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A Transferência na Clínica

Psicanalítica

Alexandre Petry
Psicanalista, Professor e Supervisor
Mestre em Estudos Linguísticos
Psicólogo Clínico – CRP 12/14897
Contato WhatsApp: (49) 988235426
psicologoalexandrepetry@gmail.com
Organizações e influências gerais sobre a Transferência (Antes de Dora):
• Transferência – primeira vez por Freud em 1888-9, no texto “Prefácio à tradução de de la
suggestion”, de Bernheim.

• Freud (Estudos sobre a Histeria, 1893-1895, p.314): Paciente tem impulso de beijá-lo. Após
investigação, a descoberta foi de um desejo de ser beijada por um homem do passado.

• Sonhos (1900) – Termo é associado (e semelhante) aos processos de deslocamento e condensação e


como consequência, de realização de desejos inconscientes.

• Formação de compromisso: sintomas, atos falhos, chistes, sonhos.

• Aparição e influência do analista nas vivências e manifestações inconscientes do analisando.


• Ex: Anna O. e O sonho da Bela Açougueira.
Caso Dora (At. 1900, Es. 1901 e Pub. 1905)
- Paciente mulher, virgem, de 18 anos (Considerada mulher na época,
hoje adolescente); Muito inteligente, lia e estudava muito;

- Pai adoece, e a mesma acompanha-o para realizar um tratamento


médico em outra cidade, aonde ficam hospedados na casa do Sr. E
Sra. K. Após uma série de problemáticas histéricas e uma possível
carta de suicídio, o pai de Dora a leva para Freud.

- Dora “percebe” que o pai de Dora está tendo um caso com a Sra. K,
de forma que tem a sensação que o Sr. K é consente nesta questão, e
mais do que isso, o Sr. K passa a realizar investidas/assédios em direção
a Dora. Após um assédio aos 14 anos, uma série de conversões
começam a surgir.

- Dora tem a sensação de que o seu pai concorda com essa relação, em
uma espécie de jogo “Eu me relaciono com a sua mulher, e o Sr. se
relaciona com a minha filha”.
MÃE DORA PAI DORA SR. K

DORA SRA. K

- Apesar de várias problemáticas apresentadas por Dora, Freud insiste, acima de tudo, que Dora está
interessada no Sr. K.

- Depois que inicia a sua análise, Dora relata que, ao acordar, começa a sentir um “cheiro” de fumaça em
seu quarto. O elemento do fogo também aparece em seu primeiro sonho analisado com Freud.

- Após uma análise turbulenta e pouco funcional, Dora informa que irá parar o seu tratamento.

- Freud lê isso como uma atuação (acting out): abandona Freud como gostaria de abandonar seu pai e o
Sr. K.

- FUMAÇA PAI DORA SR. K FREUD (FUMANTE)


- “O que são as transferências? São reedições, reproduções das moções e fantasias que, durante o
avanço da análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica (própria do
gênero) de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma
série de experiências psíquicas prévia é revivida, não como algo passado, mas como um vínculo atual
com a pessoa do médico. Algumas dessas transferências em nada se diferenciam de seu modelo, no
tocante ao conteúdo, senão por essa substituição. São, portanto, para prosseguir na metáfora, simples
reimpressões, reedições inalteradas. Outras se fazem com mais arte: passam por uma moderação de
seu conteúdo, uma sublimação, como costumo dizer, podendo até tornar-se conscientes ao se apoiarem
em alguma particularidade real habilmente aproveitada da pessoa ou das circunstâncias do médico. São,
portanto, edições revistas, e não mais reimpressões” (1905, p.111).
- Para Freud, ele deveria ter estado atento desde o início para os indícios que Dora o colocou no lugar
do Sr. K. Não sabendo o que fez ele entrar na ordem transferencial, não pode sair dela.

- “O tratamento psicanalítico não cria a transferência, mas simplesmente a revela, como a tantas outras
coisas ocultas na vida anímica” (1905, p.111).

- “Quando se penetra na teoria da técnica analítica, chega-se à concepção de que a transferência é uma
exigência indispensável” (1905, p.111).

