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enõmenos
111111 11 1 rn
1
o discurso
"fstico no
ue ete represe nta, no interio da língua, os
r

efeitos das contradições ideológicas•, a análise do


discurso apresenta-se como uma dlsclpllna não
acabada, em cons1anta mudança. em que wo l1ngülstico é
o lugar, o espaço que dá materialidade, espessura a
kMuls, teméticas de que o homem se faz sujeit o, um
sujeito concreto, histórico, porta-voz de um amplo
discurso social•.

UFES
286898

I! D I T O R li

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I TRODUÇAO A ANA.LI r oo 01 cuR o

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Helena H. Nagamine Brandão
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INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO DISCURSO

ONIVEasW/Jl E E!TIIIIUAI. DE 0-MPINt.S

Ra,or
Jose T= Jo1t�
Oxlrdetadru G,,...J d,, Uni,,e,.idode
mNANCO FEl!ru:l IV. CoSTJ\

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Cons.llio Miro ,.;21


Presi d.riu,
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Atarn. r,cou - '°'""-Y Rl.r.io.� Mo•E ,ro


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Lm, FuNANoo C•&ll!l!U.J MAD1 - MARCEi.o KNou.1.
SErn HuuNO - Wus□N C N□ IE O I T O R A'''* li◄ -Cli

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SUMÁRIO

Fiou. CATALOGIIMICA l!I.AIIOAADA tl!I.A


B!BUOTECA � IM Ur,11CM1�
Br:mlUo, Hdcna Hathruc Nagaminc. ---·····••·••· .. ··•·........... ,,..,,, _____ 7
B7�3l lmroduçlo à análoc do disruno I Helena H. Nap:ninc Brandaw, Lfngua/Li:nguagem: uma abordagem intmr.cimal .............._...,,�.- · ---7
- 2' cd. 1c-,, - Camphw, SP: Ed.ito<:i d:, UNICW?, 1004.
Enm a língua e afola: o áisc1nso --·•·---··..···· ............................... . _............ 10
l. �i§c d.o d.i.,o:u=. 2. Atot de &la (Lingilliri.c:a). !. Tlrulo.

ISBN 85-268-0670-X 412.l CAPfnJLO 1 -ANAuSf.. DO DISCURSO ...-... -........... ... ,...................... ____ ]3
CDD 415

fndi«• para cad.lor;o ,incrmlti�o: Esboço histórico _____,._··---·.. ····-··"·"'''"''"''""·-·......._................. 13


A prtrsptctiva ttóru:11 francesa .........-.............................................·-····-··..·-·...........-... 16
1, A.oiifoc <1<1 di,cautto 41 S
2. At<icdekla (Liogu.ístie.,J 412.l O con(eito tÚ ideal.agia·--- ____ ..................-...... .-..-.. 18
E.oi M arx. ........._....._. _________......................... 19
Copyright (i} by Hdua Halh1uc Nagaminc Brand1o Em Aldnwc:r ............ ___ ...... _._..... ___ ............. -...............,_, 23
Copyrighr © 2004 by Editou d.a UruGA.'41'

2.• 1cim pTCS.Sáo. 2006 O .on,âUJ IÚ dÍJc-urso em Foucau!r --··--......... ·-······ ...................................... ,_._., 32
Nenl,\lmQ pute d.esta pu!,Lia,p.o pode ser grava:cb, arm:atcnad.. em Lingu4; discu-rw ç ideologia __.__.. __ .._.................................-..... ____ 38
sistcmadem'lnico, fotocopiada, rqmxlUl.Ída por mcio6 mccloic:os (lL1 Condi.ç6ts de produçã<, do discurso-.---·····-.. ··..···-·-·-·-··-·-.. --- 42
outros 4ua.irquer sem aurori�çio pcivia do editor.
Fonnaçiio idtológica e .formação áiscurJiva .....-, ....... ... ........._ .... _,_·----·-··..···-· 46

CAP!11JLO 2 - SOBRE A NOÇÃO Dl!. SUJEITO .................................... .........._ .........._. 53


A mbjetividmk em &wet1iste ____ .•,...... ,_._...................... ____ 55
O mjdto dacentrlláo: v e o uutw ......_ ....... .-..........o., ....... ,_..._,._·-· ..···-····-·· 59
A heterogeneidade discursiva ...-.......... ·-�------·--..-.. 60
n1

Monologismo iiersUi dialogisrno ....-..........-.................... _............-._....._.•.,_. 61


O díscucso e seu avaso ............ -......... -......... -...................·-·-"·.. ···-........... _._.. 65
A tco� polifônica de Ducrot.._.. ·-·-· ...... -·· ........_....... _._._.........._..... 69

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-,---·

Sentido e rujeiw na andlist do discurso -----··-······· ..················•··· 76


Uma teoria não--subjetivisra da enunciação_.___ ............. 78
A ilwão discursiva do sujeito ········-···..····..······•··....-,.----·............... 82
Cm,clusáo ___ . ------....···-····-·· _ ··-·---··..······--·-···· .............. 85
INTRODUÇÃO

CAJ'fruLO 3 - SOBRE A NOÇÃO DE lNTERDISaJRSIVIDJ\DE .............. -..........-•-.. -·. 87

A relnfi/o dimmo-intm:iíscurso---·-··-·····.... ····....·..··--··..··················-······ 89


O outro ,w me.rmo ______ ·-···········..·····-·······---··..·····-......... 91
A intatextualidade ... _- ---··-....... . ........................... ----·····-·-····· ....· 94
Língua/Linguagem: uma abordagem interacional

A mnndrúz discuniva ..---···---..····................................ ____ .•.. 95 Qualquer estudo da linguagem é hoje, de al guma forma>
Dumi11io1 do campo munciativo ...·-·-··--··......................................-..-·-··--······..•·· 96 tributá.rio de Saussure, quer comando-o como ponto de par­
O domínio de memória.._............-·-·····"···......................._................_ ............ 98 tida, assumindo suas postulações teóricas, quer rejeitando-as.
O domínio de acualidade ----·-········........................ ___.. 100 No nosso caso, a refêrência a Saussure deve-se. sobrerudo, a sua
O domínio de antecipação--�····· ........ ___..........................._ ..._ 100 célebre concepção dicotômica entre a língua e a fala. Embora
Efeitos de memória ........·---·-·----·-........................... _._·_··----·-···-··· 101 reconhecendo o valor da revolução lingüística provocada por
Saussure, logo se descobriram os limites dessa dicotomia pelas
conseqüências advindas da exclusão da fala do campo doses­
cudos lingüísticos.
GLOsSl{Juo ................ ·---··.. ··---····· ..·····----·..··•··· ..····............... _ ............. 105 Dentre os que sentiram essa camisa de força que co­
locava como objeto da lingüística apenas a língua, tendo-a
BIBUOGRAFIA BÁSICA COMl!NTADA. ..,...-·-·-··...: ................-....................................._ .......... 111 como algo abstrato e ideal a constituir um sistema sincrônico
e homogêneo, está Bakhtin (Voloshinov, 1929} que, com
BrBLIOGAAFlA --......-...··-·-"· .... . ....................-----· .. ...... . •..........--... 117 seus escudos, antecipa de muito as orientações da lingüística
moderna.
Palmilhando a trilha aberta por ·saussure. parte ram­
bém do principio de que a língua é um fato social cuja exis­
tência se fu.nda nas necessidades de comunicação. No en­
tanto, afasta-se do mestre genebrino ao ver a língua como algo
concreto, fruco da manifestação individual de cada falante,
valorizando dessa forma a fala.

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Visando à form u lação de uma teoria do enun ciado, Nes sa pe rspectiva, fica eviden te que uma li ngü ística
Bakru:in atribui um lugar privilegiado à enunciação enq uanto imanente que se limite ao estudo interno da língua não po­
; real idade da l i nguagem: "A matéria lingüística é apenas uma derá dar conta do seu objeto . .É necess;i rio que da traga para
: parte do enunciado; existe também uma outra parte, não� o interior mesmo do seu sistema um en foque que articule o
verbal, que corresponde ao co n texto da en unciação" . lingüístico e o social, buscando as relações que vinculam a lin­
Dessa for ma, ele di verge dos seus antecessores (Saussure guagem à ideologia. Sistema de si gnificação da realidade, a )
e a es cola do subjetivismo in div idual is ta rep resen tado por linguagem é um distanciamento entre a ooisa rep resen tada e {
Vossler e seus discípulos) , p ara q uem o enunciado era um ato o signo que a representa. E é ne�a distância, no inters tício enue \
individual e, portan to, uma noção não-pertinente li ngüisti­ a coisa e sua representação sfgnica, que reside o id eológico.
cameme . Bak htin, aliás, não só coloca o enunciado como Para B aklnin, a p alavra é o signo ideológico por exce-
o bjeto d os escudos da lingu agem co mo dá à situação de enu n­ l lência, pois, produto da interação social, ela se caracteriza pela
ciação o p apd de componente necessário para a co mp reensão \ plurivalência. Por isso é o lugar p rivilegiado para a manifes tação
e expHcação da estr u tu r a se mantica de q ualquer ato de oom u­ da ideologia; retrata as diferentes fo rmas de significar a .rea­
nica ção ver bal. lidade, segundo vO'Z.es e pontos de vis ta daq ueles que a. empre­
Como, através de cada ato de enu nciação, se realiza a gam . D ialógica por natureza, a palavra se transforma em arena \
i n te r s ubjetivid ade humana, o pr o cesso de i nteração ve rbal de l uta de vozes que, situa.das em diferentes posições, querem
t
passa a consti tu i r, no bojo de sua teor i a., u ma real i d ade hm• s er o uvi.d as p o r outras vozes.
dam cntal da língua. O in terlocutor não � um elemento passivo i q
C o ns e üentemente, a linguagem não pode ser encarada
na cons ti tui ção do significado. Da concepção de s igno lingüís- 1 como uma end dade abstrarã, mas como o lugar em que a ideo­
l s
tico co m o um (ts i11a " inerte que advém da análise da língua logia se manife t a c o ncrc camcnce, em que o idrol ógico , para
r
como s is tema sincrónico abstrato. pass a• se a u ma o ut a com- · se o bjetivar, p recisa de u ma m:at erialidadê ;'êo nfo rme os mos­
°
i
preensão do fenômeno. à de signo dialético , v vo, dinâmico. ,c�· B akh tin (Voloshinov, 1 9 29, p. 1 9 ) quando afum a:
Essa visão da l inguagem oo�o interação social, em q ue
o Outro desempenha papel fundamental na cons titu ição do Cada sign o ideológico é nã o apen as um reflex o , uma so br a
signi ficado , integra todo ato de e nu nci ação i ndividual n um da reali dade , ma s tam b ém um fragm ento material des sa
1
contexto mais am plo, revelando as relações i1 tríns ecas entre o realidade. Todo fenôm e n o que fu nciona como signo ideo­
d
lingüístico e o social . O percurso que o indiví uo faz da ela­ ló gico tem uma encarnação material , sej a co mo som , co­
boração mental do conteúdo , a ser expresso à o bjet ivação ex­ mo massa flsica , como co r, com o movim ento do corpo o u
terna - a e n un ciaç ão - desse conte údo , é o rie ntado so­ como outra co isa qualquer. esse se ntido a r ealidade do
cial mente, buscando ada ptar-se ao contexto ime di ato do aro signo é totalmente obj et iva e, po r tanto, passívd de um es­
da fala e, so bretudo, a interlocu to res concretos. tudo m etodologic ame nte unitário e o bjetivo. Um signo é

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um fenômeno do mW1:do euerior. O próp.rio slgno e to dos problemácica colocada pela oposição língua /E a que impôs
os seus efeitos (todas as ações, reações ,e novos signos que ele uma lingüJscica da língua. Estudiosos passam a buscar uma
gera no meio social circundante) aparecem na experiência compreensão do fenôme no da linguage m não ma.is cent rado
exterior. Este é um ponto de suma irnportânci: t . No en­ apenas na língua, siste ma ideo ogícamenre neutro; mas num
tant o, por ma.is el.ementat e evidente que ele possa parecer, nível situado fora desse pólo da dicotomia saussuriana. E essa
o escudo das ideologías ainda não tirou todas as conseqüên­ instância da linguagem é a do discurso. Ela poss ibil itará operar
cias que dele decorrem. a ligação necessár ia entre o , nível propria mente lingüístico e
o extralingü{stico a partir do mome nto em que se sentiu que
Mais tarde, ao definir a tarefa da semiologia, _ B�thes "o liame que liga as 'significações ' de um texto às condições
sublinha também a imponància do canícer ideológico do sig­ sócio-históricas deste texto não é de forma alguma secundá­
no. Para ele, a ideologia . deve ser buscada não apenas nos re­ rio, mas constitutivo das próprias significações " (Haroche et ai .,
mas em que cem sido mais faci lmente percebida, mas, so- . l97 1 > p. 9 8). O ponto de aniaµação dos proc�ssos ideo lógicos _ .
.
brecudo. nas foi:rnas,j�t<? é, no funcionamento significa�ue _ � . e dos fenômenos Íingüísticos é, port a nto, o discur o.
linguagem, que é o lugar onde se da a sua .:;{��;iaii dade: A linguagem enquanto discurso não constitui um uni­
. .- . . .. . . . ..
verso de signos que ser ve apenas corno inst rume n to de comu­
Uma as possibilidades da semiologia, enquanto disciplina nicação ou suporte de pensamento; �.i��age,:n enquanto dis­
ou discurso SOO[e o senrido, é precisamente dar instrumentos curso é interaçáo, e Url} _ modo de produção social; ela não é
de análise que permitam circunscccver a ideologia nas furmas, neÜtra, inocente � ��m na�ral, por isso o l�gar pr ivilegiado de
isto é, onde ela em geral é menos procurada.. O alcance ideo­ manifesraçâô dà ldeófogi?, Ela é o "sistema -suporte das repre­
lógico dos conteúdos é algo percebido �de há muito tempo, �táções 'idcológicas [ ... ]{� 'medium' social em que se: ar­
mas o conteúdo jdeológico das formas, se quiserem, conscicui. riculam e defrontam agentes coletivos e se consubstanciam
de cerco modo, uma das grand.es possibilidades de trabalho relações interindividua.is" (Braga, 1 9 80). Como elemento de
do século (apud Robin, 1973) . mediação necessária entre o homem e sua realida de e como
forma de engajá- lo · na própria reali�a.de, :� li.�g�gem é lugar
de oonflico, de confronto ideológico. não pod<;ndo ser estudada
Entre a língua e a fala : o discurs o fura da soci�ade, uma vez que os processos q1,1e � �;;;ti��e� - ·
são hiscórico-soci.us. Seu estudo não pode es tar des vinculado
O reconhecimento da dualidade constitutiva da lin� ae suas condições de produção . Esse será o enfoque a ser assu ­
guagem , isto é, do seu caráter ao mesmo tempo formaJ e atra• mido por uma nova tendência Ji ngillstica que irrom pe na
vcssado por entradas subj etivas e sociais , provoca um deslo­ década de 60: a análise do discurso .
camento nos escudos lingtHsticos aré então balizado pela

10 l l

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CAPlTlJLO 1

ANÁLISE D O DI SCURSO

Esboço histórico

Pode-se afirmar com Maingueneau ( 1 976) que foram


os formalistas russos que abriram espaço para a entrada. no
campo dos esmdos lingüísticos daquilo que se chamaria mais
tarde dircuno. Operando com o texto e nele buscando uma
lógica de encadeamentos "transfrásricos", superam a abo r­
dagem filológiai. ou impressionista que até então dominava
os estudos da língua. Essa abertura em direçáo ao discurso
não chega, entretanto, às úl ti mas conseqüências, pois seus
seguidores, os esrrururalistas, propõem-se como objetivo es­
tudar a estruru.ra do texto "'nele mesmo e por ele mesmo" e
restringem-se a uma abordagem imanente do texto, excluindo
qualquer reflexão sobre sua exterioridade.
Os anos 50 serão decisivos para a constituição de uma
análise do discurso enquanto disciplina. De um lado, surge
o trabalho de Harrís (Discourre analysis, 1 9 52), que mostr a
a possibil idade de ultrapassar as análises confinadas mera­
mente à frase, ao esrenàe.r procedímenros da Jingüíscica dis•
tribucional americana ao:s enunciados (chamados discursos)
e, de outro lado, os crabaJhos de R. Jakobson e E. Benveniste
sobre a en unciação.

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C\a.a


A
-cC
'--.J

Esse s trabalho s já . apon am pa ra a dife rença d e perspe c ­ frase e cexco co mo elemento s isomórfico s , cuja s análise s se

1< tiv a que va i ma rca r uma posrur a te6rica de uma análise do dife renciam apena s em g rau s de co mp lexidad e . Vê-se o tex­


g discurso d e linha mais american a , d e out r a mai s européia . to d e uma forma . r edu to ra , não se p reo cupando com a s f o r­

ç,
ma s de in stituição do sent ido , ma s com a s formas d e o rga­

' L..
Embora a obra de Harri s possa se r consíd erada QQlY­
f..O �aJ da análi�e 49discurso , ela se colo ca ainda como nização do s el emento s que o con sti tuem .
s imple s extensão da lingüística imanente na medjda em que Embo ra a gramátic a se en riqueça e ganhe no va o rien­
transfere e ap l ica procedimento s de análise de unidades da tação com que s cões colo cadas pela pragmática e pela socio­
língua aos enunciado s e situa-s fora de qual.que r re flexão
e lingüí s t ic a , não se p r ocessa uma rup t u ra fundamental , pois
sobre a significação e as conside açõe5 sócio-hi stóricas de a questão do sentid o co n tinua sendo t ratada , esse ncialmente ,
produção que vão distingui r e marca r posteriormente a aná­ no inte rio r do l ingü í stico :

lise do discurso .
Numa direção diference , Be!l�:����: , ao afirma r que "o A contribuição d a Sociolingüís cica , nesse sentido , é a de que
locutor se apropri a do aparelho formal da lír1gua e e�qncia · sua s e d eve obs e rva r o uso arua J da linguag e m ; e a da Pr a g m ática
posição de 1ocutÔr por índice �specificos " , dá relevo ao pape éa d e que a linguagem cm wo deve se r estudada. em termos
l
do sujeito falant e no prÕ��-� da-�-;;Wlciação e procura mostrar do s ato s de fala . Embor a essas questõe s indique m uma ce rta
como acontece a inscúção desse sujeico no s enunciado s que ele mudanç a em relação à dominância do s estudo s d.a gramátic a ,
emite . Ao falar em "posição " do locutor , ele levant a a questão oão p roduz.cm um rompime nto maio r mas apenas o d e se
d a relação qu e se e stabelec e enrre o 1 utor , eu enun iado e o acresçentar um outro component e à . gramática. O discurso
mundo ; relação que estar á no centro das reflexõe s da análise do caracteriza-se como o que vem a mais , o que vem depo i s , o
discurs o e m que o enfoque da posição sócio•histó ric a dos enun· que se ac rescent a . Em suma, o secundário , o contingente
ciadores ocupa um lugar primordia l . (Orlandí, 1986, p . 108:) .
Segund� Orlandi (1986 ) , �sas duas direções vão mar­
car duas maneiras diferentes de pensar a teoria do djscu.rso : Num a pe rspectiva oposta à dessa conce pção da a nálise
uma que a entende como uma extensão ela lingüísáca (que do discurso como extensão d a lingüística, Orland apont a uma
i
cor responderia à perspectiva americana e out ra que co n­ tend�ncia eu rop�fa que, partindo de ''u m a relação necessária
)
sidera o enveredar para a vertence do discurso o sinrnma de e nt re o dize r e as condições de produção desse dizer " , co loca a
uma crise interna da lingüística, p rinc ipa l mente na área da exterioridade como ma rc a fundame ntal . Esse p res.suposco exige
semântica (que corresponderia à perspectiva européia) . um deslocamento teó r�co, de caráter conflituo50, que vai re­
Conforme essa visão , o conce ito de teo ria do discurso ·cor rer a co nceitos exterio res ao domínio de uma lingüística
como extensão da lingüística, aplicado à perspectiva teórica imanente p ar a dar cont a da análise de unidade s mais complexas
americana. justifica-se pelo fato de nela se cons idera rem da linguagem.

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A perspectiva teórica francesa cessidade de c ritérios mais precisos para delim itar o campo da
AD a fim de se chegar a sua especificidade. Definida ini cial­
Para Maingueneau ( 1987), a chamada " e scola francesa mente como "o estudo lingü ístico das cond ições de produção
de análise do discurso " (que abreviaremos AD) filia-se: de um enunciado " , a AD se apóia sobre conceitos · e métodos
da lingüística ("A AD p ressupõe a Llngtiistica e é pressupondo
• a uma certa tradição intelectual européia (e sobretudo d.a a Lingüística que ganha especificidade em relação às meto­
França) acosrumada a unir reflexão sobre texto e sobre his­ dologias de tracarnenco da linguagem nas ciências hu manas " ,
tória. Nos anos 60, sob a égide do estruturalismo, a con­ Orlandí, 1986, p. 1 1 0) . Se por um lado esse pressuposto teó­
juntura intdectual francesa propiciou, em tomo de uma rico e merodológico da lingüística distingue a AD das outras
reflexão sobre a " escriturá' , uma articulação entre a lingüís­ áreas das ciê ncias humanas com as quais confi na (história, so­
tica, o marxismo e a psicanálise. A AD nasceu tendo como ciologia, psicologia etc.), por outro, entretanto, não será sufi­
base a interdisciplinaridade, pois ela era preocupação não só ciente para, por si só, marcar a sua especificidade no i nte rior
de lingüistas como de historiadores e de alguns psic6logos; dos estudos da linguagem, sob o risco de permanecer numa
• e a uma certa prática escolar que é a da " explicação de tex­ lingüística imanente. erá nece ári.o considerar outras dimen­
to", muito em voga. na França, do colégio à universidade, nos sões, como as que aponta Maingueneau (1987):
idos anteriores a 1 960. Para A Culioli (apud Maingueneau,
1 987, p. 6), "a França é um pafs em que a literatura exerceu • o quadro das instituições em que o discurso é produzido, as
um grande papel e pode-se perguntar se a análise do discurso quais delimitam fortemente a enunciação;
não é uma maneira de subscituir a explicação de texto en­ • os embates históricos, sociais etc. que se cristalizam no dis­
u
quanto exercício escolar . curso;
• o espaço próprio que cada discurso configura para si mesmo
Inscrevendo-se em um quadro que articula o ling üístico no interior de um incerd.iscurso.
com o socia l, a AD vê seu campó estender�se para outras áreas
do conhecimento e assist e�se a uma verdadeira proli feração dos Dessa forms, a linguagem passa a ser um fenômeno que
u.sos da expressão " análise do discurso" . A polissem ia de que se deve ser estudado não só em relação ao seu sistema interno, en­
investe o termo " discurso '' nos mais diferentes esf orços ana­ quanto formação lingüística a exigir de seus usuácjos uma com­
líticos então empreendidos faz com que a AD se mova num petência específica, mas também enquanto funnação ideológica,
terreno mais ou menos fluido. Ela busca, dessa forma, definir que se manifesta através de uma oompetêocia socioídeológiCl:
o seu campo de atuação, procurando analisar inicialmente cor­
pora ripologicamente mais marcados - so bretudo nos discur­ Uma prátka discursiva não pode se explicar senlio em função
sos po l íticos de esquerda - e textos imp,ressos. Sente-se a ne- de uma dupla competência: 1 . uma competência específica,

16 17

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sistema interiorizado de regrru especí6camenre lingüísdcas e
r
i /
\ Segu ndo Chaui (198 1), o termo "ideo logia " , criado

pelo filósofo Destutt de Tracy em 1 81 O na obra E/.ementr de
que asseguram a produção e a compreensão de frases sempre
novas - o indivíduo eu utilizando essas regras de maneira :'déologic, nasceu como s1nôn imo da atividade científica que
especifica (perform4m't); 2. wna oornpetência idool6gica ou procurava analisar a faculdade de pensar, tratando as idéias
gera.l que coma implicitamente possível a tota1 idade das ações ''como fenómenos narurai� que �r imem a rela�o do � rp�l
e das significações novas (Slakta, 1971, p. 110). humano, enquanto orga msmo vtvo, com o meio amb1enc_s. _ J,
(p. 23) . Entendida como "ciência positiva do espírito " , ela se
Preconizando, assim, llm quadro teórico que alie o lin­ opunha à metafísica, à teologia e à psicologia pela ex.atidâo e
güístico ao sócio-histórico, na AD, dois conceitos corna m-se rigor �ntlficos que se propu nham como 1�!.é,odo.
nucleares: o de ideologia e o de discurso. As duas grandes ver­ ÍContrariando esse significa.do origi nal)o termo passa
tehtes que vão influenciar a corren te francesa de AD são, do a ter � sentido pejorativo pela primeira veiêom Napoleão,
lado da ideologia, os conceitos de Althusser e do lado d.o dis­ que qualifica os ideólogos franceses de "abstratos, nebulosos,
cur�o. as idéias de Foucault. :É. sob a influência dos trabalhos idealistas e perigosos (para o po er) por causa do seu desco•
desses dois teóricos que Pêcheux, um dos estudiosos mais pro• nhecimento d.os problemas concretos » (Reboul, 1980, p . 1 7) .
; A:_ ideologia passa a ser vista então como uma doutrina irrea-
- r-

fícuos da AD, elabora os seus co oceic,os. De Althusser, a


influência mais direta se faz a partir de seu crabal.ho sobre os - Íista e sectária, sem fundamen to objetivo, e perigosa para a
--
aparelhos id.eológ icos de Estado na conceituação do termo "for­ ordem cstabdecida.. 1
:
mação ideológica." . E será da Arqueologia do saber que Pêcheux
extrairá a expressão "formação discursiva" , da qual a AD s:e
apropriaráJ submetendo-a a um trabalho espedfioo. Em Marx

r Ém Marx e Engels, vamos enco ntrar o termo "ideo­


O conceito de ideologia logi0ambém impregnado de uma carga semântica ne•
gativ:JA semelhança de �poleáo, que criticara os filósofos
Matizado por nuanças significativas, o termo ideol,ogía franceses, Marx e Engel�_ ondenam a "maneira de ver a.b s•
é ainda hoje uma noção confusa e controversa. Antes d.e abor­ craca e ideológica" dos filósofos ale.mães que, perdidos na sua
dar o conceito de ideologia em Alc h usser, serão expostas algu� fraseologia, não _!,uscam a " ligaç.ão entre a filosofia alemã e
mas colocações sobre o fenômeno ideológico feitas por Marx, a realidade aJem�o laço entre sua crítica e seu próprio meio
do qual o primeiro é. cribucário , e, em seguida, algumas con­ material" ( 1 965 . p. 1 4) .
siderações de Ricoeur ( 1 977), que retoma u ma visão inte­ Marx e Engd(id,?nrificam "ideologia" com a separação
ressam.e de Jaques Ellul sobre o fenômeno ideológico. que se faz en tre a produçâo d:is idéias e as condições sociais

