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I TRODUÇAO A ANA.LI r oo 01 cuR o
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Helena H. Nagamine Brandão
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INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO DISCURSO
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Jose T= Jo1t�
Oxlrdetadru G,,...J d,, Uni,,e,.idode
mNANCO FEl!ru:l IV. CoSTJ\
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SUMÁRIO
ISBN 85-268-0670-X 412.l CAPfnJLO 1 -ANAuSf.. DO DISCURSO ...-... -........... ... ,...................... ____ ]3
CDD 415
2.• 1cim pTCS.Sáo. 2006 O .on,âUJ IÚ dÍJc-urso em Foucau!r --··--......... ·-······ ...................................... ,_._., 32
Nenl,\lmQ pute d.esta pu!,Lia,p.o pode ser grava:cb, arm:atcnad.. em Lingu4; discu-rw ç ideologia __.__.. __ .._.................................-..... ____ 38
sistcmadem'lnico, fotocopiada, rqmxlUl.Ída por mcio6 mccloic:os (lL1 Condi.ç6ts de produçã<, do discurso-.---·····-.. ··..···-·-·-·-··-·-.. --- 42
outros 4ua.irquer sem aurori�çio pcivia do editor.
Fonnaçiio idtológica e .formação áiscurJiva .....-, ....... ... ........._ .... _,_·----·-··..···-· 46
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A mnndrúz discuniva ..---···---..····................................ ____ .•.. 95 Qualquer estudo da linguagem é hoje, de al guma forma>
Dumi11io1 do campo munciativo ...·-·-··--··......................................-..-·-··--······..•·· 96 tributá.rio de Saussure, quer comando-o como ponto de par
O domínio de memória.._............-·-·····"···......................._................_ ............ 98 tida, assumindo suas postulações teóricas, quer rejeitando-as.
O domínio de acualidade ----·-········........................ ___.. 100 No nosso caso, a refêrência a Saussure deve-se. sobrerudo, a sua
O domínio de antecipação--�····· ........ ___..........................._ ..._ 100 célebre concepção dicotômica entre a língua e a fala. Embora
Efeitos de memória ........·---·-·----·-........................... _._·_··----·-···-··· 101 reconhecendo o valor da revolução lingüística provocada por
Saussure, logo se descobriram os limites dessa dicotomia pelas
conseqüências advindas da exclusão da fala do campo doses
cudos lingüísticos.
GLOsSl{Juo ................ ·---··.. ··---····· ..·····----·..··•··· ..····............... _ ............. 105 Dentre os que sentiram essa camisa de força que co
locava como objeto da lingüística apenas a língua, tendo-a
BIBUOGRAFIA BÁSICA COMl!NTADA. ..,...-·-·-··...: ................-....................................._ .......... 111 como algo abstrato e ideal a constituir um sistema sincrônico
e homogêneo, está Bakhtin (Voloshinov, 1929} que, com
BrBLIOGAAFlA --......-...··-·-"· .... . ....................-----· .. ...... . •..........--... 117 seus escudos, antecipa de muito as orientações da lingüística
moderna.
Palmilhando a trilha aberta por ·saussure. parte ram
bém do principio de que a língua é um fato social cuja exis
tência se fu.nda nas necessidades de comunicação. No en
tanto, afasta-se do mestre genebrino ao ver a língua como algo
concreto, fruco da manifestação individual de cada falante,
valorizando dessa forma a fala.
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Visando à form u lação de uma teoria do enun ciado, Nes sa pe rspectiva, fica eviden te que uma li ngü ística
Bakru:in atribui um lugar privilegiado à enunciação enq uanto imanente que se limite ao estudo interno da língua não po
; real idade da l i nguagem: "A matéria lingüística é apenas uma derá dar conta do seu objeto . .É necess;i rio que da traga para
: parte do enunciado; existe também uma outra parte, não� o interior mesmo do seu sistema um en foque que articule o
verbal, que corresponde ao co n texto da en unciação" . lingüístico e o social, buscando as relações que vinculam a lin
Dessa for ma, ele di verge dos seus antecessores (Saussure guagem à ideologia. Sistema de si gnificação da realidade, a )
e a es cola do subjetivismo in div idual is ta rep resen tado por linguagem é um distanciamento entre a ooisa rep resen tada e {
Vossler e seus discípulos) , p ara q uem o enunciado era um ato o signo que a representa. E é ne�a distância, no inters tício enue \
individual e, portan to, uma noção não-pertinente li ngüisti a coisa e sua representação sfgnica, que reside o id eológico.
cameme . Bak htin, aliás, não só coloca o enunciado como Para B aklnin, a p alavra é o signo ideológico por exce-
o bjeto d os escudos da lingu agem co mo dá à situação de enu n l lência, pois, produto da interação social, ela se caracteriza pela
ciação o p apd de componente necessário para a co mp reensão \ plurivalência. Por isso é o lugar p rivilegiado para a manifes tação
e expHcação da estr u tu r a se mantica de q ualquer ato de oom u da ideologia; retrata as diferentes fo rmas de significar a .rea
nica ção ver bal. lidade, segundo vO'Z.es e pontos de vis ta daq ueles que a. empre
Como, através de cada ato de enu nciação, se realiza a gam . D ialógica por natureza, a palavra se transforma em arena \
i n te r s ubjetivid ade humana, o pr o cesso de i nteração ve rbal de l uta de vozes que, situa.das em diferentes posições, querem
t
passa a consti tu i r, no bojo de sua teor i a., u ma real i d ade hm• s er o uvi.d as p o r outras vozes.
dam cntal da língua. O in terlocutor não � um elemento passivo i q
C o ns e üentemente, a linguagem não pode ser encarada
na cons ti tui ção do significado. Da concepção de s igno lingüís- 1 como uma end dade abstrarã, mas como o lugar em que a ideo
l s
tico co m o um (ts i11a " inerte que advém da análise da língua logia se manife t a c o ncrc camcnce, em que o idrol ógico , para
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como s is tema sincrónico abstrato. pass a• se a u ma o ut a com- · se o bjetivar, p recisa de u ma m:at erialidadê ;'êo nfo rme os mos
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preensão do fenômeno. à de signo dialético , v vo, dinâmico. ,c�· B akh tin (Voloshinov, 1 9 29, p. 1 9 ) quando afum a:
Essa visão da l inguagem oo�o interação social, em q ue
o Outro desempenha papel fundamental na cons titu ição do Cada sign o ideológico é nã o apen as um reflex o , uma so br a
signi ficado , integra todo ato de e nu nci ação i ndividual n um da reali dade , ma s tam b ém um fragm ento material des sa
1
contexto mais am plo, revelando as relações i1 tríns ecas entre o realidade. Todo fenôm e n o que fu nciona como signo ideo
d
lingüístico e o social . O percurso que o indiví uo faz da ela ló gico tem uma encarnação material , sej a co mo som , co
boração mental do conteúdo , a ser expresso à o bjet ivação ex mo massa flsica , como co r, com o movim ento do corpo o u
terna - a e n un ciaç ão - desse conte údo , é o rie ntado so como outra co isa qualquer. esse se ntido a r ealidade do
cial mente, buscando ada ptar-se ao contexto ime di ato do aro signo é totalmente obj et iva e, po r tanto, passívd de um es
da fala e, so bretudo, a interlocu to res concretos. tudo m etodologic ame nte unitário e o bjetivo. Um signo é
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um fenômeno do mW1:do euerior. O próp.rio slgno e to dos problemácica colocada pela oposição língua /E a que impôs
os seus efeitos (todas as ações, reações ,e novos signos que ele uma lingüJscica da língua. Estudiosos passam a buscar uma
gera no meio social circundante) aparecem na experiência compreensão do fenôme no da linguage m não ma.is cent rado
exterior. Este é um ponto de suma irnportânci: t . No en apenas na língua, siste ma ideo ogícamenre neutro; mas num
tant o, por ma.is el.ementat e evidente que ele possa parecer, nível situado fora desse pólo da dicotomia saussuriana. E essa
o escudo das ideologías ainda não tirou todas as conseqüên instância da linguagem é a do discurso. Ela poss ibil itará operar
cias que dele decorrem. a ligação necessár ia entre o , nível propria mente lingüístico e
o extralingü{stico a partir do mome nto em que se sentiu que
Mais tarde, ao definir a tarefa da semiologia, _ B�thes "o liame que liga as 'significações ' de um texto às condições
sublinha também a imponància do canícer ideológico do sig sócio-históricas deste texto não é de forma alguma secundá
no. Para ele, a ideologia . deve ser buscada não apenas nos re rio, mas constitutivo das próprias significações " (Haroche et ai .,
mas em que cem sido mais faci lmente percebida, mas, so- . l97 1 > p. 9 8). O ponto de aniaµação dos proc�ssos ideo lógicos _ .
.
brecudo. nas foi:rnas,j�t<? é, no funcionamento significa�ue _ � . e dos fenômenos Íingüísticos é, port a nto, o discur o.
linguagem, que é o lugar onde se da a sua .:;{��;iaii dade: A linguagem enquanto discurso não constitui um uni
. .- . . .. . . . ..
verso de signos que ser ve apenas corno inst rume n to de comu
Uma as possibilidades da semiologia, enquanto disciplina nicação ou suporte de pensamento; �.i��age,:n enquanto dis
ou discurso SOO[e o senrido, é precisamente dar instrumentos curso é interaçáo, e Url} _ modo de produção social; ela não é
de análise que permitam circunscccver a ideologia nas furmas, neÜtra, inocente � ��m na�ral, por isso o l�gar pr ivilegiado de
isto é, onde ela em geral é menos procurada.. O alcance ideo manifesraçâô dà ldeófogi?, Ela é o "sistema -suporte das repre
lógico dos conteúdos é algo percebido �de há muito tempo, �táções 'idcológicas [ ... ]{� 'medium' social em que se: ar
mas o conteúdo jdeológico das formas, se quiserem, conscicui. riculam e defrontam agentes coletivos e se consubstanciam
de cerco modo, uma das grand.es possibilidades de trabalho relações interindividua.is" (Braga, 1 9 80). Como elemento de
do século (apud Robin, 1973) . mediação necessária entre o homem e sua realida de e como
forma de engajá- lo · na própria reali�a.de, :� li.�g�gem é lugar
de oonflico, de confronto ideológico. não pod<;ndo ser estudada
Entre a língua e a fala : o discurs o fura da soci�ade, uma vez que os processos q1,1e � �;;;ti��e� - ·
são hiscórico-soci.us. Seu estudo não pode es tar des vinculado
O reconhecimento da dualidade constitutiva da lin� ae suas condições de produção . Esse será o enfoque a ser assu
guagem , isto é, do seu caráter ao mesmo tempo formaJ e atra• mido por uma nova tendência Ji ngillstica que irrom pe na
vcssado por entradas subj etivas e sociais , provoca um deslo década de 60: a análise do discurso .
camento nos escudos lingtHsticos aré então balizado pela
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CAPlTlJLO 1
ANÁLISE D O DI SCURSO
Esboço histórico
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Esse s trabalho s já . apon am pa ra a dife rença d e perspe c frase e cexco co mo elemento s isomórfico s , cuja s análise s se
1< tiv a que va i ma rca r uma posrur a te6rica de uma análise do dife renciam apena s em g rau s de co mp lexidad e . Vê-se o tex
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g discurso d e linha mais american a , d e out r a mai s européia . to d e uma forma . r edu to ra , não se p reo cupando com a s f o r
ç,
ma s de in stituição do sent ido , ma s com a s formas d e o rga
' L..
Embora a obra de Harri s possa se r consíd erada QQlY
f..O �aJ da análi�e 49discurso , ela se colo ca ainda como nização do s el emento s que o con sti tuem .
s imple s extensão da lingüística imanente na medjda em que Embo ra a gramátic a se en riqueça e ganhe no va o rien
transfere e ap l ica procedimento s de análise de unidades da tação com que s cões colo cadas pela pragmática e pela socio
língua aos enunciado s e situa-s fora de qual.que r re flexão
e lingüí s t ic a , não se p r ocessa uma rup t u ra fundamental , pois
sobre a significação e as conside açõe5 sócio-hi stóricas de a questão do sentid o co n tinua sendo t ratada , esse ncialmente ,
produção que vão distingui r e marca r posteriormente a aná no inte rio r do l ingü í stico :
lise do discurso .
Numa direção diference , Be!l�:����: , ao afirma r que "o A contribuição d a Sociolingüís cica , nesse sentido , é a de que
locutor se apropri a do aparelho formal da lír1gua e e�qncia · sua s e d eve obs e rva r o uso arua J da linguag e m ; e a da Pr a g m ática
posição de 1ocutÔr por índice �specificos " , dá relevo ao pape éa d e que a linguagem cm wo deve se r estudada. em termos
l
do sujeito falant e no prÕ��-� da-�-;;Wlciação e procura mostrar do s ato s de fala . Embor a essas questõe s indique m uma ce rta
como acontece a inscúção desse sujeico no s enunciado s que ele mudanç a em relação à dominância do s estudo s d.a gramátic a ,
emite . Ao falar em "posição " do locutor , ele levant a a questão oão p roduz.cm um rompime nto maio r mas apenas o d e se
d a relação qu e se e stabelec e enrre o 1 utor , eu enun iado e o acresçentar um outro component e à . gramática. O discurso
mundo ; relação que estar á no centro das reflexõe s da análise do caracteriza-se como o que vem a mais , o que vem depo i s , o
discurs o e m que o enfoque da posição sócio•histó ric a dos enun· que se ac rescent a . Em suma, o secundário , o contingente
ciadores ocupa um lugar primordia l . (Orlandí, 1986, p . 108:) .
Segund� Orlandi (1986 ) , �sas duas direções vão mar
car duas maneiras diferentes de pensar a teoria do djscu.rso : Num a pe rspectiva oposta à dessa conce pção da a nálise
uma que a entende como uma extensão ela lingüísáca (que do discurso como extensão d a lingüística, Orland apont a uma
i
cor responderia à perspectiva americana e out ra que co n tend�ncia eu rop�fa que, partindo de ''u m a relação necessária
)
sidera o enveredar para a vertence do discurso o sinrnma de e nt re o dize r e as condições de produção desse dizer " , co loca a
uma crise interna da lingüística, p rinc ipa l mente na área da exterioridade como ma rc a fundame ntal . Esse p res.suposco exige
semântica (que corresponderia à perspectiva européia) . um deslocamento teó r�co, de caráter conflituo50, que vai re
Conforme essa visão , o conce ito de teo ria do discurso ·cor rer a co nceitos exterio res ao domínio de uma lingüística
como extensão da lingüística, aplicado à perspectiva teórica imanente p ar a dar cont a da análise de unidade s mais complexas
americana. justifica-se pelo fato de nela se cons idera rem da linguagem.
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A perspectiva teórica francesa cessidade de c ritérios mais precisos para delim itar o campo da
AD a fim de se chegar a sua especificidade. Definida ini cial
Para Maingueneau ( 1987), a chamada " e scola francesa mente como "o estudo lingü ístico das cond ições de produção
de análise do discurso " (que abreviaremos AD) filia-se: de um enunciado " , a AD se apóia sobre conceitos · e métodos
da lingüística ("A AD p ressupõe a Llngtiistica e é pressupondo
• a uma certa tradição intelectual européia (e sobretudo d.a a Lingüística que ganha especificidade em relação às meto
França) acosrumada a unir reflexão sobre texto e sobre his dologias de tracarnenco da linguagem nas ciências hu manas " ,
tória. Nos anos 60, sob a égide do estruturalismo, a con Orlandí, 1986, p. 1 1 0) . Se por um lado esse pressuposto teó
juntura intdectual francesa propiciou, em tomo de uma rico e merodológico da lingüística distingue a AD das outras
reflexão sobre a " escriturá' , uma articulação entre a lingüís áreas das ciê ncias humanas com as quais confi na (história, so
tica, o marxismo e a psicanálise. A AD nasceu tendo como ciologia, psicologia etc.), por outro, entretanto, não será sufi
base a interdisciplinaridade, pois ela era preocupação não só ciente para, por si só, marcar a sua especificidade no i nte rior
de lingüistas como de historiadores e de alguns psic6logos; dos estudos da linguagem, sob o risco de permanecer numa
• e a uma certa prática escolar que é a da " explicação de tex lingüística imanente. erá nece ári.o considerar outras dimen
to", muito em voga. na França, do colégio à universidade, nos sões, como as que aponta Maingueneau (1987):
idos anteriores a 1 960. Para A Culioli (apud Maingueneau,
1 987, p. 6), "a França é um pafs em que a literatura exerceu • o quadro das instituições em que o discurso é produzido, as
um grande papel e pode-se perguntar se a análise do discurso quais delimitam fortemente a enunciação;
não é uma maneira de subscituir a explicação de texto en • os embates históricos, sociais etc. que se cristalizam no dis
u
quanto exercício escolar . curso;
• o espaço próprio que cada discurso configura para si mesmo
Inscrevendo-se em um quadro que articula o ling üístico no interior de um incerd.iscurso.
com o socia l, a AD vê seu campó estender�se para outras áreas
do conhecimento e assist e�se a uma verdadeira proli feração dos Dessa forms, a linguagem passa a ser um fenômeno que
u.sos da expressão " análise do discurso" . A polissem ia de que se deve ser estudado não só em relação ao seu sistema interno, en
investe o termo " discurso '' nos mais diferentes esf orços ana quanto formação lingüística a exigir de seus usuácjos uma com
líticos então empreendidos faz com que a AD se mova num petência específica, mas também enquanto funnação ideológica,
terreno mais ou menos fluido. Ela busca, dessa forma, definir que se manifesta através de uma oompetêocia socioídeológiCl:
o seu campo de atuação, procurando analisar inicialmente cor
pora ripologicamente mais marcados - so bretudo nos discur Uma prátka discursiva não pode se explicar senlio em função
sos po l íticos de esquerda - e textos imp,ressos. Sente-se a ne- de uma dupla competência: 1 . uma competência específica,
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sistema interiorizado de regrru especí6camenre lingüísdcas e
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\ Segu ndo Chaui (198 1), o termo "ideo logia " , criado
�
pelo filósofo Destutt de Tracy em 1 81 O na obra E/.ementr de
que asseguram a produção e a compreensão de frases sempre
novas - o indivíduo eu utilizando essas regras de maneira :'déologic, nasceu como s1nôn imo da atividade científica que
especifica (perform4m't); 2. wna oornpetência idool6gica ou procurava analisar a faculdade de pensar, tratando as idéias
gera.l que coma implicitamente possível a tota1 idade das ações ''como fenómenos narurai� que �r imem a rela�o do � rp�l
e das significações novas (Slakta, 1971, p. 110). humano, enquanto orga msmo vtvo, com o meio amb1enc_s. _ J,
(p. 23) . Entendida como "ciência positiva do espírito " , ela se
Preconizando, assim, llm quadro teórico que alie o lin opunha à metafísica, à teologia e à psicologia pela ex.atidâo e
güístico ao sócio-histórico, na AD, dois conceitos corna m-se rigor �ntlficos que se propu nham como 1�!.é,odo.
nucleares: o de ideologia e o de discurso. As duas grandes ver ÍContrariando esse significa.do origi nal)o termo passa
tehtes que vão influenciar a corren te francesa de AD são, do a ter � sentido pejorativo pela primeira veiêom Napoleão,
lado da ideologia, os conceitos de Althusser e do lado d.o dis que qualifica os ideólogos franceses de "abstratos, nebulosos,
cur�o. as idéias de Foucault. :É. sob a influência dos trabalhos idealistas e perigosos (para o po er) por causa do seu desco•
desses dois teóricos que Pêcheux, um dos estudiosos mais pro• nhecimento d.os problemas concretos » (Reboul, 1980, p . 1 7) .
