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A PSICANÁLISE ÀS
VOLTAS COM A PESTE
Organizadores
Eliane Costa Dias
Enzo Cléto Pizzimenti
Maria Lívia T. Moretto
Patrícia Burgos O. Leite
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
Capa: Lucas Margoni
Fotografia de Capa: Elizabeth McDaniel
222 p.
ISBN: 978-65-5917-594-9
DOI: 10.22350/9786559175949
CDD: 150
Índices para catálogo sistemático:
1. Psicologia 150
Agradecemos às autoras e autores que, a partir do nosso convite, produzi-
ram os trabalhos contidos neste volume. Agradecemos às pesquisadoras e
pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Psicanálise, Saúde e Instituição
pela parceria na aposta em uma série de encontros que se configurou co-
mo importante espaço de reflexão sobre os impasses vivenciados no
enfrentamento da pandemia de corona vírus. Agradecemos, por fim, a
Eloisa Maranhão, pela generosidade e atenção no trabalho de revisão e di-
agramação da presente publicação.
PREFÁCIO 11
UM NOVO GIRO: A PSICANÁLISE DIANTE DA REALIDADE PANDÊMICA EM UM
MUNDO DIGITALIZADO
Ivan Ramos Estevão
APRESENTAÇÃO 17
1 19
HIPÓTESE SOBRE O CANSAÇO DA E NA PANDEMIA DE COVID-19
Maria Lívia Tourinho Moretto
2 35
PSICANÁLISE, BIOPOLÍTICA E A PANDEMIA DE COVID-19
Eliane Costa Dias
3 48
ATENDIMENTO PSICANALÍTICO ON-LINE: DA INTERROGAÇÃO DO DISPOSITIVO
CLÍNICO À CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES
Wilian Donnangelo Fender
4 69
ATENDIMENTO ON-LINE COM CRIANÇAS EM TEMPOS DE PANDEMIA: MUDANÇA DE
SETTING É MUDANÇA DE TRABALHO?
Marina Belém Lavrador
Laura Carrasqueira Bechara
5 86
AS FONTES DE MAL-ESTAR E A PANDEMIA: UMA EXPERIÊNCIA EM ENFERMARIAS
COVID-19
Amanda Sant'Anna
Luisa Moraes
Marcos Brunhari
Mariana Rabello
Priscila Mählmann
Vinicius Darriba
6 102
ACHAR PALAVRA: DO COMPARTILHAR AO DIZER NA EXPERIÊNCIA DE PSICÓLOGOS
HOSPITALARES DURANTE A COVID-19
Alyne Lopes Braghetto Batista
Layla Raquel Silva Gomes
Marcus Vinícius Rezende Fagundes Netto
Maria Lívia Tourinho Moretto
Paula Maia Peixoto Camargo
Thaís da Silva Pereira
7 120
“NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM”: SOBRE UMA POSSÍVEL REPOSTA DA
PSICANÁLISE PARA A ABORDAGEM DO SOFRIMENTO NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
Mayra Moreira Xavier Castellani
Maria Lívia Tourinho Moretto
8 142
TENSÕES E TENTAÇÕES DE (NEM) TUDO COMPREENDER: A PANDEMIA, OS
IMPOSSÍVEIS E SEUS TRATAMENTOS NA SAÚDE MENTAL
Enzo Cléto Pizzimenti
Ivan Ramos Estevão
9 158
REFORMA PSIQUIÁTRICA, PSICANÁLISE E CRISE: O LOUCO FRENTE À PESTE
Luciano Elia
10 179
SOBRE LOUCOS E VAGA-LUMES: UMA EXPERIÊNCIA NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
DURANTE A PANDEMIA PELA COVID-19
Larissa Guazzi Arenales
POSFÁCIO 195
A PANDEMIA E O INFAMILIAR: UMA RELEITURA DA TEORIA DA IDENTIFICAÇÃO
Marcelo Veras
REFERÊNCIAS 215
PREFÁCIO
UM NOVO GIRO: A PSICANÁLISE DIANTE DA
REALIDADE PANDÊMICA EM UM MUNDO
DIGITALIZADO
Ivan Ramos Estevão 1
1
Psicanalista, doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, professor do programa de
Pós-Graduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, membro do Laboratório de
Psicanálise e Sociedade do Instituto de Psicologia da USP.
2
Poe, E. A.: “A máscara da Morte Vermelha” in Contos de imaginação e mistério. São Paulo: Tordesilhas,
2012, trad. C. A. Leite.
12 • A psicanálise às voltas com a peste
3
Freud, S. (1917): “A fixação no trauma, o inconsciente” in Obras completas, volume 13. São Paulo:
Companhia das Letras, 2014, trad. S. Tellaroli.
Ivan Ramos Estevão • 13
que todo sonho é uma realização de desejo. Esse caminho que culmi-
nou em uma nova teoria do trauma, e uma reformulação da ideia de
repetição, abriu uma das trilhas para sustentar a controversa concep-
ção freudiana de pulsão de morte 4.
Também, a guerra trouxe à tona as questões dos fenômenos de
massa e de grupo, como o experimento de grupo realizado por Bion na
Segunda Guerra, que é, posteriormente, elogiado por Lacan como o
avanço pós-freudiano à teoria dos grupos 5.
Em março de 2020, a Psicanálise está consolidada de outra forma
em relação ao pós-Segunda Guerra: disseminou-se por vários países;
os psicanalistas criaram e fortaleceram Escolas de formação que estão
amadurecendo e aumentando o alcance da Psicanálise em intenção e
em extensão; há, já, um quadro interessante, de diversas orientações,
dialogando entre si; além de ser um campo de estudo e pesquisa con-
sagrado em várias universidades. A Psicanálise é tida, por muitos,
como um instrumento valoroso e potente de tratamento do sofrimento
humano que está presente nos consultórios; mas, cada vez mais, para
além dele: é uma realidade nas instituições de saúde mental, nos hos-
pitais, nas escolas, na rede de saúde pública e privada de vários países,
e adentra o campo do debate político, social e cultural. No Brasil, está
sendo popularizada cada vez mais, e o debate para torná-la acessível
está aceso (como, bem, Freud preconizava).