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e históricas em que sã.o produzidas. Por isso é que eles comam \ -�Essa separação entre trabalho intelectual e trabalho ma-
como base para suas formulações apenas dados possíveis de redal élá �a aparente autonomia ao primeiro,, isco é, às idéias
uma verificação puramente empfricã\ os dados da realidade que, autonomjzadas e prevalecendo sobre o segundo, .passam
que são "os indivíduos reais, sua ação e suas condições ma­
teriais de existência, aquelas que já encontram a sua espera e
a ser expressão das idéias d.a classe dominanie�-
aquelas que surgem com a sua própria ação" (p. 1 4). As idéia:s da classe dominante são, em cada época, as idl.ias:
Dessa forma. citando novamente Marx ,e Engels, a "pro­ dominantes, isto é, a classe que é a força materiaJ dominante
dução de jdéias, de con cepções e da consciênc ia liga-se, a pr.in­ da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual. A
dpio, diretamente e intimamente à acividade material e ao classe que tem à sua disposição os meios de produção ma­
comércio material dos homens, como uma linguagem da vida terial dispõe ao mesmo tempo, dos meios de produção es•
_ _.,
real'\ Conseqüentemente. "a observação empírica tem de mos- piricual . [ ... ] Na medida em que dominam como da5se e
trar empiricamente e sem qualquer especulação ou miscificação determinam codo o âmbito de uma época histól'ica, é evi­
a ligação entre a estrutura social e política e a produção"�\ dente que o façam em roda a sua extensão e, conseqüen­
/
No encanto, o que as ideologias fazem., segundo Marx e temente, entre outra s coisas, dominem também como pen­
Engels, é colocar os homens e suas relações de cabeça para bai­ sadores , como ptodutores de idéias; que regulem a produ­
xo, como ocorre com a refração da imagem numa clmara es­ ção e distribuição de idéias de seu tempo e que suas idé,as
cura. Metaforicamente, essa inversão d.a imagem, isto é, o "des­ sejam, por isso mesmo, as idéias dominanres da época (Marx
cer do céu para a terra em vez de ir da terra para o céu" que ele e Engels, 1965, p. 14).
denuncia nos filósofos alemães, representa o clesvio de percurso
que consiste em partir das idéias para se chegar à realidade. É na seqüência dessas colocações que Chaui ( 1 980)
Segundo Chaui. (1 980) 1 é nesse momento que, para chega c:ntão à�ara.ctetização da ideologia segundo a concep­
Marx, nasce ção marxista. Ela é ll m instrumento de dominação de classe
porque a classe dominante faz. coro que suas idéias passem a
\a ideologia propriamente dita, isto é, o sistema ordenado ser idéias de todos . Para isso eliminam-se as contradições en­
,_d� idéias ou representações e das normas e regras como tre força de produção, relações sociais e consciencia, resul­
a1go separado e i ndepen dente das condições rnareriajs, r;m tes da divisão soci.aJ d o trabalho material e intdectual .
visto que seus produtores - os te6ricos, os ideólogos, o:s Necessária à dominação de classe, a ideologia é ilusão, isto é,
intelectuais - nio esmo di retamen te vin cufados .à produ­ abstração e inversão da realidad.!Je por isso
ção material das condições de existência. E, sem perceber,
exprimem essa desvinculação ou separação através de suas permanece sempre no plan o imedi.no do aparecer social . . .
·1
idéias\ (p. 65). o aparecer social é o modo de ser do social de ponta-cabeça.

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r

A aparênci a socia l nã o á algo fals o e er rado , ma s é o modo Em Althusse r


como o processo socia l aparec e par a a consciên ci a diret a dos
homens . I sto signif ica que uma ideolog i a semp re possui \ 'i m Ideologia e apa ide ológico s d o Esta do ( 19 70 ) ,
r elho s

um a bas e real , s6 qu e essa bas e está d e ponta•ca.beça , é a Aith.usse r afirma que , para mante r sua dominação , a classe do ­
aparênci a socia l (p . 10 5) . minante g e ra mecanismo s d e perp e tuação ou de rep rodução
da s condiçõe s mate riais , ideológicas e po líticas de exploração .

(Par a cria r na c onsciência do s ho men s ess a visão ilusória. É a í então que em ra o pape l do Estado que , at ra vé s de seus

da re\íliãade como se fosse realidade , a ideologia. organiza-se Aparelho s Repre sso re's"l - ARE - (comp reendendo o g ove r -
no , a administ raçã
,,,
o > o Exército,, c'.! i po lícia
"como um sistema lógico e coerente de re p resentaçõe s (idéias _ , o s tribunais , a s pri-
e valore s ) e de norma s ou re ras (de co nduta ) que indica m e sõe s etc.Xê Apa relho s Ideológ ico s L AIE - (co mp ree ndendo

prescrevem aos membro s da sociedade o que devem pen sa


r .instirulçõestaís como : a re lígiãõ, a escola , a fumí lia , o direito ,

e co�o devem pens�o que devem valoriz:r, o que devem a pol ít ica , o s indicato , a cuJcura , a info:rmação ){!� te rvém ou

senar , o que devem faze r e como devem faze r


(Chaui , 1980 , pela repressã ou pela ideolog ia , t:enrando força r a classe d o ­
o

p. 1 13) . El a se apresenta , ao mesmo tempo � como exp licação minada a submete r -se às rela ções e condições de explo .ração · J.
_;

teórica e pr ática{Enquan to exp licação , da não explicita e , Dent re as dife ren ça s que A lrhusse r escabelec e enn-e 0 5 ARE e

aliás não pode eipíicitar tudo sob o risco de se petder , de se os AIE estari a sua forma de funcio nament o : enq _uanto qu e os

destruir ao expor , por exemplo . as diferenças , as contradições p r imeiros "fu n cio nam de uma man eira massiva mente p re •
r
sociais . Essa manobra camufl adora "Va faz e com que o di s­ valen te pela rep ressão (inclusive Í'I.Sica ) , embo ra funcio ne se ­
i
cu rso , e d e modo e.speciaJ o marca.dam ente ideol6gico , se ca-: cundariamente pela ideologia " ; inve rsameme o s segundos "fun.

racterize pela presença de "lacunas " , "s ilênc ios " , «brancos " clonam de um modo massivamente p revalent c pela ideologia ,

que preservem a coerência do seu . sistem-;.\ embo ra funcionando se�ndariame nte pela rep ressã o , mesmo

Dessa forma , se em Marx., o termo " ideologia " parece que no limi te, mas apenas no l im i te, esta se ja ba s tante ate "

estar reduzido a uma simple s categoria filosófic a de i usão ou nuada , diss imulada ou até simbólica " (p . 47 ) .

mascanunenco da realidade social, isso decorre do fato de se Althusser assinala queféomo todo funcioname nto da

tomar, como pont o de partida par a a elaboração de sua teoria, ideologia do minan te está co ;;:cént rado nôs A IE, a hegemo ­

a crítica ao sistema cap ita.lista e o re spectivo desnuda me nto nia ideológica exercid a acrav6 . ddes é impo rtant e para se cria •

dia ideologia bur�e sa . A ideologia a que ele se refe re é , po r• rem as co �dições necessár:ias para rep rodução das relações de

tanto, especificamente a ideologia da dasse dominante . ao:.--4


p roduç�
Na segunda pa rte de seu ensaio, Althu sser reto ma ru; in ­
dagações sob re o co nceito de ideologia , ma s não mais sob o en­
fo que da p roblemática dos AIE e da rep rodução que gi ra em

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corno de um uso específico do conceito, o de "jdeologia do­ b) "a ideologia tem uma cx¼tência porque existe sempre num
minan te". Nessa parte do seu estudo, ele va.i se aplicar à con­ aparelho e na sua prática ou suas práticas".
ceituação do que entende po.r ideologia em geral, que lhe é
disrinra da.o; ideologias particulares, "que exprimem sempre, Para explicar sua tese, Althusser parte da colocação
seja qual for a sua forma (religiosa moral , jurídica, políticai, fe i ta por uma corren te ideal ista que reduz a ideologia a
posições de classe" (p. l 2) . idéias do tadas por definição de existência espiritual; em ou­
Sua "ideologia em geral,, seria, no fundo , a "'abstração tras palavras , o compor camento (material) de "um s ujei to
dos elementos comuns de qualquer ideologia concreta, a fi­ dotado de uma consciêncía em q u e fo.rma livremen te, ou
xação teó rica do mecanismo geral de qualqueí ideo] ogia" e, reconhece livremente, as idéias em que crê", decorre natu­
para explicá-la, for.mula três hipó teses: ralmente dessas idéias que constituem a sua crença. Re­
conhece-se, dessa forma, que as idéias de um sujeito existem
a) "a ideologia representa a rdação imaginária de indivíduos ou devem existir nos seus atos, e se isso não acontece, em­
oom suas reais condições de exis tência" . prestam-se-l hes outras idéias correspondentes aos atos que
ele realiza.
Com �ca tese, Althusser se opõe à concepção simplista Para Afthusser, en tretan to, essas idéias deixam de ter
de ideologia como representação mecânica (ou "mimética") uma exis tência ídeal, espiritual, • e ganham maceríalidade na
da realidade; para ele. o problema da ideologia se coloca de medida em que sua existência só é possível no scio de "um
outra forma: a ideologia é a maneira pela qual os hornens apardho ideológico material que prescreve práticas ma­
vivem a sua rdação com as condiç ões terus de existência, e essa teriais governadas por um ricual material, práticas que exis­
relação é necessariamen te imaginária. Acentua o caráJter ima­ tem nas ações materiais de um sujeito" {McLennan et ai . ,
ginário, o aspecto, por assim dizer, "produtivo" da ideologia, 1 977, p. 1 2 5 ) .
pois o homem produz, cri a formas simbólicas de represen­ A existência da ideologia é, portanto, material, porque
tação da sua relação com a realidade concreta. O imaginário as relações vividas, nela representadas, envolvem a parti­
é o modo como o homem atua, relaciona-se com as condições cipação individual em determinadas práckas e rituais no in­
reais de vida. Sendo essas relações imaginárjas, isto é, repre­ terior de aparelhos ideológicos concreto!i . Em o utros ter­
sentadas simbolicamenre, abstratamente, supõem um distan­ m os, a ideologia se materializa nos atos concretos, assu­
ciamento da realidade. E esse distanciamento pode ser "a mindo com essa objetivação um caráter moldador d:11s ações.
causa para a transposição e para a deformação imaginária das Isso leva Ahhusser a concluir que a prática s6 existe numa
condições de existência reais do homem, numa palavra, para ideologia e através de urna ideologia.
a a1ienação no imagi nário da represemação das condiçõe. s de
existênda dos homens" (p. 80). e) "a ideologia interpela indivíduos como sujeitos" .

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Toda ideologia ce:m. por função constituir indivíduos Ricoeur ( 1 977) atribui à ideologia a função geral de
concretos em sujeitos. Nesse processo de constituição, a inter­ mediadora na integração social na coesão do grupo. Esse
pelação e o (re)conhecimento exercem papel importante no papd se caracteriza pda presença de cinco traços:
funcionamento de toda ideologia. É através desses mecanis­
mos que a ideo l ogia, funcionando nos rituais materiais da 1 ) A ideol , o gia perpetua um ato fundador inicial. Nesse sen­
vida cotidiana, opera a transformação dos indivíduos em su­ tido,
jeitos. O reconhecimento se dá no momento em que o sujeito
se insere, a si mesmo e a suas ações, em práticas reguladas a ideologia é função da distância que separa a memória so­
pelos a.pardhos ideológicos. Como cat,egoria constitutiva da cial de um acontecimento que, no rotanto, trata-se de repeti r.
ideologia.. será somente através do suj eito e no sujeito que a Seu papel não é somente o d.e difundir a convkç:ão pata além
ex ístência da ideologi a será possível. do círculo dos pais fundadores, para convenê-la num credo
de todo o grupo, tnas também o de perpetuar a energia ini­
Em Ri coeur cial para além do período de efervescência (p. 68).

O fenômeno ideo]ógico tem sido forcemente marcado Essa perpetuação de um ato fundador está ligada à "'ne­
pelo marxismo. Sem querer combater Marx ou ir a seu favor, cessidade, para um grupo social, de conferir-se uma iina­
Paul Ricoeur alerta para uma tendência que se faz sentir sob gem de si mesmo, de representar-se, no sentido teatral do
a influência de se fazer urna imerpretação redutora do fenô­ termo, de representar e encenartt .
meno ideológico partindo de uma análise em termos de elas• 2) A ideologia é dinâmica e motivadora. EJa jmpulsiona a prá­
ses sociais. Interpretação redutora porque ela define ideologia xis social, motivando-a, e "um motivo é ao mesmo tempo
apenas por sua função de justificação dos interesses de uma aqwlo que j ustifica e que compromete". Por isso, "a ideo­
classe, a dominante. logia argumenta" , estimula uma p ráxis social que a con­
Uma definição de ideologia que a reduz às funções de cretiza. Nesse sentido, ela é mais do que um si mples reflexo
dominação e de justificação é que nos leva a aceitar, sem crí­ de uma furmação social, ela é também justificação (porque
tica, a identificação de ideologia com as noções de erro, men• sua práxis "é movida pelo desejo de demonstrar que o grupo
ti ra, ilu ão. Ele não nega a existência de tais funções, mas, que a professa tem razão de ser o que é") e projeto (por ue
antes de chegar a ela, diz ser preciso entender uma função an• modela, dita as regras de um modo de vida) .
terior e básica que conceme à ideologia em geral. Ele analisa
3) Toda ideologia é simpHficado ra e esquemática. Inere nte à
o conceito de ideologia em uês instâncias :
sua função jusrificadora, a ideologia apresenta um caráter
codifi cado "para se dar uma vi ão de conj unto, não so­
a) Função geral da ideologia
mente do grupo, mas da hisr6ria e, em última instância, do

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mundo". Por isso, visando à efi.clcia social de suas idéias, da Toda autoridade procura, segundo seus sistemas poll­
é racionalizadora e sua forma de expre:ssão preferencial são ticos, legitimar-se, e para tal é necessário que haj a correlati­
as máximas. slogans e form as lapidares onde a retórica está vamente uma crença por parte dos indivíduos nessa legitimi­
sempre presente. dade. Como a legitimação da autoridade demanda mais crença
4) Uma ideologia é operatória e não-temática. Isco é, "ela opera do que os indivíduos podem dar, surge a ideologia como sis­
ar.rás de nós, mais do que a possuímos como um cerna dian­ tema j ustificador da dominaçao.
te de nossos olhos. É a partir dela que pensamos, m-ais do E é no momento em que a ideologia•integração se cru­
que podemos pensar sobre ela" (p. 70). É devido a esse esta­ za com a ideologia-dominação que etnerge o caráter de dis­
tuto não-reflexívo e não-transparente da ideologia que se torção e de dissimulação da ideologia. Mas nem todos os tra­
vinculou a ela a noção de dissimulação, de distorç.ão. ços que foram atribuídos a seu papel mediador passam à fun­
5) A ideologia é, _poderíamos dizer, intolerante devido à inércia ção da dissimulação, corno se costuma fazer.
que parece caracreiiti-la. Inércia em relação ao aspecto tem­
poral, uma vez que "o novo só pode ser recebido a partir do e) Função de deformação
típico, também oriunào da sedimentação da experiência
social" . Nesse :sentido, a ideologia é conservação e resis­ Aqui o termo "ideologia" adquire a noção marxista pro­
cenda às modificações. O novo p6e em perigo as bases es­ priamente dita. Tomando a religião (que opera a inversão entre
tabelecidas pela i deologia. Ele representa um perigo ao o céu e a terra) como a ideologia por excelência, Marx, como
grupo cujos memhros devem se reconhecer e se reencontrar já vimos, conceirua o fenômeno ideológico como aquilo que
na comunhão das mesmas idéias e práticas sociais. A ideo­ nos faz, segwido palavras d.e Ricoeur, "tomar a imagem pelo
logia opera, assim, um estreitamento das possibilidades ele real, o reflexo pelo origina!".
interpretação dos acontecimentos. Afetada pelo seu ca­ Para Ricoeur, essa função de deformação é uma instância
d.ter esquematizador, da se sedimenta. enq uanto os fatos especifica do conceito de ideologia e supõe as duas outras ana­
e as situações se transformam.'Sedimentação que pode levar lisaidas anteriormente. Pois para ele é básico, no fenô meno
ao "endausuramento id.e.ológico e até mesmo à cegueira ideológico, o papd mediador incorporado ao mais dementar
ideológiat , vínculo social: "a ideologia é wn fenômeno insuperável da exis­
tência social. na medida em que a cealidade social sempre
b) Função de dominação possuiu uma constituição sim bólica e co mporta uma inter­
pretação, em imagens e representações, do própdo víncuJo
Nessa instância, o conceito de ideologia está ligado aos social" (p. 75) .
aspectos hierárq uicos da organização social cujo sistema de Seguindo o percurso analítico de Ri coeur, podemos
autoridade incerprera e j ustifica. sentir que, na instância inicial, quando o fen6meno ideol6-

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gico rem sua função originariamente ligada ao papel de mc-­ geral. Dessa forma, pelo c.aráter arbitrário do si gno, se por um
diador na integração social, a noção de ideologia não carrega ado a linguagem leva à criação, à produtividade de sentido,
propriamente sentido negativo. Esse sentido negativo apa­ por outro representa um risco na medida em que permi te
recerá (e se fixará definitivamente com o marxismo) quando manipular a construção da. referência. Essa liberdade de re­
o fenômeno se cristalizar em face do problema da autoridade lação entre signo e sentido permite produzir, por exemplo.
que, acionando o sistema justificativo da dominação� detona sentidos novos, atenuar outros e eliminar os indesejá.ve �
o caráter de distorção e de dissim ulação da ideologia. Parece que essas d uas concepções não se excluem se
Um balanço das colocaçõe6 vai-nos mostrar que essas partirmos do pressuposto de que a ideologia, enquanto con­
diferentes formas de ver e conceituar a ideologia oscilam entre cepção de mundo, apresenta-se como uma forma legítima .
dois pólos; e isso certamente vai determinar maneiras dife­ verdadeira de pensar esse mundo. Tal modo de pensar, de
,i rentes de abordar a relação linguagem-ideologia. recortar o mundo - atravessado pela subjccividade - em­
l}?e um lado, temos uma concepção de ideologia geral­ bora se apresente corno legítimo, pode ser, no entanto, in­
mente l igada à tradição marxista, que apresenta o fenômeno compatível com a realidade, isto é, os modos de organização
ideologia de maneira mais restrita e particular, entendendo.o dos dados fornecidos pela ideologia podem ser autónomos>
como o mecanismo que leva ao escam(lteamento da realidade imaginários, fictícios em relação aos modos de organização da
social, apagando as contra,dições que lhe são inerentes. Con­ realidade. Essa incompatibilidade pode ser vivida de maneira
seqüentemente,. preconiza a existência de um discurso ideo­ inconsciente . É nesse sentido que Ricoeur diz ser a ideologia
lógico que, utilizando-se de várias manobras, serve para le­ operatória e não-cemácica, porque, "operando atcls de nós,.
gitimar o poder de uma classe ou grupo social:l, · é a partir dela que pensamos e agimos sem, muitas vezes.
{jje outro lado, temos uma noção mais �pia de ideo­ tematizá-la, trazê-la ao nível da consciência. El�ntretanto,
logia que é defi nida co mo uma visão, uma concepção de pode ser produzida intencionalmente. É nesse pomo que as
,, mundo d.e uma determinada com.unidade social numa deter­ duas concepções de ideologia se cruzam. Isso pode ocorrer
minada circunsdncia hisrórfr.a. 'I sso vai acarretar uma com­ especificamenre com determinados discursos como o po­
preensão dos fenômenos linguagem e ideologia como noções lítico, o religioso , o da propaganda, enfim, os marcadamente
esrrdtamence vinculadas e mucuameme necessárias, uma vez inscícucionalízados .. Neles, faz-se um reoorte da real idade,
que a primeira é uma das instâncias mais significativas em que embora, por um mecanismo de manipulação, o real não se
a segunda se materializa. esse sentido, não hâ um discurso moscre na medida em que, intencionalmente, se omitem,
ideológico, mas todos os discursos o são. Essa postura deixa atenuam ou falseiam dados, como a5 contradições que sub­
"'
de lado uma concepção de ideologia como "fu.l.sa consciência jazem às relações sociais. Selecionando, dessa manei ra, os
ou dissimulação, mascaramento, voltando-se para outra di� elementos da realidade e mudando as formas de articulação
reção ao entender a ideologia como algo inerente ao signo em do espaço da realidade, a ideologia escamoteia o modo de

•.
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ser do mundo. E esse modo de ser do mundo, veiculado por sua singularidade e possibilitam a passagem da dispersão para
esses discursos, é o recorte que uma determinada instituição a regula riclade. Regular idade qae é at ingida pela análise dos
ou classe social (dominante) num dado sistema (por exemplo, enunciados que constituem a formação discursiva.
o cap italista) faz da realidade, retratando ass im , ainda que de [iieflnindo o- discurso como um conjunto de eooncia­
forma enviesada, uma visão de mundg dos que se remetem a uma mesma formação discursi�"um
discurso é um co njunto de enunciados que cem seus prin­
cípios de regularidade em uma mes ma formação di_ scursiva " ,
O conceito de discurso em Foucault Foucault, 1 969, p. 146 .)(é_ra Foucault, a análise de uma for­
mação discursiva comistirá, então, na descr ição dos enun­
Alguns dos conceitos colocados por Foucault f oram ciados que a compõe� a noção de enu nciado em Foucau lt
fecundos para aqueles que se lançaram numa pesquisa li n­ é contraposta à noção ae proposição e de frase (unidades, res­
güística visando ao discurso. pect ivamente, constitutivas da lógica e da liugüistica d.a frase),
Foucault (1969) concebe os discursos como uma dis­ '?)nccbendo -o como a unídade elementar, básica, que forma
persão, isto é, como sendo forma.dos por elementos que náo um discurso@_díscurso seria concebido, dessa forma, como
estão ligados por nenhum princípio de unidade. Cabe à aná- uma fumília de enunciados pertencentes a uma mesma for­
1ise ào discurso descrever essa dispersão, buscando o e stabep mação cLiscurs�
lecimcnro de regras capazes de reger a formação dos discursos. Foucault enumera quatro características constitutivas
Tais regras:, chamadas por Foucault de "regras de formação " , do enunci ado. A primeira diz respeito à .relação do enunciado
possibilitariam a determinação dos elementos que compõem com seu correlato que ele chama de "referenciar. O "refe­
l
o discurso, a saber: os objetos que aparecem coexistem e se rencia " , aquilo que o enunciado enuncia, "é a condiçao de
transformam num " espaço comum" discursivo; os di ferentes possibilidade do aparecimento, diferenciação e desapareci­
tipos de enunciação que podem permear o discurso; os Cf m­ mento dos objetos e relações q ue são designa dos pela frase " .
ceitos cm suas formas de aparécimcnto e transformação em Assim, o enunciado, por sua função de existência, ªrdaciona
um campo discursivo, relaci onados em um sistema comum; as unidades de signos que podem ser proposições ou frases com
os temas e teurias, isco é> o sistema de relações entrt"! diversas um domínio ou campo de objeros" (Machado> 1 98 1 , p. 168),
estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, possibfütando-as de aparecerem com conteúdos concretos no
perm itindo ou excluindo certos temas ou teorias. tempo e no espaço.
Essas regras que determinam, portanto, uma " formação A segunda caracterís tica (em cuja exposição nos alon­
discursiva" se apresentam sempre como um sistema de re­ garemos devido à importância ela questão para a análise do
lações entre ()bjetos . tipos enunciativos, conceitos e estra­ discurso) diz respeito à relação do enu nciado com seu sujeico.
tégias. São elas que caracterizam a " formação discursivà' em Fo ucault situa-se na vertente oposta a wna concepção idca-

