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CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE PARA

PSICOMOTRICIDADE

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 1

Sumário ...................................................................................................................... 2

Introdução .................................................................................................................. 3

Conceitos importantes advindos da Psicanálise para o desenvolvimento


humano ...................................................................................................................... 6

Inconsciente ....................................................................................................................... 6

Desejo ................................................................................................................................ 8

Transferência ..................................................................................................................... 9

Sublimação/Pulsão ........................................................................................................... 11

Ego, ID e Superego ........................................................................................................... 12

Self ................................................................................................................................... 14

A teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939) .......................................... 15

A Teoria da Personalidade e a Psicologia Individual de Alfred Adler (1870-1937)


.................................................................................................................................. 18

A “teoria da posição” e os conceitos pós-freudianos dados por Melanie Klein


(1882-1960) ............................................................................................................... 22

A imagem do corpo segundo Paul Schilder (1886-1940) ..................................... 23

O desenvolvimento humano para Erik Erikson (1904-1994)................................ 25

O eu, o espelho e as contribuições de Jacques Lacan (1901-1981) ................... 27

O apego na teoria de Konrad Lorenz (1903-1989) ................................................ 30

Referências .............................................................................................................. 32

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Introdução

A Psicanálise é um método de tratamento de transtornos mentais, moldada pela


teoria Psicanalítica.

Em outras palavras é um campo de conhecimento que a partir de investigações


teóricas busca conhecer e resolver problemas que surgem na psique humana, tendo
origem na medicina e desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939).

Também podemos inferir que a psicanálise promove a consciência de padrões


de emoções e comportamentos inconscientes, desadaptativos e habitualmente
recorrentes. Isso permite que aspectos anteriormente inconscientes do self se
integrem e promovam um ótimo funcionamento da mente, cura e expressão criativa.

Figura 1 - O que é Psicanálise?

Tendo por objeto de estudo o inconsciente, a psicanálise quebra com a tradição


da psicologia como ciência da consciência e da razão. Foi a investigação destes
processos psíquicos que levou Freud à criação da psicanálise.

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Fundamentos da teoria psicanalítica

1) Os processos psíquicos são em sua imensa maioria inconscientes, a


consciência não é mais do que uma fração de nossa vida psíquica total;

2) Os processos psíquicos inconscientes são dominados por nossas tendências


sexuais.

Mediante os dois fundamentos da teoria psicanalítica em destaque acima,


Freud buscou explicar a vida humana (pessoal e individual, mas também pública e
social) recorrendo às tendências sexuais a que chamou de libido. Com esse termo, o
pai da psicanálise designou a energia sexual de maneira mais geral e indeterminada.
Assim, por exemplo, em suas primeiras manifestações, a libido liga-se a outras
funções vitais: no bebê que mama, o ato de sugar o seio materno provoca outro prazer
além do de obter alimento e esse prazer passa a ser buscado por si mesmo.

Posto isso, a psicanálise compreende as grandes manifestações da psique


como um conflito entre as tendências sexuais ou libido e as fórmulas morais e
limitações sociais impostas ao indivíduo. Esses conflitos geram os sonhos, que seriam,
segundo a interpretação freudiana, as expressões deformadas ou simbólicas de
desejos reprimidos. Geram também os atos falhos ou lapsos, distrações falsamente
atribuídas ao acaso, mas que remetem ou revelam aqueles mesmos desejos
(https://educacao.uol.com.br/).

Por que estamos falando tanto em Freud? Simples: não só ele, mas outros
psicanalistas também trouxeram contribuições para a Psicomotricidade!

Por exemplo, Erik Erikson (1902-1994) é outro teórico associado à Psicanálise.


Erikson expandiu as teorias de Freud e enfatizou a importância do crescimento ao
longo da vida. A teoria do estágio psicossocial da personalidade de Erikson
permanece influente hoje em nossa compreensão do desenvolvimento humano.

Outros nomes interessantes da Psicanálise foram: Alfred Adler (1870-1937);


Carl Jung (1875-1961); Melanie Klein (1882-1960); Sandor Ferenczi (1873-1933);
Anne Freud (1895-1982); Jacques Lacan (1901-1981).

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Quanto a teóricos que uniram psicanálise, neurologia, filosofia e outras áreas
afins, trazendo contribuições para as relações corporais do sujeito podemos citar Paul
Schilder (1886-1940).

Cabral (2011) conta que entre 1970 e 80 há influência da nova leitura da


psicanálise sobre a psicomotricidade. Diatkine e Lebovici integram os conceitos de
Lacan e os publicam em livros que tratam também da teoria da psicomotricidade e
participam das Jornadas anuais de Psicomotricidade promovidas pelo recém-criado
sindicato de Psicomotricistas.

Há a partir daí grande produção teórica de psicanalistas sobre a


psicomotricidade: Jolivet, Gibello, Jean Daniel Stucki, Danielle Flagey, Pierre Barrès
e Sami-Ali. Os psicanalistas também dão supervisão a psicomotricistas, mas
determinam uma diferença entre os dois atendimentos:

 O uso da linguagem: os psicomotricistas não interpretam e nem intervém


verbalmente.

 A transferência é reconhecida, mas não trabalhada diretamente na terapia


psicomotora.

Alguns destes teóricos balizarão nossos estudos ao longo do módulo.

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Conceitos importantes advindos da Psicanálise para o
desenvolvimento humano
Os conceitos centrais da psicanálise são:

 Inconsciente

 Desejo

 Transferência (correlato do inconsciente na prática clínica)

 Pulsão (articulação do psíquico e somático)

 Ego, Id e Superego

 Self...

Inconsciente
A palavra inconsciente possui duplo significado. Ela define todos aqueles
processos mentais que ocorrem sem que o indivíduo se dê conta. Sem que tenha
consciência sobre eles. Esse é o significado mais amplo, – ou genérico – atribuído ao
termo.