; A:_ ideologia passa a ser vista então como uma doutrina irrea-
- r-
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e históricas em que sã.o produzidas. Por isso é que eles comam \ -�Essa separação entre trabalho intelectual e trabalho ma-
como base para suas formulações apenas dados possíveis de redal élá �a aparente autonomia ao primeiro,, isco é, às idéias
uma verificação puramente empfricã\ os dados da realidade que, autonomjzadas e prevalecendo sobre o segundo, .passam
que são "os indivíduos reais, sua ação e suas condições ma
teriais de existência, aquelas que já encontram a sua espera e
a ser expressão das idéias d.a classe dominanie�-
aquelas que surgem com a sua própria ação" (p. 1 4). As idéia:s da classe dominante são, em cada época, as idl.ias:
Dessa forma. citando novamente Marx ,e Engels, a "pro dominantes, isto é, a classe que é a força materiaJ dominante
dução de jdéias, de con cepções e da consciênc ia liga-se, a pr.in da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual. A
dpio, diretamente e intimamente à acividade material e ao classe que tem à sua disposição os meios de produção ma
comércio material dos homens, como uma linguagem da vida terial dispõe ao mesmo tempo, dos meios de produção es•
_ _.,
real'\ Conseqüentemente. "a observação empírica tem de mos- piricual . [ ... ] Na medida em que dominam como da5se e
trar empiricamente e sem qualquer especulação ou miscificação determinam codo o âmbito de uma época histól'ica, é evi
a ligação entre a estrutura social e política e a produção"�\ dente que o façam em roda a sua extensão e, conseqüen
/
No encanto, o que as ideologias fazem., segundo Marx e temente, entre outra s coisas, dominem também como pen
Engels, é colocar os homens e suas relações de cabeça para bai sadores , como ptodutores de idéias; que regulem a produ
xo, como ocorre com a refração da imagem numa clmara es ção e distribuição de idéias de seu tempo e que suas idé,as
cura. Metaforicamente, essa inversão d.a imagem, isto é, o "des sejam, por isso mesmo, as idéias dominanres da época (Marx
cer do céu para a terra em vez de ir da terra para o céu" que ele e Engels, 1965, p. 14).
denuncia nos filósofos alemães, representa o clesvio de percurso
que consiste em partir das idéias para se chegar à realidade. É na seqüência dessas colocações que Chaui ( 1 980)
Segundo Chaui. (1 980) 1 é nesse momento que, para chega c:ntão à�ara.ctetização da ideologia segundo a concep
Marx, nasce ção marxista. Ela é ll m instrumento de dominação de classe
porque a classe dominante faz. coro que suas idéias passem a
\a ideologia propriamente dita, isto é, o sistema ordenado ser idéias de todos . Para isso eliminam-se as contradições en
,_d� idéias ou representações e das normas e regras como tre força de produção, relações sociais e consciencia, resul
a1go separado e i ndepen dente das condições rnareriajs, r;m tes da divisão soci.aJ d o trabalho material e intdectual .
visto que seus produtores - os te6ricos, os ideólogos, o:s Necessária à dominação de classe, a ideologia é ilusão, isto é,
intelectuais - nio esmo di retamen te vin cufados .à produ abstração e inversão da realidad.!Je por isso
ção material das condições de existência. E, sem perceber,
exprimem essa desvinculação ou separação através de suas permanece sempre no plan o imedi.no do aparecer social . . .
·1
idéias\ (p. 65). o aparecer social é o modo de ser do social de ponta-cabeça.
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um a bas e real , s6 qu e essa bas e está d e ponta•ca.beça , é a Aith.usse r afirma que , para mante r sua dominação , a classe do
aparênci a socia l (p . 10 5) . minante g e ra mecanismo s d e perp e tuação ou de rep rodução
da s condiçõe s mate riais , ideológicas e po líticas de exploração .
(Par a cria r na c onsciência do s ho men s ess a visão ilusória. É a í então que em ra o pape l do Estado que , at ra vé s de seus
da re\íliãade como se fosse realidade , a ideologia. organiza-se Aparelho s Repre sso re's"l - ARE - (comp reendendo o g ove r -
no , a administ raçã
,,,
o > o Exército,, c'.! i po lícia
"como um sistema lógico e coerente de re p resentaçõe s (idéias _ , o s tribunais , a s pri-
e valore s ) e de norma s ou re ras (de co nduta ) que indica m e sõe s etc.Xê Apa relho s Ideológ ico s L AIE - (co mp ree ndendo
e co�o devem pens�o que devem valoriz:r, o que devem a pol ít ica , o s indicato , a cuJcura , a info:rmação ){!� te rvém ou
p. 1 13) . El a se apresenta , ao mesmo tempo � como exp licação minada a submete r -se às rela ções e condições de explo .ração · J.
_;
teórica e pr ática{Enquan to exp licação , da não explicita e , Dent re as dife ren ça s que A lrhusse r escabelec e enn-e 0 5 ARE e
aliás não pode eipíicitar tudo sob o risco de se petder , de se os AIE estari a sua forma de funcio nament o : enq _uanto qu e os
destruir ao expor , por exemplo . as diferenças , as contradições p r imeiros "fu n cio nam de uma man eira massiva mente p re •
r
sociais . Essa manobra camufl adora "Va faz e com que o di s valen te pela rep ressão (inclusive Í'I.Sica ) , embo ra funcio ne se
i
cu rso , e d e modo e.speciaJ o marca.dam ente ideol6gico , se ca-: cundariamente pela ideologia " ; inve rsameme o s segundos "fun.
racterize pela presença de "lacunas " , "s ilênc ios " , «brancos " clonam de um modo massivamente p revalent c pela ideologia ,
que preservem a coerência do seu . sistem-;.\ embo ra funcionando se�ndariame nte pela rep ressã o , mesmo
Dessa forma , se em Marx., o termo " ideologia " parece que no limi te, mas apenas no l im i te, esta se ja ba s tante ate "
estar reduzido a uma simple s categoria filosófic a de i usão ou nuada , diss imulada ou até simbólica " (p . 47 ) .
mascanunenco da realidade social, isso decorre do fato de se Althusser assinala queféomo todo funcioname nto da
tomar, como pont o de partida par a a elaboração de sua teoria, ideologia do minan te está co ;;:cént rado nôs A IE, a hegemo
a crítica ao sistema cap ita.lista e o re spectivo desnuda me nto nia ideológica exercid a acrav6 . ddes é impo rtant e para se cria •
dia ideologia bur�e sa . A ideologia a que ele se refe re é , po r• rem as co �dições necessár:ias para rep rodução das relações de
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corno de um uso específico do conceito, o de "jdeologia do b) "a ideologia tem uma cx¼tência porque existe sempre num
minan te". Nessa parte do seu estudo, ele va.i se aplicar à con aparelho e na sua prática ou suas práticas".
ceituação do que entende po.r ideologia em geral, que lhe é
disrinra da.o; ideologias particulares, "que exprimem sempre, Para explicar sua tese, Althusser parte da colocação
seja qual for a sua forma (religiosa moral , jurídica, políticai, fe i ta por uma corren te ideal ista que reduz a ideologia a
posições de classe" (p. l 2) . idéias do tadas por definição de existência espiritual; em ou
Sua "ideologia em geral,, seria, no fundo , a "'abstração tras palavras , o compor camento (material) de "um s ujei to
dos elementos comuns de qualquer ideologia concreta, a fi dotado de uma consciêncía em q u e fo.rma livremen te, ou
xação teó rica do mecanismo geral de qualqueí ideo] ogia" e, reconhece livremente, as idéias em que crê", decorre natu
para explicá-la, for.mula três hipó teses: ralmente dessas idéias que constituem a sua crença. Re
conhece-se, dessa forma, que as idéias de um sujeito existem
a) "a ideologia representa a rdação imaginária de indivíduos ou devem existir nos seus atos, e se isso não acontece, em
oom suas reais condições de exis tência" . prestam-se-l hes outras idéias correspondentes aos atos que
ele realiza.
Com �ca tese, Althusser se opõe à concepção simplista Para Afthusser, en tretan to, essas idéias deixam de ter
de ideologia como representação mecânica (ou "mimética") uma exis tência ídeal, espiritual, • e ganham maceríalidade na
da realidade; para ele. o problema da ideologia se coloca de medida em que sua existência só é possível no scio de "um
outra forma: a ideologia é a maneira pela qual os hornens apardho ideológico material que prescreve práticas ma
vivem a sua rdação com as condiç ões terus de existência, e essa teriais governadas por um ricual material, práticas que exis
relação é necessariamen te imaginária. Acentua o caráJter ima tem nas ações materiais de um sujeito" {McLennan et ai . ,
ginário, o aspecto, por assim dizer, "produtivo" da ideologia, 1 977, p. 1 2 5 ) .
pois o homem produz, cri a formas simbólicas de represen A existência da ideologia é, portanto, material, porque
tação da sua relação com a realidade concreta. O imaginário as relações vividas, nela representadas, envolvem a parti
é o modo como o homem atua, relaciona-se com as condições cipação individual em determinadas práckas e rituais no in
reais de vida. Sendo essas relações imaginárjas, isto é, repre terior de aparelhos ideológicos concreto!i . Em o utros ter
sentadas simbolicamenre, abstratamente, supõem um distan m os, a ideologia se materializa nos atos concretos, assu
ciamento da realidade. E esse distanciamento pode ser "a mindo com essa objetivação um caráter moldador d:11s ações.
causa para a transposição e para a deformação imaginária das Isso leva Ahhusser a concluir que a prática s6 existe numa
condições de existência reais do homem, numa palavra, para ideologia e através de urna ideologia.
a a1ienação no imagi nário da represemação das condiçõe. s de
existênda dos homens" (p. 80). e) "a ideologia interpela indivíduos como sujeitos" .
24 25
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Toda ideologia ce:m. por função constituir indivíduos Ricoeur ( 1 977) atribui à ideologia a função geral de
concretos em sujeitos. Nesse processo de constituição, a inter mediadora na integração social na coesão do grupo. Esse
pelação e o (re)conhecimento exercem papel importante no papd se caracteriza pda presença de cinco traços:
funcionamento de toda ideologia. É através desses mecanis
mos que a ideo l ogia, funcionando nos rituais materiais da 1 ) A ideol , o gia perpetua um ato fundador inicial. Nesse sen
vida cotidiana, opera a transformação dos indivíduos em su tido,
jeitos. O reconhecimento se dá no momento em que o sujeito
se insere, a si mesmo e a suas ações, em práticas reguladas a ideologia é função da distância que separa a memória so
pelos a.pardhos ideológicos. Como cat,egoria constitutiva da cial de um acontecimento que, no rotanto, trata-se de repeti r.
ideologia.. será somente através do suj eito e no sujeito que a Seu papel não é somente o d.e difundir a convkç:ão pata além
ex ístência da ideologi a será possível. do círculo dos pais fundadores, para convenê-la num credo
de todo o grupo, tnas também o de perpetuar a energia ini
Em Ri coeur cial para além do período de efervescência (p. 68).
O fenômeno ideo]ógico tem sido forcemente marcado Essa perpetuação de um ato fundador está ligada à "'ne
pelo marxismo. Sem querer combater Marx ou ir a seu favor, cessidade, para um grupo social, de conferir-se uma iina
Paul Ricoeur alerta para uma tendência que se faz sentir sob gem de si mesmo, de representar-se, no sentido teatral do
a influência de se fazer urna imerpretação redutora do fenô termo, de representar e encenartt .
meno ideológico partindo de uma análise em termos de elas• 2) A ideologia é dinâmica e motivadora. EJa jmpulsiona a prá
ses sociais. Interpretação redutora porque ela define ideologia xis social, motivando-a, e "um motivo é ao mesmo tempo
apenas por sua função de justificação dos interesses de uma aqwlo que j ustifica e que compromete". Por isso, "a ideo
classe, a dominante. logia argumenta" , estimula uma p ráxis social que a con
Uma definição de ideologia que a reduz às funções de cretiza. Nesse sentido, ela é mais do que um si mples reflexo
dominação e de justificação é que nos leva a aceitar, sem crí de uma furmação social, ela é também justificação (porque
tica, a identificação de ideologia com as noções de erro, men• sua práxis "é movida pelo desejo de demonstrar que o grupo
ti ra, ilu ão. Ele não nega a existência de tais funções, mas, que a professa tem razão de ser o que é") e projeto (por ue
antes de chegar a ela, diz ser preciso entender uma função an• modela, dita as regras de um modo de vida) .
terior e básica que conceme à ideologia em geral. Ele analisa
3) Toda ideologia é simpHficado ra e esquemática. Inere nte à
o conceito de ideologia em uês instâncias :
sua função jusrificadora, a ideologia apresenta um caráter
codifi cado "para se dar uma vi ão de conj unto, não so
a) Função geral da ideologia
mente do grupo, mas da hisr6ria e, em última instância, do
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mundo". Por isso, visando à efi.clcia social de suas idéias, da Toda autoridade procura, segundo seus sistemas poll
é racionalizadora e sua forma de expre:ssão preferencial são ticos, legitimar-se, e para tal é necessário que haj a correlati
as máximas. slogans e form as lapidares onde a retórica está vamente uma crença por parte dos indivíduos nessa legitimi
sempre presente. dade. Como a legitimação da autoridade demanda mais crença
4) Uma ideologia é operatória e não-temática. Isco é, "ela opera do que os indivíduos podem dar, surge a ideologia como sis
ar.rás de nós, mais do que a possuímos como um cerna dian tema j ustificador da dominaçao.
te de nossos olhos. É a partir dela que pensamos, m-ais do E é no momento em que a ideologia•integração se cru
que podemos pensar sobre ela" (p. 70). É devido a esse esta za com a ideologia-dominação que etnerge o caráter de dis
tuto não-reflexívo e não-transparente da ideologia que se torção e de dissimulação da ideologia. Mas nem todos os tra
vinculou a ela a noção de dissimulação, de distorç.ão. ços que foram atribuídos a seu papel mediador passam à fun
5) A ideologia é, _poderíamos dizer, intolerante devido à inércia ção da dissimulação, corno se costuma fazer.
que parece caracreiiti-la. Inércia em relação ao aspecto tem
poral, uma vez que "o novo só pode ser recebido a partir do e) Função de deformação
típico, também oriunào da sedimentação da experiência
social" . Nesse :sentido, a ideologia é conservação e resis Aqui o termo "ideologia" adquire a noção marxista pro
cenda às modificações. O novo p6e em perigo as bases es priamente dita. Tomando a religião (que opera a inversão entre
tabelecidas pela i deologia. Ele representa um perigo ao o céu e a terra) como a ideologia por excelência, Marx, como
grupo cujos memhros devem se reconhecer e se reencontrar já vimos, conceirua o fenômeno ideológico como aquilo que
na comunhão das mesmas idéias e práticas sociais. A ideo nos faz, segwido palavras d.e Ricoeur, "tomar a imagem pelo
logia opera, assim, um estreitamento das possibilidades ele real, o reflexo pelo origina!".
interpretação dos acontecimentos. Afetada pelo seu ca Para Ricoeur, essa função de deformação é uma instância
d.ter esquematizador, da se sedimenta. enq uanto os fatos especifica do conceito de ideologia e supõe as duas outras ana
e as situações se transformam.'Sedimentação que pode levar lisaidas anteriormente. Pois para ele é básico, no fenô meno
ao "endausuramento id.e.ológico e até mesmo à cegueira ideológico, o papd mediador incorporado ao mais dementar
ideológiat , vínculo social: "a ideologia é wn fenômeno insuperável da exis
tência social. na medida em que a cealidade social sempre
b) Função de dominação possuiu uma constituição sim bólica e co mporta uma inter
pretação, em imagens e representações, do própdo víncuJo
Nessa instância, o conceito de ideologia está ligado aos social" (p. 75) .
aspectos hierárq uicos da organização social cujo sistema de Seguindo o percurso analítico de Ri coeur, podemos
autoridade incerprera e j ustifica. sentir que, na instância inicial, quando o fen6meno ideol6-
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gico rem sua função originariamente ligada ao papel de mc- geral. Dessa forma, pelo c.aráter arbitrário do si gno, se por um
diador na integração social, a noção de ideologia não carrega ado a linguagem leva à criação, à produtividade de sentido,
propriamente sentido negativo. Esse sentido negativo apa por outro representa um risco na medida em que permi te
recerá (e se fixará definitivamente com o marxismo) quando manipular a construção da. referência. Essa liberdade de re
o fenômeno se cristalizar em face do problema da autoridade lação entre signo e sentido permite produzir, por exemplo.
que, acionando o sistema justificativo da dominação� detona sentidos novos, atenuar outros e eliminar os indesejá.ve �
o caráter de distorção e de dissim ulação da ideologia. Parece que essas d uas concepções não se excluem se
Um balanço das colocaçõe6 vai-nos mostrar que essas partirmos do pressuposto de que a ideologia, enquanto con
diferentes formas de ver e conceituar a ideologia oscilam entre cepção de mundo, apresenta-se como uma forma legítima .
dois pólos; e isso certamente vai determinar maneiras dife verdadeira de pensar esse mundo. Tal modo de pensar, de
,i rentes de abordar a relação linguagem-ideologia. recortar o mundo - atravessado pela subjccividade - em
l}?e um lado, temos uma concepção de ideologia geral bora se apresente corno legítimo, pode ser, no entanto, in
mente l igada à tradição marxista, que apresenta o fenômeno compatível com a realidade, isto é, os modos de organização
ideologia de maneira mais restrita e particular, entendendo.o dos dados fornecidos pela ideologia podem ser autónomos>
como o mecanismo que leva ao escam(lteamento da realidade imaginários, fictícios em relação aos modos de organização da
social, apagando as contra,dições que lhe são inerentes. Con realidade. Essa incompatibilidade pode ser vivida de maneira
seqüentemente,. preconiza a existência de um discurso ideo inconsciente . É nesse sentido que Ricoeur diz ser a ideologia
lógico que, utilizando-se de várias manobras, serve para le operatória e não-cemácica, porque, "operando atcls de nós,.
gitimar o poder de uma classe ou grupo social:l, · é a partir dela que pensamos e agimos sem, muitas vezes.
{jje outro lado, temos uma noção mais �pia de ideo tematizá-la, trazê-la ao nível da consciência. El�ntretanto,
logia que é defi nida co mo uma visão, uma concepção de pode ser produzida intencionalmente. É nesse pomo que as
,, mundo d.e uma determinada com.unidade social numa deter duas concepções de ideologia se cruzam. Isso pode ocorrer
minada circunsdncia hisrórfr.a. 'I sso vai acarretar uma com especificamenre com determinados discursos como o po
preensão dos fenômenos linguagem e ideologia como noções lítico, o religioso , o da propaganda, enfim, os marcadamente
esrrdtamence vinculadas e mucuameme necessárias, uma vez inscícucionalízados .. Neles, faz-se um reoorte da real idade,
que a primeira é uma das instâncias mais significativas em que embora, por um mecanismo de manipulação, o real não se
a segunda se materializa. esse sentido, não hâ um discurso moscre na medida em que, intencionalmente, se omitem,
ideológico, mas todos os discursos o são. Essa postura deixa atenuam ou falseiam dados, como a5 contradições que sub
"'
de lado uma concepção de ideologia como "fu.l.sa consciência jazem às relações sociais. Selecionando, dessa manei ra, os
ou dissimulação, mascaramento, voltando-se para outra di� elementos da realidade e mudando as formas de articulação
reção ao entender a ideologia como algo inerente ao signo em do espaço da realidade, a ideologia escamoteia o modo de
•.
