final do texto:


“Quando se sai da Sorbonne pela rua Saint Jacques, pode-se subir ou descer; se vamos
subindo, aproximamo-nos do Panthéon, que é o conservatório de Grandes Homens, mas se
vamos descendo, dirigimo-nos com certeza para a Chefatura da Polícia”
Grande dualidade da psicologia: técnica de adaptação desvinculada de uma reflexão sobre
valores ou reflexão sobre seus impasses e pluralidade de seus projetos, conduzindo a uma certa
arte da prudência: “não desvincular o homem de sua fala, de seu saber sobre si e os outros”.
2 parte: Arqueologia e Genealogia das ciências
humanas (Michel Foucault)- introdução
Histórias das ciências humanas: saber e poder
 Ao contrário de Canguilhem, estudioso das ciências da vida, Foucault é um estudioso das
ciências humanas.
 As relações entre os autores são estreitas: Canguilhem colabora na orientação de Foucault
acerca da emergência da loucura no quadro dos saberes e instituições do século XIX como
doença mental.
 Foucault absorve alguns temas e abordagens do seu mestre: o problema da normatização
vital e do envolvimento da medicina com as ciências do homem.
 Há, porém uma diferença considerável do tratamento da norma na obra dos autores.
Enquanto Canguilhem, aborda os saberes da vida em continuidade com a normatividade
vital do organismo, no qual para agir é necessário localizar, Foucault rejeita essa
continuidade.
Histórias das ciências humanas: saber e poder

 Razões para o afastamento em relação a abordagem vitalista (pautada na determinação


específica do que define a vida) de Canguilhem:
 As instituições médicas formam um meio mais denso, pleno de interações, de forma que
não pode ser comparado a um ambiente natural.
 Foucault considera a distinção entre mundo natural e mundo cultural mais intensa do que
Canguilhem, considera as classificações biomédicas como formações discursivas, que
delimitam seus objetos.
Histórias das ciências humanas: saber e poder

 Continuidade em relação a Canguilhem: a História das ciências deve partir de


problemáticas do presente, o passado é sempre um horizonte reconstruído à distância.
 A problemática da norma em Foucault resgata um aspecto abordado por Canguilhem, esta
surge em um momento em que as diferenças entre os indivíduos anômalos passam a ser
entendidos em termos de aumento ou diminuição de grau de uma função normal.
 Foucault interpreta essa proximidade quantitativa do normal em relação ao patológico
como fruto de uma tecnologia de poder que se introduz através de avaliações realizadas em
instituições, como escola, fábricas, quartéis.
 A norma acumula um valor e uma medida, é moral e objetiva ao mesmo tempo, daí
funcionar como uma espécie de poder no interior das ciências.

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