A equipe do site Psicanálise Clínica (2017) explica que a maior parte dos
pesquisadores empíricos da psicologia e psicanálise defendem a existência desses
processos. No entanto, quando esse termo é apropriado pela psicanálise, ele se torna
um conceito. Por isso, dentro desse campo de pesquisa e trabalho, ela assume um
significado mais específico.

Para explicar esse conceito, o exemplo mais básico e usado didaticamente é a


metáfora do Iceberg!

A parte emersa do iceberg, aquela facilmente visível, representa apenas um


pequeno pedaço de sua verdadeira dimensão. Sua maior parte permanece submersa,
escondida sob as águas. Assim é a mente humana. Aquilo que comumente
entendemos como nossa mente é apenas a ponta do iceberg, o consciente. Enquanto
o inconsciente é esse pedaço submerso e insondável.

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Figura 2 - Metáfora do Iceberg - o inconsciente e o consciente humano

Também podemos definir como o conjunto de processos psíquicos misteriosos


para nós mesmos. Nesse conjunto estariam explicados os nossos atos falhos, nossos
esquecimentos, nossos sonhos e até mesmo paixões. Uma explicação, no entanto,
inacessível para nós mesmos. Desejos ou memória reprimidas, emoções banidas do
nosso consciente – por serem dolorosas, ou de difícil controle – se encontram no
inconsciente, praticamente inacessíveis para a razão.

Essa definição pode variar dentro da própria psicanálise. Isso porque diferentes
autores identificaram diferentes aspectos dessa parte de nossa mente.
(https://www.psicanaliseclinica.com/o-que-e-inconsciente/).

Para Laplanche (1981 apud Honda 2013, p. 52):

O inconsciente é individual; para ser escandaloso, eu diria que ele está na


cabeça de cada indivíduo. O inconsciente é essa parte de sua história
subtraída não só [...] ao tecido das significações convencionais, mas

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subtraída também a toda intenção de comunicação [...]. Somente a
metodologia inventada por Freud - e não uma metodologia pretensamente
orientada para o significante -, que alia indissoluvelmente livres associações
e situação analítica, permite reabrir parcialmente, de um modo precário, de
um modo sempre rediscutido, um inconsciente sempre prestes e pronto a se
fechar de novo à comunicação, pois que esse fechamento é inerente à própria
essência de sua constituição.

Desejo
Vontade, necessidade, desejo... palavras que usamos corriqueiramente não é
verdade? Mas e para a Psicanálise, será que tem relação com esse sentido cotidiano?

De acordo com Guerra (2015), na teoria freudiana, o desejo passa a ser


abordado em nível de atividade inconsciente como um impulso psíquico em direção
ao restabelecimento de uma situação não mais possível de satisfação, originalmente
experimentada remotamente em nível inconsciente, em algum momento passado.
Seria algo como uma nostalgia gerada inconscientemente de um objeto perdido.
Lacan posteriormente formalizará essa noção de nostalgia inconsciente de um objeto
perdido, cujo encontro nunca se efetivará, no seu conceito de “objeto a” (Aqui o a
minúsculo é a primeira letra da palavra francesa “autre”, que significa “outro” em
português. Essa alusão refere-se à importância do outro na constituição da
subjetividade humana).

Figura 3 - Definição de Desejo segundo Freud

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Portanto, um objeto (coisa ou pessoa) que produza satisfação nunca pode ser
objeto de desejo no sentido psicanalítico. O objeto de desejo em psicanálise é sempre
uma falta. O desejo se realiza nos objetos, mas o que esses objetos expressam ou
indicam é uma falta, uma presença de uma ausência.

Transferência
A transferência é um elemento muito importante para a psicanálise. Durante a
análise é importante que haja pouca intervenção do psicanalista. A fim de que o
paciente possa projetar os seus pensamentos e os seus sentimentos. Esse processo
é denominado de transferência. Por meio da transferência, o paciente pode reconstruir
e resolver conflitos reprimidos (causadores de sua doença). Principalmente conflitos
da infância com seus pais.

Para Laplanche e Pontalis (2008, p. 514), transferência designa em psicanálise


o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados
objetos no quadro de certo tipo de relação estabelecida com eles. Trata-se aqui de
uma repetição de protótipos infantis vivida com um sentimento de atualidade
acentuada.

Freud notou em seus pacientes o movimento da transferência, atentou que em


determinados momentos na análise, os pacientes se relacionavam com ele, como se
ele fosse “o pai”, com medo da autoridade supostamente exercida por parte deste Pai.
Contudo, Freud percebeu que seus pacientes não se davam conta, sendo isso, uma
manifestação inconsciente.

Desta maneira, Freud se questiona:

-”O que são transferências, afinal? ”

Ele mesmo responde a sua indagação

-”São reedições dos impulsos e fantasias despertadas e tornadas “conscientes”


durante o desenvolvimento da análise e que trazem como singularidade característica
a substituição de uma pessoa anterior, pela pessoa do médico”.

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Para melhor dizê-lo: toda uma série de acontecimentos psíquicos ganha vida
novamente, agora não mais como passado, mas como relação atual com a pessoa do
médico.

A partir deste dado, Kupfer (2005) demonstra que um professor pode tornar-se
a figura a quem serão focados os interesses do seu aluno, porque é objeto de uma
transferência. E o que se transfere nada mais são do que as experiências vividas
primitivamente com os progenitores.

Essa descoberta nos leva a inferir que o professor tem sim, poder sobre o aluno,
mas este poder não vem como a concepção que o senso comum tem da palavra poder.
Este poder é calcado pelo desejo do aluno, é ele quem deposita naquela figura, o tal
“poder” ou o “suposto saber”. O professor, em si, é apenas um mero objeto depositário,
aquele por quem o desejo do aluno optou.

