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Livro: Fundamentos epistemológicos da História.

Capítulos: 4,5 e 6.

Texto Sintético.

O Materialismo Dialético - Capítulo 4.

A Revolução Industrial no século XIX mudou profundamente a


sociedade européia, configurando as classes sociais opostas: capitalistas x
proletariado, aumentando assim, a exploração do trabalho assalariado.
Com o processo de industrialização estabelecido diversas teorias
surgiram para propor soluções ao problema da desigualdade social, algumas
apresentavam alternativas não- violentas outras, enfatizavam a necessidade da
violência.
Para os pensadores Marx e Engels, somente por meio da luta de
classes que as contradições do modo de produção capitalista poderiam ser
superadas; seria necessário que as forças produtivas do sistema capitalista
estivessem no auge de seu desenvolvimento para que as condições sociais
levassem a um fenômeno histórico mundial, uma revolução proletária a partir
da qual se abriria a possibilidade de uma sociedade sem classes.
O materialismo dialético ganha importância para a teoria do
conhecimento a partir do desenvolvimento do conceito de ideologia. A palavra
ideologia tem interpretações diversas, entretanto é possível discernir dois
significados gerais: 1º- assume uma conotação negativa, uma visão distorcida
da realidade com o objetivo de justificar uma relação de poder, sendo um
obstáculo que nos impede de ver a realidade; 2º - assume uma conotação
positiva, pode ser traduzido como visão de mundo, não pode ser descartado,
mas nos da condições para que nossa consciência possa dar conta da
realidade a ser conhecida.
Marx e Engels escreveram o livro A ideologia alemã, em 1948, que
não foi publicado. Esses filósofos idealistas acreditavam que tudo aquilo que
pode ser objeto de conhecimento dá-se como produção da consciência de um
sujeito. O mundo só existe em função de um sujeito que o pensa e, ao pensar o
mundo dá-lhe existência.
Hegel foi um filósofo alemão sintetizou o espírito de seu sistema
na frase: “Todo racional é real e todo real é racional”. Segundo ele a própria
crítica ao conhecimento já se coloca como uma forma de conhecimento.
Hegel elimina a necessidade da coisa em si e postula a identidade
entre pensamento e realidade, colocando esta na dependência daquela. E é
contra esse postulado que se ergue a crítica do materialismo dialético ao
idealismo alemão.

Uma das principais características do pensamento de Marx e


Engels era aproveitar o que achavam importante nos autores que criticavam;
da economia política inglesa, que possuía um caráter marcadamente liberal
Marx e Engels importaram o conceito de trabalho, do socialismo utópico
francês, incorporaram a crítica à sociedade burguesa.
Marx e Engels incorporaram o conceito de dialética, mas
invertendo completamente as premissas do idealismo hegeliano: não é mais o
pensamento que cria a realidade, mas são as condições materiais de uma
dada sociedade que servem de substrato para a formação de determinadas
formas de consciência. A realidade social é marcada pelo conflito de classes:
capitalistas versus trabalhadores assalariados.
É chamado de alienação um conjunto de conhecimentos, crenças,
valores, hábitos, etc., que é produzida pela classe dominante e assumida pela
classe dominada, a classe dominada assume a ideologia da classe dominante.
O materialismo dialético é importante para a História, primeiro
porque nos fornece uma nova chave para discernir o que conta ou não como
conhecimento histórico, segundo essa teoria nos fornece uma nova maneira de
interpretar o desenrolar do processo histórico.
Na visão do materialismo dialético, o que importa é a base
econômica, que é caracterizada pelas relações de produção (capitalista e
proletariado) e pelas forças produtivas (terras, máquinas, tecnologia, etc.).
As instituições sociais, a política, igreja, família, escola etc.
constituem a superestrutura, são determinadas pela base econômica, de modo
que, quando esta se modifica, todo o resto se modifica, assim, o grande
problema da historiografia tradicional é o de ocupar-se com as questões
políticas, esquecendo-se da estrutura econômica que torna possível a
configuração política.
Para Marx o que conta para a História é a economia, não a
política. Mas de que modo a relação entre base e superestrutura pode ser
aplicada ao nosso entendimento acerca do processo histórico? As relações de
produção que caracterizam cada estágio do desenvolvimento das forças
produtivas, não são estáveis, mas configuram uma oposição dialética.
A História, na perspectiva do materialismo dialético, é entendida
como sendo a História da luta de classes. Após a morte de Marx e Engels, o
legado teórico do materialismo dialético serviu de inspiração para a Revolução
Russa. Após 1954 houve uma renovação na história do materialismo dialético:
a Nova Esquerda. Os historiadores dessa tendência não negaram o legado
marxista, mas acolheram os elementos culturais em suas análises das
sociedades do passado.
A historiografia marxista ficou limitada ao estudo dos aspectos
econômicos das sociedades do passado e os aspectos culturais ou políticos
eram interpretados como resultantes necessários da estrutura econômica
vigente em determinada época.
A abordagem do materialismo dialético acerca do conhecimento
não se coloca de modo radicalmente diferente da abordagem do positivismo. O
positivismo e o materialismo dialético fundamentam suas respectivas
compreensões de cientificidade numa filosofia da História (a história como
sucessão de estágios- religiosos, metafísicos e cientifico).