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ser do mundo. E esse modo de ser do mundo, veiculado por sua singularidade e possibilitam a passagem da dispersão para
esses discursos, é o recorte que uma determinada instituição a regula riclade. Regular idade qae é at ingida pela análise dos
ou classe social (dominante) num dado sistema (por exemplo, enunciados que constituem a formação discursiva.
o cap italista) faz da realidade, retratando ass im , ainda que de [iieflnindo o- discurso como um conjunto de eooncia
forma enviesada, uma visão de mundg dos que se remetem a uma mesma formação discursi�"um
discurso é um co njunto de enunciados que cem seus prin
cípios de regularidade em uma mes ma formação di_ scursiva " ,
O conceito de discurso em Foucault Foucault, 1 969, p. 146 .)(é_ra Foucault, a análise de uma for
mação discursiva comistirá, então, na descr ição dos enun
Alguns dos conceitos colocados por Foucault f oram ciados que a compõe� a noção de enu nciado em Foucau lt
fecundos para aqueles que se lançaram numa pesquisa li n é contraposta à noção ae proposição e de frase (unidades, res
güística visando ao discurso. pect ivamente, constitutivas da lógica e da liugüistica d.a frase),
Foucault (1969) concebe os discursos como uma dis '?)nccbendo -o como a unídade elementar, básica, que forma
persão, isto é, como sendo forma.dos por elementos que náo um discurso@_díscurso seria concebido, dessa forma, como
estão ligados por nenhum princípio de unidade. Cabe à aná- uma fumília de enunciados pertencentes a uma mesma for
1ise ào discurso descrever essa dispersão, buscando o e stabep mação cLiscurs�
lecimcnro de regras capazes de reger a formação dos discursos. Foucault enumera quatro características constitutivas
Tais regras:, chamadas por Foucault de "regras de formação " , do enunci ado. A primeira diz respeito à .relação do enunciado
possibilitariam a determinação dos elementos que compõem com seu correlato que ele chama de "referenciar. O "refe
l
o discurso, a saber: os objetos que aparecem coexistem e se rencia " , aquilo que o enunciado enuncia, "é a condiçao de
transformam num " espaço comum" discursivo; os di ferentes possibilidade do aparecimento, diferenciação e desapareci
tipos de enunciação que podem permear o discurso; os Cf m mento dos objetos e relações q ue são designa dos pela frase " .
ceitos cm suas formas de aparécimcnto e transformação em Assim, o enunciado, por sua função de existência, ªrdaciona
um campo discursivo, relaci onados em um sistema comum; as unidades de signos que podem ser proposições ou frases com
os temas e teurias, isco é> o sistema de relações entrt"! diversas um domínio ou campo de objeros" (Machado> 1 98 1 , p. 168),
estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, possibfütando-as de aparecerem com conteúdos concretos no
perm itindo ou excluindo certos temas ou teorias. tempo e no espaço.
Essas regras que determinam, portanto, uma " formação A segunda caracterís tica (em cuja exposição nos alon
discursiva" se apresentam sempre como um sistema de re garemos devido à importância ela questão para a análise do
lações entre ()bjetos . tipos enunciativos, conceitos e estra discurso) diz respeito à relação do enu nciado com seu sujeico.
tégias. São elas que caracterizam a " formação discursivà' em Fo ucault situa-se na vertente oposta a wna concepção idca-
_, -
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lista do suj e i to que, interpretado como o fundador do pen consiste em analisar as refações en tre o autor e o que ele diz
samento e do obj eto pensado , vê a histó1ia como um processo (ou quis dizer, ou disse sem querer); mas em determinar qual
sem ruptura em que os elementos são íntroduziàos conti é a posição que pode e deve ocupar todo indivíduo para ser
,.
nuamente no tempo concebido como totalização. Critica, seu sujeito ( 1 9 69, pp. 1 1 9-20) . Dessa forma, se o suj eito é
dessa forma, uma concepção do suj eíto enquanto instância uma função vazia, wn espaço a ser preenchido por diferentes
fundadora da linguagem: indivíduos q ue o ocuparão ao formularem o enunciado, deve
se rejeitar qualquer concepção unjficante do suj eito. O dis
Poder-se-ia dizer que o rema do sujeito fundador permi te c1i curso não é atravessado pela unidade do sujeito e sim pda sua
<Lir a realidade do discurso. O sujeito fundador [ ... ] está en- dispersão; dispersão decorrente das várias posições possíveis
" ..
carregado de ammar. diretamente com seu m odo �o.e ver as de serem assumidas por de no discurso: "as diversas moda
formas vazias da língua: é ele que, atravessando a espessura lidades de enu nciação em lugar de remeter à síntese ou à fun.
ou a inércia dru. coi.sas vazias, reroma, incuitivameme, o sen ção unificante de um sujeito, manikstam sua dispersão" (1969,
tido que aí se encontra depositado; é ele igualmente que, para p. 69) . Dispersão que reflete a descontinuidade dos planos de
além do tempo, funda horizontes d.e si:gnific.aç5es que a hi.s� onde fala o sujeito que pode, no interior do discurso, assumir
tória não terá, em seguida, senão que explicitar e onde as pro djferences escatutos. Esses planos "esrão li gados por um sis
posições, as ciências, os conjuntos dedutivos encontrar5:o tema de relações, o qual não é estabelecido pela atividade
enfi m seu fundarnenco. Em sua relação com o sencido, o :su• sin técica de uma consciência idêntica a si, muda ou prévia a
jeito fundador dispõe de si gnos, de marcas, de traços, de le qualq uer palavra, mas pela especificidade de uma prática dis
tras. Mas não tem necessidade, para os manifestar, de pamr cursiva" ( 1 969, p. 70) .
pd.a instância singular do discurso (1974, p. 49) . . � conce p ção de discurso como um c.a.mpo de regula
ridades, em que diversas posi , ções de subjetividad e podem ma
Rompendo com essa ordem clássica que via a história nifestar-se, redimensiona o papel do sujeito no processo de
como um discurso do contín�o, do desenrolar previsível do _ organização da linguagem, eliminando-o como fonte geradora
Mesmo, Foucauh install.ra uma nova visao da história como de signi:6.cações. Para Foucault, o sujeito do enunciado não , é
ruptura e descontin uidade, construindo-se uma série de mu causa, origem ou ponto de partida do fenômeno de articulação
tações inaugurais onde não há lugar para um projeto divino escrita ou oral de um enunciado e nem a .fonte ordenadora,
de significação que os enun
ll
ou humano. Atri buindo à in.srincia si ngular do discurso um móvel e con stante. das operações
estatuto privilegiado, para ele, a matéria de uma análise his ciados viriam manifestar na superfície do discurs�
córica descon tínua é o evento na sua manifestação discursiva Outra caraccerfstica é a que diz respeito à existência de
sem referência a uma teleologia 'o u a uma subj etividade nm um domínio, ou sej a, de um "campo adjacente" ou "espaço
dadora: "' Descrever nma formulação enq uanto enunciado não colateral", associado ao enunciado integrando-o a um conjunto
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íl
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d e enunciado s , já . qu e , ao con trário d e uma frase ou p roposição , lingüístic o ( 1 979 , p . 247 ) . Com ess a ressal v a , de staca remos
[É.ão exist e u m enunciado isoladamente : d entre a s suas idéias , e nqu an to con t ribuiçã o pa ra o es tudo
da linguag em , o s seguinte s itens :
Todo enunciado s e encontra assim especificado : não existe
enunciado em geral , enunciado livr e , nemro e ind ependen a ) a concepção do dis, cu rso co nside rado c o mo p rática que
te ; mas , sempr e um enunciado fazendo part e d e uma séri e ou provém d a formação do s sabe re5 , e a necessidade , sobr e a
d e um conjunto , desempenhando u m pap e J no meio do s ou qua l insist e obsess i vament e , de sua a rticulação com a s ou
tro s , apoiando-se nel e s e s e distinguind o deles : el e s e íntegra t ras prática s não-discurs ivas ;
sempre e m um jogo enunciativ� l969 , p . 124 ) . b ) o , conc eit o de ''formação discursiva " . cujo s elemento s co ns
titutivo s são regido s po r det erminadas "regra s de formaç ão "' ;
A quarta caractedscica constitutiva do enunciado é e ) dentre esse s elemento s con st itut ivo s de uma formação dis
aquela que o fa z emerg ir como objeto : refece-se a sua con cu r: iva , ressal ta- e a di stinção ent re enunciação (q ue e m
diçã o material . Para caracteriza r essa materialidade , Foucau lt diferentes formas de jog os enunciativos singula riz a o dis
faz urna distinção entre enunciado e enunciação. E st a se dá curso) e o e nu nciado (que passa a funcio na r como a un i
toda vez que alguém emite um co n junto de sig nos ; e nquanto dade lingü í stica básica , abandonando -se , dessa forma, a
a enunc iação se marca pela singular idade , pois jamais se re
j; noção d e se ntença ou frase g ramatical com essa fun ção )
I
;
pete, o enunciado pode ser repet ido . H ipoteáca mente , enun
1!
d ) a co ncepç.ao de discu rso como jogo est ratég ico e polêmico ;
ciações diferen tes podem encerrar o mesmo enunciado . No
o d i sc u rso não pode mais se r analisado simplesme nte s ob
enta nto , como a repetiçã o de um e nunciado depende d e sua
:1
1
seu aspecto Ungilíst:ico, ma como jogo e stratégic o de ação
mater ial idade, que é de ordem institucional, isto é , depende
e de reação , de pe rgu n ta e resposta, de dom inação e de
de sua localização cm um campo institucional , uma fras e dita
esquiva e também como luta (1974 , p . 6) ;
no cotidiano, inserida num romance ou inscrita num outro
1 e o discurso é o espaço em que saber e poder se a rticulam,
cipo qualquer de texto , jamais - se rá o mesmo enunciado , pois )
pois quem fala , , fala de algum luga r, a pa rtir de um di reito
em cada um desses e spaços, possui uma função enunciativa
reconhecido institucionalmente. Esse discurso, que passa
diferente .
11 po r ve rdade iro , que veicula saber (o saber institucional ), é
i As idéias de Foucault são fecundas na medida em que
gerador de poder;
'l co locam d iret r izes para uma análise do discu rso , mas ve
f) a p rodução desse discurso g e rador de poder é controlada,
rif icar como se concretizam essas diret rizes, no n íve li n
l
selecio nada, org anizada e redistribuída por certos p rocedi
güístico propriamente dito, t. uma tarefa que deixa aos lin
mentos que têm po r função eliminar tod.a e qualque r ameaça
gü istas, e ele não a rea liza uma vez que não tinha como preo
à pe r manência desse poder.
cupação cenrra.l o enfoque do discurso enquanto p r oblema
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;_,_____
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,.
Língua, discurso e ideologia güíscica o p onto nodal das contradições que atravessam e
or ganiza m esta disci p l i na sob a forma de tendênd�, di
Pêcheu.x: ( 1 977) desenvolve uma crítica marxísta da reções de pesquisa, escolas lin gü ísticas etc. ";
concepção foucau làana do discurso, considerada do ponto de • é justamente neste "p onto nodal" rep resentado pela semân
vista da cate go ria da contradição e conclui sobre a necessidade tica que a lingüística confina com a filosofia e es pecifi.ca
"de uma ap rop riação do que o crabalho d.e Folicaufr contém de mente, na sua perspectiva, com a ciência das formações so
materialista" . É justamente visando a uma articulação entre a ciais ou o materialismo histórico.
concepçlio de discurso de Foucault e uma teoria materialista do
discurso que Pêchcux e Fuchs (1 975) preconizam um quadro
Fazendo uma caracterização da situação atual da lin
epistemológico geral da AD que en globe três regiões do co
güística, Pêcheux identifica três principais tendências:
nhecimento:
1 ) A tendência formalista-logicis.ta, representada pela escola
1 ) o materialismo histórico, como teoria das formações so
chomslcian� enquanto desenvolvimento crítico do estru
ciais e suas transformações;
turalismo lingüístico através das teorias '"gerativas". Ela se
2) a lingüística, com.o ceoria dos mecanismos sintáticos e dos
assenta filosoficamente nos trabalhos da escola de Pare
p rocessos de enunciação; Royal (Chomsky, Fillmore, Lakof, McCawl ey).
, r 3) a teoria do discurso, como a teoria da determinação his
2) A tendênda hlstóóca, conhecida desde o século XIX. como
t6rica dos p rocessos semânticos.
"lingüística histórica" (Bmoot, Meillec) , desembocando
hoje nas teorias da variação e da mudança lingüística geo,
Acrescente-se ainda que essas três regiões - cuj os con
ecno, sociolingüística (M. Cohen > V. Weirueich, Labav e
1 ' ceitos básicos são os de formação social, lln g ua e discurso -
de um ponto de vista menos: teórioo, B . Bernstein}.
de difícil articulação, estão de IJIDª certa ma.neilía atravessadas
pela referência a uma t:coria da subjecividade - de natureza 3) Uma terceira tendência que constituiria uma "lingüística
r_ , ,, (ou da "enunctaçao
da ritla . - " , da "p.,,,,..,/;, ,, d "
psican aHtica. 1 ,.,,,mance , a men-
Pêcheux ( 1 975, p. 17) procura elaborar as bases de uma sagem", do "texto" , do "discurso" etc.) em que o acento no
teoria materialista do discurso, p artindo de um duplo ponto primado lingüís tico da co municação faz reativar certas
de vista; preocupações da retórica e da poética. Essa tendência de
semboca numa lingüística do estilo como desvio, trans�
• a semântica não é, como se tem considerado, uma ..parte gressão etc. e numa lingüística do diálogo co mo j ogo de
da lin güística" da mesma forma q ue a fonolo gia, a mor afrontamento (R. Jakobson, Benvcnisre, Ducrot., Barthes,
fulogia e a sinraxe. Ela "constitui, na realidade, para a lín- Grei.mas, Kri sreva) .
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:i Essas três te ndências estâo ligadas por relaçóes con tra filosóficas, fazem parte de uma zona de articu lação da lin
ditórias quer se opondo, quer se combinando, quer se subor güística com a teoria histórica dos processos ideológicos e
dinando uma à ou era. Por exemplo. a tend ência histórica li ga. cíentíficos:
se estranhamente à formalista-logicista por diferentes formas
intermediárias (o funcionalismo, o distribucionaJismo etc.) ; o sistema da língua é o mesmo para o m aterialista e para o
a lingüística da enunciação mantém também uma relação idealisra, pata o revolucionário e para o .reac ion:i.rio, para
con traditória com o fo rmaHsmo-Jogici ta, principalmen te o que djspóe de um conhecimemo dado e para o que não
com a filosofia analítica da escola de Oxford (Austin, Searle, dispõe. Isso não resulta que des terão o mesmo discurso: a
Strawson etc.), ao abordar os problemas da pressuposição . língua aparece como a base comum de processos discursivos
Uma contradição com um que opõe: a primeira ten diferenciados (p. 8 1).
dên cia às duas outras é aquel a que liga a "langue" ao mes
mo rempo à "história" (2' tendência) e aos "sujeitos falantes" Pêcheux coloca, dessa forma, duas noções funda.men
(3ª tendência) ou, em outros termos, "uma contradição entre tais e oposiriv� :
sistema lingüístico (a langue) e determinações não-sistêmicas
que, à mugem do sistema se opõem a ele e intervêm sobre • a noçáo de base lingiHstica que constícui precisamente o
,.
de (p . 1 9) . &sa contradição q ue constitui j ustamente o obje objeto da lingüística e: compreende todo o sistema lingüís
to da "semâmicâ estaria no centco das pesquisas Jingüísticas tico enquanto conj wuo de estruturas fonológicas. morfo
atuais. Pêcheux. não se propõe, em seu trabalho, a resolver essa lógicas e sincáxicas. Dotado de uma relativa autonomia, o
contradição, mas a contribuir para o aprofundamento da aná sistema lingüístico é regido por leis internas;
lise dessa c.ontradição através de uma posição firmada no ma • a noção de procemJ discursivo-ideológico que se desenvolve
terialismo histórico. sobre a ba.,;e dessas leis internas; rejeita-se, assim, qualquer
Essa intervenção da filosofia materialista no domínio hipótese de uma discursividade enquanto utilização "aci
da lingüística, em vez. de trazér soluções, consistírá a n tes de den tal" dos sistemas lingüísticos ou enquanto "parole", isto
tudo em colocar uma série de questões sobre seus próprios é, uma maneira '(concretà' de habitar a "abstração" da "lan
"objetos" e sobre a relação ela própria li ngüística com um gue" . O conceito de processo discursivo é elaborado a partir
outro domínio científico, o da ciência das formações sociais. da noção foucaulciana de sistema de formação compreen
Mecanismos li ngüísticos como, por exemplo, a opo dida como conjunto de regras ruscursivas que determinam
sição, mencionada por Pêcheux ( 1 975, p. 35): entJc expli a existência dos objetos, conceitos, modalidades enuncia
cação/determinação (propriedades morfológicas e si ntáxic;tS tivas. esrratégias(l preocupação de Pêcheux é inscrever o
ligadas ao funcionamento das relativas) ., que constituem ao processo discursivo cm uma relação ideológica de classes,
mesmo tempo fenômenos lingüísticos e lugares de questões pois reconhece, ci�ndo Baliba.r, q_ue, se a língua é indi-
40
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ferente à divisão de classes sociais e à sua luta (daí a relativa b) origina-se indiretamente da sociolingüística na medida em
autonomia do sistema lingüís tico) , estas (as classes sociais) que esta admite variáveis sociológicas ("o estado social do
não o são em relação à lJngua a qual utilizam de acordo com emissor, o estado social do destinatário, a.s condições sociais
o campo de seus antagonismo� da situação de comunicação . .. ") como responsáveis pelas
CPs do discurso;
Essa distinção fundamental leva a reconhecer que: e) cem uma origem impllcita no texto de Ha.rris, Disc<June
:l analym (1 952) : nde não figura o rermo CP, mas o termo
® a língua constitui a condição de possibilidade do "discurso", "situação", colocado etn correlação com o de "discurso" :m
poi.s é uma espécie de invariante pressuposta por todas as referir-se ao fato de se dever considerar como fazendo parte
condições de produção possíveis em um mamemo histórico do discurso apenas as frases "que foram pronunciadas ou
determinado; escritas umas em seguida das outras por uma ou várias pes
G) os processos discwsivos constituem a fonte da produ ção soas em uma só ·siruaçâo" ou de estabdece.r u ma correlação
dos efeitos de sentido no discurso e a língua é o lugar ma entre as características individuais de um enunciado e "as
terial em que se realizam. os efeíto de sentido. particularidades de personalidade que provêm da expe
riência do indivíduo em situações interpessoais condidonadas
[segundo essa perspeetiva, se processo discursivo é pro socialmente" (apud Courtine, 198 1 � p. 20) .
dução de sentido, discurso passa a ser o �paço em que emer•
gem as significações. E aqui, o lugar especifico da constitui ção
' Essa noção de situação se mostra inmficiente e ainda
1 tlo:i sentidos é a formação discurúv.i., noção que, juntamente
bastante próxima da formulação de CP daborada pela análise
com a de condição de produção e formação ideológica, vai
de co nteúdo da psicologia social ou da sociolingü.ística.
