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MELANIE KLEIN –

CONCEITOS
FUNDAMENTAIS

Parte I.
A POSIÇÃO ESQUIZO-
PARANOIDE
INTRODUÇÃO
30 de março de 1882, na Áustria: Nascimento de Melanie Klein.

1914: Sofrendo de depressão, lê “A Interpretação dos Sonhos”, de Sigmund


Freud e inicia sua análise com Sandor Ferenczi.

1918 - 5º Congresso Internacional de Psicanálise (Budapeste): assiste Freud


apresentar a conferência “Linhas de Progresso da Técnica Psicanalítica” e,
neste congresso Sandor Ferenczi foi escolhido para a presidência da
Sociedade de Psicanálise de Budapeste.

1919: Klein apresenta à Sociedade Húngara de Psicanálise seu primeiro


artigo, “Der Familienroman in statu nascendi”, que consiste na apresentação
do caso relato da análise de uma criança, Erich. Esta criança seria seu
próprio filho, cuja identidade foi encoberta nas versões posteriores. É
admitida como membro da Sociedade de Psicanálise de Budapeste.

1919: Queda do Império austro-húngaro com ascensão do regime comunista


de duração breve. Este, por sua vez, foi substituído pelo Terror Branco, anti-
semita. A consequência da ascensão do anti-semitismo foi a expulsão dos
psicanalistas judeus da Sociedade e sua dissolução.  
INTRODUÇÃO
1921: Mudança de Melanie Klein para Berlim, um centro de importante
atividade e formação psicanalítica.
1922 (40 anos): torna-se membro associada da Sociedade Psicanalítica
de Berlim.
1924: iniciou sua segunda análise, com Karl Abraham.
1925: Morte de Abraham e início de conflitos por sua ascendência
polonesa, por sua falta de estudos universitários e por sua condição de
mulher que se pretendia mestra e psicanalista de crianças. 

Tais idéias contrariavam o pensamento de Sigmund Freud e de sua filha


Anna, a qual também se dedicava à psicanálise infantil. Enquanto Anna
via a psicanálise numa perspectiva pedagógica, Melanie Klein mostrava-
se determinada a explorar o inconsciente infantil. Para isso, introduziu
uma modificação técnica essencial, substituindo a palavra pelo brincar,
garantindo a maior proximidade possível entre a psicanálise de adultos e
de crianças.
INTRODUÇÃO
1924 - VII Congresso Internacional de Psicanálise:
apresentação das bases conceituais da psicanálise com
crianças.

1925: Convite de Ernest Jones para proferir palestras em


Londres. Mudança para Londres e trabalho junto a Clínica de
Psicanálise de Londres.

1927 - Anna Freud publica o livro “O Tratamento Psicanalítico


de Crianças”: Melanie Klein formula uma crítica importante à
orientação teórica de Anna Freud na Psicanálise.

1932, Melanie Klein publicou seu primeiro livro, a coletânea “A


Psicanálise de Crianças”, ao qual fará referências ao longo de
toda a sua obra. Mas, no âmbito afetivo,1955: Formação do
grupo kleiniano na Sociedade Britânica de Psicanálise.
INTRODUÇÃO
Final da década de 1930: Mudança da família Freud de Viena para
Londres, em virtude da II Guerra.
Há, então, a divisão ideológica da Sociedade Britânica em dois
grandes grupos:
1. Os que se fundamentavam em Melanie Klein, e que tinha à frente
Susan Isaacs, Paula Heimann e Joan Rivière.
2. Os que se fundamentavam no freudismo clássico.

Um terceiro grupo, composto por analistas independentes, não


alinhados com nenhum dos dois anteriores, se formaria depois, num
período marcado pela polêmica. Apesar da contundência dos
debates, Klein e seu grupo permaneceram na Sociedade Britânica e
na Associação Internacional de Psicanálise (IPA). Não se
posicionaram como dissidentes da teoria freudiana (como aconteceu
com Adler e Jung) e nem foram expulsos, como viria a acontecer com
Lacan, mais tarde.

22 de setembro de 1960: Morte de Melanie Klein.


Um breve parênteses para situar
Melanie Klein no quadro do pós – I
Guerra

Posição de Freud em 1918 no Congresso de Budapeste:


Somente o Estado poderia colocar os cuidados com a saúde
mental no mesmo patamar dos cuidados com a saúde física.