O materialismo dialético não abandona o posicionamento realista,


afinal é esta realidade, concreta, material, que se supõe dever ser
transformada, mas garante uma abertura maior na compreensão de como se
dá o processo do conhecimento.

A Fenomenologia – Capítulo 5.

São os escritos de Husserl que servem de fundamento para a


fenomenologia como método de análise e tradição filosófica.
Os filósofos Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice
Merleau-Ponty, inspirando-se em Husserl constroem novas e fascinantes
teorias. Heidegger em sua obra Ser e tempo, as implicações da fenomenologia
para o conhecimento histórico se colocam de modo explícito e instigante.
Edmund Husserl coloca seu pensamento como uma forma de
reação ao psicologismo, tendência filosófica inspirada no positivismo. John
Stuart Mill e Herbert Spencer situaram o conhecimento no âmbito da psicologia.
Husserl coloca em evidência as incongruências da abordagem
psicologista do conhecimento, pois a consciência não pode ser confundida com
os mecanismos nervosos e cerebrais que servem de suporte orgânico ao
pensamento, mas deve ser entendida como um fluxo temporal de vivências,
algo diverso do físico ou fisiológico. Assim, a fenomenologia se ocupa das
coisas mesmas e de seus respectivos significados tais como aparecem em
nossa experiência.
A fenomenologia de Husserl apresenta a possibilidade de um
conhecimento objetivo com base no concreto, na experiência subjetiva
individual. Segundo ele, é necessário distinguir o ato de conhecimento (que é
subjetivo e pode variar de pessoa para pessoa) do objeto conhecido (que
dependendo do caso, pode ser universal e necessário).
Husserl chama o ato pelo qual a consciência visa um objeto de
noesis, e o objeto visado pela consciência de noema, ou seja, um mesmo
objeto pode ser visado de formas diferentes.
O conceito de intencionalidade é fundamental para compreender o
sistema desenvolvido por Husserl. Embora essa palavra faça parte de nosso
vocabulário cotidiano, na abordagem fenomenológica tem uma conotação
diferente.
Os filósofos medievais perceberam a diferença significativa entre
intencionalidade moral e intencionalidade intelectual, ou seja, enquanto a
relação da vontade com seu objeto são imediata, a do intelecto é medida pela
representação mental do objeto. Já Descartes, entendia que o único
conhecimento imediato era aquele que o sujeito tinha de si mesmo.
Husserl toma o conceito de intencionalidade e o utiliza como
fundamento da fenomenologia. Para Husserl não existe uma consciência “em
si”, independente das vivências intencionais. Consciência é sempre
consciência de alguma coisa, está sempre tendendo a um objeto.
Um dos problemas do sistema filosófico de Husserl diz respeito à
realidade do mundo exterior, ou seja, não negar ou afirmar a existência do
mundo, mas concentrar-se mais na descrição do conteúdo das vivências.
Em oposição a Husserl, Heidegger afirmava que o ser humano é
um ser-no-mundo, portanto, devemos interpretar todas as nossas atividades
em suas relações contextuais com as coisas do mundo.
A filosofia de Heidegger ocorre com uma descrição
fenomenológica da estrutura e atividade do Dasein, ser humano. Segundo ele,
as atividades práticas, como o uso do martelo, são o modo mais elementar de
nos relacionarmos com as coisas que se apresentam a nós como instrumentos.