constituir Llflla tríade básica nas formulações teóricas da aná
Na seqüência dessas concepções de origem, dois con
lise do discurs�
j untos de definição da noção de CP se sucederam:
43
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Foi Pêcheux: (1969) quem tentou fazer a primeira de É por exemplo essa posrura que Courcine detecta no
� ,
fin ição empírica geral da noção de CP. Ele o fez inscrevendo trabalho em que Courdesses (l 97 1) analisa as dife renças e nu n
l
a noção no esquema " informaciona " da comunicação ela ciativas q11.e r.araccerízam os discursos de Blu m e Thorez. Nele,
bora.do por Jakobson (1963, p. 214); esquema que, apresen as CPs são fo rmuladas de modo que assegurem a "'passag em
1
tando a vantagem de colocar em cena os protagonistas do contínua da história (a conjuntura e o estado das relações so
11 d.iscllrso e o seu "referente " permite compreender as condi ciais) a.o discurso (enquanto t ipolo g ias que nele se manifes
ções (históricas) da produção de um díscu tso/ l contribuição tam) pela med iação de uma caraccerização ps icossociológica
de Pêcheux está no fato de ver nos protagonistas do discurso (as relações do indivíduo ao grupo) de uma situação de enun
:1
não a presença física de " organismos humanos individuais " , ciação " {p. 22) . Sob esse enfoque , �elação entre língua e
mas a representação de "lugares determinados na estrutura de
1
discurso, mediatizada pelo psicossoc1ológico, apaga as deter
uma formação social, lugares cujo feixe de traços obj etivos m inações propriamente históricas, fazendo com que a carac�
caracceríscicos pode ser descrito pela sociologia " . Assim, no terização do processo da enunciação em cada discurso não
interior de uma instituição escolar há Ko lugar " do diretor, do seja relacionada: ao efeito de wna conjuntur a, mas às caracte
professor. do aluno, cada um marcado por pr opriedades di rísticas individuais de cada locutor ou ainda às relações in
ferenciais. No discurso, as relações entre esses lugares, obj e terindividuais que se manifestam no seio de um grupo. Na
_
tivamence definíveis, .acham-se representadas por uma sirie noção de CP assim definida, o pJano pskossociológico do
de "formações imag inárias " que designam o lug ar que des mina o plano histórico, não havendo uma hierarquização teó
tinador e destinatário atribuem a si mesmo e ao outro, a ima rica ��-� planos de referênci�
gem que eJes fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro. ��� propõe uma definição de CP que não seja
Dessa forma, em codo proce�o discursivo, o emissor pode atraída por essa operação psicologizante das determinações
antecipar as representações do receptor e, de acordo com essa históricas do discurso, fazendo -as transforma r -se em simples
anrevisão do "imaginário " do outrQ, fundar estratégias de circunstâncias. Circunstâncias e m que interagem os "su jeitos
discur� do discurso " , que passam a constituir a fonte de rdações dis
Seg undo Courcine (1 98 1 ), essa tentativa de definição cursivas das quais, na verdade, não sã.o senão o portador ou
da n� ção de CP, esboçada por Pêcheux, não rompe, entre o efeit{tostula uma redefinição da noção de CP alinhada à
tanto, com as origens psicossocíológicas já assinaladas na fase análise his tórica das contradições ideológicas presentes na
anterior. Para ele, " os termos ' imagem ' ou 'formação ima ma te rialidade dos discwsos e articulada teoricamente com o
ginária' poderiam perfeitamente ser substituídos pela no ção conceito de formação discurs��
l
de ' pape ' tal co mo é utilizada nas 'teorias do papel' herdadas
da sociologia funcionali sta de Parsons, ou ainda do interacio
11
nismo psicossociológico de Goffman (p. 22) .
1 ' \,r,,
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lfo.
Formação ideológi· ca e formação discursiva ocupar seu lugar em um dos g rupos ou classes de uma dete r
minada formação sociàt\('ts classes sociais, assim conscirufdas,
\jl. d.is cw:s.Q1.!1ma d��!�.<;���In ':11!� a m.i��xi.\lJ4a.� mantêm rdações que sãÔ reproduzidas continuamente e ga
ideológica se concreti2] isto é, é _ _ �_ d_0:5 - �pecto�-- �. ate_r��� � rantidas material mente pelo que Alrhus.ser denominou AIE.
l
·"exis"fêi}�iã-fuaféria "·-aas ideologias. Ao analisarmos a articu Realidades complexas1 os AIE "colocam em jogo práticas asso
laçã� da idcoiogia c�m - -�-- dk��, .dois conceitos j.í tradicio ciadas a lugares ou a relação de lugares que remetem à rdação
il nais em AD devem ser colocados: o de formação ideológica de classe ,• . Num decemúnado momento histórico e no interior
(que abreviaremos FI) e o de formação discursiva (FD). mesmo desses aparelhos, as relações de classe podem carac
\.f_a.ra Pêcheux ( 1975) , a região do roateriaJismo histórico terizar-se pelo afrontamento de posições polític.a.s e ideológicas
que interessa a uma teoria do discurso é a da superestrutura que se organizam de forma aentreter entre si relações de alian
ideológica Hgada ao modo de produção dominante na forma ça. de antagonismos ou de dominação. Essa organização de po
ção social considerada. Dessa forma, é uma materialidade es siçõ� políticas e ideológicas é que constitui as fo rmações ideo
pecífica articulada sobre a materialidade econômíc.a que deve lógicas que Haroche ct ai. (1 971 , p. 102) assim definem:
caracterizar a ideolof�
Falar -s e -á de formação ideológica para caracterizar um ele
o funcionamenro da instincia id.oológica deve ser concebido mento (determinado aspecto da. luta nos aparelhos) suscep- ·
!
como "del:erm inado em última instância '' pela instância eco• rível de intervir como 11ma. força confrontada com outras
forças na conjuntura ideológica característica de uma for
'! " ·
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/:.são as formações discursivas que, em uma f�rmação O pré-construído remete: assim às evidências através da.s quais
ideológica específica e lev�do em conta uma relação de clas o sujeito dá a conhecer os objetos de seu discurso: "o que cada
se, determinam "o que pode _e de.ve se!..dito" a partir- · d<um� um sabe" e simultaneamente "o que cada um pode ver" cm
posição dàdã em uma__ conjup:tµ� dª-<4� uma situação dada. Isso equivale a dizer que se constitui, no
Concébida por Fo ucault ( 1 9 69) ao ínrenogar-se sobre seio de uma FD, um Sujeito Universal que garante "o que
as cond'ções históricas e discursivas nas quais se constimem cada um conhere, pode ver ou compreender"
os sistemas de saber e, depois, elabotada por Pêcheux, a noção
de FD representa na AD um l ugar central da articulação entre e que determina também "o que pode ser dito" (Counine,
língua e discurso. 1 981). Nesse sentido, o pré-construído corresponde ao
Formalmente�no�<:> 4c FD envolv�. dois tipos de fµn- '"coujours déj à-lá" da interpelação ideológica que não só
y
cionamento.-�
.._,,.. . . .....� .. '41 '" ' · '-
fornece mas impõe à "'realidade'' ("'o mUJ1do das coisas") o
seu "sentido" sob a forma da universalidade. Assim,� pré
a) .!.P���ma F D é constituída por um sistema de pa� consrruído, entendido como "objeto ideológico, repre�
ráfrase, isto é, é JU11 espaço em que �J:!�;Q_ç�a4<>� �ãQ _r:eto sent.ação, realidade" é assimilado pelo enunciador no pro
mados e refor�.ul�los nu-m esforçÕ
CODSiaote de fec!i.1. cesso do seu assuj eicamenro ideológico quando se realiza a
meiuó "de suas fro�'rei� �� "b·us � � p;�s�i�ção �e SJ!ª sua identificação, enquanto sujeito enunciador, com o Su
..\�i�ti4?B] es"sa·
A" n·oçâõ. Oriandi ( 1 984) contrapõe uma jeito Universal da FDJ
outr� a de polissemia, atribuindo a esses conceitos oposi
tívos o papel de mecanismos básicos do funcionamento dis O conceito de FD regula, dessa forma, a referência à
cursivo. Enquanto a paráfrase é um mecanismo de "fecha- interpel ação/assuj eitamento do indivíduo e.m sujeito d.e seu
mento", d.e �-de ÜinÚaçã�" \i;;·frontêii-âtde
ú�;·f�;���º discurso. É a FD que permite dar conta do fato de que suj eitos
dfscursivà:-ãpõllsscmia ro�p� ��is fr�nteiras, "emb;ua� falantes� si��()S nu�a d:t(!��� COI.lju ��ura hi_stórica,pc,s�
lhàndo" - os 1imi tes �nue· di'tereotes formações discursivas, saro concordar oú nãl) sobre o sen ci�o a ,¼r � palavras, "falar
i�aj��o- �- pf
�ilid.ade, a multipli�ifla.4 �- �e ,sentid� difer�temente falando -� me�· lfngua" . Isso leva a �nstatar
b) -�-E..� �-�f9,1:l§_trµidç,: constiroi, segundo Pêcheux ( 1 975). um q�ie· um·� -FD �io é "u�; ánica li nguage� para todos'' ou "para
dos pontos fundamentais da articulação da teoria dos dis cada um sua linguagem", mas que numa FD o qu e se tem é
cursos com a lingüística. Introduzido por Heory ( 1 975) , "várias linguagens em uma ún ica�. São essas constatações que
o termo_ d.es igna aqu.ilo que rem�ce _a_ t1_p� c.9..�s��Ç,?í> a!!-: levam Courtinc e Marandin ( 1 98 1) a concluir que:
teriar e exterior� independente, por oposiçã<:> a� que é "co�:-:
ttuído'" pdo enunciad� . É o elemento q,u�. irrompe na su Uma f D é, portanto, heterogênea a ela própria.; o fecha
�;ftci� discursiva como slc!_. �stivesse já-aí. mento de uma FD é fundamemalmeme instável, ela não
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consis te cm um }jmice rraçado de forma: definitiva, sepa é fazer desaparecer e reaparecer as contr adições: é mostrar o
r ando um eúerio.r e um interio r, mas se inscreve entre di jogo que jogam entre si ; é manifestar como pode exprimi-las ,
versas FDs como uma fronteira que se des loca em função dar- lhes oorpo, ou emp restar-lhes uma fugidia aparência". É
dos embates da l uta jdeológica. nesse sentido, ainda, que ele vê uma FD como um "espaço de
di senções múlti plas" em que atuam oposições (a concradição
É em conseqüência dessa hetero geneidade própria a entre a unidade e a diversidade, entre a coerência e a hete
toda F D que Courcine ( 1 982) ainda a caracteriza como uma rogeneidade) cujos níveis e papéis devem ser descriros não com
un idade dividida que tem como princ ípio constirucivo a con o obj etivo de nivelá-las ou pacificl-las em formas gerais de pen
tr adição, tomando como apo.io a afirmação de Foucault ( 1 %9, samento, mas de dem arcar "o, pon to em que elas se constituem,
p. 1 86): de definir a forma que ass umem, as relações que têm entre si
e o dom ínio que elas com andam" (p. 1 92) . AnaHsar o discurso
Tal contr adição, lon ge de .ser aparê ncia ou aciden te do dis é descrever os '"sistemas de dispersão" dos enunciados q ue o
cu rso, lon ge de sec aquilo de que é preciso liber tá- lo para co mpõem a través das suas "regt de forma ção". Se e1e apre
I
' .
que ele li bere enfim sua verdade a erra, consumi a própria sencam um sistema de dispersão semelhante, pode ndo definir
lei ele rua existência: é a par tir dela que ele emerge, é ao wna regularidade nas s uas "formas de repartição", pode-se �zer
mes mo tempo para trad uzi-la e para superá-la que ele se põe que eles pertencem a uma rnesma FD.
a falar [. . . ] . é po rq ue ela está sempre aquém dele e ele jam ais Aproximando as duas abo rdagens de FD fei cas por Fo u
�r '
p ode contorní -la inteira.men te, que ele muda, que ele se caulc e Pêcheux, Cour cine vê o co nceito de FD ligar co ntradi
,
metamor fo seia, que ele escapa por si mesm o a sua própria toriamente clois mo dos de exis tência do discurso como obj eto
.,
1
'
1
con rin uid ade. A com:radição funciona, então , no fio do dis de amiJi se:
curso. como o p rincip io de sua histo ricid ade.
1
! • o n fvel do en unciado : di� res peito ao si stema de formél.Çáo
-
Dessa forma,�mbora uma F D deter mi ne a eus fa.Jan-. dÕsenunciados qu� engi�b�ria "� i�ixe ���I��� ;j� re
1
tes "o que deve e �c;'áisêr' cl.I to;; b us�d� �� h��oge�ei- í;çõcs ' fund���d�-�-;<?_ ���-.g�a-�co·• r���; �; �i;-
� ·.. . . . . ' •' " ' . . . .. .
· dad:e d iscursiva > os êfeito:s ' das co ntradições ideoló gi cas de temãd.eterm i naria "o q11e pode e deve ser dito.. por um s u-
')eícô falãnre s1 �do ��� dado i�gar. 0:um� dada conjun
e
classe são recup eráveis no interior mesmo da '"un ida d " dos
cônj unc_�s _ de discu rsÓ). i�ri; 'rio i nrêrior de u ma FD , so b :i depen dênci a _ do
• T \9abe à AD trabalhar seu obj eto (o discurs o) ins�reven "fnt erdiscur.so des·ta última . Esse nível é o lugar da cons
do--o na relação da língua com a história, . bm. c;an4<?_ na ma� .c iru.iç�o da "mac:riz. do sencido" <ie uma FD determi na da
�alidade l!_ �ís ��a as . ma�ças das coqmi..di.Ç,Qe� }�ló�c� no plano dos ptoce&sos históricos de formação, repro du
Repetindo ainda Foucault ( 1 986, p. 1 87) , "analisar o discurso ção e rransformação dos enunciados. Esse nívd se shua no
51
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plano das "regularidade s pré-term inai s " , aquém da co e
rênci a vi.síve l e horizonta l do s elemento s formados
;
• o níve l d e formulação : refere-s e ao "estado terminal do di s-
,1 • • · · · · ·· · - - · , . . - � - ..... .. . - - • · - . . • .·
curso " ond e o s enunciado s manifestam cerra "roerêncí a vi-
CA P Í TU LO
síve l horizonta " . Traca--s e do inttadiscu.rso e m qu e aseqüên
l
nomes rep .wre• " senta riam o p r- otó upor das categ o rias g rama -
• - • . ,_.. , ..,.. iu- -.-�it:_:;.! ,�.W ,.-.,r, -, � _. 1,,, • -., ,. 1 • · , _ · -
""'
, ' •• • • '" , , ., 1 • • t •: ., ,.,. . , ,,; ". • - •• •
e enquanto relações de lugar , ambiguamente, confun didas
com o jogo em espelho de papéis in te rio res a uma ins ti t i cais, a t r ibu indo -se ao nome p róp r io o idea da rep re se n-
l
tuição (como sugeria seu texto de 1969 ) , coloca como uma tação pura .� .t;1essc quoo, �� . · '°ão_ __ s� <:<>_lo�ya a que�r�9 da
necess idade reo rdenar o conceito, submetendo -o à depen J}: 1 �j� c i�d- ��
dência da relação que uma FD entretém com a "p luralidade Esse poder de rep re sentação da língua co ntinua na
contrad itória " de seu interdiscurso . Para isso deverá buscar episteme mode rna, mas pa ra uma ve rte nte de l ingü i tas,
uma reoria não-subjetiva da cons ti tuição do su jeito em sua filó Qfos da linguagem, essa função deixa de ser fundamen
' 1 :. §..
1• situação concreta de enunciador. tal. �ondo -se ao tradicional pa radig ma cláss ico, neop la
Desenvolveremos a seguir duas noções fundamentais tô nic o, e��� - � -s_ irn, uma no:ª _ ma_ ncir� - d; vêr a .lin gu· a_, _
para a análise do discurso : a de sujeito e a d,e interdiscur ap_ree nde nd���- _mgu�co fu nção detn()ns tra tiva - domí
sividade. nio do "most rar " , da m�t�;çã; � o�· � i�cando -se o lugar da
f�.m�o rep rese ntativa do real, a lfrÍguiadquire es· p���a pr ó
- · ··
pria, pois, liberta das �a r ras que a p re ndiam a uma con-
. _, . . , .
5 2
;
. i 1l
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cepção q ue a considerava apenas enquanto capacidade de ex • terceira fasr- . em que, reconhecendo, no . binatjs�� da con
pri�- r�_re��taçóes, �a � ser d�e�dª�-�a sua escru�� · cepçio anterior, uma po. lariz.ação que impedia ap1eender o su
�egundo essa tendência, Uma das categorias que passa a jeito na sua dis persão, diversidade, a AD procura romper com
ser exemplar é a dos demonstrativos, funcionando mais como a circul:irida.de dessa estrurura dual!, ao reconhecer no sujeiro
uma operação (predicação, afirmação e outros tipos de atos de um car��.t: s.on���6�o . 44.e, _mar��dQ. pel� incomplet!f4ç� _
linguagem) do que como categocja gramatical. É situando-se ànseia pela coml?l��':-1�e, pela vontade .de "q uerçr _ ser inteire(.
nesse ponto de vista que BUhler considera a língua como um .Ãssiiii' num�:i��ção dinâmica entr� �dçnçid:id� e alteridad�,
"campo monstra.tório'' . Nessa perspectiva se inscreve também õsuje.it..;--é· �le m.ti;-� · ��P���:cação_ �e>, <J,Utro. O centro
Benveniste que, através do , estudo dos pronomes, coloca a da relação não está, como n� conr.epções anteriores, nem no
questão da subjetividacle na linguagem. tu nem no tu., mas no espaço discursivo criado entre amoos.
@=sse quadro teórico, o s ujc} ro p�S.S?:- �.��-!I Pª' u�� O sujeito só se completa na interação com o outro.
1 .
posição_ privil egiada, -� a l�ng1;1,agel!l eassa .ª ser considerat{a
o !��- �'!,-�_.l:'1S�t-�.ii�o da subj �':ida4e. E porque constitui o
o·
suj eito, pode represent·u m�nd� A subjetividade em Benvenistt
Analisando o ..P�urs0-.da..concepçio. do sujeito .n-ªs
Refazendo mais detalhadamente algu ns momentos d�e
E4?.9IiM . .H og_(, H�ti�s. rnode_r ��. Orlandi ( 1 983) distingue as
percurso, voltemos a Benveniste q ue (re)incorporou aos es
seguintes etapas :
tudos lingüísticos a noção de subjetividade. Essa noção tem
ocupado, modernamente, um amplo espaço nas discussões lin
• primeira fase: em que as relações interlocutivas estão cen
güísticas. Tendo por preocupação maior analisar "o próprio aco
tradas na idéia da inr�ção, ha.rmonia conversacional, troca
de produzir üm"eriünaãêlõe nãÓ o teX[O de um enunciado",
e"g_ty
enfre_o t!-f_ ..,, Ness� concepçãÔ. idealista ·enquadram-se,
'isfo·e:õ· piácéssõ e n-ão.• o produco Benv'éruste·p��� -.. esboçar,
por exemplo, a noção de sujeito de Benveniste e aquela re
iiô inteiior da língua:· á"s" câracterfsricas formais da en uri�iâç:fo
gjda pelas leis conversacion:âis decorrentes do princípio de
à partir da mánitesiâçiõ'inãi�fd�J que eia arual_1za" .
coo pera.ção griceano;
• segunda fase: em que se passa para a i�é�a--�o conflito. Cen
. . " ' Ao definir':( énunélação e��º um· processo de apro
priação d.a líng1.1a. para dizer algo, levanta dois aspectos:
tradas_ no o_uúo, segundo essa concepção, · ;,_�-;J;çõ;� inter�
subjetivas sã� gc;��madas por uma rensão hásicá'em quifo 'iu a) pa.ra ele, �.! !.�-�:.�. :.P��-� -��� p<>.s�i���-���� .C:X��- �ha coi:i�
determina ó 41.1:e o eu ·diz,. o_corrt�d9 uma��e de .tÍruiii 4o éretude someme no ato da e�u��}�ção, is_to. �! enqu�t'? _<:m-
p��:11�i�_ sobre o s�gundo .. É a c�mcepçio for���;� i�flue� --prégoe\exprêssão"dê.umã:�;ta relaçãt) com � �-�_ndo '.. P�
ciada pela retórica, presente nos momentos inicias da AD f�§.��- �-�fer�n��-p� a à ser parte in�egrante da enun
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r
b) coloca não só a questão da significação na instanciação dis · que, não rendo a marca da pessoa, não refere um indivíduo
curs iva como faz também passar a noção de sentido pela do esp ecífico; relata, dessa forma, um processo que se desenvolve
sujeito. Isto é, introduz " aquel_� _ ql!_� fulª- -º�-51;1ª Wi�. ,_@JQ; fora da relação da subjetividade.
cando necessariamente a figura do locutor e a questão da Essas colocações podem ser s intetizadas no seguinte
subjetividade: "g, � j�� �; discurso _n aqual eu d� J quadro:
-
o locutor que este se enuncia como .. sujeito " 0966, p. 288).