_, -

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lista do suj e i to que, interpretado como o fundador do pen­ consiste em analisar as refações en tre o autor e o que ele diz
samento e do obj eto pensado , vê a histó1ia como um processo (ou quis dizer, ou disse sem querer); mas em determinar qual
sem ruptura em que os elementos são íntroduziàos conti­ é a posição que pode e deve ocupar todo indivíduo para ser
,.
nuamente no tempo concebido como totalização. Critica, seu sujeito ( 1 9 69, pp. 1 1 9-20) . Dessa forma, se o suj eito é
dessa forma, uma concepção do suj eíto enquanto instância uma função vazia, wn espaço a ser preenchido por diferentes
fundadora da linguagem: indivíduos q ue o ocuparão ao formularem o enunciado, deve­
se rejeitar qualquer concepção unjficante do suj eito. O dis­
Poder-se-ia dizer que o rema do sujeito fundador permi te c1i­ curso não é atravessado pela unidade do sujeito e sim pda sua
<Lir a realidade do discurso. O sujeito fundador [ ... ] está en- dispersão; dispersão decorrente das várias posições possíveis
" ..
carregado de ammar. diretamente com seu m odo �o.e ver as de serem assumidas por de no discurso: "as diversas moda­
formas vazias da língua: é ele que, atravessando a espessura lidades de enu nciação em lugar de remeter à síntese ou à fun.
ou a inércia dru. coi.sas vazias, reroma, incuitivameme, o sen­ ção unificante de um sujeito, manikstam sua dispersão" (1969,
tido que aí se encontra depositado; é ele igualmente que, para p. 69) . Dispersão que reflete a descontinuidade dos planos de
além do tempo, funda horizontes d.e si:gnific.aç5es que a hi.s� onde fala o sujeito que pode, no interior do discurso, assumir
tória não terá, em seguida, senão que explicitar e onde as pro­ djferences escatutos. Esses planos "esrão li gados por um sis­
posições, as ciências, os conjuntos dedutivos encontrar5:o tema de relações, o qual não é estabelecido pela atividade
enfi m seu fundarnenco. Em sua relação com o sencido, o :su• sin técica de uma consciência idêntica a si, muda ou prévia a
jeito fundador dispõe de si gnos, de marcas, de traços, de le­ qualq uer palavra, mas pela especificidade de uma prática dis­
tras. Mas não tem necessidade, para os manifestar, de pamr cursiva" ( 1 969, p. 70) .
pd.a instância singular do discurso (1974, p. 49) . . � conce p ção de discurso como um c.a.mpo de regula­
ridades, em que diversas posi , ções de subjetividad e podem ma­
Rompendo com essa ordem clássica que via a história nifestar-se, redimensiona o papel do sujeito no processo de
como um discurso do contín�o, do desenrolar previsível do _ organização da linguagem, eliminando-o como fonte geradora
Mesmo, Foucauh install.ra uma nova visao da história como de signi:6.cações. Para Foucault, o sujeito do enunciado não , é
ruptura e descontin uidade, construindo-se uma série de mu­ causa, origem ou ponto de partida do fenômeno de articulação
tações inaugurais onde não há lugar para um projeto divino escrita ou oral de um enunciado e nem a .fonte ordenadora,
de significação que os enun­
ll
ou humano. Atri buindo à in.srincia si ngular do discurso um móvel e con stante. das operações
estatuto privilegiado, para ele, a matéria de uma análise his­ ciados viriam manifestar na superfície do discurs�
córica descon tínua é o evento na sua manifestação discursiva Outra caraccerfstica é a que diz respeito à existência de
sem referência a uma teleologia 'o u a uma subj etividade nm­ um domínio, ou sej a, de um "campo adjacente" ou "espaço
dadora: "' Descrever nma formulação enq uanto enunciado não colateral", associado ao enunciado integrando-o a um conjunto

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d e enunciado s , já . qu e , ao con trário d e uma frase ou p roposição , lingüístic o ( 1 979 , p . 247 ) . Com ess a ressal v a , de staca remos
[É.ão exist e u m enunciado isoladamente : d entre a s suas idéias , e nqu an to con t ribuiçã o pa ra o es tudo
da linguag em , o s seguinte s itens :
Todo enunciado s e encontra assim especificado : não existe
enunciado em geral , enunciado livr e , nemro e ind ependen ­ a ) a concepção do dis, cu rso co nside rado c o mo p rática que
te ; mas , sempr e um enunciado fazendo part e d e uma séri e ou provém d a formação do s sabe re5 , e a necessidade , sobr e a
d e um conjunto , desempenhando u m pap e J no meio do s ou ­ qua l insist e obsess i vament e , de sua a rticulação com a s ou ­
tro s , apoiando-se nel e s e s e distinguind o deles : el e s e íntegra t ras prática s não-discurs ivas ;
sempre e m um jogo enunciativ� l969 , p . 124 ) . b ) o , conc eit o de ''formação discursiva " . cujo s elemento s co ns ­
titutivo s são regido s po r det erminadas "regra s de formaç ão "' ;
A quarta caractedscica constitutiva do enunciado é e ) dentre esse s elemento s con st itut ivo s de uma formação dis­
aquela que o fa z emerg ir como objeto : refece-se a sua con­ cu r: iva , ressal ta- e a di stinção ent re enunciação (q ue e m
diçã o material . Para caracteriza r essa materialidade , Foucau lt diferentes formas de jog os enunciativos singula riz a o dis­
faz urna distinção entre enunciado e enunciação. E st a se dá curso) e o e nu nciado (que passa a funcio na r como a un i­
toda vez que alguém emite um co n junto de sig nos ; e nquanto dade lingü í stica básica , abandonando -se , dessa forma, a
a enunc iação se marca pela singular idade , pois jamais se re­
j; noção d e se ntença ou frase g ramatical com essa fun ção )

I
;
pete, o enunciado pode ser repet ido . H ipoteáca mente , enun­

1!
d ) a co ncepç.ao de discu rso como jogo est ratég ico e polêmico ;
ciações diferen tes podem encerrar o mesmo enunciado . No
o d i sc u rso não pode mais se r analisado simplesme nte s ob
enta nto , como a repetiçã o de um e nunciado depende d e sua

:1
1
seu aspecto Ungilíst:ico, ma como jogo e stratégic o de ação
mater ial idade, que é de ordem institucional, isto é , depende
e de reação , de pe rgu n ta e resposta, de dom inação e de
de sua localização cm um campo institucional , uma fras e dita
esquiva e também como luta (1974 , p . 6) ;
no cotidiano, inserida num romance ou inscrita num outro
1 e o discurso é o espaço em que saber e poder se a rticulam,
cipo qualquer de texto , jamais - se rá o mesmo enunciado , pois )
pois quem fala , , fala de algum luga r, a pa rtir de um di reito
em cada um desses e spaços, possui uma função enunciativa
reconhecido institucionalmente. Esse discurso, que passa
diferente .
11 po r ve rdade iro , que veicula saber (o saber institucional ), é
i As idéias de Foucault são fecundas na medida em que
gerador de poder;
'l co locam d iret r izes para uma análise do discu rso , mas ve­
f) a p rodução desse discurso g e rador de poder é controlada,
rif icar como se concretizam essas diret rizes, no n íve li n­
l
selecio nada, org anizada e redistribuída por certos p rocedi­
güístico propriamente dito, t. uma tarefa que deixa aos lin­
mentos que têm po r função eliminar tod.a e qualque r ameaça
gü istas, e ele não a rea liza uma vez que não tinha como preo­
à pe r manência desse poder.
cupação cenrra.l o enfoque do discurso enquanto p r oblema

36 3 7

;_,_____

Privacy
,.

Língua, discurso e ideologia güíscica o p onto nodal das contradições que atravessam e
or ganiza m esta disci p l i na sob a forma de tendênd�, di­
Pêcheu.x: ( 1 977) desenvolve uma crítica marxísta da reções de pesquisa, escolas lin gü ísticas etc. ";
concepção foucau làana do discurso, considerada do ponto de • é justamente neste "p onto nodal" rep resentado pela semân­
vista da cate go ria da contradição e conclui sobre a necessidade tica que a lingüística confina com a filosofia e es pecifi.ca­
"de uma ap rop riação do que o crabalho d.e Folicaufr contém de mente, na sua perspectiva, com a ciência das formações so­
materialista" . É justamente visando a uma articulação entre a ciais ou o materialismo histórico.
concepçlio de discurso de Foucault e uma teoria materialista do
discurso que Pêchcux e Fuchs (1 975) preconizam um quadro
Fazendo uma caracterização da situação atual da lin­
epistemológico geral da AD que en globe três regiões do co­
güística, Pêcheux identifica três principais tendências:
nhecimento:
1 ) A tendência formalista-logicis.ta, representada pela escola
1 ) o materialismo histórico, como teoria das formações so­
chomslcian� enquanto desenvolvimento crítico do estru­
ciais e suas transformações;
turalismo lingüístico através das teorias '"gerativas". Ela se
2) a lingüística, com.o ceoria dos mecanismos sintáticos e dos
assenta filosoficamente nos trabalhos da escola de Pare­
p rocessos de enunciação; Royal (Chomsky, Fillmore, Lakof, McCawl ey).
, r 3) a teoria do discurso, como a teoria da determinação his­
2) A tendênda hlstóóca, conhecida desde o século XIX. como
t6rica dos p rocessos semânticos.
"lingüística histórica" (Bmoot, Meillec) , desembocando
hoje nas teorias da variação e da mudança lingüística geo,
Acrescente-se ainda que essas três regiões - cuj os con­
ecno, sociolingüística (M. Cohen > V. Weirueich, Labav e
1 ' ceitos básicos são os de formação social, lln g ua e discurso -
de um ponto de vista menos: teórioo, B . Bernstein}.
de difícil articulação, estão de IJIDª certa ma.neilía atravessadas
pela referência a uma t:coria da subjecividade - de natureza 3) Uma terceira tendência que constituiria uma "lingüística
r_ , ,, (ou da "enunctaçao
da ritla . - " , da "p.,,,,..,/;, ,, d "
psican aHtica. 1 ,.,,,mance , a men-
Pêcheux ( 1 975, p. 17) procura elaborar as bases de uma sagem", do "texto" , do "discurso" etc.) em que o acento no
teoria materialista do discurso, p artindo de um duplo ponto primado lingüís tico da co municação faz reativar certas
de vista; preocupações da retórica e da poética. Essa tendência de­
semboca numa lingüística do estilo como desvio, trans�
• a semântica não é, como se tem considerado, uma ..parte gressão etc. e numa lingüística do diálogo co mo j ogo de
da lin güística" da mesma forma q ue a fonolo gia, a mor­ afrontamento (R. Jakobson, Benvcnisre, Ducrot., Barthes,
fulogia e a sinraxe. Ela "constitui, na realidade, para a lín- Grei.mas, Kri sreva) .

38 39

Privacy
:i Essas três te ndências estâo ligadas por relaçóes con tra­ filosóficas, fazem parte de uma zona de articu lação da lin­
ditórias quer se opondo, quer se combinando, quer se subor­ güística com a teoria histórica dos processos ideológicos e
dinando uma à ou era. Por exemplo. a tend ência histórica li ga.­ cíentíficos:
se estranhamente à formalista-logicista por diferentes formas
intermediárias (o funcionalismo, o distribucionaJismo etc.) ; o sistema da língua é o mesmo para o m aterialista e para o
a lingüística da enunciação mantém também uma relação idealisra, pata o revolucionário e para o .reac ion:i.rio, para
con traditória com o fo rmaHsmo-Jogici ta, principalmen te o que djspóe de um conhecimemo dado e para o que não
com a filosofia analítica da escola de Oxford (Austin, Searle, dispõe. Isso não resulta que des terão o mesmo discurso: a
Strawson etc.), ao abordar os problemas da pressuposição . língua aparece como a base comum de processos discursivos
Uma contradição com um que opõe: a primeira ten­ diferenciados (p. 8 1).
dên cia às duas outras é aquel a que liga a "langue" ao mes­
mo rempo à "história" (2' tendência) e aos "sujeitos falantes" Pêcheux coloca, dessa forma, duas noções funda.men­
(3ª tendência) ou, em outros termos, "uma contradição entre tais e oposiriv� :
sistema lingüístico (a langue) e determinações não-sistêmicas
que, à mugem do sistema se opõem a ele e intervêm sobre • a noçáo de base lingiHstica que constícui precisamente o
,.
de (p . 1 9) . &sa contradição q ue constitui j ustamente o obje­ objeto da lingüística e: compreende todo o sistema lingüís­
to da "semâmicâ estaria no centco das pesquisas Jingüísticas tico enquanto conj wuo de estruturas fonológicas. morfo­
atuais. Pêcheux. não se propõe, em seu trabalho, a resolver essa lógicas e sincáxicas. Dotado de uma relativa autonomia, o
contradição, mas a contribuir para o aprofundamento da aná­ sistema lingüístico é regido por leis internas;
lise dessa c.ontradição através de uma posição firmada no ma­ • a noção de procemJ discursivo-ideológico que se desenvolve
terialismo histórico. sobre a ba.,;e dessas leis internas; rejeita-se, assim, qualquer
Essa intervenção da filosofia materialista no domínio hipótese de uma discursividade enquanto utilização "aci­
da lingüística, em vez. de trazér soluções, consistírá a n tes de den tal" dos sistemas lingüísticos ou enquanto "parole", isto
tudo em colocar uma série de questões sobre seus próprios é, uma maneira '(concretà' de habitar a "abstração" da "lan­
"objetos" e sobre a relação ela própria li ngüística com um gue" . O conceito de processo discursivo é elaborado a partir
outro domínio científico, o da ciência das formações sociais. da noção foucaulciana de sistema de formação compreen­
Mecanismos li ngüísticos como, por exemplo, a opo­ dida como conjunto de regras ruscursivas que determinam
sição, mencionada por Pêcheux ( 1 975, p. 35): entJc expli­ a existência dos objetos, conceitos, modalidades enuncia­
cação/determinação (propriedades morfológicas e si ntáxic;tS tivas. esrratégias(l preocupação de Pêcheux é inscrever o
ligadas ao funcionamento das relativas) ., que constituem ao processo discursivo cm uma relação ideológica de classes,
mesmo tempo fenômenos lingüísticos e lugares de questões pois reconhece, ci�ndo Baliba.r, q_ue, se a língua é indi-

40

Privacy
ferente à divisão de classes sociais e à sua luta (daí a relativa b) origina-se indiretamente da sociolingüística na medida em
autonomia do sistema lingüís tico) , estas (as classes sociais) que esta admite variáveis sociológicas ("o estado social do
não o são em relação à lJngua a qual utilizam de acordo com emissor, o estado social do destinatário, a.s condições sociais
o campo de seus antagonismo� da situação de comunicação . .. ") como responsáveis pelas
CPs do discurso;
Essa distinção fundamental leva a reconhecer que: e) cem uma origem impllcita no texto de Ha.rris, Disc<June
:l analym (1 952) : nde não figura o rermo CP, mas o termo
® a língua constitui a condição de possibilidade do "discurso", "situação", colocado etn correlação com o de "discurso" :m
poi.s é uma espécie de invariante pressuposta por todas as referir-se ao fato de se dever considerar como fazendo parte
condições de produção possíveis em um mamemo histórico do discurso apenas as frases "que foram pronunciadas ou
determinado; escritas umas em seguida das outras por uma ou várias pes­
G) os processos discwsivos constituem a fonte da produ ção soas em uma só ·siruaçâo" ou de estabdece.r u ma correlação
dos efeitos de sentido no discurso e a língua é o lugar ma­ entre as características individuais de um enunciado e "as
terial em que se realizam. os efeíto de sentido. particularidades de personalidade que provêm da expe­
riência do indivíduo em situações interpessoais condidonadas
[segundo essa perspeetiva, se processo discursivo é pro­ socialmente" (apud Courtine, 198 1 � p. 20) .
dução de sentido, discurso passa a ser o �paço em que emer•
gem as significações. E aqui, o lugar especifico da constitui ção
' Essa noção de situação se mostra inmficiente e ainda
1 tlo:i sentidos é a formação discurúv.i., noção que, juntamente
bastante próxima da formulação de CP daborada pela análise
com a de condição de produção e formação ideológica, vai
de co nteúdo da psicologia social ou da sociolingü.ística.
constituir Llflla tríade básica nas formulações teóricas da aná­
Na seqüência dessas concepções de origem, dois con­
lise do discurs�
j untos de definição da noção de CP se sucederam:

• um nomeado por Courcine ( 1 98 1 , p. 2 1 ) como "definic;ões


Co ndições de produção do discu rw
empíricas" em que "as CPs do discurso tendem a se con­
fundir com a definição empírica de uma situação de enun-
Para Cou.rcine ( 198 1 ) , as origens da noção de condições -
c1açao ,, ;
"

de produção (que abrevia1emos CP) são de crês orden s:


• outro que forma um conjunto de "definições teóricas" que
a) origina-se em primeiro l uga r da anál ise do conteúdo tal aparecem na AD desde 1 97 1 ao lado da noção de "forma­
como é praricada sobretudo na psicologia social; ção discursivà' {Haroche et ai. , 1 97 1 , p. 1 02) .

43

Privacy
Foi Pêcheux: (1969) quem tentou fazer a primeira de­ É por exemplo essa posrura que Courcine detecta no
� ,
fin ição empírica geral da noção de CP. Ele o fez inscrevendo trabalho em que Courdesses (l 97 1) analisa as dife renças e nu n­
l
a noção no esquema " informaciona " da comunicação ela­ ciativas q11.e r.araccerízam os discursos de Blu m e Thorez. Nele,
bora.do por Jakobson (1963, p. 214); esquema que, apresen­ as CPs são fo rmuladas de modo que assegurem a "'passag em
1
tando a vantagem de colocar em cena os protagonistas do contínua da história (a conjuntura e o estado das relações so­
11 d.iscllrso e o seu "referente " permite compreender as condi­ ciais) a.o discurso (enquanto t ipolo g ias que nele se manifes­
ções (históricas) da produção de um díscu tso/ l contribuição tam) pela med iação de uma caraccerização ps icossociológica
de Pêcheux está no fato de ver nos protagonistas do discurso (as relações do indivíduo ao grupo) de uma situação de enun­

:1
não a presença física de " organismos humanos individuais " , ciação " {p. 22) . Sob esse enfoque , �elação entre língua e
mas a representação de "lugares determinados na estrutura de
1
discurso, mediatizada pelo psicossoc1ológico, apaga as deter­
uma formação social, lugares cujo feixe de traços obj etivos m inações propriamente históricas, fazendo com que a carac�
caracceríscicos pode ser descrito pela sociologia " . Assim, no terização do processo da enunciação em cada discurso não
interior de uma instituição escolar há Ko lugar " do diretor, do seja relacionada: ao efeito de wna conjuntur a, mas às caracte­
professor. do aluno, cada um marcado por pr opriedades di­ rísticas individuais de cada locutor ou ainda às relações in­
ferenciais. No discurso, as relações entre esses lugares, obj e­ terindividuais que se manifestam no seio de um grupo. Na
_
tivamence definíveis, .acham-se representadas por uma sirie noção de CP assim definida, o pJano pskossociológico do­
de "formações imag inárias " que designam o lug ar que des­ mina o plano histórico, não havendo uma hierarquização teó­
tinador e destinatário atribuem a si mesmo e ao outro, a ima­ rica ��-� planos de referênci�
gem que eJes fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro. ��� propõe uma definição de CP que não seja
Dessa forma, em codo proce�o discursivo, o emissor pode atraída por essa operação psicologizante das determinações
antecipar as representações do receptor e, de acordo com essa históricas do discurso, fazendo -as transforma r -se em simples
anrevisão do "imaginário " do outrQ, fundar estratégias de circunstâncias. Circunstâncias e m que interagem os "su jeitos
discur� do discurso " , que passam a constituir a fonte de rdações dis­
Seg undo Courcine (1 98 1 ), essa tentativa de definição cursivas das quais, na verdade, não sã.o senão o portador ou
da n� ção de CP, esboçada por Pêcheux, não rompe, entre­ o efeit{tostula uma redefinição da noção de CP alinhada à
tanto, com as origens psicossocíológicas já assinaladas na fase análise his tórica das contradições ideológicas presentes na
anterior. Para ele, " os termos ' imagem ' ou 'formação ima­ ma te rialidade dos discwsos e articulada teoricamente com o
ginária' poderiam perfeitamente ser substituídos pela no ção conceito de formação discurs��
l
de ' pape ' tal co mo é utilizada nas 'teorias do papel' herdadas
da sociologia funcionali sta de Parsons, ou ainda do interacio­
11
nismo psicossociológico de Goffman (p. 22) .

1 ' \,r,,

Privacy
lfo.

Formação ideológi· ca e formação discursiva ocupar seu lugar em um dos g rupos ou classes de uma dete r­
minada formação sociàt\('ts classes sociais, assim conscirufdas,
\jl. d.is cw:s.Q1.!1ma d��!�.<;���In ':11!� a m.i��xi.\lJ4a.� mantêm rdações que sãÔ reproduzidas continuamente e ga­
ideológica se concreti2] isto é, é _ _ �_ d_0:5 - �pecto�-- �. ate_r��� � rantidas material mente pelo que Alrhus.ser denominou AIE.
l
·"exis"fêi}�iã-fuaféria "·-aas ideologias. Ao analisarmos a articu­ Realidades complexas1 os AIE "colocam em jogo práticas asso­
laçã� da idcoiogia c�m - -�-- dk��, .dois conceitos j.í tradicio­ ciadas a lugares ou a relação de lugares que remetem à rdação
il nais em AD devem ser colocados: o de formação ideológica de classe ,• . Num decemúnado momento histórico e no interior
(que abreviaremos FI) e o de formação discursiva (FD). mesmo desses aparelhos, as relações de classe podem carac­
\.f_a.ra Pêcheux ( 1975) , a região do roateriaJismo histórico terizar-se pelo afrontamento de posições polític.a.s e ideológicas
que interessa a uma teoria do discurso é a da superestrutura que se organizam de forma aentreter entre si relações de alian­
ideológica Hgada ao modo de produção dominante na forma­ ça. de antagonismos ou de dominação. Essa organização de po­
ção social considerada. Dessa forma, é uma materialidade es­ siçõ� políticas e ideológicas é que constitui as fo rmações ideo­
pecífica articulada sobre a materialidade econômíc.a que deve lógicas que Haroche ct ai. (1 971 , p. 102) assim definem:
caracterizar a ideolof�
Falar -s e -á de formação ideológica para caracterizar um ele­
o funcionamenro da instincia id.oológica deve ser concebido mento (determinado aspecto da. luta nos aparelhos) suscep- ·
!
como "del:erm inado em última instância '' pela instância eco• rível de intervir como 11ma. força confrontada com outras
forças na conjuntura ideológica característica de uma for­
'! " ·

n6mica na medida em que ele aparece como uma das con­


1
' . dições (.não-econômicas) da reprodução da � econômica, mação social em um momento dado;�a formação ide o­
:iL: mais especificamente das re ações de produçao inerentes a lógica constitui assim um conjunto complexo de atitudes e
j1 , de represenraç&s que não são nem "'individuais" nem "un i­
li.
esta base econômica.
"'
versais mas se n:�cionam mais ou menos ditet�ente a posi-
Essa concepção da instância ideológica, que vai permitir _ções de classe em conflito umas em rclação às oúuas. )
a Pêcheux: chegar à represen tação do " exterior da língua" , é
caudatária do uabaJho de Alrhus.ser sobre as ideologias. Constituindo o discurso um dos aspectos materiais de
&,a reprodução das celaçóes de produção, utna das formas ideologià , pode-se afi rmar q ue o discursivo é uma espécie
pela qual a instância ideol6gica funciona é a da "interpelação ou perc:n�nte �o _género ideológi�?- Em outros termo��- :�
assujeir.arnento do sujeito como sujeito ideológico" . �a interpe­ maçao 1deolog1ca tem necessariamente como um de seus
;-i ' '
lação ideológica consiste em fazer com que cada indivíduo {sem <-;omponen tes uma o u v.írias for.:0.ações disc�rsivas inter­
que de tome consciência disoo, mas, ao contrário, tenha a im­ _ Iigad_ ��»� �- �ignifica que os _ discursos são governados por for�
-
pressão de que é senhor de sua própria _ voncade) seja levado a -�ações ideológica�
,,.