Nos anos 1930, a fenomenologia se expande para Áustria e Alemanha.
Jean Paul Sartre mantém o entendimento de Husserl de
consciência como sendo a consciência de objetos, afirma que o “Eu” não é
senão uma seqüência de atos da consciência, nos quais se destaca o exercício
da liberdade de escolha. Afirma também que a essência precede a existência,
para ele o ser humano individual é, a princípio, sem essência, constituindo-a ao
longo de sua vida de acordo com as escolhas que faz. “Eu”, portanto, sou
resultado das minhas próprias escolhas.
Seguindo Husserl, Heidegger e Sartre, Merleua-Ponty desenvolve
uma nova linha nos estudos fenomenológicos. Incorpora insights da psicologia
experimental, enfatizando o papel do corpo na vivência de experiências,
rejeitou as teorias associacionistas e intelectualistas de sua época em favor do
conceito de corpo vivido. Merleau-Ponty chamou as coisas do mundo de em-si-
mesmas-para-mim.
As reflexões fenomenológicas fornecem sua contribuição para
pensarmos a História ao problematizar a questão do tempo, para interpretar as
questões sociais Portanto, a partir do pensamento de Heidegger, passamos da
fenomenologia do tempo à fenomenologia da História.
Na filosofia de Heidegger, o homem deve ser entendido como um
ente cuja essência define-se a partir das possibilidades que se atualizam em
sua existência aqui e agora. Dessas possibilidades a mais primordial e
angustiante é a morte, entretanto o ser humano pode fugir da angústia
distraindo-se com as preocupações do mundo e vivendo uma vida inautêntica,
ou pode assumir a consciência da morte como algo certo, mas indeterminado e
lançar-se ao futuro numa vida autêntica.
Heidegger, fala de um modo de vida inautêntico, no qual, para
refugiar-se da angústia, o ser humano entrega-se ao palavrório, à curiosidade e
à ambigüidade.
O homem não é um ser temporal, possui também uma história,
que se dá quando o ser humano apropria-se da herança das gerações
passadas e lança-se ao futuro na repetição do passado que, enquanto
presente, coloca-se como um momento de possibilidades de ser.
Em Heidegger, a História nem sempre se identifica com a
historiografia. Segundo a perspectiva heideggeriana, a História só pode ser
verdadeiramente histórica, enquanto se busca no presente uma repetição do
passado orientada pra o porvir no horizonte existencial do ser-para-a-morte.
Kierkegaard repudia o sistema hegeliano porque este dissolve o
existente singular em conceitos abstratos. Kierkegaard caracteriza o modo de
vida estético como aquele em que buscamos um prazer após o outro, sempre
em busca de novidades e sempre sob a ameaça do tédio.
Dilthey, autor de Ser e tempo assumiu a idéia de que o homem é
um ser histórico e de que a problemática existencial tem de ser resolvida em
função dessa historicidade. Em Dilthey a historicidade humana é somente o
meio pelo qual podemos discernir um método apropriado para as “ciências do
espírito” em oposição a “ciências da natureza”.
Paul Ricoeur salienta a importância da intratemporalidade, isto é,
o modo mais apropriado para representar a realidade histórica e, o mais sujeito
a tornar-se presa dos objetos representados.
A fenomenologia torna-se importante para a História em função
de sua problematização do tempo e, em especial, do tempo histórico.

O Cenário pós-modernista - Capítulo 6.

