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Fichamento - CAPELATO, Maria Helena.

O Estado Novo: o que trouxe de novo in: FERREIRA,


Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano: do início dos anos 30 ao
apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, vol. 2.

- No texto da historiadora Maria Helena Capelato, a autora busca traçar um contexto geral da ocorrência
da Revolução de 1930, que ocasionou a ascensão de Getúlio Vargas à presidência e o período que
chamamos de Estado Novo. Desta forma, Capelato também se desdobra sobre as características desse
período, os agentes políticos envolvidos e as novidades trazidas por Vargas no Estado Novo.

- Estado Novo: política de massas realizada por Getúlio Vargas, desenvolvida no período entre a Primeira
e Segunda Guerra Mundial

- Contexto mundial de crise das oligarquias e eclosão da Revolução de 1930: Primeira Guerra Mundial;
crise do liberalismo; críticas à democracia; crise de 1929; eclosão de regimes de controle das massas
como o Fascismo, Nazismo, Salazarismo e Franquismo. Sobre esta última, a autora argumenta que esses
regimes tinham em comum o fato de terem nascido a partir da crítica à liberal democracia e de debates e
políticas que se preocupavam com a questão social, gerando uma proposta de um controle das massas
através de um Estado forte e autoritário comandado por um lider carismático. A partir da experiência
desses regimes europeus que se inspiram lideres da América Latina, dentre eles Getúlio Vargas e a
política do estado-novista, que aplica uma forte centralização política e ideológica.

- Revolução de 1930: a autora aponta alguns dos fatores que levaram a esse evento, como a Revolução
Russa de 1917, que influenciou diversos movimentos sociais ao redor do mundo e intensificou o medo da
ameaça socialista; e a crise da bolsa de valores de Nova Iorque, que desencadeou uma crise econômica no
Brasil. Essa conjuntura culminou em diversas revoluções pela América Latina; no caso brasileiro, a
vitória dos “revolucionários” em outubro de 1930 representou a fortalecimento de ideais contrários às
instituições liberais antes estabelecidas, consideradas incapazes de “[...] vencer o ‘atraso’ e controlar a
‘desordem’ reinante no país” (CAPELATO, 2003 p. 110). Esse evento também fortaleceu correntes
ideológicas autoritárias, uma vez que o povo era visto como incapaz de exercer a democracia, gerando o
golpe de Getúlio Vargas em novembro de 1930, com o apoio do exército e de outros grupos
anti-democráticos. Para Capelato, a Revolução de 1930 não foi de fato uma revolução, pois não houve
reestruturação política e social com esse evento.

- A Era Vargas representou uma mudança nos conceitos de democracia, representação política de
democracia: “[...] a revisão do papel do Estado se complementou com a proposta inovadora do papel do
lider em relação às massas e apresentou uma nova forma de identidade nacional: a identidade nacional
coletiva” (CAPELATO, 2003, p. 110).

- Política de massas do Estado Novo: buscava consolidar e legitimar um governo a partir de uma nova
base política: as classes populares; e a estratégia utilizada foi a propaganda através dos meios de
comunicação.

O Estado Novo na visão dos historiadores

- Periodização da Era Vargas:

1. (1930-1937) - Período de indefinição e de possibilidades do governo de Vargas, em que este ainda


caminhava sob um terreno movediço.
2. (1937-1945) - Período de vigência efetiva do Estado Novo, caracterizado por significativas
mudanças no governo, pela reorganização do Estado, pela nova relação do Estado com a
sociedade, pelo controle social, político e cultural, pelo cerceamento de liberdades e pela
repressão e violência. Esse período pode ser dividido em outras duas fases: de 1937 a 1942, em
que o Estado Novo buscava se legitimar entre as classes populares; e de 1942 a 1945, em que o
Brasil entra para a Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, acentuando as contradições do
governo Vargas.

Antecedentes do golpe

- Setor agrário se encontrava em debilidade após a quebra da bolsa em 1929.