Privacy
/:.são as formações discursivas que, em uma f�rmação O pré-construído remete: assim às evidências através da.s quais
ideológica específica e lev�do em conta uma relação de clas­ o sujeito dá a conhecer os objetos de seu discurso: "o que cada
se, determinam "o que pode _e de.ve se!..dito" a partir- · d<um� um sabe" e simultaneamente "o que cada um pode ver" cm
posição dàdã em uma__ conjup:tµ� dª-<4� uma situação dada. Isso equivale a dizer que se constitui, no
Concébida por Fo ucault ( 1 9 69) ao ínrenogar-se sobre seio de uma FD, um Sujeito Universal que garante "o que
as cond'ções históricas e discursivas nas quais se constimem cada um conhere, pode ver ou compreender"
os sistemas de saber e, depois, elabotada por Pêcheux, a noção
de FD representa na AD um l ugar central da articulação entre e que determina também "o que pode ser dito" (Counine,
língua e discurso. 1 981). Nesse sentido, o pré-construído corresponde ao
Formalmente�no�<:> 4c FD envolv�. dois tipos de fµn- '"coujours déj à-lá" da interpelação ideológica que não só
y
cionamento.-�
.._,,.. . . .....� .. '41 '" ' · '-
fornece mas impõe à "'realidade'' ("'o mUJ1do das coisas") o
seu "sentido" sob a forma da universalidade. Assim,� pré­
a) .!.P���ma F D é constituída por um sistema de pa� consrruído, entendido como "objeto ideológico, repre�
ráfrase, isto é, é JU11 espaço em que �J:!�;Q_ç�a4<>� �ãQ _r:eto­ sent.ação, realidade" é assimilado pelo enunciador no pro­
mados e refor�.ul�los nu-m esforçÕ
CODSiaote de fec!i.1.­ cesso do seu assuj eicamenro ideológico quando se realiza a
meiuó "de suas fro�'rei� �� "b·us � � p;�s�i�ção �e SJ!ª sua identificação, enquanto sujeito enunciador, com o Su­
..\�i�ti4?B] es"sa·
A" n·oçâõ. Oriandi ( 1 984) contrapõe uma jeito Universal da FDJ
outr� a de polissemia, atribuindo a esses conceitos oposi­
tívos o papel de mecanismos básicos do funcionamento dis­ O conceito de FD regula, dessa forma, a referência à
cursivo. Enquanto a paráfrase é um mecanismo de "fecha- interpel ação/assuj eitamento do indivíduo e.m sujeito d.e seu
mento", d.e �-de ÜinÚaçã�" \i;;·frontêii-âtde
ú�;·f�;���º discurso. É a FD que permite dar conta do fato de que suj eitos
dfscursivà:-ãpõllsscmia ro�p� ��is fr�nteiras, "emb;ua� falantes� si��()S nu�a d:t(!��� COI.lju ��ura hi_stórica,pc,s�
lhàndo" - os 1imi tes �nue· di'tereotes formações discursivas, saro concordar oú nãl) sobre o sen ci�o a ,¼r � palavras, "falar
i�aj��o- �- pf
�ilid.ade, a multipli�ifla.4 �- �e ,sentid� difer�temente falando -� me�· lfngua" . Isso leva a �nstatar
b) -�-E..� �-�f9,1:l§_trµidç,: constiroi, segundo Pêcheux ( 1 975). um q�ie· um·� -FD �io é "u�; ánica li nguage� para todos'' ou "para
dos pontos fundamentais da articulação da teoria dos dis­ cada um sua linguagem", mas que numa FD o qu e se tem é
cursos com a lingüística. Introduzido por Heory ( 1 975) , "várias linguagens em uma ún ica�. São essas constatações que
o termo_ d.es igna aqu.ilo que rem�ce _a_ t1_p� c.9..�s��Ç,?í> a!!-: levam Courtinc e Marandin ( 1 98 1) a concluir que:
teriar e exterior� independente, por oposiçã<:> a� que é "co�:-:
ttuído'" pdo enunciad� . É o elemento q,u�. irrompe na su Uma f D é, portanto, heterogênea a ela própria.; o fecha­
�;ftci� discursiva como slc!_. �stivesse já-aí. mento de uma FD é fundamemalmeme instável, ela não

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consis te cm um }jmice rraçado de forma: definitiva, sepa­ é fazer desaparecer e reaparecer as contr adições: é mostrar o
r ando um eúerio.r e um interio r, mas se inscreve entre di­ jogo que jogam entre si ; é manifestar como pode exprimi-las ,
versas FDs como uma fronteira que se des loca em função dar- lhes oorpo, ou emp restar-lhes uma fugidia aparência". É
dos embates da l uta jdeológica. nesse sentido, ainda, que ele vê uma FD como um "espaço de
di senções múlti plas" em que atuam oposições (a concradição
É em conseqüência dessa hetero geneidade própria a entre a unidade e a diversidade, entre a coerência e a hete­
toda F D que Courcine ( 1 982) ainda a caracteriza como uma rogeneidade) cujos níveis e papéis devem ser descriros não com
un idade dividida que tem como princ ípio constirucivo a con­ o obj etivo de nivelá-las ou pacificl-las em formas gerais de pen­
tr adição, tomando como apo.io a afirmação de Foucault ( 1 %9, samento, mas de dem arcar "o, pon to em que elas se constituem,
p. 1 86): de definir a forma que ass umem, as relações que têm entre si
e o dom ínio que elas com andam" (p. 1 92) . AnaHsar o discurso
Tal contr adição, lon ge de .ser aparê ncia ou aciden te do dis­ é descrever os '"sistemas de dispersão" dos enunciados q ue o
cu rso, lon ge de sec aquilo de que é preciso liber tá- lo para co mpõem a través das suas "regt de forma ção". Se e1e apre­
I
' .
que ele li bere enfim sua verdade a erra, consumi a própria sencam um sistema de dispersão semelhante, pode ndo definir
lei ele rua existência: é a par tir dela que ele emerge, é ao wna regularidade nas s uas "formas de repartição", pode-se �zer
mes mo tempo para trad uzi-la e para superá-la que ele se põe que eles pertencem a uma rnesma FD.
a falar [. . . ] . é po rq ue ela está sempre aquém dele e ele jam ais Aproximando as duas abo rdagens de FD fei cas por Fo u­
�r '
p ode contorní -la inteira.men te, que ele muda, que ele se caulc e Pêcheux, Cour cine vê o co nceito de FD ligar co ntradi­

,
metamor fo seia, que ele escapa por si mesm o a sua própria toriamente clois mo dos de exis tência do discurso como obj eto
.,
1

'
1
con rin uid ade. A com:radição funciona, então , no fio do dis ­ de amiJi se:
curso. como o p rincip io de sua histo ricid ade.
1
! • o n fvel do en unciado : di� res peito ao si stema de formél.Çáo

-
Dessa forma,�mbora uma F D deter mi ne a eus fa.Jan-. dÕsenunciados qu� engi�b�ria "� i�ixe ���I��� ;j� re­
1
tes "o que deve e �c;'áisêr' cl.I to;; b us�d� �� h��oge�ei- í;çõcs ' fund���d�-�-;<?_ ���-.g�a-�co·• r���; �; �i;-
� ·.. . . . . ' •' " ' . . . .. .
· dad:e d iscursiva > os êfeito:s ' das co ntradições ideoló gi cas de temãd.eterm i naria "o q11e pode e deve ser dito.. por um s u-
')eícô falãnre s1 �do ��� dado i�gar. 0:um� dada conjun­
e
classe são recup eráveis no interior mesmo da '"un ida d " dos
cônj unc_�s _ de discu rsÓ). i�ri; 'rio i nrêrior de u ma FD , so b :i depen dênci a _ do
• T \9abe à AD trabalhar seu obj eto (o discurs o) ins�reven ­ "fnt erdiscur.so des·ta última . Esse nível é o lugar da cons­
do--o na relação da língua com a história, . bm. c;an4<?_ na ma� .c iru.iç�o da "mac:riz. do sencido" <ie uma FD determi na da
�alidade l!_ �ís ��a as . ma�ças das coqmi..di.Ç,Qe� }�ló�c� no plano dos ptoce&sos históricos de formação, repro du­
Repetindo ainda Foucault ( 1 986, p. 1 87) , "analisar o discurso ção e rransformação dos enunciados. Esse nívd se shua no

51

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plano das "regularidade s pré-term inai s " , aquém da co e ­
rênci a vi.síve l e horizonta l do s elemento s formados
;
• o níve l d e formulação : refere-s e ao "estado terminal do di s-
,1 • • · · · · ·· · - - · , . . - � - ..... .. . - - • · - . . • .·
curso " ond e o s enunciado s manifestam cerra "roerêncí a vi-
CA P Í TU LO
síve l horizonta " . Traca--s e do inttadiscu.rso e m qu e aseqüên­
l

ci a discursiv a cxisc e como discurs o concrao no interio r do


SOBRE A NOÇÃO DE SU JE I TO
"feb_c. e ��plex _o de relaçõe l de u� slsi:em� de fonn�J� .
{Courtíne, 198 1 , p . 40) .

Dessa forma , toda s eqüência discursiv a deve se r ana­



lisada em um pl'oce.s so discur s iv o de rep rodução /transfor­ reflexão sobre a língua tem seguido duas tendên ­
mação do s enuncia.dos no interio r de urna FD dada : da í po r­ cia s . Segun do a ep i scemol�gia clás sica , a . líl'lgua ti�_ h;i .. c.:q r:n_ �
que o estudo do incradiscun;o de toda seqü ência manifesta função rep resenta r o real. Pa ra ela , um enunciado e ra ve r-
deve escar associado ao do interdiscurso da FO . dadeir o _ �_e· éo�;e's�·ond�sse_ � Ufl?- e;tâck �_ dé coisas ·eiistente0
Voltemos à noção de condições de produção cuja re­ Ela mobilizava , dessa forma , o c� i:ice i. �o de ve rdade , p��".i­
definição teórica. era preconizada por Pêcheux. Para romper ·1egian<iõ "ô ' léx ·icàli smo na �eor izaç�9 da _ língua e da s ig ni­
com a concepção psicossocia das CPs de um discu rso , en­ l �c�ç-ãõ ·'i s co · é � �e ��!,45,L, �Ç.�_ f:!S<l; .f�!!.�. �.n�i�. , 7.e'JJf l' S�.nttft i­
:
tendida enquanto circunstâncias de um ato de comunicação va - domínio do "di re " , do nomear (Pa r re t, 1983) - os
-...,

nomes rep .wre• " senta riam o p r- otó upor das categ o rias g rama -
• - • . ,_.. , ..,.. iu- -.-�it:_:;.! ,�.W ,.-.,r, -, � _. 1,,, • -., ,. 1 • · , _ · -
""'
, ' •• • • '" , , ., 1 • • t •: ., ,.,. . , ,,; ". • - •• •
e enquanto relações de lugar , ambiguamente, confun didas
com o jogo em espelho de papéis in te rio res a uma ins ti­ t i cais, a t r ibu indo -se ao nome p róp r io o idea da rep re se n-
l
tuição (como sugeria seu texto de 1969 ) , coloca como uma tação pura .� .t;1essc quoo, �� . · '°ão_ __ s� <:<>_lo�ya a que�r�9 da
necess idade reo rdenar o conceito, submetendo -o à depen­ J}: 1 �j� c i�d- ��
dência da relação que uma FD entretém com a "p luralidade Esse poder de rep re sentação da língua co ntinua na
contrad itória " de seu interdiscurso . Para isso deverá buscar episteme mode rna, mas pa ra uma ve rte nte de l ingü i tas,
uma reoria não-subjetiva da cons ti tuição do su jeito em sua filó Qfos da linguagem, essa função deixa de ser fundamen­
' 1 :. §..

1• situação concreta de enunciador. tal. �ondo -se ao tradicional pa radig ma cláss ico, neop la ­
Desenvolveremos a seguir duas noções fundamentais tô nic o, e��� - � -s_ irn, uma no:ª _ ma_ ncir� - d; vêr a .lin gu· a_, _
para a análise do discurso : a de sujeito e a d,e interdiscur­ ap_ree nde nd���- _mgu�co fu nção detn()ns tra tiva - domí­
sividade. nio do "most rar " , da m�t�;çã; � o�· � i�cando -se o lugar da
f�.m�o rep rese ntativa do real, a lfrÍguiadquire es· p���a pr ó­

- · ··
pria, pois, liberta das �a r ras que a p re ndiam a uma con-
. _, . . , .

5 2
;
. i 1l

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cepção q ue a considerava apenas enquanto capacidade de ex­ • terceira fasr- . em que, reconhecendo, no . binatjs�� da con­
pri�- r�_re��taçóes, �a � ser d�e�dª�-�a sua escru�� · cepçio anterior, uma po. lariz.ação que impedia ap1eender o su­
�egundo essa tendência, Uma das categorias que passa a jeito na sua dis persão, diversidade, a AD procura romper com
ser exemplar é a dos demonstrativos, funcionando mais como a circul:irida.de dessa estrurura dual!, ao reconhecer no sujeiro
uma operação (predicação, afirmação e outros tipos de atos de um car��.t: s.on���6�o . 44.e, _mar��dQ. pel� incomplet!f4ç� _
linguagem) do que como categocja gramatical. É situando-se ànseia pela coml?l��':-1�e, pela vontade .de "q uerçr _ ser inteire(.
nesse ponto de vista que BUhler considera a língua como um .Ãssiiii' num�:i��ção dinâmica entr� �dçnçid:id� e alteridad�,
"campo monstra.tório'' . Nessa perspectiva se inscreve também õsuje.it..;--é· �le m.ti;-� · ��P���:cação_ �e>, <J,Utro. O centro
Benveniste que, através do , estudo dos pronomes, coloca a da relação não está, como n� conr.epções anteriores, nem no
questão da subjetividacle na linguagem. tu nem no tu., mas no espaço discursivo criado entre amoos.
@=sse quadro teórico, o s ujc} ro p�S.S?:- �.��-!I Pª' u�� O sujeito só se completa na interação com o outro.
1 .
posição_ privil egiada, -� a l�ng1;1,agel!l eassa .ª ser considerat{a
o !��- �'!,-�_.l:'1S�t-�.ii�o da subj �':ida4e. E porque constitui o

suj eito, pode represent·u m�nd� A subjetividade em Benvenistt
Analisando o ..P�urs0-.da..concepçio. do sujeito .n-ªs­
Refazendo mais detalhadamente algu ns momentos d�e
E4?.9IiM . .H og_(, H�ti�s. rnode_r ��. Orlandi ( 1 983) distingue as
percurso, voltemos a Benveniste q ue (re)incorporou aos es­
seguintes etapas :
tudos lingüísticos a noção de subjetividade. Essa noção tem
ocupado, modernamente, um amplo espaço nas discussões lin­
• primeira fase: em que as relações interlocutivas estão cen­
güísticas. Tendo por preocupação maior analisar "o próprio aco
tradas na idéia da inr�ção, ha.rmonia conversacional, troca
de produzir üm"eriünaãêlõe nãÓ o teX[O de um enunciado",
e"g_ty
enfre_o t!-f_ ..,, Ness� concepçãÔ. idealista ·enquadram-se,
'isfo·e:õ· piácéssõ e n-ão.• o produco Benv'éruste·p��� -.. esboçar,
por exemplo, a noção de sujeito de Benveniste e aquela re­
iiô inteiior da língua:· á"s" câracterfsricas formais da en uri�iâç:fo
gjda pelas leis conversacion:âis decorrentes do princípio de
à partir da mánitesiâçiõ'inãi�fd�J que eia arual_1za" .
coo pera.ção griceano;
• segunda fase: em que se passa para a i�é�a--�o conflito. Cen­
. . " ' Ao definir':( énunélação e��º um· processo de apro­
priação d.a líng1.1a. para dizer algo, levanta dois aspectos:
tradas_ no o_uúo, segundo essa concepção, · ;,_�-;J;çõ;� inter�
subjetivas sã� gc;��madas por uma rensão hásicá'em quifo 'iu a) pa.ra ele, �.! !.�-�:.�. :.P��-� -��� p<>.s�i���-���� .C:X��- �ha coi:i�
determina ó 41.1:e o eu ·diz,. o_corrt�d9 uma��e de .tÍruiii 4o éretude someme no ato da e�u��}�ção, is_to. �! enqu�t'? _<:m-
p��:11�i�_ sobre o s�gundo .. É a c�mcepçio for���;� i�flue�­ --prégoe\exprêssão"dê.umã:�;ta relaçãt) com � �-�_ndo '.. P�
ciada pela retórica, presente nos momentos inicias da AD f�§.��- �-�fer�n��-p� a à ser parte in�egrante da enun­

-.._.. ... ..---- · ...


cujas análises focalizaram sobretudo os discursos políticos; ciação;

55

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r

b) coloca não só a questão da significação na instanciação dis­ · que, não rendo a marca da pessoa, não refere um indivíduo
curs iva como faz também passar a noção de sentido pela do esp ecífico; relata, dessa forma, um processo que se desenvolve
sujeito. Isto é, introduz " aquel_� _ ql!_� fulª- -º�-51;1ª Wi�. ,_@JQ;­ fora da relação da subjetividade.
cando necessariamente a figura do locutor e a questão da Essas colocações podem ser s intetizadas no seguinte
subjetividade: "g, � j�� �; discurso _n aqual eu d� J­ quadro:

-
o locutor que este se enuncia como .. sujeito " 0966, p. 288).
- -- - .. . . ·-- •··--� . . .... _ _ . _.....,,._ ,.____� -- - · · - .. ......___...,.
,
r----•---------------�
t
1 P ronomes pessoais

0��-u_n�? ... �11��-�!! �� �- -��j_� v}� de é ª . ca� � _ d ..


ti a a i� � .

o locutor se propor como sujeito do seu discurso e da se �n.d.a


r - - - /- -/- - - - �

, • eu . ru I ele
1 \
no éxercício da HnsW!· : °J?.�_�J!içtj r9�- �u��ia sua posiçªQ_.o.o c o rrelação 1
� p= ioa
/
' não -pcs�oa co rrelação

cliscúrso -�ªili.d�-d�E�i.r.iad�s _ f�ces formais dos q':_l:é\�_os pessoa lidade


1 : suhjcl ividadc
.
1 1

p��,:;:2.·�es pessoais cons ti_�etn o prime irÓ p<>I_lt:o . de _a�J? . .'!!


, subjetiva não-subjetiv.i
.. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ..1
��-�i�s:.i�J�M�A-�W:- ����� proasso d a enun- L - - - - - - - - - - - - - - - - - -
- -

,
. : ciação, .ao instituir-se wn eu, institui-se necessariamente um tu:
"Imediatamente, desde que ele se declara locutor e assume a Embora acentue, na relação discursiva, a figura do par­
líng ua, ele implanta o outro face a ele, qualquer que seja o ceiro - "real ou imaginário. individual ou coletivo " - ("vo•
grau de presença que ele atribui a este outro. Toda enunciação cê se constitui como eu na medida em que alguém é cons­
�.:..,�plicitam�n.r!����: .�:>�1�:-�:,_ ����P.?.�,��1; ticuído como tu '"), Benveniste vê no EGO o centr o da enun­
.
wn al��9 ' ( 1974, p. 82) - ..Ili e '!! são '-?� erfil.�g_Qnistas da ciação e o identifica ainda à noção de sujeito, ao afumar que
'.

e��'?.fLÇ,J�flà!;:i1J.dQ...'!..1!.!���Y.�2-�P-�!!._I.���-- ����� a constituição da subjetividade vai se f.u.endo à medida que se


a marca �-�JJ!?t:})istinguem-se, _ �nc�r:p:i. to, _pela marca . 4? tem capacidade de dízer eu.
;ubjetividade: eu é pessoà "sub j�tiva e tu pessoa _ n�o��t 1bje�iyC1.. Nes te ponto, é que parece localizar a fissura arr avés da
.
Nessã cõri'e1'ãçãó"cte--sub jêrividàde, Benveniste reconhece qual se tem cr i ticado atualmente a posição de Benveniste, pois
uma transcendência do primeiro sobre o segundo (" ego tem a subjetividade é · nerente a roda linguagem e sua constlrui� ··
-- á
sem pre uma p osição de transcendência em relação ao tu, · s; J · ·me·sm.; · · uando· niÕ .. sé enunda ô m: · os dis��o� -- 4ue..
.._ _____ . .. .. ...�-- �- -- -· "-- .. . .. . . ,. . . . . . . - . - . . . .. .., .. ., . .. . ... ..
apesar disso nenhum dos dois termos se co ncebe sem o ou� mili:iam de formas inde�erminadas_, _ ir.npesso:iis como o dis-
cro; são complementares e ao mesmo tempo reversíveí " [1 966,
s
c-�rs·o·a�titf6��:- --p�� ���pioi ou � cfü�ur�� do esquizofiênico
p. 286]). O eu se caracteriza ainda por ser único na instância em.. qtié' " ô ioéut�r ucilí� � - ei� p;� - se - referir a SI mesmo _ · -
discursiva e váJ ido somente na sua unicidade. ��stram u�� ezÍtlllctação que ·�� sei:np!c um s ujeito. Isto
Em oposição ao tu e ao tu que têm a marca da pessoa, é, nesses tipos de enunciação, o sujeito enuncia de outro lugar,
tem-se o de, a não-pessoa (o "ausente dos gramáticos árabes) ,
"'
poscand.o-se numa outra perspectiva, sej a a da impessoalidade

57

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em busca de um a objetivação dos fatos ou de um apagamento tuada de uma subjetividade ''ego-cêntrica " a reger o meca�
da responsabil idade pela enunciação, seja a d.a incapacidade n ismo da enunciação.
patológica de assunção de um eu. Essa esuatégia de masca­
ramento é cambém uma forma outra de constituição da sub
• 1 jetividade. Sá que nela o sujeito perde seu eixo então cen­ O sujeito descentrado: o eu e () ourro
! 1
! : tralizado num eu todo-poderoso> monolítico, descentrando­
se e dispersando-se ou para outras formas do paradigma da Veremos agora a1gumas abordage m que, situando-se
pessoa ou para outros papéis que assume no discurso. numa outra perspecúva, co ncebem diferentemente a noção de
Assim, a teoria benvenistiana da representação do su­ sujeito. P�a essruJ aborda gen s, tno�.?... ��-�i-���r�� .. �-- fu,�da�
jeico no discurso torna-se, às vezes, restrita diante de um� �encat pois, porque marcado espacial e t,ernporãlmente, o
complexidade maior que o discurso na realidade (re)vela. E sujeito é essencí.almente histórico. E porque suâ fala é pro­
segundo essa perspectiva que notamos ;!!J- �.t�Y�l !i�Jc , cert:a duzida a partir de um deter.mm.ado lugar e de um determinado
contradição quando coloca a discjnção entre os dois modos · tempo, à concepção de um sujeito histórico articula. -se outra
de enunciação: a discl.lfsiva e a histórica. Para de, �..: n·oção fundamen�: a de um sujeito ideológico. Sua fala é um
ciação discursiva tem as marcas d.a subjetividade _ e!}qu_
_ ��to recorte das representações de um tempo histórico e de wn es­
que a enunciação históríca não: t,�·esu."".iliõfe':s�-t:�do
que é paço social. Dessa forma, . e.orno ser projetad�. .n:1.1 111. espaçç e
e�h.� à ·;;;�r;�i� - dos acÕncedmencos que são apresentados num tempo orientado socialmente, o sujeito situa o seu dis-
i
', ·; , .
como se narrassem a si mesmos. Não há um locutor aqui, curso em ��l;ção · ;�� ·di;��;�;·; d� - ���;�. · Õ��;o · q� · e: ��ivc -
n

caracterizando-se o discurso pela ausência da subjetividade. não só - o ·seu àestiiiatâriopara éi_��m planeja� a júsii · a �a fala
' . Essa colocação contradiz o que foi exposto, pois, como vimos, (nível intcadiscursivo), mas que ra:m bém envolve outros dis�
se toda enunciação é um ato de apropriação da lín�a� _impõe-- cursos historicame�t<: ' já cô_ i:i����ps: e que e��rge.m 11a �u�
��. -�ecessárâàmênce> -� 'figú��· �� 4-ffi..��,i�ê ig���:��� fala (nível �nt�r�_�s�y:�Iflesse sentido, questio na -se aquela
pratica � -�t� 4e a,p r9pJia.ção.. concepção do sujeito enquan to ser único, central, origem e
( · · · Resumindo, o sujeito de Benvenistc é um eu que se ca- fonte do sentido, formulado inicialmente por Benveniste, por­
\ racteriza pela homog�·�ei�4� · - � tüiídâãâé e.. se ·corist ifúf'iiã que na sua fala outras vozes também falam.
/ 'médí��- �ü<0.�;·rage _ c:o� um � . ....... .. �.1��litã,�- �-� ºf?��- Segundo essa tendência, a noção de subjeti vidade não
<tõ'sé · b�s .� _n_ão-pessoa., ,1, (eu-tu ve�us •/,) A��'..d'. está majs centrada na transcendência do EGO, mas relativizada
.
(Bse ·ru sec compl�!?.<:�.ª1J:.J.nd1spensá.v.d , na . r�laç�� é. � - �
"',".
no par EU- TU, incorporando o outro como ronscim tivo do
que tem ascendê.1:1. s:ü. 1. �9- r_ �. Q.tu. . . sujeito. Disso deoorre uma concepção de linguagem também
_...., ····- ·o��;;��do sintomaticamente esse eu de ego, sente-se, não mais assenrada na noção de homogeneidade. A linguagem
nas colocações de Benveniste, uma marcação bastante acen- . n�o é . "..1� . evidê cia, trans parência de sen tido p?ôdu:tldi . pÔr
r:i

58

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.
i um su jeito uno , homogêneo , todo -poderoso . É um . suj �i.w._, e ) formas mai s complexa s cm que a presença do outro não é
1 :
que di�id e � esp�ço dis cun; ; �o com o oucro . explicitada po r ma rcas uní voca s n a fras e . É o caso do di s­

. ' Podemo s v� . d e maneira evtdente � � m."ànifestação dessa cu rso indireto liv re , da ironia , da antífras e , da alusão , da
heterogen eidade na própria sup e rfíci e discurs iva atravé s da im itação , d a re mini scência em que se joga com o out ro
materialidade lingüística do texto , de formas marc.adas que discurso (à s vezes , to rnando-o mais v i vo ) não mai s no n ível
vão da s mai s exp lícita s à s mais implí cita s , da s mai s simple s às d a transparên cia , d.o explicitamente most rado ou dito , mas
mais comp lexas . no espaço do imp líc ito , do s e m ide s v elad o , do suge rido .
Aqu i nã o há um a fro nteira lingü ístic a rudda ent r e a fal a do
locuto r e a do out ro . as voze se imiscuem no s limite s de
A heter ogeneidade discursiva uma única const rução lingüística .