Nesse sentido, a Psicanálise comparece como um recurso impor-
tante no combate ao Coronavírus e suas consequências, seja no
sofrimento mental ou físico que ele engendra. Mas isso exigiu um novo
4
Freud, S. (1920): “Além do princípio de prazer” in Obras completas, volume 14. São Paulo: Companhia
das Letras, 2014, trad. P. C. L. de Souza.
5
Lacan, S. (1947): “A psiquiatria inglesa e a guerra” in Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. Trad.
V. Ribeiro.
14 • A psicanálise às voltas com a peste
INTRODUÇÃO
1
Psicanalista, Professora Titular do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, Coordenadora do Laboratório de Pesquisas “Psicanálise, Saúde e
Instituição” (LABPSI) do IPUSP, e-mail: liviamoretto@usp.br
20 • A psicanálise às voltas com a peste
2
O projeto “Achar Palavra” teve início a partir da demanda de psicólogos hospitalares atuantes na
pandemia do Covid-19, para quem oferecemos um espaço virtual em que pudessem, eles mesmos,
falar e compartilhar conosco suas experiências de trabalho; o que sabem, o que não sabem e,
principalmente, suas dificuldades frente à complexidade das situações clinico-institucionais no
26 • A psicanálise às voltas com a peste
CONCLUSÃO
Que antes renuncie a isso, portanto, quem não conseguir alcançar, em seu ho-
rizonte, a subjetividade de sua época. (Lacan, 1953/1998) 2
1
Psicanalista, membro da EBP/AMP, doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP,
membro do Laboratório Psicanálise, Saúde e Instituição do IP/USP (LABPSI-USP), coordenadora do
Observatório de Gênero, Biopolítica e Transexualidade da FAPOL.
2
Lacan, J. (1953/1998). Função e campo da fala e da linguagem em Psicanálise. Escritos. Rio de Janeiro:
Zahar, p. 322.
36 • A psicanálise às voltas com a peste
PANDEMIA E BIOPOLÍTICA 3
3
Parte do conteúdo deste subitem encontra-se desenvolvido no artigo: Dias, E. C. (2021). Uma nova
normalidade: qual vida a partir da pandemia de covid-19? Carta de São Paulo, ano 28, n°2, agosto/2021,
p. 87-95
40 • A psicanálise às voltas com a peste
nos anos 1970, ganha cada vez mais potência e atualidade, configuran-
do uma das marcas que definem a contemporaneidade e
apresentando-se como um dos termos mais eficazes para pensar a
abordagem dessa pandemia.
Foucault (1999; 2008) chega aos conceitos de biopoder e biopolíti-
ca ao localizar na história (mais precisamente, na virada do século
XVIII para o XIX) o aparecimento de um poder disciplinador e norma-
tizador que já não se exercia sobre os corpos individualizados (no
modelo do panóptico), mas se concentrava na figura do Estado e, cada
vez mais, no discurso da Ciência, exercido a título de uma política que
pretendia administrar, para o bem coletivo, a vida e o corpo, não mais
dos indivíduos, mas das populações.
No entanto, a lógica dessa política de garantir mais e melhores
meios de sobrevivência a uma dada população traz consigo, de maneira
necessária, a exigência contínua da morte em massa de outros corpos:
toda biopolítica, intrinsecamente, é também uma tanatopolítica.
Em sua análise desse tempo de enfrentamento da pandemia, Éric
Laurent (2020b, p.40) constata que, desde o início da disseminação da
Covid-19, os tratamentos políticos da pandemia partiram em busca de
medidas, de modelos que possibilitassem definir “uma biopolítica fun-
damentada em uma certeza cifrada”.
Na busca por um sujeito suposto saber cifrar a pandemia, vimos
surgir modelos estatísticos como os da Universidade Johns Hopkins e
do Imperial College de Londres, que visavam uma modelização da pro-
pagação da epidemia. As estatísticas e os gráficos continuam se
multiplicando: número de infectados, número de óbitos, ocupação de
leitos hospitalares, eficácia dos protótipos de vacina disponíveis, por-
centagens de vacinados.
Eliane Costa Dias • 41
O sujeito neoliberal que a Covid-19 fabrica não troca bens físicos, nem tro-
ca moedas, paga com cartão de crédito. (...) Não se reúne nem se coletiviza.
É radicalmente indivíduo. (...) Seu corpo orgânico se oculta para poder
existir por trás de uma série indefinida de mediações, uma série de próte-
ses tecnológicas que lhe servem de máscara: a máscara do endereço de
correio eletrônico, a máscara da conta do Facebook, a máscara do Insta-
gram. Não é um agente físico, mas um consumidor digital, um
teleprodutor, é um código, um pixel, uma conta bancária, um domicílio a
que a Amazon pode enviar seus pedidos. (Preciado, 2020, np)
46 • A psicanálise às voltas com a peste
1
Psicólogo e Psicanalista. Doutorando e Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da
USP (IPUSP). Membro do Laboratório de Psicanálise, Saúde e Instituição do IPUSP
Wilian Donnangelo Fender • 49
deramos ser essencial para que uma prática como a nossa se mante-
nha, seja qual for a modalidade.
APARELHOS E INTERNET
CORPO
CANSAÇO DO ANALISTA
terial preparado. Outra condição, é que isso seja feito sob transferên-
cia.
Abordar o conceito de transferência no escopo deste nosso traba-
lho requer um recorte. É um conceito que foi se desenvolvendo na obra
de Freud e, depois, também em J. Lacan, à altura do Seminário, Livro
11: os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise, onde Lacan
(1964/1998) a toma como uma mise en acte (atualização/encenação) da
realidade do inconsciente. Ao trabalhar o conceito, o autor acaba por
aproximar o conceito de transferência dos de repetição e de pulsão. É
dada, então, a conexão entre os conceitos fundamentais. Uma pulsão
que se repete em direção ao analista (transferência), nos indica que o
analista faz parte do inconsciente do analisante: “a presença do analis-
ta é, ela própria, uma manifestação do inconsciente” (Lacan, 1964/1998,
p. 125).
