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[In : Curinga Nº 19, - Revista da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Minas Gerais, Belo Horizonte,
EBP, novembro/2003 : 120-125,]
analítico sem articulá-lo ao clínico. Sabemos desde Freud que na psicanálise há o primado
da clínica sobre a teoria. O que convoca a elaboração para se dar conta da construção do
caso é a própria clínica. Vamos colocar aqui alguns pontos necessários para se pensar a
bulimia não podem ser pensadas tendo valor de metáforas ou como sendo soluções
metafóricas para o sujeito. Não são satisfações substitutivas. Não são pois, sintomas vistos
sujeito apresentando a anorexia e/ou bulimia, encontra-se diante do Outro, marcado por
uma posição fixa, fechado num circuito interno onde o gozo e sua mostração, não permitem
de uma pulsão que envolve o corpo comprometido pela ação do significante. O corpo aqui
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distúrbios clínicos como as amenorréias, que ocorrem nas anorexias, dão conta de como o
sujeito não quer entrar no jogo das relações simbolizadas. Pois para entrar no jogo o sujeito
tem de consentir em perder algo. O jogo simbólico se faz quando ao se perder, se ganhará,
isso talvez não funcione nas competições esportivas, mas é assim que funciona para a
entre o adolescente masculino e o feminino? Por que tais patologias ocorrem mais entre as
Anorexia e puberdade
A anoréxica se posta como uma guerreira é a Joana d’Arc que combate a dieta, pois
a ciência não está em condições de dar uma resposta a tudo, ela não é suficiente para isso.
Essas patologias refletem o mal-estar da relação entre os sexos e sua abordagem pela
psicanálise é distinta daquela da ciência, pois essa tem seus discursos, que são tomados
acepção de equívoco e por isso pode fazer surgir o sujeito, que fora antes foracluido pela
ciência — falamos aqui, então, num particular, ou melhor, num singular, do um-a-um.
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Freud trabalhou sobre o tema das Transformações da Puberdade em seu artigo Três
ensaios sobre a sexualidade (1905). Esse texto foi muitas vezes retomado e ao longo dos
afirmara antes: o texto acompanhou, pois, o movimento das descobertas teóricas do autor.
Esse tema tão caro à psicanálise é retomado por Carlo Viganò (2002-b), vamos seguir esse
autor, na abordagem das questões que propusemos. Viganò fala do gozo sem a mediação
Ele diz:
O mal estar específico de nossos dias nos indica que, à irrupção de um novo
chega a esvaziar o corpo, não resta senão o objeto real, não mais introduzi-
aí de um gozo que evita a função da fala, quer dizer de um corpo que entra
preciso interrogar sobre o que pode mediatizar uma tal alienação do corpo
conversão é uma metáfora substitutiva da sexualidade, disposta como uma mensagem a ser
lida e interpretada pelo analista — convocado pela histérica a produzir um saber sobre seu
sofrimento:
$ S1
___ ____
a S2
chamamos novas formas do sintoma. Ele situou que o sintoma hoje não é mais aquele
sintoma neurótico da época de Freud. Pois o sintoma histérico tinha o valor de uma
Caso Dora”, descrito por Freud, lembra que o sintoma da tosse nervosa, Freud o interpretou
a partir das fantasias inconscientes da paciente. Isso quando Dora dizia que a Sra. K. só
amava seu pai porque ele era ein vermögender Mann (um homem de posses). Freud
apreende o sentido sexual oculto na frase, escutando: “meu pai era ein unvermögender
Mann” (um homem sem recursos). Ou seja, que ele era um homem incapaz, impotente, o
que sustentava a fantasia de um coito oral que a moça tinha da relação do pai com a Sra. K.
A interpretação curou-a de sua tosse histérica. A tosse, portanto, era a metáfora da relação
sexual fantasiada. Observamos que os sintomas não se apresentam da mesma forma nos
dias de hoje.
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antes mesmo de seu nascimento, pois é apreendido primeiro a partir de sua nomeação a
partir do Outro. Precedendo seu nascimento o bebê tem um lugar já preparado para ele no
significante, então temos uma causação do sujeito a partir do Outro, pelo desejo do Outro.
Pela separação se verá um sujeito implicado com seu desejo. Pela separação o sujeito
encontrará o ponto de enigma do desejo, é ali no intervalo entre dois significantes que vige
temos por exemplo quando uma criança dirá a um adulto, ou de seus pais: o que significo
para eles? O que querem de mim? Assim, finalmente, falamos que a alienação encobre o
fato de que o objeto de gozo como tal está perdido, como nos indica Freud em A Negativa
(1925). Na alienação temos o sujeito produzido na linguagem que lhe é preexistente. Então
na constituição do sujeito essas duas operações estão disjuntas, mas articuladas. Uma não
vai sem a outra. E é pela separação que o sujeito pode inquirir, perguntar sobre sua
existência: essa é uma operação que só possível se ele acede ao desejo – o que fica
impossível na psicose, onde não se verifica uma articulação entre a alienação e a separação.
ação do Nome-do-Pai, a criança que fora antes introduzida na função significante, o que lhe
permite pela ação dessa função — que é a função fálica, pode renunciar a ser o falo
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imaginário de sua mãe (φ) e obterá como recompensa o falo simbólico (Φ) que é a
mesmo tempo absolutamente íntimo e estranho. Esse estranho nos remete à noção freudiana
de Unheimlich, palavra alemã que significa estranho. E esse estranho, nos diz Freud (1919)
relaciona-se “indubitavelmente com que é assustador — com o que provoca horror (...)”
mas ao mesmo tempo “nos remete ao que é conhecido (...)”. Lembremos que essa palavra
conhecido, vem logo em seguida à partícula de negação Un, que evoca a noção de algo que
Podemos observar que a puberdade é, para o sujeito, por vezes dolorosa ou mesmo
ruidosa porque não é da ordem de uma escolha, ela vem para o sujeito como uma irrupção.