- “A transferência, destinada a constituir o maior obstáculo à psicanálise, converte-se em sua mais


poderosa aliada quando se consegue detectá-la a cada surgimento e traduzi-la para o paciente” (1905,
p.112).

- Nesse primeiro momento, Freud pontua que a resolução da transferência é trazê-la a tona para o
analisando, para que este a perceba e possa elaborá-la. Ela é uma resistência inicialmente, e que deve
ser convertida para a fala.
Artigos sobre a Técnica (Volume XII, 1910 – 1915)
- O manejo da interpretação de sonhos na psicanálise (1911);

- A dinâmica da transferência (1912);

- Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912);

- Sobre o início do tratamento (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I) (1913);

- Recordar, repetir e elaborar (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II) (1914);

- Observações sobre o amor transferencial (novas recomendações sobre a técnica da


psicanálise III) (1915 [1914]).
A Transferência em Freud
- A libido não satisfeita ou parcialmente insatisfeita será projetada no analista, para que ali possa ser
resolvida. É um passado atualizado no presente.

- A transferência cria, assim, uma zona intermediária entre a doença e a vida, onde se dá a transição da
primeira para a segunda. É o passado e o presente, que quando resolvido, atualiza os dois.

- "Tal processo repete-se inúmeras vezes no decorrer de uma análise. Sempre que nos
aproximamos de um complexo patogênico, a porção do complexo capaz de transferência é
empurrada para a consciência e defendida com a maior insistência.”

- A contratransferência entrará justamente como o seu oposto: são os sentimentos e processos


inconscientes do terapeuta que vão, caso não analisados e resolvidos, influenciar o tratamento do
paciente e a transferência dele com o seu analista.
Três Tipos de Transferência em Freud
POSITIVAS AMOR E EROTIZADA

Resistência para o Tratamento Analítico


NEGATIVA ÓDIO
- Três tipos de Transferência estabelecidas por Freud: As positivas (De amor e erotizada) e negativa
(De ódio). A erotizada e a de ódio são resistências para o tratamento, sendo que, de uma forma ou
de outra, futuramente até mesmo a transferência de amor se tornará uma resistência, sendo se
transformando em caráter de erotização, sendo transformada em forma de ódio.
- Elas são em decorrência da famosa ambivalência.
- Surge, com isso, a chamada neurose de transferência: a neurose que surge em decorrência do
tratamento psicanalítico, uma zona intermediária que pode ser combatida e resolvida graças ao
tratamento.
O manejo clínico proposto por Freud
- Freud: nada se pode vencer um inimigo que está ausente ou fora do alcance (in absetia ou in effigie).

- O analista deve estar atento a transferência e não imputar os seus fenômenos (amor e ódio) a figura
do analista. Deve-se se lembrar que não é com ele que ocorre o processo.

- Explicar o fenômeno transferencial ao paciente é infrutífero, e até mesmo, covardia.

- Não se deve para Freud negligenciar ou ignorar os fenômenos transferenciais. Depois de convocado
a transferência, deve ser trabalhado com ela.

- A ideia da transferência é rebaixar o analista para o lugar de amado, odiado ou parceiro do analisando
(Goldenberg).
O manejo clínico proposto por Freud

- “O caminho do analista é outro, é aquele para o qual a vida real não fornece um modelo. Evitamos
desviar da transferência amorosa, afugentá-la ou estragá-la na paciente; também nos abstemos
ferrenhamente de toda correspondência desse amor. Mantemos a transferência amorosa, a tratamos
como algo irreal, como uma situação que deva ser enfrentada no tratamento e reconduzida às suas
origens inconscientes e que deva ajudar a levar à consciência da paciente os elementos mais ocultos
de sua vida amorosa e, com isso, a dominá-los. Quanto mais dermos a impressão de estarmos,
nós mesmos, imunes a toda tentação, mais facilmente poderemos extrair da situação o seu teor
analítico.”
O manejo clínico proposto por Freud
- “Lembro de ter respondido à proposta de uma paciente, fazendo-a observar que era mais fácil achar
um namorado do que um analista” (Goldenberg, p.68).

- Há algo que ficará insatisfeito da relação analítica e que deve ser trabalhada: a palavra não cumprida,
o desejo não satisfeito. A frustração ou ainda a Versagung: a decepção, muito comum no final de
uma análise.