O mesmo é válido para a parte do analisante. Anos antes, em Dire-
ção do tratamento, Lacan (1958/1998, p. 602) afirma, categoricamente,
que é importante evitar o rompimento da relação transferencial; po-
rém, “quando se confunde a necessidade física da presença do paciente
na hora marcada com a relação analítica, comete-se um engano”. Ou
seja, quando falamos de presença, em Psicanálise, não estamos nos
referindo a ela enquanto presença física, corpos presentes.
A maior parte das críticas direcionadas ao atendimento on-line
argumentam, exatamente, a favor dessa presença física dos corpos. É o
que podemos observar em uma entrevista dada por Marie Helene
Brouse (2016) em que afirma que a “hiperconectividade implica uma
desconexão da palavra com o corpo”; ou em textos mais recentes, pu-
blicados durante a pandemia, como o de Solano-Suarez (2020): “o
corpo do analista, na sessão analítica, é o instrumento de um discurso
Wilian Donnangelo Fender • 67
LONGE DE CONCLUIR
O analista, no entanto, dá sua presença, mas creio que, a princípio, ela é ape-
nas a implicação de sua escuta, e que, esta, é apenas a condição da fala. Aliás,
por que exigiria a técnica que ele a fizesse tão discreta, se assim não fosse?
4
ATENDIMENTO ON-LINE COM CRIANÇAS EM TEMPOS
DE PANDEMIA: MUDANÇA DE SETTING É MUDANÇA
DE TRABALHO?
Marina Belém Lavrador 1
Laura Carrasqueira Bechara 2
INTRODUÇÃO
1
Psicóloga e Psicanalista. Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP (IPUSP).
Membro do Laboratório de Psicanálise, Saúde e Instituição do IPUSP. Membro da equipe clínica do
Lugar de Vida - Centro de Educaçao Terapêutica.
2
Psicóloga e Psicanalista. Doutoranda e Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da
USP (IPUSP). Membro do Laboratório de Psicanálise, Saúde e Instituição do IPUSP.
70 • A psicanálise às voltas com a peste
tos on-line. Parece que essa não era uma questão que se colocava para
os analistas antes de vivermos uma pandemia. Mais uma vez, perce-
bemos que o analista atua de acordo com o real e com as contingências
de seu tempo histórico.
A experiência de atendimento remoto com as crianças nos primei-
ros meses de quarentena explicitou, em primeiro lugar, que havia uma
continuidade possível quando a transferência da criança, e de seus pais,
com o analista se mantinha, e desse modo, a criança-sujeito podia seguir
endereçando suas questões ao analista, e os pais seguiam apostando em
um trabalho, autorizando tal continuidade da análise da criança. Claro,
há particularidades a serem consideradas, que vacilam com a transfe-
rência nesse novo setting. Mas como e por que a transferência se
manteve? Como pensar a transferência, considerando as mudanças que
a separação física e a necessidade da mediação da tela e do dispositivo
virtual impõem ao encontro que ocorre remotamente – no que concerne
ao corpo, e à linguagem? São questões de pesquisa que nos parecem
fundamentais, e para as quais ainda não temos respostas, mas sim al-
gumas constatações clínicas que nos apontam “pistas” para pensá-las.
O que fomos percebendo no atendimento de crianças que já tinham
estabelecido uma transferência com o dispositivo analítico, foi a inven-
ção, nesse novo setting, de maneiras de continuar o trabalho de análise
que vinham realizando presencialmente. O setting on-line inaugurou
novidades que foram exploradas pelos pequenos pacientes como, por
exemplo, brincadeiras com a imagem, uso do chat, brincadeiras de tirar
fotos etc., mas comumente o que percebemos é que eles “deram seu
jeito” de seguir o que vinham construindo presencialmente.
O endereçamento de certos materiais que diziam respeito ao tra-
balho psíquico do paciente persistiu em direção ao analista, ainda que
Marina Belém Lavrador; Laura Carrasqueira Bechara • 77
3
Termo utilizado para designar crianças cuja constituição subjetiva encontra-se comprometida por
diferentes fatores, e que se encontram “em risco de evolução em direção às psicopatologias graves da
infância” (Kupfer, Pesaro, Bernardino, Merletti, 2017, p.36), como o autismo, a psicose infantil, os
retraimentos relacionais e as depressões na infância.
Marina Belém Lavrador; Laura Carrasqueira Bechara • 79
CONSIDERAÇÕES FINAIS
outros. Foram casos nos quais se fez necessário algum retorno presen-
cial em um segundo momento da pandemia. Esses efeitos, coletados
em um segundo tempo da pandemia de Covid-19 no Brasil, somente
reforçam, por sua vez, a importância do encontro de corpos e da possi-
bilidade da criança de habitar o laço social para além do campo
familiar, podendo estar na escola e em companhia de outros crianças,
para sua constituição psíquica e emergência como sujeito. Considera-
mos, então, que há riscos imensuráveis envolvidos em propostas
políticas circulantes atualmente, como propostas de homeschooling e
outros projetos de desmonte à Educação.
5
AS FONTES DE MAL-ESTAR E A PANDEMIA: UMA
EXPERIÊNCIA EM ENFERMARIAS COVID-19
Amanda Sant'Anna 1
Luisa Moraes 2
Marcos Brunhari 3
Mariana Rabello 4
Priscila Mählmann 5
Vinicius Darriba 6
sabiam onde estavam, ou como foram parar lá, e nem mesmo há quan-
to tempo estavam internados. Além dos fatores relatados, relacionados
à fragilidade dessa dimensão narcísica, abalada pela mudança na rela-
ção com os outros, o ambiente asséptico, o longo período de internação
e, às vezes, também, de intubação, o uso de remédios fortes, quadros
de delirium e de rebaixamento da consciência também contribuíam
para o sofrimento real que advém da falta que o espelho do outro fa-
miliar promove, quando se estilhaça.