- Polarização entre um Estado liberal descentralizado e com limitado poder de intervenção, e um Estado
forte e intervencionista, de acordo com as novas tendências europeias. O Governo Provisório alinhou-se
mais de acordo ao segundo modelo de Estado, instaurando uma centralização política em contraposição à
autonomia dos estados possibilitada pelo federalismo, cuja execução culminou no crescimento político e
econômico do estado de São Paulo, sendo este um dos motes da revolução de 1930. Em resposta à
política centralizadora, ocorre a Revolução de 1932 pelas elites paulistas, que, embora perdessem a
“guerra”, tiveram sua demanda concedida: a da elaboração de uma nova Carta Constitucional. “A
Constituição de 1934 foi considerada inviável por vários autores porque tentava conciliar tendências
inconciliáveis” (CAPELATO, 2003, p. 115)

- Intentona Comunista (1935): liderado pela ANL e derrotado com forte repressão, o levante comunista
ocasionou uma radicalização do cenário ideológico muito heterogêneo, gerando, entre grupos dos mais
diversos, um inimigo em comum: a ameaça comunista. O regime de Vargas se fortalece a partir da
propaganda anti-comunista, decretando estado de sitio por 3 meses e realizando, em 1937, graças ao
Plano Cohen, o Golpe do Estado Novo, que dissolveu o Congresso e outorgou uma nova constituição.
“Todos contra todos, mas todos unidos contra o comunismo”.

Consolidação do Estado Novo

- Nomeação de interventores nos estados pelo presidente, que atuariam a reforçar o projeto centralizador
de Vargas e minando as autonomias estaduais. Tal política foi concretizada na cerimônia de queima das
bandeiras estaduais “[...] para marcar a vitória do poder central sobre os estados” (CAPELATO, 2003, p.
117).

Organização do poder: Ordem e Progresso

- O novo regime, oriundo de um golpe, preocupou-se em se legitimar a partir de novas bases, usando
como estratégias a propaganda política e a repressão aos opositores.

- O Estado enquanto um agente da política econômica, que passou a priorizar o setor industrial e a realizar
medidas para impulsioná-lo, como, por exemplo, as substituições das importações. -> ideia de superar o
atraso do Brasil.

- Criou-se a legislação trabalhista para regulamentar os conflitos entre patrões e operários e controlar as
ações dos sindicatos, que até então eram independentes, mas passam a ser controlados pelo Ministério do
Trabalho. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que sistematizou um conjunto de leis como férias,
salário mínimo e carteira de trabalho, por um lado representou o atendimento às lutas e reivindicações
trabalhistas, mas por outro lado, representou o controle das classes trabalhadoras através do Estado.

Propaganda política e produção cultural

- Criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha como finalidade produzir e
incentivar a produção material de propaganda, organizada através de símbolos e imagens que buscavam
consentimento e adesão na sociedades, sendo a bandeira do Brasil e a imagem de Vargas os símbolos
mais fortes.

- Regulamentação extensa de toda e qualquer produção artística e cultural do Brasil.

Repressão e resistência ao Estado Novo


- “A organização da propaganda e da repressão constituiu os dois pilares de sustentação do regime”
(CAPELATO, 2003, p. 131)

- A Constituição “Polaca” de 1937 deu legitimidade a repressão do Estado Novo, que incluia
perseguições, prisões, torturas, exílios e censuras.

- Integralistas também foram alvo da repressão do Estado.

Balanço final - O que o Estado Novo trouxe de novo?

- O Estado Novo implicou perdas e danos para as classes populares. Ainda com a forte repressão do
Estado, a questão social deixou de ser vista como caso de polícia, como era na Primeira República,
passando a ser caso de Estado.

- Introdução de uma nova cultura política, na qual o autoritarismo do Estado passou a ser protagonista e a
cidadania transformou-se numa peça do jogo do poder.

- A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), considerada por muitos a maior herança do varguismo.

- O progresso material do país, que de fato cresceu economicamente, ainda que esse crescimento não
tenha atingido as classes mais baixas.

A autora conclui que, havendo aspectos positivos e negativos, as mudanças que ocorreram durante o
Estado Novo foram de suma importância ao futuro do país.

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