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Universidade Federal de Alfenas

PROVA - História do Brasil II – Prof. Alisson Eugênio

Alunas: Bruna Motta


Ylzes Teixeira

QUESTÃO 1

No período pós-revolução, o Estado Oligárquico dá lugar à Democracia Populista que


compreende o governo de Getúlio Vargas que, com uma política de conciliação de
interesses e a ausência de uma diretriz dominante na política econômica, acarreta a
derrubada da hegemonia do setor cafeeiro, que já não era suficiente para enfrentar os
problemas e crises dos anos 30.

O Estado que tinha como uma das características o compromisso com grupos
dominantes tradicionais, com proletariado e com a burguesia industrial que estava se
tornando um grupo emergente, concilia interesses distintos ou até mesmo antagônicos,
de maneira que fossem tomadas medidas favoráveis a ambos os setores. É nesse período
que há a transição no plano econômico do modelo agro-exportador para o modelo de
substituição de importações, ou ainda, nacional desenvolvimentista, que contava com a
atuação estatal direta em relações econômicas e efetuou rupturas e limitações ao poder e
influências externas em sua economia, com o objetivo de torná-la autônoma e
desenvolvida. A conciliação de interesses aliada às rupturas, a participação do Estado e
o contexto de crise evidenciado na época fez com que o setor industrial, voltado para o
mercado interno, alcançasse um importante impulso.

Até os anos 30 predominava um Estado que não intervinha em assuntos econômicos e o


período pós-revolução tinha participação estatal direta no que dizia respeito à economia,
podendo até mesmo em certos pontos, como correção e organização da economia,
apresentar traços autoritários.

Após um período com predomínio de um caráter ditatorial, autoritário e centralizado


que perdurou até o fim do Estado Novo - onde a organização nacional foi feita de cima
para baixo – o Estado passa a apoiar-se em mobilizações populares, como setores
políticos e os trabalhadores brasileiros.
O apelo que os líderes políticos faziam às massas através de políticas sedutoras no
populismo é considerado como sendo uma saída para amenizar os efeitos das crises,
tendo como presas não só os que já residiam nas cidades, como também os que
chegavam do campo, pois os últimos chegavam com outro imaginário político: o
patriarcalismo. Os discursos populistas caracterizam de maneira clara como a
recorrência ao povo era frequente. Nessa fase a sustentação do poder era a política de
massas, uma política com relativa ampliação de diretos trabalhistas e outras políticas
sedutoras e uma estrutura ideológica formada também como um aparato de sustentação
do poder político. Esse fato desagradou os militares, que tiveram parte significativa na
articulação do Estado Novo.

A transição do Estado Oligárquico para a Democracia populista, que ocorreu na


Revolução de 1930 e perdurou de modo geral até o ano de 1964, foi um período de
extrema importância para o país, quando este passa a ter como base uma sociedade
urbano-industrial e embora a ruptura tenha se dado de maneira parcial, o momento foi
de intensas transformações. Podemos considerar então que, a Revolução de 1930 foi um
movimento de “modernização conservadora”, tendo em vista a teoria analítica de
Barrington Moore Jr, pois rompe parcialmente com a ordem anterior, mas a maior parte
da população esteve alheia aos benefícios da modernização.

A transição do populismo para a Ditadura militar se deu de maneira ainda mais


conservadora. A classe média ao reproduzir a ideologia burguesa – um ponto de vista
particular que pretende ser universal – em seus valores e padrões de vida, anseia por
posição social e vê a classe operária como um percalço à concretização de suas
ambições, simpatizando com medidas autoritárias como solução. Com a impossibilidade
de concretizar seus desejos por sua crescente exigência por um alto padrão de vida e a
situação de inferioridade em que eles consideravam estar, possibilitou a “aprovação” da
classe média à transição instaurada pelo Golpe de 1964. No período de 1961-64, em que
coincidiram a crise do modelo de acumulação de capital, de aliança de classes
correspondentes, do regime político e do discurso ideológico que soldava essa
totalidade. E diante desta condensada crise é que o golpe militar acontece, modificando
as relações entre as classes e os partidos políticos, em que o último, define Gramsci,
como uma “crise de representação política”.
No que diz respeito ao setor econômico, esta etapa foi marcada pela associação do
capital nacional ao capital estrangeiro - do qual dependia estruturalmente. No âmbito
político, a grande burguesia industrial se torna a grande favorecida, contrapondo-se a
situação anterior, quando as camadas populares haviam se tornado atores importantes e
significativos. Nesse momento o poder econômico e o poder de dominação política
passam a ser correspondentes, com os detentores dos meios de produtores legitimando
seu poderio e fazendo uso do aparato ideológico como forma de proteção nacional para
a conservação da forma de poder. O poder, nesse período, sofre mudanças e concentra-
se apenas no Poder Executivo, que passa a ter um caráter militarizado. Surgiu um novo
ciclo de concentração de capital e de reequilíbrio do orçamento estatal, assim como a
diminuição da importância da política social. Estabeleceram-se então, uma nova relação
entre o Estado e a sociedade civil, o sistema de dominação foi globalmente reconstruído
a partir do Estado, que visava garantir a ordem social e também a eficácia econômica.