Dessa forma, a oferta de escuta e de atendimento, estabelecendo
uma referência a esses pacientes, tão desterritorializados, foi o pri-
meiro passo que tomamos. No sentido do que Freud aponta sobre a
possibilidade do trabalho psíquico, enquanto modo de satisfação, dar a
palavra em meio a tamanho desterro subjetivo, foi permitir, ao reme-
morar, reconstruir e historicizar o trajeto daquele sujeito até o
momento atual, dar lugar à sua singularidade. O objeto do tratamento
da Medicina no hospital, nesse caso, era o vírus e o corpo orgânico,
sem considerar, de saída, essa outra dimensão. Ao se escutar o sujeito,
contudo, abre-se uma via para se tratar esse outro tipo de sofrimento
que não sobrevém estritamente do corpo, e que se atualiza a cada situ-
ação traumática, dando-lhe a possibilidade de elaborar, nomear e criar
uma narrativa própria sobre aquele período de internação, muitas
vezes difícil. Além disso, cria-se a oportunidade de se endereçar a al-
guém. Em nossa experiência, pudemos perceber como os quadros ditos
de delirium, ou de confusão leve, se beneficiaram especialmente dos
atendimentos e das chamadas de vídeos com a família. Para esses paci-
entes que experimentam uma confusão mental, a regularidade de
nossa presença, levando a possibilidade de elaborarem algo pela fala, e
a aproximação – mesmo que virtual – com as pessoas amadas e já co-
A. Sant'Anna; L. Moraes; M. Brunhari; M. Rabello; P. Mählmann; V. Darriba • 95
- Estou conversando com ela aqui. Ela está muito abalada e não quer subir,
mas a mãe precisa estar ao lado do filho. Precisamos crer no milagre e a pre-
sença dela, lá, pode ajudar.
- Ela tem que subir? Em que a presença dela pode reverter o quadro de seu fi-
lho?, perguntou a psicóloga.
- Ele já não está mais lá. Eu sei que vou perder meu filho, mas não quero guar-
dar a imagem dele sofrendo, não quero vê-lo sem vida.
- É muito triste que a imagem que eu vou guardar dele é desse sofrimento. A úl-
tima lembrança é sempre a que fica, né?
- Se você está dizendo que essa é uma última lembrança, é porque existem mui-
tas outras, né? Me fala um pouco mais do seu irmão.
Ela conta que o paciente era o caçula; que há poucos anos eles ha-
viam perdido um outro irmão para a mesma doença; que, naquela
semana, o paciente comemoraria seu aniversário; que ele acabara de
comprar um videogame que eles costumavam jogar juntos; e então,
lamenta não poder viver esses momentos. Diante desse lamento, o
outro irmão, que até então se mantinha em silêncio, irrompeu dizen-
do:
- Não fala essas coisas. A gente tem que ser forte. Ele não pode escutar isso.
Ele pode piorar.
- Pode piorar o quadro dele?, questionou a psicóloga.
- Pois é, cara. Ele tá indo. A gente tem que aproveitar que ele ainda está aqui,
disse a irmã.
- Tem alguma coisa que você gostaria de dizer para o seu irmão?, perguntou a
psicóloga.
- Será que minha família vai acreditar em mim? Ele está tão diferente, tão
emagrecido. Eu sei que é ele, mas só eu sei. Só eu vi! Não tem nem foto pra
mostrar. Estamos há um mês sem vê-lo. E daqui ele sai e vai direto ser en-
terrado. Nunca mais ninguém vai ver.
elencadas por Freud (1929/2020, p. 321), “não pode nem mesmo pres-
cindir da dor e do medo como sinais de alarme”. Se concordarmos com
Freud (1915/2020, p. 123) quando afirma que para cada um de nós a
morte é irrepresentável, logo podemos acreditar que a morte de um
próximo atualiza, no sujeito, a realização de sua própria decrepitude;
afinal: “cada uma dessas pessoas amada era um pedaço de seu próprio
e amado Eu".
Após discutirmos em supervisão algumas dessas situações, come-
çamos a consolidar a oferta de estarmos presentes, também, nas
comunicações de notícias difíceis. Ao acompanhar um médico em co-
municação de óbito, a caminho de estar com a família, ele relatou que,
apesar de terem os protocolos para seguir, é sempre muito angustiante
ter que dar essa notícia a algum familiar. O protocolo ao qual ele se
referia era o Spikes, sigla em inglês que reúne uma série de condutas,
orientadas para o médico, no momento da notícia. Em sua fala, o mé-
dico parecia denunciar a limitação dos protocolos diante da irrupção
da morte. De fato, o que presenciamos nos últimos meses, acompa-
nhando tantos momentos de fim de vida, é que os protocolos, tentativa
de garantir alguma previsibilidade, e que tem seu lugar na prática em
saúde, são insuficientes para dar conta da condição mais imprevisível
do humano. O sujeito, tal como a Psicanálise o interpela, em sua rela-
ção com a morte, não é abarcado pelos protocolos.
A partir da instalação da pandemia no Rio de Janeiro, em Março
de 2020, presenciamos uma inundação das três fontes de mal-estar no
ambiente hospitalar. Diante da atualização das dificuldades da relação
com o outro, da ratificação da decadência do corpo e das invasões da
natureza, vimo-nos convocados a lançar mão de alguns artifícios, para
sobreviver ao naufrágio. A radicalidade do mal-estar, acentuado pela
A. Sant'Anna; L. Moraes; M. Brunhari; M. Rabello; P. Mählmann; V. Darriba • 101
“A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda
viva e carrega o destino pra lá.” (Roda Viva, Chico Buarque)
cos propostos por Lacan (1945), em seu texto O tempo lógico e a asserção
da certeza antecipada.
O primeiro tempo, instante de ver, se inicia com a chegada da pan-
demia ao Brasil, o encontro com a vulnerabilidade do corpo e dos
saberes técnico-científicos diante de uma ameaça invisível, e que esca-
pa a padrões pré-determinados, naquilo que concerne à maneira como
afeta e ameaça o corpo. Assim, enquanto alguns pacientes se contami-
navam e tinham sintomas leves, outros precisavam ser hospitalizados
em Unidades de Terapia Intensiva e, muitas vezes, iam a óbito. Como
nos alerta Lacan (1945), diante do instante de ver, do Real que se im-
põe, o sujeito precipita uma compreensão. Em nosso caso, o ato foi a
resposta possível.
