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TEORIA PSICANALITICA

MÓDULO 1 : NASCIMENTO DA PSICANÁLISE / PRIMÓRDIOS DA


PSICANÁLISE

TEORIA PSICANALÍTICA

MÓDULO 1
O nascimento da Psicanálise e a constituição de seu objeto de estudo.
A insuficiência do modelo médico no tratamento da histeria.
Os primórdios da psicanálise – do trauma à fantasia, da hipnose à
associação livre e da catarse à elaboração psíquica.

Bibligrafia:
BRENNER, C. Duas hipóteses fundamentais. In: Noções Básicas de
Psicanálise. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1975.
FREUD, S. História do Movimento Psicanalítico (1914). In: Obras
Completas de S. Freud. (volume XIV) Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda,
1969.
______. Cinco Lições de Psicanálise: Primeira Lição (1912). In: Obras
Completas de S. Freud (volume XI), Rio de Janeiro: Imago Editora
Ltda.GAY, P. Freud, uma vida para nosso tempo.São Paulo: Companhia
das Letras, 1989.
QUINODOZ, J. M. Ler Freud: guia de leitura da obra de S. Freud. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro:
Ed. Jorge Zahar, 1998.
______. A sociedade depressiva. In: Por que a psicanálise? São Paulo:
Jorge Zahar Editor, 2000.

A Psicanálise constitui-se como um método de investigação dos processos


inconscientes e foi criada no final do século XIX por Sigmund Freud. A
construção, história e percurso desta teoria se mantêm ligada à vida de

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Freud, já que foi este neurologista austríaco o responsável por sua invenção
e desenvolvimento (QUINODOZ, 2007).
Sua origem é decorrente de um momento histórico e social em que as
circunstâncias permitiram o surgimento de uma teoria e de uma prática que
tentasse abarcar os aspectos especificamente psicológicos de
determinados fenômenos, dada a insuficiência de outras tentativas para
explicá-los, ou seja, os fenômenos da conversão histérica representavam
um desafio à ciência, já que a medicina não conseguia explicar sua origem,
sendo de extrema importância compreender e tratar os fenômenos
psicopatológicos.

E, se estamos aqui fazendo uma constante ligação entre fenômenos


históricos, sociais, culturais e psicológicos, há que se tomar como ponto
pacífico o fato de a histeria, ou mesmo qualquer afecção, não ser
considerada como um suposto mau funcionamento de um organismo,
tomado isoladamente (é justamente de uma perspectiva organicista que se
pretende distanciar-se). As oposições ou divergências entre um mundo
interno (objeto de estudo da Psicanálise) e um externo não se restringem a
buscar um argumento que justifique e comprove a supremacia de um sobre
o outro, como em certas disputas estéreis sobre o que determinaria a vida
humana: o dado objetivo ou o subjetivo.
O que se propõe aqui para pensar a questão da constituição de um
conhecimento (investigação e tratamento) que tem como objeto o mundo
interno será talvez algo mais próximo de uma constante reflexão, dado que
no que diz respeito à condição humana o objeto, ao ser apreendido pela
percepção, é transformado em realidade vivida subjetivamente e seria
necessário elucidar que processos e elementos psíquicos estão em jogo
nesta transformação. O que se coloca como ponto de partida para as
investigações psicanalíticas é a ausência de uma compreensão dos
aspectos especificamente psíquicos que permeiam a relação sujeito/objeto
(ROUDINESCO, 2000).

A histeria faz parte de um grupo de acepções que estão diretamente ligadas


ao nascimento da Psicanálise, pois a investigação e o tratamento deste tipo
de neurose, a partir de uma compreensão dos fatores psíquicos, foi o ponto
de partida de Freud na construção de um arcabouço teórico que permitisse
escutar as histéricas para além dos sintomas que tanto alarde causavam.
Pela escuta das histéricas, Freud criou a psicanálise e desenvolveu a teoria
que a sustenta, por meio de uma prática clínica que vai delineando seu
método terapêutico e, assim, define sua ética.

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Ao pensar a questão do mundo interno estamos às voltas com o problema
da dicotomia sujeito/objeto, que é tema ainda de discussões em diversas
disciplinas, desde o século XVI com Descartes.
A perspectiva científica que pretende colocar seus objetos de estudo como
tendo uma realidade em si mesmos, constituídos como objetos da natureza,
pensará o sujeito como aquele que é dotado de uma consciência e de uma
razão que lhe conferem o poder de dominar e controlar (consciente e
racionalmente) a Natureza e seus objetos e inclusive a si mesmo.
No entanto, como explicar quando este sujeito mostra falhas, justamente,
nesta capacidade de dominar e controlar a realidade externa e a si mesmo?
E mais: o que fazer quando os recursos científicos disponíveis (físico-
químicos e anátomo-patológicos) não conseguem nem oferecer uma
explicação, nem uma ação condizente com os problemas surgidos da
relação de um dado sujeito com o mundo externo?
Será a partir de uma preocupação com os conflitos e sofrimentos que
adquiriram uma conotação patológica que surgirá a Psicanálise, enquanto
uma terapêutica e uma teorização capazes de oferecer uma nova visão
sobre o homem, seu psiquismo e suas relações com o mundo externo.

A Psicanálise se colocará como um campo de conhecimento dedicado


exclusivamente aos fenômenos psíquicos (o que não exclui as relações
deste com o mundo externo), asseverando sempre a importância de se
buscar uma explicação para aquelas manifestações propriamente humanas
– comportamentos, afetos e pensamentos – que pareciam contradizer certa
noção de homem como ser racional, capaz de dominar a si mesmo e ao
mundo única e exclusivamente através da consciência (ROUDINESCO,
2000).

É deste confronto entre uma concepção de homem dono e senhor de si


mesmo e o que a experiência clínica com as histéricas mostrava sobre a
fragilidade da condição humana, que tem origem o primeiro dos alicerces da
teoria psicanalítica: o conceito de inconsciente.
Com isto, Freud lança uma das primeiras polêmicas que a Psicanálise terá
com o mundo científico e filosófico, pois aquilo sobre o que se julgava ter
domínio, os próprios pensamentos, idéias e comportamentos e que serviam
como instrumento para controlar o incontrolável – os afetos, afinal de contas,
estaria determinado pelo inconsciente, por algo fora do controle consciente.

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Assim o psíquico não coincide, para a Psicanálise, com o consciente; a vida
mental ou o mundo interno ganham uma nova acepção e uma nova
dimensão, que exigiu uma teorização e abordagem dos fenômenos
psicológicos específicas.
As idéias de Freud, desenvolvidas entre final do século 19 e início do século
20 marcaram o pensamento contemporâneo.

EXERCÍCIO
O trecho abaixo foi retirado do livro “Por que a Psicanálise?” de Elisabeth
Roudinesco (2000):
“Os cientistas sempre consideraram a psicanálise uma
hermenêutica. Longe de construir um modelo do
comportamento humano, a doutrina freudiana seria, a
acreditarmos neles, apenas um sistema de interpretação
literária dos afetos e dos desejos. Conviria, portanto,
quer excluí-la do campo da ciência, junto com as outras
disciplinas que não dependem da experimentação, quer
repensar a organização de todos esses campos
(antropologia, sociologia, história, lingüística, etc.) em
função de uma “ciência cognitiva”, a única capaz de fazê-
los entrar na categoria de “ciência verdadeira”
(ROUDINESCO, 2000; P. 113)

Podemos dizer que a psicanálise:


A. É uma especialidade da medicina, uma vez que surgiu como
tratamento alternativo para a cura da histeria.
B. É uma especialidade da psicologia, uma vez que surgiu como uma das
técnicas possíveis de psicoterapia na área da psicologia clínica.
C. É uma teoria e uma prática sem caráter científico, uma vez que seus
pressupostos não são comprováveis por pesquisas.

4. É uma teoria e uma prática que só poderá ser confiável quando seus
pressupostos forem comprovados por pesquisas que incluam um
número significativo de sujeitos.
5. É uma teoria construída a partir da experiência clínica e, ao mesmo
tempo, uma prática de investigação e uma terapêutica, que encontra

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também um lugar como um saber que pode ser útil na leitura do
social.

Resposta E.

A Psicanálise é a primeira teoria sobre o psiquismo que se originou


diretamente da prática clínica, fazendo coincidir investigação e tratamento.
Foi com a descoberta da linguagem como instrumento primordial para a
abordagem dos conflitos psíquicos e seus sintomas que dá à Psicanálise
mais este caráter inovador na compreensão dos fenômenos psíquicos: ao
oferecer a possibilidade de dar palavras ao afeto e, com isto, propondo que
os sintomas poderiam ser substituídos por outras saídas, a Psicanálise
propicia o surgimento de um novo objeto e campo de atuação para a
Psicologia: o mundo interno e o trato com sofrimento psicológico, a partir de
uma perspectiva estritamente psicológica sem intermediação de quaisquer
recursos objetivos, contando explicitamente com as interações psíquicas
humanas (GAY, 1989).
Isto ocorre a partir de 1882 quando Freud estimulado pelo trabalho de
Breuer interessa-se pela sugestão e hipnose no tratamento da
sintomatologia atribuída à histeria. Joseph Breuer teve um papel
fundamental no nascimento da psicanálise e forneceu a Freud a técnica que
este utilizaria em sua clientela. Contudo, o espírito investigativo de Freud,
fez com que logo se afastasse desta técnica, bem como do método catártico,
substituindo-as pela técnica de associação livre.
Os “Estudos sobre a histeria” (1895) é o resultado de 10 anos de trabalhos
clínicos desenvolvidos de Freud e Breuer; neste trabalho os autores fazem
descrição detalhada do tratamento de cinco pacientes. Com esta publicação
encerra-se colaboração entre estes autores, em que o fator precipitante para
o encerramento da parceria foi a discordância de Breuer em relação a Freud,
já que este último insistia na importância de fatores sexuais na etiologia da
histeria (QUINODOZ, 2007).

O que contribuiu, em grande parte para que a Psicanálise pudesse ser


compreendida como um instrumento que pode explicar fenômenos
psicológicos ditos normais foi o trabalho de análise dos sonhos. É com a
“Interpretação dos sonhos”, publicada em 1900, que Freud com a sua
Psicanálise pode pensar em chamar a atenção de pessoas interessadas

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não mais só em tratar neuroses, mas de todos que tivessem algum interesse
na alma humana, agora vista sob uma perspectiva dos fenômenos psíquicos
enquanto um campo aberto à investigação científica. Nesta obra Freud
promove uma grande ruptura na forma de abordar e compreender o homem,
pois a ciência apenas se preocupava com o homem em sua dimensão
consciente. O próprio Freud refere o conceito de inconsciente e a
formulação de que “o homem não é senhor em sua própria morada”
equiparando-a às quebras paradigmáticas decorrentes da mudança do
teocentrismo ao heliocentrismo e ao choque da teoria evolucionista
darwiniana.
Um conceito central e seu correlato no campo da prática clínica -
a transferência - junto com o conceito psicanalítico que articula num só
termo o psíquico e o somático - a pulsão - formam as bases do pensamento
freudiano que se construiu ao longo de quarenta anos de produção e sempre
reconhecendo a necessidade de constantes revisões e ampliações.
Podemos dizer que Freud descortinou um horizonte a partir do qual
puderam surgir outras teorias psicológicas que, em diferentes graus,
procuraram rever, ampliar e mesmo modificar radicalmente (a ponto de não
mais poderem ser designadas como psicanálise) os pressupostos teóricos
e as técnicas que deles podem surgir. Os oponentes ou dissidentes da
Psicanálise podem ser agrupados como aqueles que romperam
formalmente com um ou mais dos alicerces da Psicanálise (inconsciente,
transferência e pulsão), no entanto buscavam e ainda buscam confirmar a
existência de um mundo interno, passível de investigação e intervenção.

Como podemos depreender de nossas afirmações, ao tomarmos o enfoque


teórico psicanalítico enveredamos à investigação do fenômeno psicológico
em profundidade, indo além das explicações físico-químicas ou anátomo-
patológicas para os fenômenos psíquicos, pelo reconhecimento de uma
dimensão específica - a de mundo interno – desconhecido do próprio
homem e não idêntica a si mesmo, em constante interação com o mundo
externo, de forma que sujeito e objeto não mais se constituem isolados, mas
suplementares.

EXERCÍCIO
Anna O. era uma jovem de 21 anos, com altos dotes intelectuais, manifestou
no curso de sua doença, que durou mais de dois anos, uma série de
perturbações físicas e psíquicas mais ou menos graves, entre eles:-
paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito; perturbações

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dos movimentos oculares e várias alterações da visão; tosse nervosa
intensa; repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante
várias semanas; redução da faculdade de expressão verbal, que chegou a
impedi-la de falar ou entender a língua materna; e estados de “absence”
(ausência), estados confusionais, delírios e alteração total da personalidade.
O quadro histérico de Anna O. (Breuer, 1895) abriu caminhos para uma nova
compreensão da histeria, pois por meio de seu quadro observou-se que:-
I. O quadro mórbido encontrado em Anna O. revelava que os órgãos
vitais internos (coração, rins etc.) tinham um funcionamento anormal,
conseguindo ser detectados em exames objetivos.
II. A sintomatologia apresentada por Anna O. não mantinha
correspondência a qualquer anormalidade orgânica, mas relacionava-se
aos violentos abalos emocionais que vivera.
III. Breuer observa que depois de relatar certo número de fantasias a
paciente experimentara sentimentos de alívio e se reconduzia à vida
normal.
IV. A hipnose e o método catártico impediram Breuer de melhorar sua
compreensão a cerca do quadro de Anna O.
V. O saber médico torna-se fundamental na compreensão e estudo das
lesões cerebrais orgânicas, mas diante da histeria o médico não sabe o
que fazer, pois seu método objetivo, assentado em bases biológicas,
carece de recursos para compreender e tratar tais quadros.

ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA


A. São corretas as afirmações I, II e IV.
B. São corretas as afirmações I, II, III e IV.
C. São corretas as afirmações II, III e V.
D. São corretas as afirmações II, III e IV.
E. São corretas as afirmações I, II, III e V.

Resposta C.