- Goldenberg: somos vigaristas, porque prometemos o que não podemos entregar. Nossa prática é da
palavra e a palavra engana. O analisando “supõe” que o analista saiba algo sobre ele – em um nível
inconsciente – e descobre ao fim da análise que isso é uma mentira.

- A transferência é uma neurose que leva a um enamoramento do analista, que impede o avanço do
processo analítico. Para Freud, trata-se de acender um fogo e garantir que ele não queime demais.
Conclusões (por enquanto...):
- A transferência em Freud é uma resistência inconsciente, porém necessária de ser combatida para
resolver a neurose. Gradativamente ela se torna a neurose do analisando, e ao seu fim, a análise
acaba.
- O lugar do analista é de não responder, concordando ou recusando, essa transferência. Mas sim
fazendo com que o analisando possa colocar em palavras esse conflito para ser possível de
interpretá-lo.
- A transferência ocorre dentro e fora da análise, todavia, é dentro da análise em que ela pode ser
trabalhada.
- É um retorno do passado não resolvido do analisando colocado e atualizado no hoje para que possa
ser combatida e finalmente resolvida.
- Está fora do campo da realidade, por ser de origem inconsciente.
- A “intensidade” da transferência demonstra o caráter patológico do conflito.
Pontos Importantes:
- O amor é uma repetição permanente das vivências passadas, todavia, após uma análise seria uma
versão reconhecida e modificada pelo analisando.

- Como dizer que o fenômeno transferencial não é sobre a pessoa atual do analista? Como dizer que
essa atualização das vivências não seria real? Como fingir que elas não acontecem conosco?

- Se não pudermos esperar algo de novo da análise, para que ela serve?

- A neurose e a condição amorosa do “N-EURÓTICO” são exatamente a mesma coisa. Normal é


infantil.
Pontos Importantes:

- “Uma mulher em análise se lamenta: “sei que você aceitou ser meu analista porque eu pedi por um
analista (coisa de que, neste momento, me arrependo); mas não posso deixar de pensar que se eu
fosse bonita o suficiente, você abriria mão, por mim, do seu lugar de analista.” Momento crucial. O
que há de ser significado como resposta a essa declaração apaixonada? Está descartado esconder-se
detrás de uma regra deontológica. Não vale “não posso” (“seria anti-ético”; “sairíamos ambos
machucados”; “o que vão dizer os colegas ou a sua família quando souberem”, etc). Só vale “não
quero”. Ou seja, “poderia perfeitamente amar-te, inclusive sexualmente, mas não quero. Nenhuma
regra moral ou outra me justifica. Optei por ser teu psicanalista. Será isso, ou nada”. E o pior: tem
que ser “pra valer”. Não existe semblante de desejo-de-analista: ou você o tem, ou não o tem, ponto.”
(Goldenberg, 2013).
A Transferência a partir de Lacan
- Intervenção sobre a Transferência (1951-1952): análise do caso Dora
- Para Lacan, Freud cometeu um erro técnico (preconceito) ao compreender que Dora estava
articulada ao desejo de forma puramente edípica, “tal como o fio para a agulha é a menina para o
menino” (p.222

- “Que é pois, afinal, essa transferência cujo trabalho Freud diz, em algum lugar, ser invisível por trás
do progresso do tratamento, e cujos efeitos, aliás, "escapam a demonstração"? Não nos será
possível considerá-la aqui como uma entidade inteiramente relativa a contratransferência,
definida como a soma dos preconceitos, das paixões, dos embaraços e até mesmo da
informação insuficiente do analista num dado momento do processo dialético? Porventura o
próprio Freud não nos diz que Dora poderia ter transferido para ele o personagem paterno, se ele
fosse tolo o bastante para acreditar na versão das coisas que lhe fora apresentada pelo pai? (p.218)”
A Transferência a partir de Lacan
- Assim, a transferência surge como um apontamento de um erro do analista, como estamos agindo
bem ou mal, e que precisamos reorientar o curso do que é nossa função do dispositivo.

