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APOSTILA DE TEORIAS E TÉCNICAS

FENOMENOLÓGICAS/HUMANISTAS/EXISTENCIALISTAS

PROFESSORAS ROSANA ZANELLA E VIVIANE GALHANONE CUNHA DI DOMENICO

A Psicologia foi marcada por fundamentos filosóficos na Fenomenologia,


Existencialismo e Humanismo. Tais perspectivas modificaram a forma de se conceber o
homem e de se fazer ciência, contribuindo também para o surgimento das psicoterapias de
cunho fenomenológico-existenciais.

O século XVII estava marcado pelas influências racionalistas de Descartes, sendo uma
época caracterizada pelo Mecanicismo, na qual o mundo e o homem eram vistos como
máquinas constituídas de peças com funções específicas e independentes que contribuíam
para o ‘todo’ a partir do bom desempenho de suas funções. Não se percebia o mundo como
um sistema de interconexões e nem se reconhecia a intersubjetividade das ações humanas.
Acreditava-se que era possível compreender o homem e o mundo de forma simples e objetiva,
estudando atos concretos e isolados, a partir do que era possível observar.

Tais ideias influenciaram muitos estudos e áreas do conhecimento humano, inclusive a


Psicologia, a qual, para ser reconhecida como ciência, submeteu-se a essa maneira de pensar.

Franz Brentano, (fenomenologia) opondo-se principalmente aos naturalistas, os quais


consideravam o objeto natural, real e exterior, independente às pessoas, defende que a
realidade está na consciência de cada um, na maneira como cada um vive o mundo, como se
vê, sente, toca, ouve e percebe. Um aspecto essencial da psicologia brentaniana é que a
experiência se baseia na percepção interior.

No final do século XIX, na Alemanha contemporânea, Edmund Husserl (1883-1969),


aluno de Brentano, aprofunda as ideias do seu professor e funda o movimento conhecido
como Fenomenologia. A Fenomenologia de Husserl constitui-se como uma das maiores
contribuições filosóficas para a Psicologia, mais especificamente para as psicoterapias de
cunho Fenomenológico-existencial.

Husserl, assim como Brentano, considera a intencionalidade do ato. No entanto,


diferentemente do seu tutor, Husserl se apropria do termo escolástico ‘intencionalidade’
dando-lhe um outro sentido. Para ele, a intencionalidade permitiria investigar o retorno às
coisas mesmas, isto é, ao fenômeno. “O fenômeno é para Husserl simplesmente aquilo que se
oferece ao olhar intelectual, à observação pura, e a fenomenologia se apresenta como um
estudo puramente descritivo dos fatos vivenciais do pensamento e do conhecimento oriundo
dessa observação.” (Giles, 1975)

Com a chegada da Fenomenologia existencial (Merleau-Ponty) o homem é visto na


realidade de sua existência (com suas crenças e valores), cuja consciência é influenciada pelo
mundo que o cerca (em constante mudança), deixando de ser algo que existe por si só. Já não
é a consciência do homem que constitui o mundo, mas é o homem e o mundo, numa dialética,
que se constituem um ao outro. Não se pode afirmar quem age sobre quem: se o homem
sobre o mundo ou vice-versa.

A fenomenologia é o método e a filosofia que fornecem os conceitos básicos para a


reflexão existencialista.

O Existencialismo é um termo designado a uma escola de filósofos dos séculos XIX e XX


que apesar de terem diferenças em termos de doutrinas partilhavam a crença de que o ponto
de partida para os estudos filosóficos, literários deveria ser o sujeito humano,não só o sujeito
pensante como também suas ações, sentimentos e vivências de um ser humano individual.
Soren Kierkegaard, é geralmente considerado o pai do existencialismo (início do século XIX).
Sustentava o ponto de vista de que o indivíduo é o único responsável por dar significado à sua
vida e em vivê-la de maneira sincera e apaixonada apesar da existência de muitas dificuldades
como o desespero, ansiedade e alienação. Existem muitas obras existencialistas de nomes
como Schopenhauer, Dostoiévski, Nietzche, Sartre, Marcel, Camus entre outros.

A Psicologia Humanista representa uma posição filosófica geral a respeito da natureza


do homem e engloba um vasto espectro de teoria, pesquisa e estudos aplicados.

É constituída por muitos psicólogos de diferentes credos que foram atraídos pelo
movimento humanista em Psicologia por causa de sua orientação geral e dos valores que
identificam a imagem do homem vista por estes profissionais.

Por volta de 1955, havia um descontentamento quanto à Psicologia Acadêmica da


época. Faziam-se críticas ao reducionismo da natureza do homem a componentes
supersimplificados e críticas a não valorizar a busca de significado e afinidades do homem.

Em 1962 há a fundação da Associação de Psicologia Humanista (James Bugenthal 1°


presidente). As pessoas reagiam intensamente a favor de teorias psicológicas que sublinhavam
a responsabilidade existencial do homem e o impulso para a individuação ou auto-realização
do potencial próprio.

É muito comum confundir o a Psicologia Existencial com a Psicologia Humanista. São


movimentos que tem aspectos em comum apesar de algumas divergências.