Apesar de sua evolução, a psicanálise tinha em sua construção e


desenvolvimento uma tendência transgressora, que comportava em sua
natureza uma inevitável e sofrida oposição, já que feria os preconceitos da

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humanidade civilizada em alguns pontos especificamente sensíveis.
(FREUD, 1924)

Em termos geográficos, a Psicanálise expandiu seus domínios e isto não se


faz sem que, ao mesmo tempo em que produza modificações na concepção
de homem, de relações e de tratamento para males psíquicos nos lugares
onde é (ou parece ser) aceita, também “sofre” modificações, pois é um
conhecimento dependente das possibilidades que cada cultura oferece em
termos de assimilação de uma teoria que toca num dos pontos nevrálgicos
da imagem “ilibada” que a humanidade pretende ter de si mesma: a
sexualidade. Este ponto de apoio da teoria psicanalítica é tanto mal
compreendido quanto rejeitado.
Mal compreendido porque se toma o termo sexual como sinônimo de
genital, dando importância e ênfase ao aspecto puramente biológico, como
se para o homem a sexualidade estivesse presa à anatomia, sendo que esta
é justamente a subversão fundamental da Psicanálise: o sexual é redefinido
como uma disposição psíquica propriamente humana, desligada de seu
fundamento biológico ou anatômico. E, para pensar esta nova concepção
de sexualidade, e de toda atividade humana a ela ligada, são construídos
conceitos e teorias que irão representar esta realidade: a pulsão, a libido, o
apoio e a bissexualidade.
Freud não inventou uma terminologia particular para distinguir os dois
grandes campos da sexualidade: a determinação anatômica, por um lado, e
a representação social ou subjetiva, por outro. Não obstante, por sua nova
concepção, ele mostrou que a sexualidade tanto era uma representação ou
uma construção mental, quanto o lugar de uma diferença anatômica. Em
conseqüência disso, sua doutrina transformou totalmente a visão que a
sociedade ocidental tinha da sexualidade e da história da sexualidade em
geral. (ROUDINESCO, 1998).
A rejeição tanto produziu movimentos dissidentes dentro da Psicanálise
(Adler, Jung), quanto produziu uma infinidade de leituras distorcidas pelos
preconceitos que tentavam minimizar a importância do conceito-chave – o
inconsciente, supervalorizando o ego em função de seu papel de mediador
entre o mundo externo e o interno, em detrimento das outras regiões do
psiquismo (id e superego). É uma leitura da teoria psicanalítica que se
mantém fiel às necessidades do homem de controle dos próprios conflitos,
buscando meios de adaptá-lo à realidade externa. O mais curioso é buscar
isto numa teoria que tem como objetivo expresso a confrontação do sujeito
(do inconsciente) com seu desejo, com sua falta, com a necessidade
imposta a cada um de resolver a interdição do incesto, tema representado
na conceituação do complexo de Édipo.

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Se, num primeiro momento, o inconsciente surge como uma abertura para
as ciências psicológicas, encabeçada pela Psicanálise, a partir das décadas
de 30-40 do século XX, com sua expansão geográfica, principalmente para
os Estados Unidos, este mesmo conceito passará a ser um divisor de águas
entre a Psicanálise e as Psicologias da Consciência. Estas, mobilizadas
pela necessidade de fortalecer o “pobre” ego diante das exigências do
mundo externo e do mundo interno, colocando como meta do tratamento a
busca de uma relação harmônica, não conflituosa com o meio, do qual o
terapeuta/analista seria a figura exemplar, criaram um novo campo de
conhecimento, com novas teorias sobre o mundo interno, já não mais
vinculado à idéia de inconsciente, com novas técnicas, agora mais atentos
ao trabalho com os afetos, com a comunicação não-verbal, através de uma
prática clínica em que a relação dual, interpessoal (não mais transferencial)
entre paciente e terapeuta seria o norte do trabalho, o terapeuta buscando
sempre uma aliança com o lado saudável do paciente para ajudá-lo a
integrar-se psíquica e socialmente.
Lembrando que, se para a Psicanálise o psíquico só ganha consistência de
mundo interno a partir da noção de inconsciente, que mantém relação com
as três instâncias – id, ego e superego – em maior ou menor grau; para as
Psicologias da Consciência o importante será como a pessoa, identificada
ao seu ego, centro de sua personalidade, já destituído de qualquer
conotação inconsciente, enfrentará a luta pelo controle e dissolução de seus
conflitos. A Psicanálise também espera que o ego possa ser um aliado na
luta contra a neurose, no entanto isto não estaria a serviço de uma
adaptação ao contexto social, só porque este coloca a “doença mental”
como um desvio que não coincide com seus desígnios. A idéia principal é
recolocar a noção de doença mental no âmago da condição humana e não
fora dela, buscando responder antes quem é este que sofre e adoece, e
esperando que a noção de mundo interno, que não precisa ser psicanalítica,
possa oferecer um espaço de liberdade para o homem na sua relação com
o mundo externo.

EXERCÍCIO
Freud ao dissertar sobre a História do Movimento Psicanalítico comenta:-
“Considerava minhas descobertas contribuições normais
à ciência e esperava que fossem recebidas com esse
mesmo espírito. Mas o silêncio provocado pelas minhas
comunicações, o vazio que se formou em torno de mim,
as insinuações que me foram dirigidas, pouco a pouco
me fizeram compreender que as afirmações sobre o
papel da sexualidade na etiologia das neuroses não

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podem contar com o mesmo tipo de tratamento dado ao
comum das comunicações. Compreendi que daquele
momento em diante eu passara a fazer parte do
grupo daqueles que “perturbaram o sono do
mundo”, como dizHebbel e que não poderia contar com
objetividade e tolerância.” (FREUD, 1914; p.31)

A frase destacada em negrito, representa que:


A. O autor ficou isolado por muito tempo, e as reações às suas
descobertas estavam permeadas por pré-conceitos.
B. Os opositores do autor ergueram severas resistências internas ao
contato com as ideias apresentadas.
C. O autor tem consciência da força de suas palavras, leva em
consideração a opinião externa, adequando-se ao meio no qual se
encontrava.
D. O autor estaria sendo punido por ousar contradizer aquilo que, até
então, era inquestionável.
E. O autor sempre foi apoiado por ousar contradizer aquilo que, até
então, era inquestionável.

Resposta C.

A hipnose teve grande importância no início da psicanálise, pois pelo uso


da hipnose Breuer favorecia a revivência de algumas cenas que estavam
esquecidas pelo paciente, esta revivência provoca a "ab-reação", que
consistia numa descarga afetiva emocional (reações com expressão de
grande comoção, choro, lágrimas e sentimentos intensos) e desta forma
inaugura o método catártico ou catarse.
Para condução do método catártico Breuer supõe a ideia da ocorrência de
um evento de grande força e impacto emocional, não manifesto em ações
ou comportamentos verbais, que por fim eclodiria no trauma psíquico, este
trauma desencadeia o mal psíquico (sintoma), originando-se da emoção
reprimida, presente no inconsciente, sem o conhecimento consciente do
sujeito sobre o evento traumático e, para lembrá-lo, conduz-se o paciente à
hipnose.
Anna O. a famosa paciente de Breuer denominou este método de trabalho
como chimney sweeping ("limpeza de chaminé") ou talking cure ("cura pela

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fala"). Resumidamente, método catártico ou catarse é o processo em que o
paciente em estado hipnótico, fala tudo que lhe vem à mente e obtém grande
alívio emocional.

A hipnose desperta o interesse de Freud por meio de um relato de Breuer,


mas é com Charcot que busca melhorar seu aprendizado. Sua incredulidade
com os métodos científicos o impulsionaram ao emprego da hipnose com
suas pacientes histéricas, considerando a hipótese da sedução sexual. Pelo
fato de ser um mau hipnotizador resolveu experimentar que a mesma
liberdade em associar ideias, obtidas pela hipnose acontecesse com os
pacientes despertos. A paciente Elizabeth Von R. foi a paciente que
solicitou a Freud a liberdade para associar livremente, sem pressão,
permitindo-lhe compreender que as barreiras contra o recordar provinham
de forças mais profundas.
Freud no início da construção da psicanálise concebe a ocorrência do
trauma sexual real acontecendo nos primórdios da infância, como uma
forma de abuso sexual e que se mantinha reprimido no inconsciente. Aos
poucos o autor vai se convencendo de que havia distorções importantes no
relato de suas histéricas, que seriam decorrentes de suas “fantasias
inconscientes”. Desta forma, na medida em que a “teoria do trauma” não
dava conta de explicar a complexidade do sofrimento neurótico, Freud
envereda para a teoria inicial da sedução e da importância das fantasias na
produção do adoecimento psíquico.

O questionamento de Freud às dificuldades decorrentes da hipnose e


método catártico faz entrar em cena a elaboração psíquica. Elaboração
psíquica consiste no trabalho de integração das experiências vividas,
independente de sua origem (excitações somáticas, estímulos externos ou
informações, aspectos do mundo mental). O trabalho de elaboração
possibilita a transformação da energia livre em energia ligada, abrindo
caminho para o processo secundário e, consequentemente, o adiamento da
descarga da tensão. Se o evento traumático supera a capacidade de
assimilação e integração deste à mente, o processo de elaboração
possibilita a “compreensão” interna que integra à vida do sujeito,
contribuindo para integrar o que antes se mantinha dissociado, fora da
consciência.
MÓDULO 2 - DESCOBERTA DO INCONSCIENTE - TEORIA DOS
SONHOS - PRIMEIRA TÓPICA FREUDIANA
TEORIA PSICANALÍTICA

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MÓDULO 2
A descoberta do inconsciente: repressão; resistência e formação de
sintomas.
A teoria dos sonhos e a psicopatologia da vida cotidiana.
A primeira tópica freudiana - sistemas: Inconsciente, Pré-Consciente e
Consciente.

Bibliografia:
FREUD, S. Cinco Lições de Psicanálise: Segunda Lição (1912). In: Obras
Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1969.
______. Cinco Lições de Psicanálise: Terceira Lição (1912). In: Obras
Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1969.
______. Estudos sobre a Histeria – Caso Elizabeth Von R. (1895). In: Obras
Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1969.
______. O esquecimento de nomes próprios – O Caso Signorelli.
(1901) In: Obras Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora
Ltda, 1969.
______. Novas Conferências Introdutórias: Revisão da Teoria dos Sonhos
(1932). In: Obras Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora
Ltda, 1969.
GARCIA ROZA, L.A. Freud e o Inconsciente. Rio de Janeiro: Editora Jorge
Zahar, 2009. (pg 76 - 81)
MEZAN, R. Freud, A Trama dos Conceitos. São Paulo: Editora
Perspectiva; 2001.
QUINODOZ, J. M. Ler Freud: guia de leitura da obra de S. Freud. Porto
Alegre: Artmed, 2007.

A descoberta do inconsciente
Na Segunda Lição, Freud explica o porquê de seu distanciamento de
Charcot e Janet; enquanto Freud concebia o fator psicológico e processos
psíquicos envolvidos na histeria, Charcot rejeitava esta concepção e
etiologia e Janet atribuía o fenômeno da histeria ao caráter degenerativo do
sistema nervoso nas histéricas. No texto Freud mostra que as divergências
com Janet advieram do trabalho prático desenvolvido na clínica, enquanto

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seu opositor desenvolvia seu trabalho no laboratório. Para Freud e Breuer
interessava não só a origem, mas a melhora de seus pacientes, e para isso,
apoiaram-se no método catártico propondo que, ao invés de haver
degenerescência e falta de capacidade nas histéricas, há sim, uma divisão
da consciência.
Apesar de ser um avanço, Freud identifica limitações nesta técnica, em
decorrência da impossibilidade de hipnotizar alguns pacientes,
desencantando-se definitivamente após uma experiência de Berheim (este
estúdio mostra que pessoas em sonambulismo hipnótico aparentemente
perdiam a memória, mas, de fato, não perdiam e se forçando a memória
lembrariam o ocorrido durante a hipnose). Passou então a de não mais
hipnotizar os pacientes, considerando que seus pacientes não precisavam
ser hipnotizados para lembrar dos eventos traumáticos causadores da
histeria, embora esta técnica tenha sido exitosa, também a abandona.
Apesar de abandonado o método catártico, passa a verificar que seus
pacientes esquecem por completo o conteúdo traumático, tais recordações
se mantinham em algum lugar. Assim, entende que uma força detinha o
conteúdo fora da consciência e mantinha essas lembranças inconscientes.
Esta força foi chamada - resistência.
Com esta nova forma de funcionamento psíquico – resistência - formula o
conceito de repressão. Pensa ele que, assim como existe uma força que
mantém inconsciente a lembrança, pela força da resistência, deveria haver
uma força que retirara esta mesma lembrança da consciência; para esta
força inicial que, num primeiro momento, impede um conteúdo ascender à
consciência dá o nome de repressão.

O conceito de Inconsciente
O conceito de Inconsciente ganha força com estas descobertas, expandindo
aquilo que é psíquico para além da consciência. Os conteúdos de nossa
consciência ocupam agora uma dimensão bem menor, com várias lacunas,
não comportando mais a ideia de que tudo que acontece na mente deve ser
conhecido pela consciência.
No texto Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901) Freud descreve o
quanto os deslizes e lapsos do nosso dia a dia, sejam de linguagem,
escritos, de memória entre outros acontecimentos, são atribuídos ao acaso,
mas não têm nada de acaso e, embora os chamemos de acidentes, tais atos
psíquicos estão, para sua realização, além de nossa capacidade consciente.
Estes atos falhos ou parapraxias são como os sonhos e sintomas, revelam
um processo inconsciente, que se desenvolve sem que o percebamos, a

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partir de conteúdos latentes que escapam ao controle consciente,
apresentando-se em contradição à nossa consciência.