- “Em outras palavras, a transferência não é nada de real no sujeito senão o aparecimento, num
momento de estagnação da dialética analítica, dos modos permanentes pelos quais ele constitui
seus objetos. (p.219)”

- “Para saber o que é a transferência, é preciso saber o que acontece na análise. Para saber o que
acontece na análise, é preciso saber de onde vem a fala. Para saber o que é a resistência, é preciso
saber o que encobre o advento da fala: e isso não é uma dada disposição individual, mas uma
interposição imaginária que ultrapassa a individualidade do sujeito” (p.463).
A Transferência a partir de Lacan
- Os Escritos Técnicos de Freud (1953, 1954).
- “A transferência é o amor” (p.123). Todavia, esse amor é fruto do imaginário. Imaginário:
(re)conhecimento de um elemento prévio em um novo momento. Neste primeiro momento da
transferência, ela é imaginária, pois seria para Lacan um retorno do passado do analisando atualizado
no presente (exatamente igual a Freud).

- A transferência todavia é marcada nos três registros:


imaginário, simbólico e real (p.153). A exclusão de um
desses registros gera um fenômeno transferencial
diferente.
A Transferência a partir de Lacan
- Assim, a transferência inicialmente de uma ordem imaginária corresponde na verdade a um discurso
do inconsciente, que deve ser trazido à tona através da palavra, pois é ali que é possível emergir o
simbólico. Deve-se portanto passar de uma transferência imaginária (idealizada) para uma segunda
transferência, a simbólica, que é aquela que através da palavra e do significante o analisando
reconhece a sua produção como sujeito.

- Simbólico: conjunto de leis e regras estruturais que regem o funcionamento do inconsciente. Através
da transferência imaginária fazem emergir seu desejo e significantes.

- O sujeito que vem para a análise se coloca entretanto, como tal, na posição daquele que ignora.
Nenhuma entrada possível na análise sem essa referência – não se diz isso nunca, não se pensa nisso
nunca, quando ela é fundamental” (p.309).
A Transferência a partir de Lacan
“Em outros termos, a posição do analista deve ser de uma ignorantia docta, o que não quer
dizer sábia, mas formal, e que pode ser, para o sujeito, formadora” (p.362).
A Transferência a partir de Lacan
- O Seminário 8. É analisado O Banquete, de Platão.

Sócrates Alcibíades Agatão


Alcibíades para Sócrates: “Nada para mim é tão importante como cuidar do meu aperfeiçoamento,
sendo certo que nesse particular ninguém me poderá ser mais útil que tu” (PLATÃO, 380
a.c./2011).

Sócrates age a partir de uma suposta posição analítica: semelhante, porém não igual. O desejo de
Alcibíades estava para além de Sócrates, porém havia algo nele que o instituía a isso.
A Transferência a partir de Lacan
- Silenos e o agalma – do qual é extraído o objeto a.
- “O amor é dar o que não se tem”.
- “o sujeito não pode satisfazer a demanda do Outro senão rebaixando-o, fazendo desse Outro o
objeto de seu desejo”.
- “E o analista? Este se coloca, inicialmente, na posição de amante, de demandante. Se decidiu ser
analista, esse desejo lhe indicou que algo faltava. Faltava ser analista. Falta fundada no desejo de
saber sobre o desejo do paciente, do amado, O analista pede, então, que o paciente lhe dê ou fale
algo que ele, analista, não sabe o que é. O paciente, por sua vez, supondo que tem algo a dar, a dizer
, o seu não-saber sobre os sintomas, inverte a situação, passando a amante, agora na posição da
atividade associativa. Esta gangorra do amante-amado, mestre-objeto “a”, vai se substituindo. O
paciente sabe que tem algo não-sabido, o analisa sabe que seu saber é só suposto. Assim cada um só
tem a dar nada. Isso é a transferência, dar o que não se tem, o verdadeiro amor” (NETO, p. 109,
Ideias de Lacan).
A Transferência a partir de Lacan
- A Direção do Tratamento e os princípios do seu poder (1961, 1966).

- O analista paga com o seu ser, emprestando o seu corpo para a transferência. Não se deve fingir que
é a partir de uma suposta contratransferência que se percebe a transferência. E é justamente por esse
efeito na verdade que o analista deve buscar “o segredo da análise” (p.594).

- “o analista é menos livre em sua tática do que em sua estratégia”.