Uma enfermeira, que sempre trabalhou em enfermaria de pacien-
tes oncológicos, é realocada na UTI, após fazer um treinamento on-
line. Afinal, treinamentos presenciais estavam proibidos, dada a con-
traindicação de qualquer tipo de aglomeração. Assim, em seu primeiro
dia, se viu auxiliando a equipe a fazer uma entubação que, no caso do
paciente com Covid-19, tem suas especificidades. “Quando vi, já estava
lá! Entubando! Sem saber muito bem o que estava fazendo…” – relata.
Após o plantão, já no refeitório do hospital, começa a ser invadida por
lembranças do procedimento e não consegue almoçar.
Ora, essa pequena vinheta clínica nos mostra o potencial traumá-
tico a que foram, e continuam a ser, expostos os profissionais de saúde
que, convocados a se haverem com acontecimentos clínicos inéditos e
pacientes em extremo sofrimento, muitas vezes não têm tempo de
elaborar, pela via simbólica, o sofrimento e a angústia decorrentes
dessas situações. Dessa forma, a precipitação do momento de compre-
108 • A psicanálise às voltas com a peste
portante considerar que há, nessa clínica, uma variável orgânica que
incide diretamente na condição do paciente em se engajar na aborda-
gem de atendimento psicológico.
Nesse ponto é que as questões foram se construindo: é possível
um atendimento remoto no hospital? Como lidamos com a vertente
institucional da atuação do psicanalista na contribuição da construção
do caso clínico? Como sustentamos a clínica em tempos em que o
atendimento psicológico se caracteriza por orientações pré-definidas
em relação aos medos e a ansiedade? Como construir um modelo de
atendimento com paciente e familiar quando há privação de acompa-
nhamento como protocolo de segurança? Questões que nos
direcionaram cada vez mais ao cerne da ética psicanalítica, neste espa-
ço que pôde nomear e avançar, pela via do laço social, questões
inéditas aos psicólogos hospitalares.
1 Doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Membro do
Laboratório de Psicanálise, Saúde e Instituição da Universidade de São Paulo.
2 Professora Titular no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Presidente da Sociedade
Brasileira de Psicologia Hospitalar, Coordenadora do Laboratório de Psicanálise, Saúde e Instituição da
Universidade de São Paulo.
Mayra Moreira Xavier Castellani; Maria Lívia Tourinho Moretto • 121
3
Disponível em: https://covid.saude.gov.br/
Mayra Moreira Xavier Castellani; Maria Lívia Tourinho Moretto • 123
4
Universidade Virtual do Estado de São Paulo
5
Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo “Dr. Sebastião de Moraes”
Mayra Moreira Xavier Castellani; Maria Lívia Tourinho Moretto • 133
6
Disponível em: https://autoestima.sp.gov.br/
134 • A psicanálise às voltas com a peste
A PROPOSTA:
O OBJETIVO:
A MODALIDADE:
A DURAÇÃO:
O PÚBLICO-ALVO:
7
Histórico disponível em: https://www.hypeness.com.br/2018/11/por-tras-do-viral-de-onde-vem-a-
frase-ninguem-solta-a-mao-de-ninguem/
Mayra Moreira Xavier Castellani; Maria Lívia Tourinho Moretto • 141
“Operou-se uma profunda modificação nos barulhos da cidade [...] O Rio tinha
segredo dos ruídos. Todos os rumores encontravam, aqui, seu paraíso. O bonde,
o automóvel, o mascate, o moderno camelô do centro da cidade [...] O baile fu-
nesto abafou todas essas vozes [...] apenas a tosse quebra o silêncio.
circunstante.”
O País, 20 ago. 1918.
1
Psicanalista. Mestre e Doutorando em Psicologia Clínica e membro do Laboratório de Psicanálise,
Sociedade e Política, e do Grupo de Pesquisa de Orientação Lacaniana, vinculados ao Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Autor do livro “Psicanálise e Saúde Mental: tática,
estratégia e política na direção do tratamento” (Benjamin, 2021) e um dos organizadores e autor do
livro “Tática, estratégia e política da psicanálise” (Calligraphie, 2022).
2
Psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano (EPFCL) e do Fórum
do Campo Lacaniano de São Paulo. Professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
Universidade de São Paulo (EACH-USP) e do programa de pós-graduação do Instituto de Psicologia da
USP. Mestre e doutor em Psicologia Clínica pela USP. Coordenador do Laboratório de Psicanálise,
Sociedade e Política da USP.
Enzo Cléto Pizzimenti; Ivan Ramos Estevão • 143
7
Sobre os ataques e hostilidades, ver: https://www.bbc.com/portuguese/geral-51983987 ;
https://ctb.org.br/noticias/internacional/organismos-internacionais-alertam-para-violencia-contra-
enfermeiros/ ;
150 • A psicanálise às voltas com a peste
Mas outro sintoma de nossos concidadãos do mundo talvez tenha nos sur-
preendido e chocado não menos do que a queda, tão dolorosamente
sentida, de sua superioridade ética. Estou falando da falta de discernimen-
to que se manifesta nas melhores cabeças, sua obstinação, sua
inacessibilidade aos argumentos mais convincentes, sua credulidade acrí-
tica em relação às afirmações mais contestáveis. (Freud, 1915, p. 115)
2
JASPERS, K.- Psicopatologia geral (1913), Rio de Janeiro, Livraria Atheneo, 1973, que introduziu a
famosa oposição entre as Naturwissenschaften (ciências da natureza), que operam pela via de erklären
(explicar), e as Kulturwissenschaften (ciências da cultura), que operam pela via da verstehen
(compreender). Jaspers foi levado a esta excursão epistemológica por força de seu encontro real com
a loucura, o que dá a medida da potência deste encontro. Sobre isso, é interessante observer que a
Psicanálise inaugura uma terceira margem para este rio: uma vertehen pela via do significante, não da
physis, mas da anti-physis, entretanto, materialista: o materialismo do verbo.