Laplanche e Pontalis (2008) explicam que transferir é imputar um sentido


especial àquela figura determinada pelo desejo. Isso pode tornar-se complicado a
partir do instante que o professor se torna depositário de algo que pertence ao aluno,
com isso, inevitavelmente tais figuras ficam carregadas de uma “importância especial”.
E é dessa “importância” que deriva o poder, que indubitavelmente têm sobre o sujeito.

Contudo, é interessante acentuar que quem investe é o desejo do aluno, isso é


explicado ou demostrado, quando um aluno diz que “resolveu” fazer letras pois o
professor lhe despertou essa “vontade”, mesmo que professor não seja nenhum
grande teórico nesta área, mas como nos mostra Kupfer (2005), a transferência
mostra que o dito professor foi investido pelo desejo do aluno. Cuidado especial para
o rumo de poder, pois ao longo da história, a experiência nos mostra que é muito
tentador ao mestre abusar deste poder. O professor poderia usá-lo para dominar o
aluno, imputar-lhe seus próprios valores e ideias. Ou seja, impor seu desejo.

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Sublimação/Pulsão
Do ponto de vista da química, a sublimação é uma passagem direta do estado
sólido para o gasoso, sem passar pelo estado líquido. O termo indica ainda um
movimento de ascensão ou elevação daquilo que se sustenta no ar. Várias definições
do termo sublimar ligam-se à ideia de ascensão, de verticalidade e de transcendência
(JORGE, 2008 apud MENDES, 2011).

Ainda é no Vocabulário de Psicanálise de Laplanche e Pontalis (2008, p. 494)


que buscamos o conceito de sublimação como sendo “o processo postulado por Freud
para explicar atividades humanas sem qualquer relação aparente com a sexualidade,
mas que encontrariam o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual”.

Ou seja, Freud conceituou este termo em 1905 para um tipo particular de


atividade humana (criação literária, artística, intelectual) que não tem nenhuma
relação aparente com a sexualidade, mas que arranca sua força da pulsão sexual, na
medida em que esta desloca para um alvo não sexual, investindo objetos socialmente
valorizados (ROUDINESCO; PLON, 1998 apud LIRA; ROCHA, 2012).

O conceito de sublimação é de suma importância, pois através dele, pode-se


explicar as diversas formas que um sujeito pode desejar sem deixar que isso interfira,
de maneira negativa, na sua relação com o outro. Um sujeito que é considerado um
gênio (na arte, na ciência, na música) é valorizado por tal empreitada. Porém, quando
esta pulsão é voltada para objetos sexuais, ele é repreendido, pois a cultura e os
valores pregados por esta, são de que você precisa abrir mão de uma determinada
liberdade pulsional, em prol de um pouco de segurança.

Relacionando isto com a educação, temos que ter em mente que as bases da
sublimação se dão através das pulsões sexuais, sendo assim, é como se ocorresse
uma ação educativa que propusesse a desarraigar o “mal”.

Kupfer (2005) fala sobre comparar Freud aos pedagogos da época, que
acreditavam que a criança vinha com um “mal originário” e que através da educação,
esse mal evaporaria. Só que Freud diferencia-se deste pedagogo a partir do instante
que mostra que não quer desarraigar mal algum, ele apenas propõe que esse dito
“mal” se canalize em direção a valores superiores, aos bens culturais, algo que possa
ser útil a sociedade.

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Ego, ID e Superego
O ego é a parte organizada do sistema psíquico que entra em contato direto
com a realidade e tem a capacidade de atuar sobre ela numa tentativa de adaptação.
O ego é mediador dos impulsos instintivos do id e das exigências do superego
(BOTELHO, 2017).

O ego representa a razão ou a racionalidade, ao contrário da paixão insistente


e irracional do ID.

O ID é fonte da energia psíquica, é formado por pulsões e desejos


inconscientes. Sua interação com as outras instâncias é geralmente conflituosa,
porque o ego, sob os imperativos do superego e as exigências da realidade, tem que
avaliar e controlar os impulsos do id, permitindo sua satisfação, adiando-a ou inibindo-
a totalmente (BOTELHO, 2017).

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Figura 4 - Representação do ego, id e superego

De maneira simples, o Id representa os processos primitivos do pensamento e


as características atribuídas ao sistema inconsciente. É regido pelo princípio do prazer
e apresenta origem orgânica/hereditária, estando ligado ao impulso sexual.

Por sua vez, o superego é a parte moral da mente humana que representa os
valores da sociedade. O superego tem três objetivos:

a) Reprimir, por meio de punição ou sentimento de culpa, qualquer impulso


contrário às regras e ideais;

b) Forçar o ego a se comportar de maneira moral, mesmo que irracional;

c) Conduzir o indivíduo à perfeição.

O superego forma-se após o ego, enquanto a criança assimila os valores


recebidos dos pais e da sociedade. Ele pode funcionar de uma maneira bastante
primitiva, punindo o indivíduo não apenas por ações praticadas, mas também por
pensamentos inaceitáveis. O superego tem o pensamento dualista (tudo ou nada,
certo ou errado, sem meio-termo) e está sempre em conflito com o ID, ou seja, é
formado a partir das identificações com os pais, dos quais assimila ordens e proibições.
Assume o papel de juiz e vigilante, uma espécie de autoconsciência moral. É o

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controlador por excelência dos impulsos do ID e age como colaborador nas funções
do ego. Pode tornar-se extremamente severo, anulando as possibilidades de escolha
do ego (BOTELHO, 2017).

Self
O Self corresponde a um sistema altamente personalizado e subjetivo que
interpreta e torna significativas as experiências do organismo. É criador, unitário,
consistente e soberano na estrutura da personalidade.