Defesa de tratamento mental extensivo à todos.

A neurose é extensiva ao campo social: ela não depende


somente do processo de defesa, mas sim do status
econômico, da desigualdade.
Um breve parênteses para situar
Melanie Klein no quadro do pós – I
Guerra
Desigualdade social + Surto de tuberculose que assola a Áustria,
associado às condições sanitárias e a escassez de alimentos no
pós-Guerra.
1919: A epidemia de tuberculose atinge as crianças da classe
trabalhadora.

Necessidade de políticas públicas de bem-estar social:


1. Saneamento básico com instalação de banhos municipais.
2. Saúde pública (física e mental).
3. Educação infantil: merenda escolar, exames médicos e
dentários periódicos, programa de férias e acampamentos de
verão, creches e centros de estudo extraescolares.
4. Saúde infantil: clínicas infantis para tratamento da tuberculose.
Um breve parênteses para situar
Melanie Klein no quadro do pós – I
Guerra

Impacto da política de bem-estar social sobre os índices de


mortalidade no país, entre 1920 e 1924:
1. Mortalidade infantil: Diminuição de 50%.
2. Mortalidade geral: Diminuição de 25%.

Impacto da política de bem-estar social sobre a educação infantil:


Creches e jardins de infância: aumento de 20% em 1913 para 113%
em 1931 com 10.000 crianças matriculadas.

É neste contexto que floresce a psicanálise com


crianças – como parte do programa de bem-estar social.
Melanie Klein em Londres – a partir de
1925.

Atendia gratuitamente pelo menos 1 paciente por dia,


seguindo o mesmo procedimento da época em que estava
ligada à Sociedade psicanalítica de Berlim, ou prestava
serviço equivalente junto a Clínica de Psicanálise de
Londres.
A posição de Melanie Klein na
teoria psicanalítica
FREUD KLEIN
Ponto de partida: clínica da Ponto de partida: clínica infantil (psicanálise
histeria (Estudos sobre Histeria) com crianças)

Clínica infantil (Caso Hans) Psicanálise com adultos/psicose.


Processo de defesa fundamental: Processo de defesa fundamental:
Recalcamento (VERDRANGUNG) Dissociação

Clínica das Neuroses Clínica com crianças/ psicose

Falo Seio
Complexo de Édipo: 03 anos Complexo de édipo: 08 meses.

Superego como resolução do Existência de um superego primitivo


complexo de édipo
Objeto: alvo do investimento Relação entre objetos
pulsional
Interpretação das pulsões Interpretação das relações objetais
A posição de Melanie Klein na
teoria psicanalítica
FREUD KLEIN
A sexualidade infantil só era O desenvolvimento libidinal em estágios
passível de ser observada em psicossexuais desde o primeiro ano de vida,
torno dos três ou quatro anos de sendo a relação arcaica com a mãe o
idade principal elemento de constituição do
psiquismo.

A organização da libido se dá em 4 A organização da libido é entendida a partir


fases: de duas posições:
Fase Oral 1.Esquizo-paranoide
Fase Anal
Fase Fálica 2. Depressiva.
Fase Genital
As fases de formulação da teoria Kleiniana

FASES MARCO TRABALHO EPISTEMOLÓGICO


Fase 1: “On The Development of the Fundamentos conceituais da
1924- 1932 Child” psicanálise com crianças
Redefinição do Complexo de édipo
“The Psycho-analysis of e do Superego para as etapas mais
Children” (1932) iniciais da vida infantil.

Fase 2: “A Contribution to the Formulação do conceito de


1934-1940 Psychogenesis of the Maniac posição depressiva e dos
Depressive States” (1934) mecanismos de defesa maníaca
“Mourning and its Relation to
Maniac Depressive States”
(1940)

Fase 3: “Notes on some Schizoid Pesquisa sobre o estágio mais


1946-1957 Mechanismus” (1946) primitivo do desenvolvimento
“Envy and Gratitude” (1957) humano – definição da posição
esquizo-paranoide.
O conceito de posição (1934)
Redefine a forma de funcionamento psíquico, em especial,
a noção que Freud tinha a respeito das fases de
organização da libido.