Repressão (ou Recalque)


Repressão e recalque são conceitos utilizados por Freud, mas sua tradução
perpetuou no campo psicanalítico divergências de significado e utilização
desta terminologia. Mezan (2001) sobre esta questão, comenta que
“repressão” (unterdrückung) refere-se ao processo que mantém as pulsões
no pré-consciente, enquanto “recalque” (verdrängung) seria aquele que
mantém as pulsões no inconsciente. Nesta perspectiva seriam lugares
diferentes da constituição da psique, contudo este autor prefere o termo
“repressão” já que em português o termo pode ter uma variedade de
significados que engloba a violência implícita no conceito freudiano, ao invés
de “recalque” que significa pisar os pés, calcar de novo.
A repressão tem como principal finalidade evitar que uma ideia inconcebível,
decorrente de desejos proibidos conflite com aspirações morais, se torne
consciente. Entretanto este mecanismo não é o bastante para exterminar a
ideia, fazê-la desaparecer por completo, pois como ela representa um
instinto, permanecerá neste reservatório inconsciente produzindo efeitos e
eventualmente tentará contornar a barreira repressiva a fim de atingir a
consciência, insistindo para possibilitar a satisfação da pulsão.

.EXERCÍCIO
Ao estabelecer o conceito de repressão/recalque, Freud coloca este
processo na gênese das neuroses, e a partir deste conceito central da
psicanálise, delimita o funcionamento psíquico, a formação dos sintomas.
Sobre a forma como o recalque atua, identifique a alternativa correta:
A. O objetivo da repressão/recalque é extinguir do inconsciente
as representações perigosas originais.
B. Um mecanismo que opera no sentido de afastar da
consciência uma idéia da ordem do insuportável às aspirações
morais.
C. O recalque está na base dos sintomas neuróticos, que se
formam independente da representação recalcada.
D. O recalque é um mecanismo que só se manifesta nos casos
patológicos.

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E. O objetivo da repressão/recalque é manter no consciente as
representações perigosas originais.

Resposta B.

A interpretação dos sonhos


Em A interpretação dos sonhos (1900), a obra mais importante de Freud
com as ideias mais inovadoras de sua obra, desenvolve a explicação do
funcionamento do pensamento e linguagem, bem como a concepção geral
do funcionamento do psiquismo normal e patológico, estabelecendo os
fundamentos clínicos, teóricos e técnicos e conferindo à interpretação dos
sonhos um caráter científico.
Nesta obra, o sonho é remontado à uma atividade psíquica organizada e
diferente do que ocorre na vigília, abrindo caminho à uma nova forma de
interpretação, que não a previsão do futuro, mostrando que o sonho é uma
produção própria de quem sonha, provinda de uma fonte estranha ao
próprio homem (QUINODOZ, 2007).

Para Freud, os sonhos são projeções do inconsciente, que expressam a


vontade e o desejo humano, remetem, portanto ao desejo, revelando algo
do passado e não a uma projeção do futuro. Nele dá-se a satisfação de
desejos reprimidos no nosso inconsciente.

Contrariando alguns dos cientistas contemporâneos de sua época, que


atribuíam somente uma função biológica, Freud buscava compreender seu
significado psicológico, algo que só se tornou possível pelo “método da
associação livre”, permitindo-lhe descobrir o sentido que o sonho tem para
quem sonha, da mesma forma que os sintomas histéricos, as fobias, as
obsessões e os delírios.
Freud introduz e ideia de conteúdo manifesto e latente, o primeiro refere-se
ao sonho tal como é relatado e, por vezes, de sentido obscuro; o conteúdo
latente só aparece claramente depois de decifrado nas associações do
paciente. Denomina como “trabalho do sonho” o conjunto de operações
psíquicas que transformam o conteúdo latente em manifesto a fim de
disfarçá-lo e “trabalho de análise” a operação inversa, que busca o sentido

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oculto a aprtir do conteúdo manifesto. Para Freud “O sonho é a realização
(dissimulada) de um desejo (reprimido, recalcado)” (FREUD, 1900, p. 145).
Freud aponta os mecanismos que entram em ação na formação do sonho,
como segue:

 Condensação – é um mecanismo psíquico fundamental que permite a


reunião de vários elementos num único elemento: sejam imagens,
pensamentos, eventos ou outro, pertencentes a diferentes cadeias
associativas. Pode ocultar ou combinar algum acontecimento ou
fragmento do sonho latente no manifesto.
 Deslocamento – Mecanismo que permite substituir os conteúdos mais
significativos de um sonho por um menos importante, desfocando e
dissimulando a realização do desejo.
 Representabilidade – Operação que permite transformar os
pensamentos dos sonhos em imagens visuais, construções oníricas.
 Elaboração secundária – Permite a apresentação do conteúdo onírico
num cenário coerente e inteligível, principalmente em estado de vigília.
 Dramatização – Permite a transformação de um pensamento numa
dada situação do sonho.

Os sonhos se valem dos restos diurnos, ocorrências de nosso dia a dia e


que mantêm alguma relação com o desejo inconsciente que se realiza no
sonho.
Para Freud, as deformações dos sonhos originam-se da censura, que se
situa na fronteira entre consciente e inconsciente, permitindo passar
somente o que lhe for agradável, retendo o resto sob repressão, constituindo
o reprimido. O aprofundamento da análise de um sonho incidirá no conteúdo
latente que revelam a realização de desejos eróticos.
Os sonhos também se valem dos símbolos, pois permite ao sonhador driblar
a censura retirando das representações sexuais sua inteligibilidade, desta
forma distingue dois tipos de símbolos – universais e individuais.

Exercício
Mariana (17 anos) acorda muito assustada e culpabilizada com algo que
sonhara, sonhou com sua irmã e sente-se envergonhada, levanta-se e vai
pedir desculpas à irmã mais velha... Esta reação de Mariana pode ser
explicada de acordo com o que aprendemos com a Teoria dos Sonhos em
Freud, como:

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A. Os sonhos geram sentimentos de culpa e remorso em Mariana
em função de seu conteúdo manifesto.
B. A culpa gerada em Mariana está ligada aos seus desejos
proibidos associados a figura de sua irmã, como pessoa real que se
mostra no sonho.
C. Podemos afirmar que, caso Mariana estivesse em análise, o
mecanismo psíquico da resistência interferiria em seus relatos, apesar
de algumas de suas lembranças.
D. O sonho de Mariana ao ser lembrado sofrerá interferências da
elaboração secundária.
E. A lembrança imediata de Mariana indica que a versão lembrada
de seu sonho não está sujeita às distorções da elaboração secndária.

Resposta C.

A primeira tópica freudiana - sistemas: Inconsciente, Pré-Consciente e


Consciente.
Para explicar o fenômeno da não consciência, Freud elabora uma
concepção do aparelho psíquico, explicando o funcionamento mental,
normal e patológico, a partir de suas observações clínicas, seus estudos
sobre os sonhos e neuroses. Para isso, utiliza a palavra “aparelho” a partir
de um modelo espacial, onde identifica uma organização psíquica, dividida
em três sistemas ou instâncias, com funções específicas, interligadas entre
si, num dado lugar na mente.
Este “modelo tópico” designa um modelo de lugares. Esta primeira tópica
ficou conhecida como Teoria Topográfica. Nesta primeira tópica Freud
divide o aparelho psíquico em três sistemas: o inconsciente, o pré-
consciente e o consciente.
O consciente ou sistema percepção-consciência representa apenas uma
pequena parte da mente, em que se inclui tudo aquilo que conhecemos, isto
é, que temos consciência. Enquanto localização o sistema percepção-
consciência situa-se na periferia do aparelho psíquico, recebe
simultaneamente informações do mundo exterior e do interior, sem,
contudo, conservar nenhuma marca duradoura.

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O pré-consciente articula-se com o consciente e funciona como uma
espécie de barreira seletiva que elege o que pode ou não passar para o
consciente. Do ponto de vista tópico, o pré-consciente seria uma parte do
inconsciente, que, entretanto, pode recuperar seus conteúdos armazenados
pela evocação da memória, ou seja, seus conteúdos tornam-se acessíveis,
isto é, conscientes, com maior facilidade podem ser trazidos à consciência.
O que caracteriza o pré-consciente é a possibilidade voluntária de se
acessar seus conteúdos.
O sistema inconsciente representa a parte mais arcaica do aparelho
psíquico. Nele incluem-se, por herança genética, as pulsões e a energia
correspondente a elas, que não são acessíveis à consciência; também todo
conteúdo que foi excluído da consciência pelos processos psíquicos de
censura e repressão, em que o conteúdo censurado, que não pode ser
lembrado, não se perde, mas permanece abrigado no inconsciente.
Freud refere que a maior parte do aparelho psíquico é inconsciente, onde
situam-se os determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica
e as pulsões (instintos).
No inconsciente situam-se as “representações coisa” ou “traços mnêmicos”,
que são fragmentos de reproduções de antigas percepções, dispostas e
inscritas como se fosse um arquivo sensorial, formando nossos contornos
psíquicos. Este conjunto que se refere às vivências, sentimentos,
percepções, eventos provenientes de nossos sentidos (auditivo, gustativo,
olfativo, tátil e visual) foram vividos num momento em que se prescindia da
palavra, formando um arsenal de representações fantasmáticas carregadas
de energia pulsional, que continuam habitando nosso universo inconsciente.

EXERCÍCIO
Freud concebeu sua teoria como uma forma específica de acesso a
determinados conteúdos. Dentro desta perspectiva, o que podemos acessar
em um processo de análise?
A. As lacunas que faltavam para o preenchimento das falhas de
memórias, na medida em que a narrativa baseia-se no modelo:
percepção-registro-evocação.
B. Os registros derivados de experiências reais vividas na infância.
C. O passado vivido tal como está narrado.
D. As profundezas do inconsciente que ficou retido e encapsulado na
mente, independente de outras internalizações.

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E. A forma como o sujeito internalizou suas experiências.

Resposta E.
MÓDULO 3 - SEGUNDA TÓPICA FREUDIANA - TEORIA DAS PULSÕES
TEORIA PSICANALÍTICA

MÓDULO 3
A segunda Tópica freudiana: id, ego e superego.
Pulsões e sexualidade; pulsão de vida e pulsão de morte.

Bibliografia:
FREUD, S. Repetir, recordar e elaborar (1914). IN FREUD, S., Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
______. O Ego e o Id (1923) . IN FREUD, S., Obras Completas de S.
Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
______. Além do princípio do prazer (1920) . IN FREUD, S., Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
LAPLANCHE, Jean & PONTALIS, J.-B. Vocabulário da Psicanálise. São
Paulo: Martins Fontes, 1992.
QUINODOZ, J. M. Ler Freud: guia de leitura da obra de S. Freud. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
ROUDINESCO, E, Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 1998.

A partir de 1920 a conceituação freudiana sofre uma mudança, o psiquismo


passa a ser concebido como três lugares (topos = lugar) que definiriam o
aparelho psíquico e, consequentemente, o modo como se vai investigar,
entender e trabalhar. Embora o nascimento desta nova tópica date do ano
supracitado, sua elaboração surge de novas exigências teóricas e práticas;
o subsistema defensivo ganha então muita importância nas observações de
Freud em seu trabalho clínico pois, sendo o ego o responsável pela
efetivação do subsistema defensivo e as defesas produtos inconscientes,
torna-se necessário estender a amplitude do ego considerando-o não só

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equivalente à pré-consciência e consciência, mas também com alguma de
suas partes inconscientes.
Esta nova designação - conhecida como segunda tópica – inclui as
instâncias: id, ego e superego e vem substituir a primeira, sem, contudo,
eliminá-la, onde figuravam as denominações: inconsciente, pré-consciente
e consciente, s.
A diferença mais importante entre as duas tópicas é a de que, nesta
segunda, não encontramos uma separação radical entre os diferentes
lugares ora designados, ou seja, os limites entre id, ego e superego estarão
na estrita dependência dos movimentos pulsionais, o que implicará uma
nova forma de pensar as relações entre elas e do sujeito com a realidade.

Id
Conceito utilizado por Freud (1923), cuja origem é o pronome alemão neutro
da terceira pessoa do singular (Es), para designar uma das três instâncias
da segunda tópica freudiana, ao lado do ego e do superego. O id é
concebido como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de
ordem inconsciente. Assim, o id irá ocupar o lugar do inconsciente na tópica
anterior. Este conceito foi introduzido na teoria psicanalítica pela primeira
vez no texto freudiano O ego e o id (1923) considerando absolutamente
apropriado para definir o que seria uma vivência passiva do indivíduo, que
se veria, assim, confrontado com forças desconhecidas e impossíveis de
dominar.
A experiência clínica de Freud foi decisiva para que ele chegasse à
conclusão que considerável porção tanto do ego quanto do superego era
inconsciente, o que traz consequências importantes para o próprio estatuto
e identidade do ego, não mais visto como correlato da vida consciente,
assim como a identidade exclusiva entre inconsciente e recalcado seria
colocada em xeque. Esta movimentação teórica exigiu uma revisão das
relações entre a vida consciente e a dinâmica inconsciente; o id, associado
às formações inconscientes será melhor delimitado como um reservatório
pulsional desorganizado, sede de um verdadeiro “caos”ou de “paixões
indomadas” que, sem a intervenção do ego, seria um joguete de suas
aspirações pulsionais e caminharia inelutavelmente para sua perdição.
Com isto, o ego perde sua autonomia pulsional, já que será reservada ao id
a designação de sede das pulsões - de vida e de morte. Esta abordagem
dinâmica da segunda tópica representa uma fluidez maior nos limites entre
as instâncias: os limites do id deixaram de ter a precisão dos que marcavam
a separação entre o inconsciente e o sistema consciente-pré-consciente, e

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o ego deixou de ser estritamente diferenciado do id no qual o superego
mergulha suas raízes.

Ego
Este termo tem suas origens na filosofia e na psicologia para designar o ser
humano consciente de si e objeto do pensamento.
Ao retomá-lo na primeira tópica, Freud também o tomará como sede da
consciência, mas será a partir de 1920, com a representação da segunda
tópica que o ego mudará de estatuto, tornando-se também, em grande
parte, inconsciente, posto que seus limites com as outras instâncias já não
será o mesmo.