Anthier-Revm (1982 ) indic a alguma s dessa s forma s de Essas outras formas ma rcada s , in gfü sticamente des­
heterogene idade que acusam a presenç a do outro : critíveis , que assinalam um luga r ao outro e revdarn , mo stram
a hete roge neidade na supe r f íc ie discu rsí va , e stão anco radas
a ) o discurso relatado : num p r incípio que fundamenta a p róp r ia na tu reza da lin­
guagem : a sua heterogeneidade co n stitutiva .

• no discurso indi reto , o locut0r , colocando -se enquanto tra­ Um dos supo rtes a que Aut hie r -Re vuz recor re par a ex­
plicar a articulação da realidade da s for mas de hete roge ne i da­
't
duto r , usa de suas próp rias palav ras para remeter a uma
outra fonte do " sentido " ; de most rada no discu rso com a realidade da hete roge neidade
tr. - • • no d iscurso direto , o lorutor, colocando-se como "porta­ constitutiva d o discurso é o dialogismo concebido pdo círculo

voz " , recorta a5 pala vras do ou. t ro e cita-as; de Bakhtin .

b) as formas marcadas de conotação autonfmica : o locutor


{ 4 Monologismo ve r sus dialogismo
insc reve no seu discurso, sem que haja inte r r upção do fio
discursivo, as palavras do outro , mostrando -as� ass ina­
Bakhtin (Vo loshinov -1929) pa rte de uma crític a ao obje­
lando-as quer através das aspas, do it.álico, de uma emo•
tivis mo abstr .uo d e Saussur eque trat a a líng ua co nw um siste ma
nação específica, quer at ravés de um co mentário, uma glosa,
monológico, colocando que "a verdadeira substância da língua
um ajustamento, ou de uma remissão a um outr o discurso,
[ . ..] não é constituída por um sistema abst rato de fo r mas lin ­
funcionando como "marcas de uma atividade de controle/
güí.sticas [. . .] mas pelo fenômeno social da int e ra ção verbal,
regulagem do processo de com unicação ";
re.al izada at ravés da enuncia ção e d.as enunciações " (p. 1 09) .

60 6 1

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,1

Postula uma concepção do ser humano em que o ouuo de­ (sob sua forma extrema 011 pura), o outro permanece inceira
J! sempenha um papel fundamental; para ele, o ser humano é e unicamente obj eto d.a coru;ciência e não pode formar uma
i nconcebível fora das relações que o li ga m ao outro: "não consciência outra. Não se espera dela uma resposta tal que
tomo consciência de mim mesmo senão através dos outros, possa rudo modifk.ar no mundo da minha consciência. O
é deles que eu recebo as palavras, as formas, a tonalidade que monólogo é completo e surdo à resposta do outro, não o
formam a primeira imagem de mim mesmo. Só me torno cons­ espera e não reconhece nele força decisiva [... ] O monólogo
ciente de mim mesmo. revelando-me para o outro, através do pre tende ser a últimapa!t:ttJra (apud Todorov, 1 98 1 , p. 1 65).
outro e c.om a aj uda do outro" (apud Todorov, 1 98 1 , p. 1 48) .

1: Por i:sso, para ele a palavra não é monológica, mas pluriva.lente,


e o dialogismo passa a ser, no quadro de suas formulações, uma
Bakhtin coloca também questões críticas ao conceito de
língua da lingüística estrutural pelo fato de ele não ser arti­
condição constitutiva do sentido. Baseado n esses pr�suposto:s, culável nem com a história, nem com o sujeito, nem com
Bakhtin elabora a sua teoria da polifonia. uma prática sociaJ concreta. Sempre de wna perspectiva dia­
Ao anal isar uma série de textos, Bakhti n assinala um lógica, concebe que práticas línguajares socialmente diver­
concraponto a determinar seus mecanismos de enunciação. sificadas e oon tradit6rias se inscrevem historicamente no in­
Distingue uma categorfa de textos, sobretudo de textos li­ terior de uma mesma llngua.
terários (como os de Dostoievski) e da literatura popular, por Nos esrudos do círculo de Bakhcin, segundo Authier­
ele denominada também de carnavalesca, em que o autor se Revuz (1 982, p. 1 02) , um paradígma per orre coerentemente
investe de uma série de "máscaras" diferentes. Qualifica tais os diversos domínios abordados :
rex:cos de polifónicos, uma vez que essas "máscaras" repre­
sentam várias vozes a falarem sjmul taneamente sem que uma • o dialógico vmus o monológico;
den rre elas seja preponderante e j lllgue as ou tras. Por outro • o múltiplo, o plwal versus o único;
lado, há um a outra categoria de textos (os da li teratura clás­
• o outro no um versus o um e □ outro;
sica, como os de Gogol, ou dá dogmática) em que, numa fala
• o heterogêneo verms o homogêneo:
mon □l6girn, uma só voo. se faz ouvir; em que as vá.rias cons­
• o confli tual versus o imóvel;
ciências presentes na obra são objetos do na rrado r. Dessa
forma, no pólo oposto ao do dialogisrno, Ba.khcin coloca. o • o relativo versur o absoluto, o cencro ;
monologismo que • o inacabado verms o acabado, o dogmático.

nega a existência fora de si de uma oucra consciência., tendo É sobre os elementos desse paradigma que se constrói,
os mesmos dueitos e podendo responder em pé de i gual­ anoorada historicamente, uma teoria da produção do discurso
dade um outro eu igual (tu} . Na abordagem monológica e do sentido. Rompendo-se com o monologismo, instaurando

62

Privacy
.
' '

uma perspectiva dialógica. Bakhti n opõe a uma concepção �nstitutivos do tecido de todo discurso, têm lug a.r nã9 ª-º lad,o
ptolemaica da linguagem "diretamente intencional, categórica, mas ..
no · interior do dí�curs·o. O discurso se te� p9_lifqnica- .
única e singular '' , uma " consciência gali ]eana, rd ativizad.a da mente. num jogo de várias vozes cr uz3.:�, co_� pleni�ntares. • . . .
linguagem " . córicori-en tes", contradit6rias.
..
Para B�tin� .� � ia!osizaçã.o do discurso tem uma dupla . . - Aoriéritaçao vôlrãáa 'pai-a o destinatário tem na inter­
os
=
orienéi�� ·-�a voltada para "outros discursos ' 001.!!º ..P�::­ locução um fator específico para a dialogização do discurso,
ces�s ·oo�ritutivos do discur�o, outr võltàd;p;ia � - outro da a pois "toda emmciação depende 'bivocalmente ' do locutor e

in.tÇ,! 1� �<> _-. o de.5tinatári�: do alocutário " . Ao enunciar, o locutor instaura um diálog<?
com o discurso d� rec���r -�. q�� � ��ncebe não ��1�� ':.�.
:É urn duplo dialogismo - não por adição, mas em interde­ como um mero aecodificad.or, mas como um demenco ativo,

r ... ,.. . . -·u . ,, . . . . - · ... . . .. . . . " . . . - · .. ... . - · - --·- . . .. . . . ..


pendência - que é colocado na fala: a oricncação dialógica àtr11iuú1âo-.:the, empr�·srand.o'�lhe a · magem de �irri, �ontra�.
.. ..
de todo discurso entre os " outros discursos " é ela própria discurso: constituíndo -se na atmosfera do 'já•diro • , o dif;-
dialogkamence orientada, determ inada por "este ourro dis­ êurso -é'cleêê'imiiiãoo ' ao · me· smo tempo pela répli� - aind� não­
curso " específico do receproz:, caJ como eJe é imagjnado pdo dm--; -mas ·solfücida e já previira" _ (Bakh_ rin, 1 978, p. 1 03). À
locutor, como condiçâo de compreensão do primeiro (Au­ leiC-úiâ' qüe Authiér�R�z faz de Bakhtin, a rticulando o con­
; ,1 ·
f. ' thier-Revuz, p . 1 1 8) . ceito de dialogismo como o seu (dela) de heterogeneidade cons­
titutiva da linguagem, nos leva a ver que, segundo essa pers­
Segundo a primeira orienração, toda palavra é "pluria­ pecriv� o conceito de subjetividade não pode estar centrado
"'
centua.da ; acentos contraditórios cruzam-se no seu interior num ego enquanto entidade única e f onte toda-poderosa de
e o sentido se constitui nesse e por esse entrecruzamenco: sua palavra, mas num sujeiro que se cinde porque é átomo, par­
tícula de um corpo histórico •social, no qual interage com ou­
m enunciado vivo. si�cativamente surgido em um mo• tros discursos de que se apossa ou diante dos quais se posiciona
mento histó rico e em um meio social determinados, não (ou é posicionado) para cons truir sua fala.
pode deixar de tocar em milhares de fios clialógicos vivos,
tecidos pda consci!ncia sodoideol6gica em torno do o bj eto
de tal enunciado e de participar ativamente do diálogo so­ O di scurso e se u avesso
cial. De resto, t dele que o enunciado saiu: de é como sua
continuação, sua réplica. . . (Bak htin, 1 978, p. 1 00) . Situando�se n uma perspectíva também exterior à lin­
güística, Au thier- Rev uz mostra ainda como a psicanálise ques­
tiona a unicidade significante da concepção homogeneizadora
q�.
Esses "fios dialógicos vivos" são os "ou tros discur sos " ou
o diséu-;; do �-;_;��o
-• ·· ·�---·-···•--....____ __ � .. .... ... .- · _ int����mil�ent_e,' colocados
. . . .. - .,
como da discursividade.
.

64

Privacy
Entendendo o sujeito como um efeito de linguagem, a trabalho de escuta, o analista deve estar atento aos "diversos
psicanálise busca suas formas de constitu ição não no interior discursos que se dizem " no desenrolar de uma única cadeia
de um.a "fala homogênea " , mas na diversidade de uma "fala verbal. Isto é, co loca -se como comum a toda fala o f.uo de que:
heterogênea que é conseqüência de um sujeito dividido " . Su­ "sob nossas palavras 'outras palavras ' se dizem, que atrás da
jeito dividido entre o consciente e o inconsciente. "O incons­ linearidade conforme 'e missão por uma só voz se fu ouvir wna
1
ciente é este capítulo da minha história que é marcado por um 'polifonià e que 'todo discu.rso quer se alinhar sobre os vários
branro ou ocupado por wna mentira: é capítulo censurado " ,
i i.
alcances de uma partição ' , que o discurso é conscitutivamence
:

como define lacan (apud Authier-Revuz). El.e pode ser recu­ attavessàdô pelo ' discmso do Outro '" (Authier -Revuz, 19821
perado, reconstruido a partir de traços deixados por esses apa­ pp. 140-4 l). É nesse ponto que a concepção de um discurso
gamentos, esquecimentos, cabendo ao analista a tarefa da re­ heterogê neo atravessado pelo inconsciente se articula com uma
construção. Reconstrução que se faz por um trabalho de re­ "teoria do descentramento " do sujeito falante: "o sujeito não
gressão ao passado na e pela palavra, buscando�se "a restauração é uma entidade homogfoea, exterior à língua, que lhe serviria
do sentido pleno [. .. ] das expressões empalidecidas " (Freud), para 'craduzir ' em palavras um sentido do qual seria a fonte
a " regeneração do signiftcante " (Lacan). consciente " (Authier -Revuz, p. 136).
O trabalho anaUtico se funda na transgressão das leis Segundo essa teo ria, o suj eito apresenta as seguintes
normais da conversação que rege a comunicação na sociedade características;
H '!
d
l, - ' baseada na troca de palavras, visando à troca de bens materiais
1
ou bens efetivos (lei do "tudo dizer " por " associações livres "). a) O sujeito é divid'ido, clivado, cindido. O sujeito não é um
Nessa tramgrcssão articula-se o discwso com o seu aves­ · · ponto, um.a entidade homogênea, mas o resultado de uma
so, o seu reverso na medida em que "se tenta fazer aparecer ao se
-êsfo.1;;._.;;_ - ���plêx:iquc · iião ' i:ed.m à. dualidade e specular
sujeito, em sua fala, o que se diz, à sua revelia, à revelia de seu <fõ 'sujeitõ ·com ·seu outro, mas se constirui também pela in- _
desejo " . O discurso não se redll.'Z, portanto, a um dizer explf• "ter'ação · om .um terceiro demento: o inconsciente freudiano.
cito, pois de é permanenteniénte atravessado pelo seu avesso: !'§��cié�Íe q��:�� c:ebi�� CC ) �O a ji nguag e� do d�sejo
"o avesso é a pontuação do inconsciente; não é um outro dis­ {censurado) , é o elemento de subversão que provoca a cisão
curso, mas o díscurso do outro: isto é, o mesmo mas tomado -dó' eu. Essa dívisão do- sujeito não si g;nifica. entretan to, cqm-
....., . - ·· .
ao avesso, em seu avesso " (Cléntenr, 1973, p. 1 59) . Para a psi­ parti.m.en taçã.o nem dualidade;
=
canálise, o incon iente é uma cadeia de sig.nificantes q�
�epéte "e insiste em ·1�terfe�ir-nas
. .
fissu��qüe l�e' ofe�e-� ( r dl� ­
_ : A consciência não é a face aparente de um subconsciente
i c�rsõd't�âvo. ..
i escondido, nem o inconsciente, a estru tura profun da, náo
! ~ -- · · à -e s��ta analítica se situa no funcionamento .l aten te, revelada de um consciente manife sto. A relaçâo não se esta­
subjac.ente do significante, junto ao material lingüístico. No belece nesses termos, m:;is toma o movimen to geo grM1co de

66 67

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um percurso sem direito nem avesso, de onde o sujeito se e) O sujeito d efeito de linguagem. Se para L?:� -�-� linguagem
· ·
enuncia sem. saber o que diz em uma fala que diz muito sobre ra:-
condição ci� ,ínc� n scienút e ..� Í fl-()OQ��ien-te � o dis-
este saber (Roudinesco, apud Authier- Revuz, pp. 1 37- 38) . - cú.rso do outio" . o sujeito é "compree�dido -��� um.ef'efro
defi"õguágem·, vistf��rn.. ,��. r.ep�es���Fº que depende
b) O sujeito é des(_entra�- A descoberta do inconsciente por ,..das formas da lin guagem que ele enuncia e que· na reâliaàde
... . . . ·---·.. •··- .. ·--- ·-·--- - ·�· -- -·· --·�-·--• . ..
Fr;�;c�;ia' p r�voca:d o conseqüências semelhantes às das '---.
o enu n·ciãm;"'�o'- sujeito n ão é senão da ordem da lin�gem
--- ·-
'

. . �- ·· -·-- , -·
' .... __,......,_._...___ .. .. - -- ----· .. .. .. . .-- . .... -· . --... . .. . - . . .... .... .. . ... .. ....
, .,. .. :-

· 1 "'feridas naccfsicas" infli gidas ao homem po r duas o u tras ' fürq-Üal de tem,_sjdoy!culturado". Para CJément "o O utro
'"
grandes descober tas anteriores: a de Copér n ico que, ao e õl�ar estranho de onde emana todo discurso: lugar da
declar ar que a terra · não é o cen tro do un iverso, provoca família, da lei, do pai, na teoria freudiana, liame da his tória
um forte deslo c ame nto na con cepç ão de mu ndo que o e das posições sociai s, lugar para onde é remeti.da toda subj e­
ho mem passa a ter e a de Dar win que, ao afirmar a ascen­ tividade" (apud Authier-Revuz, p . 1 37) .
dência animal do homem, apaga o mito da sua origem
divina. Com a descoberta freudiana o eu perde a sua cen­ A pare· r da análise das marcas explícitas da hete roge­
trali dade, não sen do mais "senho r de sua mo rada,.. neidade mostrad a, articulada com a h eterogen eidade cons­
titu tiva da linguagem, tomando co mo apoio teórico as co lo­
A prática do descentramenro na te oria freudiana m ostra que cações do círculo de Bak.htin e da psicanáHse, Au thle r-Revuz
o centro é um "goJpe m.on cado" pelo suj ei to, do quaJ as ciên­
vê uma espécie de n egociação entre as duas formas de hetero­
cias do homem fàzem seu obj eto ignora ndo q ue ele i:. ima ­
genei dade. Impossibilitado de fugir da heterogeneidade cons­
gi n ário [. . . ]. Desce ntrar é praticar o fapsus e o tro cadil ho, re ­
d nu· va de rocfõ-di� �urso7'o�ralãiíie, ao eipllêfw 'âp.resenç.I'clõ.
conhecer o l ugar do golpe montado, s e m. no e ntanto, pre­ ·
outrO"ãtravés ck.s°"'màr êâs· ctâ."liêrerogêjícidadç· ni'�-��,:�da: �� -·
tender aboli-lo (Roudine sco, a..p ud Authi er- Revu:z, p. 1 36) .
pressfi1õ�fimdó- se· ü &s�� de ·d;;��-�i;:· 1�i:� movido i, p�la - ..
a
ilüsãõ ó 'êénfrõ ,
º
-�r·�··
pro·��s-�� �.. d;��gàçio:�01-�iJ�·­
Não há, portan to , centr o para o sujeito, fo ra da ilusão e do
" Fantàsiriã. Esca ilusãÕ7êlêsignaciapÕr _ f�_e_�fi C<>ajo'a "furição
t:afua� --
. ......
·o_utr'ô �é �kliridi ,O: �ic:_ú· :tiigâi,� . Q J.;:{��;�gol)t.l la. o seu
iliiúír o, nun,t!. te.!uativa _de '\:irçun.tcrever e ,afirmar . o_ um" .
s
·ao - dé.scoiilieci:rn'en to do eu" é uma tendência necessária e .....__,h�I' '

rlôtmal para o súj eito . Em outros te rmo s , é pr óprio da cons­


eu
·tltu içãó do sujeito a função que o 'à.S-$ume de man ter a _ilu­
A te o ria poJi fô nica de Oucrot
õ
si . âe úni centro . o que inipén ãéprõ cú rar �� �hecer a
i �iâ'.rde · aesti iiili'ãô:'" não tmnAr os enganos co nstruídos p do
j: Embora se situe numa perspectiva diferente à da análi­
' ; suj eito pela realidade que mascaram; como rambém ,zálJ ig­
se do discurso, não se pode deixar de expor aqui a contribuição
'
1 '
' nomF estes mgan os como ilusórios tksronhecendo seu cardtrr
de Du crot sob re a quesrno da polifonia.
real " (Authier - Revuz, p. 139) .

68 69

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..
',
,
t

Ducror (1984), 1etomando o conceito de Bakhtin e sentido, estão aquelas sobre o(s) autor(es) evenrual (is) d a enun­
1 operando-o num nível lingüistko, vai mostrar, segundo a ciação. Sua rese comporta duas idéias:
perspectiva da semânt ica da enunciação, como mesmo num
enunciado iso lado é po§sível detectar mais de uma voz. • a atribuição à enunciação de um ou vários sujeitos, que se­
1 '

1
'I ' -
1 '
;-
' No seu "Esboço de uma Teoria Polifônica da Enuncia­ riam sua orige m;
ção " , o objetivo fundamental de Ducrot é contestar a tese da • a necessidade de se dí tingujr entre esres sujeicos pelo menos
unicidade do suj eito falante. Segundo essa cese, a�_ribuem-se � dois tipos de personagens, os locutores e os enunciadores.
.
sujeíco trê$ _propriedades
-··
que Ducro-r assim especifica:
..... � ···- · · . - ··
Embora considere os pares opositivos: locucor/alocu­
a) ele _(g _ ç���r,_eg�g� de toda a�vicJ.ade psicofis.iológjca n�.: tário; enunciador/enunciará.rio; &lante/ouv inte, Ducrot dep
�;;sária à produção da - e�unci:icÍo; · · - · senvolvc sua teoria em torno apenas do primeiro e emento
o
b) el�' é autor, a origem dos at�S Ü�cucórios 0:�cutados _�ª -~
.
desses pares (locutor, enunciador, fu.Jante). Para compreender
produção do enunciado (atos do ripo da ordem, d.a p��- - a distinção locutorienunciador, de se serve da teoria da na r­
. · . - -. - - · · - - .. . �-
gunta, da asserção .:.); rativa apresentada por Genette (Figures III, 1 972) . Baseado
ã
t e) �ém d ·prodú_çãÕ.. física do enunciado e da execução dos nessa teoria, Ducroc faz duas distinções:
atos ilocutórios, é habitual atribuir ao sujeito falan_tf uma
terceíra propriedade, a de ser desíg��4�· - �llj. � enunciad9 Primeira distinção: locutor/sujeito falan te empírico.
�a.r,cas da _primeira pesso����,d� �ª-� de�ignam ui;p
ser excrali!!� ele� nesre ca.so, suporte 4o� processos A teoria de Genette faz aparecer na narraci a duas ins­
.lz>:
�ressos por ty:n verbo cujo s_ujei\o é eu, o proprietário dos . tâncias semelhantes às por ele detectadas na linguagem or­
obféiôs qwtlificados de meus_, é cle que se encontra no lugar diJlárfa. Podemos esquematizar assim as suas colocações:
chámado aqui.. . E torna-se c,onseqüenteme�t� q4� �. te. ser.
designado por eu é ao mesmo - éemp9 Q Çffi� P.�0.4�� -º - �n.un.­
- - -- - -- .- - - - - -- - - -- - - - - - - - - -- � 1
Gencm:
ciado, e é também aq�el_e cuj_ ,_ �nt.;:f!ci�4�. -�e!:ígie as p_;:a­
Oucrot

messas) ordens, a,sserçõ� ,etc,,. (p . 1 89 ) . P instância: na rrador m locuoor


X X

Contra essa tese da unicidade do sujeito, Ducrot esboça 21 instàocia: autor lõO . sujeito fii.lante

sua teoria p-oli.fônica, parrindo do pressuposto de que.... '?._ �e{!­


tido do enunciado é uma descrição d� sua enunciação e para . - - - - - -- �- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - �
1
1

essa descrição o enunciado fornece indicações. Dentre as in­


dicaç�� fu�cÍamentals que o enunciado traz inscr itas em seu

70 71

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A figu ra do locutor corresponde à fi gu ra do narrador Segunda distinção: locutor/en unciador.
da teoria de Genette. O locutor é apresentado corno resp on�
sável peJo dizer, mas �ãÕ é um serilõiiíüiid'ô �· p�is· trà��� � � Es q uern aricamence, o p aralelo que Ducrot estabelece é
ú�a-b"cç'ã:ó él��ursiva. É �quele q ue fala, que conca:· q�� t tido o segLtinte:
éoriio-fõiú:ê -a;; âíscuiso. É a ele que referem o pronome m e r - - - - - � - - - - - - • • - - - - - - - -- ,
as outr� marcas da p rimeira pessoa.
+
Genetre Ducrot
Assim como o narrador se disting ue_ �-º·-�1:!!�2. g)_c::ic,µ_t�r
f���� ·;i=n
se disc};;gi.� &l�·s-Üjeiro p_ i�tçº_;..
o prtl4_1,1tor efçgv.ç,.. narrador (o q_ue fala) _ locuto r
'dêi"eniiiiêfado e ·ei�-e�io� ao seu sentido. S eg undo Genetre, o X X
á _,.......,_ centro de penpecdva _ counci:idor
ãutõnI.c· ·umã· nàfràtiv (roriiãncis"ta ou novelista) mobiliza
(o que vê)
um narrador, responsávd pda narração e que tem caracterís­
ticas diferentes das de um autor. Den tre essas características,
citam-se três:
-- --------- --- ---------�
("sujeito de consciência'')

O enunciador se disti ngue tanto do locutor q uanto do


• a primeira, desenvolvida por Genette, diz res peito à atitude sujeito falante . a figura da enunci ação que represe nta a t
do narrador em rdação aos acontecimentos relatados: en­ pessoa de cujo p_onco de vista os aconteci mentos são apre­
quanto que o autor imagi.na ou inventa estes acontecimentos, sentado s. Corresponde ao "�entro de perspect"va" de G en��
o narrador os relata; o�- àõ" ";ujeito de consciência" dos aUtores americanos. Se o
• a segu nda relaciona-se com o tempo : o tem po gramatical locutor é aq_y�que_fa1ª,__q�e . cont.i.,,_ o_ enuncia d r é a�,ii:;�ie
c:.i
utilizado nwn relato pode muito bem não tomar como pon­ 99� ve, é.9.J.ygar_ru:_QOM.,Se <LibA. sem gue lge�jª1tl atribuídas
to de referência -0 momento em que o autor escreve, mas palavras precisas:
.---.____ r_ ,_.. �

aq uele em que o narrador conta. Por exemplo, um autor,


vivendo em 1 99 1 , pode imaginar um narrador, vivendo no Chamo enunciadores estes seres que se exprimem através da
ano 2 1 00, que conta o q ue se passou no ano 2000; enunciação, sem que, no entanto, lhes sejam atribuídas pa­
• A terceira diz resp eito à existência empírica que é p redicado lavras precisas; se eles falam é somente no sentido de que a
nece5sário ao auror, mas pode ser recusado ao narrado r. enunciação é vista como exprimindo seu pomo de vista, sua
Assim, da mesma forma q ue o narrador é um ser fictício. posição, sua atitude, mas não, no sentido material do termo,
i nterior, o locutor é um ser de discurso q ue� p ertencendo suas falas (p. 204) .
ao sentido ,do enunciado , está inscrito na descrição que o
enunciado dá de sua enunciação . Assjm , a�de "'..9, ue fala" e aq uele "que vê" co nstitue m