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A teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939)
Segundo Xavier e Nunes (2013), a forma de pensar o desenvolvimento humano
tem se dado de diferentes maneiras ao longo da história da Psicologia desde sua
fundação por Willhem Wundt em 1816. Esta ciência, em seu processo de construção
no seio de intensas transformações econômicas, políticas e sociais, tem gerado
múltiplos enfoques e, por conseguinte, diferentes visões sobre o homem em sua
constituição física, mental e afetivo-social.

Dentre as várias teorias existentes, sejam elas amplas, flexíveis e/ou plurais,
vamos começar com as contribuições teóricas de Freud, sempre focando a questão
do desenvolvimento humano, diga-se de passagem, complexo por si só.

Sigmund Freud, médico psiquiatra vienense, é o fundador da teoria


psicanalítica que serve de base para o surgimento das teorias neopsicanalíticas
desenvolvidas por teóricos tais como Eric Erikson (1950), Margareth Mahler (1977),
Spitz (1954) dentre outros. Freud ao colocar em dúvida a abordagem organicista da
psiquiatria do seu tempo, desenvolve uma abordagem psicológica para estudo das
doenças mentais em que, mesmo usando o modelo cartesiano de ciência contrapõe-
se aos racionalistas acerca da razão humana. Na visão freudiana o homem é
grandemente comandado pelo inconsciente. Racionalidade (consciente) e
irracionalidade (inconsciente) não se opõem, constituem as bases dialéticas de um
único processo: o da formação da personalidade.

As proposituras freudianas têm enorme relevância na constituição da


Psicologia científica. Dentre as contribuições que oferece destacam-se o resgate da
subjetividade - enquanto objeto de estudo da psicologia - que foi abandonada na
transição do saber psicológico, da filosofia, para o campo cientifico estabelecido pela
modernidade. Assim, a partir de Sigmund Freud inaugura-se a possibilidade de
estudar a subjetividade (dimensão humana essencial) atendendo ao rigor do método
científico.

Silva (2019) reforça que Freud revolucionou sua época com o novo modelo de
desenvolvimento proposto. Enfatizando o inconsciente e as pulsões sexuais, ele
apresenta o desenvolvimento como o resultado de interações dessas energias

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sexuais (libido). Assim ele divide em cinco fases o desenvolvimento humano,
conforme o quadro abaixo:

FASE IDADE DEFINIÇÃO

Oral 0 a 1 ano Fase onde toda a libido existente predomina em


volta da região oral, ou seja, os lábios, a língua e
posteriormente, os dentes.

Fase erótica (engolindo ou cuspindo),

Fase sádica (mordendo).

Anal 2 e 3 anos Nessa fase, a criança aprende a controlar seus


esfíncteres anais e a bexiga, obtendo prazer com
esse controle, além de que, são elogiadas pelos
pais quando exibem esse controle.

Fálica 3 a 5 anos A libido se focaliza nas áreas genitais do corpo e


se denomina por fálica em consequência do fato
da criança dar conta de que tem um pênis (falo),
ou a falta do mesmo (no caso das meninas).

Período de 6 aos 12 Nesse período, a sexualidade praticamente não


latência ou anos avança, e as crianças se esquecem da maioria
pausa sexual das coisas que faziam e conheciam, além de
surgirem atitudes como repulsa e vergonha,
coerentes com as exigências do superego.

Genital 13 aos 18 Não há mais fantasias edipianas com relação


anos aos pais, e sim uma intimidade sexual madura,
onde o adolescente procura a satisfação do seu
prazer fora de si mesmo.

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Muitos dos problemas psicopatológicos da idade adulta de que trata a
Psicanálise, têm as suas raízes e causas nas primeiras fases ou estádios do
desenvolvimento (SILVA, 2019).

Anote aí:

Dentro do campo psicomotor, as contribuições freudianas são indicadoras das


mais preciosas referências teóricas e práticas, a saber:

 A importância das fases da sexualidade infantil e seu papel na inscrição


psíquica;

 A descoberta do prazer no movimento;

 O processo de interação entre o corpo e a linguagem;

 A gênese da fantasia/fantasmas;

 As origens da agressividade;

 O papel essencial do brincar e da arte para a compreensão do real; e,

 A importância do outro na constituição do Eu (FERREIRA, 2018).

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A Teoria da Personalidade e a Psicologia Individual de
Alfred Adler (1870-1937)
Alfred Adler, médico e psicólogo austríaco, nasceu em Viena e tornou-se um
dos quatro membros originais do círculo de Freud em 1902. Adler jamais aceitou a
primazia ou a importância dos desejos infantis, muito menos a importância do papel
do recalque e da libido no funcionamento psíquico. Desenvolveu sua própria teoria do
desenvolvimento socialmente consciente. Ele afirma que o ser humano se empenha
por autoestima e tentativa de superar um sentimento de inferioridade.

Adler igualava saúde psicológica à consciência social construtiva. Seu sistema


pode ser descrito como o conhecimento prático concreto da humanidade. Na sua
formulação foi muito influenciado pelo conceito da teleologia, que identifica a
motivação e metas como motor básico humano, sendo a finalidade o que guia a
natureza e a humanidade.

Em contraste com Freud e sua ênfase sobre conflito intrapsíquico inconsciente,


Adler via as pessoas como entidades biológicas unificadas e singulares, todas cujos
processos psicológicos encaixam-se e justificam um estilo de vida individual. Também
criou o princípio de dinamismo - que cada pessoa está direcionada ao futuro e que se
move em direção a uma meta. Uma vez que a meta é estabelecida, o aparelho
psíquico molda-se em direção à obtenção desta meta. As metas de vida são
escolhidas e são, portanto, sujeitas a mudanças; tais mudanças requerem a
modificação das memórias, sonhos e percepções para encaixar-se à realização desta
meta.