“Agora vemos o ego com sua força e suas fraquezas. Ele


é encarregado de funções importantes e, em virtude de
sua relação com o sistema perceptivo, estabelece a
ordenação temporal dos processos psíquicos e os
submete à prova de realidade. Intercalando os processos
de pensamento, consegue adiar as descargas motoras e
domina os acessos à motilidade. Esta última dominação,
entretanto, é mais formal do que efetiva, tendo o ego em
sua relação com a ação, por assim dizer, a postura de um
monarca constitucional sem cuja sanção nada pode
transformar-se em lei, mas que reflete longamente antes
de opor seu veto a uma proposta do parlamento. (...)
vemos esse mesmo mecanismo como uma pobre criatura
que tem que servir a três perigos, por parte do mundo
externo, da libido, do id e da severidade do superego” .
(FREUD, 1923; p. 67)

O ego assume assim a instância central da personalidade, cuja origem


remonta a parte do id que se mantém em contato com o mundo exterior, que
além das funções pré-consciente e consciente, acumula também em sua
constituição uma grande parte inconsciente com a responsabilidade de ser
o centro defensivo da personalidade, e nesta perspectiva dinâmica torna-se
o responsável por acionar seus mecanismos de defesa ante à percepção de
um afeto desagradável.

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Além disso, o ego atua na conciliação das reivindicações do id, imperativos
do superego e exigências da realidade. Enquanto fator econômico surge
como um elemento de ligação dos processos psíquicos, atuando como uma
organização que tende à unidade, permitindo a estabilidade e identidade ao
sujeito.

EXERCÍCIO
Na segunda tópica freudiana as funções do ego no aparelho psíquico são
apresentadas com algumas diferenças quando comparadas à primeira
tópica. Identifique abaixo qual das afirmativas representa as funções do
ego...
:
A. A resistência - processo resistencial na clínica - é uma das
evidências que Freud observa, conduzindo-o e orientando-o aos
processos defensivos inconscientes do ego contra a emergência
dos conteúdos inconscientes que ameaçam a estabilidade
psíquica.
B. Os acontecimentos externos, quando excessivamente
intensos, são evitados pelo ego, produzindo modificações
convenientes ao mundo externo, sem, contudo, obter benefícios
ao próprio ego.
C. Quanto aos estímulos internos, o Ego controla
absolutamente as exigências dos instintos, decidindo se podem
ou não ser satisfeitas, adiando eventuais satisfações e
suprimindo completamente suas excitações, inclusive aquelas
posteriores.
D. A busca do ego é pela manutenção do desprazer, já que é
função do superego manter a “ordem” e reprimir o Id e suas
influências na busca do prazer.
E. O ego em sua origem não mantém relação com o id, mas
sim do suprerego.

Resposta A.

Superego

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É terceira instância da segunda tópica que exercerá as funções de juiz e
censor em relação ao ego. Este conceito servirá para designar uma
instância que age de maneira implacável: num primeiro tempo de sua
instauração ele é representado pela autoridade parental que dá ritmo à
evolução infantil, alternando as provas de amor com as punições, geradoras
de angústia; num segundo tempo, quando a criança renuncia à satisfação
edipiana, as proibições externas são internalizadas e esse é o momento em
que o superego vem substituir a instância parental por intermédio de uma
identificação. O que pode se destacar aqui é o fato de que esta instância, a
despeito de sua ligação intrínseca com os modelos oferecidos pelos
genitores, ele - o superego - constrói-se fundamentalmente pela
identificação do superego dos pais, ou seja, pela transmissão dos valores e
das tradições que perpetua-se, dessa maneira, por intermédio dos
superegos, de uma geração para outra e, não, uma simples interiorização
dos pais. O superego é particularmente importante no exercício das funções
educativas.
A nova instância passou a ser a sede da auto-observação, o depositário da
consciência moral; tornando-se a instância que resguarda em si os aspectos
mais desejados do “ego ideal”, que assumidos por herança pelo “ideal do
ego”, torna-se o guardião destes ideais, com os quais o ego se compara,
aspira e se esforça para atender/cumprir as demandas de aperfeiçoamento
do movimento identificatório.
Compõe-se quase que totalmente de elementos inconscientes, guiado por
objetos internos, tendo como principal efeito a culpa, com subsequentes de
angústias e medo. É a instância modelo, o pólo psicossocial da
personalidade e de fundamental importância para compreensão da conduta
e da psicopatologia do indivíduo.

EXERCÍCIO
De acordo com Freud, ao id cabe desejar (independente de qualquer
aspecto), ao ego cabe mediar desejos e proibições entre as instâncias,
enquanto ao superego cabe...
I. Desejar, mas proibir, visto que sua dimensão
considera os valores éticos implícitos na cultura que se propagam
pelo superego dos pais.
II. A formação de ideais almejados pelo id.
III. Substituir a instância parental e suas interdições por
meio da identificação.
IV. Acordos complacentes para com o ego.

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V. Desejar, independente, dos valores éticos implícitos
na cultura.

ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA


A. São corretas as afirmações I, II e V.
B. São corretas as afirmações I, II, III e IV.
C. São corretas as afirmações I, II e III.
D. São corretas as afirmações II, III e IV.
E. São corretas as afirmações II, III e V.

Resposta C.

Pulsão
Se até aqui falamos da nova maneira de conceituar o aparelho psíquico a
partir das três instâncias - id, ego e superego - não é menos importante
aquilo que diz respeito à teoria pulsional de Freud, já que esta se insere na
compreensão do funcionamento psíquico do ponto de vista dinâmico.
Freud afirma que o aparelho psíquico está à mercê, sob impacto e
pressionado por estímulos externos e interno, dos quais o aparelho psíquico
pode, mediante atividade muscular afastar-se dos estímulos externos, sem
contudo exercer qualquer afastamento dos internos. Estas excitações
internas denominam-se como pulsões ou instintos; o autor prefere o termo
pulsão (trieb) por exprimir a ideia subjacente de urgência para descarregar,
situando-se mais adequada ao psicológico, enquanto instinto (instinkt)
restringir-se-ia a comportamentos hereditários, fixos de cada espécie.
Pulsão será definida, já em 1905, como:

“... a representação psíquica de uma fonte endossomática


de estimulações que fluem continuamente, em contraste
com a estimulação produzida por excitações esporádicas
e externas. A pulsão, portanto, é um dos conceitos da
demarcação entre o psíquico e o somático” (FREUD,
1905; p. 159).
.

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Assim, pulsão difere radicalmente de instinto e não se reduz às simples
atividades sexuais que costumam ter bem delimitado tanto seus objetivos,
quanto seus objetos; é um impulso, e a libido constitui-se em sua energia.
Além desta diferença em relação ao instinto, a pulsão é formada, em
seu caráter sexual, como um conjunto de pulsões parciais, cuja soma
constitui a base da sexualidade infantil. Encontra inicialmente apoio em
atividades somáticas, ligadas a determinadas zonas do corpo, as quais,
dessa maneira, adquirem o estatuto de zonas erógenas. Este início da
constituição pulsional é o que significa seu caráter limítrofe - seu limite está
entre psíquico e o somático, sendo, assim, a pulsão é o representante
psíquico das excitações provenientes do corpo e que chegam ao
psiquismo.
São quatro as características da pulsão: a fonte, a força, o alvo e o objeto.
· Fonte – A fonte das pulsões é o processo somático, localizado
numa parte do corpo ou num órgão, cuja excitação é representada no
psiquismo pela pulsão.
· Força – Força ou pressão constitui a própria essência da pulsão
e a situa como o motor da atividade psíquica.
· Alvo – Alvo ou satisfação, pressupõe a eliminação da excitação
que se encontra na origem da pulsão; esse processo pode comportar
alvos intermediários ou até fracassos, ilustrados pelas pulsões -
chamadas de pulsões “inibidas quanto ao alvo” - que se desviam
parcialmente de sua trajetória e, por último, o objeto da pulsão é o
meio de ela atingir seu alvo, e nem sempre lhe está originalmente
ligado, o que significa dizer que em termos de pulsão, o objeto é
contingente.
· Objeto - As pulsões sexuais podem ter quatro destinos: a
inversão, a reversão para a própria pessoa, o recalque e a sublimação.

No início de sua obra Freud define dois grupos de pulsões – as sexuais e


as de autoconservação – considerando que elas não se opõem, mas
colaboram entre si, sendo que as pulsões sexuais se apóiam nas funções
de autoconservação para descarga e extravasamento. Um exemplo é
aquele em que o pequeno bebê depois de saciar sua fome (que enquanto
pulsão de autoconservação refere-se à uma necessidade, que após
satisfeita por um objeto específico – o leite/alimento - torna-se saciada)
demonstra existir um excedente de energia, que continua existindo, mas não
se sacia com o leite – objeto específico – por isso continua sugando,

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garantindo o extravasamento da excitação oral, e simultaneamente
“sexualiza” ou “erotiza”, isto é “subverte” a função associada a esta.

Pulsão de vida e pulsão de morte


No texto Além do princípio de prazer (1920), Freud delimitou um novo
dualismo pulsional, opondo as pulsões de vida às pulsões de morte.
Seguindo Freud, trata-se justamente de um processo inconsciente no qual
o sujeito se sente compelido a repetir atos, idéias, pensamentos e sonhos
que, na sua origem, foram geradores de sofrimento e ao serem repetidos
não perdem esta conotação, mas também não é possível abandoná-los por
força da vontade.
E é particularmente no texto de 1914, Recordar, repetir e elaborar que
podemos ver explicitada uma trama que liga repetição e transferência, na
medida em que coloca que a repetição é a forma de o paciente recordar,
ainda que sob o signo da resistência, daquilo que lhe é mais difícil, dado que
está ligado às conotações sexuais que não passam pelo crivo da censura e,
portanto, não podem ser rememoradas. E, assim, será o manejo da
transferência que permitirá que se transforme a compulsão à repetição num
motivo para recordar; é a partir da observação desta compulsão à
repetição que Freud teorizou aquilo a que chamou pulsão de morte.
Este processo, no entanto, não pode ser observado em estado puro, já que
não é possível eliminar o vestígio que carrega de satisfação libidinal, mas,
ao mesmo tempo, não é mais possível explicar tais ocorrências pelo simples
princípio de prazer.
Assim, a dualidade pulsional se manifestará como uma briga renhida entre
uma força que puxaria para um estado de não-vida, buscaria um retorno do
que está vivo ao estado inorgânico - definida, assim, grosso-modo
como pulsão de morte; e as pulsões que antes estavam sob a denominação
de pulsões sexuais e pulsões do ego, agora sob a égide de Eros – pulsão
de vida. Uma “luta de titãs” que estará na origem de todas as manifestações
humanas, tirando-as de certo maniqueísmo de vida ou morte.

EXERCÍCIO
No início de seu trabalho (1895-1906), Freud concebia o conjunto da vida
mental como constituída pela dualidade entre as pulsões sexuais e
autoconservação. Posteriormente, englobou-as como pertencendo ao

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mesmo grupo, em oposição à pulsão de morte, este grupo foi denominado
de:
A. Pulsões sexuais, uma vez que estas visam a preservação da
espécie.
B. Pulsões de autoconservação, visto que tendem a preservação do
indivíduo.
C. Pulsões de vida, que visam a integração e a união.
D. Pulsões de morte, que visam o retorno ao estado anorgânico.
E. Pulsões eróticas, que visam a satisfação da pulsão sexual.

Resposta C.

Chegamos neste percurso a uma redefinição da sexualidade, proposta por


Freud que teria a tarefa de traduzir, nomear ou até construir aquilo que os
cientistas do final do século XIX já afirmavam sobre a determinação sexual
da atividade humana. Através de sua teoria pulsional, Freud efetuou uma
verdadeira ruptura teórica (ou epistemológica) com a sexologia, estendendo
a noção de sexualidade a uma disposição psíquica universal e extirpando-a
de seu fundamento biológico, anatômico e genital, para fazer dela a própria
essência da atividade humana. Portanto, é menos a sexualidade em si
mesma que importa na doutrina freudiana do que o conjunto conceitual que
permite representá-la: a pulsão, a libido, o apoio e a bissexualidade.
MÓDULO 4 - TEORIA DA SEXUALIDADE - LIBIDO / ZONAS ERÓGENAS
/ PULSÕES
TEORIA PSICANALÍTICA

MÓDULO 4
A teoria da sexualidade.
A evolução da libido.
As zonas erógenas e as pulsões.

Bibliografia:
FREUD, S. Cinco lições de Psicanálise. (1912) IN FREUD, S., Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.

https://turmapsicologiaunip2018.blogspot.com/
______. Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade. (1905) IN FREUD,
S., Obras Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda;
1969.
______. A Pulsão e seus destinos. (1915) IN FREUD, S., Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
ROUDINESCO, E, Dicionário de Psicanálise. IN FREUD, S., Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda.

Sexualidade
Foi com a introdução da palavra libido que S. Freud construiu sua teoria da
sexualidade, percurso teórico iniciado em 1905 com a publicação dos Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). É preciso enfatizar que este
ponto de partida de sua teoria sobre a sexualidade sofreu várias
modificações ao longo do tempo, seja a partir da reformulação teórica
advinda em 1914 a partir da conceituação sobre o narcisismo, seja à luz da
teoria sobre o dualismo pulsional e da instauração da segunda tópica, em
1920, no texto Além do princípio de prazer, e, por último, em torno do
texto Psicologia de grupo e análise do ego (1921). Isto quer dizer que a
teoria sobre a sexualidade e o conceito que lhe é correlato - a libido - são
construções realizadas ao longo do tempo, marcadas ou ritmadas pelas
mudanças que a experiência clínica e o debate teórico impuseram ao
pensamento freudiano.

O termo libido designa a manifestação da pulsão sexual na vida psíquica e,


por extensão, definindo a sexualidade humana em geral e a infantil em
particular, entendida como causalidade psíquica (neurose), disposição
polimorfa (perversão), amor próprio (narcisismo) e sublimação.
Esta reordenação das coisas, jogando luz sobre a vida psíquica (e não sobre
a anatomia) faz da libido o componente básico e essencial da sexualidade,
fonte do conflito psíquico. Isto permite que, ao longo do tempo, como dito
anteriormente, seja possível integrar libido e pulsão, libido e objeto (na
medida em que a energia é direcionada a e fixa-se em diferentes objetos) e,
por fim, pode encontrar uma identidade narcísica (a libido do eu). A libido,
identificada com a pulsão sexual tornou-se a pulsão de vida (Eros), em
oposição à pulsão de morte (Thanatos) e com isto, a libido torna-se o
principal determinante da psique humana.