- -- - .. . . ·-- •··--� . . .... _ _ . _.....,,._ ,.____� -- - · · - .. ......___...,.
,
r----•---------------�
t
1 P ronomes pessoais
, • eu . ru I ele
1 \
no éxercício da HnsW!· : °J?.�_�J!içtj r9�- �u��ia sua posiçªQ_.o.o c o rrelação 1
� p= ioa
/
' não -pcs�oa co rrelação
,
. : ciação, .ao instituir-se wn eu, institui-se necessariamente um tu:
"Imediatamente, desde que ele se declara locutor e assume a Embora acentue, na relação discursiva, a figura do par
líng ua, ele implanta o outro face a ele, qualquer que seja o ceiro - "real ou imaginário. individual ou coletivo " - ("vo•
grau de presença que ele atribui a este outro. Toda enunciação cê se constitui como eu na medida em que alguém é cons
�.:..,�plicitam�n.r!����: .�:>�1�:-�:,_ ����P.?.�,��1; ticuído como tu '"), Benveniste vê no EGO o centr o da enun
.
wn al��9 ' ( 1974, p. 82) - ..Ili e '!! são '-?� erfil.�g_Qnistas da ciação e o identifica ainda à noção de sujeito, ao afumar que
'.
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em busca de um a objetivação dos fatos ou de um apagamento tuada de uma subjetividade ''ego-cêntrica " a reger o meca�
da responsabil idade pela enunciação, seja a d.a incapacidade n ismo da enunciação.
patológica de assunção de um eu. Essa esuatégia de masca
ramento é cambém uma forma outra de constituição da sub
• 1 jetividade. Sá que nela o sujeito perde seu eixo então cen O sujeito descentrado: o eu e () ourro
! 1
! : tralizado num eu todo-poderoso> monolítico, descentrando
se e dispersando-se ou para outras formas do paradigma da Veremos agora a1gumas abordage m que, situando-se
pessoa ou para outros papéis que assume no discurso. numa outra perspecúva, co ncebem diferentemente a noção de
Assim, a teoria benvenistiana da representação do su sujeito. P�a essruJ aborda gen s, tno�.?... ��-�i-���r�� .. �-- fu,�da�
jeico no discurso torna-se, às vezes, restrita diante de um� �encat pois, porque marcado espacial e t,ernporãlmente, o
complexidade maior que o discurso na realidade (re)vela. E sujeito é essencí.almente histórico. E porque suâ fala é pro
segundo essa perspectiva que notamos ;!!J- �.t�Y�l !i�Jc , cert:a duzida a partir de um deter.mm.ado lugar e de um determinado
contradição quando coloca a discjnção entre os dois modos · tempo, à concepção de um sujeito histórico articula. -se outra
de enunciação: a discl.lfsiva e a histórica. Para de, �..: n·oção fundamen�: a de um sujeito ideológico. Sua fala é um
ciação discursiva tem as marcas d.a subjetividade _ e!}qu_
_ ��to recorte das representações de um tempo histórico e de wn es
que a enunciação históríca não: t,�·esu."".iliõfe':s�-t:�do
que é paço social. Dessa forma, . e.orno ser projetad�. .n:1.1 111. espaçç e
e�h.� à ·;;;�r;�i� - dos acÕncedmencos que são apresentados num tempo orientado socialmente, o sujeito situa o seu dis-
i
', ·; , .
como se narrassem a si mesmos. Não há um locutor aqui, curso em ��l;ção · ;�� ·di;��;�;·; d� - ���;�. · Õ��;o · q� · e: ��ivc -
n
caracterizando-se o discurso pela ausência da subjetividade. não só - o ·seu àestiiiatâriopara éi_��m planeja� a júsii · a �a fala
' . Essa colocação contradiz o que foi exposto, pois, como vimos, (nível intcadiscursivo), mas que ra:m bém envolve outros dis�
se toda enunciação é um ato de apropriação da lín�a� _impõe-- cursos historicame�t<: ' já cô_ i:i����ps: e que e��rge.m 11a �u�
��. -�ecessárâàmênce> -� 'figú��· �� 4-ffi..��,i�ê ig���:��� fala (nível �nt�r�_�s�y:�Iflesse sentido, questio na -se aquela
pratica � -�t� 4e a,p r9pJia.ção.. concepção do sujeito enquan to ser único, central, origem e
( · · · Resumindo, o sujeito de Benvenistc é um eu que se ca- fonte do sentido, formulado inicialmente por Benveniste, por
\ racteriza pela homog�·�ei�4� · - � tüiídâãâé e.. se ·corist ifúf'iiã que na sua fala outras vozes também falam.
/ 'médí��- �ü<0.�;·rage _ c:o� um � . ....... .. �.1��litã,�- �-� ºf?��- Segundo essa tendência, a noção de subjeti vidade não
<tõ'sé · b�s .� _n_ão-pessoa., ,1, (eu-tu ve�us •/,) A��'..d'. está majs centrada na transcendência do EGO, mas relativizada
.
(Bse ·ru sec compl�!?.<:�.ª1J:.J.nd1spensá.v.d , na . r�laç�� é. � - �
"',".
no par EU- TU, incorporando o outro como ronscim tivo do
que tem ascendê.1:1. s:ü. 1. �9- r_ �. Q.tu. . . sujeito. Disso deoorre uma concepção de linguagem também
_...., ····- ·o��;;��do sintomaticamente esse eu de ego, sente-se, não mais assenrada na noção de homogeneidade. A linguagem
nas colocações de Benveniste, uma marcação bastante acen- . n�o é . "..1� . evidê cia, trans parência de sen tido p?ôdu:tldi . pÔr
r:i
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.
i um su jeito uno , homogêneo , todo -poderoso . É um . suj �i.w._, e ) formas mai s complexa s cm que a presença do outro não é
1 :
que di�id e � esp�ço dis cun; ; �o com o oucro . explicitada po r ma rcas uní voca s n a fras e . É o caso do di s
. ' Podemo s v� . d e maneira evtdente � � m."ànifestação dessa cu rso indireto liv re , da ironia , da antífras e , da alusão , da
heterogen eidade na própria sup e rfíci e discurs iva atravé s da im itação , d a re mini scência em que se joga com o out ro
materialidade lingüística do texto , de formas marc.adas que discurso (à s vezes , to rnando-o mais v i vo ) não mai s no n ível
vão da s mai s exp lícita s à s mais implí cita s , da s mai s simple s às d a transparên cia , d.o explicitamente most rado ou dito , mas
mais comp lexas . no espaço do imp líc ito , do s e m ide s v elad o , do suge rido .
Aqu i nã o há um a fro nteira lingü ístic a rudda ent r e a fal a do
locuto r e a do out ro . as voze se imiscuem no s limite s de
A heter ogeneidade discursiva uma única const rução lingüística .
Anthier-Revm (1982 ) indic a alguma s dessa s forma s de Essas outras formas ma rcada s , in gfü sticamente des
heterogene idade que acusam a presenç a do outro : critíveis , que assinalam um luga r ao outro e revdarn , mo stram
a hete roge neidade na supe r f íc ie discu rsí va , e stão anco radas
a ) o discurso relatado : num p r incípio que fundamenta a p róp r ia na tu reza da lin
guagem : a sua heterogeneidade co n stitutiva .
• no discurso indi reto , o locut0r , colocando -se enquanto tra Um dos supo rtes a que Aut hie r -Re vuz recor re par a ex
plicar a articulação da realidade da s for mas de hete roge ne i da
't
duto r , usa de suas próp rias palav ras para remeter a uma
outra fonte do " sentido " ; de most rada no discu rso com a realidade da hete roge neidade
tr. - • • no d iscurso direto , o lorutor, colocando-se como "porta constitutiva d o discurso é o dialogismo concebido pdo círculo
60 6 1
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,1
Postula uma concepção do ser humano em que o ouuo de (sob sua forma extrema 011 pura), o outro permanece inceira
J! sempenha um papel fundamental; para ele, o ser humano é e unicamente obj eto d.a coru;ciência e não pode formar uma
i nconcebível fora das relações que o li ga m ao outro: "não consciência outra. Não se espera dela uma resposta tal que
tomo consciência de mim mesmo senão através dos outros, possa rudo modifk.ar no mundo da minha consciência. O
é deles que eu recebo as palavras, as formas, a tonalidade que monólogo é completo e surdo à resposta do outro, não o
formam a primeira imagem de mim mesmo. Só me torno cons espera e não reconhece nele força decisiva [... ] O monólogo
ciente de mim mesmo. revelando-me para o outro, através do pre tende ser a últimapa!t:ttJra (apud Todorov, 1 98 1 , p. 1 65).
outro e c.om a aj uda do outro" (apud Todorov, 1 98 1 , p. 1 48) .
nega a existência fora de si de uma oucra consciência., tendo É sobre os elementos desse paradigma que se constrói,
os mesmos dueitos e podendo responder em pé de i gual anoorada historicamente, uma teoria da produção do discurso
dade um outro eu igual (tu} . Na abordagem monológica e do sentido. Rompendo-se com o monologismo, instaurando
62
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.
' '
uma perspectiva dialógica. Bakhti n opõe a uma concepção �nstitutivos do tecido de todo discurso, têm lug a.r nã9 ª-º lad,o
ptolemaica da linguagem "diretamente intencional, categórica, mas ..
no · interior do dí�curs·o. O discurso se te� p9_lifqnica- .
única e singular '' , uma " consciência gali ]eana, rd ativizad.a da mente. num jogo de várias vozes cr uz3.:�, co_� pleni�ntares. • . . .
linguagem " . córicori-en tes", contradit6rias.
..
Para B�tin� .� � ia!osizaçã.o do discurso tem uma dupla . . - Aoriéritaçao vôlrãáa 'pai-a o destinatário tem na inter
os
=
orienéi�� ·-�a voltada para "outros discursos ' 001.!!º ..P�:: locução um fator específico para a dialogização do discurso,
ces�s ·oo�ritutivos do discur�o, outr võltàd;p;ia � - outro da a pois "toda emmciação depende 'bivocalmente ' do locutor e
in.tÇ,! 1� �<> _-. o de.5tinatári�: do alocutário " . Ao enunciar, o locutor instaura um diálog<?
com o discurso d� rec���r -�. q�� � ��ncebe não ��1�� ':.�.
:É urn duplo dialogismo - não por adição, mas em interde como um mero aecodificad.or, mas como um demenco ativo,
64
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Entendendo o sujeito como um efeito de linguagem, a trabalho de escuta, o analista deve estar atento aos "diversos
psicanálise busca suas formas de constitu ição não no interior discursos que se dizem " no desenrolar de uma única cadeia
de um.a "fala homogênea " , mas na diversidade de uma "fala verbal. Isto é, co loca -se como comum a toda fala o f.uo de que:
heterogênea que é conseqüência de um sujeito dividido " . Su "sob nossas palavras 'outras palavras ' se dizem, que atrás da
jeito dividido entre o consciente e o inconsciente. "O incons linearidade conforme 'e missão por uma só voz se fu ouvir wna
1
ciente é este capítulo da minha história que é marcado por um 'polifonià e que 'todo discu.rso quer se alinhar sobre os vários
branro ou ocupado por wna mentira: é capítulo censurado " ,
i i.
alcances de uma partição ' , que o discurso é conscitutivamence
:
como define lacan (apud Authier-Revuz). El.e pode ser recu attavessàdô pelo ' discmso do Outro '" (Authier -Revuz, 19821
perado, reconstruido a partir de traços deixados por esses apa pp. 140-4 l). É nesse ponto que a concepção de um discurso
gamentos, esquecimentos, cabendo ao analista a tarefa da re heterogê neo atravessado pelo inconsciente se articula com uma
construção. Reconstrução que se faz por um trabalho de re "teoria do descentramento " do sujeito falante: "o sujeito não
gressão ao passado na e pela palavra, buscando�se "a restauração é uma entidade homogfoea, exterior à língua, que lhe serviria
do sentido pleno [. .. ] das expressões empalidecidas " (Freud), para 'craduzir ' em palavras um sentido do qual seria a fonte
a " regeneração do signiftcante " (Lacan). consciente " (Authier -Revuz, p. 136).
O trabalho anaUtico se funda na transgressão das leis Segundo essa teo ria, o suj eito apresenta as seguintes
normais da conversação que rege a comunicação na sociedade características;
H '!
d
l, - ' baseada na troca de palavras, visando à troca de bens materiais
1
ou bens efetivos (lei do "tudo dizer " por " associações livres "). a) O sujeito é divid'ido, clivado, cindido. O sujeito não é um
Nessa tramgrcssão articula-se o discwso com o seu aves · · ponto, um.a entidade homogênea, mas o resultado de uma
so, o seu reverso na medida em que "se tenta fazer aparecer ao se
-êsfo.1;;._.;;_ - ���plêx:iquc · iião ' i:ed.m à. dualidade e specular
sujeito, em sua fala, o que se diz, à sua revelia, à revelia de seu <fõ 'sujeitõ ·com ·seu outro, mas se constirui também pela in- _
desejo " . O discurso não se redll.'Z, portanto, a um dizer explf• "ter'ação · om .um terceiro demento: o inconsciente freudiano.
cito, pois de é permanenteniénte atravessado pelo seu avesso: !'§��cié�Íe q��:�� c:ebi�� CC ) �O a ji nguag e� do d�sejo
"o avesso é a pontuação do inconsciente; não é um outro dis {censurado) , é o elemento de subversão que provoca a cisão
curso, mas o díscurso do outro: isto é, o mesmo mas tomado -dó' eu. Essa dívisão do- sujeito não si g;nifica. entretan to, cqm-
....., . - ·· .
ao avesso, em seu avesso " (Cléntenr, 1973, p. 1 59) . Para a psi parti.m.en taçã.o nem dualidade;
=
canálise, o incon iente é uma cadeia de sig.nificantes q�
�epéte "e insiste em ·1�terfe�ir-nas
. .
fissu��qüe l�e' ofe�e-� ( r dl�
_ : A consciência não é a face aparente de um subconsciente
i c�rsõd't�âvo. ..
i escondido, nem o inconsciente, a estru tura profun da, náo
! ~ -- · · à -e s��ta analítica se situa no funcionamento .l aten te, revelada de um consciente manife sto. A relaçâo não se esta
subjac.ente do significante, junto ao material lingüístico. No belece nesses termos, m:;is toma o movimen to geo grM1co de
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um percurso sem direito nem avesso, de onde o sujeito se e) O sujeito d efeito de linguagem. Se para L?:� -�-� linguagem
· ·
enuncia sem. saber o que diz em uma fala que diz muito sobre ra:-
condição ci� ,ínc� n scienút e ..� Í fl-()OQ��ien-te � o dis-
este saber (Roudinesco, apud Authier- Revuz, pp. 1 37- 38) . - cú.rso do outio" . o sujeito é "compree�dido -��� um.ef'efro
defi"õguágem·, vistf��rn.. ,��. r.ep�es���Fº que depende
b) O sujeito é des(_entra�- A descoberta do inconsciente por ,..das formas da lin guagem que ele enuncia e que· na reâliaàde
... . . . ·---·.. •··- .. ·--- ·-·--- - ·�· -- -·· --·�-·--• . ..
Fr;�;c�;ia' p r�voca:d o conseqüências semelhantes às das '---.
o enu n·ciãm;"'�o'- sujeito n ão é senão da ordem da lin�gem
--- ·-
'
. . �- ·· -·-- , -·
' .... __,......,_._...___ .. .. - -- ----· .. .. .. . .-- . .... -· . --... . .. . - . . .... .... .. . ... .. ....
, .,. .. :-
· 1 "'feridas naccfsicas" infli gidas ao homem po r duas o u tras ' fürq-Üal de tem,_sjdoy!culturado". Para CJément "o O utro
'"
grandes descober tas anteriores: a de Copér n ico que, ao e õl�ar estranho de onde emana todo discurso: lugar da
declar ar que a terra · não é o cen tro do un iverso, provoca família, da lei, do pai, na teoria freudiana, liame da his tória
um forte deslo c ame nto na con cepç ão de mu ndo que o e das posições sociai s, lugar para onde é remeti.da toda subj e
ho mem passa a ter e a de Dar win que, ao afirmar a ascen tividade" (apud Authier-Revuz, p . 1 37) .
dência animal do homem, apaga o mito da sua origem
divina. Com a descoberta freudiana o eu perde a sua cen A pare· r da análise das marcas explícitas da hete roge
trali dade, não sen do mais "senho r de sua mo rada,.. neidade mostrad a, articulada com a h eterogen eidade cons
titu tiva da linguagem, tomando co mo apoio teórico as co lo
A prática do descentramenro na te oria freudiana m ostra que cações do círculo de Bak.htin e da psicanáHse, Au thle r-Revuz
o centro é um "goJpe m.on cado" pelo suj ei to, do quaJ as ciên
vê uma espécie de n egociação entre as duas formas de hetero
cias do homem fàzem seu obj eto ignora ndo q ue ele i:. ima
genei dade. Impossibilitado de fugir da heterogeneidade cons
gi n ário [. . . ]. Desce ntrar é praticar o fapsus e o tro cadil ho, re
d nu· va de rocfõ-di� �urso7'o�ralãiíie, ao eipllêfw 'âp.resenç.I'clõ.
conhecer o l ugar do golpe montado, s e m. no e ntanto, pre ·
outrO"ãtravés ck.s°"'màr êâs· ctâ."liêrerogêjícidadç· ni'�-��,:�da: �� -·
tender aboli-lo (Roudine sco, a..p ud Authi er- Revu:z, p. 1 36) .
pressfi1õ�fimdó- se· ü &s�� de ·d;;��-�i;:· 1�i:� movido i, p�la - ..
a
ilüsãõ ó 'êénfrõ ,
º
-�r·�··
pro·��s-�� �.. d;��gàçio:�01-�iJ�·
Não há, portan to , centr o para o sujeito, fo ra da ilusão e do
" Fantàsiriã. Esca ilusãÕ7êlêsignaciapÕr _ f�_e_�fi C<>ajo'a "furição
t:afua� --
. ......
·o_utr'ô �é �kliridi ,O: �ic:_ú· :tiigâi,� . Q J.;:{��;�gol)t.l la. o seu
iliiúír o, nun,t!. te.!uativa _de '\:irçun.tcrever e ,afirmar . o_ um" .
s
·ao - dé.scoiilieci:rn'en to do eu" é uma tendência necessária e .....__,h�I' '
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..