Ele disporá de algo que antes não possuía: mas não sabe o que fazer com esse algo novo. E
se falamos de irrupção de um real. Esse novo tempo convoca o sujeito a ter de inventar
saídas.É como se o sujeito tivesse que se apresentar a si mesmo: ele sabe que continua
nos diz que o “Não!” da anoréxica indica uma tentativa de marcação para o sujeito dessa
mas a anorexia revela uma separação patológica, não dialetizável, absoluta marcada por um
centra no ser e não no ter o falo — e esse deve ser um indicador porque há mais mulheres
anoréxicas que rapazes anórexicos. Pois a fantasia feminina é uma defesa do próprio ser
Temos uma evidência obscena, pois o corpo magro da anoréxica aponta para uma clínica
do olhar. Corpo como lugar evidente onde se manifesta uma alteração. Evidência que se
Corpo situado como meio de gozo, que parece jogar intensamente — jogo de corpo, ou
anoréxica com o nada, parceria que se interpõe entre o sujeito e o Outro, o que não anula o
Outro do significante, mas o coloca a serviço do gozo: então gozo que se fabrica do corpo
para escavar uma falta no todo materno. Serve-se desse lugar, para exercer sua tirania, não
somente sobre a mãe, mas sobre toda a família acarretando muitos conflitos. Menard nos
mostra que a terapêutica médica mesmo que ela esteja engajada em nome de um contrato
corpo descarnado.
podemos ver aí realçado num certo sadismo de determinadas histéricas — como nos diz
condimentos e substâncias altamente caloríficas, que elas gozam não comendo, mas vendo
patologias do ato são respostas colocadas do lado oral da demanda de amor. Respostas ou
escolhas regressivas e diz que são respostas freqüentes na adolescência porque elas
permitem ao mesmo tempo uma certa recusa da sexuação, que em todo caso poderá ser
Quando a saída se dá sob uma estrutura psicótica esses sintomas podem ter uma função de
trata-se da Comunidade La Vela, que se localiza nos arredores de Turim (Cosenza, 2003).
Trata-se de um local onde ficam em tratamento por um período de oito meses a um ano,
pacientes com casos anorexia-bulimia com estrutura psicótica, pacientes com transtornos
hospedeira.
permitirão uma clínica do sujeito voltada ao real, pois excluem a contingência, tão
propõe o trabalho institucional como uma ação conjunta sobre o sentido inconsciente e
sobre o gozo, com o que chamam união convergente de momentos de elaboração simbólica
— que é a presença de trabalhos com grupos, atelier, consultas individuais e reuniões com
práticas de intervenções que estabelecem regras e limites para a organização da vida nesse
ABSTRACT
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Resumo: O autor enumera a anorexia e a bulimia entre os chamados novos sintomas da clínica
psicanalítica, mostrando que se trata de patologias do ato, onde os sujeitos têm uma resposta holofrásica, ou
seja, uma relação alterada com o Outro simbólico. Demonstra, também, um dos aspectos observáveis: o seu
desencadeamento na adolescência e mostra que esses sintomas requerem invenções clínicas na condução do
Vela (Itália).
REFERÊNCIAS
de São Paulo – Boletim da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção São Paulo, Ano 10, nº 1, março de 2003.
FREUD, S. – Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
MENARD, Augustin – Novos sintomas na oralidade, in La Petite Girafe 13, Revista da Diagonal Francofônica do
CEREDA – Centro de Estudos e Pesquisa sobre a Criança no Discurso Analítico, Bordeaux, França - Instituto
PIMENTA FILHO, J. A. – Sintoma e Adolescência Hoje, in Pediatria Atual, Vol 15, nº 10, Rio de Janeiro, Jornal
PIMENTA FILHO, J. A. – As patologias do ato, Lisboa, Portugal, Site da ACF- Antena do Campo Freudiano – Portugal, :
MATTOS, S. de – A disponibilidade do analista, Agenda – Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Minas Gerais, 1º sem
2003, 52-59.
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RECALCATI, M. – O “demasiado cheio” do corpo. Por uma clínica psicanalítica da obesidade, Latusa 7, Escola
SANTIAGO, J. – A droga do toxicômano – uma parceria cínica na era da ciência, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001.
___________ - Os novos sintomas, aula dada no Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Medicina – NPP&M – Instituto de
STEVENS, A. – L’adolescence, symptôme de la puberté, in Les Feuilletes du Courtil, nº 15 – Le désir et la faim : mars
1998 : 79-92.
VIGANÒ, C. - O despertar difícil, palestra promovida pelo Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais –
IPSM-MG e Associação Mineira de Psiquiatria – AMP, realizada na Associação Médica de Minas Gerais, em
1998, inédita.
___________ - Nova clínica – novos dispositivos e a globalização – Conferência dada para os membros da Escola
Brasileira de Psicanálise – Seção Minas Gerais, Belo Horizonte, 10 de setembro de 2002-a, inédita.
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Notas
Lacan designa holófrase o fenômeno de parada significante, solifidificação do par significante: S1 e S2, ou
seja, uma “apreensão em bloco da cadeia significante”. Trata-se da suspensão da função do significante
como tal; a ausência de intervalo e a ausência de mobilidade, que o torna não dialetizável. A holófrase pode
ser encontrada na psicose, nos fenômenos psicossomáticos e na debilidade, mas o sujeito é aí encontrado em
graus diversos, como diz Lacan: “não ocupa o mesmo lugar”. [Conforme elaborações de Anny Cordié, em Os
atrasados não existem, Porto Alegre, Artes Médicas, 1996].