Luciano Elia • 161
3
BACHELARD, G. – A formação do espírito científico (1934), Rio de Janeiro, Editora Contraponto, 1996.
162 • A psicanálise às voltas com a peste
4
LACAN, J. – O Seminário, Livro XVII (O avesso da Psicanálise), 1969-70. Rio de Janeiro,
5
Citamos: Karl Popper, Thomas Kuhn, Phillipe Arìès, Georges Canguilhem, Irving Goffman, Gilles
Deleuze, Louis Althusser, Jacques Donzelot e, no limiar de uma nova metodologia, patamarizada com
outras, inclusive o método científico, a Arquelogia/Genealogia, Michel Foucault.
Luciano Elia • 163
6
LACAN, J. (1960/1998). A ciência e a verdade. In: Escritos, Rio de Janeiro, p. 874.
164 • A psicanálise às voltas com a peste
7
Idem – O Seminário, Livro XVII – De um discurso que não seria semblante (1971), Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Editor, 2009. Lição VIII (O homem, a mulher e a lógica, de 19/05/1971, p. 133.
8
Espaço dos grandes congressos de medicina, espaço reservado aos laboratórios que distribuem
computadores, tablets, celulares de última geração e vouchers de viagens cinematográficas.
Luciano Elia • 165
9
https://www.polbr.med.br/ano21/Diretrizes_ABP.pdf
166 • A psicanálise às voltas com a peste
10
Seminário Nacional: Pandemia, ciência e direitos humanos: a política federal de disseminação da
COVID-19 no Brasil e de ataque à ciência em normas, atos e fatos, realizado no dia 27 de Agosto de
2021 em ambiente virtual, com a participação de vários programas de pós-graduação, laboratórios e
núcleos de pesquisa de todo o Brasil, apoio da FREDUC (Frente em Defesa da Universidade e da
Ciência) e do PUD (Psicanalistas Unidos pela Democracia).
174 • A psicanálise às voltas com a peste
11
FREUD, S. – O mal-estar na civilização, 1930, in: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago Editora, 1974, p. 95.
Luciano Elia • 175
12
Veloso, C. Vaca profana (1986), apresentada por Caetano no álbum gravado ao vivo Totalmente
demais, de 1986 (Phillips), embora Gal Costa, a quem a composição foi por ele dedicada, a tenha
gravado antes, em 1984, no álbum Profana (Gravadora RCA, Sony Music).
13
Ibidem, Estrangeiro (1989), Gravadora Phillips.
10
SOBRE LOUCOS E VAGA-LUMES: UMA EXPERIÊNCIA
NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DURANTE A
PANDEMIA PELA COVID-19
Larissa Guazzi Arenales 1
1
Larissa Guazzi Arenales é psiquiatra e psicanalista. Trabalhou em diversas instituições do SUS e hoje
atua em consultório particular e na clínica/hospital-dia Freud Cidadão, em Belo Horizonte-MG. É
mestranda do programa de pós-graduação da Psicologia, na UFMG, na área de concentração Estudos
Psicanalíticos.
180 • A psicanálise às voltas com a peste
2
Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/mg.html>. Acesso em 06 de jun. de
2021.
Larissa Guazzi Arenales • 181
1. A Louca Sensata:
S. tem 68 anos. Faz tratamentos, há longa data, para Transtorno bipolar.
Chega à urgência, vestida com muitas cores, com sobreposição de roupas,
maquiagens fortes. Falava sem parar. Vinha acompanhada da filha. S. já
tinha uma trajetória de tratamentos longa o suficiente para perceber que
estava em crise e que necessitava de ajuda.
- Eu preciso de ajuda, eu não aguento mais! Eu não durmo nada! Me dá um
remédio, pelo amor de deus!
S. tinha também um saber sobre a situação:
184 • A psicanálise às voltas com a peste
- Aqui eu não fico! Essa doença tá pegando os velho tudo! Não vou ficar no
hospital!
Sua filha fica um tanto reticente quanto ao tratamento extra hospitalar.
Percebe que a mãe está bastante alterada e que não a ouve. Aponto a ela a
boa vontade de S. de tomar as medicações e a percepção sobre seu quadro
psíquico.
Aponto, também, a percepção sobre o momento, que me pareceu bastante
adequada.
3
Para mais informações, vide portaria número 3.088 de 23 de dezembro de 2011.
Larissa Guazzi Arenales • 185
- Doutora, eu conversei com a minha médica hoje. Eu falei pra ela, eu pre-
ciso pôr a mão nas pessoas para ungir elas, assim eu me sinto mais forte.
Ela me falou para eu ungir pelo pensamento. Você acha que eu vou ficar
mais fraca se eu ungir pelo pensamento?
- Não, M. Está correto. Pode ungir pelo pensamento que você continua for-
te. Tente não encostar nas pessoas por conta da Covid, OK?
M. tinha recebido uma intervenção muito acertada. Mas ainda estava pre-
cisando elaborá-la, e repetia sua pergunta pelos corredores. Cabe dizer
que ela não encostou em mim, e que não a vi encostando em outras pesso-
as, durante aquele pequeno espaço de tempo em que compartilhamos um
encontro.
política, isso não é possível. Mas o tempo nos dirá quais as consequên-
cias e os efeitos mais nefastos: se é fazer uma clínica supostamente
apolítica, ou se é fazê-la quase que, unicamente, baseada na política
(Barreto, 2017).
O louco do SUS, frente à peste, ele segue em um lugar que lhe é
muito familiar ao longo da história da loucura: tendo que batalhar por
seu estatuto de dignidade e de uma escuta diante de tudo isso que tem
acontecido.
O que poderia o analista fazer diante disso? Dar o lugar de sujeito
àquele que o procura, e não o de objeto. Procurar, no jogo de luz e
sombras, o que fulgura na clínica.