',
,
t
Ducror (1984), 1etomando o conceito de Bakhtin e sentido, estão aquelas sobre o(s) autor(es) evenrual (is) d a enun
1 operando-o num nível lingüistko, vai mostrar, segundo a ciação. Sua rese comporta duas idéias:
perspectiva da semânt ica da enunciação, como mesmo num
enunciado iso lado é po§sível detectar mais de uma voz. • a atribuição à enunciação de um ou vários sujeitos, que se
1 '
1
'I ' -
1 '
;-
' No seu "Esboço de uma Teoria Polifônica da Enuncia riam sua orige m;
ção " , o objetivo fundamental de Ducrot é contestar a tese da • a necessidade de se dí tingujr entre esres sujeicos pelo menos
unicidade do suj eito falante. Segundo essa cese, a�_ribuem-se � dois tipos de personagens, os locutores e os enunciadores.
.
sujeíco trê$ _propriedades
-··
que Ducro-r assim especifica:
..... � ···- · · . - ··
Embora considere os pares opositivos: locucor/alocu
a) ele _(g _ ç���r,_eg�g� de toda a�vicJ.ade psicofis.iológjca n�.: tário; enunciador/enunciará.rio; &lante/ouv inte, Ducrot dep
�;;sária à produção da - e�unci:icÍo; · · - · senvolvc sua teoria em torno apenas do primeiro e emento
o
b) el�' é autor, a origem dos at�S Ü�cucórios 0:�cutados _�ª -~
.
desses pares (locutor, enunciador, fu.Jante). Para compreender
produção do enunciado (atos do ripo da ordem, d.a p��- - a distinção locutorienunciador, de se serve da teoria da na r
. · . - -. - - · · - - .. . �-
gunta, da asserção .:.); rativa apresentada por Genette (Figures III, 1 972) . Baseado
ã
t e) �ém d ·prodú_çãÕ.. física do enunciado e da execução dos nessa teoria, Ducroc faz duas distinções:
atos ilocutórios, é habitual atribuir ao sujeito falan_tf uma
terceíra propriedade, a de ser desíg��4�· - �llj. � enunciad9 Primeira distinção: locutor/sujeito falan te empírico.
�a.r,cas da _primeira pesso����,d� �ª-� de�ignam ui;p
ser excrali!!� ele� nesre ca.so, suporte 4o� processos A teoria de Genette faz aparecer na narraci a duas ins
.lz>:
�ressos por ty:n verbo cujo s_ujei\o é eu, o proprietário dos . tâncias semelhantes às por ele detectadas na linguagem or
obféiôs qwtlificados de meus_, é cle que se encontra no lugar diJlárfa. Podemos esquematizar assim as suas colocações:
chámado aqui.. . E torna-se c,onseqüenteme�t� q4� �. te. ser.
designado por eu é ao mesmo - éemp9 Q Çffi� P.�0.4�� -º - �n.un.
- - -- - -- .- - - - - -- - - -- - - - - - - - - -- � 1
Gencm:
ciado, e é também aq�el_e cuj_ ,_ �nt.;:f!ci�4�. -�e!:ígie as p_;:a
Oucrot
Contra essa tese da unicidade do sujeito, Ducrot esboça 21 instàocia: autor lõO . sujeito fii.lante
70 71
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A figu ra do locutor corresponde à fi gu ra do narrador Segunda distinção: locutor/en unciador.
da teoria de Genette. O locutor é apresentado corno resp on�
sável peJo dizer, mas �ãÕ é um serilõiiíüiid'ô �· p�is· trà��� � � Es q uern aricamence, o p aralelo que Ducrot estabelece é
ú�a-b"cç'ã:ó él��ursiva. É �quele q ue fala, que conca:· q�� t tido o segLtinte:
éoriio-fõiú:ê -a;; âíscuiso. É a ele que referem o pronome m e r - - - - - � - - - - - - • • - - - - - - - -- ,
as outr� marcas da p rimeira pessoa.
+
Genetre Ducrot
Assim como o narrador se disting ue_ �-º·-�1:!!�2. g)_c::ic,µ_t�r
f���� ·;i=n
se disc};;gi.� &l�·s-Üjeiro p_ i�tçº_;..
o prtl4_1,1tor efçgv.ç,.. narrador (o q_ue fala) _ locuto r
'dêi"eniiiiêfado e ·ei�-e�io� ao seu sentido. S eg undo Genetre, o X X
á _,.......,_ centro de penpecdva _ counci:idor
ãutõnI.c· ·umã· nàfràtiv (roriiãncis"ta ou novelista) mobiliza
(o que vê)
um narrador, responsávd pda narração e que tem caracterís
ticas diferentes das de um autor. Den tre essas características,
citam-se três:
-- --------- --- ---------�
("sujeito de consciência'')
...
papéis não-atri buíveis a um
• • ·• • , , '• , ' ' , • • �
ex, '" •
único ser:·Ks'atiriidês - pre·�s;�
. • .. . .. r
72 73
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no discurso por um locuwr pod�_ID; _ser atribuídas a enuncia E m "a",folizmente refere-se à. perspecúva de Pedro e não
dores . dos quais de se distancia, "como os pon os de vista ma à do Jocutor responsável pela totalidade do ,e nunciado, como
·ntresfo�- niimà narração podem ser..os. de sujeito de consciência no caso "b".
estranhos ao narrador". No discurso indireto livre o locu tor fala de perspecti�
- - � A polifonia pode ocorrer tanto no nível do locutor quan vas enunciativas diferentes, mas sem demarcá-las lingüiscica
,1 l
to no do enunciador. Ex.a.minemos como se dá esse fenômeno mente:
nos diferentes casos de discurso relarado.
No nível do locutor a polifonia se manifesta nos casos
t r
"' Pabiano meteu os oJho� pda grade da rua
em que há desdob ramentos da figura do locutor. No discurso El
direto , um caso de dupla enunciação, temos dois locutores:
L I e L2.
1 El � E2 rr
Chi! que pretumd O lampião da l!liqui 11a se:
El
apagam"
1
l2
Pedro me disse: eu preciso (G. Ramos, Vidas seca;)
li
.fuquema1jcamencc , temos : L fEi
lEl (-L)
Ternos, no enunciado acima, duas figuras de locutor: um cm que L representa a figura do locutor que fala de duas po
L l , responsável pela totalidade do enunciado, e um L2, res sições diferentes, instaJando--se uma a.mbigüidade contextual
ponsável por parte da enunciação de L 1 . As fonnas de primeira com es.'la. duplicidade de perspectiva. O enunciado "Chi! que
pessoa (expressas pelos pronomes me e eu) referem, portanto, pretume!" expressa a fala do locutor de sua própria perspectiva
locutores diferentes cujas vo'lleS estão lingüistícamente demar (El ), mas, ambiguamente, reflete também a perspectiva de Fa
cadas. Considera-se a polifonia no nível do locutor um caso de hiano (E2) .
"polifonia fraca" . Para provac a percinênáa da figura do enunciador, Ducrot
o discur o indireto, a pol ifonia ocorre também de (1 984, pp. 2 1 O e segs.) estuda outros casos de dupla enunciação
fo rma marcada, mas com wna fro nteira menos ddímicada como a ironia e a negação.
po,rque locu tor inco rpora lingüiscicamente, na sua fala, a de Segu ndo Guimarães. nessa reromada do conceito de po
L2. O uso de determinadas palavras, expressões, pode mo lifonia, Ducrot exdui a noção de história que, para Bakhtin, é
dalizar o enunciado demarcando as perspectivas de q uem fala:
: ª;
uma noção fundamental. A noção de historicidade em Ducrot
se+�es-��� !� p���-n-��' ao �õinê'ii i:� · �-��;;�;� -���_ciaçã�-:
a) Ped ro disse que felizmente virá amanhã. ''.A realização de um enunciado i um ��ntecimenco hi scóri co :
b) Felizmente Pedro disse que virá amanhã. é ããaã"ex.i�êên.cia a algo qu� não existia ante_<ii gu� �.fulasse e que
t1,.
i ,f
- J i.
74
iíãô"e:ãstirá·•aepàk É esr.à apari ção momentânea que chamo
75
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) de en�n• atravessada pela "evidência da existência esponr.\nea do
'en unciação (p. 1 79 . Os conceitos de locut or e
"'
Sentido e sujeito na análise do discu rso o sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe
em si mesmo (isto é, em sua relação transparente com a lite•
se do discurso , é essa conce
pção de suj eito ralidadc do significante), mas � determinado pelas posições
T a análi
Para
que va p�-�d;�d� -� -p�i;id;J'e centrada ora no tu �ra n� tu e ideol6gicas colocadas em j ogo no p rocesso sócio-histórico
d de
se enriquecen do com uma reaç ão dinâmica entre 1dcno : em que palavras, expressões, proposições são produzida5 (isto,
l
76 77
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2) A idéia do descentramcn to do sujeito, de um sujeito que, jei tos. Suj eitos que implícam uma dimensão sçci_al .mesmo
embora fundamental, porque não existe dis curso sem su• ·�uancfÕ-n o-mãisTiiãmõ"de súãs'cÕn� iê��- r: alizam opÇ.<>_�
jeito, perde sua central.idade ao passar a integrar o funcio morais é escólhêm vãlores· qúé Õri��t�Ín sua açã�-incfí�dual. _
1 .
I;
1 namento dos enunciados. Atravessado por um a teoria da A tonstltuiçio .�fo · §uj�Úo.d.eve· ·scr .b�c��. P�ft�,
subj etividade de natureza psicanalítica, o quadro episte no bojo da i_d��logia: o "nã�-�-uj.eitc(. é _in_���!.:m o.� ..���tim�-:
i'
mológico da AD "não centra mais a problemática no su �<> _pd� ��C?!?gi�: ·segundo Althusser, "não há ideologia senao
jeito, e sim nos sistemas de representação". A AD é crítica pelo sujeito e para sujeitos" . razendo essas colocações para
em relação a uma teoria da subjetividade que reflita a ilu o terreno da linguagem, no ponto específico da materialidade
são do sujeito em sua onipotência; nela "a ideologia (rdação do discurso e do sentido, Pêcheux ( 1 975, p. 1 45) diz que
com o poder) e o inconsciente (relação com o desejo) estão "os indivíd uos ão 'interpelados• em sujeiros-falan res (em
materialmente l igados, funcionando de forma anàloga na sujeito de seu discurso) pelas formações discursivas que re
constiruição do sujeito e do sentido. O :sujeito falante é present am 'na linguagem' as formações ideológicas que lhes
determinado pelo inconsciente e pela ideologia" (Orlandi,. correspondem" .
1 986, p. 1 1 9) . Í nesse sencido que Pêcheux propõe uma Assim, é a interpelação ideol6gjca que permite a .iden
teoria náo•subjetivista da enunciação que permita fundar tificação do S�J�ita, e �la tem um efeito por assim dizer �e-
uma teoria (materialista) dos ptocessos discursivos. . tr-oarivo ria médídá einque fuz com q�e to�to. _ suje�tg seja
"s�me� 1��,��L�ito". l!mj•-é; ·tto ' suje1ro é desde sempr� um in
divíduo iricerpclado em sujeito •. É isso que permite a resposta
absurda e natutal "sou eu" à pergunta "quem está aí?", mos
Um a teori a n ã o - s u bj e tivista da en unciaçã o
trando que eu sou o único que pode dizer eu faJand.o de mim
Para a forrnuJação dessa teoria comam-se co mo bási mesmo.
c.as as colocações de A1chusser qµe, segundo Pêcheux ( 1 975, Essa interpelação de indivíduos em sujeitos se faz em
nome de um Sujeito (com S maiúsculo) iínico e absoluto: "O
p . 1 22) , na sua obra Ideologia e aparelhos ideowgic01 de Es
tado, "'verdadeiramente colocou os fundamentos reais de uma indivíduo é interpdado em suj eito (livre) para que se submeta
livremen te às ordens do Sujeito, logo para que ele aceite (li
teoria não�subjecivista do sujeito, como teoria d.as condições
'! vremente) seu assuj eirarnenro'' .
1 ideol6gicas da rcprodução/cransforrnação das relações de pro
dução, estabelecendo a. relação entre i n consciente (no sentido Essa colocação de Alchusser apresenta desdobramentos
freudiano) e ideologia (no sentido marxista)" . que refletem:
Pêcheux parte da tese de Althusser, segundo · a qual "a
ideologia interpela os indivíduos cm sujeitos" . Isto é, o espe a) a estrutura especular de toda ídeología que assegura ao
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1 ) a interpelação dos indivíduos em sujeitos: Há, portanto , uma con tradição no interior desse !�
2) a sujeição dos indivíduos a um sujeito absolu to que ocu jeit?: não sendo nem totalmente livre nem totalmente sub
pa o lugar do centro; metido 1 o espaço de sua constituição é tenso (Orlandi et a.l.,
3) o [econhecirnemo mtituo entre os suj eitos e o Sujeito 1988), poís, �?Elesm� teµ1_p_c> em que é interpelado p� i4eo::
e dos sujeitos entre si, e finalmente o reconh.eciroento do logia, ele o�_pa, --µ� formação dis���f��-- q�� �- -determina,
o
sujeito por si mesmo; -cÕÍn-suà];:fscória pa.rticuiar. um lugar que é -ess�na;_i-.;-en ce
4) a garantia absoluta de que tudo é exatamente assim e de se�: ''êàrutsujei'tõ_éãss-ujeiiado nõ· üniversai··oom "síngul;r
que rudo correrá bem sob a condição de ,que os suj eitos �substicufvel"' (Pêche'la, 1 975, p. 1 56) . A identificação do
reconheçam o que são e se com portem de forma con sujeito do discurso com a formação discursiva que o domina
seqüente. constitui o que Pêcheux chama a "'forma-sujeito" . A forma
sujeito é, portanto, o s ujeito que pas5a pela interpelação ideo
Inseridos nesse sistema de interpelação, os sujeitos, na f 6gica ou, em outros tc.rmos, o sujeito afetado pela ideologia.
maioria das vezes "caminham sozinhos" , isto é, com a ideo Dessa maneira, reiteramos a afumação anterior de que
logia cuj as formas concretas são realizadas nos aparelhos ideoló nada é dado a prio ri: não apenas o sujeito (aliás, segundo
giros de Estado. A estes, os "bons sujeitos", opõem�se os "maus Courtine, 1 98 1 , não há sujeito do discurso, mas diferen tes
suj eitos" que, não caminhando com a ideologia, provocam posiç6es do sujeito ) , mas também o sentido, uma vez que as
a ação do Estado através dos seus aparelhos repressivos palaYras só adquirem encido dentro de uma formação dis
(Althusser, l 970� p. 1 1 1 ) . cursiva. Concebe-se, assim, ? . s�tj_�o como al go que f_)2J_q
duzido historicamente pelo uso e o discurso como o efeito de
b) a ambigüidade constitutiva da noçáo de sujeito que se situa sentido entre locutores jfosicionados em diferentes pcrspeç
paradoxalme nte entre: �ivas '. Pêcheux ( 1 975 , p. 1 4 5 ) coloca isso da segu in te forma:
! .
1 ) uma subj etividade livre enquanto centro de iniciativas, Se uma palavra, expressão, proposição podem reçebec sen
senhora de sua vontade, responsável por seus acos, que tidos diferentes [ . . . ] conforme refiram a tal ou tal formação
lhe permite "caminhar sozinho"; discursiva, é porque [ .•. ] elas não têm um sentido que lhes
1) e uma subjetívídade assujei cada a uma ordem supecior seria "próprio" enqu.anto ligado à sua literalidade, mas seu
(submetida às coerções das: condições de produção), por sentido se constitui em cada formação discursiva, nas re
tanto, desprovida. de liberdade, exceto a de aceitar livre lações que entretêm com outras palavras, expressões, pro�
mente sua sujeição. posições da mesma formação &cursiva..
8 ,0 81
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A il usão discu rsiva do s ujeito 'lusão de que o discurso reflete o conhecimento objetivo
que tem da reali dade. Constitui o pomo de articul ação da
Afe tado, entretanto, por dois tipos de esquecimento l.ingilistica com a teoria do discurso.
(Pêcheux. e Fuchs, 1 975, pp. 20-21 ) , 9 sqj,e ito cria u m a rea
lidade discursiv a ilusória; A co ncepção de um sujeito marcado pda idéia de uni
dade, do centro, fo nte ou origem do sentido constitui para
"'
• p do esquecimento n• J, em que se coloca como a origem do a AD uma "ilusão necessária , construtora do suj eito. Ela, no
que diz, a fonte exclusiva do ;�cid� d�-seü - discu rsó· : De entanto, n ão só se posiciona criticam ente em relação a essa
nãruré�a · i���de� c� e · ide�lógica - � daí s�r o ��to de ilusão, recusando-se a rep ro duzi-la como retoma a noção de
articulação da linguagem com a teoria da ideo ogia -, é disp ersão do sujeito (Foucau lt, 1 969), ao reconhecer o desdo
uma zona inacessível ao sujeito, aparecendo precisamen te, bramento de papéis segundo as várias posições que o sujeito
por es.ia razão, corno o l ugar consti tu tivo da su bjetividade. ocupa dentro de um mesmo texto. É isso que leva O rlandi e
Por esse esquecimento o sujeito rejeita, apag�, _inconscicn Guimarães ( l 986) a conce berem �4!. $5;.YJ§Q.. co mo J.JJP..-! .. 9A��
remente,"qüãlquer elemento que r���ta- �� �teri�r � ��� persâ?.�!.�!Q_te Ç tgt9 ÇOl!lO.. �a cµp�r_s�_9..�4�.•�j� t�•.r4;)r
fõrfüãção' discurs iva; p�r ele é que o s uj eito "re�-�� �� . e§$..a e texto enq uanto dispers�o do s ujeito, ent�nda- se a perda da .
não . . õ"i., éci " seqüê' n'c ià .pai:a que o bre��� ��e e .não. outro s_e nJ ccn tra!idadé de um suj eito uno que passa a ocupar várias po
!1i§.. Nesse p rocess� de apagamen to, o s uj eito tem a ilusão
de que ele é o criador absoluto de seu discurso;
sições e m�ciarivas; por dis curso enquan to dispersão de textos
e�tenda�se a possibilidade de um discurso estar at ravessadQ
• pelo erquecim.m to ,,e 2, que se carac teri za por u m fu ncio por várias formações discurs ivas. - "'
Segu ndo Pêcheux, fffi um
-- . - ···- -·· · ·- -
namen to de tipo pré-cons ciente ou consc iente na medida mesmo tex �o �e�-se enoon crar vá ri as. formações discur- _
em q ue o sujeito r etoma o seu discurso pa ra expli car a �i -�ivas, estab elecendo -se uma rd ação de dominincia de .u m a_
mesmo " õ que ·ah, · para fo ;m�I�:fõ 'ffl_ais �àdêq.uad�- � te, fo r� ação _discurs iya sob re a(s} outra(s) .