...
papéis não-atri buíveis a um
• • ·• • , , '• , ' ' , • • �
ex, '" •
único ser:·Ks'atiriidês - pre·�s;�
. • .. . .. r

72 73

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no discurso por um locuwr pod�_ID; _ser atribuídas a enuncia­ E m "a",folizmente refere-se à. perspecúva de Pedro e não
dores . dos quais de se distancia, "como os pon os de vista ma­ à do Jocutor responsável pela totalidade do ,e nunciado, como
·ntresfo�- niimà narração podem ser..os. de sujeito de consciência no caso "b".
estranhos ao narrador". No discurso indireto livre o locu tor fala de perspecti�
- - � A polifonia pode ocorrer tanto no nível do locutor quan­ vas enunciativas diferentes, mas sem demarcá-las lingüiscica­
,1 l
to no do enunciador. Ex.a.minemos como se dá esse fenômeno mente:
nos diferentes casos de discurso relarado.
No nível do locutor a polifonia se manifesta nos casos
t r
"' Pabiano meteu os oJho� pda grade da rua
em que há desdob ramentos da figura do locutor. No discurso El
direto , um caso de dupla enunciação, temos dois locutores:
L I e L2.
1 El � E2 rr
Chi! que pretumd O lampião da l!liqui 11a se:
El
apagam"
1
l2
Pedro me disse: eu preciso (G. Ramos, Vidas seca;)

li
.fuquema1jcamencc , temos : L fEi
lEl (-L)

Ternos, no enunciado acima, duas figuras de locutor: um cm que L representa a figura do locutor que fala de duas po­
L l , responsável pela totalidade do enunciado, e um L2, res­ sições diferentes, instaJando--se uma a.mbigüidade contextual
ponsável por parte da enunciação de L 1 . As fonnas de primeira com es.'la. duplicidade de perspectiva. O enunciado "Chi! que
pessoa (expressas pelos pronomes me e eu) referem, portanto, pretume!" expressa a fala do locutor de sua própria perspectiva
locutores diferentes cujas vo'lleS estão lingüistícamente demar­ (El ), mas, ambiguamente, reflete também a perspectiva de Fa­
cadas. Considera-se a polifonia no nível do locutor um caso de hiano (E2) .
"polifonia fraca" . Para provac a percinênáa da figura do enunciador, Ducrot
o discur o indireto, a pol ifonia ocorre também de (1 984, pp. 2 1 O e segs.) estuda outros casos de dupla enunciação
fo rma marcada, mas com wna fro nteira menos ddímicada como a ironia e a negação.
po,rque locu tor inco rpora lingüiscicamente, na sua fala, a de Segu ndo Guimarães. nessa reromada do conceito de po­
L2. O uso de determinadas palavras, expressões, pode mo­ lifonia, Ducrot exdui a noção de história que, para Bakhtin, é
dalizar o enunciado demarcando as perspectivas de q uem fala:
: ª;
uma noção fundamental. A noção de historicidade em Ducrot
se+�es-��� !� p���-n-��' ao �õinê'ii i:� · �-��;;�;� -���_ciaçã�-:
a) Ped ro disse que felizmente virá amanhã. ''.A realização de um enunciado i um ��ntecimenco hi scóri co :
b) Felizmente Pedro disse que virá amanhã. é ããaã"ex.i�êên.cia a algo qu� não existia ante_<ii gu� �.fulasse e que

t1,.
i ,f
- J i.
74
iíãô"e:ãstirá·•aepàk É esr.à apari ção momentânea que chamo
75

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) de en�n• atravessada pela "evidência da existência esponr.\nea do
'en unciação (p. 1 79 . Os conceitos de locut or e
"'

sujeito (como origem ou causa em si) " e pela "evidência


ciador, elabo rado s por Ducrot , consciruem , entretanto, ms­
gá p p ro posta do sentido", a questão de uma constituição do �eE-_tido e_�.9
crumenros de análise de ine vel valor o eracional. A
, é a de re• sujeito a se proce5sar simultaneamente através cLi. figur-a da
dos analisus do discur so ,. que a eles têm recor rido
p gi ente no . infêrp1la.--çãõ iclêôlóikà�-• -- - •' - - -. --.--- ·····• . . . . .. . . .
cup erar a no ção de histo ricid ade resen te ori nalm
conceito de polifon ía de Bakhtin.
Segundo Pêcheux,

Sentido e sujeito na análise do discu rso o sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe
em si mesmo (isto é, em sua relação transparente com a lite•
se do discurso , é essa conce
pção de suj eito ralidadc do significante), mas � determinado pelas posições
T a análi
Para
que va p�-�d;�d� -� -p�i;id;J'e centrada ora no tu �ra n� tu e ideol6gicas colocadas em j ogo no p rocesso sócio-histórico
d de
se enriquecen do com uma reaç ão dinâmica entre 1dcno : em que palavras, expressões, proposições são produzida5 (isto,
l

e alceridade - q ue vai ocupar__ <?..�:-Otro__�� ���. �re�c°:l?�.'?.Jes é, reproduzidas) (1 975, p. 144) .


atuai s. Para ela > o centrÚ o da relação niio está nem_�?. . .'°"
. .���
no tu, mas no espãÇ� c�_rsiv().q-ia.<!,O__ ��t�� �_b_2�- O suj�o Parafraseando a si mesmo, Pêcheux explicita essa idéia
's6 consr r6Í sua id��tidade na interação com o outro.,:.�}?
..�s;­ afirmando ainda que "as palavras, expressões, proposições mu­
ea�clessa íntera12�c��:rJ?<lomíllio � � u�_.do_s dam de sentido seguncl.Õ'p�i.�fü!i fs'usterttada.s" po r aqueles que
do)
interlocucores > em s1 , é paraal e só tem a unida de no (e as·ernprigàm;'o que;signlfici'qüé'das româin o seu senrido ein
texto. co�eqÚ�nceme1�re, a_�i9n���ç.�� �e--��- no es�� dis­
i
tefeiêri'cia. â estas ·posi'ções;·'rsto-t;-em " feférênêii formaçõe; as
cursiv� °(int�rvalo) criado (cons ciruído) _pdos/ nos dois mter- [àloMifiàs (. ..] nas quais essas posi�s se iizscrevem » . É, dessa
lo�utores" (Órlan di, f9 s s) . - Essac itação nos acena para, pelo forma, éjüé "in c.ródui, ·nétboj·o da sua. teo�fd �iict� ��;u pam um
meno�,- duas idéias básicas à análise do discu t5o : papel fundamental, os c.onceitos de formação ideol6gica e de
formação discursiva.
1 ) A idéia d e que �- _s �?..t!��assÍ;p_.!=�.!:1,?_ _o_��J���- n�o...�.ã�. O concdto de formação discursiva norteia a referenda
,
dado s a prjorí, ·isto é, na exp ressã o de Pêclteux (1 9 7 � à interpel aç ão/assujeitamenco do indivíduo , em sujeito do seu
·p.-fT9}; -n�o'" são "toujours déjà�donné" , �� _sã�;;;e��.�•: discurso, como veremos adiante. Definido como "o que pode
ruídos no discurs9, descartando-se uma concepçao sdea­ e deve ser dito por um suj eito", esse conceito possibilita o fato
lisra eia n��� d/su bjetividade que aparece "'como fonte. de que sujeitos falantes, tomados em uma conjuntura h.isf
orige m, ponto de partida ou ponto de aplicação" . Pêcheux. ! tórica determ inada, possam concordar ou se afrontar sobre o
contrapõe, a toda u ma filoso fia ideal is ta da linguagem sentido a dar às palavras.

76 77

Privacy
2) A idéia do descentramcn to do sujeito, de um sujeito que, jei tos. Suj eitos que implícam uma dimensão sçci_al .mesmo
embora fundamental, porque não existe dis curso sem su• ·�uancfÕ-n o-mãisTiiãmõ"de súãs'cÕn� iê��- r: alizam opÇ.<>_�
jeito, perde sua central.idade ao passar a integrar o funcio­ morais é escólhêm vãlores· qúé Õri��t�Ín sua açã�-incfí�dual. _
1 .
I;
1 namento dos enunciados. Atravessado por um a teoria da A tonstltuiçio .�fo · §uj�Úo.d.eve· ·scr .b�c��. P�ft�,
subj etividade de natureza psicanalítica, o quadro episte­ no bojo da i_d��logia: o "nã�-�-uj.eitc(. é _in_���!.:m o.� ..���tim�-:­
i'
mológico da AD "não centra mais a problemática no su­ �<> _pd� ��C?!?gi�: ·segundo Althusser, "não há ideologia senao
jeito, e sim nos sistemas de representação". A AD é crítica pelo sujeito e para sujeitos" . razendo essas colocações para
em relação a uma teoria da subjetividade que reflita a ilu­ o terreno da linguagem, no ponto específico da materialidade
são do sujeito em sua onipotência; nela "a ideologia (rdação do discurso e do sentido, Pêcheux ( 1 975, p. 1 45) diz que
com o poder) e o inconsciente (relação com o desejo) estão "os indivíd uos ão 'interpelados• em sujeiros-falan res (em
materialmente l igados, funcionando de forma anàloga na sujeito de seu discurso) pelas formações discursivas que re­
constiruição do sujeito e do sentido. O :sujeito falante é present am 'na linguagem' as formações ideológicas que lhes
determinado pelo inconsciente e pela ideologia" (Orlandi,. correspondem" .
1 986, p. 1 1 9) . Í nesse sencido que Pêcheux propõe uma Assim, é a interpelação ideol6gjca que permite a .iden ­
teoria náo•subjetivista da enunciação que permita fundar tificação do S�J�ita, e �la tem um efeito por assim dizer �e-
uma teoria (materialista) dos ptocessos discursivos. . tr-oarivo ria médídá einque fuz com q�e to�to. _ suje�tg seja
"s�me� 1��,��L�ito". l!mj•-é; ·tto ' suje1ro é desde sempr� um in­
divíduo iricerpclado em sujeito •. É isso que permite a resposta
absurda e natutal "sou eu" à pergunta "quem está aí?", mos­
Um a teori a n ã o - s u bj e tivista da en unciaçã o
trando que eu sou o único que pode dizer eu faJand.o de mim
Para a forrnuJação dessa teoria comam-se co mo bási­ mesmo.
c.as as colocações de A1chusser qµe, segundo Pêcheux ( 1 975, Essa interpelação de indivíduos em sujeitos se faz em
nome de um Sujeito (com S maiúsculo) iínico e absoluto: "O
p . 1 22) , na sua obra Ideologia e aparelhos ideowgic01 de Es­
tado, "'verdadeiramente colocou os fundamentos reais de uma indivíduo é interpdado em suj eito (livre) para que se submeta
livremen te às ordens do Sujeito, logo para que ele aceite (li­
teoria não�subjecivista do sujeito, como teoria d.as condições
'! vremente) seu assuj eirarnenro'' .
1 ideol6gicas da rcprodução/cransforrnação das relações de pro­
dução, estabelecendo a. relação entre i n consciente (no sentido Essa colocação de Alchusser apresenta desdobramentos
freudiano) e ideologia (no sentido marxista)" . que refletem:
Pêcheux parte da tese de Althusser, segundo · a qual "a
ideologia interpela os indivíduos cm sujeitos" . Isto é, o espe­ a) a estrutura especular de toda ídeología que assegura ao

'···- - -·--- -- ........-


cífico da ideologia é co nstituir i n d ivíduos concretos ;m: ·su� mesmo tempo:

78 79

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1 ) a interpelação dos indivíduos em sujeitos: Há, portanto , uma con tradição no interior desse !�­
2) a sujeição dos indivíduos a um sujeito absolu to que ocu­ jeit?: não sendo nem totalmente livre nem totalmente sub­
pa o lugar do centro; metido 1 o espaço de sua constituição é tenso (Orlandi et a.l.,
3) o [econhecirnemo mtituo entre os suj eitos e o Sujeito 1988), poís, �?Elesm� teµ1_p_c> em que é interpelado p� i4eo::­
e dos sujeitos entre si, e finalmente o reconh.eciroento do logia, ele o�_pa, --µ� formação dis���f��-- q�� �- -determina,

o
sujeito por si mesmo; -cÕÍn-suà];:fscória pa.rticuiar. um lugar que é -ess�na;_i-.;-en ce
4) a garantia absoluta de que tudo é exatamente assim e de se�: ''êàrutsujei'tõ_éãss-ujeiiado nõ· üniversai··oom "síngul;r
que rudo correrá bem sob a condição de ,que os suj eitos �substicufvel"' (Pêche'la, 1 975, p. 1 56) . A identificação do
reconheçam o que são e se com portem de forma con­ sujeito do discurso com a formação discursiva que o domina
seqüente. constitui o que Pêcheux chama a "'forma-sujeito" . A forma­
sujeito é, portanto, o s ujeito que pas5a pela interpelação ideo­
Inseridos nesse sistema de interpelação, os sujeitos, na f 6gica ou, em outros tc.rmos, o sujeito afetado pela ideologia.
maioria das vezes "caminham sozinhos" , isto é, com a ideo­ Dessa maneira, reiteramos a afumação anterior de que
logia cuj as formas concretas são realizadas nos aparelhos ideoló­ nada é dado a prio ri: não apenas o sujeito (aliás, segundo
giros de Estado. A estes, os "bons sujeitos", opõem�se os "maus Courtine, 1 98 1 , não há sujeito do discurso, mas diferen tes
suj eitos" que, não caminhando com a ideologia, provocam posiç6es do sujeito ) , mas também o sentido, uma vez que as
a ação do Estado através dos seus aparelhos repressivos palaYras só adquirem encido dentro de uma formação dis­
(Althusser, l 970� p. 1 1 1 ) . cursiva. Concebe-se, assim, ? . s�tj_�o como al go que f_)2J_q­
duzido historicamente pelo uso e o discurso como o efeito de
b) a ambigüidade constitutiva da noçáo de sujeito que se situa sentido entre locutores jfosicionados em diferentes pcrspeç­
paradoxalme nte entre: �ivas '. Pêcheux ( 1 975 , p. 1 4 5 ) coloca isso da segu in te forma:
! .
1 ) uma subj etividade livre enquanto centro de iniciativas, Se uma palavra, expressão, proposição podem reçebec sen ­
senhora de sua vontade, responsável por seus acos, que tidos diferentes [ . . . ] conforme refiram a tal ou tal formação
lhe permite "caminhar sozinho"; discursiva, é porque [ .•. ] elas não têm um sentido que lhes
1) e uma subjetívídade assujei cada a uma ordem supecior seria "próprio" enqu.anto ligado à sua literalidade, mas seu
(submetida às coerções das: condições de produção), por­ sentido se constitui em cada formação discursiva, nas re­
tanto, desprovida. de liberdade, exceto a de aceitar livre­ lações que entretêm com outras palavras, expressões, pro�
mente sua sujeição. posições da mesma formação &cursiva..

8 ,0 81

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A il usão discu rsiva do s ujeito 'lusão de que o discurso reflete o conhecimento objetivo
que tem da reali dade. Constitui o pomo de articul ação da
Afe tado, entretanto, por dois tipos de esquecimento l.ingilistica com a teoria do discurso.
(Pêcheux. e Fuchs, 1 975, pp. 20-21 ) , 9 sqj,e ito cria u m a rea­
lidade discursiv a ilusória; A co ncepção de um sujeito marcado pda idéia de uni­
dade, do centro, fo nte ou origem do sentido constitui para
"'
• p do esquecimento n• J, em que se coloca como a origem do a AD uma "ilusão necessária , construtora do suj eito. Ela, no
que diz, a fonte exclusiva do ;�cid� d�-seü - discu rsó· : De entanto, n ão só se posiciona criticam ente em relação a essa
nãruré�a · i���de� c� e · ide�lógica - � daí s�r o ��to de ilusão, recusando-se a rep ro duzi-la como retoma a noção de
articulação da linguagem com a teoria da ideo ogia -, é disp ersão do sujeito (Foucau lt, 1 969), ao reconhecer o desdo­
uma zona inacessível ao sujeito, aparecendo precisamen te, bramento de papéis segundo as várias posições que o sujeito
por es.ia razão, corno o l ugar consti tu tivo da su bjetividade. ocupa dentro de um mesmo texto. É isso que leva O rlandi e
Por esse esquecimento o sujeito rejeita, apag�, _inconscicn­ Guimarães ( l 986) a conce berem �4!. $5;.YJ§Q.. co mo J.JJP..-! .. 9A��
remente,"qüãlquer elemento que r���ta- �� �teri�r � ��� persâ?.�!.�!Q_te Ç tgt9 ÇOl!lO.. �a cµp�r_s�_9..�4�.•�j� t�•.r4;)r
fõrfüãção' discurs iva; p�r ele é que o s uj eito "re�-�� �� . e§$..a e texto enq uanto dispers�o do s ujeito, ent�nda- se a perda da .
não . . õ"i., éci " seqüê' n'c ià .pai:a que o bre��� ��e e .não. outro s_e nJ ccn tra!idadé de um suj eito uno que passa a ocupar várias po­
!1i§.. Nesse p rocess� de apagamen to, o s uj eito tem a ilusão
de que ele é o criador absoluto de seu discurso;
sições e m�ciarivas; por dis curso enquan to dispersão de textos
e�tenda�se a possibilidade de um discurso estar at ravessadQ
• pelo erquecim.m to ,,e 2, que se carac teri za por u m fu ncio­ por várias formações discurs ivas. - "'
Segu ndo Pêcheux, fffi um
-- . - ···- -·· · ·- -
namen to de tipo pré-cons ciente ou consc iente na medida mesmo tex �o �e�-se enoon crar vá ri as. formações discur- _
em q ue o sujeito r etoma o seu discurso pa ra expli car a �i -�ivas, estab elecendo -se uma rd ação de dominincia de .u m a_
mesmo " õ que ·ah, · para fo ;m�I�:fõ 'ffl_ais �àdêq.uad�- � te, fo r� ação _discurs iya sob re a(s} outra(s) .
. para apro fundar ·o que p�ns a: · na medi da em q ue, para an ­ Assim, há uma het ero geneid ade qu e é cons t itu tiva do
tecipar o efeito do qu e diz , u t iliz a -s e de "estratégias di s ­ próp rio d iscurso e que é p roduzida pela di spers ão d.o suj eito.
cu rsivas" tais como a "interr o gaç.ão re tórica, a reformulação Essa hete rogene idade , enc re camo, é trabalhada pelo lo cutor
tenden ciosa e o u so m an ipu latório da ambigü id ade " . É a de tal forma qu e, imp ulsionado por uma " vo cação to talizan ­
operação de se leção lin güís tica. q µ<'. codo falan te faz e��r�. te" faz co m qu e o texto adqu ira , na form a de um co n ce rto
�- q� e -.é · dí.to · e o q�e deixa de s ei; q.i to; ·;�- q�� �-. .-�;� - fot��i- or polifônico, uma unidade, u ma . coerência ; qu er harmonizando
· da fo ��ção discursiva qu� o dom ina, elege alg�� formas as di fere ntes vozes , quer "apagando'' as vozes discord antes .
e seqü ências q ue se enc ontram em relaç ão d� _ par�rase e Essa unidade text ual, consti tuída enqua nto dominân­
. .. - "esqúec.e" , oc.ul�a �. o.u.w.s. Essa o peração d á ao suj eito a ci a, é um efeito d isc ursivo que deriva, se gundo Fo ucaul t

82 83

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( 1 97 1 , p. 28), do prindpio d0 autor que funcionaria como rid.ade (con texto sócio-histórico) e mais afecada pelas exi{
uma das ordens reguladoras do discurso. Nesse caso ? autor
:,
gências de coerência, n ão-contradi ção, responsabilidade. 5
não seria aquele "entendido como o indivíduo q ue fala> que
p��nunciou ou esc.reveu, mas o auror como princípio de agru:. · · Essa no ção do suj eim que se desdo bra e assume vários
,e�me�to_ elo discurso como un idade e origem de "sú� signi: p apéis no discurs o nos remete ao conceito de polifonia, ela*
ficações, co mo foyer de sua coerência" . Neutralizando uma bocado inicialmente po r Bakhtin, q ue opõe (como j á vimos)
concepção de subj etividade marçada pela dispersão, pelos di­ wn discurso p olifô nico, tecido p do discurso do outro, a um
ferentes estatutos que um s ujeito pode assumir no seu dis­ discurso que quali fica como monológi co. Para nós, não há dis­
curso, o prin dp i•o do au tor é o elemento que centraliza, que cursos constitutiv amente mono16gi cos, mas discursos que se
ordena, que dá unidade ao discurso, excluin do os possív eis "fi n gem" mon ológicos na medida em que rec.onhecemos que
dem entos desviantes pelo "jogo de wna identid ade que tem toda. palavra é dialógica, que: to do discu rso tem dentro dele
a fo rma da individualidade e do eu". O _ p�i ndpio do autor outro discurso, que tudo que é di to é um "j á,dito". É nesse s en­
_
�-�taria. o acaso do 4iscurso, sua prol ifer �� �"1: �ucfr,_ q�e tido que Orlandi e Guimarães ( 1 986) falam em uma mono•
_ _
pode "con ter de violento, de descon tínu o, de �tal_had'?rd·k .. fon iza ção da polifonia enunciativa, como processo de apa­
desordenado e de peri goso . Tudo se passa cô�� se interdi tos, gam ento de vozes que n a turalmen te i ntervêm no d iscu rso
, h.irragens, liru ítes fossem dispostos cfe máneÍradtrlgfJã:�e p elo seu caráter social e histórico.
suá clesõrdem fosse" ôrgan izada; control:ãêlá'' . . Um balanço dessas reflexões sob re a consti tuição da sub­
'"
. . . · Estefiâerido a · noçiõ ale ·autoria de Foucaul t, O rlandi e j etividade revela as contradições que marcam o sujei to na AD :
Guimarães ( 1986) atri bu em-lhe um alcance maior ao esp e­ nem totalmente: livre, nem tocal mcn te assujcitaào, movendo­
ci ficá -la co mo necessária para q ualq uer discurso e colocá- la se entre o espaço dis cursivo do Um e do Outro; entte a "incom­
na origem da textualida de. Para es ses auto res, a.inda, a uni­ pletu.de" e o "desejo de ser completo" ; entre a "di sp ersão do
d:ide construíd a a par úr da heterogeneidade discu rsiva através suj eito" e a "voe.ação to talizante" do locutor em busca da u nj­
do pri ncípio de au toria se faz p� r uma fu nção enunciativa. d.ade e coerência texcuais ; entre o caráter polifô nico da lin­
Nes se sentido , d is t i n guem as se gu i n tes fun ções do su j eito guagem e a es tratégí a m o nofoniz.ance de um loc utor marca do
-· � .. ·· .. · ·- .. ..- --�-· · ... - '
fal an te : pela il usão do sujeito como fome, origem do sentido.

