Você está na página 1de 4

DISCIPLINA-PSICOLOGIA MÉDICA I

DOCENTE: PROF. DR. MOACIR LIRA

PSICOLOGIA HUMANISTA

Sobre a Psicologia Humanista


A psicologia humanista surgiu na década de 1950, ganhando força nos anos 1960 e 1970,
como uma reação às ideias psicológicas pré-existentes - o behaviorismo e a psicanálise -
embora não quisesse revisá-las ou adaptá-las, mas dar uma nova contribuição à psicologia.

As críticas ao comportamentalismo giravam em torno de sua abordagem estreita, artificial e


estéril da natureza humana, que reduzia o homem à máquinas e animais propensos ao
condicionamento. A divergência à psicanálise se mostrava no questionamento à ênfase no
inconsciente, nas questões biológicas e eventos passados, no estudo de pessoas neuróticas e
psicóticas e na compartimentalização do indivíduo.

O movimento humanista teve forte influência das filosofias existenciais e da fenomenologia. As


convicções e as certezas começam a ruir no século XX, quando a razão começa a entrar em
crise devido à existência da corrida armamentista e à pouca contribuição dos avanços
tecnológicos na diminuição da desigualdade social no mundo. O existencialismo tem o homem
como ponto de partida nos processos de reflexão e a fenomenologia, a consciência do ser
sobre algo, a investigação da experiência consciente: o fenômeno. Com Heidegger, filósofo
fenomenológico, há um retorno à teoria do conhecimento e das questões ontológicas. O ser e a
existência do todo passa a ser a questão central.

O existencialismo fenomenológico, enquanto método apreendido pelo movimento humanista,


se pauta em três questões:

- redução fenomenológica
Recurso para se chegar ao fenômeno em sua essência, considerando a sua totalidade e
visando, deste modo, a incorporação de uma atitude crítica perante o cotidiano. A concordância
entre a intuição, que ocorre na imediatez da vivência, e a significação se faz essencial para a
aproximação da realidade observada. A busca pela essência do sintoma permite a
recapitulação da realidade total, pois somente ela consente o conhecimento dos fatos.

- intencionalidade
Atribuição de sentido do fenômeno, onde a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo estão
unificados. Quando esta fusão ocorre, a totalidade é apreendida e a decisão torna-se um
processo consciente e libertador. O sujeito pensante e o objeto pensado tornam-se uno. A
intencionalidade só surge após a compreensão da realidade, obtida, por sua vez, pela redução
fenomenológica.
- subjetividade e intersubjetividade
O encontro entre a própria subjetividade e a do outro é chamado de intersubjetividade. É ela
que, através da pluralidade de constituições de vários sujeitos, dá sentido ao mundo. O
acoplamento entre a intra-subjetividade e a intersubjetividade é a única forma de efetivação de
uma comunicação verdadeira, que faculta a chegada à essência.

É importante frisar que a fenomenologia não visa a explicação do objeto; as coisas, sim, que
quando apreendidas, se tornam um momento fenomenológico. A função de sua abordagem é
permitir a elaboração de conceitos que expressem adequadamente o fenômeno que se
pretende estudar. São estes conceitos que auxiliam a pessoa a como proceder no dia-a-dia,
uma vez que a história só é construída à medida que as coisas recebem significados. Logo,
embora a realidade exista per si, sofre ressignificação no encontro com a realidade íntima de
cada um, o que a torna fluída. O processo terapêutico deve, portanto, conectar a experiência
interior ao mundo da objetividade.

A grande contribuição desta nova escola pode ser vista na ênfase da experiência consciente,
na crença na integralidade entre natureza e a conduta do ser humano, no livre-arbítrio,
espontaneidade e poder de criação do indivíduo, e no estudo de tudo que tenha relevância
para a condição humana. Somente mediante a perspectiva da totalidade, que a consciência é
entendida.Esta, por sua vez, deve ser submetida à temporalidade, impedindo-a de ficar estática
e desmistificando a existência de uma realidade pura. Seu valor reside na relação que
estabelece entre as realidades. Experienciar o tempo presente como uma totalidade que
sinaliza a integração eu-mundo é fundamental para a libertação das exigências compulsivas do
passado e futuro.