Os princípios que ligam o Humanismo ao Existencialismo dizem respeito à ter o


homem como centro de seus valores, acreditam na condição de responsabilidade do ser
humano com sua própria vida, seu envolvimento com ela, sua capacidade de escolha e
crescimento.

A teoria da personalidade que está em maior harmonia com a orientação humanista e


a revolução da Terceira Força chama-se Teoria Holística da Personalidade (está na base das
várias teorias agrupadas nesta Terceira Força).

TEORIA HOLÍSTICA DA PERSONALIDADE E A TERCEIRA FORÇA EM PSICOLOGIA

Os precursores da Teoria Holística da Personalidade não pertenciam a um só


“movimento” ou escola de pensamento e não compartilhavam das vantagens e desvantagens
e uma corrente teórica “monolítica”(uma só base) como no caso dos neofreudianos ou
neobehavioristas.

À primeira vista, cada uma dessas contribuições parece isolada, dispersa e


fragmentária. Contudo , a variedade de esquemas conceptuais mostram convergência de
pontos de vista.

Contribuições fecundas para a formação da Teoria Holística ou Organísmica


contemporânea provieram também da Psicobiologia de Adolf Meyer, da obra de Bertalanffy
sobre a teoria do sistema, do movimento Gestaltista em psicologia iniciado por
Wertheimer,Koffka e Kohler, e nas aplicações à teoria de personalidade de Kurt Lewin.

Quatro temas principais parecem caracterizar a teoria holística da personalidade:

I- Organização: a personalidade humana procura criar uma organização


autoconsistente e proporcionar o acabamento de uma estrutura incompleta.A
personalidade é vista como um todo organizado e mais do que mero agregado de
partes distintas.Há o desejo de estabilidade e a necessidade de obter unidade e
ordem.
II- Processo: A personalidade nunca é um fenômeno estático, imutável.
Pelo contrário, a personalidade está sempre em fluxo e em processo de mudança. Há
movimento para níveis superiores de consciência.
III- Motivação Soberana: O organismo humano é guiado, energizado e
integrado por uma necessidade ou um motivo soberano: o de auto-realização.
IV- Potencialidade: O homem possui vastos recursos internos e potenciais
irrealizados de crescimento. Há uma preocupação dominante com o desenvolvimento
desse potencial humano e com a conceitualização da personalidade saudável. O foco
recai sobre a normalidade e a saúde, não sobre a psicopatologia.

Concluindo, a Fenomenologia revolucionou a Psicologia ao apresentar uma nova


forma de perceber o homem como um ser em constante relação com o mundo, com sua
cultura, sua história e com os outros ao seu redor. Tal perspectiva facilitou o aparecimento do
Existencialismo, onde o homem é valorizado por sua própria subjetividade, liberdade e
responsabilidade de escolhas. Isto é, o homem passa a ser considerado um ser livre e capaz de
construir a sua própria história, inventando-se a si mesmo em cada escolha e em cada ato.
Assim, o movimento Humanista, fortalecido pelos fundamentos trazidos do Existencialismo,
veio trazer ainda mais foco ao homem e destacar os valores humanos, defendendo a
potencialidade de cada um e a tendência humana de crescer e atualizar-se.
A valorização do homem , acreditando em sua potencialidade e em sua capacidade de
construir seu próprio caminho, sendo o homem um ser em constante relação com os outros e
com o mundo ao seu redor, torna-se um dos principais fundamentos das Psicoterapias
Fenomenológico-Existenciais. A relação terapêutica construída com profissionais que abordam
essa perspectiva baseia-se em um verdadeiro encontro existencial (EU-TU), valorizando o aqui-
agora e respeitando a individualidade de cada cliente. O objetivo é levar a pessoa a encontrar
um sentido em sua vida, sabendo que cada um é capaz de fazer as melhores escolhas para si. O
papel do terapeuta seria de ajudar o cliente a ter uma melhor autocompreensão e aceitação
de si mesmo, o que o permitirá resignificar sua vida.
As Psicoterapias Fenomenológico-Existenciais constituem suas teorias e formas de
atuação embasadas nos princípios da empatia, autenticidade, respeito e crença na
potencialidade humana. Estas posturas tiveram origem nos fundamentos da Fenomenologia,
do Existencialismo e do movimento Humanista, os quais percorreram toda a história da
Psicologia até os dias atuais.

BIBLIOGRAFIA:

Chauí, M. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática.

Costa, A.H.V.(2007) Manual de iniciação à filosofia.Rio de Janeiro, Vozes.

Forghieri, Y. C. (1993). Psicologia fenomenológica – fundamentos, método e


pesquisas. São Paulo: Pioneira.

Giles, T. R. (1975). História do existencialismo e da fenomenologia. Volume I. São


Paulo: E.P.U.

Gomes, W.B. (2010). Relações metodológicas entre fenomenologia, historiografia e


psicologia humanista1,2 Rev. abordagem gestalt. vol.16 no.1. Goiânia jun 2010

Greening, T.C. (org) (1975) Psicologia existencial-humanista. Rio de Janeiro,Zahar


Editores.

Lima ,B.F. (2008) Alguns apontamentos sobre a origem das psicoterapias


fenomenológico-existenciais. Rev. abordagem gestalt. v.14 n.1 Goiânia jun. 2008

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