( • locuto r: é aquele que se re presen ta como eu no discurso ;

\ • emtndador: é a . pers pectiva q ue esse eu cons trói ; Co n clusão


) • auto r: é a função social que esse eu assume en quanto p ro­
é Ao faze rmos o percur so teórico em que caminhamo s da
) dutor da linguagem. O autor , denue as dimensões enun­
ciativas do suj eito, a que está mais de termínad.a pela exterio- teoria subjetivi sta da teoria da enunciação para a teo ria não-
(_

,I
84 85

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1

subjetivis ta da análi se do d is curs o, o q ue n os pr e o cupou fo


i
ve rific a r como a quest ão do hist óri co e, conseq üencem enc e ,

d o ideológi co se insere m na quest ão d o lingüístico e co m o

C A P L O 3
is so acarre ta perspect iv as disc ursiv as difere ntes .
IT U
A obs e rva ç ão n o s m os t ro u q ue en quan to a qu est ão d o

histór ico e do id eológic o não é uma preoc upaç ão que se c


o ­
loc a, o s ujei to (r al co m o p ropos to p or Ben venist e, p or exem ­ SOBRE A NOÇÃO DE INTERDISCURS IVIDAD
E

p l o) es tá c e ntrad o na do minânc ia d um E U m ar cad o pel a

unicidad e, pe la idé ia de fon te a bs o lu ta de sentid o . À medid a

qu e pas sa a se inco rp o r a rel ação locut or -ouv int e, n um


a
ar

Fundada no rinc íp io d o dialo � m , uma r e flexão so


r e
b
perspectiv a dialógic a, co m o elemen t o funda m en t al n o pro p g o
­
:
a iden tidade d o disc p d de ix de p i ri7.ar uma c a ­
ur so n o ar r o
ã
cess o d e significaçã. o, e n t ra p ar a o i m bi t0 dos estudos l in ­
o e
d a
a rac t erís tic u e lh e é f undam e al. e q ue f oi a
o n t a a n­
á
güísticos preocupaçã o com o socia J, co m as c on diçõ es d e a
q nt j p
ter i o rm en t e: a sua h e r e ro g en ad e . He t e ge n e qu e l g a
eid idad i
produçã o. Es sa preocupaçã com o Outr o in troduz: necess
ro e
o
a
­
de m ane i r a co Me d o dis curs c o m s eu Ou ro
\
riamen te o conc eit o de hinór ia e o de ideolog ia qu e vêm d s
n titu t i
v a o sm o o o t
­
o u, em ou t ro ue i r içã discur o da
es
locar o co nceit o de sujeit o. Este perd e o se u cen tr o e pass a a
s
t er m o s, r m te
i
a n o s ­
q pe nsc o
amar "e x i r ". O dis u rs
s e caract erizar p e la dispersã o, po r um discurs o he terogên e o
quil o q u e s e co s tum a
c h
s eu ter
o
c o m o ro a

es sa h e t e r ogen eida de a a vé m o a ne ga ­
tr s
qu e incorpor a e assum e di fe ren te s voz e s sociai s . de mar c as ex p lí ci tas,
co
d e fo r cl ra
çã o e o dis c w
s o r ela
ta d
o e u e s e delimita m a a a
m
q
alt erida d e discu mas
a ; n e s e
pr e o c a rát er he t e ro g ên e o
r s i v m
m

da in te ra
ç ão en unci
a ti
v a t em m ar cas vi s íve i s q u e um a a bor da. ­

ger o lingü ís tica s p os s ibili te ap re .


tric
o t
s ensu e n
d
er
C o ur Maran (1 9 8 1
n e a
ti e di n )
çã o cr ­ v al
ia
faz em í u ma
tic a d o cun p od a AD , q u es ri
o nan
d
o c o
a
qu e a b am p r
t r a bal h
s
o

]. escamo tea r e s t e car á


te r he t e ro g ên eo d o discur so .
Sã o tra ba l ho s

q u e buscam a "a p e ensã o d o


r
idên tic o " a
n t en t a c
jv a d e e l i i ar
m n

sistem a ticam nt e t o d
e a for m de he ero en a de . At ra s de
id é
e v
a
t g
pr o c e dime s d e ho o " p r oc a paga a s as ­
g e n e ur am
nt o i çã
mo za
r
p er dis cu r s iv ,e limi
n r as r tr
inci
qu e os senti do s
ec n e
ezas as m
a as

p ode s es c o nde r " faze n d o do dis c ur "u m c or po c


s
o
e
h i
m e
o
e
um a su p
e r fíci
e
p ia.n a" . De n tr e ess es p r o ce di
m e nt os , a po n cam :

66 8
7

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' i • a con sti tui , ção de um corpus discursivo fechado em que a limite ri go roso qu e :separa o seu '' interior'' do seu "exterior" ,
1 :
retomada de seqüências discursivas seja garantida; uma vez que ela confina com várias outras FDs e as fronteiras
• as operaç6es de extração e segmentação, nesse corpus, de en tre elas se deslocam con forme os embates da luta ideo­
seqüências organizadas em torno de unjdades lexicais con­ lógica. É assim que se pode afirmar que uma FD é atravessada
sideradas «chaves" ou "pivôs"; esse procedimento torna o por várias FDs e, conseqüentememe, que toda FD é definida
c�us mais homogêneo ao trará-lo como dicionário em que a partir de seu interdiscurso.
a freq üência da repetição dos voca1>Ulos fumece as entradas;
• um conj unto de manipulações lingilisticas homogeneiza­
A relação discu rso-interdiscu rso
i .
dora.li que reduzem o contraditório ou diferente ao mesmo
ou ao idêntico fazendo com que estrutura s sintáxkas di­
Sobre a relação interdiscursiva, Maingueneau ( 1 9 84)
ferentes sejam levadas a esquemas dementares. Í isso que
adota uma posição mais radical ainda ao proclamar o pri­
permitirá, por exemplo, que um torneio enfático seja trans-
mado do inrerdiscurso sobre o discurso. E isso o leva a afirmar
rorma
e do em uma estrutura "neutra" ou que uma frase aova.
seja equivalente a urna frase passiva. q ne ���e-d_�_�!.1#..��!!�?.��!_e _!l!� �- ?.�!�CE. !��!-���.�IP
espaço de trocas eng:s_w,os di�1.u:sos_c�my�J!i�n.�X!1�1l{Ç .�S..:-. _
· �lhido:s" (p. 1 r1�) . Afirmação que pode ser interpretada de
Em vez de wn trabalho de homogeneização, a AD, se­ -----·- •• ,.,--..-.- --•-
gundo Courtine e Marandin, deve propor-se a um trabalho duas maneiras:
que faça justamente aflorar as contradições, o diferente que I ) o �tudo da especificidade de � '4scurso se,· íg.,CQ15'.)C;_.µi_­
subjaz a todo discurso, que não exdua a noção de "heteroge­ do-o em relaçãÕ . cÕ� ��;�os discu�os; . ·
neidade como elemento conscimcivo de práticas discursivas
que se dominam, se aliam ou se afrontam em um certo estado
2) ·-� i�t;�-i���;�;-�sa a ser ;;;�-;_ço· �e �egula.ridade perti­

de lura ideol6gica e política, no .�io de uma formação social


��n'"re�- do·q�
o� di�e��� .di���ISO§..não. �ri;m1 ��ip��­
em uma conjuntura histórica determinada" .
-pône"�c�:�&sétJG'c��is��- a..sua identid�4�. �Q.:UCU:
râd� �páit�dã.refaçi�" interdiscursivas e não independen-
Essa furma de abordar o discurso vai afetar um conceito
- teirienêé ·uns'dõs- oútiós-pã·
. . rirdêpof se,;, em c�!9aq,Qt.em
nuclear da AD: o de formação discursiva - em que se deve .
�dação. . . - - " . . - - .. . -
reconhecer a coexistência de "várias linguagens em uma única"
e nã.o ao contrário, como pensavam inadequadamente alguns, Para explicar o que vem a ser interdiscurso, Maingue­
a existência de "uma única linguagem para todos" . Assim, uma neau ( 1 984, p. 27) distingue:
FD não deve ser entendida como um bloco c.ompactô e coeso
q ue se opõe a outras FDs. Pois "uma FD é heterogênea a ela • . Universo discursivo: é constituído pelo "conj unto, de forma-
_.
própria" e o seu fechamento é bastante instável. não há um ções clisqirsiyas
.. . .
... .
4�- t9.9� 9�_ gpos que int�ragem numa dada
88 89

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conjuntura " . Representa um con junto ac.abado e, por ser No nível d.a supe rfície discurs iva., as formações discur­
. . .. _ ,. ,---- · J

bastante amplo, não pode ser ap reendido em sua globa-


'
sivas pertinentes a um espaço discursivo podem apresentar
lidade; por isso apresenta pouco interesse ao analista, ser­ poucos elementos indjciadores da relação que as constitui.
vindo apenas para defin ir o horizonte a partir do qual serão Por isso, Maingueneau propõe levar em co nta os f u nda­
construídos domínios suscetíveis de serem estudados► os mentos semânticos dos discursos. E como os discursos se
campos discursivos. fundam na relação interdiscursiva, o que se deve é "co nstruir
• Çampo _ díscursivo: é constituído por " um con junto de for­ um sistema no qual a definição da rede semântica que cir­
mações discursivas que se encontram em concorrência, se cunscreve a especificidade de um discurso coincide com a
delimicam rccip. rocamence . e� uma rt;gião determinada d_? definição das relações de.,;;te discurso com seu Outro " (1984,
�iv��o disc_ u:11�0 " (p. 28) . Pode-se tratar, por exemplo, p. 30). Neste sentido, um discurso nunca seria autôno mo:
do campo político, , filosófico, dramatúrgioo, gramatical etc. como ele se re mete sempre a outros discurso, suas condiçõ�
Pertencentes a uma sincronia dada, as formações discurs ivas de possibilidades semânticas se conc retizariam num espap
que constituem um campo discursivo po��-\!�-.a ..mesma ço de trocas, mas jamais enquanto identidade fechada. A
f-Õrma.ção soa.ãl., m;1S divergem na m�e�� -4�_preenchê-- la, noção de FD implica., portanto, sua rdação com o interdis-­
��� sc_e,ncó'ii ü_i�-;; ;� rcl���J��!���a, curso, a partir do qual ela se define:
ou de aJiança , ou de neutralidade. E cada uma define sua r--
identi<ladcpel:únediaçâo dessc "sistcma de diferenças. Ge­ O ínterdiscurso consis te em um processo de reoonfiguração \
ralmente, como não é possível estudar um campo discur­ incessante no qual uma formação discursiva é co. nduz.ida }
sivo em sua integralidade, recortam-se subcampos consi­ [ . .. ] a incorporar elementos preconstruído.s pTOduzi.dos no (
derados analitícamenre produtivos, constituindo os es­ exterior dela própria; a produz.ir sua redefinição e se u retor- \
paços discursivos. no, a susdrar igualmen te a lembrança ele seus próprios ele- \
• É!J'llf(J!__ r!_ifcµrsi.w.r: $.�º recore� . d
: i��rs�".'5'! .�.<?- ��- ali� isohl mcntos, a o.rganizar a sua reperi�o, mas também a provocar _ , ·
no incetior de um campo discursivo tendo cm vista pr�·pó� evenrualmente seu apagamento, o esquecimento ou mesmo :,
e
sicôl 'espedfioos · a -âhálise. Para fazer esse; ;���;� i ne�á­ a denegação Couninc e Marandin, 198 1 ) .
rÍo u� -��nh�cimento_e_ um .saber histórico que permitirão
levantar hipóteses que serão confirmadas ou não ao longo da
pesquisa. Maingueneau ( 1 9 83, 1 984), por exemplo, constrói O outro no mesmo
um espaço discursivo em que associa dois discursos: o dis­
curso humanjsta devoto e o discurso j ansenista a partir da Efeito de interdiscursividade, a FD se apresenta, dessa
idéia defendida por certos especialistas de que o jansenismo fo rma, como um domínio aberto e inco nsi s ten te e não co-­
se explicaria como uma reação ao humanismo devoto. mo u m domínio es tável, a ex p ressão cristalizad a da "vis ão

90 91

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de mundo" de um grupo social. Segundo essa concepção, a gura de uma plenitude autônoma. Ele é C?. que siscem;ici­
FD exige uma abordagem díferente daquela dadat por exem­ ·c:atnetff'e ·f.ú fa ·n üin discu·rs o �- Ih� pc::;�ite fechar-se em um
plo, nos anos 60. Fazendo um balanço crítico desse período, "fodo� Ele é esta parte do sencido ·que f�j- pr�s� que o dis•
Maingueneau ( 1 984, p. 30) afirma que, para revelar a iden­ curso sacrifiéàsse·para-- Ge nstituínua: idenfidâêfe'"(Ma.ij!gi�- -
ádade de uma FD. os procedimentos utilizados então con­ r1eai.i; 1"98( p�ji). ' "" " ' - . . , .. -. ..... . ,.. . ��....
sistiam na construção de núcleos de invaritincia em torno de
alguns pontos privilegiados do discurso. Restringia-se o cam­ A relação com o Outro deve ser percebida, portanto,
po de escudo da F D. ao não se p reocupar com uma cone­ independentemente de qualquer forma de aheridade mar­
xidade mais íntima que ela pude.sse manter com outras FDs. cada. leva-se a questão mais adiante ainda na medida em que
1 Alhts, essa reJação com outras FDs era pensada apenas como se OO.tlce�e. esse Outro não como uma p�esença que_ se. ma:.­
. nifesta, quer expl icita ou implicitamenre, mas como um
i
j
' 1 uma forma de justaposição de unidades exteriores umas às a_
ausência, c� nio· uma"fá]éa, oomô o interdito d� di;���-��-:-Is to
1

! ª
oucras. Den tro desse quadro, o inrerdiscurso s6 podia ser
1
,'
compreendido como um conjunto de relações entre diversos é, ·toda FD, no �v�rso . do g�atlctlme��e- &ívei.- d��uns­
i
; "intradiscursos" compactos. cr;-;a-�na J;cj.iJ;�rtegltfuio-, cl�nincl� � �-��j�t� de ��un­
Para reverter esse quadro, seria necessário repensar a dàdos poss.íveis de serem atualizados em uma dada enunciação
equivalência entre "exterior do discurso e inccrdiscurso ins­
,,
·,fJmfir de um l ugar determinado. Ao faze' l' isso, ela circuns-
crevendo o intcrdiscurso "no coração mesmo do intradis­ créve -ci.moéni uma zona dõ nã�dizívd, definindo o conjunto.
curso" ou, em outros termos, inscrevendo o Outro no Mes­ cfôs eniin"ciados· q 11e d�v� fu ficar �usei:ices. do seu espaço dis�
mo . A impossibilidade de separar a interação dos discursos cursivo;_ del jm.ita. de�sa forma, o �erritório do Outro que lhe

1 ;
do funcionamento intradiscursivo "'decorre: do caráter dialó­ é incompatível, e:xduind.o- o d? seu dizer . .
•• 1
...
gico de todo enunciado do discurso" . Essa o rientação dia­ . Os enunciados· apresentam, dessa forma, uma dupla
lógica nâo está limitada aos enl_!nciados que trazem a mar­ face: um "direito" e um "avesso" que são indissociáveis; ao
ca da citação , da alusão etc. , nem a um Outro red utível a analista cabe decifrá-los não só no seu ..direito.. rel acionan­
uma figura de interlocu tor: do-os a sua própria formação discursiva, mas também no seu
"avesso", perscrutando aquela face oculta em que se mascara
N� _espaç� d�scursivo, o Outro não é nem um fragmento a rejeição do disClll'so e de seu Outro. O que equivale a dizer
localizável , ne r:n uma _cit�çáo, Ile�_ �má encida�� -��e�io_�. que ao analista cabe apreender não s6 uma formação dis­
_
"não é necessário que de seja atestável por alguma ruptur�_ cursiva mas também a interação entre formações discursivas,
visível da compacidade do discurso. Ele se encontra na. raiz uma vez que a identidade discurs iva se constrói na relação
. com um Outro presente Jingüisticamente ou não na intra.­
·de úni �c�.mo s_�pre já d.e.scent!?-cl� e�. · .rd.�ç_,ã,ç_�_ �•� . pró­
prio, que não é em nenh um mom.en_w_ {Q.Glm�yel _sob aJi- discurso.

92 93

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Ciente, ponamo, de que em um dado momen to a asso­ • uma intert�tualidad.e externa em que um discu rso define
ciação de determinados trajetos interdiscursivos constitui uina cerca rela.çáo com outros campos conforme os enuncia�
parte j n tegrante da especificidade de uma FD, a análise do do� destes sejam citáveis ou não. Por exemplo: a relação que
, discurso, in�eressada nos funcionamentos discurs ivos, não Tiga -o discurso do humanismo devoto oom o dos naturalistas
deve buscar a unidade de todas as formações discursivas de em que este constitui uma fonte de inspiração pata aquele a
uma conjuntura, definindo uma invariante universal, nem a quem a natureza é a ordem "teof?tnica" por excelência.
multiplicação ao infinito e sem hierarqwa das relações entre
os campos. Essas distinções mostram que não há campo discursivo
insular, que o universo discursivo é dotado de uma incensa
circulação de uma região do saber para outra. Essa circulação
A intertextualídade se caracteriza pela sua instabilidade, ocorrendo trocas bascanre
diversi ficadas conforme os discursos e as circunstâncias con­
a relação do discurso com seu Outro, devem-se dis­ cernidas.
tinguir duas noções básicas (Maingu eneau, 1984) : Essa intercambialidade de campos: toca também na ques­
tão da eficácia discursiva: ao fazer a remissão a outro(s} d is­
• a noção �e ;.!J."!,�rf_�_p._e -� d,is�urso .compreendido como curso (s), o sujeito recorre a elementos elaborados alhures, os
����- f,r_�rr.ientos q ue ele cita �fetivamente; quais1 intervindo sub-repticiamente, criam um efeito de evi­
• a noção de inurtextuali4tfrfe 'l.l!:. � abrangeria os _tipos de r_e­ dência que suscita. a adesão d.e seu auditório. É o que acon­
l�s- intertextuaÍs defin idas como legítim���--�ma
· FD tece, por exemplo, com o discurso publici tário que recorre
��ééín·��-����;�. _,._ ---- -
-� - - ••. . • ,.• ' - · - - �--- • • " . ,
• • • ,. 1
-· freqüentemente a vocabulários técnico---científicos, a saberes
de outros campos para melhor persuadir.
'

Em rdação à imertex.tualidade, reco nhecem-se ainda


dois níveis:
A mem ória discu rsiva
• urna jntertextuilidade interna em que um discurso se define
poi süarêfação com disru;��(�) d� �;;� � -p�tkndo di­ po
No nível da intertextual idade interna, interior a.o campo,
vergi"r'oü 'aprese�tar enul!_ciad()� ��-�Éi_<:;�t� vizinhos aos de maneira geral, a toda formação discursiva se vê associar uma
qüê autoriza. s�a for11!.3.çãO di�curs�v�., É o caso, por exemplo'. mern6ria discursiva. É a memória discursiva que toma possível
dos d-iscu.rso� analis��; -por Maingueneau ( 1 9 83) : o do hu­ a coda formação di�ursivà fu.er circular formuláções arice­
d"õrés, já enuncíadas. ·t ela qu.e permite, na rede 'dê. forrnu-
'I
: 1
; 1
manismo devoto e o do j anscnismo que, ao citarem foncc:s,
divergem quanto à co nstrução de seus passados textua is; �lãçõ'cn1ue constitui o i�cradiscurso de uma F D, o apareci-
94 95

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'
1�
l
mento, a rejeição ou a. transformação de enunciados perten­ a título de verdade admitida, de descrição exata, de raciocí­
. cenres a formações discursivas historicamente comígúas. 'N:i� íiiô fun ��49 . . C ?':l _ !!e er��-12Q
. �Ç,Q __ 11�ç�ss4!!�, :�2�.ei.�snde
se-trãii �rtánêo,' de uma memória ps1cológ ica · m�s d� wna
. · també m tanto os enunci�-?� �� !��- di_s�ut}4o�_ e j�g.l9�
-
- excluídos
mertióéià ' que si:ipõe o enunciado inscrito na históda. . côino õs 'que são reje'itados ou . Nesse catnpo de
. ... 'Maingtieneau (1983, 1984) liga a questão da inrerdis­ ·
préséiiça;· ·«as . ré laçoes inséaU:;�d� podem ser da ordem da
cur ividade com a da gênese discursiva. para mostrar que não verificação experimental, da validação lógica, da repetição
existe discutso aucofundado, de origem absoluta. Enunciar é pura e simples, da aceitação justificada pela tradição e pela
se situar sempre em rel ação a um já-d ito que se constitui .no autoridade, do comentário, da busca das significações ocul­
Outro do discurso. Em outros termos, na medida em que, tas, da aná lise do err o "; essas relações podem ser explícitas
cronologicamente, é o discurso segundo que se constitui atra­ ou implícitas;
vés do primeiro, parece, com efeito, 16gico pensar que este • um camp_o de concomitância que compreende enunciados
� �- . .. J..- •
.. . .
-- •-.,. ., ,
.
_,.
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..
-- • • • •
' •

_ <:!.�e dizem re spei�o a


\
disctmo primeiro é o Outro do discurso segundo, não sendo
possível o inverso.
O discurso primeiro não permite a constituição do dis­ domí nios de objetos inteiramente diferentes e que pertencem
curso segundo sem estar ele próprio ameaçado em seus funda­ · . ci,eos de d�os t<:'talmen� dj�er�, mas queatuam en�
a
mentos. Assim, por exemplo, na medida em que retiramos de �enunciados estudados · sc)a pôiqt.iê servem de co�rmação
anal6g1ca,sejãs .porqUe s'ei-vejn de p�i��ípi� �r�l � . de pr�
um discurso fragmentos que inserimos em outro discurso, fa­
�� - �eitá te. ndô �� - �ta um raciocínio, 5eja porq�e s�r­
umos com essa transposição mudar suas condições de pro­
\lem de · modelos · que podém transferir � ciu�ros conteúdos,
duçao. Mudadas as condições de produção, a significação des­
ses fragmentos ganha nova configuração semântica.
seja pórque fundóíiam como inst.mci'á. Sllpe;i�; · 4;� ;;,� · ;1 _
é P,±e_ciS?.· C.<:>�roni:ar e subm�
· - - . . . •- •r - .. .
t�� �e-�a.5 P�_posiçõ�
. . . .. . . ..
º - �- --�
áfi.rmad�; -
1 .,.. . , , .. -.,
, •

,! Dbm ln ios do campo enunciátivo • ll_f!l_ do_mlnio de _ memória que compreen�e "enunciados que
1
, mio são mais nem admíri<los nem discu tidos, qlle não de•
A configuração de um campo enunciativo comporta, finem mais, em conseqüência,. nero um co,po de verdade
portanto, formas de coexistência de diferentes formaç ões CÜS­ . nem um domínio de validade, mas em relação aos quais se
cursívas . Segundo Foucault ( 1 969, pp. 72• 73 ), essas fonnas de �tabdeéern faças de fUfação." qtg�l)���, de trans_formaçãoj
coexistência delineiam: " de continuidade e · dé ' de�continuidade histórid' .
.,...,,. - · · ü • • • ••

• um campo de presmça que compreende rodos os enunciados Situando-se n uma perspectiva teórica semdhante à de
fá formulados alhures e qu� ��� ;�����ci� e�·um
disc�- ��- Foucaulc, de quem é caudatário, mas restringindo -se à catego-

96 97
: :/

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ria temporal e a partir da consideração do texto como uma dis­ ganização) . Em outras palavras, co mo já disse, toda pro­
persão d e seqüências discursivas cujaorganização é co mandada dução discursiva, efetuada sob determinadas condições ccm­
por formas de repartição que combinam essas seqüências dis­ junturais, faz circular f ormulações já enuncia.das anterior­
cursivas em domínio de objetos, Courtine (1981 ) distingue: mente. As formulações pertencentes a essas seqüências dis­
cursivas preexistentes constituem, com as "forro ulações de
• um donún io de memória; referência" , redes ele formulaç ões que nos permitirão verificar
• um domínio de atualidade; os efeitos de memória que a enunciação de uma seqüência dis ­
1 • um domínio de antecipação. cursiva de refe rência deremúnada produz em wn processo dis­
curs ivo. Esses efeitos de memória tanto podem ser de lem­
Advertindo contra qualq uer interpretação cronologista, brança, de redefinição, de transformação quanto de esque­
coloca que, embora cimento, de ruptura, de denegação do já�dito.
Mobiliza -se, assim, no interior da análise do discurso,
os obj etos <3ue compõem. estes domínios possam ai figurar a no ção de memória discursiva. Essa noção i mplica o estatuto
lj histórico do en unciado inserido nas práticas discursivas regu­
como pomos datáve is e referíveis a wn sujeito c:nunciador,
sua sucessão cronológica é atravessada peht. dimensão tempo­ ladas po r aparelhos ideológicos de Estado. Ela se enquadra
ral específica a um processo cujo desenvolvimento contradi­ naquilo que Foucauh ( 1 97 1 , p. 1 1 ) classificou de procedi­
tório não conhece nem sujeito, nem origem, nem fim. Não men tos de controle e de delimitação do discurso: " [. . .] a pro­
se traca pois de ir procurar na seqüencialidade de um domí­ dução do discurso é ao mesmo tempo controlad a, sdecio­
nio <ie memória, de um domínio de atu aJidade, de um do­ nada, organiiada e redistribuída por um çerto número de
l
rrúnio de antecipação, a seqüência ''natura ' d.o antes, do ago­ procedimentos que têm por papeJ co njurar dele os poderes
ra, do depois, mas antes de aí caraaerizar as repeti ções, as e os peri gos , de dirigir o acontecimento aleatório, de afastar
rup turas, as fronteiras e as �nsformaçõcs de um tempo dele a pesada, a irredutível materialidade " . A noção de me­
processual (p. 56) . mória discursiva, portamo, separ a e elege den tr•e os elementos
constituídos numa determinada contingência histórica, a qui­
lo que, numa o utra conj untura dada, pode emergir e ser atu a·
O do m ín io de memó ria lizado, rej eitando o que não deve ser trazido à tona. Exer­
cendo, dessa forma, uma função ambígua na medida em que
Diz respeito ao co nj unto de seqüências discursivas recupera o passado e, ao mesmo tem po , o elimina com os
preexjstentes à " eqüência discurs iva de referência (sequen­ apagamen tos que opera, a memória irrompe na atualidade do
cia discursiva tomada . co mo ponto de referência a partir do acontecimento, produzindo de terminados efeitos a que já nos
qual o co n junto dos elementos do co r pus receberá sua or- referimos .