Além de enfatizar a relação entre a pessoa e seu ambiente social, ele também
enfatizou a ação no mundo real sobre fantasia. A tendência de se viver em
comunidades leva à aceitação da necessidade de adaptar-se a demandas legítimas
da sociedade, etc. A sua dialética demonstra que entre as pessoas e seu ambiente
interpessoal ocorrem influências mútuas e cada indivíduo, em suas relações sociais
estará constantemente reagindo e moldando o outro (SILVA, 2019).

A principal ideia de Adler mostra que o desenvolvimento consiste em passar de


um sentimento de inferioridade para um sentimento de domínio. Cedo na vida, todos
têm um sentimento de inferioridade resultante da comparação realista com o tamanho

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e as habilidades dos adultos. Passar deste sentimento de inferioridade para um
sentimento de adequação é o tema principal motivacional importante na vida.

Deste modo, a pessoa ideal empenha-se por superar-se e o faz através de alto
interesse social e da atividade; enquanto a pessoa emocionalmente incapacitada
continua a sentir-se inferior e reforça esta posição através de falta de empenho e
interesse social.

Muitos obstáculos biológicos e sociais podem bloquear o desenvolvimento da


autoestima e do interesse social. Órgãos ou sistemas mal desenvolvidos (como visão
defeituosa e problemas de coordenação motora), doenças infantis, excesso de
cuidados e negligência.

Este teórico enfatiza a harmonia do aparelho psíquico e a desarmonia de estilos


de vida errôneos com as demandas do mundo real, ele foca no como viver
produtivamente no mundo real e não no explorar conflitos inconscientes. Sua meta foi
apontar visões errôneas de si e visões errôneas do mundo e então, mobilizando a
vontade, fazer as mudanças necessárias, incluindo uma mudança na meta de vida.

Para Adler desenvolvimento é a busca, feita pelo indivíduo, de interesses


construtivos sobre si mesmos e sobre os outros. Qualquer esforço no qual os
pacientes podem desenvolver competência real é encorajado, seja social, de trabalho,
artístico ou musical.

Dentre os conceitos criados por Adler, temos:

a) Self – algo que intervém entre os estímulos que agem sobre a pessoa e as
respostas que ela oferece. O homem constrói sua personalidade com a
matéria-prima da hereditariedade e da sua experiência. O self criador dá
sentido à vida; cria tanto o ideal como os meios de atingi-lo. É o princípio ativo
da vida humana.

b) Estilo de vida – corresponde ao princípio do sistema pelo qual a personalidade


funciona; é o todo que comanda as partes. É o princípio que explica a
singularidade da pessoa. Cada pessoa tem um estilo de vida e não há dois
iguais. Todos têm o mesmo objetivo, a superioridade, mas há inúmeras
maneiras de atingi-lo. Toda conduta de uma pessoa tem origem em seu estilo
de vida. Este forma-se na infância, por volta dos quatro anos de idade e, daí

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por diante, as experiências são assinaladas e utilizadas de acordo com ele. É
uma compensação para determinada inferioridade.

c) Luta pela superioridade – corresponde ao objetivo superior do homem na sua


luta contra os obstáculos: ser agressivo, poderoso superior.

d) Inferioridade e compensação – Há a inferioridade orgânica, pois, para Adler,


cada região do corpo apresenta uma inferioridade básica, inferioridade essa
que existe em virtude de herança ou de alguma anomalia do desenvolvimento.
Esse conceito foi ampliado posteriormente, incluindo quaisquer sentimentos de
inferioridade, tanto os que decorrem de incapacidades psicológicas ou sociais
sentidas subjetivamente, como os que se originam de fraqueza ou deficiência
física. Sob condições normais o sentimento de inferioridade ou um senso de
imperfeição é a grande mola propulsora da humanidade. O homem é
impulsionado pela necessidade de superar sua inferioridade e arrastado pelo
desejo de ser superior.

e) Interesse social – corresponde à verdadeira e inevitável compensação pela


natural fraqueza dos seres humanos. É quando a luta pela superioridade se
torna socializada. Adler acreditava que o interesse social é inato; que o homem
é uma criatura social por natureza e não por hábito. Contudo, à semelhança de
qualquer outra aptidão natural, esta predisposição inata não surge
espontaneamente. Ela torna-se atuante quando orientada e treinada. É esse
interesse social inato que motiva o homem a subordinar o interesse pessoal ao
bem-estar comum.

f) Finalismo de ficção – Adler descobriu a ideia de que o homem é motivado mais


pelas expectativas do futuro do que por suas experiências do passado. Esses
objetivos de ficção eram, para ele, a causa subjetiva dos acontecimentos
psicológicos (MONTANDON, 2009).

Enfim, na visão de Adler o desenvolvimento ocorre quando a pessoa constrói


um conceito útil de si e do mundo. Acima de tudo, ele tratava seus pacientes como
racionais e como capazes de aprender modos de vida produtivos (SILVA, 2019).

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Vale citar que Adler estava particularmente interessado nos tipos de influências
iniciais que predispõem a criança a um estilo de vida defeituoso. Ele descobriu três
fatores:

a) Crianças com inferioridades: crianças com enfermidades físicas ou mentais


carregam uma carga muita pesada e tendem a sentir-se inadequados para
enfrentar as tarefas de vida. Entretanto, se tiverem pais compreensivos e
encorajadores, podem compensar suas inferioridades e transformar sua
fraqueza em força.

b) Crianças mimadas: Adler alertava sobre os perigos de se mimar uma criança,


pois considerava isso a pior maldição que uma criança pode sofrer. As crianças
mimadas não desenvolvem um sentimento social e esperam que a sociedade
se conforme aos seus desejos autocentrados.

c) Crianças negligenciadas: a criança maltratada na infância se torna, quando


adulta, um inimigo da sociedade. Seu estilo de vida é dominado pela
necessidade de vingança (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).