A aplicação prática dos conceitos da fenomenologia existencial revelará a direção na


formulação de uma nova percepção e na solução de problemas por meio de uma mudança
consistente. A lógica da mudança passa por passos - partes, totalidade, consciência,
intencionalidade e ação - que devem ser trabalhados na terapia.

O otimismo acerca da liberdade e do potencial humano é bastante revelador das crenças do


movimento. Para atingi-los, a terapia faz uso da mais alta gama de instrumentos, desde a
validação da introspecção e da intuição como fonte preciosa de informação, até a análise da
literatura.

A teoria humanista tem como principais teóricos Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers
(1902-1987), os maiores responsáveis pela projeção dos seus postulados no mundo. O
primeiro, americano, foi considerado o pai espiritual do movimento humanista. Maslow
abandona o comportamentalismo, abraçado no início de sua carreira, por passar a acreditar na
tendência inata que cada pessoa traz em si para se tornar auto-realizadora. Este seria o nível
mais alto da existência humana, onde a realização do potencial de cada indivíduo seria
conquistada. A existência de níveis a serem satisfeitos foi proposta por ele através da
hierarquia das necessidades. De acordo com Maslow, estas necessidades seriam inatas e
deveriam obedecer a uma ordem de saciação, que se encontra representada na pirâmide
abaixo. A grande novidade trazida por Maslow, para a psicologia, foi os estudo de pessoas,
consideradas por ele, saudáveis, através dos quais formulou suas teorias.

O segundo, também americano, teve o seu trabalho pautado no valor do indivíduo desde o
início. Diferentemente do seu contemporâneo, suas visões advieram do tratamento de
indivíduos emocionalmente perturbados. Rogers trabalhou com um conceito semelhante ao da
auto-realização de Maslow: a existência de uma única motivação avassaladora que se
configura na tendência inata que cada pessoa tem de atualizar as capacidades e potenciais do
eu, a tendência atualizante. Ele também defendeu a idéia de autoconceito como sendo um
padrão organizado e consistente de características percebidas em cada um desde a infância.
Na medida em que se acumulam novas experiências, este conceito pode ser reforçado ou ser
substituído por novos. Experiências infantis podem ajudar ou prejudicar a auto-atualização,
ainda que esta seja inerente ao homem, mas, de forma alguma, são podem ser consideradas
determinantes. A capacidade do homem de poder alterar consciente e racionalmente seus
pensamentos e comportamentos indesejáveis fornece ao presente um grande peso na
formação da personalidade do indivíduo. Para ele, os indivíduos bem ajustados
psicologicamente têm autoconceitos realistas, sendo a angústia psicológica advinda do
impasse ou desarmonia entre o autoconceito real (o que se é de fato) e o ideal para si (o que
se deseja ser). Por isso, Rogers defendia que o cliente deveria determinar o conteúdo e a
direção do tratamento, uma vez que este tem dentro de si vastos recursos para o auto-
entendimento e para alterar o autoconceito. O termo terapia centrada no cliente deriva desta
idéia e esta é encarada apenas como um facilitador.

No Brasil, a ditadura era uma realidade, ainda que, no mundo, houvesse grande incentivo à
liberdade de escolha. Apesar dos entraves políticos, a influência humanista é sentida aqui
quando há, finalmente, o processo de regulamentação da profissão e estabelecimento do curso
com a lei 4119 de 27 de agosto de 1962. Neste currículo, já aparece de forma seminal a
psicologia humanista.

CONCEITOS BÁSICOS: Congruência/incongruência; empatia; aceitação


incondicional;responsabilidade; escolhas, autenticidade, auto-realização(auto-atualização).

REFERÊNCIAS

 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1999


 DAVIDOFF, linda. Introdução à Psicologia. 3. ed. São Paulo: Pearson Makon Books, 2001.
 GILES, T. R. História do Existencialismo e da Fenomenologia. Volume 1. São Paulo: E.P.U.
EDUSP, 1975.
 SCHULTZ, Duane P; SCHULTZ, Sydney E. História da Psicologia Moderna. 15. ed. São
Paulo: Cultrix, 2002.
 WEITEN, Wayne. Introdução à Psicologia - temas e variações. Pioneira Thomson, 2002.

Você também pode gostar