A despolitização advinda da desinformação e da desmobilização deliberada, assim


como a privatização, possibilitou a passagem de um Estado liberal-parlamentar para um
Estado militar. Assim, a partir de 1964, constituiu-se um novo formato hegemônico,
caracterizados pelos seus aspectos tecnocrático-militares. A ideologia de segurança
nacional e a doutrina da contrainsurreição terminavam de estruturar este novo formato
hegemônico do Estado brasileiro. A ditadura foi mantida por pouco mais de vinte anos,
pois havia empréstimos externos e investimentos estatais subsidiando o governo. Geisel
(presidente entre 1974-79) é que anuncia a institucionalização do regime, mas logo o
mesmo começa a decair, já que o período de expansão econômica chegava ao fim,
devido à crise internacional. Dá-se início, mais uma vez, a uma nova crise hegemônica,
ou seja, uma desarticulação do formato econômico, social, político e ideológico.

A rigidez do regime era o que o mantinha, mas com recomposição do movimento de


massas, tornou-se um fator de incapacidade de controlar a ordem social. A intensa luta
política (iniciada com o movimento Diretas Já) e ideológica para reacomodar as
relações de forças entre as classes foi responsável por desestruturar a ditadura militar. A
grande burguesia brasileira que até então estaria unida ao golpe militar, recicla-se para
uma nova versão do liberalismo, ou seja, o neoliberalismo, e então a burguesia enquadra
sua ideologia no debate constitucional.
O que viria a acontecer, a partir de então, seria a democracia regida pela Constituição.
Esta “nova” sociedade civil que vinha surgindo, fortalecia as organizações que lutavam
pelos direitos humanos, das mulheres, dos negros, dos índios, pela liberdade de
imprensa, pela defesa ecológica e, com o desenvolvimento destes fatores torna-se
possível o surgimento de uma nova força hegemônica, que então se empenhará na
campanha pela Constituinte. Uma Constituição democrática e popular requer
obrigatoriamente uma declaração dos direitos básicos de todos os cidadãos brasileiros.
Assim, o povo seria um sujeito social e político capaz de transformar a história do país.
A Constituição seria, portanto, a oportunidade de se ter política, e não só políticos; e
garantiria os direitos básicos dos cidadãos. Se almejava uma Constituição que desse
base ao país para que este fosse democrático, popular e nacional. Havia uma vontade
coletiva em formação para estabelecer uma nova ordem econômica, social, político-
institucional e cultural. Se (re)descobre então o conceito de cidadania e a certeza da
implantação de uma ordem democrática, assim dá início a fundação de uma nova nação,
mesmo que tardia (tal atraso se deu pela fortes tradições oligárquicas conservadoras).

Inicialmente não se via como imediato a necessidade da eleição para a Assembleia


Constituinte, mas sim o processo de mobilização, discussão e organização popular e
democrática, já que notava-se resquícios das formas oligárquicas, ditatoriais e liberais
com selo do autoritarismo. Em meio à crise ditatorial, forças sociais e políticas puderam
emergir para a transformação do cenário brasileiro.

Após 21 anos de exceção, arbítrio, casuísmo e autoritarismo, o povo tem esperança e


confiança na sua capacidade de erigir uma civilização diferente, humana e solidária.
Uma vontade nacional se articula em busca de fundar uma nação que ainda não se
encontrou. O povo não se conformou com uma cidadania pela metade. E assim
formaram-se duas grandes correntes constituintes: a dos grandes capitalistas nacionais e
internacionais e da elite orgânica, e a corrente de conteúdo popular, cada uma delas
visando seus interesses.

A ditadura daria lugar à democracia, regida por uma Constituição que desdobraria num
amplo leque de temas econômicos sociais, políticos-institucionais e culturais. No plano
econômico almejavam, basicamente, a defesa das riquezas nacionais e do ambiente, a
reforma fundiária e reforma da empresa, defesa do conteúdo democrático e participativo
da gestão estatal, reforma tributária, zelar pelo bom uso dos meios financeiros e dar
também a sociedade instrumentos de controle sobre a economia. No âmbito social
resgataria o direito ao trabalho, ao emprego, à livre organização sindical, reorientar o
orçamento público em favor dos investimentos sociais, reconhecer o homem como
principal recurso econômico e assegurar políticas sociais adequadas aos interesses da
população. Já no plano político-institucional estender o conceito de cidadania,
reivindicar as condições materiais dos cidadãos, defesa do país por parte da segurança
nacional, o sistema eleitoral como responsável para com direitos e deveres dos políticos.
E ainda, no plano cultural, colocar a educação como direito do cidadão, o laicismo do
Estado, apoio às artes populares, reconhecimento do patrimônio nacional e histórico, da
literatura e da língua, e a revolução científico-técnica. Por fim, o plano internacional que
lutaria pela defesa, respeito e paz entre os povos.