Na área da pedagogia suas teorias e práticas tornaram-se bastante difundidas,


tanto na psicologia quanto no aconselhamento escolar, considerando a orientação de
crianças como preventiva contra um futuro adoecimento psíquico.

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A “teoria da posição” e os conceitos pós-freudianos dados
por Melanie Klein (1882-1960)
Também nascida em Viena, Klein interessou-se pela Psicanálise ao ler um
texto de Freud “Sobre os sonhos”.

Melanie Klein fundou a técnica da análise pela atividade lúdica com crianças.
Brincar - atividade natural das crianças - foi considerado por ela a expressão simbólica
da fantasia inconsciente. Ela afirmou que pelas brincadeiras a criança traduz de modo
simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas. O elemento
organizador essencial do pensamento de Melanie Klein é a prevalência da fantasia e
dos “objetos internos” sobre as experiências desenvolvidas no contato com a
realidade externa (COSTA, 2010).

A partir dessa constatação, Klein conclui que a diferença que existe entre a
análise de crianças e a de adultos reside no método e não em seus princípios básicos.
Em outras palavras, a prática psicanalítica com crianças repousa sobre o mesmo
corpo conceitual teórico no qual se apoia toda a teoria psicanalítica: o inconsciente, a
transferência e a pulsão.

Quanto ao método, Melanie Klein postulou que o brincar é capaz de substituir


as associações livres. Portanto, a partir de tais constatações teóricas, ela afirma que
é possível analisar crianças. A prática clínica com crianças vai revelar-lhe as
profundezas ainda secretas do mundo das fantasias inconscientes da mais tenra
infância.

A teoria Kleniana consolida-se com a teoria das posições que representa a


ansiedade, defesa, relações com o objeto e impulsos. O psiquismo funciona a partir
destas posições, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados
em seu funcionamento.

Melanie Klein identificou nos jogos e nas brincadeiras infantis uma via simbólica
de expressão dos conflitos, das ansiedades e das fantasias inconscientes; assim,
desenvolveu um método de análise de crianças que emprega a linguagem viva e
concreta e se baseia no trabalho transferencial.

22
Klein faz uma comparação astuta e diz que o brincar das crianças e a atribuição
de coisas a esses brinquedos em muito se assemelha à interpretação dos sonhos por
Freud. Ambas, afinal, entram em contato com o inconsciente.

Graças ao simbolismo do brincar, essa pesquisadora pode concluir ainda que


muito alívio é experimentado no momento lúdico. Descobriu que no primeiro contato
de amamentação o seio bom e o seio mau já são estabelecidos, além disso concluiu
que a saúde mental está em muito ligada às relações com os objetos. A junção do
seio bom e mau se dá por volta do primeiro ano e representa a posição depressiva do
ego, precedida da posição paranóide aonde predominam ansiedades persecutórias e
processos de cisão (GREGOVISKI, 2017).

A imagem do corpo segundo Paul Schilder (1886-1940)


Paul Ferdinand Schilder foi um psiquiatra austríaco, psicanalista e pesquisador
médico. Embora tenha se tornado membro da Sociedade Psicanalítica de Viena
(fundada por Freud) se desviou da doutrina psicanalítica aceita na época e publicou
suas próprias ideias.

Ele iniciou a integração da teoria psicanalítica na psiquiatria e é considerado


um dos pais fundadores da psicoterapia de grupo. Ele também introduziu o conceito
de imagem corporal, que forneceu uma contribuição duradoura para o pensamento
psicológico e médico. Essa foi uma grande inovação na temática (por volta de 1935)
que trata da imagem corporal de uma forma que até hoje é atualizada e aplicável nas
áreas que envolvem o movimento, a atividade física e os trabalhos corporais.

Schilder passa a atribuir uma nova dimensão, ampliada e integrada da imagem


corporal, na qual associa aspectos neurofisiológicos, sociais e afetivos; estabelecendo
também estreitas relações entre a imagem corporal e a psicanálise.

Segundo Schilder (1935, p. 11 apud SCATOLIN, 2012, p 115) “entende-se por


imagem corporal a figuração de nosso corpo formada em nossa mente; ou seja, o
modo pelo qual o corpo se apresenta para nós”.

O esquema corporal (também compreendido como imagem corporal) é a


imagem tridimensional que todos têm de si mesmo. Neste aspecto tridimensional
temos os aspectos psicológicos, sociológicos e fisiológicos. Schilder propôs que o
estudo da imagem corporal deveria abordar o problema psicológico central da relação

23
entre as impressões de nossos sentidos, nossos movimentos e a motilidade em geral.
Isto significa que o esquema corporal está em perpétua autoconstrução, vive em
contínua diferenciação e integração.

De outro lado, o modelo postural do nosso corpo se relaciona com o modelo


postural dos corpos dos outros. A experiência da nossa imagem corporal e a
experiência dos corpos dos outros estão intimamente interligadas. Assim, as emoções,
as ações e percepções são inseparáveis da nossa imagem corporal e mais:
contribuem para a construção da nossa imagem corporal.

Primeiramente, é necessário ressaltar que a imagem corporal começa a se


formar desde o nascimento e, desde este momento, dois fatores têm participação
especial em sua formação: um é a dor e o outro é o controle motor dos membros.