Neste momento que vivemos diante do Real da pandemia, o ana-
lista conta com os mesmos recursos que já contava: sua palavra e seu
ato. Cabe a nós pensar e discutir quais os obstáculos, limites e alcances
que cada dia de nosso fazer nos demandará. É quando a noite é mais
profunda, que somos capazes de captar um mínimo clarão (Huberman,
2014).
Não existe normal para o ser habitado pela palavra, pois a norma-
lidade será sempre uma ficção instável, tentando dar conta de um
impossível: as palavras não dizem tudo do corpo. É na memória das
diferenças que podemos melhor alojar a Psicanálise. Com a Psicanálise,
aprendemos que não há normalidade, pois não há vida sem sintoma;
mas, também, sabemos que quem determina o que é e não é normal é o
mestre da vez; e o sintoma tem uma relação de dupla face em sua rela-
ção com o discurso do mestre; fazemos sintoma quando o seguimos e
quando deixamos de seguir. Como a normalidade é uma curva, uma
curva de Gauss, sabemos que para definir uma normalidade precisa-
mos do tempo, tempo em que o Real deixa de não se escrever e afeta o
mundo dos viventes. Todo acontecimento novo, nesse sentido, é anor-
mal, pois ele irrompe bem ali, na rotina do calendário, em um instante
que não estava previsto. É na progressão dos discursos que a produção
de sentidos se faz. Portanto, foi necessário um tempo para compreen-
der o furo causado pela pandemia, a partir de janeiro de 2020. Sabemos
que quanto mais nos enveredamos pela trama dos discursos, mais nos
afastamos da verdade, fazendo valer a tese lacaniana, dos anos 1970, de
que o sentido é o Outro do Real.
1
Psicanalista, membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e da Associação Mundial de Psicanálise
(AMP).
196 • A psicanálise às voltas com a peste
2
Lacan, J., Le Séminaire Livre XVII, L’Envers de la psychanalyse, Paris Seuil, 1991, p. 132
Marcelo Veras • 197
3
Miller J-A, Uma fantasia, acessível em: http://2012.congresoamp.com/pt/template.php?file=
Textos/Conferencia-de-Jacques-Alain-Miller-en-Comandatuba.html
4
Miller J-A. Malaise dans l’identification, Revista Mental 39, página 152
198 • A psicanálise às voltas com a peste
5
Lacan, J. A. Proposition du 9 octobre 1967 sur le psychanalyste de l’école, Écrits.
Marcelo Veras • 199
se em plena segunda onda não era a mesma coisa que encontrar vinte
amigos; um novo fenômeno de massa está em jogo. Por mais que hou-
vesse a figura de um bufão dizendo que todos deveriam se aglutinar,
sem a teoria da identificação não é possível entender o que fez tantos
seguidores tornarem-se igualmente bufões.
Ser parte da massa, ao preço de brincar com a vida, fica mais fácil
quando abrimos mão do senso crítico e aderimos à lógica do "todo
mundo está fazendo". Fazer parte de um grupo que pensa igual é, sem-
pre, uma liberação do sentimento interno de vergonha. Implica na
manifestação maníaca descrita por Freud em seu texto de 1927, “O
humor”. Trata-se do triunfo diante da morte do pai. É preciso enten-
der a lógica que faz com que o desejo de ser rebanho em uma massa
supere o sentimento íntimo de vergonha, que temos quando transgre-
dimos a lei. E qual a lógica dessas aglomerações que se tornaram
campos de difusão na pandemia? Penso em algumas respostas que
trago aqui. Retomaremos a questão da identificação e o mal, mais
abaixo.
A PANDEMIA E AS REDES
tivos. Estar com um vírus, o que isso significa? Quando nos olhamos no
espelho, nós não o localizamos; é como se tivéssemos o pior em nós, a
alteridade mais ameaçadora, sem que pudéssemos extirpá-la. Poderia
dizer que ele é a menor escala do objeto "a" lacaniano, um resto "a
mínima" do que, em nós, não somos.
E, sem dúvidas, há o grande movimento barroco do Simbólico. É
quando a angústia da alteridade viral encontra os semblantes, os ro-
mances, as fabulações, os memes e teorias que tentam dar um
tratamento simbólico para esta angústia, tornando-a, preferencial-
mente, uma fobia. Assim, as necessárias exigências de proteção
trouxeram como efeito colateral oferecer um elemento fóbico ao que
era puro sentimento de angústia. Sabemos que a fobia é um dos trata-
mentos da angústia. Nosso álcool gel, nossas luvas e máscaras,
curiosamente criaram uma superfície que permitiu delimitar um
“dentro” e um “fora” do corpo, conferindo uma inédita miragem de
visibilidade ao real invisível do vírus. Fomos quase capazes de vê-lo
indo embora quando esfregávamos o álcool em nossas mãos.
Antes mesmo da covid, não faltaram telas de projeção nos ele-
mentos da cultura. Nesse sentido, o filme de Steven Soderbergh de
2011, “Contágio”, foi impressionantemente premonitório. Também
eram sinalizações o interesse crescente pelos zumbis e mortos-vivos,
em séries como Walking Dead, que atrelavam a epidemia ao modo de
viver do sujeito contemporâneo alienado ao consumo, trabalho exces-
sivo e tirania dos ideais de corpo perfeito e saudável. Esse conjunto de
circunstâncias ganhou notoriedade com a publicação, em 2010, do livro
“Sociedade do cansaço”, de Byung-Chul Han.