Um pouco diferente do que teria sido as outras transições, das quais tínhamos a teoria da
“modernização conservadora” de Moore Jr, na transição da ditadura para a democracia,
a participação popular foi notória, o povo se reconheceu como capaz de promover
mudanças. A Constituição incorporou todas as classes, houve a inclusão social, ao
menos no papel. Afinal, na prática não funcionou como deveria, ou seja, não foi
suficiente.

QUESTÃO 2

A sociedade brasileira passou por três modelos econômicos em sua história: exportador,
nacional desenvolvimentista e dependente associado.

O primeiro modelo tinha como principal característica a produção de um produto para


fins de exportação, com preponderância do café, sendo o seu principal produto. No
modelo agrário-exportador a posse de terras estava nas mãos de poucos proprietários e
as manufaturas eram importadas do exterior. O declínio desse modelo se dá como um
reflexo do que acontece fora do Brasil, isto é, com a crise de 29 os cafeicultores
brasileiros se veem incapazes de exportar seu produto, de modo que nem mesmo o
apoio do governo para manter o preço do café é suficiente para conter a crise. Instaurada
a crise do café no Brasil aliada à diminuição das possibilidades de importação (devido
ao alto custo) forma-se nada menos que o gatilho para a ascensão do setor industrial
que, até então se encontrava em baixa escala.

Do plano econômico agro-exportador, o Brasil se desloca para o segundo modelo


econômico brasileiro denominado nacional desenvolvimentista, ou ainda, o modelo de
substituição de importações, que possibilitou o desenvolvimento de um pólo urbano-
industrial vigoroso no país. Situado no período entre 1930 a 1964, compreende a Era
Vargas e a democracia populista. Essa etapa é caracterizada principalmente pela atuação
estatal em relação à indústria, tanto no âmbito de decisões quanto em orientações e
execução de programas. O apoio financiado pelo dinheiro público foi de suma
importância para dinamizar e desenvolver a indústria brasileira, com também para
atender a demanda do mercado interno. Para isso, medidas como limitações ao capital
externo e proteção do mercado interno foram tomadas. É nesse período em que o setor
industrial brasileiro cresce de forma significativa, pois os objetivos eram recuperar o
atraso industrial e trazer autonomia à economia brasileira perante outras nações. Essa
autonomia só se tornaria possível a partir de uma ruptura total ou parcial política e
econômica tanto com a sociedade tradicional quanto com a sociedade internacional
dominante. No caso do Brasil, essa ruptura foi parcial e foram as rupturas internas e
externas que possibilitaram o desenvolvimento não só do setor industrial, mas também
desenvolvimento do âmbito social e político brasileiro. Entretanto, o segundo modelo
também entra em declínio e, essa crise do modelo de substituição de importações dá
origem também à crise política que coloca fim à democracia populista, pois a transição
do modelo anterior para o modelo dependente associado só poderia se tornar possível
com um governo que não fosse populista. Os principais motivos pelos quais o segundo
modelo econômico brasileiro entra em crise se dão através da necessidade de evoluir
para uma indústria que atendesse a demanda de alto nível exigida no Brasil, como
também um setor industrial organizado que pudesse competir exportar e competir no
exterior. Outro fator inerente a esse período é a necessidade de exportar produtos
industrializados e não industrializados, mas para isso as medidas colocadas pelo modelo
vigente que protegiam o mercado externo tinham de ser eliminadas e para o
desenvolvimento de um setor industrial de alto nível se fazia necessária a associação
com oligopólios multinacionais detentores de uma tecnologia (monopolizada) da qual
necessitava essa nova fase. Todos esses fatores, no plano econômico, corroboraram para
que modelo de substituição de importações desse lugar ao terceiro modelo econômico
brasileiro: o dependente associado.

O modelo econômico dependente associado cuja principal característica foi a


internacionalização do setor industrial, consistia na associação do capital nacional ao
capital estrangeiro, dependendo estruturalmente dele. Dessa maneira, o Brasil passa a
ser um país capitalista dependente e não mais autônomo, pois dependia da estrutura
capitalista que o país não possuía. Mesmo com práticas de cunho internacionalizador
evidenciadas em várias fases da história do país (Programa de Metas de JK e Governo
do presidente Castelo Branco), é no período após o Golpe de Estado que a economia e
política brasileira se tornam amplamente dependentes de vínculos externos, Nesse
período, interrompe-se a ruptura parcial característica do modelo de substituição de
importações e recompõem-se as relações econômicas e políticas. É importante ressaltar
que, da maneira como se dão as atividades de interdependência nessa fase, o processo
acaba por depender de fatores externos, tendo que ser levado em conta crises e
flutuações do mercado capitalista mundial.

Os modelos econômicos brasileiros, pelo olhar de Octavio Ianni, se dão de maneira


mista e contraditória ao longo da história, com vínculos internos e externos sendo
parcialmente rompidos em determinada época e recompostos em outra. E, podem-se
evidenciar também estruturas políticas e até a manipulação ideológica formada para
servir de aparato de sustentação do poder político e econômico.

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