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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

UNIDADE DIVINÓPOLIS
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

RAFAELA LOPES DOS SANTOS


VANDA APARECIDA FERNANDES MARTINS

RESUSMO DOS ITENS 1.2, 1.3 E 1.7 DO LIVRO DITADURA E SERVIÇO SOCIAL:
UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS-64 / JOSÉ PAULO NETTO

Divinópolis
Abril/2023
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Unidade Divinópolis - Curso de Serviço Social

1.2 A AUTOCRACIA BURGUESA: O “ MODELO” DOS MONOPÓLIOS

O período de 1961/1964 foi marcado pela dominação burguesa, pela repressão,


censura e violência. Uma época que no âmbito político foi sinalizada pela falta de
democracia. Economicamente o Brasil teve um intenso crescimento, na área industrial e
agrícola, em decorrência dos investimentos do Estado e empresas estrangeiras, onde a
concentração de renda nas mãos da burguesia cresceu muito.
A principal explicação dada pelos militares que tomaram o poder em 1964 foi a
aproximação do presidente João Goulart com o comunismo, eles julgavam que Jango seria
capaz de implantar tal regime no país. Houve o fim das instituições democráticas, suspensão
de garantias constitucionais, o fim da separação dos três poderes e o fim dos mecanismos
políticos existentes como o voto. Mesmo serviços públicos, como a educação foram restritos e
sofreram uma clara erosão.
O modelo econômico da ditadura sustentado pelo tripé capital nacional/ capital
estrangeiro/ capital do Estado trouxe acumulação para a burguesia e exclusão do proletariado.
Avaliando esse modelo econômico, Furtado (1981/1942) escreveu: Poucas vezes ter-se a
imposto a um povo um modelo de desenvolvimento de carácter tão antissocial. Onde o
populismo ganhou força e a super exploração dos trabalhadores trouxe à tona a necessidade
de políticas públicas que assegurassem a bem-estar.
Durante a ditadura houve grandes movimentos pacifistas, grandes tensões entre
parceiros do pacto revolucionário e pelas formas de oposição. A distância entre as classes
estava cada vez maior pois a funcionalidade econômica e política: a definição do novo
esquema de acumulação é tanto a discriminação dos agentes a serem privilegiados como
aqueles a serem preteridos. O Estado pós 64 tem o carácter antinacional e antidemocrático, a
exclusão é a expressão política do conteúdo econômico da heteronomia. A política é um
Estado que estrutura um sistema de poder definido, onde confluem os monopólios
imperialistas e a oligarquia financeira nativa. A esse Estado cabia “ racionalizar” a economia,
não somente para a concentração e centralização, mas ainda induzi- lá ao processo de
produção e acumulação. Foi chamado modernização conservadora, a reforma que tinha como
objetivo crescimento da produção agropecuária mediante a renovação tecnológica,
transformando a sociedade.
Os legados econômicos – social da ditadura para o Brasil: foram uma herança maldita
para a economia, como a agravamento de alguns problemas que ainda marcam o noticiário até
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hoje, como o endividamento do setor político e o aumento da desigualdade social. O país


viveu uma forte expansão econômica, mas teve uma grande repressão de expressão, liberdade
e direitos, terror e violência. Uma época de ambiguidade onde a coalizão vitoriosa não era
heterogênea e por isso incapaz de unificar setores dominantes e denominados num projeto
policlassistas.
Depois do golpe de abril, as massas populares foram excluídas do jogo do poder e
impossibilitadas de se constituir em defesa das classes trabalhadoras.

1.3 O PROCESSO DA AUTOCRACIA BURGUESA

Um exame menos superficial da ditadura revela-a como um processo, um ciclo do


despotismo burguês, com momentos distintos e distinguíveis ao nível empírico e analítico, em
que se incluem a constituição e a crise da autocracia e do regime político. É no governo de
João Figueiredo que o projeto de autorreforma do regime ditatorial fracassa devido ao o
confronto entre a estratégia aberta do regime e as aspirações e inclinações democráticas da
sociedade brasileira impossibilitado o regime de fazer cumprir suas regras. A autocracia
burguesa passou por diferentes momentos de evoluções.
O primeiro momento é marcado pela incapacidade de o regime autoritário articular
uma ampla base de apoio social para sustentar suas iniciativas no campo dos trabalhadores, e
as iniciativas governamentais não ganharam setores expressivos, o que está ligado a
liquidação da estabilidade no emprego e uma política salarial depressiva que resultou no
distanciamento entre o governo e a massa trabalhadora. O segundo se refere à coesão da força
tutelar do novo poder, as corporações armadas: o processo de conspiração e ascensão do
estatuto público de poder e prestígio, descaradamente comprometidos com claros interesses
económicos e financeiros, onde começou a emergir partidos, dificultando para o primeiro
golpista da presidência o controle sobre a escolha de seu sucessor que herdaria de Castelo
Branco toda acumulação de estrangulamentos políticos e sociais.
A aceleração do processo político se deu pelo movimento operário e sindical e o
movimento estudantil representada pela pequena burguesia urbana assumiu a frente da
contestação a nova ordem. O quadro mudou com a conquista das ruas pela oposição, a
mudança ocorreu tanto nas esferas de governo quanto na oposição, 1968 foi o ano que decidiu
combinar a atuação no espaço jurídico proporcionado pelo governo com a atividade pública
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na legalidade intervindo na penumbra entre a legalidade e a ilegalidade, a tentativa da