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Exercício
A primeira e a segunda tópica são assuntos que compõem a chamada
metapsicologia freudiana. Correspondem a tentativas de sistematizar o
aparelho psíquico, sugerindo a idéia de uma certa organização, onde cada
sistema tem sua função. Tendo como base a primeira e a segunda tópica
freudiana, julgue os itens abaixo:

I. Com referência aos estímulos internos, o Ego ante as exigências das


pulsões é inoperante na satisfação ou adiamento das exigências
provenientes destas excitações.
II. Entre o inconsciente e o pré-consciente não existe barreira que impeça
os conteúdos inconscientes ascender ao caminho para a consciência.
III. O superego tem a função de juiz para o ego, apesar desta função
específica, não podemos atribuir ao mesmo qualquer participação
no surgimento do sentimento de culpa.
IV. Na primeira tópica; Freud divide o aparelho psíquico em inconsciente,
pré–consciente e consciente. Estes três sistemas corresponderão
respectivamente ao Id, Ego e Superego, propostos na segunda tópica.

ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA

1. É correto o que se afirma em III e IV.


2. É correto o que se afirma em IV.
3. É correto o que se afirma em II e III.
4. É correto o que se afirma em I, II e III.
5. É correto o que se afirma em II.

Resposta B.

Libido
No início de sua teorização, Freud deu a esta libido um sentido psíquico,
tornando-se, após o abandono da teoria da sedução, no motor do conflito
psíquico que estaria na origem das neuroses: o histérico sofria de
reminiscências e, depois, de fantasias e sonhos, cujo conteúdo seria
explorado pela psicanálise, através do retorno à infância e, portanto, às
primeiras experiências sexuais do sujeito. Com a publicação dos Três

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ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) este conceito tornou-se o eixo
da sexualidade humana.
Primeiro a libido é uma “energia”, uma manifestação dinâmica, na vida
psíquica, do impulso (ou pulsão) sexual e, se o que pesava, a partir de
então, era a dimensão psíquica, redefine-se o estatuto da libido: não mais
constituía uma atividade somática, mas era um desejo sexual que procurava
satisfazer-se, fixando-se em objetos. É também neste tempo de sua
teorização que se institui a noção de monismo sexual: a libido seria de
natureza masculina, quer sua manifestação seja no homem ou na mulher.
Esta libido - dimensão fundamental da pulsão - fixa-se em objetos e pode
se deslocar em seus investimentos, mudando de objeto e de objetivo. É
então sublimada, ou seja, derivada para objetivos não sexuais, investe em
objetos socialmente valorizados: a arte, a literatura, atividades intelectuais,
etc.
Esta maleabilidade libidinal, sua capacidade intrínseca de mudar tanto de
objetos quanto de objetivos, permite igualmente um outro tipo de trânsito:
também pode diversificar-se quanto à fonte de excitação. Há uma
diversificação das zonas erógenas, que se distribuem por quatro regiões do
corpo: oral, anal, uretro-genital e mamária. Dessa descrição da libido capaz
de se diversificar em zonas erógenas decorreu um desdobramento teórico -
a teoria dos estádios ou fases, tão central na reformulação freudiana quanto
na relação objetal. Cada idade ou, cada fase, tem um tipo de relação de
objeto que serão definidas em quatro: a fase oral, a fase anal, a fase fálica
e a fase genital.

Fase Oral
É o momento em que o prazer sexual se dá, predominantemente, pela
excitação da zona bucal e lábios, estando associado à alimentação. Neste
momento precoce do desenvolvimento o bebê só espera a satisfação de
suas necessidades, que asseguram a sobrevivência, assim quando tem
fome ou sede busca a satisfação e à medida que esta necessidade é
satisfeita, a pulsão a ela associada acaba por ser reduzida, com isto vivencia
e sente prazer, o que restitui ao organismo o retorno ao seu estado de
equilíbrio.
O objeto da fase oral é o seio ou seu substituto, não só enquanto
alimentação, nem como elemento anatômico, mas como objeto que
permitirá as várias vivências e sensações de aconchego que envolve o
acalento do colo materno.

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Nesta fase se dá a formação do ego, a princípio o bebê não percebe nem
sente-se como separado do exterior, a não satisfação imediata da
necessidade, conjugada à espera pelo alimento, a faz sentir-se como
separado do ambiente e, neste espaço se dá o início da formação do ego,
que ocorrerá durante o primeiro ano de vida.

Fase Anal
Por volta dos 12 meses de vida inicia-se a fase anal, que durará até os 36
e, apesar desta região anal estar em funcionamento desde o início da vida,
será somente mediante o amadurecimento neurofisiológico aliado às
demandas do ambiente, que incidirão para que musculatura voluntária
torne-se o centro dos investimentos libidinais.
Assim, as crianças começam a desenvolver o controle muscular ligado aos
esfíncteres – anal/defecação e uretral/controle urinário, em
complementaridade às preocupações dos pais acerca do estabelecimento
dos hábitos de higiene. Nesta fase, retenção ou expulsão tornam-se fontes
de prazer, já que região anal é a zona erógena. O aprendizado da higiene e
a consequente necessidade de controle esfincteriano são possíveis, pois o
ego está caminhando à sua formação, permitindo à criança ser capaz de
adiar a satisfação das pulsões. O objeto desta fase ainda é a mãe, contudo
numa perspectiva de objeto total.

Fase Fálica
É o momento em que o prazer sexual se dá pela curiosidade e manipulação
dos genitais. A obtenção de prazer se dá pela manipulação, masturbação
infantil.
Embora a criança tenha este interesse pelos genitais, ainda não se trata da
verdadeira genitalidade, seu sentido é ambíguo, pois a criança ainda não
sabe discriminar sobre a diferença sexual anatômica e considera que todos
os seres são dotados de pênis – homens e mulheres. Após o período de
negação das diferenças entre os sexos, meninos e meninas terão que
conviver com o produto deste reconhecimento, cada um a sua maneira.
A sexualidade, até aqui, é auto-erótica, mas começa a ser investida nos
pais, porquanto o desejo libidinoso dos filhos é dirigido para o genitor do
sexo oposto, resultando numa verdadeira batalha que estruturará o
psiquismo do ser humano.

Período de Latência

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Depois da turbulência decorrente da renúncia produto do complexo de
Édipo e com um superego já formado, a criança entra num período de
acalmamento e diminuição da atividade sexual. Esta etapa inicia-se por
volta dos 5/6 anos e estende-se até à puberdade.
Pela impossibilidade de efetivar se intento da satisfação das pulsões
sexuais, a criança renuncia ao seu desejo incestuoso e volta-se para
objetos não pertencentes à sua estrutura familiar primária. Há uma
repressão das pulsões sexuais e sua energia é canalizada para
atividades e interesses sociais.
Nesta fase são erigidos sentimentos contentores da sexualidade, entre
eles a vergonha, o pudor, o nojo, a repugnância.

Fase Genital
Para Freud, na adolescência, é reativada toda sexualidade adormecida
durante o período de latência; o reaparecimento dos impulsos sexuais
reprimidos os dirige para o sexo oposto, numa perspectiva de sexualidade
adulta e madura. Neste estágio o adolescente reativa seu Édipo e
desencadeia-se uma maior independência e autonomia dos adolescentes
em relação aos pais idealizados da infância, redundando em escolhas
sexuais fora do mundo familiar e num processo de adaptação às exigências
socioculturais.
Este modo de conceber a sexualidade e a vida psíquica amplia a noção de
sexualidade, até então vista pelos sexólogos, reduzida ao sentido genital. A
libido, ligada que está à pulsão sexual, inscreve-se como componente
central de um Eros enfim reencontrado, simultaneamente desejo,
sublimação e sexualidade em todas as suas formas humanas.

Em 1920, com Mais-além do princípio de prazer, o dualismo pulsional se


realinha em torno de Eros (pulsão de vida) e Thânatos (pulsão de morte) e
a libido foi, assim, assimilada a Eros: “A libido de nossas pulsões sexuais
coincide com o Eros dos poetas de filósofos, que mantém a coesão de tudo
aquilo que vive” (1920). E, no Esboço de psicanálise, os dois termos se
fundiram: “toda energia de Eros, que doravante denominaremos de libido”.
“Freud fez da libido o móbil de um escândalo, que apareceria, a partir de
1910, nas múltiplas resistências à psicanálise em todos os países, sendo
ela sempre e por toda parte qualificada de doutrina pansexualista:
“germânica” demais aos olhos franceses, “latina” demais para os
escandinavos, “judaica” demais para os nazistas e “burguesa” demais,

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enfim, para o comunismo, ou seja, sempre “sexual” em demasia”
(Roudinesco, 1998).

EXERCÍCIO
Cada uma das fases descritas por Freud tem uma importância à constituição
do sujeito psíquico, mas uma delas é marcada pela reativação da
sexualidade, de forma organizada para a realização da sexualidade genital
plena (adulta). Que momento é este e no que implica sua consecução?
A. Fase fálica, que implica no reconhecimento anatômico do órgão sexual e
aceitação das diferenças entre os sexos.
B. Fase oral, anal e fálica que pressupõem uma organização pré-genital.
C. Fase genital, que é um equivalente da fase fálica em seus
desdobramentos mais específicos.
D. Período de latência, que é o grande preparador à genitalidade adulta.
E. Fase genital, que implica na renúncia do desejo incestuoso, na plenitude
fisiológica, na escolha sexual fora do mundo familiar, na assunção do sujeito
autônomo. .

Resposta E.
MÓDULO 5: TEORIA DA SEXUALIDADE - COMPLEXO DE ÉDIPO E SUA
DISSOLUÇÃO
TEORIA PSICANALÍTICA

MÓDULO 5
O complexo de Édipo e a sua dissolução

Bibliografia:
FREUD, S. Cinco Lições de Psicanálise: Quarta Lição (1912). IN FREUD,
S. Obras Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda;
1969.
______. A dissolução do complexo de Édipo (1924). IN FREUD, S. Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.

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MEZAN, R. A querela das interpretações. IN: A Vingança da
Esfinge, Ensaios de Psicanálise: Editora Brasiliense; 1988.

Complexo de Édipo
O complexo de Édipo (ou Édipo simplesmente, para abreviar) designa o
complexo definido por Freud, assim como é um mito fundador, pois a partir
deste conceito a teoria psiacanalítica procura elucidar as relações do ser
humano com suas origens e sua genealogia familiar e histórica.
O Édipo responde a duas questões:

1. Como se forma a identidade sexual de um homem e uma mulher;


2. Como uma pessoa torna-se neurótica.

Serve-nos, assim, para compreender como um prazer (de ordem sexual)


toma conta de uma criança - na idade entre 3 e 5 anos - e se transforma
em um sofrimento neurótico que atormentará o sujeito na vida adulta.
Foi na escuta de seus pacientes neuróticos, adultos, que Freud,
inicialmente, criou a teoria da sedução que, em seguida, foi substituída pela
teoria da fantasia e no escopo desta movimentação teórica surge a invenção
do complexo de Édipo (o mito de Édipo surge na teoria psicanalítica no exato
momento do nascimento da psicanálise, consecutivo ao abandono da teoria
da sedução). O que é relevante, apesar da mudança - da teoria da sedução
para a da fantasia - é que o acontecimento, real ou fantasiado, é que tenha
sido recalcado. A histeria é principalmente uma doença do esquecimento,
já que não se quer lembrar do que foi doloroso.
No entanto, a posição do sujeito é diferente no acontecimento real e no
fantasiado: no primeiro, a criança da cena de sedução é vítima; no segundo,
a criança da cena edipiana/fantasiada é atormentada entre o desejo de ser
seduzida e o medo de sê-lo, entre o medo de sentir prazer e o medo de
experimentá-lo.
A identidade sexual de todo homem ou mulher tem como ponto de partida o
complexo de Édipo e é por isto que o que se encontra na clínica, sob esta
ótica, são pessoas adultas sofrendo, não raras vezes, pelas vicissitudes de
um complexo não liquidado e que retorna à consciência, de forma
compulsiva e repetitiva, delineando-se, assim, um sofrimento neurótico.
O Édipo é um esquema teórico que permite ao psicanalista esclarecer e
compreender uma gama infindável de conflitos e sofrimentos psíquicos; é,

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do ponto de vista clínico, uma fantasia que atua desde o âmago de ser e o
toma por inteiro. Quanto ao mito, sua força na cultura se explica porque
através de uma fábula que traz à cena personagens familiares, o faz de tal
forma que estes personagens verdadeiramente encarnam as forças do
desejo humano e os seus interditos, suas proibições necessárias.
Fantasia ou mito, o complexo edipiano é um conceito central, nuclear (acha-
se presente em toda obra freudiana, desde 1897 até 1938), indispensável à
consistência da teoria e à eficácia da prática psicanalítica.

EXERCÍCIO
Uma das grandes contribuições de Freud em relação ao desenvolvimento
do ser humano se refere à sexualidade, tomada aí numa dimensão muito
mais do que a dimensão reprodutiva. Assinale a alternativa que corresponde
aos achados de Freud sobre este tema.
A. A vida sexual dos seres humanos começa na puberdade, o que
ocorre logo após ao nascimento deve ser entendida numa perspectiva
desenvolvimentista sem associação à sexualidade.
B. Após o nascimento a única manifestação de sexualidade se refere
ao ato de sugar o seio da mãe, portanto esta ação liga-se não a
sexualidade, mas a alimentação como ação voltada a sobrevivência.
C. A vida sexual inclui a noção de que diferentes partes do corpo são
reconhecidas como zonas erógenas, capazes de produzir prazer.
D. O conceito de sexual é um conceito amplo que inclui atividades têm
que ver com os órgãos genitais.
E. O primeiro órgão a surgir como zona erógena e a fazer exigências
libidinais à mente é, da época do nascimento em diante, os genitais.

Resposta C.

Dissolução do Complexo de Édipo


O complexo de Édipo é a representação inconsciente pela qual se exprime
o desejo sexual ou amoroso da criança pelo genitor do sexo oposto e sua
hostilidade para com o genitor do mesmo sexo. Essa representação pode
se inverter e exprimir o amor pelo genitor do mesmo sexo e o ódio pelo do
sexo oposto.