Final do século e todo século XX, o diálogo interdisciplinar


intensificou-se: insight da sociologia, economia, psicologia, antropologia,
demografia, etc. foram incorporados às reflexões de historiadores, contribuindo
para um enriquecimento substancial da disciplina de história.
Entretanto nas últimas décadas do século XX, o diálogo com a
teoria literária vem sendo recebido como ameaça à identidade profissional do
historiador. Há a emergência de uma nova sensibilidade social denominada
pós-moderna.
Que conceito de classe seria mais apropriado para uma pesquisa
historiográfica? Que relações podemos estabelecer entre a história das
mulheres e o movimento feminista? A História não é muito diferente das
demais disciplinas que tomam o ser humano como objeto de estudo, tais como
a psicologia, a geografia, a sociologia, etc.
Em todas elas encontramos divergências teóricas, conflitos de
interpretações. Mas a História é ou não uma ciência? Segundo Linda Orr
questionar a cientificidade da História nos dias de hoje equivale a atribuir-lhe
um caráter literário do qual ela tem há muito tentado se desvencilhar.
Portanto, segundo Orr a literatura constituiria o outro da História,
aquilo que ameaça absorvê-la, comprometendo sua especificidade e
autonomia.
Hayden White sugere que os aspectos literários sejam, em grande
parte, responsáveis pelo fascínio que temos pelos clássicos da historiografia.
A História, no século XX no intuito de marcar ainda mais
fortemente sue distanciamento frente à literatura, buscou modelos teóricos nas
ciências sociais, com ênfase nos aspectos quantitativos.
Nas últimas décadas do século XX, a forma narrativa de
representação da História contribuiu para que muitos autores percebessem que
não é possível dissociar o estilo verbal ou a eloqüência retórica do conteúdo
semântico na apresentação de suas pesquisas
Em função disso, muitos historiadores propunham não só uma
maior abertura a novas formas de escrita da História, como também uma
incorporação crítica da teoria literária na pesquisa historiográfica.

Estudos teóricos como os de Hayden White, Paul Ricoeur e


Dominick LaCapra, questionavam os critérios para demarcação das fronteiras
disciplinares e buscavam, na teoria literária e na lingüística, insights a partir dos
quais fosse possível pensar novas formas de conduzir a pesquisa
historiográfica.
Uma das teses de White é a de que o valor de um trabalho de
historiografia não se deve somente aos procedimentos metodológicos que o
nortearam, mas depende também de dimensões pré-figurativas da linguagem.
Nas reflexões de Pau Ricoeur, a História não pode abrir mão do
tempo, sob pena de perder a sua historicidade e confundir-se com as demais
ciências com as quais dialoga, isto é, economia, sociologia, etc.
Devido ao seu caráter essencialmente aporético, o tempo não
pode ser trabalhado de modo especulativo. Portanto, a História para que
permaneça histórica precisa referir-se ao tempo, mas só pode fazê-lo
obliquamente resolvendo as aporias de temporalidade de forma poética.
Ricoeur chama de intencionalidade histórica a referência ao tempo,
implícita no discurso historiográfico. Entretanto, não chega a negar a distinção
entre o discurso literário e o discurso historiográfico, porém, identifica um
parentesco, ainda que indireto, entre a historiografia e a narrativa de ficção.
Diferentemente de White e Ricoeur, LaCapra enfatiza, nos textos
que estuda, as “vozes” de contestação que solapam toda tentativa de
interpretação visando à apreensão de um significado estável e absolutamente
coerente.
As vozes de que fala LaCapra teriam implicações para a condução
da vida política e social, inclusive a vida dentro das disciplinas acadêmicas. A
crítica que LaCapra faz aos historiadores e em especial àqueles vinculados à
História social, refere-se ao fato de que estes, em geral, revelam uma
propensão a reduzir textos complexos em status de documentos. Textos
complexos são aqueles que fazem parte do cânone erudito, como as grandes
obras da literatura e da filosofia, acabam recebendo um tratamento
reducionista por parte do historiador.
Para LaCapra a mistura de gêneros não seria uma coisa
necessariamente ruim, pois, na cultura se começa com o híbrido, e os gêneros
puros ou disciplinas são o resultado de procedimentos de exclusão, e suspeitos
tanto em termos intelectuais quanto sócio-políticos.

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