98 99

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O d omínio de atualidade um domínio de antecipaçao enquanto alvo de uma análise
de discurso.
Reúne um conj unto de seqüências discursjvas que coe•
xistem em uma conj wnura histórica determinada e se inscre­
vem na insdncía do acontecimento. Efeitos de memória
O efcito de atualidade produzido por este domínio é
resultante do desenvolvimento processual dos efeitos de me­ Para Courcine, "a existência de urna FD como 'memória
mória: memória que faz irromper um acontecimento passado discursiva' e a caracterização de 'efeitos de mernórià em disrutso5
em uma conj untura presente, reatualizando-o. Daí ser cons­ produzidos em uma determinada conjuntura histórica devem ser
titutivo desse domínio o aspecto dialogado que a5Sumem as anicu.lados com os dois níveis de descrição de uma FD":
seqüências discurs ivas que se citam, se respondem ou se refu­
tam (Courtine, 1 98 1 , p. 56). • o nível interdiscursivo em que os objetos chamados "enun­
ciados'' , na formação dos quais se constirui o saber próprio
a uma FD, existem no tempo longo de uma memória; este
O do m ínio de antec i p ação saber envolve toda uma tradição cultural transmiti.d.a de gera­
ção a geração e regulada pelas instituições (AIE de Alchu�er) ;
Reóne seqüências discursivas que eno-etêm no nlvd intra­ • o nívd incracfucursivo em que as "furrnulações" são tomadas
discursivo relações interpretáveis como efeitos de antecipação. no tempo curto da atualidade de uma enunciação.
Segundo Courcine, a presença de um domínio de an­
tecipação na cons · tuição de um corpus discursivo tem o mé­ O efeito de memória é produto, portanto, da relação que
1: rito de nos revelar: se joga entre esses dois níveis - o interdiscursivo e o intra­
,, discursivo - ao se fazer emergir uma formulação-origem na
1 ) o caráter necessariamente aberto da relação que uma se- atualidade de uma "conj untura discu rsiva'' .
qüência discursiva produzida em determjnadas , c ondições A formação d.iscurs:iva, sendo determinada pdo .inrer­
mantém com seu exterior no seio de um processo . "Se há di.scursivo, pode se inscrever:
rnnpre-já do discurso, pode-se acrescencar que haverá um
sempre-ainda"; • na ordem de uma memória pi.ena que funcionaria como pos­
2) a impossibilidade de atribuir um fim ao processo discurs ivo; sibilidade de preenchimenco de uma superfkie discursiva
3) a possibilidade sempre aberra de,. a parcir dos resul tados com elementos .retomados do p-assado e reatualizados1 crian­
obtidos no trabalho de análise da relação de uma seqüência do wn efeito de consistência no interior de uma rede de for­
discursiva com seu domín'o de memória, poder construir mulações; a estratégia usada aqui seria a da repetiçáu;

1 00 101

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• ou na o rdem de uma memória lactmar que funcionaria co­
mo produtor de deslocamentos, vazios, esquecimentos que
podem provocar u m efeito de inconsistência na cadeia do

CONCLUSÃO
reformulável. Esse efeito pode, entretamo , ser ideologica­
mente neutralizado pdo locutor que, através de manobras
discursivas nivdadoras; homogeneizadoras; monofunizantes,
procura anular qualquer desnível ou heterogeneidade do
discurso. A estratégia seria a do apagamento.
Nascida da necessidade de superar o quadro teórico de
uma lingüística frasal e imanente que não d.ava conta do cexr.o
em toda sua complexidade, a análise do discurso volta.•se para o
"exrerior" lingüfsrioo, procurando apreender como no lingülstico
mscrevem-.se as condições sócio-históricas de produção.
A partir do pressuposto de que o discurso "materializa o
contato entre o ideológico e o lingüístico no sentido de que ele
representa no interior d.a língua os efeitos das contradições ideo­
Jógical' (Courtine, 1 982, p. 240), o desafio a que a análise do
discurso se propõe é o de realizar lelruras críticas e reflex.ivas que
não reduzam o discwso a wálises de aspectos puramente lin­
güísticos nem o dissolvam num trabalho histórioo sohre a ideo­
logia. Ela opera com o conceito de ideologia que envolve o prin­
cípio da contradição que está na base das relações de grupos
sociais, cujas idéias entram em confronto. numa correlação de
furças; considera também as noções de interpelação/assujeira­
mento e de aparelhos ideológicos de Estado que governam , re­
gulam essas relaçóes. Ela busca não eliminar essas contra­
dições, mas , ao contrário, fazê-las aflo rar na materiali dade
lingüística do discurso, apreendê-las nas formas de organi­
zação discursiva, possibilitando capear as relações de anta­
gonismo, de aliança, de dissimulação, de absorção que se pro­
cessam entre diferentes furtnações discursivas. Nos termos em
que coloca Maingueneau ( 1 990), procwa crazer para o interior

1 02 1 03

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lingüístioo wna abocdagem do objeto que leve em conta seus
dois planos constitutivos - um "gramatical" e outro "hiper­
gramatical"; designando este último os ponms de ancoragem
colocados para além de aspectos estritamente lingüísticos.
Dessa forma, pretendendo ser uma teoria crítica da lin­ GLO S SÁRI O
guagem, a análise do discurso de orienta.çáo francesa luta contra
qualquer forma de cristilização do conhecimento, contra "a cerri­
torialização, o esquadrinhamento, a delimitação dos domínios
do saber" (Courtine, 1984). Daí o fato de suas fronteiras se con­ Assuje#amento ideológicO'. consiste em fazer com que cada in­
finarem com as de determinadas áreas das ciências humanas divíduo (sem que de tome consciência disso, mas, ao con­
' 1
trário, tenha a impressão de que é senhor de sua própria
;
como a História, a Psicanálise, a Sociologia, só para citar al­
gumas. Pelos próprios objetivos a que se propõe, a análise do vontade) seja levado a ocupar seu lugar, a identificar-se ideo­
,,
discurso é, e só pode ser, interdisciplinar. Da mc:sma forma. essa logicamente com grupos ou classes de uma d.eterminada for­
interdisciplinaridade surge na sua relação com as outras ten­ mação social. É o mesmo que interpe/açíi.fJ ideológica.
dencias desenvolvidas no interior das ciências lingüísticas, e
nesse sentido é que a vemos, por exemplo, dialogando com as Autor: é a função socia1 que o sujeito falante assume enquanto
teorias enunciativas, a lingüística textual e, na campo da prag­ produtor da linguagem. Das funçõe:s enunciativas do su­
mátka, com a semâncica argumentativa e � teoria dos aros de jeito é a que está m a is determin ada pda exterioridade e
linguagem. mais afetada pelas exigências de coerência, não-contradição
!
J''' Pêcheux assim sintetiza o paradoxo vivido pela aruilise do
discurso: "uma prática indissociável da reflexão que ela exerce
e responsabilidade (Orlandi e Guimarães) .

sobre si mesma sob a pressão de dlWi determinações maiores: a Condiçóes de produção: constituem a instância verbal de pro­
evolução problemática das teorias lingüísticas de um lado, os dução do dlscurso: o contexto histórico-social> os inter­
avacares do campo político-histórico, de outro''. Dividida entre locutores, o lugar de onde falam e a imagem que fazem de
um.a função crítica e wna função instrumental (Courtine), ela si, do outro e do referente.
se apresenta como uma disciplina não acabada, em constante
construção, problemarizanre, em que o lingüístico é o lugar, o
Didlogo: no sentido restrito, é a comunicação verbal direta e
espaço, o território que dá matei:ialidade, e5pessura a idéias, con­
em voz alra (:ntre uma pessoa e outra. No sentido amplo
teúdos, temáticas de que o homem se faz sujei to; não um sujeito
(inaugurado por Bakhtin) , é toda oomun.icação verbal, qual­
ideal e abstrato mas um sujeito concreto, histórico, pana-voz de
quer que �eja a forma. Do pomo d.e vista discursivo não há
um amplo discw-so social.
enunciado desprovido da dimensão dia.lógica, pois qualquer

1 04 1 05

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enunciado sobre um objeto se relacio na com enuncjados an­ mação ideológica, ísto é, os textos que fazem parte de um.a
teriores produzidos sobre es e objeto. Assim, todo discurso formação discurs iva remetem a uma mesma formação ideo­
é fundamentalmente diá logo. lógica. A formação discursiva decerm ina "o que pode e deve
ser clito" a partir de um lugar social his.coricamente detertni­

Discurso : é o efeito de sentido construído no processo de in­ nado. Um mesmo texto pode aparecer em formações discur­

terlocução (opõe-se à concepção de língua como mera trans­ sivas diferentes, acarretando, com isso, variações de sentido.

missão de informação). "O disc11rso não é fechado em si


mesmo e nem é do d.omfnio exclusivo do locutor: aquilo que Formação ideológica: é constituída por um conjunto compJexo
se diz signi fica em relação ao que não se diz, ao lugar social de atitudes e representações que não são nem individuais�
do qual se diz, para quem se diz, em relação a outros di - nem universais, mas dizem re peito, mais ou menos dire­
cursos " (Orlandí). tamente, às posições de classe em conflito umas com as ou­
tras (Haroche et aL}. Cada formação ideológica pode c.om­
pree.nder várias fo�mações discursivas interligadas.
Enunciação: emissão de um conjunto de signos que é produto
da interação de indivíduos socialmente organizados. A enu n­
ciação se dá num aqui e agora, jamais se repetindo. Ela se Formação social: caracteriz a-se por um estado determinado de
marca pela singularidade. relações entre classes que compõem uma comunidade em
um determinado momen to de sua história. Escas relações
EnunciatÚJr. é a figura ela enunciação que representa a pessoa estão assentadas em práticas exigidas pelo modo de pro­
cujo ponto de vista é apresentado. É a perspectiva que o dução que domina a formação social . A essas relações cor­
locutor constrói e de cujo ponto de vista narra, quer iden­ respondem posjções políticas e ideológicas que mantêm

tificando-se com ele quer distanciando-se dde. entre si laços de a liança, de antagonismo ou de dominação.

Interdücursividade: relação de um discurso com o utros dis­


Fala: ver L{ngua.
cursos. Para Maingueneau a in terdiscursividade tem um
lugar privilegiado no estudo do discurso: ao tomar o in ter•
Forma-sujeito: denominação criada para Pêcheux para indicar
discurso como objeto , procura -se ap reender não uma for­
o suj eito afetado pela ideologia.
mação disca siva. mas a interação entr e formações discur­
sivas diferences. Nes e sentido, dizer que a i nterdiscursi ­
Forma�ão dimmiva: conj unto de enunciados marcado pe as
vi dad e é constitutiva de todo discurso é dizer q ue todo
mc:smas regularidades, pelas mesmas "regras de formação" .
discurso nas ce de um trabalho sobre o u tros dis cu rsos .
A formação discursiva � d.efine pela sua re lação com a for-

1 06 107

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/nterÚJcuçáo: processo de interação entre indiv,duos attavés da seu funcionamento q ue envolve não só mecanismos lin­
l inguagem verbal ou não-verbal. güísticos, mas ra.mhém "exr,alingüísticos".

lntertexto : o intertexto de um discurso compreende o con­ Locutor: é uma função enunciativa. que o suj eito falante exerce
junto dos fragmentos que ele cica. efetivamente. e, através da qual se representa como eu no discurso. É o
ser apresentado como responsável pdo dizer, mas não é um
/nteruxtw:t!idade: abrange os tipos de relações que uma for­ ser no mundo, pois trata-se de uma ficção discursiva.
mação discursiva mantém com outras formações discursivas.
Pode ser interna quando um discurso se define por sua re­ Polifonia: conceito elaborado inicialmente por Bakhtin que
lação com discurso (s) do mesmo campo (por exemplo, os o aplicou à literatura, foi retomado posteriormente por
diferences discursos do campo rdigioso) ou externa quando Ducrot que lhe deu u m tratamento lingüístico. Refere-se
um discurso se define por sua relação com discurso(s) de à. qualidade de todo discurso estar tecido pelo discurso do
campos diferenteS (por exemplo, um discurso religioso ci­ outro, de toda fala estar atravessada pela fala do outro.
rando elementos do discurso naturalista) .
Pri-cumtruldo: elemento produzido em outro (s) discurso (s) ,
Língua: segu ndo a dicotomia estabelecida por S aussure entre anterior ao discurso em estudo, independentemente dele.
língua e fala - a língua é o sistema abstrato, virtual ou po­ Todo discurso mantém uma relação essencial com elemen­
tencial, enquan to que a fala é o ato lingü.ístico material e tos pré-con truídos (ver lnterdiscursividade) .
concreto, é o uso que cada indivíduo faz da língua. Se a lin­
guagem só existe como atividade, língua e fula não se ex­ Regras de fimnaçáo: são regras constitutivas de uma formação
cluem, pois se a fala é a realização concreta da língua. aq uela discursiva, possibilitando a determinação dos elementos que
não existe sem esta. a compõem. Foucauk apresenta-as como um sistema de re­
lações entre os objetos do discurso, os diferentes tipor dt enun­
Linguagem: na perspectiva discur�iva, a linguagem não é vista ciação que permeiam o discurso, os conceitos e as diversas
apenas como instrumento de comunicação, de cransmissáo estratigias capazes de dar conta. de uma formação discursiva,
de informação ou como suporte do pensamento; lingua­ permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.
gem é interação, um modo de ação sodal. Nesse sentido,
é lugar de conflito, de confronto ideológico em que a sig­ Sentido: para a análise do discurso, não existe um sentido a
nificação se apresenta em toda a sua complexidade. Estudar priori, mas um sen tido que é constnúdo, produzido no pro­
a linguagem é abarcá-la nessa complexidade, é apreender o cesso de inrerlocução, por isso deve ser referido às condições

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de p rodução (contexto histórico-social, interlocutores . . . ) do
discurso. Segundo Pêcheux:, o sentido de uma p alavra muda
de acordo com a formação discmsiva a q ue p ertence.

B I BLIOG RAFIA BÁSI CA COM ENTADA


Sujeito: na p ers pectiva da análise do discurso. a noção de su­
jeito deixa de ser uma noção idealista, imanente; o sujeito
da ling uagem não é o suj eito em si, mas cal como existe
socialmente, interp elado p ela ideolo gi a. Dessa forma, o ALTHUSSER, L. Ideologia e apa"lho.s ideoiógir:os de Estado. Trad. J. J.
sujeito não é a origem, a fonte absoluta cio sentido, p orq ue Moura Ramos. Lisboa: Presença, Martins Fontes, 1 9 74.
na sua fala outras falas se dizem. Para Pêchcux, "a :'!urão Conceituando o que vem a :1er formação social e ideologia,
discursiva do sujeito consiste em pe nsar q ue é ele a fonte, a o autor mostra como o estado atua na dinâmica entre
origem do sentido do q ue d iz,., Vec fo rma-rujeito . relações de p rodução e relaç ões sociais. Distin gue apa­
relhos repressivos de Estado (o Exército, a pol fcia, os
tribunais etc.) de a parelhos ideológicos d.e Estado (a re­
Sup erflcie discursiva: é constituído p elo conj unto de enun­
ligião, a escola, a família etc.).
ciados pertencentes a uma mesma formação discursiva.
AuTHIER-REvuz, J. "Hécéro généí cé montrée et hétérogénéité
1exto: unidade com p lexa de sign ificação cuj a análise i m p lica conscitucive: élements pour une app roche de L'auue dam
as condições de sua p rodução (contexto hist6rico-sodal, le discours", DRLAv - &vue d.e Linguistiq ue, n.1t 26, 1 982,
sita.a ção, interlocutores). Para. Orland.i, o reno como objeto pp . 91 - 1 5 1 .
ce6rico não é uma unidade com p leta· sua natureza é .in­ A parcir do conceito de dialogismo íncrodurido por Bakhtin
tervalar, p ois o sentido do texllo se conscrói oo espaço d is­ e da abordagem p sicanalítica do sujeito como efeito de lin­
cursivo dos interlocutores. Masj como objeto em pírico de guagem, a autora dabora sua teoria sobre a heterogeneidade
análise. o texto pode ser um objeto acabado com começo, mostrada e constitutiva do discurso. Qu�tiona uma con­
meio e fim. cepção homo geneizadora da discursividade q ue elege o
sujeito como origem, fonre autônoma de wn sentido que
ele comunica através da língua.

BAKHTIN, M. (Voloshinov) . Marxismo e filosofia da linguagem .


Trad. M. Lahud e Y. F. Vieira. São PauJo: HuaTEc, 1 979.
Faz. uma reflexão sobre a Jinguagem tendo como fun­
damento o marx ismo. Moscra. a natureza ideológica do

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signo lingüístico e ressalta o cad.ter social, interativo e a autota faz um histórico do aparecimento do tenno até
dialógico da linguagem. Elabora o conoeito de polifonia chegar à concepç.ãio marxista de ideologia.
enunciativa e, numa perspectiva que toma a aheridade
como constitutiva da linguagem, analisa, em textos lice• DuCllOT, O. " Esboço de Utna teoria polifônica. da enunciação", ín
rários, os diferentes ti pos d.e discurso: direto, indireto, O dizer e o dito. Campinas: Pomes, 1 987.
índireto livre. Nesce artigo, o autor retoma o conceito d.e polifonia de
Bakhtin e o aplica à lin güística, mostrando como num
BENVENISTI., E. "O homem na lín gua". ia Problemas � tingülstir:a mesmo enunciado emergem várias vozes. Elabora o con­
geral. Trad. M. G. Novak e L. Neri. São Paulo; Com panhia ceito de locutor e de enunciador.
Editora Nacional, EoUSP, 1 966 , pp. 245-3 1 5 .
Esta parte, a quinta das seis que compõem a obra de Ben­ FoUCAULT, M . Arq ueologia do sabtr. Trad. L. F. B aeta Neves .
ve nis te, contêm accigos fundamentais para o estudo da Petrópolis: Vozes, 1 97 1 .
enunciação. Analisa a esuurura das relações de p esso a no Embora não seja lingüista. m as filósofo, as colocações de
verbo e a natur� dos pronomes, incroduzindo a questão Foucault nesta obra foram fecundas p ara as p esquisas
da subjetividade na linguage m. Numa p erspectiva en un­ linguísticas visando ao, discurso. A construção de um
ciativa, distingue "discurso" de "história", aborda a questão objeto do saber deve levar o pes q uisador a interrogar o
dos performativos e dos verbos delocucivos. próprio discurso sobre suas regr as de formação. Define
o que vem a ser disçurso, formação discursiva, enun­
___ . "O problema formal da enunci ação" , in Problema, de ciado, enunciação, função enuncíadva - conceitos fun­
lingü ística geral 11. Ca mpi n as: Pontes, 1 989, pp. 8 1 -90. damen tais para a análise do discurso.
O autor analisa o mecanismo de produção do ato de
enunciação, mostra como, ao enunciar, o locutor mobiliza HAROCHE, CI.; HeNRY, P. e PE.CHEUX, M. "'La sémanrl q ue ct la
a lín gua apropriando-se d�. aparelho formal da Hn gua e coupure saussuriense: lan gue. langage, discours", Langages,
marcando sua posição de locutor através de índices es� n1 24. Paris: Didier-Larousse, 1 97 1 , pp. 93- 1 06.
pecíficos. Pode-se dizer que este artigo é uma teorização Partem de uma crftica à dicotomia saus:;uriana de língua/
daquilo que foi colocado mais empiricamente nos textos fula e seus desdobramentos, dentre des, o de não ter per­
anteriormente citados. mitido o lugar devido à Semântíca. Propõem uma semân­
dc.a do discurso que ope re com os conceitos de formação
CHAm, M. O que é idto logia. São Paulo: Brasiliense, 1 980. social, formação ideológ ica, formação discursiva e considere
Obra im p ortante p ara a q ueles que querem se introduzir o liame entre "si gn ifica ção" de um cato e as condiçõe�
na questão da ídeologia. Partindo de exem pfos p ara en­ sócio•his tórícas de sua produção como constimtivo do
tender o espaço em que o fenômeno ideológico se i nstai.a. sentido.

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MA•NGUENEAU, D . lnitiation aux mithode.s de l'anaiy1r d-u di!cours. siva, d.a convenção, da leitura. Analisa diferentes cipos de
Paris: Hacherte, 1 976. funcionamentos cliscucsivos como o discurso pedagógico,
Após situar a pcoblem.ácica da análise do discurso na his­ o discurso da história o discurso reli gioso e o discurso
tória da lingiiísrica estrutural, o autor fornece um pa­ sobre a mulher.
norama das principais orientações metodológicas da pes­
qu isa lingüística ness:a área, agrup ando-as em torno de três ÜIU.ANOI, E. «A análise do discurso, .Jgumas observações", DEHA,
abord agens: lexicológica, sinclxica e enunciativa. O último vol. 2, n 1t 1 , 986.
capitulo aborda determinadas orientações de p es q uisas A autota fai uma retros pectiva, ap resentando o surg i•
(relativas, por exemplo, à arg umentação, à narratividade) , mento da análise do discurso em duas vertentes: a ame­
a pontando p crs pecdva.,; p romissoras à análise do discurso. ricana e a euro p éia. Mostra como a p ecsp ec,;iva europ éia
assume um.a m udança mais radical de seu objeto ao ul­
___ . Novas undbtcias mi andlis� do di!curso. Cam p inas: Pon­ trapassar a unidade lingüística da sentença para tomar o
tes, Edito ra da UNICAMP, 1 989. rexco como unidade emp írica de an álise. Tendo o discuno
Escr'Íta mais de uma década após, essa obra vem com• como objeto reórico especifico, abre-se um novo cam.po
plementar a anterior, Initiati.on aux mlrhodes. .. Partindo para os estudos lingüísticos em que a questão da sig­
da oo nsidcta ção de q ue a li n guagem é uma i nstituição nificação se conecta com a. de formações ideol6gicas, e a
social, o autor insiste no fato de que a análise do disc1JCS0 é dência li.ngi.lística mantém relaições com uma teoria cien­
uma disci plina que se jnscreve, de modo p rivilegiado, no cífica das formações sociais.
c:;paço lingüístico e mantém vínculos p eculiares com as
condições sócio-hinóricas de p rodução. Ao colocar que a �CHE.UX, M. "Análise automática do discurso", in F. Gadet e T.
enunciaçáo é um dispositivo constitutivo da p rodução de Tak (orgs.) . Por uma a:nd/ise automdtica do discurso. Uma
sentido e que cada enunciado supõe uma relação com outr3S introdução à obra rÚ Michel Picl,eux. Campinas: Editora
enunciações reais ou virtuais, mostra como atualmente a da UNICAMP, 1 990 (título original: Ana�se auttJmatÚjue du
análise do discurso está. mais vinculada às teorias enunciativas. discours) .
A obra representa uma etapa fundamental no desenvol­
ÜRLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento. São Paulo: Bra­ vimento dos trabalhos ron temporâneos sobre a linguagem
siliense, 1 984 . por abrir uma via nova à "análise do conteúdo" até então
O objetivo dos estudos que enfeixam essa obra é ap reender praticada. Partindo criticamente de colocações feitas por
a l ing u agem no seu funcionamento discursivo. Procura Saussurc e dos deslocamen tos por das provocados na
incorporar o social e o histórico como eJemenros conscj­ lingüística, co nceitua o que vem a ser funcionamento
tucivos d.a linguagem e, sempre numa perspectiva discursiva, discursivo, condições e produção, processo;-, discursivos,
reflete sobre a questão da literal idade, da tipologia discur- forn ecendo uma séde dê orientações conceituais para uma

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abord agem do d iscurso por ele den omi nada de análise
aucomitica do discurso.

ROBIN, R. HistórÍll e lingü istíca. São Paulo: Cultrix , 1 9 n.


Como outras áreas das ciências humanas p reocu padas BIBLI O G RAF IA
com a produção de sen tido , a h i s tória foi também fas­
cinada pelo modelo lingüístico. A autora proo.ira precisar
as relações que a li ngü ística pode ter com a histó ia , os
pontos de: encontro p ossíveis , .sem q ue, no r:n tanto, a ALTHtJSSE:R, L Ideolagia e aparelhos ideológicos tk Estado. Trad. ].
primeira sej a tomada como panacéia da segunda. Coloca J. Moura Ramos. Lisboa: Presença , Martins Font�s, 1 974
os pressupostos básicos de uma ciência lingüística que .. ai (título original: ldiolD ie et appareilr idlo wgiq 1w d'Etat,
g
se abrindo para questóes do discurso e apresenta al gwn as
1 970) .
abordagem concretas e seus resultados.

AuTHIER-R1:vuz, J. " Hérérogt néiré mon crêe er hététogénéiré


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.
A uror Helen a H . Nagamin Brandã
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198 1.

Su pe r vlt ot a d e r l!-vit!io A n a P aul a G ome.t

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Helena Hathsue Nagamine Brandão é
professora no Departamento de Letras
Clássicas e Vernáculas da Universidade
de São Pau lo. Antes, foi professora tam­
bém na PUC-SP. É mestre em lingü lstica
pela USP, doutora pelo LAEL-PUC-SP e
livre-docente pela USP. É autora da obra
Subjetividade, argumentaçAo, polifonia. A
propaganda da Pe trobrás ( E d i to ra
UNESP), co-coordenadora da obra Apren­
der e ensinar com textos didétlcos e
paradidátlcos e coordenadora de Gf­
neros do discurso na escola: mito, conto,
cordel, discurso político e dlvulgaçfo
cientifica, ambas publicadas na coleção
Aprender e Ensinar com Textos (Cortez
Editora).

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