. para apro fundar ·o que p�ns a: · na medi da em q ue, para an Assim, há uma het ero geneid ade qu e é cons t itu tiva do
tecipar o efeito do qu e diz , u t iliz a -s e de "estratégias di s próp rio d iscurso e que é p roduzida pela di spers ão d.o suj eito.
cu rsivas" tais como a "interr o gaç.ão re tórica, a reformulação Essa hete rogene idade , enc re camo, é trabalhada pelo lo cutor
tenden ciosa e o u so m an ipu latório da ambigü id ade " . É a de tal forma qu e, imp ulsionado por uma " vo cação to talizan
operação de se leção lin güís tica. q µ<'. codo falan te faz e��r�. te" faz co m qu e o texto adqu ira , na form a de um co n ce rto
�- q� e -.é · dí.to · e o q�e deixa de s ei; q.i to; ·;�- q�� �-. .-�;� - fot��i- or polifônico, uma unidade, u ma . coerência ; qu er harmonizando
· da fo ��ção discursiva qu� o dom ina, elege alg�� formas as di fere ntes vozes , quer "apagando'' as vozes discord antes .
e seqü ências q ue se enc ontram em relaç ão d� _ par�rase e Essa unidade text ual, consti tuída enqua nto dominân
. .. - "esqúec.e" , oc.ul�a �. o.u.w.s. Essa o peração d á ao suj eito a ci a, é um efeito d isc ursivo que deriva, se gundo Fo ucaul t
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( 1 97 1 , p. 28), do prindpio d0 autor que funcionaria como rid.ade (con texto sócio-histórico) e mais afecada pelas exi{
uma das ordens reguladoras do discurso. Nesse caso ? autor
:,
gências de coerência, n ão-contradi ção, responsabilidade. 5
não seria aquele "entendido como o indivíduo q ue fala> que
p��nunciou ou esc.reveu, mas o auror como princípio de agru:. · · Essa no ção do suj eim que se desdo bra e assume vários
,e�me�to_ elo discurso como un idade e origem de "sú� signi: p apéis no discurs o nos remete ao conceito de polifonia, ela*
ficações, co mo foyer de sua coerência" . Neutralizando uma bocado inicialmente po r Bakhtin, q ue opõe (como j á vimos)
concepção de subj etividade marçada pela dispersão, pelos di wn discurso p olifô nico, tecido p do discurso do outro, a um
ferentes estatutos que um s ujeito pode assumir no seu dis discurso que quali fica como monológi co. Para nós, não há dis
curso, o prin dp i•o do au tor é o elemento que centraliza, que cursos constitutiv amente mono16gi cos, mas discursos que se
ordena, que dá unidade ao discurso, excluin do os possív eis "fi n gem" mon ológicos na medida em que rec.onhecemos que
dem entos desviantes pelo "jogo de wna identid ade que tem toda. palavra é dialógica, que: to do discu rso tem dentro dele
a fo rma da individualidade e do eu". O _ p�i ndpio do autor outro discurso, que tudo que é di to é um "j á,dito". É nesse s en
_
�-�taria. o acaso do 4iscurso, sua prol ifer �� �"1: �ucfr,_ q�e tido que Orlandi e Guimarães ( 1 986) falam em uma mono•
_ _
pode "con ter de violento, de descon tínu o, de �tal_had'?rd·k .. fon iza ção da polifonia enunciativa, como processo de apa
desordenado e de peri goso . Tudo se passa cô�� se interdi tos, gam ento de vozes que n a turalmen te i ntervêm no d iscu rso
, h.irragens, liru ítes fossem dispostos cfe máneÍradtrlgfJã:�e p elo seu caráter social e histórico.
suá clesõrdem fosse" ôrgan izada; control:ãêlá'' . . Um balanço dessas reflexões sob re a consti tuição da sub
'"
. . . · Estefiâerido a · noçiõ ale ·autoria de Foucaul t, O rlandi e j etividade revela as contradições que marcam o sujei to na AD :
Guimarães ( 1986) atri bu em-lhe um alcance maior ao esp e nem totalmente: livre, nem tocal mcn te assujcitaào, movendo
ci ficá -la co mo necessária para q ualq uer discurso e colocá- la se entre o espaço dis cursivo do Um e do Outro; entte a "incom
na origem da textualida de. Para es ses auto res, a.inda, a uni pletu.de" e o "desejo de ser completo" ; entre a "di sp ersão do
d:ide construíd a a par úr da heterogeneidade discu rsiva através suj eito" e a "voe.ação to talizante" do locutor em busca da u nj
do pri ncípio de au toria se faz p� r uma fu nção enunciativa. d.ade e coerência texcuais ; entre o caráter polifô nico da lin
Nes se sentido , d is t i n guem as se gu i n tes fun ções do su j eito guagem e a es tratégí a m o nofoniz.ance de um loc utor marca do
-· � .. ·· .. · ·- .. ..- --�-· · ... - '
fal an te : pela il usão do sujeito como fome, origem do sentido.
,I
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1
C A P L O 3
is so acarre ta perspect iv as disc ursiv as difere ntes .
IT U
A obs e rva ç ão n o s m os t ro u q ue en quan to a qu est ão d o
es sa h e t e r ogen eida de a a vé m o a ne ga
tr s
qu e incorpor a e assum e di fe ren te s voz e s sociai s . de mar c as ex p lí ci tas,
co
d e fo r cl ra
çã o e o dis c w
s o r ela
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o e u e s e delimita m a a a
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pr e o c a rát er he t e ro g ên e o
r s i v m
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sistem a ticam nt e t o d
e a for m de he ero en a de . At ra s de
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pr o c e dime s d e ho o " p r oc a paga a s as
g e n e ur am
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p er dis cu r s iv ,e limi
n r as r tr
inci
qu e os senti do s
ec n e
ezas as m
a as
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' i • a con sti tui , ção de um corpus discursivo fechado em que a limite ri go roso qu e :separa o seu '' interior'' do seu "exterior" ,
1 :
retomada de seqüências discursivas seja garantida; uma vez que ela confina com várias outras FDs e as fronteiras
• as operaç6es de extração e segmentação, nesse corpus, de en tre elas se deslocam con forme os embates da luta ideo
seqüências organizadas em torno de unjdades lexicais con lógica. É assim que se pode afirmar que uma FD é atravessada
sideradas «chaves" ou "pivôs"; esse procedimento torna o por várias FDs e, conseqüentememe, que toda FD é definida
c�us mais homogêneo ao trará-lo como dicionário em que a partir de seu interdiscurso.
a freq üência da repetição dos voca1>Ulos fumece as entradas;
• um conj unto de manipulações lingilisticas homogeneiza
A relação discu rso-interdiscu rso
i .
dora.li que reduzem o contraditório ou diferente ao mesmo
ou ao idêntico fazendo com que estrutura s sintáxkas di
Sobre a relação interdiscursiva, Maingueneau ( 1 9 84)
ferentes sejam levadas a esquemas dementares. Í isso que
adota uma posição mais radical ainda ao proclamar o pri
permitirá, por exemplo, que um torneio enfático seja trans-
mado do inrerdiscurso sobre o discurso. E isso o leva a afirmar
rorma
e do em uma estrutura "neutra" ou que uma frase aova.
seja equivalente a urna frase passiva. q ne ���e-d_�_�!.1#..��!!�?.��!_e _!l!� �- ?.�!�CE. !��!-���.�IP
espaço de trocas eng:s_w,os di�1.u:sos_c�my�J!i�n.�X!1�1l{Ç .�S..:-. _
· �lhido:s" (p. 1 r1�) . Afirmação que pode ser interpretada de
Em vez de wn trabalho de homogeneização, a AD, se -----·- •• ,.,--..-.- --•-
gundo Courtine e Marandin, deve propor-se a um trabalho duas maneiras:
que faça justamente aflorar as contradições, o diferente que I ) o �tudo da especificidade de � '4scurso se,· íg.,CQ15'.)C;_.µi_
subjaz a todo discurso, que não exdua a noção de "heteroge do-o em relaçãÕ . cÕ� ��;�os discu�os; . ·
neidade como elemento conscimcivo de práticas discursivas
que se dominam, se aliam ou se afrontam em um certo estado
2) ·-� i�t;�-i���;�;-�sa a ser ;;;�-;_ço· �e �egula.ridade perti
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conjuntura " . Representa um con junto ac.abado e, por ser No nível d.a supe rfície discurs iva., as formações discur
. . .. _ ,. ,---- · J
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de mundo" de um grupo social. Segundo essa concepção, a gura de uma plenitude autônoma. Ele é C?. que siscem;ici
FD exige uma abordagem díferente daquela dadat por exem ·c:atnetff'e ·f.ú fa ·n üin discu·rs o �- Ih� pc::;�ite fechar-se em um
plo, nos anos 60. Fazendo um balanço crítico desse período, "fodo� Ele é esta parte do sencido ·que f�j- pr�s� que o dis•
Maingueneau ( 1 984, p. 30) afirma que, para revelar a iden curso sacrifiéàsse·para-- Ge nstituínua: idenfidâêfe'"(Ma.ij!gi�- -
ádade de uma FD. os procedimentos utilizados então con r1eai.i; 1"98( p�ji). ' "" " ' - . . , .. -. ..... . ,.. . ��....
sistiam na construção de núcleos de invaritincia em torno de
alguns pontos privilegiados do discurso. Restringia-se o cam A relação com o Outro deve ser percebida, portanto,
po de escudo da F D. ao não se p reocupar com uma cone independentemente de qualquer forma de aheridade mar
xidade mais íntima que ela pude.sse manter com outras FDs. cada. leva-se a questão mais adiante ainda na medida em que
1 Alhts, essa reJação com outras FDs era pensada apenas como se OO.tlce�e. esse Outro não como uma p�esença que_ se. ma:.
. nifesta, quer expl icita ou implicitamenre, mas como um
i
j
' 1 uma forma de justaposição de unidades exteriores umas às a_
ausência, c� nio· uma"fá]éa, oomô o interdito d� di;���-��-:-Is to
1
! ª
oucras. Den tro desse quadro, o inrerdiscurso s6 podia ser
1
,'
compreendido como um conjunto de relações entre diversos é, ·toda FD, no �v�rso . do g�atlctlme��e- &ívei.- d��uns
i
; "intradiscursos" compactos. cr;-;a-�na J;cj.iJ;�rtegltfuio-, cl�nincl� � �-��j�t� de ��un
Para reverter esse quadro, seria necessário repensar a dàdos poss.íveis de serem atualizados em uma dada enunciação
equivalência entre "exterior do discurso e inccrdiscurso ins
,,
·,fJmfir de um l ugar determinado. Ao faze' l' isso, ela circuns-
crevendo o intcrdiscurso "no coração mesmo do intradis créve -ci.moéni uma zona dõ nã�dizívd, definindo o conjunto.
curso" ou, em outros termos, inscrevendo o Outro no Mes cfôs eniin"ciados· q 11e d�v� fu ficar �usei:ices. do seu espaço dis�
mo . A impossibilidade de separar a interação dos discursos cursivo;_ del jm.ita. de�sa forma, o �erritório do Outro que lhe
1 ;
do funcionamento intradiscursivo "'decorre: do caráter dialó é incompatível, e:xduind.o- o d? seu dizer . .
•• 1
...
gico de todo enunciado do discurso" . Essa o rientação dia . Os enunciados· apresentam, dessa forma, uma dupla
lógica nâo está limitada aos enl_!nciados que trazem a mar face: um "direito" e um "avesso" que são indissociáveis; ao
ca da citação , da alusão etc. , nem a um Outro red utível a analista cabe decifrá-los não só no seu ..direito.. rel acionan
uma figura de interlocu tor: do-os a sua própria formação discursiva, mas também no seu
"avesso", perscrutando aquela face oculta em que se mascara
N� _espaç� d�scursivo, o Outro não é nem um fragmento a rejeição do disClll'so e de seu Outro. O que equivale a dizer
localizável , ne r:n uma _cit�çáo, Ile�_ �má encida�� -��e�io_�. que ao analista cabe apreender não s6 uma formação dis
_
"não é necessário que de seja atestável por alguma ruptur�_ cursiva mas também a interação entre formações discursivas,
visível da compacidade do discurso. Ele se encontra na. raiz uma vez que a identidade discurs iva se constrói na relação
. com um Outro presente Jingüisticamente ou não na intra.
·de úni �c�.mo s_�pre já d.e.scent!?-cl� e�. · .rd.�ç_,ã,ç_�_ �•� . pró
prio, que não é em nenh um mom.en_w_ {Q.Glm�yel _sob aJi- discurso.
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Ciente, ponamo, de que em um dado momen to a asso • uma intert�tualidad.e externa em que um discu rso define
ciação de determinados trajetos interdiscursivos constitui uina cerca rela.çáo com outros campos conforme os enuncia�
parte j n tegrante da especificidade de uma FD, a análise do do� destes sejam citáveis ou não. Por exemplo: a relação que
, discurso, in�eressada nos funcionamentos discurs ivos, não Tiga -o discurso do humanismo devoto oom o dos naturalistas
deve buscar a unidade de todas as formações discursivas de em que este constitui uma fonte de inspiração pata aquele a
uma conjuntura, definindo uma invariante universal, nem a quem a natureza é a ordem "teof?tnica" por excelência.
multiplicação ao infinito e sem hierarqwa das relações entre
os campos. Essas distinções mostram que não há campo discursivo
insular, que o universo discursivo é dotado de uma incensa
circulação de uma região do saber para outra. Essa circulação
A intertextualídade se caracteriza pela sua instabilidade, ocorrendo trocas bascanre
diversi ficadas conforme os discursos e as circunstâncias con
a relação do discurso com seu Outro, devem-se dis cernidas.
tinguir duas noções básicas (Maingu eneau, 1984) : Essa intercambialidade de campos: toca também na ques
tão da eficácia discursiva: ao fazer a remissão a outro(s} d is
• a noção �e ;.!J."!,�rf_�_p._e -� d,is�urso .compreendido como curso (s), o sujeito recorre a elementos elaborados alhures, os
����- f,r_�rr.ientos q ue ele cita �fetivamente; quais1 intervindo sub-repticiamente, criam um efeito de evi
• a noção de inurtextuali4tfrfe 'l.l!:. � abrangeria os _tipos de r_e dência que suscita. a adesão d.e seu auditório. É o que acon
l�s- intertextuaÍs defin idas como legítim���--�ma
· FD tece, por exemplo, com o discurso publici tário que recorre
��ééín·��-����;�. _,._ ---- -
-� - - ••. . • ,.• ' - · - - �--- • • " . ,
• • • ,. 1
-· freqüentemente a vocabulários técnico---científicos, a saberes
de outros campos para melhor persuadir.
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mento, a rejeição ou a. transformação de enunciados perten a título de verdade admitida, de descrição exata, de raciocí
. cenres a formações discursivas historicamente comígúas. 'N:i� íiiô fun ��49 . . C ?':l _ !!e er��-12Q
. �Ç,Q __ 11�ç�ss4!!�, :�2�.ei.�snde
se-trãii �rtánêo,' de uma memória ps1cológ ica · m�s d� wna
. · també m tanto os enunci�-?� �� !��- di_s�ut}4o�_ e j�g.l9�
-
- excluídos
mertióéià ' que si:ipõe o enunciado inscrito na históda. . côino õs 'que são reje'itados ou . Nesse catnpo de
. ... 'Maingtieneau (1983, 1984) liga a questão da inrerdis ·
préséiiça;· ·«as . ré laçoes inséaU:;�d� podem ser da ordem da
cur ividade com a da gênese discursiva. para mostrar que não verificação experimental, da validação lógica, da repetição
existe discutso aucofundado, de origem absoluta. Enunciar é pura e simples, da aceitação justificada pela tradição e pela
se situar sempre em rel ação a um já-d ito que se constitui .no autoridade, do comentário, da busca das significações ocul
Outro do discurso. Em outros termos, na medida em que, tas, da aná lise do err o "; essas relações podem ser explícitas
cronologicamente, é o discurso segundo que se constitui atra ou implícitas;
vés do primeiro, parece, com efeito, 16gico pensar que este • um camp_o de concomitância que compreende enunciados
� �- . .. J..- •
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-- •-.,. ., ,
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_,.
• .w•
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-- • • • •
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,! Dbm ln ios do campo enunciátivo • ll_f!l_ do_mlnio de _ memória que compreen�e "enunciados que
1
, mio são mais nem admíri<los nem discu tidos, qlle não de•
A configuração de um campo enunciativo comporta, finem mais, em conseqüência,. nero um co,po de verdade
portanto, formas de coexistência de diferentes formaç ões CÜS . nem um domínio de validade, mas em relação aos quais se
cursívas . Segundo Foucault ( 1 969, pp. 72• 73 ), essas fonnas de �tabdeéern faças de fUfação." qtg�l)���, de trans_formaçãoj
coexistência delineiam: " de continuidade e · dé ' de�continuidade histórid' .
.,...,,. - · · ü • • • ••
• um campo de presmça que compreende rodos os enunciados Situando-se n uma perspectiva teórica semdhante à de
fá formulados alhures e qu� ��� ;�����ci� e�·um
disc�- ��- Foucaulc, de quem é caudatário, mas restringindo -se à catego-
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: :/
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ria temporal e a partir da consideração do texto como uma dis ganização) . Em outras palavras, co mo já disse, toda pro
persão d e seqüências discursivas cujaorganização é co mandada dução discursiva, efetuada sob determinadas condições ccm
por formas de repartição que combinam essas seqüências dis junturais, faz circular f ormulações já enuncia.das anterior
cursivas em domínio de objetos, Courtine (1981 ) distingue: mente. As formulações pertencentes a essas seqüências dis
cursivas preexistentes constituem, com as "forro ulações de
• um donún io de memória; referência" , redes ele formulaç ões que nos permitirão verificar
• um domínio de atualidade; os efeitos de memória que a enunciação de uma seqüência dis
1 • um domínio de antecipação. cursiva de refe rência deremúnada produz em wn processo dis
curs ivo. Esses efeitos de memória tanto podem ser de lem
Advertindo contra qualq uer interpretação cronologista, brança, de redefinição, de transformação quanto de esque
coloca que, embora cimento, de ruptura, de denegação do já�dito.
Mobiliza -se, assim, no interior da análise do discurso,
os obj etos <3ue compõem. estes domínios possam ai figurar a no ção de memória discursiva. Essa noção i mplica o estatuto
lj histórico do en unciado inserido nas práticas discursivas regu
como pomos datáve is e referíveis a wn sujeito c:nunciador,
sua sucessão cronológica é atravessada peht. dimensão tempo ladas po r aparelhos ideológicos de Estado. Ela se enquadra
ral específica a um processo cujo desenvolvimento contradi naquilo que Foucauh ( 1 97 1 , p. 1 1 ) classificou de procedi
tório não conhece nem sujeito, nem origem, nem fim. Não men tos de controle e de delimitação do discurso: " [. . .] a pro
se traca pois de ir procurar na seqüencialidade de um domí dução do discurso é ao mesmo tempo controlad a, sdecio
nio <ie memória, de um domínio de atu aJidade, de um do nada, organiiada e redistribuída por um çerto número de
l
rrúnio de antecipação, a seqüência ''natura ' d.o antes, do ago procedimentos que têm por papeJ co njurar dele os poderes
ra, do depois, mas antes de aí caraaerizar as repeti ções, as e os peri gos , de dirigir o acontecimento aleatório, de afastar
rup turas, as fronteiras e as �nsformaçõcs de um tempo dele a pesada, a irredutível materialidade " . A noção de me
processual (p. 56) . mória discursiva, portamo, separ a e elege den tr•e os elementos
constituídos numa determinada contingência histórica, a qui
lo que, numa o utra conj untura dada, pode emergir e ser atu a·
O do m ín io de memó ria lizado, rej eitando o que não deve ser trazido à tona. Exer
cendo, dessa forma, uma função ambígua na medida em que
Diz respeito ao co nj unto de seqüências discursivas recupera o passado e, ao mesmo tem po , o elimina com os
preexjstentes à " eqüência discurs iva de referência (sequen apagamen tos que opera, a memória irrompe na atualidade do
cia discursiva tomada . co mo ponto de referência a partir do acontecimento, produzindo de terminados efeitos a que já nos
qual o co n junto dos elementos do co r pus receberá sua or- referimos .