Anote aí:

No decorrer de seu estudo sobre imagem corporal, Schilder constantemente


remete a como fazem parte dos nossos aspectos fisiológicos nossas experiências
psicológicas – as experiências psicológicas estão em nosso corpo, ou seja, em nossos
órgãos, em nossos músculos – e a como nossos aspectos fisiológicos,
inevitavelmente, estão em nossas experiências psicológicas de nós mesmos – estão
em nossa capacidade e necessidade de nos representarmos para nós mesmos e no
modo como o fazemos. Assim, segundo o autor, não podemos afirmar que existem
em nós dimensões somente fisiológicas ou somente psicológicas. Em outras palavras,
esta visão apresentada pelo autor não é mais do que uma visão integrada do corpo,
uma tentativa de superação da dualidade representada pelo “corpo” e pela “mente”.

Schilder trabalha constantemente o movimento e imagem corporal, mostrando


como estão intimamente ligados. Influenciam-se a todo momento simultaneamente,
tanto que uma das funções “clássicas” atribuídas à imagem corporal é a orientação
da postura e dos movimentos corporais (TURTELLI, 2003).

24
O desenvolvimento humano para Erik Erikson (1904-1994)
Erik Homburguer Erikson, psicanalista alemão, trabalhou com Anna Freud e foi
responsável pelo desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial na
Psicologia e um dos teóricos da Psicologia do Desenvolvimento.

Partindo do aprofundamento da teoria psicossexual de Freud e respectivos


estádios, ele rejeita a base das pulsões sexuais como única explicação para o
desenvolvimento. Embora concorde com Freud sobre o desenvolvimento da
personalidade se dar até os cinco anos de idade, ele acredita que tal desenvolvimento
vai além desta idade. Assim, propõe 8 estádios do desenvolvimento psicossocial
através dos quais um ser humano em desenvolvimento saudável deveria passar da
infância para a idade adulta.

Em cada estádio o sujeito confronta-se e supera novos desafios ou conflitos,


sendo cada fase do desenvolvimento da criança importante, devendo ser bem
resolvida para que a próxima fase possa ser superada sem problemas (SILVA, 2019).

Na primeira fase, a criança desde que nasce enfrenta o desafio da confiança


ou da desconfiança, onde a qualidade da relação com a mãe e com o provimento ou
não de suas necessidades, desenvolve esta confiança em si e no ambiente onde está
inserido, afetando de forma inconsciente toda a sua relação com o mundo.

Na segunda fase ele terá que formatar sua personalidade baseado na vergonha
ou na autonomia. Coincidindo com a fase anal de Freud, a criança vai adquirindo
bases para sua autonomia na proporção em que consegue controlar sua musculatura
e suas necessidade fisiológicas. O oposto também se desenvolve quando não
consegue ou quando, em suas tentativas fracassadas, o bebê até os três anos de
idade é envergonhado ou diminuído perante outros por causa de seus limites.

Na terceira fase, que vai dos quatro aos cinco anos de idade, a criança terá que
enfrentar o binômio iniciativa\culpa. Quando a criança percebe seus desejos
(complexo de Édipo) se sente culpada e para enfrentá-lo concretamente, desenvolve
outras relações que possam amenizar e substituir aquela que é seu primeiro impulso
social.

Na quarta fase – produtividade e inferioridade – a criança terá como desafio a


sua produtividade. Esta fase está relacionada a como a criança enfrentou as fases

25
anteriores e se estas ficaram bem resolvidas e a que nível. Assim, para ter alta
produtividade a criança terá que ter bem desenvolvido sua confiança, sua autonomia
e sua iniciativa.

Figura 5 - Estágios do desenvolvimento psicossocial

Na quinta fase o indivíduo enfrentará o desafio do desenvolvimento de sua


identidade e confrontar as confusões que surgem. Esta fase vai dos doze aos dezoito
anos. É uma fase de conflitos e mudanças, ele ainda não é um adulto e já deixou de
ser criança, fica perdido sem saber como se comportar, o que sentir. Seu corpo é
insuflado quimicamente com vários hormônios, o que provoca uma avalanche de
sensações e emoções fortes de difícil controle. Essa fase também incentiva ao
agrupamento para suprir a necessidade de pertencimento, traz fortes crises religiosas,
atos de rebeldia, luta por liberdade e etc.

Na próxima fase a pessoa terá como desafio duas vertentes, por um lado terá
que compreender e se adaptar com outras pessoas de forma íntima ou na proporção
que se relaciona com as pessoas, passa a se isolar. Esta fase dura aproximadamente
dez anos. Dentro de uma determinada normalidade vai dos vinte anos aos trinta.

26
Geralmente é nesta fase que a pessoa se casa e aprende a se relacionar afetiva e
sexualmente com intimidade.

Na sétima fase, chamada de generatividade versus estagnação, a pessoa volta


a sua capacidade de gerar e produzir. Aqui ela enfrenta o seu oposto, estagnação e
improdutividade. Dos trinta anos até os sessenta, toda sua atenção geralmente é
voltada para seu aspecto profissional e sua contribuição social.

E na última fase o ser humano terá o desfecho de todos os ciclos, onde ele terá
que buscar sua integridade. A partir dos sessenta anos de idade faz um balanço de
tudo o que viveu e produziu, de todo o seu desenvolvimento e se sentirá íntegro ou
desesperado (SILVA, 2019).

O eu, o espelho e as contribuições de Jacques Lacan (1901-


1981)
O francês Jacques-Marie Émile Lacan, formado em medicina com
especialização em Psiquiatria, foi um dos grandes intérpretes de Freud.

A partir de 1936, Lacan começa uma produção mais psicanalítica, contribuindo


para a invenção de uma perspectiva francesa da Psicanálise, e ao reintroduzir o
pensamento alemão do qual Freud tinha se afastado, ele passa ser realmente um
mestre da Psicanálise na França.

Dentre suas formulações, o que fez retirando o corpo biológico do foco do


campo psicanalítico, mas incluindo o corpo mental, Lacan afirma que a psicanálise
implica (...) o real do corpo e o imaginário de seu esquema mental.