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O complexo de Édipo está ligado à fase fálica da sexualidade infantil e surge
quando o menino (por volta dos 2 ou 3 anos) começa a sentir sensações
prazerosas e, apaixonado pela mãe, quer possuí-la, colocando-se como
rival do pai, antes admirado. Uma posição inversa é adotada: ternura em
relação ao pai e hostilidade em relação à mãe. Há, ao mesmo tempo, o
complexo de Édipo e um complexo de Édipo invertido; estas duas posições
- positiva e negativa - no contato com os pais são complementares e
constituem o Édipo completo.
Será, por volta dos cinco anos, com o complexo de castração que, no
menino, o complexo desaparecerá: o menino reconhece a partir de então
na figura paterna o obstáculo à realização de seus desejos, abandona o
investimento na mãe e passa para uma identificação com o pai, que lhe
permitirá, na vida adulta, uma outra escolha de objeto e novas
identificações: ele se desliga da mãe (desaparecimento do complexo de
Édipo) para escolher seu próprio objeto de amor. Seu declínio marca a
entrada num período chamado de latência, e sua resolução após a
puberdade concretiza-se num novo tipo de escolha de objeto.
A tese da tese da libido única, de essência masculina, está ligada ao
complexo de Édipo. O menino sai do Édipo através da angústia de
castração, por seu lado, a menina ingressa nele pela descoberta da
castração e pela inveja do pênis e, nela, o complexo se manifesta pelo
desejo de ter um filho do pai. A dessimetria se apresenta no tocante ao fato
de a menina desligar-se de um objeto do mesmo sexo (a mãe) por outro de
sexo diferente (o pai). Não há um paralelismo exato entre o Édipo masculino
e seu homólogo feminino, mas encontramos uma simetria: nos dois sexos a
mãe é o primeiro objeto de amor, o elemento comum e primeiro.

EXERCÍCIO
Sobre o Complexo de Édipo na teoria de Freud, pode-se dizer que:
I. A ameaça de castração é o principal fator que leva a dissolução do
Complexo de Édipo e encontra-se na base do processo civilizatório.
II. O Complexo de Édipo é considerado um processo universal, que
desempenha um papel estruturante no desenvolvimento do indivíduo.
III. A elaboração do Complexo de Édipo inclui o abandono dos aspectos
mais passionais em relação aos pais e a consequente identificação
com os progenitores.
IV. A ameaça de castração é uma teoria sexual infantil para explicar a
diferença anatômica entre os sexos e só ocorre em casos extremos de
confusão de identidade.

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V. O Complexo de Édipo nunca se dissolve, e é predominante nos
meninos.

Identifique qual das alternativas está correta:


A. É correto o que se afirma em I, II e, V.
B. É correto o que se afirma em II, III e IV.
C. É correto o que se afirma em I, II e III.
D. É correto o que se afirma em II, IV e V.
E. É correto o que se afirma em II e V.

Resposta C.

O complexo de Édipo liga-se desde o começo à dupla questão do desejo


incestuoso e de sua proibição necessária, a fim de que nunca se transgrida
o encadeamento das gerações.
Mantém uma ligação estreita com o complexo de castração e com
a existência da diferença sexual e das gerações.
Freud viu a tragédia Édipo rei (Sófocles) a revelação ou, em outras palavras,
a simbolização, do universal do inconsciente que vinha disfarçado em
destino, a lenda grega apoderou-se de uma compulsão que todos sentiram,
por isto reconhecem-se, inconscientemente, na dramatização e se
assombram diante da realização do sonho transposto para a realidade.
Assim também ocorre com o drama de Hamlet (Shakespeare) que era, para
Freud, o drama do recalcamento, através da história de uma subjetividade
culpada.
Esta aproximação de ficções pode ser relacionada ao afã de Freud por
entender as questões relativas ao destino, àquilo que a vida reserva e que
se ignora. a isto podemos correlacionar o próprio conceito de inconsciente,
ninguém o conhece e, igualmente, dele não pode se desvencilhar. O
complexo de Édipo é, como foi dito inicialmente, a representação psíquica
do desejo inconsciente e, como consequência, traz em seu bojo a iniciação
em uma experiência de perda e de luto, referente aos pais como parceiros
sexuais.

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EXERCÍCIO
Um dos efeitos do complexo de Édipo na criança por volta dos 5 (cinco) ou
6 (seis) anos está relacionado com atitudes morais e regras que devem ser
seguidas e que estão sujeitas a punição, além de suscitar arrependimento
que vem de dentro de si própria e não de outra pessoa, exigindo
comportamento de obediência. Com base nestas afirmações identifique de
que fase do desenvolvimento psicossexual trata-se este momento descrito
e escolha a alternativa correta:
A. O período descrito é o de latência e demonstra a formação do
superego.
B. A fase descrita é a anal e demonstra o contato do ego com o ambiente.
C. A fase descrita é a oral e os primórdios do princípio de prazer.
D. A fase descrita é a fálica e mostra a estruturação do superego, pela
dissolução do Édipo.
E. A fase descrita é a fálica e mostra o início do complexo de Édipo.

Resposta D.
MÓDULO 6: PSICANÁLISE NA CLÍNICA - TRANSFERÊNCIA /
DESCOBERTA DO NARCISISMO

TEORIA PSICANALÍTICA

MÓDULO 6
A psicanálise na clínica
O surgimento da transferência
A descoberta do narcisismo.

Bibliografia:
FREUD, S. A dinâmica da transferência (1912). IN FREUD, S. Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
______. Sobre o Narcisismo: uma introdução (1914). IN FREUD, S. Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.

https://turmapsicologiaunip2018.blogspot.com/
______. Fragmentos da análise de um caso de histeria – O Caso Dora
– Epílogo (1905). IN FREUD, S. Obras Completas de S. Freud, Rio de
Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
______. Recordar, repetir e elaborar - Novas recomendações sobre a
técnica da Psicanálise II (1914). IN FREUD, S. Obras Completas de S.
Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
LAPLANCHE, J. Vocabulário da psicanálise - Laplanche e Pontalis. São
Paulo: Martins Fontes, 1992.

A Psicanálise na clínica e a transferência


Quando Freud (1915[1914]) diz que só o analista pode tratar a neurose que,
do contrário, sem o tratamento adequado (psicanalítico) está fadada a se
repetir em seus sintomas ‘ad infinitum’, afirma que o psicanalista deve saber
fazer algo que nenhum outro profissional ou pessoa terá condições de fazer.
Este algo a ser feito depende de quem o faz, precisa ser feito no
enfrentamento da neurose, e para isto é preciso que seja um psicanalista e
refere-se diretamente à sua formação. E este deve estar capacitado a
suportar o peso da repetição. E, o faz, através do manejo da transferência.
A associação livre abre caminho para a investigação e para o tratamento
psicanalíticos e coloca para o analista um novo horizonte a partir do qual
poderá trabalhar e que diz respeito ao manejo da transferência. Para Freud,
em seu texto Recordar, repetir e elaborar (1914), há uma relação estreita
entre a compulsão à repetição e a transferência, afirmando uma estreita
proximidade entre as duas: a transferência seria um fragmento da repetição
e esta é uma transferência do passado, seja para o analista seja para
diferentes aspectos da vida atual do paciente.
Mas o que se repete? Seguindo Freud nos textos citados trata-se
justamente de um processo inconsciente no qual o sujeito se sente
compelido a repetir atos, ideias, pensamentos e sonhos que, na sua origem,
foram geradores de sofrimento e ao serem repetidos não perdem esta
conotação, mas também não é possível abandoná-los por força da vontade.
E, como analistas, o que nos convoca a pensar, desde Freud, é justamente
o caráter enigmático (ou sinistro) desta necessidade de repetição ao ser
confrontada com o princípio de prazer. E é particularmente no texto de
1914, Recordar, repetir e elaborar que podemos ver explicitada uma trama
que liga repetição e transferência, na medida em que coloca que a repetição
é a forma de o paciente recordar, ainda que sob o signo da resistência,
daquilo que lhe é mais difícil, dado que está ligado às conotações sexuais

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que não passam pelo crivo da censura e, portanto, não podem ser
rememoradas. E, assim, será o manejo da transferência que permitirá que
se transforme a compulsão à repetição num motivo para recordar: A
transferência cria, assim, uma região intermediária entre a doença e a vida
real, através da qual a transição de uma para outra é efetuada (Freud, 1914,
p.201).

EXERCÍCIO
O processo transferencial ocorrido durante a análise pode ser concebido
como uma reatualização de experiências significativas da vida do paciente.
Com base nas observações de Freud acerca da transferência, escolha a
alternativa correta, assinalando-a.
A. A transferência é a forma mais clara em análise da superação da
resistência, pois viabiliza uma transmissão consciente de conteúdos
reprimidos de um sujeito para o analista.
B. A resistência transferencial cria a possibilidade de uma manifestação
menos crítica do sujeito durante a análise, especialmente pelo fato de
que a relação com o terapeuta tem sempre referência do real.
C. A transferência torna-se recurso fundamental da análise, pois torna
manifesto os impulsos eróticos esquecidos pelo paciente.
D. A transferência é um fenômeno que prejudica o desenvolvimento
favorável na análise, pois apresenta significativa resistência, impedido
clareza da dinâmica psíquica por parte do analista.
E. Sentimentos amistosos como confiança e amizade podem
caracterizar uma forma de transferência positiva, que são sempre vistos
como muito positivos.

Resposta C.

No entanto, transferência e repetição não são uma e mesma coisa, ainda


que se refiram exatamente àquilo que está na visada principal do analista,
a saber, o inconsciente. A primeira como uma técnica que serve de
contrapeso ao que é próprio das formações inconscientes, a compulsão à
repetição. E também está na visada do analista e da direção da análise
trabalhar como isso pode ser “acolhido” na situação analítica de tal forma
que, ao propiciar uma experiência abrandada de seus efeitos, aquilo que era

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um movimento repetitivo dê lugar a algo, se não radicalmente novo, pelo
menos uma criação própria do sujeito na sua relação com seu inconsciente.
Transferência não é repetição e esta não aparece de um só jeito. Mas na
transferência o lugar ocupado pelo analista revigora o status ficcional da
transferência na medida em que, ao encarnar uma abertura, o analista
remete o sujeito à sua própria errância, à suas infindáveis tentativas de criar
algo a partir do nada, ou melhor, da falta – falta de sentido, falta de norte ou
de rumo, que não se cansa de se repetir. A técnica que serve de contrapeso
a esta exigência pulsional de repetição não exclui este movimento, mas
permite que algo se produza, se crie nas movimentações possíveis a cada
momento, para cada um e chega-se a um pouco de verdade.

A descoberta do narcisismo
As primeiras considerações de Freud sobre o narcisismo surgem por volta
de 1909, época da segunda edição dos Três Ensaios..., em cartas (junho de
1913) e no artigo sobreLeonardo da Vinci (1910). Mas é somente com o
texto de 1914 que a discussão sobre as relações entre o eu e os objetos
externos culmina numa diferenciação entre duas formas distintas de
investimento libidinal: uma voltada para o próprio eu e outra voltada para os
objetos. São desta mesma época também as indagações de Freud sobre a
escolha da neurose e será em 1914 que afirmará o narcisismo como um
conceito à parte, capaz de esclarecer uma forma de investimento libidinal
que não diz respeito somente ao que podemos ver nas perversões,
estendendo-se à totalidade do curso regular do desenvolvimento sexual
humano, ou seja, passa a ser considerado como um estágio necessário
entre o auto-erotismo e o amor objetal. Então, podemos situar o narcisismo
como um conceito que auxilia tanto na compreensão da etiologia das
neuroses, das psicoses e das perversões quanto na reformulação das
noções anteriores sobre o curso dos investimentos libidinais.

Os dois narcisismos: primário e secundário


É certo que, num primeiro momento das investigações psicanalíticas, o
narcisismo surge associado às disposições patológicas, porém ao longo do
tempo e dos progressos teóricos, o narcisismo encontrado nas disposições
patológicas seria mais adequadamente explicado como um fenômeno
posterior a um ‘narcisismo primário’, este sim etapa necessária no
desenvolvimento da vida psíquica. A partir disto pode-se falar numa relação
diferente entre esta nova acepção de narcisismo e a constituição do
psiquismo, pois com o texto de 1914, há um primeiro abalo nas construções

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psicanalíticas no que diz respeito à clássica oposição entre pulsões sexuais
e pulsões do eu.
Antes de formular esta sua teoria sobre o narcisismo, acreditava-se que os
investimentos no eu eram tão somente relacionados às necessidades de
auto-conservação, ficando reservada a libido para as relações objetais.
Porém as investigações posteriores demonstraram que esta ‘libido do eu’
estava sendo ocultada por esta pressuposição. A importância destas
formulações acerca do narcisismo concentra-se no fato de estar diretamente
vinculado à própria constituição do eu, pois num primeiro momento –
anterior ao descobrimento do narcisismo como etapa necessária na
formação da vida psíquica – acreditava-se que as pulsões do eu eram
exclusivamente não-sexuais e que o auto-erotismo, enquanto estágio inicial
da sexualidade, não teria nenhuma finalidade de sobrevivência, assim como
seria anterior à formação do eu como uma unidade. Reconhecer que há um
investimento libidinal no eu leva à ideia de que estão presentes na
constituição deste diferentes energias psíquicas e que a passagem do
estado do auto-erotismo para o narcisismo se dá quando se acrescenta ao
auto-erotismo o eu, ou seja, quando este último passa a ser o objeto de
amor. Assim é que o narcisismo ganha o estatuto de primário, perde sua
conotação patológica e passa a ser um elemento fundamental na
constituição da vida psíquica.
Porém esta libido dirigida ao eu é a mesma energia que se dirige para os
objetos, trata-se nos dois casos da manifestação da mesma pulsão sexual,
só que agora compreendida como capaz de investir em diferentes objetos:
o próprio eu e os objetos externos. O eu seria então constituído por esta
energia, estaria investido, desde o princípio da sua constituição, de pulsões
de auto-conservação e de pulsões sexuais, o que significa dizer que é um
‘reservatório’ destas pulsões: dele tanto partem quanto retornam os
investimentos sexuais.