oposição de legitimar o próprio governo era politicamente inviável, o Ato Institucional n°5
rompeu o impasse e começou o verdadeiro momento do despotismo burguês.
O segundo momento vai de dezembro de 1968 a 1974, até então, o que fora uma
ditadura a reacionária, que conserva um discurso carregado de alusões democráticas e uma
prática política, cujo bojo ainda se presta a alguma mediação de cortes democráticos
parlamentares, torna-se a instituição política do projeto de "modernização".
O terceiro momento da evolução da autocracia burguesa é no período da crise do
“milagre” onde inscrevem-se as determinações de levar à crise do regime autoritário burguês
pela mediação dos movimentos populares. São duas as componentes fundamentais que
atravessam a ditadura e sem as sublinhar é impossível articular o fio condutor que
essencialmente liga os diferentes momentos da ditadura burguesa, nem compreender as fases
críticas. O primeiro envolve o vetor que coesiona a tutela militar na conformação do Estado
ditatorial. O segundo componente a ser preservado é que a hegemonia nunca escapou das
mãos das correntes burguesas durante todo o ciclo da burguesia absolutista no campo da
oposição democrática.
Não é por acaso que a crise da ditadura durou mais de uma década, configurando um
processo de transição aparentemente único e típico: dei lugar a uma situação política
democrática. O impasse subjacente envolvido, a grande diferença entre o estado e o sistema
político, certamente não durará muito.

1.7 O LEGADO DA DITADURA E A TRADIÇÃO MARXISTA

Esse período marcou profundamente a vida dos brasileiros, tanto pela opressão e
obscuridade gerada pelo regime militar, como pelo crescimento de manifestações contra o
referido regime, a exclusão na participação na política. Foi um período que trouxe grandes
modificações na educação, cultura, economia e na sociedade.
Na educação pudemos botar a implantação de novas disciplinas como Moral e
Cívica para os alunos de 1° e 2° grau. Houve também uma expansão no ensino técnico,
visando conseguir mão de obra barata para as fábricas com a profissionalização da classe
operária pobre, criando a divisão de trabalho onde apareceram os cargos de chefia. Nas
universidades foi observado o aumento da privatização com o capital estrangeiro,
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intensificando a dualidade fundante da educação brasileira. O pensamento crítico (filosofia e


sociologia) foram banidos, já que promoviam um tipo de pensamento radical, foram
instalados sistemas de vigilância contra professores e estudantes resultando em prisões,
desaparecimento e mortes. Tornou- se modismo estudar a classe operária pelos cursos de pós
e doutorados, abordando a história social e política. A temática indígena ganha notoriedade, a
problemática negra e a questão da mulher.
Na cultura, apesar da censura imposta, houve um levante de artistas na contestação
e no apoio a resistência política contra o regime. Em um Estado autoritário a censura dos atos
culturais era primordial para defender o regime e por mais que pareça contraditório foi um
período marcado pela efervescência expressão cultural. É da natureza humana expor suas
ideias, opiniões e sentimentos.
O PCB é um partido político brasileiro de extrema esquerda que se define como um
partido de militantes e quadros revolucionários que se forma na luta de classes, na
organização do proletariado e no estudo das obras de Marx e Engels, que inaugura no Brasil a
vertente do socialismo revolucionário que se reclama apoiado por Marx.
O papel desempenhado pela ditadura teve profundas consequências. Obviamente, não
lhe foi possível anular da cultura brasileira a repercussão das matrizes do pensamento
socialista revolucionário; no entanto, ao interromper a dialética das tradições marxistas entre
diferentes interlocutores, a ditadura não só freou esta constituição por um período
considerável, como também introduziu fatores de complicação, dos quais a resolução
requisitara esforços incansáveis e a conjunção de inúmeras circunstâncias favoráveis, que não
resultam do acaso.
O uso frequente de versões políticas específicas da tradição marxista para legalizar
alguma prática (ou seja, confronto autocrático), faz com que a estrutura teórica de Marx seja
um repositório de citações e rituais. A cultura da Pacotilha do marxismo foi generalizada,
nesta cultura, petições voluntárias e práticas gerenciam uma simplificação do conhecimento,
que prova ser completamente vulnerável a tudo moderadamente antagônico.
O golpe profundo que a autocracia desferiu no que se pode chamar de cultura da
esquerda, não reduz a inspiração marxista nesse componente axial, não para em fato
que interrompeu ferozmente um acúmulo crítico que passou a configurar uma tradição
marxista no Brasil que avançou durante a década de 1960, diferenciando fronteiras do
movimento comunista organizado e enraizando-se na cultura brasileira. A autocracia burguesa
foi mais longe, deixando componentes e especificidades que conspiram vigorosamente contra
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a possibilidade de criticar a herança difícil acumulada ao longo de mais de meio século de


lutas, embates sociais e ideológicos.

REFERÊNCIAS:

NETTO, José Paulo, 1947 - Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço Social no
Brasil pós-64 / José Paulo Netto – 8. Ed. - São Paulo: Cortez, 2005. ISBN 85-249-0295-7

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