- Tática: Manejo. Estratégia: Teoria (sintetizado).

- Quer se pretenda como frustradora ou gratificante, toda a resposta à demanda na análise conduz a
transferência à sugestão. A demanda sempre leva a transferência, não importando o fracasso que o
analista alcança em não atende-la.
A Transferência a partir de Lacan
- Por sua vez, o lugar do analista é o do morto.

- A análise da transferência é acima de tudo uma análise da sugestão (leitura), na medida em que
coloca o sujeito, com respeito a sua demanda, numa posição que ele deriva unicamente de seu
desejo.

- Ao agir com o seu ser, o analista age com a sua ética, propícia ao desejo do analista - “Pois, como
dissemos sem entrar na mola da transferência, e o desejo do analista que, em última instância, opera
na psicanálise” (p.868).

- Assim, o analista é convocado a atender uma demanda impossível, que ele não vai e não pode
responder, e que é nessa direção que o tratamento ocorre. Ocorre por que é a partir dai que é
possível surgir a cadeia de significantes. E essa cadeia de significantes nos permite realizar a busca
pelo desejo do analisando.
A Transferência a partir de Lacan
- E o “sujeito suposto saber?”
- Conceito mais desconhecido da teoria lacaniana (Eidelzstein).
- Geralmente, se tem um costume de acreditar que o conceito estaria ligado a uma ideia de que o
analista (sujeito, como pessoa) tem um saber sobre aquilo que o analisando sofre.
- Porém, para Lacan... “O que se pede ao analista já o indiquei da última vez, não é o que concerne a
esse sujeito suposto saber, onde se acreditou achar o fundamento da transferência entendendo como
é habitual de forma mal-entendida” (Seminário 17, 14/1/1970).
- O saber, na clínica lacaniana, está ligado muito mais a uma forma de ligação estabelecida pela
formação e produção da rede de significantes. O saber portanto não está no analista, e nem no
analisando (!!!), e sim da produção dos dois, efeito da criação dentro de uma análise que faz emergir
os significantes e, portanto, o inconsciente.
A Transferência a partir de Lacan
- Assim, existe uma tentativa de substituir o lugar da transferência (conceito freudiano) pelo conceito
de sujeito suposto saber (conceito lacaniano). Esse sujeito suposto saber seria um lugar em que o
analista é colocado (assim como lugar do Grande Outro), que, frente a esse lugar, consegue operar e
causar a interpretação, fazendo girar o discurso e pontuar os significantes que produzem o sujeito do
inconsciente.
- “O ato psicanalítico apresenta-se como uma incitação ao saber. A regra dada ao psicanalisando
implica que ele pode dizer tudo o que quiser (...). Se podemos confiar neles nessa empreitada, é,
muito exatamente, por causa de algo que está aí, implícito, mesmo que eles não sejam capazes de
dizê-lo: é que, digam vocês o que disserem, existe o Outro, o Outro que sabe o que isso quer dizer”
(Seminário 16).
- A neurose é, portanto, um discurso que supõe a existência de um determinado saber, que, ao ser
alcançado, resolveria a neurose.
- A queda do sujeito suposto saber seria, portanto, o fim da análise. É o momento que o analista é retirado
desse lugar de suposto saber. (Seminário 11, p.259).
A Transferência a partir de Lacan
- “Meu desejo de analista está suspenso e depende de eu poder vestir as roupas de objeto (a) que
causa o desejo inconsciente dos meus analisantes. Por isso, quando eles se separam do objeto que
causara seu desejo, eu caio junto com ele, tomando-me supérfluo. Está aí a razão pela qual o luto do
final da análise é do analista, não do paciente. Aquele se separa da falta que ele era para este”
(Goldenberg, p.103).
- “Com efeito, pelo trabalho mesmo que conduz o sujeito,
ao se dizer na análise, ao orientar sua proposição no
sentido da resistência da transferência, da tapeação, da
tapeação de amor tanto quanta de agressão - algo se
produz cujo valor de fechamento se marca na forma
mesma dessa espiral que se desenvolve para um centro.
O que figurei aqui por uma borda retorna sobre o plano
constituído pelo lugar do Outro, a partir da região em
que o sujeito, realizando-se em sua fala, se institui no
nível do sujeito suposta saber” (p.262-263).
A Transferência a partir de Lacan
“O significante sobre a barra (S) é um significante do analisante, o chamado significante da
transferência. Sua conexão com um significante qualquer que particulariza o analista (Sq) produz como
significado, sob a barra, um sujeito (s) articulado aos significantes do saber inconsciente (S1, S2,...
Sn). O saber está do lado do sujeito, sob a barra do recalque, mas é experimentado como sendo um
saber do analista – "a ilusão [...] pela qual o sujeito crê que sua verdade já está dada em nós, que a
conhecemos [...], erro subjetivo [...] imanente ao fato de ele haver entrado em análise" (Lacan,
1953/1998, p. 309).” (Meirelles, 2012).