FREUD - FASE: Etapas fixas de desenvolvimento = o


desenvolvimento psíquico avança, sem retorno à fase
anterior. Uma fixação em uma determinada fase produz
sintomas, mas não implica em retorno à uma fase de
organização da libido.

M. KLEIN – POSIÇÃO: Etapas mais flexíveis = o psiquismo


transita entre as posições esquizo-paranoide e depressiva.
O funcionamento saudável consistiria nessa possibilidade
de transitar entre as fases.
O conceito de posição (1934)
1. Articulado a segunda teoria das pulsões:

Pulsões de vida (Libido) X Pulsão de morte


(agressividade, destruição).

2. Hipótese quanto a existência do Eu, desde o


nascimento – Eu primitivo

É a partir dele, que o bebê experiencia ansiedade,


mobiliza mecanismos de defesa e estabelece relações
de objeto primitivas na fantasia e na realidade.
O conceito de posição (1934)

Distinção, no desenvolvimento humano, de 2 posições


com características próprias e mecanismos de defesa
específicos:

A posição esquizo-paranoide – seis primeiros meses


de vida.
A posição depressiva – a partir do sexto mês de vida.

METAPSICOLOGIA KLEINIANA
A denominação esquizo-paranoide

Esquizo:
Divisão do eu diante da pulsão.

Paranoide:
Se deve ao fato de que a ansiedade dominante é a de
perseguição (paranoide), devido ao medo do objeto
persecutório entrar no eu, destruir o objeto ideal e o
próprio Eu.
A posição esquizo-paranoide e
o eu primitivo
Eu primitivo: amplamente desorganizado, mas com
tendência a integração.

Sob o impacto:
1. Do dualismo entre pulsão de morte e pulsões de vida –
que produz ansiedade
2. Da realidade externa:

ANSIEDADE SENTIMENTO DE VIDA


(como o trauma (calor, amor e alimentação
do nascimento) propiciada pelo outro)
A posição esquizo-paranoide e
o eu primitivo
Pulsão de morte x pulsões de vida
I. Pulsão de morte

Ansiedade, medo

Divisão do Eu (Splitting)

Projeção da pulsão de morte no Transformação da pulsão de


objeto externo (seio)morte em agressividade
Seio mau persecutório Autoagressividade

O medo original da pulsão de morte A autoagressividade se


se transforma, por projeção, transforma em
em medo de um perseguidor. agressividade direcionada aos
perseguidores.
A posição esquizo-paranoide e
o eu primitivo
Pulsão de morte x pulsões de vida

II. Libido

Esforço pulsional do eu pela vida

Projeção da libido em Ligação libidinal


um objeto externo com o objeto

Seio bom, ideal


A posição esquizo-paranoide e
o eu primitivo

Desde cedo: Eu primitivo divisão do objeto:

O seio bom, ideal


O seio mau, persecutório

Objetivo da posição esquizo-paranoide - constituir:

Fantasia do objeto ideal – se funde com experiências gratificantes


de amor e alimentação, recebidos da mãe real.

Fantasia de perseguição – funde-se com experiências reais de


privação e sofrimento, atribuídas pelo bebê aos objetos
perseguidores.
Mecanismos de defesa dominantes na posição
esquizo-paranoide
Mecanismos de Defesa Definição

Projeção – introjeção Introjeção do bom e projeção do mau, mantendo separados os


objetos bom e mau o máximo possível uns dos outros. A
situação pode flutuar: os perseguidores podem ser sentidos
como:
A. Ora fora do psiquismo: sentimento de ameaça externa.
B. Ora dentro do psiquismo (reintrojeção): temores de natureza
hipocondríaca.

Splitting Ligado à idealização crescente do objeto ideal. É a base da


integração posterior da criança e da faculdade de discriminação
(se não for excessivamente rígida e excessiva).
Idealização Mecanismo em que ocorre uma crescente idealização do objeto
a fim de mantê-lo distante do objeto mau, perseguidor.

Identificação projetiva Processo defensivo em que varias partes do eu podem ser


projetadas como diferentes objetivos: para se livrar delas; para
atacar e destruir o objeto.
Identificação introjetiva É o resultado da introjeção do objeto no eu que, por sua vez, se
identifica com uma ou mais características do objeto introjetado

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