O retorno e o represamento da libido no eu, num grau mais elevado, são


experimentados como desagradáveis pelo sujeito, impelindo-o a ultrapassar
os limites deste narcisismo e ligar-se a outros objetos – é assim que se
processaria a transformação da libido narcísica em libido objetal ou, a
passagem do narcisismo primário para a relação objetal propriamente dita.
Portanto, o aparelho psíquico teria como tarefa elaborar as excitações para
que não se tornem aflitivas, o que pode ocorrer tanto na sua relação com
objetos reais quanto com imaginários.
Esta libido do eu, ou mais especificamente este narcisismo primário, é um
conceito que ajudará na reformulação das disposições patológicas no
tocante ao investimento do eu nele mesmo ou nos objetos, ou em outras

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palavras no modo como as relações do eu com os objetos ficam
comprometidas quando há um retorno a um investimento no próprio eu que
substitui o investimento objetal. Falar de narcisismo primário remete
necessariamente à teoria da libido, podendo ser considerado como uma
extensão desta última.
Poderíamos assim considerar a palavra ‘retorno’ como tendo um duplo
sentido: primeiro porque a libido desloca-se dos objetos para o próprio eu -
se o seu destino natural e normal deve ser os objetos, a ideia de retorno
tanto estaria ligada à noção de patologia (uma perversão, por exemplo)
quanto de um caminhar para trás, retorno igual a movimento na direção
contrária e esta conotação se referiria ao narcisismo secundário. Um
segundo sentido tomaria a palavra retorno focalizando o eu não só como
seu ponto de partida, mas como também alvo inicial (original) deste
investimento, este seria o narcisismo primário. A distinção entre narcisismo
primário e secundário está relacionada com a necessidade de se distinguir
entre o que seria um investimento no eu com ou sem conotação patológica,
assim como com questões referentes ao próprio estatuto destes conceitos
ao longo da obra freudiana e de alguns de seus seguidores, mais
especificamente no que diz respeito à demarcação de modos de
investimentos no eu, anteriores ou posteriores ao estabelecimento de
relações de objeto.

No que concerne à primeira tópica, Freud adota uma concepção de


narcisismo primário comportando uma dose de relação intersubjetiva, pois
na medida em que o narcisismo dos pais é reavivado na relação com ‘sua
majestade, o bebê’, pode-se afirmar que este narcisismo incipiente e
contemporâneo da constituição do eu, não está situado nem no interior da
criança, nem no interior dos pais, exclusivamente. Ele seria mais bem
definido neste momento da teoria freudiana como
uma identificação (narcísica) com o objeto e, por parte dos pais, uma
projeção de seu próprio narcisismo decaído.
Mas esta concepção não se mantém assim ao longo da obra freudiana - e
mesmo os psicanalistas contemporâneos estão divididos quanto a esta
questão – pois com a segunda tópica o narcisismo primário seria descrito
como uma fase anobjetal, referindo-se a total ausência de intercâmbios com
o meio e de indiferenciação entre o eu e o isso. Aqui, as analogias mais
pertinentes a este estado da vida psíquica seriam a vida intra-uterina e o
sono.
A confluência destes dois fatores – a imagem unificada que a criança passa
a ter do próprio corpo e a revivência do narcisismo dos pais incidindo sobre
a criança – é que inaugura a constituição do Eu Ideal (Ideal Ich). É a imagem

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idealizada do eu, é a experiência de um eu real que tem exatamente os
mesmos atributos que são percebidos pelos objetos de amor, no caso os
pais.
Esta imagem unificada do próprio corpo tem o valor de passagem de um
estado em que reinavam as pulsões parciais, para um estado mais
organizado, que coincide com a constituição do eu enquanto entidade
autônoma, e isto só se dá com a entrada no estágio do narcisismo, o
narcisismo infantil que logo sofre um abalo, sua duração enquanto modo de
ligação com os objetos é limitada e o fator principal de sua ‘queda’ provém
do complexo de castração e também de outras situações que lhe são
correlatas. A imagem idealizada de si mesmo não se mantém nos
intercâmbios com o meio, a percepção de si como totalmente adequada ao
desejo do outro e o objeto reconhecido na justa medida da identidade com
o eu tem como destino, do ponto de vista psíquico, um refúgio, que ao
mesmo tempo em que perpetua esta representação, desloca-a para o que
vem a se chamar instância ideal.

EXERCÍCIO
O narcisismo não é um vilão da história do sujeito, mas um elemento que
abre o caminho para a constituição do sujeito psíquico. Nesta perspectiva
identifique a alternativa correta:
A. O narcisismo primário resguarda em si certo grau de patologia.
B. O narcisismo secundário é produto do investimento libidinal dos pais
na criança.
C. A descoberta do narcisismo como etapa necessária na formação da
vida psíquica reforça a ideia de seu aspecto patológico.
D. No narcisismo primário a criança toma a si mesma como objeto de
amor, ao invés de escolher objetos exteriores.
E. No narcisismo secundário a criança investe sua libido nos objetos
exteriores.

Resposta D.

MÓDULO 7: PSICANÁLISE NA CLÍNICA - O TRABALHO ANALÍTICO

TEORIA PSICANALÍTICA

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MÓDULO 7
A psicanálise na clínica: a atitude frente à castração - neuroses,
psicoses, perversões
Considerações sobre o objetivo e o final de uma análise

Bibliografia:
FREUD, S. A perda da realidade na neurose e na psicose (1924). IN
FREUD,S. Obras Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora
Ltda.
______. Construções em Psicanálise (1937). IN FREUD, S. Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.
MEZAN, R. Psicanálise e Psicoterapia. In A Vingança da Esfinge, Ensaios
de Psicanálise. Editora Brasiliense, 1988.

Castração
Tanto quanto o complexo de Édipo é a representação psíquica de uma
experiência, o complexo de castração também diz respeito a uma
experiência psíquica vivida inconscientemente pela criança, por volta dos
seus cinco anos de idade e que tem peso decisivo no tocante à identidade
sexual, ou em outras palavras, à escolha de objeto de amor. É neste
momento que a criança reconhece, tomada pela angústia, a diferença
sexual, ou seja, que o mundo é composto por homens e mulheres e que o
corpo tem seus limites e, para o menino, isto significa que, apesar de possuir
o pênis, este não lhe permitirá realizar seus sonhos e desejos sexuais com
sua mãe, pois até então vivia na ilusão da onipotência.
Apesar da ênfase atribuída à castração enquanto etapa da evolução da
sexualidade infantil, é importante lembrar que sua relevância transcende o
que seria uma significação cronológica, na medida em que é uma
experiência re-vivida - inconscientemente - ao longo de toda a existência. A
psicanálise - como prática clínica - é uma oportunidade para reativar esta
experiência, possibilitando assim que, na vida adulta, retome-se o curso da
vida sem desconsiderar os limites do corpo em relação à vastidão dos
desejos, experiência vivida e sofrida desde tenra infância.
O complexo de castração para o menino assinala a saída do complexo de
Édipo e a identificação com o pai (ou seu substituto) no núcleo do superego.
A consequência da constatação da diferença sexual está relacionada à
rememoração ou atualização de ameaça de castração - ouvida ou

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fantasiada - quando por ocasião de atividades masturbatórias e é o pai o
agente desta ameaça.
O complexo de castração na menina passa-se de maneira distinta, pois é
sob o efeito deste complexo que ela entrará no complexo de Édipo e se
afastará da mãe, pois a esta última é atribuída a culpa pela privação do
pênis. Afasta-se do objeto materno e orienta-se para o desejo do pênis
paterno e de sua própria heterossexualidade.

Além da importância deste conceito para a clínica - no que diz respeito ao


diagnóstico e à direção de um tratamento psicanalítico -, o complexo de
castração tem sua implicação na ordem cultural e social na medida em que
nele estão representadas, junto com o complexo de Édipo, questões sobre
a instituição das leis e proibições que regulam as relações e organizações
humanas.

EXERCÍCIO
A submissão à “castração” simbólica é sinônimo de crescimento e evolução
psíquica, que repercute na dimensão da sociedade e cultura, pois a ela
estão implícitos:
A. O reconhecimento da diferença sexual que supõe o abandono
de nossa ilusão de impotência infantil.
B. A irreverência aos limites de nosso corpo rumo a realização de
nossos desejos.
C. Um elemento fundante da vida em sociedade, pois funciona
como regulador das relações sociais.
D. O desconhecimento da diferença sexual que nos mantém no
patamar da onipotência infantil.
E. Por meio desta experiência vivida e sofrida desde a infância
reagimos e podemos nos abster de submetermos a ela, mantendo-
nos donos de nossas escolhas.

Resposta C.

Neurose, psicose e perversão


Neurose

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Freud emprega o termo neurose para falar de uma doença nervosa, na qual
os sintomas representam simbolicamente um conflito psíquico recalcado, de
origem infantil e causa sexual. Em termos de uma classificação, designam-
se os seguintes registros freudianos: neurose histérica, neurose obsessiva,
neurose atual (neurose de angústia e neurastenia) e a psiconeurose
(neurose de transferência e neurose narcísica).
A neurose advém como resultante de um mecanismo de defesa contra a
angústia e de uma formação de compromisso, entre esta defesa e a possível
realização de um desejo. Este desejo - e sua proibição - é aquele à que se
refere o complexo de Édipo e o complexo de castração. Na neurose há um
conflito entre o ego e o id, coexistindo, interna e inconscientemente, tanto
impulsos que exigem satisfação quanto moções que levam em conta a
realidade.

Psicose
Freud julgava a psicose quase sempre incurável e este era um dos motivos
pelos quais não se dedicava ao seu tratamento. Definiu, inicialmente, em
sua obra, a psicose como um distúrbio entre o ego e o mundo externo; no
contexto da segunda tópica e com o desenvolvimento da teoria do
narcisismo, a psicose foi explicada a partir da reconstrução de uma
realidade alucinatória na qual o sujeito fica unicamente voltado para si
mesmo, numa situação sexual auto-erótica em que toma literalmente o
próprio corpo (ou parte deste) como objeto de amor (sem alteridade
possível). Portanto aqui a castração, enquanto experiência psíquica, não
pode ser experienciada.

Perversão
Tanto quanto na psicose, Freud caracterizou a perversão a partir de uma
clivagem do ego, em que coabitam duas realidades distintas: a recusa e o
reconhecimento da ausência do pênis na mulher. Assim, a perversão surge
como renegação ou desmentido da castração, aliada à fixação da
sexualidade infantil; trata-se dos efeitos sobre o sujeito da confrontação com
a diferença sexual, existindo tanto no homem quanto na mulher.

EXERCÍCIO
O que faz com que cada uma das organizações – neurótica, perversa e
psicótica – exija uma maneira de condução do trabalho psicanalítico,
decorre das suas especificidades, o que equivale a dizer...

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I. Que a forma com que foi experienciada a castração, faz do perverso
alguém rendido ao peso da realidade.
II. Que o conflito do psicótico consiste na fixação de uma sexualidade
peverso-polimorfa e na rejeição do reconhecimento anatômico do órgão
e consequente negação das diferenças.
III. Que censura no neurótico é tão intensa que só consegue “viver” seu
desejo pela via do sintoma.
IV. Que em cada uma das três organizações reside uma forma de
funcionamento da mente, que determina um modo de relação do sujeito
com o outro e seu desejo.

Identifique as alternativas e verifique a correta:


A. É correto o que se afirma em I, II e III.
B. É correto o que se afirma em III e IV.
C. É correto o que se afirma em II e III.
D. É correto o que se afirma em II, III e IV.
E. É correto o que se afirma em I e III.

Resposta B.

Considerações sobre o objetivo e o final de uma análise


Uma análise se inicia e se mantém ao longo do tempo quando e se aquele
que a procura apresente uma queixa (ou mais de uma), é preciso que se
mostre, enfim, queixoso quanto ao sofrimento que seus sintomas lhe
trazem e que aspire a algum tipo de mudança. Esta mudança, sonhada,
mais ou menos explicitada nas entrevistas/consultas com um
analista/terapeuta são, por força da tradição e das origens, quase sempre
associadas à ideia de cura, ideia esta que está ligada ao modelo médico e
do qual o analista terapeuta deve fazer um esforço constante no sentido de
se diferenciar.
Entende-se que, para a psicanálise, os sintomas são a expressão de um
conflito inconsciente, uma luta entre o ego e um sofrimento inconsciente, por
isto qualquer noção de cura que carregue a expectativa de eliminação ou
desaparecimento dos sintomas não se justifica numa perspectiva
psicanalítica. Mas, como os sintomas são a forma encontrada pelos sujeitos
de enfrentar algo que pareceria insuportável - a dor e o sofrimento

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inconscientes - será através da relação transferencial, em que o
analista/terapeuta será incluído como testemunha deste sofrimento que se
pode, psicanaliticamente falando, trabalhar para que as mudanças nas
relações subjetivas com o mundo e consigo mesmo possam ocorrer.
Trabalha-se para dissipar a dor inconsciente, mas isto não pode ser feito
pensando em eliminar sintomas, atitude mais relacionada a um “orgulho
terapêutico” que acaba por privilegiar a figura do analista/terapeuta e seus
sucessos ou fracassos. O objetivo de uma análise pode ser pensado como
Freud o colocou em termos de uma reorganização ou ampliação do ego em
benefício do id, na medida em que a escuta analítica, através da relação
transferencial, serve de palco para o jogo de forças pulsionais que não
desaparecerão ao fim de uma análise, mas se poderá dizer de uma
experiência mais abrandada de seus efeitos na vida dos sujeitos.

EXERCÍCIO
Luís busca a análise em função dos sentimentos de confusão e vazio que
vem vivenciando nos últimos meses e que o fazem sofrer muito, chegando
a pensar em fugir de todas as suas obrigações. Neste caso,
consideraríamos como principal objetivo de seu processo psicanalítico...
A. A urgente necessidade de eliminação do sintoma.
B. A eliminação dos efeitos do jogo pulsional de seu
psiquismo.
C. A dissipação da dor inconsciente e consequente
eliminação do sintoma.
D. O abrandamento dos efeitos do jogo pulsional de seu
psiquismo.
E. O reconhecimento de suas dificuldades e a medicalização
de seus sintomas.