- Matema da Transferência, representando a formalização do sujeito suposto saber (Outros Escritos,


Proposição de 9 de Outubro de 1967, p. 254).
Pontos Importantes:
- “o amor pelo analista é desencadeado como automathon [simbólico]: ele será encaixado em um dos
tipos que a fantasia determina. Espera-se do tratamento algum grau de desapego destas fórmulas
[passadas], para dar espaço ao incalculável do tyche [real]: espaço para o acidente que nos obriga a
inventar uma resposta imprevista, fora do catálogo da fantasia. Como diria Guimarães Rosa, “crescer
sem saber para onde” (Goldenberg, 2013, p.115).
- O neurótico nos dará tudo, menos a sua castração. E é isso que nós pedimos justamente para ele (dar
o que não se tem).
- A partir de Lacan portanto, o analisando já vem transferenciado. E existe na transferência algo do
real que faz com que ele reapareça através da transferência, concedendo espaço para uma
interpretação, um destino diferente.
- A transferência é o inconsciente colocado em ato. Foge da realidade.
Para onde ir?
Em Freud:
• A Interpretação dos Sonhos (1900)
• O caso Dora (1905)
• O caso do Homem dos Ratos (1909)
• O caso do Homem dos Lobos (1914/1918)
• Os artigos sobre a técnica (1911-1916)
• Compêndio da Psicanálise (1940-)

Temáticas a se buscar em Freud:


• A transferência
• A repetição
• Relações entre libido e inconsciente
Para onde ir?
Em Lacan:
• Os textos dos Escritos (1966): Intervenção sobre a Transferência, O Seminário da Carta Roubada,
Função e Campo da Fala e da Linguagem, A Direção do Tratamento e os Princípios de Seu poder;
• Seminário 1 (1953-54): Os Escritos Técnicos de Freud;
• Seminário 8 (1960-1961): A Transferência;
• Seminário 11: (1964): Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise;

Temáticas a se buscar em Lacan:


• Transferência e Sujeito Suposto Saber
• Objeto a
• Lógica e primazia do significante
• Desejo de/do Analista
Para onde ir?
Temáticas gerais para auxiliar o estudo da transferência e o sujeito suposto saber:
Topologia:
• O Grafo do Desejo
• O Esquema L
• O Toro
• A Banda de Moebius
• O esquema óptico de Bouasse

Estrutura e Discurso:
• Significante e seus derivados processos (metáfora, metonímia, etc...)
• A ética da psicanálise e a relação de objeto (Seminário VII e X)
Para onde ir?
Além de Freud e Lacan – leituras recomendadas:
• Goldenberg, Ricardo. Do Amor Louco e outros Amores. Instituto Langage, 2013.
• Goldenberg, Ricardo. Desler Lacan. Instituto Langage, 2018.
• Eidelsztein, Alfredo. O Grafo do Desejo. Toro Editora, 2017.
• Cesarotto, Oscar (Org.). Ideias de Lacan. Iluminuras, 2015.

Leituras não tão recomendadas assim:


• Fink, Bruce. Introdução clínica a psicanálise lacaniana. Zahar, 2018.
• Jorge, Marco Antonio Coutinho. Fundamentos da Psicanálise: de Freud a Lacan. Vol. 3. Zahar,
2017.
• Quinet, Antônio. As 4 + 1 Condições da Análise. Zahar, 1991.
Obrigado!

Alexandre Petry
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