Com a pandemia, o movimento civilizatório atual, que busca o
máximo das experiências vividas em grupo, sofreu um revés. Por conta
Marcelo Veras • 201
Psicologia das Massas, um líder não precisa ter um discurso que faça
sentido; ele precisa que sua voz ressoe no corpo e atinja esse núcleo
mais íntimo, muito além da razão. Encontramos, aí, a base da segrega-
ção, que prolifera sempre que substituímos a conversação entre os
pares, pela escuta sem direito à contestação do líder. Por que tantos
sacrificaram seu bom senso para seguir, incondicionalmente, a palavra
do líder? Assim, desenvolveu-se um mecanismo que converte uma
crença (na cloroquina, por exemplo, que é sempre uma aposta, uma
conjectura, uma hipótese) em certeza. O ser falante é o ser atravessado
pela linguagem do Outro. Desde muito cedo, já na teoria freudiana do
narcisismo, em 1914, aprendemos que nos formamos a partir dos obje-
tos, do outro, que investimos. Essa alienação à imagem não deve
ocultar que a essência do ser é o gozo incomunicável. Tudo o que fala-
mos pode ser refutado, dialetizado e repensado; mas, toda vez que
topamos com uma verdade inamovível, estamos no campo do gozo do
Um, gozo vivido na experiência única de cada existência. Esse foi um
dos grandes desafios para os últimos tempos.
Os debates sobre a condução da pandemia seguiram circuitos que
levaram a uma vertigem entre crença e verdade. Vale o adágio: mais
desconfiamos de nossas crenças e mais vamos à missa. Muitos se afer-
raram às suas crenças como último ponto de estofo de sua própria
existência. Ouvir o outro tornou-se impossível; coube ao outro que
discorda apenas o papel de espelhar o gozo mortífero que todos bus-
cam evitar. Está aí boa parte da gênese do negacionismo como modo de
existir. Há, contudo, um impedimento a projetar o gozo nas telas do
outro: é que um resíduo de opacidade do gozo, conectado ao real sem
semblantes, está no âmago da incomunicabilidade política.
Marcelo Veras • 205
co de lidar com a incerteza das palavras, das nossas e das dos outros.
Contudo, nem sempre foi assim; nos tempos em que o Outro era con-
sistente. era possível pacificar-se com as palavras de Deus. Descrentes
dos valores universais, e aspirados pelo gozo do objeto "a", que fez
ressoar cada vez mais forte a inutilidade de se passar pela palavra do
outro para gozar, esse gozo. Agora. se aferra à certeza irrefutável do
traço.
Não há ciência, política, arte ou retórica qualquer que possa de-
mover alguém de suas convicções, quando este sacrifica a lógica em
nome do gozo. A única certeza é que gozamos; por isso, apenas é possí-
vel democracia quando há cessão de gozo. O fanatismo, o
negacionismo, o racismo ou fascismo ganham sua força de negação do
outro na certeza do “mesmo”, um mesmo de gozo monótono e repetiti-
vo. Que forças potentes abalaram o modo de gozar no século XXI? A
resposta pode explicar o surgimento de novas crenças delirantes, que
podem ir desde a fabricação de um mito sem história a um remédio
que se torna pedra filosofal na cura da covid. Toda certeza, todo ódio
radical diz mais do gozo delirante do que da palavra do outro. Como
amar o outro mais do que a si mesmo?, perguntava Freud no Mal-
estar. Pessimismo freudiano? O sinthome lacaniano pode ser a respos-
ta, um outro modo de lidar com o gozo autista que nos habita.
6
Devemos essa contribuição à Patrícia Veras, pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz – Bahia
Marcelo Veras • 207
7
Veras, Patrícia: Ce que la Science ne peut pas lire – Lacan Quotidien 253
8
Genômica, Transcriptômica, Proteômica e Metabolômica
208 • A psicanálise às voltas com a peste
9
Não no sentido de que se está analisando os neurônios, mas de que são neurológicas por serem
baseadas em estudos de redes muito complexas
Marcelo Veras • 209
10
Patient-specific multi-omics models and the application in personalized combination therapy.
August John, Bo Qin, Krishna R Kalari, Liewei Wang, Jia Yu. Future Oncol. 2020;16(23):1737-1750. Doi:
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11
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Gregory A Hawkins, Timothy D Howard, Laura A Cox. Int J Mol Sci. 2019;20(19):4781. doi:
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12
Precision Medicine and Global Health: The Good, the Bad, and the Ugly. Alexios-Fotios A. Mentis1,
Kleoniki Pantelidi, Efthimios Dardiotis, Georgios M. Hadjigeorgiou and Efthimia Petinaki. Front. Med.,
2018. https://doi.org/10.3389/fmed.2018.00067
210 • A psicanálise às voltas com a peste
que Marieles foram assassinadas, que Queiroz era mais invisível que o
vírus, que a ascensão do totalitarismo mundial era fato consumado.
Digo isso porque, lendo alguns jornalistas que respeito, entendi
que o mundo pós lockout não será um mundo das liberdades, mas tudo
será proibido. Isso, obviamente, deverá marcar uma nova lei do Supe-
reu. Antes, era a interdição vitoriana total do prazer; depois, o mundo
em que tudo era permitido, o importante era gozar. Se falo no passado,
é porque vejo que um novo modo de viver a pulsão se descortina.
Gozar deixa de ser um problema de alienação ou separação do ob-
jeto; talvez seja o declínio de uma função civilizatória marcada pelo
matema a -> $, escrito por Jaques-Alain Miller, como a fórmula para o
mundo capitalista atual.
Em respeito aos milhões afetados, não chamaria esse comentário
de triunfo do vírus. Acho importante, contudo, perceber a força da
natureza, rebelde ao saber científico e à política, como aquilo que nos
escapa. O que temos de melhor na predição, ainda se encontra no saber
científico. Ainda assim, tudo que se aprendeu, tudo do real que se tor-
nou discurso da Ciência, apenas mostrou que estamos muito longe de
pensar no triunfo da Razão sobre o Real. O problema não são as equa-
ções, mas os leitores.
Poderíamos supor Deus, mas, ainda nessa suposição, tampouco
estaríamos abrigados do vírus. Essas considerações não são de todo
minhas, são inspiradas na lição de 16 de janeiro de 2011 do curso de
Jacques-Alain Miller. Miller fala de um Um fundante que engendra a
Ciência: Há Um na natureza. O que mais nos assusta é que esse Real é
sem Lei. De nossa precariedade, nos perdemos tecendo discursos
quando o máximo que conseguiremos são matemas, letras e sinais do
alfabeto científico, desnudados do sentido.
212 • A psicanálise às voltas com a peste
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