A teoria lacaniana inclui a trilogia do Simbólico, Imaginário e Real, tendo sido


esta reorganizada algumas vezes.

Em apartada síntese, o corpo pode ser estudado através de três pontos de vista
complementares:

 Do ponto de vista do Imaginário, o corpo como imagem;

 Do ponto de vista do Simbólico, o corpo marcado pelo significante;

 Do ponto de vista do Real, o corpo como sinônimo de gozo.

27
Pensar o corpo do ponto de vista do Imaginário, implica em levar em conta os
primeiros momentos da teoria lacaniana e a forma como a imagem do corpo próprio a
partir da outra marca a constituição subjetiva e a imagem assumida pelo sujeito.

O corpo do ponto de vista do Simbólico implica verificar como se estabelece a


relação entre fala-linguagem-corpo e o corpo do ponto de vista do Real seria sinônimo
de gozo, definido não como organismos, mas como pura energia psíquica, da qual o
corpo orgânico seria apenas a caixa de ressonância.

Lacan usa muitas metáforas em sua teoria e nos interessa mais de perto o
estádio do espelho, definido por ele como a transformação produzida no sujeito
quando ele assume uma imagem – cuja predestinação para este efeito de fase é
suficientemente indicada pelo uso, na teoria, do termo imago (LACAN, 1996, p. 97
apud CUKIERT, 2000).

O Estádio do Espelho refere-se ao período que se inicia aos seis meses,


aproximadamente, encerrando aos dezoito meses, caraterizado pela representação
da unidade corporal pela criança e também por sua identificação com a imagem do
outro.

28
Figura 6 - O estádio do espelho

Esse estágio do espelho não se refere necessariamente à experiência concreta


da criança frente ao espelho. O que a criança ver é um tipo de relação com seu
semelhante. Essa experiência pode se dar tanto em face de um espelho, pela mãe ou
pelo outro, mas no nível do Imaginário (GARCIA-ROZA, 1988).

Quando a criança se questiona sobre a imagem que vê no espelho, ela busca,


no adulto, a referência de que aquela é a sua própria imagem. No entendimento
lacaniano, essa imagem do corpo, ou seja, a constituição de eu na criança, depende,
não apenas de um desenvolvimento maturacional, mas exige a implicação do outro.

Assim, por questões de pré-maturação a criança faz confusão entre si e o outro.


Passa por uma experiência inicial de um corpo fragmentado, para alcançar a formação
do corpo unificado. Esta experiência se dá por meio do espelho.

A criança liberta-se da angústia das fantasias do corpo despedaçado. Esta


identificação é entendida como processo simbólico na qual a criança faz a primeira
estruturação do eu, da sua imagem.

29
A imagem corporal tem um papel fundamental na constituição do sujeito.
Conforme visto em Lacan, a imagem especular possibilita a criança estabelecer a
relação do seu eu com a realidade.

O apego na teoria de Konrad Lorenz (1903-1989)

Konrad Lorenz nascido em Viena na Áustria, doutor em medicina e fisiologia,


também se dedicou à zoologia e à psicologia comparada, sendo considerado um dos
fundadores da ciência Etologia. Criou duas expressões quando se trata de
desenvolvimento humano: Imprinting e Períodos Críticos.

Apesar de ser um estudioso do comportamento animal, Lorenz se aventurou


pelo campo do comportamento humano considerando que a agressividade faz parte
de um instinto e que a humanidade deve abrir espaços para a agressividade.

Para este teórico existem períodos críticos na vida onde um determinado tipo
definido de estímulo é necessário para o desenvolvimento normal. Como é necessária
a exposição repetitiva a um estímulo ambiental (provocando uma associação com ele),
podemos dizer que o imprinting é um tipo especial de aprendizagem, ainda que
contendo um elemento inato muito forte. Na verdade, ele queria perceber quais eram
os processos fisiológicos envolvidos na preparação e realização de um determinado
comportamento (SILVA, 2019).

Onde entra o apego?

O apego está intimamente ligado ao investimento parental, e dele não pode ser
dissociado, pois é a partir dos sinais emitidos pelo bebê e da resposta dos pais a ele
que se forma o vínculo. Não se pode pensar um sem o outro. Se pensarmos no medo
de estranhos, nota-se que o bebê age sobre o adulto e este responde ao bebê de uma
forma que vai aumentando a vinculação afetiva pelas constantes respostas, pois, um
dos fatores determinantes para o surgimento e manutenção do comportamento de
apego é a rapidez com que o adulto responde ao bebê e a intensidade da interação.
O comportamento de apego, além da função de proteção, propicia ao bebê uma série
de interações sociais que colaboram para um desenvolvimento saudável da criança,
além de lhe proporcionar oportunidades de treinar seus comportamentos sociais e
perceber as modificações dele no meio. Assim, é graças a esta proximidade mãe-
bebê que este terá oportunidades de ver e explorar o mundo de uma maneira segura,

30
e assim desenvolver seu cérebro, aprender com os outros de sua espécie e sentir-se
parte dela e seguro nela a partir do amor de seus pais.

Quanto mais forte o vínculo inicial mãe-bebê, maior a probabilidade de a


criança tornar-se independente no futuro, pois é o apego seguro que permite a criança
aventurar-se de maneira confiante no mundo (DE TONI et al, 2004).

Anote aí:

A contribuição desse arsenal teórico à educação encontra-se, principalmente


na definição que faz do papel da escola: ajudar o aluno a equilibrar as exigências
instintivas, proibitivas e da realidade. Educar é procurar fazer com que as pessoas
atuem e pensem de modo mais racional e mais prazeroso.

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Referências

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GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

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HALL, C. S; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. B. Teorias da personalidade. Porto Alegre:


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