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O d omínio de atualidade um domínio de antecipaçao enquanto alvo de uma análise
de discurso.
Reúne um conj unto de seqüências discursjvas que coe•
xistem em uma conj wnura histórica determinada e se inscre
vem na insdncía do acontecimento. Efeitos de memória
O efcito de atualidade produzido por este domínio é
resultante do desenvolvimento processual dos efeitos de me Para Courcine, "a existência de urna FD como 'memória
mória: memória que faz irromper um acontecimento passado discursiva' e a caracterização de 'efeitos de mernórià em disrutso5
em uma conj untura presente, reatualizando-o. Daí ser cons produzidos em uma determinada conjuntura histórica devem ser
titutivo desse domínio o aspecto dialogado que a5Sumem as anicu.lados com os dois níveis de descrição de uma FD":
seqüências discurs ivas que se citam, se respondem ou se refu
tam (Courtine, 1 98 1 , p. 56). • o nível interdiscursivo em que os objetos chamados "enun
ciados'' , na formação dos quais se constirui o saber próprio
a uma FD, existem no tempo longo de uma memória; este
O do m ínio de antec i p ação saber envolve toda uma tradição cultural transmiti.d.a de gera
ção a geração e regulada pelas instituições (AIE de Alchu�er) ;
Reóne seqüências discursivas que eno-etêm no nlvd intra • o nívd incracfucursivo em que as "furrnulações" são tomadas
discursivo relações interpretáveis como efeitos de antecipação. no tempo curto da atualidade de uma enunciação.
Segundo Courcine, a presença de um domínio de an
tecipação na cons · tuição de um corpus discursivo tem o mé O efeito de memória é produto, portanto, da relação que
1: rito de nos revelar: se joga entre esses dois níveis - o interdiscursivo e o intra
,, discursivo - ao se fazer emergir uma formulação-origem na
1 ) o caráter necessariamente aberto da relação que uma se- atualidade de uma "conj untura discu rsiva'' .
qüência discursiva produzida em determjnadas , c ondições A formação d.iscurs:iva, sendo determinada pdo .inrer
mantém com seu exterior no seio de um processo . "Se há di.scursivo, pode se inscrever:
rnnpre-já do discurso, pode-se acrescencar que haverá um
sempre-ainda"; • na ordem de uma memória pi.ena que funcionaria como pos
2) a impossibilidade de atribuir um fim ao processo discurs ivo; sibilidade de preenchimenco de uma superfkie discursiva
3) a possibilidade sempre aberra de,. a parcir dos resul tados com elementos .retomados do p-assado e reatualizados1 crian
obtidos no trabalho de análise da relação de uma seqüência do wn efeito de consistência no interior de uma rede de for
discursiva com seu domín'o de memória, poder construir mulações; a estratégia usada aqui seria a da repetiçáu;
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• ou na o rdem de uma memória lactmar que funcionaria co
mo produtor de deslocamentos, vazios, esquecimentos que
podem provocar u m efeito de inconsistência na cadeia do
CONCLUSÃO
reformulável. Esse efeito pode, entretamo , ser ideologica
mente neutralizado pdo locutor que, através de manobras
discursivas nivdadoras; homogeneizadoras; monofunizantes,
procura anular qualquer desnível ou heterogeneidade do
discurso. A estratégia seria a do apagamento.
Nascida da necessidade de superar o quadro teórico de
uma lingüística frasal e imanente que não d.ava conta do cexr.o
em toda sua complexidade, a análise do discurso volta.•se para o
"exrerior" lingüfsrioo, procurando apreender como no lingülstico
mscrevem-.se as condições sócio-históricas de produção.
A partir do pressuposto de que o discurso "materializa o
contato entre o ideológico e o lingüístico no sentido de que ele
representa no interior d.a língua os efeitos das contradições ideo
Jógical' (Courtine, 1 982, p. 240), o desafio a que a análise do
discurso se propõe é o de realizar lelruras críticas e reflex.ivas que
não reduzam o discwso a wálises de aspectos puramente lin
güísticos nem o dissolvam num trabalho histórioo sohre a ideo
logia. Ela opera com o conceito de ideologia que envolve o prin
cípio da contradição que está na base das relações de grupos
sociais, cujas idéias entram em confronto. numa correlação de
furças; considera também as noções de interpelação/assujeira
mento e de aparelhos ideológicos de Estado que governam , re
gulam essas relaçóes. Ela busca não eliminar essas contra
dições, mas , ao contrário, fazê-las aflo rar na materiali dade
lingüística do discurso, apreendê-las nas formas de organi
zação discursiva, possibilitando capear as relações de anta
gonismo, de aliança, de dissimulação, de absorção que se pro
cessam entre diferentes furtnações discursivas. Nos termos em
que coloca Maingueneau ( 1 990), procwa crazer para o interior
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lingüístioo wna abocdagem do objeto que leve em conta seus
dois planos constitutivos - um "gramatical" e outro "hiper
gramatical"; designando este último os ponms de ancoragem
colocados para além de aspectos estritamente lingüísticos.
Dessa forma, pretendendo ser uma teoria crítica da lin GLO S SÁRI O
guagem, a análise do discurso de orienta.çáo francesa luta contra
qualquer forma de cristilização do conhecimento, contra "a cerri
torialização, o esquadrinhamento, a delimitação dos domínios
do saber" (Courtine, 1984). Daí o fato de suas fronteiras se con Assuje#amento ideológicO'. consiste em fazer com que cada in
finarem com as de determinadas áreas das ciências humanas divíduo (sem que de tome consciência disso, mas, ao con
' 1
trário, tenha a impressão de que é senhor de sua própria
;
como a História, a Psicanálise, a Sociologia, só para citar al
gumas. Pelos próprios objetivos a que se propõe, a análise do vontade) seja levado a ocupar seu lugar, a identificar-se ideo
,,
discurso é, e só pode ser, interdisciplinar. Da mc:sma forma. essa logicamente com grupos ou classes de uma d.eterminada for
interdisciplinaridade surge na sua relação com as outras ten mação social. É o mesmo que interpe/açíi.fJ ideológica.
dencias desenvolvidas no interior das ciências lingüísticas, e
nesse sentido é que a vemos, por exemplo, dialogando com as Autor: é a função socia1 que o sujeito falante assume enquanto
teorias enunciativas, a lingüística textual e, na campo da prag produtor da linguagem. Das funçõe:s enunciativas do su
mátka, com a semâncica argumentativa e � teoria dos aros de jeito é a que está m a is determin ada pda exterioridade e
linguagem. mais afetada pelas exigências de coerência, não-contradição
!
J''' Pêcheux assim sintetiza o paradoxo vivido pela aruilise do
discurso: "uma prática indissociável da reflexão que ela exerce
e responsabilidade (Orlandi e Guimarães) .
sobre si mesma sob a pressão de dlWi determinações maiores: a Condiçóes de produção: constituem a instância verbal de pro
evolução problemática das teorias lingüísticas de um lado, os dução do dlscurso: o contexto histórico-social> os inter
avacares do campo político-histórico, de outro''. Dividida entre locutores, o lugar de onde falam e a imagem que fazem de
um.a função crítica e wna função instrumental (Courtine), ela si, do outro e do referente.
se apresenta como uma disciplina não acabada, em constante
construção, problemarizanre, em que o lingüístico é o lugar, o
Didlogo: no sentido restrito, é a comunicação verbal direta e
espaço, o território que dá matei:ialidade, e5pessura a idéias, con
em voz alra (:ntre uma pessoa e outra. No sentido amplo
teúdos, temáticas de que o homem se faz sujei to; não um sujeito
(inaugurado por Bakhtin) , é toda oomun.icação verbal, qual
ideal e abstrato mas um sujeito concreto, histórico, pana-voz de
quer que �eja a forma. Do pomo d.e vista discursivo não há
um amplo discw-so social.
enunciado desprovido da dimensão dia.lógica, pois qualquer
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enunciado sobre um objeto se relacio na com enuncjados an mação ideológica, ísto é, os textos que fazem parte de um.a
teriores produzidos sobre es e objeto. Assim, todo discurso formação discurs iva remetem a uma mesma formação ideo
é fundamentalmente diá logo. lógica. A formação discursiva decerm ina "o que pode e deve
ser clito" a partir de um lugar social his.coricamente detertni
Discurso : é o efeito de sentido construído no processo de in nado. Um mesmo texto pode aparecer em formações discur
terlocução (opõe-se à concepção de língua como mera trans sivas diferentes, acarretando, com isso, variações de sentido.
tificando-se com ele quer distanciando-se dde. entre si laços de a liança, de antagonismo ou de dominação.
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/nterÚJcuçáo: processo de interação entre indiv,duos attavés da seu funcionamento q ue envolve não só mecanismos lin
l inguagem verbal ou não-verbal. güísticos, mas ra.mhém "exr,alingüísticos".
lntertexto : o intertexto de um discurso compreende o con Locutor: é uma função enunciativa. que o suj eito falante exerce
junto dos fragmentos que ele cica. efetivamente. e, através da qual se representa como eu no discurso. É o
ser apresentado como responsável pdo dizer, mas não é um
/nteruxtw:t!idade: abrange os tipos de relações que uma for ser no mundo, pois trata-se de uma ficção discursiva.
mação discursiva mantém com outras formações discursivas.
Pode ser interna quando um discurso se define por sua re Polifonia: conceito elaborado inicialmente por Bakhtin que
lação com discurso (s) do mesmo campo (por exemplo, os o aplicou à literatura, foi retomado posteriormente por
diferences discursos do campo rdigioso) ou externa quando Ducrot que lhe deu u m tratamento lingüístico. Refere-se
um discurso se define por sua relação com discurso(s) de à. qualidade de todo discurso estar tecido pelo discurso do
campos diferenteS (por exemplo, um discurso religioso ci outro, de toda fala estar atravessada pela fala do outro.
rando elementos do discurso naturalista) .
Pri-cumtruldo: elemento produzido em outro (s) discurso (s) ,
Língua: segu ndo a dicotomia estabelecida por S aussure entre anterior ao discurso em estudo, independentemente dele.
língua e fala - a língua é o sistema abstrato, virtual ou po Todo discurso mantém uma relação essencial com elemen
tencial, enquan to que a fala é o ato lingü.ístico material e tos pré-con truídos (ver lnterdiscursividade) .
concreto, é o uso que cada indivíduo faz da língua. Se a lin
guagem só existe como atividade, língua e fula não se ex Regras de fimnaçáo: são regras constitutivas de uma formação
cluem, pois se a fala é a realização concreta da língua. aq uela discursiva, possibilitando a determinação dos elementos que
não existe sem esta. a compõem. Foucauk apresenta-as como um sistema de re
lações entre os objetos do discurso, os diferentes tipor dt enun
Linguagem: na perspectiva discur�iva, a linguagem não é vista ciação que permeiam o discurso, os conceitos e as diversas
apenas como instrumento de comunicação, de cransmissáo estratigias capazes de dar conta. de uma formação discursiva,
de informação ou como suporte do pensamento; lingua permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.
gem é interação, um modo de ação sodal. Nesse sentido,
é lugar de conflito, de confronto ideológico em que a sig Sentido: para a análise do discurso, não existe um sentido a
nificação se apresenta em toda a sua complexidade. Estudar priori, mas um sen tido que é constnúdo, produzido no pro
a linguagem é abarcá-la nessa complexidade, é apreender o cesso de inrerlocução, por isso deve ser referido às condições
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de p rodução (contexto histórico-social, interlocutores . . . ) do
discurso. Segundo Pêcheux:, o sentido de uma p alavra muda
de acordo com a formação discmsiva a q ue p ertence.
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signo lingüístico e ressalta o cad.ter social, interativo e a autota faz um histórico do aparecimento do tenno até
dialógico da linguagem. Elabora o conoeito de polifonia chegar à concepç.ãio marxista de ideologia.
enunciativa e, numa perspectiva que toma a aheridade
como constitutiva da linguagem, analisa, em textos lice• DuCllOT, O. " Esboço de Utna teoria polifônica. da enunciação", ín
rários, os diferentes ti pos d.e discurso: direto, indireto, O dizer e o dito. Campinas: Pomes, 1 987.
índireto livre. Nesce artigo, o autor retoma o conceito d.e polifonia de
Bakhtin e o aplica à lin güística, mostrando como num
BENVENISTI., E. "O homem na lín gua". ia Problemas � tingülstir:a mesmo enunciado emergem várias vozes. Elabora o con
geral. Trad. M. G. Novak e L. Neri. São Paulo; Com panhia ceito de locutor e de enunciador.
Editora Nacional, EoUSP, 1 966 , pp. 245-3 1 5 .
Esta parte, a quinta das seis que compõem a obra de Ben FoUCAULT, M . Arq ueologia do sabtr. Trad. L. F. B aeta Neves .
ve nis te, contêm accigos fundamentais para o estudo da Petrópolis: Vozes, 1 97 1 .
enunciação. Analisa a esuurura das relações de p esso a no Embora não seja lingüista. m as filósofo, as colocações de
verbo e a natur� dos pronomes, incroduzindo a questão Foucault nesta obra foram fecundas p ara as p esquisas
da subjetividade na linguage m. Numa p erspectiva en un linguísticas visando ao, discurso. A construção de um
ciativa, distingue "discurso" de "história", aborda a questão objeto do saber deve levar o pes q uisador a interrogar o
dos performativos e dos verbos delocucivos. próprio discurso sobre suas regr as de formação. Define
o que vem a ser disçurso, formação discursiva, enun
___ . "O problema formal da enunci ação" , in Problema, de ciado, enunciação, função enuncíadva - conceitos fun
lingü ística geral 11. Ca mpi n as: Pontes, 1 989, pp. 8 1 -90. damen tais para a análise do discurso.
O autor analisa o mecanismo de produção do ato de
enunciação, mostra como, ao enunciar, o locutor mobiliza HAROCHE, CI.; HeNRY, P. e PE.CHEUX, M. "'La sémanrl q ue ct la
a lín gua apropriando-se d�. aparelho formal da Hn gua e coupure saussuriense: lan gue. langage, discours", Langages,
marcando sua posição de locutor através de índices es� n1 24. Paris: Didier-Larousse, 1 97 1 , pp. 93- 1 06.
pecíficos. Pode-se dizer que este artigo é uma teorização Partem de uma crftica à dicotomia saus:;uriana de língua/
daquilo que foi colocado mais empiricamente nos textos fula e seus desdobramentos, dentre des, o de não ter per
anteriormente citados. mitido o lugar devido à Semântíca. Propõem uma semân
dc.a do discurso que ope re com os conceitos de formação
CHAm, M. O que é idto logia. São Paulo: Brasiliense, 1 980. social, formação ideológ ica, formação discursiva e considere
Obra im p ortante p ara a q ueles que querem se introduzir o liame entre "si gn ifica ção" de um cato e as condiçõe�
na questão da ídeologia. Partindo de exem pfos p ara en sócio•his tórícas de sua produção como constimtivo do
tender o espaço em que o fenômeno ideológico se i nstai.a. sentido.
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MA•NGUENEAU, D . lnitiation aux mithode.s de l'anaiy1r d-u di!cours. siva, d.a convenção, da leitura. Analisa diferentes cipos de
Paris: Hacherte, 1 976. funcionamentos cliscucsivos como o discurso pedagógico,
Após situar a pcoblem.ácica da análise do discurso na his o discurso da história o discurso reli gioso e o discurso
tória da lingiiísrica estrutural, o autor fornece um pa sobre a mulher.
norama das principais orientações metodológicas da pes
qu isa lingüística ness:a área, agrup ando-as em torno de três ÜIU.ANOI, E. «A análise do discurso, .Jgumas observações", DEHA,
abord agens: lexicológica, sinclxica e enunciativa. O último vol. 2, n 1t 1 , 986.
capitulo aborda determinadas orientações de p es q uisas A autota fai uma retros pectiva, ap resentando o surg i•
(relativas, por exemplo, à arg umentação, à narratividade) , mento da análise do discurso em duas vertentes: a ame
a pontando p crs pecdva.,; p romissoras à análise do discurso. ricana e a euro p éia. Mostra como a p ecsp ec,;iva europ éia
assume um.a m udança mais radical de seu objeto ao ul
___ . Novas undbtcias mi andlis� do di!curso. Cam p inas: Pon trapassar a unidade lingüística da sentença para tomar o
tes, Edito ra da UNICAMP, 1 989. rexco como unidade emp írica de an álise. Tendo o discuno
Escr'Íta mais de uma década após, essa obra vem com• como objeto reórico especifico, abre-se um novo cam.po
plementar a anterior, Initiati.on aux mlrhodes. .. Partindo para os estudos lingüísticos em que a questão da sig
da oo nsidcta ção de q ue a li n guagem é uma i nstituição nificação se conecta com a. de formações ideol6gicas, e a
social, o autor insiste no fato de que a análise do disc1JCS0 é dência li.ngi.lística mantém relaições com uma teoria cien
uma disci plina que se jnscreve, de modo p rivilegiado, no cífica das formações sociais.
c:;paço lingüístico e mantém vínculos p eculiares com as
condições sócio-hinóricas de p rodução. Ao colocar que a �CHE.UX, M. "Análise automática do discurso", in F. Gadet e T.
enunciaçáo é um dispositivo constitutivo da p rodução de Tak (orgs.) . Por uma a:nd/ise automdtica do discurso. Uma
sentido e que cada enunciado supõe uma relação com outr3S introdução à obra rÚ Michel Picl,eux. Campinas: Editora
enunciações reais ou virtuais, mostra como atualmente a da UNICAMP, 1 990 (título original: Ana�se auttJmatÚjue du
análise do discurso está. mais vinculada às teorias enunciativas. discours) .
A obra representa uma etapa fundamental no desenvol
ÜRLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento. São Paulo: Bra vimento dos trabalhos ron temporâneos sobre a linguagem
siliense, 1 984 . por abrir uma via nova à "análise do conteúdo" até então
O objetivo dos estudos que enfeixam essa obra é ap reender praticada. Partindo criticamente de colocações feitas por
a l ing u agem no seu funcionamento discursivo. Procura Saussurc e dos deslocamen tos por das provocados na
incorporar o social e o histórico como eJemenros conscj lingüística, co nceitua o que vem a ser funcionamento
tucivos d.a linguagem e, sempre numa perspectiva discursiva, discursivo, condições e produção, processo;-, discursivos,
reflete sobre a questão da literal idade, da tipologia discur- forn ecendo uma séde dê orientações conceituais para uma
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abord agem do d iscurso por ele den omi nada de análise
aucomitica do discurso.
l
geral. Trad. M . G. Novak e L. N�ri. São Paulo: Companhia
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Editora Nacional, EotJSP, 1966, pp . 245-3 1 5 ( título ori CoURTINE, J.-J. e MARANDIN, J .•M. "Quel obj et p our l'analyse du
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198 1.
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Helena Hathsue Nagamine Brandão é
professora no Departamento de Letras
Clássicas e Vernáculas da Universidade
de São Pau lo. Antes, foi professora tam
bém na PUC-SP. É mestre em lingü lstica
pela USP, doutora pelo LAEL-PUC-SP e
livre-docente pela USP. É autora da obra
Subjetividade, argumentaçAo, polifonia. A
propaganda da Pe trobrás ( E d i to ra
UNESP), co-coordenadora da obra Apren
der e ensinar com textos didétlcos e
paradidátlcos e coordenadora de Gf
neros do discurso na escola: mito, conto,
cordel, discurso político e dlvulgaçfo
cientifica, ambas publicadas na coleção
Aprender e Ensinar com Textos (Cortez
Editora).
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