Resposta D.
MÓDULO 8: PSICANÁLISE E SOCIEDADE - VIDA EM GRUPO /
IDENTIFICAÇÃO / IDEAL DO EGO
TEORIA PSICANALÍTICA

MÓDULO 8

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Psicanálise e sociedade: a psicologia das massas, a identificação, o
ideal do ego.
A compreensão da vida em grupo a partir do referencial psicanalítico.

Bibliografia:
FREUD, S. A Psicologia das Massas e a Análise do Ego, cap. IV a VIII e XII
(1921). IN FREUD, S., Obras Completas de S. Freud, Rio de Janeiro:
Imago Editora Ltda; 1969.
______. Mal estar na civilização, cap I (1930[1929]). IN FREUD, S., Obras
Completas de S. Freud, Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1969.

Psicanálise e Sociedade
Depois de Mais-além do princípio de prazer (1920), o texto que trata das
relações entre psicanálise e sociedade - Psicologia das massas e Análise
do ego (1921) - é um outro marco importante na reformulação teórica
freudiana, conhecida como a segunda tópica. Trata-se de um texto que
explora os caminhos que vão da compreensão do indivíduo para a da
sociedade.
Freud refutou em seu texto uma oposição categórica entre uma psicologia
do indivíduo e uma psicologia social e, seu ponto de partida para isto, é o
fato inegável de que todo indivíduo está sempre referido a um outro na
constituição mesma de seu psiquismo, o que leva à conclusão que toda
psicologia individual é, desde sempre, social, por causa deste laço inerente
à própria constituição do humano, ainda que uma não se confunda com a
outra, na medida em que os efeitos de um narcisismo sempre presente, em
que não há lugar para a diferença ou para a alteridade, não deixam de existir
enquanto possibilidades individuais que se diferenciam de atos sociais.
Quais são e como se definem as relações dos indivíduos com a massa,
foram as questões que nortearam as investigações freudianas neste texto,
pensando nas mudanças evidenciadas nos indivíduos quando estão sós e
quando estão fazendo parte de uma organização que os transcende.
Freud associa os movimentos de massa a partir do que definiu em sua
teorização sobre o psiquismo individual como a fonte energética das pulsões
- a libido - e que é o que move as relações amorosas e que será concebido
também como o que estará operando nos movimentos de massa, inclusive
quanto à relação da massa com um líder. Neste aspecto, Freud irá

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diferenciar os agrupamentos sem e com líder, sendo estes últimos
representados em seu texto pela igreja e pelo exército, instituições nas quais
é possível identificar tanto as relações da massa com o líder, quanto as
relações dos membros entre si, evidenciando estes laços como de natureza
amorosa.
No entanto será a relação - ou o investimento libidinal - com o líder uma
espécie de protótipo das relações dos membros entre si e disto resulta um
aspecto fundamental deste momento no pensamento freudiano, a saber, o
desenvolvimento da teoria da identificação. De um lado tem-se a teorização
de como a relação entre os membros se dá justamente pela identificação
com o líder e, por outro lado, surge a distinção entre o ego e o ideal do ego
(predecessor do superego). Os indivíduos têm no líder um objeto externo
que ocupa o lugar de ideal do ego, assim como, identificam-se entre si por
causa desta identificação ao líder, na qual a dimensão sexual seria
sublimada.
Como este texto trata das relações entre o indivíduo e as organizações, não
escapou à análise de muitos comentadores, as implicações do que Freud
expõe com a própria institucionalização da psicanálise, dado que os
psicanalistas não estão a salvo das mesmas vicissitudes pelas quais os
indivíduos passam em seus embates mais ou menos conflituosos com as
instituições.

EXERCÍCIO
A presença inequívoca do outro na constituição do psiquismo leva Freud à
suas investigações sobre as relações entre psicologia individual e social,
sobre este aspecto podemos afirmar que para Freud:
A. A psicologia de grupo é uma categoria distinta da psicologia
individual, não podem ser equiparadas.
B. A psicologia individual refere-se somente aos indivíduos, enquanto
que a psicologia social não considera os indivíduos, mas apenas os
aspectos dinâmicos das interações sociais.
C. A psicologia social é individual na medida em que os grupos são
basicamente constituídos de indivíduos.
D. Não há oposição entre a psicologia individual e a psicologia social,
pois a constituição do sujeito psíquico advém da trama que é tecida a
partir do outro.
E. A tarefa dos pais é a de cuidar de seus filhos, o abandono destes
cuidados iniciais gera um narcisismo pessoal e futuramente coletivo.

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Resposta D.

Ego ideal e ideal do ego


As instâncias ego ideal e ideal do ego, tais como são conhecidas hoje em
psicanálise, não se encontram de forma alguma claras e evidentes na obra
de Freud. Remontam desde 1895 e desembocam na constituição do
superego, porém a distinção clara entre estes dois conceitos só será
proposta por sucedâneos do pensamento freudiano.
Apesar da não diferenciação no texto sobre o narcisismo (1914) entre as
duas instâncias ideais - ego ideal e ideal do ego - é possível lá entrever a
ideia de substituição do narcisismo como modo de ligação com os objetos
pelo surgimento do ego ideal, que seria aquela imagem idealizada de si
mesmo que se mantém inconscientemente no psiquismo. Através das
trocas com o mundo, particularmente da relação da criança com a mãe e
desta com outros, a criança percebe que a mãe deseja algo fora dela. Isto
leva a uma experiência em que a criança é atingida e ferida em seu
narcisismo primário, sentindo uma importante frustração no que diz respeito
à sua necessidade de ser amada pelo outro de forma absoluta: para voltar
a ter o amor total do outro é preciso corresponder àquilo que o preencheria
de tal forma que não precisaria amar outros. O ego bastaria e isto seria
chegar à perfeição narcísica, esta corresponderia ao ego ideal.
Porém o desenvolvimento do ego só se dará a partir de um distanciamento
do narcisismo primário e do estabelecimento de relações objetais; para se
chegar a este seu objetivo é preciso que aquele desejo totalizante de ser
amado leve em conta, por sua vez, as representações e os imperativos
culturais, sociais e éticos que são transmitidos pelas figuras parentais e que
funcionam como mediadores, representantes externos, constituídos pelo
discurso dos pais. Ao assumir de uma certa forma como seus os valores e
ideais que fariam parte de uma suposta demanda do outro e do desejo de
satisfazê-la, inaugura o surgimento de uma outra instância ideal, o ideal do
ego, que comporta uma imagem do objeto e uma imagem do eu, mantendo
sua relação com a libido.
Na constituição do ego há, portanto, elementos tanto do ego ideal quanto
do ideal do ego, devido a um deslocamento da libido em relação ao
narcisismo primário, a partir do momento em que algo é imposto de fora -
este ‘fora’ aqui se refere a fora do imaginário, refere-se à passagem da
imagem para a ideia, mediada pela linguagem.

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EXERCÍCIO
Freud no texto Psicologia de Grupo e Análise de Ego parte do fato
fundamental de que o indivíduo num grupo está sujeito, através da influência
deste, ao que com frequência constitui profunda alteração em sua atividade
mental. Sua submissão à emoção torna-se extraordinariamente
intensificada, enquanto que sua capacidade intelectual é acentuadamente
reduzida, com ambos os processos evidentemente dirigindo-se para uma
aproximação com os outros indivíduos do grupo. Este fato só pode ser
alcançado devido:
A. A coerção apresentada pelo grupo; e a falta de convicção das
crenças de inclinações pessoais.
B. A resignação das expressões de inclinações pessoais; e a remoção
das inibições aos instintos que são peculiares a cada indivíduo.
C. A valorização dos valores sociais em detrimento dos valores
peculiares de cada indivíduo.
D. A dificuldade de desenvolvimento psíquico; e à necessidade de
apoiar-se em um grupo para a manutenção de sua existência.
E. A personalidade impulsiva; e um déficit intelectual que não permite
o controle dos impulsos.

Resposta B.

Sobre a identificação
Uma teoria da identificação, tal como a encontramos em Freud, é um esforço
conceitual para se compreender as formações inconscientes constitutivas
da vida do sujeito, os conflitos que podem advir desta sua condição e em
que situações estas identificações podem desempenhar um papel
patológico.
No início de ‘A Identificação’ já encontramos uma referência a esta operação
como um mecanismo que marca os primeiros passos da vida afetiva de um
sujeito, ela é um modo de pensamento constituinte da vida psíquica e há
uma importância particular no fato de estar relacionada ao complexo de
Édipo. A ênfase das investigações deve recair mais sobre os
modos como ela se processa nas diferentes formações psíquicas, sem se
prender na busca de suas causas.
A identificação da qual se trata em psicanálise refere-se à situação em que
o sujeito confunde-se com outra pessoa, mas esta confusão não é percebida

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conscientemente pelo sujeito, na medida em que não tem o mesmo caráter
de uma imitação ou de um disfarce. Nestes casos - da imitação ou do
disfarce - sabe-se que se parece com um outro, mas isto não se confunde
com o que se é. No caso da identificação propriamente dita - inconsciente -
há um completo desconhecimento por parte do sujeito de que se atribuiu
características de outro(s).
Estamos falando sobre as identificações de modo bastante generalizado, no
entanto, existem algumas nuances que lhe são próprias, como por exemplo,
se estão referidas a identificações com objetos ou com traços destes e que
dizem respeito a modos diferenciados de se estabelecer laços afetivos ao
longo do desenvolvimento da vida psíquica.

No desenvolvimento do conceito de identificação dentro da teoria


psicanalítica, desde Freud até seus sucessores, distinguem-se
principalmente três tipos de identificação, a histérica, a primária e a
secundária. A identificação histérica, a primeira a ser delineada, é aquela
que se encontra mais visível no sintoma, isto porque através das
manifestações histéricas exprime-se o elemento inconsciente a partir do
qual ocorreu a identificação e o sintoma funciona como uma defesa contra
os impulsos e fantasias sexuais que lhes são correlatos.
A identificação primária é aquela que antecede, em termos de estruturação
do psiquismo, o estabelecimento de relações de objeto, e está relacionada
aos primeiros investimentos no objeto, do qual o sujeito se torna
dependente. Ela está estreitamente ligada à fase oral de incorporação,
realçando aí a não diferenciação entre sujeito e objeto. Assim como no
narcisismo primário, também cabe aqui ressaltar que é difícil conceber tal
modo de ligação como totalmente indiferenciado ou anobjetal, mesmo
sendo um momento em que não é possível para o sujeito conceber que o
objeto exista independentemente dele.
Todas as outras identificações que se sobrepõem a esta identificação
primária e têm sua ocorrência posterior ao estabelecimento de uma relação
objetal, são chamadas identificações secundárias. O que as diferencia
radicalmente é o fato de que na identificação primária ocorre uma
modalidade de ligação com o objeto que supõe uma total alienação do
sujeito neste, de tal forma que a imagem de um deveria ilusoriamente
corresponder à imagem do outro. Na identificação secundária este tipo de
ligação é abandonado a partir das trocas com o meio, nas quais o sujeito
substitui a identificação e o desejo de posse do objeto pela identificação com
alguns traços do objeto, que vão formando sua personalidade.

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Um dos aspectos mais importantes das identificações, que se manifesta
essencialmente pelo desejo de ser como o objeto, é a ambivalência. Há
tanto intensos sentimentos de amor e admiração pelo objeto, que
convergem para um ou outro traço deste, quanto há desde o princípio uma
boa dose de agressividade, na medida em que, em certo sentido, identificar-
se com alguém ou com algo significa querer incorporar em si mesmo este
alguém ou algo, portanto destruí-lo ou despojá-lo de seu lugar. Nos
primórdios do desenvolvimento psíquico, naquilo que é denominado sua
fase oral, as identificações são precedidas por este desejo de incorporação,
que é reconhecido como o protótipo primitivo das identificações.
O palco onde estas representações mostram-se evidentes é o das relações
interpessoais, em que o sujeito ao identificar-se com um objeto desaparece
sob a ‘sombra’ deste, mas sem que possa, conscientemente, aperceber-se
disto.
A fase ou momento das primeiras identificações marca o início de um
processo que transcorrerá ao longo de toda a vida, e que também estará
ligado à formação dos sintomas, através das sucessivas identificações que
vão sendo substituídas ao longo do tempo com maior ou menor êxito; como
situação exemplar teríamos a própria formação e resolução do complexo de
Édipo.
Neste processo, as identificações vão se sucedendo, elas mesmas não se
mantêm, mas algum traço é mantido e quase poderíamos dizer que se trata
de um jogo, onde se alternam momentos em que ocorrem as identificações
e momentos em que algumas se desfazem e, ao se desfazerem, vão dando
origem à própria constituição do ego.

EXERCÍCIO
Os povos primitivos acreditavam que ao devorar um animal (ou um outro
homem, no caso dos canibais) incorporavam as características deste
animal, características essas almejadas por eles (força, bravura,
inteligência). Freud trará este exemplo para falar sobre relações objetais e
sobre um conceito fundamental da psicanálise, a identificação. Sobre este
tema, está correto o que se afirma em:
I. A identificação com o mesmo sexo ou com o sexo oposto é um
elemento do complexo de Édipo. Ao eleger um dos genitores como
investimento objetal, a criança, concomitantemente, identifica-se com o
outro.
II. A identificação é um processo de escolha de objeto, que se realiza de
modo consciente na vida infantil do sujeito.

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III. Poderíamos dizer que o processo de construção do ego tem na
identificação um dos seus pilares.
IV. Em casos normais o menino sempre se identificará com o pai e a
menina com a mãe. Em casos de homossexualidade, vemos a
identificação ocorrer de modo invertido.

Identifique as alternativas e verifique a correta:


A. É correto o que se afirma em I, II e III.
B. É correto o que se afirma em III e IV.
C. É correto o que se afirma em II e III.
D. É correto o que se afirma em II, III e IV.
E. É correto o que se afirma em I e III.

Resposta E.

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